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FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO

2021 – 2º Semestre

Atividade Avaliativa 5 Unidade IV


10 pontos
[não há apresentação em aula]

“Você sabe com quem está falando, seu nego metido a besta”?

Para Francisco de Oliveira (Jeitinho e Jeitão), o homem cordial – para quem as relações
pessoais e de afeto – para o bem ou para o mal – que se sobrepõem à impessoalidade da lei e à
norma social é a própria encarnação do jeitinho brasileiro. O jeitinho é um atributo das classes
dominantes brasileiras que se transmitiu às classes dominadas.
No Brasil, a classe dominante burlou de maneira permanente e recorrentemente as leis
vigentes. O drible constante nas soluções formais propiciou a arrancada rumo à informalidade
generalizada e se transformou, ao longo da perpétua formação e deformação nacional, em
predicado dos dominados. A burla foi uma forma de adotar de forma incompleta o capitalismo
no Brasil, pois ao mesmo tempo em que a economia se transformava, se interditavam as
soluções formais da civilidade, ou, a norma e a lei para todos.
As classes dominantes “se viravam”, deram sempre um jeitinho ou um jeitão para
garantir a ordem, a coesão e o sistema de dominação e exploração. O jeitão, no caso dos
cafeicultores, a partir do fim do escravismo, em 1888, foi importar a mão de obra europeia
(transformando São Paulo na maior cidade italiana do mundo – fora da Itália) em vez de
incorporar os ex-escravos à cidadania fornecendo-lhes meios de cultivar a terra e se
incorporarem ao trabalho regular. Malandramente, no jeitinho, contornaram os problemas do
fim do escravismo e se desresponsabilizaram pelos ex-escravos. Surgia o trabalho informal, ou
seja, sem forma. Sem forma continuou mesmo após a Consolidação da Leis do Trabalho em
1943, pois deu-se um jeitinho para deixar trabalhadores rurais e trabalhadoras domésticas de
fora. O jeitão da classe dominante obrigou os dominados a se virarem por meio do jeitinho do
trabalho ambulante, dos camelôs que vendem churrasquinho de gato como almoço, das
empregadas domésticas a migrarem de Minas e do Nordeste para as novas casas burguesas dos
jardins Europa, América, Paulistano, para os apartamentos elegantes de Copacabana, Ipanema
e Leblon.
A informalidade no trato é a forma, o jeitinho de substituir as relações racionais e
obrigatórias pela intimidade. Mas assim que se apresenta o primeiro conflito, essa informalidade
se converte no rigor mais severo, no apelo à arbitrariedade e não raro em exibições de
crueldade. O senhor de engenho que se deitava com sua mucama era o mesmo que a castigava
no tronco quando alguma falta, suposta ou verdadeira, lhe ofendia a propriedade.
Nascido das contradições entre uma ordem econômica formalmente liberal e uma
realidade escravista, o jeitinho transformou-se em código geral de sociabilidade. Parece que
sempre há pessoas “sobrando”, resquícios, restos de um outro tempo, de um outro mundo, que
não pertencem ao universo da civilidade. Assim, o chamado trabalho informal tornou-se
estrutural no capitalismo brasileiro. A partir daí todas as burlas são permitidas e estimuladas. O
jeitinho é a regra não escrita, sem existência legal, mas seguida ao pé da letra nas relações micro
e macrossociais. Está tão estabelecido, é tão natural que estranhá-lo (hoje menos do que ontem,
reconheça-se) pode ser entendido como chatice, pedantismo, arrogância ou ignorância: “nego
metido a besta”, é a sentença.
Simpático, ele é uma das maiores marcas do moderno atraso brasileiro no qual
convivem o jeitinho irmão da iniquidade, como remédio, e o jeitinho filho querido da
cordialidade, como veneno.
O caráter nacional de uma sociedade é endógeno, interno, dela e próprio a dela,
partilhado e decodificável somente por seus membros. A ideia-sentimento nacional não é
espontânea das massas, mas imposta pelos grupos dominantes a partir da construção de mitos
fundadores. O mito fundador do Brasil, a democracia racial, é recente, mas foi e segue sendo,
em novos contextos, eficiente e eficaz na produção de ideias (ideologias) sobre o jeito-de-ser
(individual e coletivo) que naturaliza a estratificação social e os mecanismos de dominação e
exploração e, portanto, papéis e lugares sociais.
Identidade, por outro lado, é multidimensional, relacional, em relação ao externo,
diferente, ao Outro. O sentimento de nacionalidade – positivo ou negativo – é um dos elementos
da identidade individual. No caso do Brasil, o “Outro” foram e são as sociedades tomadas como
desenvolvidas ou “civilizadas”. Por isso parece fazer-se e refazer-se aqui uma identidade
incompleta, lacunar, ressaltada no que parece faltar aos brasileiros, construída na perspectiva
do atraso, do registro negativo, da inexistência dos atributos que nos fariam “como eles” e a
nação, “como lá”.
Uma pessoa pode ser mulher, esposa, jovem, executiva, mãe, branca, carioca, zona sul
e brasileira, enquanto outra, também mulher, jovem, mãe e brasileira, é solteira, diarista
doméstica, negra, favelada. É plausível e provável que ambas se orgulhem, sem
estranhamentos, das mesmas características da brasilidade e suas manifestações. Com relação
à identidade nacional, dificilmente terão a mesma perspectiva. E é improvável que os jeitinhos
de cada uma tenham as mesmas capacidades, possibilidades e alcance.
A moral relativa, os estereótipos, estigmas, preconceitos, a discriminação e a iniquidade
civil e social são tributárias das contradições e tensões geradas nesse registro contraditório do
‘jeitinho’ gestado na interseção entre identidade nacional, classe social e cor da pele. Aí o caráter
nacional brasileiro erigido sobre o mito da democracia racial já não se sustenta, mas a
transmutação do privilégio em direito – adquirido – e deste em graça ou favor segue sã e forte.

