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JOÃO PESSOA
2017
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JOÃO PESSOA
2017
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Nome: ______________________________________________________________
Títulação e instituição: _________________________________________________
Nome: ______________________________________________________________
Títulação e instituição: _________________________________________________
Nome: ______________________________________________________________
Títulação e instituição: _________________________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradeço, por fim, à toda a minha família que, de algum modo, colaborou, ou
pelo menos não atrapalhou, com a minha caminhada acadêmica.
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Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos
sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que
viver é ser livre. Porque alguém disse e eu concordo que o
tempo cura, que a mágoa passa, que decepção não mata. E
que a vida sempre, sempre continua.
(Simone de Beauvoir)
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RESUMO
SÚMÁRIO
REFERÊNCIAS .........................................................................................................72
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1 INTRODUÇÃO
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Vide Reclamação 4335/AC.
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Ressalta-se que as normas constitucionais originárias são as únicas que têm presunção absoluta de
constitucionalidade (LENZA, 2016).
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Por essa razão, muitos autores defendem que, juntamente com o princípio da
Supremacia da Constituição, o princípio da Unidade do Ordenamento Jurídico forma
a base essencial para o controle de constitucionalidade.
Sobre o princípio da unidade constitucional, Canotilho (1991, p. 162) afirma:
quanto aos limites materiais, objetiva-se que normas inferiores não contradiga as
superiores (BARROSO, 2016).
Destaca-se que esses conflitos formais e materiais precisam ser averiguados
com cautela, visto que as contradições podem ser apenas aparentes, para as quais
existem métodos mais simples de solução.
Outro princípio essencial à realização do controle é o da Separação dos
Poderes, idealizado por Montesquieu. Tal princípio apregoa que o Poder Legiferante
necessita ser diverso do(s) Poder(es) zeladores da constitucionalidade das normas.
Ademais, é poder da Constituição fixar quais são esses poderes e quais são as
funções por eles exercidas (CUNHA JÚNIOR, 2016).
Nesse sentido, na ausência de um poder independente criado pela própria
Carta Constitucional, diverso do poder legiferante, possuindo a citada atribuição
fiscalizatória das normas, não é possível existir controle de constitucionalidade, muito
menos Constituição rígida, tampouco Estado Democrático de Direito.
Assim, o que se constata é que, a Constituição, mesmo possuindo todas as
características apontadas, não está protegida contra excessos e desrespeito, tanto
por parte do legislador, quanto por autoridade políticas em geral.
Em outras palavras, de nada adiantaria elevar a Constituição a um nível
superior no sistema jurídico sem lhe conceder meios que pudessem garantir essa
condição. É exatamente por isso que, para assegurar a supremacia e proteção da Lei
Maior, que o ordenamento prevê o controle de constitucionalidade.
Conforme Bonavides (2009, p, 297), sem o controle de constitucionalidade:
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Art. 28. Parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a
interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de
texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à
Administração Pública federal, estadual e municipal.
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Nesse diapasão, Gilmar Mendes e Paulo Branco (2016) apontam três modelos
para esse tipo de controle, os quais foram elaborados tendo por base ideias filosóficas
distintas e conforme o contexto histórico vivenciado pelo país da qual emanou. Assim,
inicialmente, tem-se o modelo difuso (também denominado de sistema americano),
seguido do modelo concentrado (conhecido como sistema austríaco ou europeu) e,
por fim, há o modelo misto, que nada mais é do que uma combinação dos dois
primeiros sistemas.
O controle difuso de constitucionalidade, antecessor em relação aos demais,
tem como referencial histórico o famoso julgado, proferido pela Suprema Corte dos
Estados Unidos, no caso Marbury vs. Madison, que ocorreu em 1803. Sobre o sistema
americano, Souza Neto e Sarmento (2014) apontam que:
Só o poder que faz a lei é o único competente para declarar por via de
autoridade ou por disposição geral obrigatória, o preceito dela. Só ele e
exclusivamente ele é quem tem o direito de interpretar o seu próprio ato, suas
próprias vistas, sua vontade e seus fins. Nenhum outro poder tem o direito de
interpretar por igual modo, já porque nenhuma lei lhe deu essa faculdade, já
porque seria absurda a que lhe desse.
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Stare decisis advém do latim "stare decisis et non quieta movere”, que significa “respeitar as coisas
decididas e não mexer no que está estabelecido. Em linhas simples, é uma expressão usada no direito
para se referir à doutrina segundo a qual as decisões de um órgão judicial criam precedente e vinculam
futuros julgamentos (CAPPELLETTI, 1984).
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Para agrava a situação, o Presidente Getúlio Vargas, por meio do Decreto-Lei 1.564,
validou as leis que foram declaradas inconstitucionais pelo STF.
Foi apenas com a restauração da democracia, por meio da Constituição
promulgada de 1946, que o Poder Judiciário retomou a competência de dar a última
palavra no controle de constitucionalidade.
A Carta de 1946 manteve o controle difuso, o qual era previsto no artigo 101,
além de retomar a representação interventiva e a possibilidade de suspensão, pelo
Senado Federal, de ato normativo declarado inconstitucional pelo STF.
É importante destacar que a Emenda Constitucional nº 16/1965 inovou o
ordenamento jurídico brasileiro ao trazer o controle abstrato de normas estaduais e
federais. Ao estudar a referida emenda, Barroso (2016) afirma que, por meio dela,
criou-se a ação genérica de inconstitucionalidade, que era prevista no artigo 101, I, k.
Assim, o Supremo Tribunal Federal passou a ter a atribuição de declarar a
inconstitucionalidade de ato normativo federal ou estadual mediante representação
proposta pelo Procurador Geral da República.
Desse modo, foi inserido, no sistema jurídico pátrio, um mecanismo similar ao
já existente nas cortes constitucionais europeias: um controle por via principal, por
meio de ação direta, em exame abstrato e concentrado (BARROSO, 2016). Ressalta-
se que o controle difuso e incidental não foi prejudicado por essa novidade, isto é,
ambas espécies de controle passaram a conviver.
Como reflexo ao que ocorria na esfera federal, a Emenda Constitucional nº
16/1965 estabeleceu a possibilidade de realização de controle de constitucionalidade
das normas municipais tendo como parâmetro as Constituições Estaduais. Segundo
o artigo 124, VIII, o órgão competente para a realização desse controle seria o Tribunal
de Justiça do respectivo Estado-membro.
Com todas essas modificações no ordenamento jurídico, a Constituição de
1946 consagrou o modelo misto de controle judicial de constitucionalidade ao mesclar
o controle difuso, o qual podia ser realizado por qualquer órgão do judiciário por meio
de casos concretos, ao controle concentrado, que era de competência do Supremo
Tribunal Federal em relação às normas federais e estaduais confrontadas em face da
Constituição Federal, ou da alçada dos Tribunais de Justiça, quando o parâmetro de
controle eram normas municipais em face das Constituições Estaduais.
Dando continuidade à linha do tempo, Barroso (2016), ao tratar da Constituição
de 1967/1969, afirma que tal Carta não inovou consideravelmente o controle de
constitucionalidade, entretanto não trouxe a previsão da ação genérica estadual.
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Por outro lado, o Documento Maior de 1969 preconizou a ação direta estadual,
porém reduzida à hipótese de intervenção do Estado em Município. Finalmente, a
Emenda nº 7/1977 acabou com a discussão sobre o cabimento de liminar em
representação de inconstitucionalidade, estabelecendo a competência do STF para
deferi-la.
Ademais, também por meio da Emenda Constitucional nº 7/1977 foi criada a
representação para interpretação de lei ou ato normativo federal ou estadual, por
intermédio da qual o Supremo Tribunal Federal, por provocação do PGR, fixaria, com
força vinculante, a interpretação de uma determinada norma. Destaca-se que a
Constituição de 1988 eliminou do ordenamento jurídico essa representação.
Enfim, ressalta-se as principais características da Constituição Cidadã de 1988.
Tal Carta preservou o controle híbrido de controle judicial de constitucionalidade,
porém introduziu inovações.
A primeira novidade foi a dilação do número de legitimados ativos à propositura
da ADIN, a qual, anteriormente, era de impetração exclusiva do PGR. Além dessa
novidade, foi criado instrumentos de controles de constitucionalidade por omissão.
Nesse sentido, veio a representação de inconstitucionalidade, a qual está
prevista no art. 125, §2º. Por meio desse dispositivo, houve a recriação da ação direita
de inconstitucionalidade estadual, com a possibilidade de confrontar normas estaduais
ou municiais, tendo a Constituição Estadual como paradigma.
Outras inovações trazidas pela Constituição Federal de 1988 foram a arguição
de descumprimento de preceito fundamental, prevista no artigo 102, §1º, e a redução
do cabimento do recurso extraordinário aos temas constitucionais (art. 102, III).