I) Pesquisem e selecionem um vídeo ou trecho de vídeo (somente vídeo) da atualidade com


(a) um anúncio ou propaganda, do setor público ou privado OU
(b) um encontro ou reunião de autoridades privadas ou públicas OU
(c) uma entrevista ou [trecho de] programa de debate/opinião OU
(d) uma matéria jornalística OU
(e) um esquete humorístico
que reflita e expresse um ou mais elementos do texto acima.

II) Gravem um áudio em formato podcast contendo:


1. Apresentação – incluindo mês/ano, programa e veículo – e contextualização do
conteúdo do vídeo ou trecho de vídeo;
2. Indicação e explicitação do ou dos elementos/pontos do texto acima a partir do
ou dos quais o vídeo ou trecho de vídeo apresentado foi selecionado;
3. Explicação e discussão crítica da ou das conexões entre o conteúdo do vídeo ou
trecho de vídeo e o ou os elementos/pontos dos textos a partir dos quais o vídeo
ou trecho de vídeo foi selecionado.

Critérios de avaliação: os três itens em (II)

O vídeo ou trecho de vídeo deve ter no mínimo três (3) e no máximo cinco (5) minutos e o
áudio deve ter no mínimo três (3) minutos e no máximo cinco (5) minutos

Carreguem o vídeo ou trecho de vídeo selecionado e o áudio na Tarefa da Atividade


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Avaliativa 5 no Módulo 4 na página da disciplina no Canvas até as 23:59 horas do dia
31/10/2021, domingo.

As instruções para carregar os dois arquivos na Tarefa estão na imagem abaixo.

Caso encontrem alguma dificuldade para colocar os dois arquivos na Tarefa, carreguem
o vídeo na Tarefa e anexem o áudio a um comentário na parte direita da interface do
grupo na Tarefa.

Em caso de dúvida entrem em contato via Caixa de Mensagens do Canvas.

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