Em seguida, aprovou-se a Emenda Constitucional nº 3/1992, a qual trouxe a
ação declaratória de constitucionalidade para o artigo 102, I, a, que, depois da
Emenda Constitucional nº 45/2004, teve sua legitimidade ativa estendida,
equiparando-se aos legitimados a propositura da ADIN (art. 103).
Sinteticamente, pode-se compilar o controle de constitucionalidade previsto no
sistema jurídico brasileiro a luz da Carta de 1988:
a) o controle difuso-incidental, provocado por via de exceção ou defesa, em um
caso concreto, perante qualquer juízo ou tribunal, e
b) o controle concentrado-principal, provocado por via das seguintes ações
diretas, perante o STF:
b.1) Ação direta de inconstitucionalidade – ADIN: por ação e por omissão.
b.2) Ação direta de inconstitucionalidade interventiva – ADIN Interventiva
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multa de 10 libras, foi preso pelo não pagamento dessa penalidade (VIEIRA, 1994, p.
41).
Então, o referido médico ajuizou uma ação, que ficou famosa como o Caso
Bonham Nela. No julgamento dessa causa, o Lord Coke, presidente do Tribunal do
Rei, juntamente com os juízes Warburton e Daniel, não aplicaram o estatuto do
Colégio Real dos Médicos, por compreender que este dava, ao presidente do Colégio
e aos seus censores, poder de julgar em causa própria, o que não poderia ocorrer
(VIEIRA, 1994, p. 41).
Sobre essa decisão, Pound (1965, p. 52) afirma que o tribunal deu a Bonham
ganho de causa com base num princípio basilar: o estatuto do Colégio real que dava
poderes para a aplicação de multas era nulo. Isso porque ninguém pode ser juiz e
parte na mesma causa, o que violava o direito comum e à razão natural.
Ainda segundo Pound (1965, p. 52), o Colégio Real não deveria ser o juiz, emitir
o veredicto, emitir ordem de prisão ao réu e, além disso, ter parte na multa. Nesse
sentido, Pound diz que se qualquer ato parlamentar desse a alguém o poder de julgar
qualquer tema que lhe forem apresentadas dentro dos seus domínios, não poderá
resolver e decidir sobre nada.
Viera (1994, p. 42-45), ao comentar os fundamentos da decisão do caso
Bonham Nela, expõe que Lord Coke, em uma passagem do seu julgamento,
respaldou a sua doutrina do controle dos atos do parlamento em função do commom
law. Nesse sentido, Lord Coke afirmou que, em diversos casos, o common law
fiscaliza a conformidade dos atos parlamentares com o direito comum e à razão.
Assim, quando um ato do parlamento lhe são contrários, ele deve ser prontamente
cancelado.
Ao passo que, na Inglaterra, o poder do parlamento aumentou com a Revolução
Gloriosa (1688 a 1689), a doutrina de Coke, também chamada de judicial review,
ganhou força e notoriedade nos tribunais norte-americanos, visto que tal doutrina foi
considerada como uma forma de oposição à metrópole inglesa (POUND, 1965, p. 52).
Nessa esteira, logo em seguida veio a Revolução Americana, que fixou o
judicial review na Constituição dos Estados Unidos da América de 1787. Em seu art.
VI, cláusula 2, a Carta Superior consagrou a ideia de uma constituição em um patamar
superior em relação a todo o sistema jurídico.
Após essas considerações, retomando a origem do direito difuso, o caso
Marbury vs. Madison é famoso por ter sido a primeira ação judicial em que um tribunal
obstou a aplicação de uma norma por reputá-la inconstitucional, de modo que é
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Vide o RE 117.805-PR.
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na lide sob sua análise, a constitucionalidade de uma lei quando confrontada com a
Carta Maior.
O controle difuso também é efetuado pelos tribunais, porém, com algumas
peculiaridades. Isso porque, para que realizar tal controle, é necessário que os
tribunais obedeçam ao princípio da reserva de plenário, previsto no artigo 97 da
Constituição Federal de 1988, bem como nos artigos 948 a 950 do Código de
Processo Civil de 2015.
O referido princípio determina que os tribunais apenas poderão declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público pelo voto da maioria
absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial, caso exista.
Em outras palavras, nos mencionados órgãos, a inconstitucionalidade de uma norma
só poderá ser declarada pelo pleno ou pelo órgão especial, por meio de um quórum
qualificado.
Assim, em sentido diverso, se o órgão fracionário reconhecer a
constitucionalidade da norma impugnada, não precisará observar o princípio da
reserva de plenário.
Ainda sobre a aplicação do artigo 97 da Constituição, Barroso (2016) defende
que sempre que o órgão julgador deixar de aplicar uma norma por entende-la
inconstitucional, estará proferindo uma declaração de inconstitucionalidade, mesmo
que o faça de força implícita e sem arguição expressa.
Nesse diapasão, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante n.10,
a qual preceitua que “viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão
de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência,
no todo ou em parte”.
Ainda sobre a referida cláusula, é importante saber como ocorre a sua
aplicação. Como dito anteriormente, ela é regulada pelos artigos 948 a 950 do
CPC/2015. Conforme tais dispositivos, observa-se que o controle concreto se dá em
duas fases: a primeira ocorre no diante do órgão fracionário e a segunda diante do
plenário ou órgão especial (DIDIER JÚNIOR, 2017).
Desse modo, alegada a inconstitucionalidade, o relator, após ouvir o
representante do Ministério Público, levará a questão à câmara ou turma para que
tenha conhecimento da lide. Se a arguição for rejeitada, o processo seguirá
normalmente para julgamento. De outro lado, se a alegação for acatada, isto é, se o
órgão fracionário entender que a lei é inconstitucional, será lavrado o acórdão. Tal
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decisão não é suficiente para afastar a aplicação da lei ao caso concreto. Assim, dar-
se início a segunda etapa, em que a questão constitucional será levada ao plenário
do tribunal ou, onde houver, ao órgão especial para que seja decidida por maioria
absoluta (DIDIER JÚNIOR, 2017).
Depois de analisar a arguição de inconstitucionalidade, o julgamento pelo órgão
fracionário deverá ser retomado. Tal órgão deverá seguir o que o pleno ou órgão
especial decidira acerca da questão constitucional. Assim sendo, se for decidida pela
constitucionalidade da norma, ela deverá ser aplicada ao caso. Por outro lado, ela não
irá incidir se for considerada inconstitucional (DIDIER JÚNIOR, 2017).
Segundo os ensinamentos de Cunha Júnior (2016, p. 150-151), ocorre uma
divisão de competências entre o pleno (ou órgão especial) e o órgão fracionário,
cabendo ao primeiro a atribuição para dirimir sobre a inconstitucionalidade da norma
e ao segundo decidir, respeitando o que houver deliberado o pleno, sobre a lide. A
decisão do pleno que delibera sobre a inconstitucionalidade é irrecorrível.
Entretanto, é importante ressaltar que, apesar de não caber recurso da decisão
do pleno (ou do órgão especial), caberá a impugnação da questão constitucional no
momento da interposição do curso cabível contra o acórdão do órgão fracionário, que
julgar o caso em definitivo.
Ademais, adotando o mesmo modelo aplicado ao controle concentrado, o
Código de Processo Civil, em seu artigo 950, §1º ao 3º, permite que, no incidente de
inconstitucionalidade levado ao plenário (ou órgão especial), o pronunciamento do
representante do Ministério Público, dos legitimados à propositura da ação prevista
no artigo 103 da CF/1988, das pessoas jurídicas de direito público responsáveis pela
edição do ato questionado ou de outra entidades (como amicus curiae), sempre
obedecendo os prazos e demais requisitos fixados pelo regimento interno do tribunal
(DIDIER JÚNIOR, 2017).
Tem-se, dessa forma, a possibilidade de uma verdadeira abertura do controle
de constitucionalidade concreto, o qual passa a ter uma organização simular à dos
processos de natureza objetiva (ADIN, ADC e ADPF) (MENDES; BRANCO, 2016).
Ainda conforme o CPC/2015, a cláusula da reserva de plenário não será
observada pelo órgão fracionário se já houver entendimento firmado pelo pleno do
tribunal, de seu órgão especial ou do próprio STF, acerca da questão constitucional.
Essa mitigação do princípio da reserva de plenário tem por objetivo consagrar a
economia processual, a celeridade, a segurança jurídica e a racionalização da
prestação jurisdicional (DIDIER JÚNIOR, 2017).
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Além disso, tendo em consideração que o controle difuso é realizado pelo juiz
ou tribunal no desempenho da função jurisdicional, quando a decisão que resolve a
lide transita em julgado, sua eficácia se limita às partes envolvidas na controvérsia,
não afetando terceiros.
Inclusive, tal entendimento está consagrado no art. 502 do CPC/2015, o qual
preceitua que a decisão que resolve pela inconstitucionalidade da norma por meio do
controle difuso de constitucionalidade faz coisa julgada apenas às partes entre as
quais é dada, não prejudicando terceiros.
Nesse sentido, apesar de ter sido declarada inconstitucional em relação às
partes de determinado caso, a lei impugnada ainda vigorará e continuará a produzir
seus efeitos em outros casos, a menos que, da mesma forma, acione-se o Judiciário
em busca de idêntico pronunciamento (CUNHA JÚNIOR, 2016, p. 153).
Na prática, o controle difuso pode proporcionar a existência de normas
constitucionais para uns e inconstitucionais para outros, o que gera insegurança
jurídica e desconfiança perante o Judiciário.
Somando-se a isso, dada a amplitude do controle incidental que, de acordo
com o que já foi explanado, pode ser realizado por qualquer juiz, invariavelmente há
o risco de existir julgamentos conflitantes sobre a mesma norma, ora deliberando
sobre sua constitucionalidade, ora decretando sua incompatibilidade com a Carta
Maior, em lides muito semelhantes.
No ordenamento jurídico norte-americano, esses conflitos eram solucionados
por meio da doutrina do stare decisis, a qual, conforme explicado em linhas simples
anteriormente, determinava que todas as decisões da Corte Suprema, em matéria
constitucional, deveriam possuir eficácia contra todos. Dessa forma, a decisão da
Corte, mesmo que exarada por via incidental, criava uma jurisprudência que vinculava
todos os órgãos do Poder Judiciário, e não apenas as partes (CAPPELLETTI, 1984).
No Brasil, entretanto, a teoria do stare decisis não é aplicada. Apesar de ter se
inspirado no sistema norte-americano, o ordenamento jurídico pátrio sempre teve mais
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influência do civil law, o que lhe distancia da valorização dos procedente judiciais,
como ocorria nos Estados Unidos.
Destarte, sem a aplicação do stare decisis, o Brasil teve que criar o seu próprio
instrumento para dar força vinculante às decisões proferidas por meio do controle
difuso de constitucionalidade, com o objetivo de evitar os problemas anteriormente
mencionados.
Dessa maneira, conferiu-se ao Senado Federal a atribuição para suspender a
execução de lei ou ato normativo, que fossem declarados inconstitucionais pelo Poder
Judiciário. Conforme analisado no tópico sobre a evolução do controle de
constitucionalidade no Brasil, essa previsão surgiu pela primeira vez na Constituição
de 1934, sendo mantida, com algumas alterações, nas constituições seguintes,
excetuada a de 1937, pelos motivos analisados no tópico mencionado.
Antes de seguir com a explicação, é importante mencionar as razões pelas
quais a Constituição de 1934 deu, ao Senado Federal, competência de conceder
eficácia contra todas às decisões de constitucionalidade proferidas de forma
incidental.
Naquela época, o constituinte de 1934 já demonstrava aflição em relação aos
problemas gerados pelo sistema de controle de constitucionalidade pátrio,
especialmente devido à eficácia limitada dos julgamentos proferidos pelos órgãos
judicantes (ALENCAR, 1978).
Buscando solucionar essa questão, o Deputado Nilo de Alvarenga propôs uma
emenda que objetivava criar um tribunal constitucional, ao qual caberia atuar conforme
o modelo austríaco delineado por Hans Kelsen. De acordo com Alvarenga, a formação
desse tribunal especial era justificada pelo temor que havia na época de dar ao Poder
Judiciário a possibilidade de decretar a nulidade de normas com eficácia contra todas.
Nas palavras de Alencar (1978, p. 237-248), temia-se que, se isso acontecesse, estar-
se-ia implantando uma “ditadura judiciária” no Brasil.
A despeito de fazer parte da história constituinte do país, a proposta do
Deputado Alvarenga cedeu à força do controle difuso, que já estava implantado no
ordenamento há mais de 40 anos, e, consequentemente, foi rechaçada pelos demais
componentes da assembleia constituinte da época (ALENCAR, 1978, p. 252).
Uma vez que a formação de uma corte constitucional fora rejeitada, os
legisladores constituintes decidiram dar ao Senado Federal a atribuição de suspender
a eficácia das normas declaradas inconstitucionais pelo Poder Judiciário. O Senado
foi escolhido para exercer tal papel, posto que, naquele período, conforme o art. 98
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da Constituição de 1934, era ele o órgão que realiza a coordenação entre os poderes
da república (ALENCAR, 1978, p. 262-263).
Apesar dessa função de coordenação não ter perdurado nas Constituições que
se seguiram, permaneceu sendo do Senado Federal a função de suspender a
execução de normas declaradas inconstitucionais pelo Judiciário.
Advinda dessa inferência, na atualidade, a Constituição Cidadã de 1988
estabelece, no art. 52, X, a competência privativa do Senado Federal para suspender
a execução, no todo ou em parte, de ato normativo declarado inconstitucional por
decisão definitiva da Suprema Corte.
Por muito tempo, debateu-se sobre esse papel realizado pelo Senado Federal,
o que fez com que a jurisprudência e a doutrina chegassem à algumas conclusões.
Incialmente, avaliou-se o propósito do Senado em praticar um ato suspensivo
quando uma lei (ou ato normativo) fosse declarada inconstitucional por decisão
definitiva da Suprema Corte brasileira. Em outras palavras, indagou-se para que serve
esse ato suspensivo, o qual, atualmente, é executado por meio de uma resolução.
Ao buscar respostas, constatou-se que a finalidade desse ato é atribuir eficácia
erga omnes à decisão definitiva exarada pelo Supremo Tribunal Federal, o qual
proclama a inconstitucionalidade de uma norma, que, antes do ato do Senado, possui
apenas efeitos inter partes, visto que fora proferida em sede de controle incidental de
constitucionalidade (BARROSO, 2016).
Em seguida, buscou-se estabelecer a quem competia comunicar o Senado
Federal sobre a decisão emanada pelo Supremo Tribunal Federal em sede de controle
difuso. Apesar de não existir previsão expressa na Carta Maior, compreende-se que
compete ao próprio Supremo, quando a decisão transitar em julgado, informar ao
Senado a respeito da sua decisão. Tal competência está prevista no artigo 178 do
Regimento Interno da Corte Suprema.
Todavia, é importante destacar que, de acordo com entendimento de vários
doutrinadores, a referida comunicação também poderá ser realizada pelo Procurador
Geral da República, a quem, inclusive, cabia exercer essa função na época da
vigência da Constituição de 1934, de acordo com seu artigo 96, o qual dispõe:
Além disso, autoriza-se que o próprio Senado Federal pode, depois de ter
conhecimento da decisão do Supremo, iniciar, de ofício, ao procedimento objetivando
suspender a execução da lei (ou ato normativo) declarada inconstitucional, conforme
previsto nos artigos 286 a 388 de seu regimento interno, os quais preceituam o que
se segue:
Vale destacar que a Constituição Federal não estabelece um prazo para que o
Senado suspenda a execução da norma declarada inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal. Por essa razão, surgiu a discussão sobre a obrigatoriedade da
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Outro assunto bastante discutido diz respeito aos efeitos da resolução exarada
pelo Senado, se seriam ex tunc ou ex nunc. Mais uma vez, para elucidar essa questão,
vale mencionar os ensinamentos de Cunha Júnior (2016). De acordo com o autor, não
existe entendimento pacífico e firmado pela doutrina. Ora alguns defendem que os
efeitos são ex tunc, ora outras afirmam que são ex nunc.
No entanto, Cunha Júnior (2016) ressalta que o Supremo Tribunal Federal já
decidiu que a suspensão da execução da lei declarada inconstitucional torna sem
efeito todos os atos realizados sob o império da referida lei. Em outras palavras, cabe
ao Senado Federal dar eficácia erga omnes à decisão definitiva do STF, a qual fica,
desse modo, valendo para todos, com efeito ex tunc, como se a lei jamais houvesse
produzido efeitos no ordenamento jurídico.
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De acordo com essa perspectiva, deve-se ter em mente que há uma evolução
natural na sociedade, e esta necessita de uma constituição que esteja de acordo com
o novo contexto sócio-político. Nesse diapasão, as cartas constitucionais devem
acompanhar as novas gerações e as suas demandas que, muitas vezes, sequer
tinham sido imaginadas pelo constituinte.
É exatamente por causa do dinamismo social que as constituições preveem
mecanismos de reforma objetivando sua própria modificação e adaptação à nova
realidade. Dentre esses mecanismos, existe a mutação constitucional.
Ao comentar sobre os mecanismos de reforma e a mutação constitucional,
Barroso (2015, p. 158) afirma que:
A modificação da Constituição pode dar-se por via formal e por via informal.
A via formal se manifesta por meio da reforma constitucional, procedimento
previsto na própria Carta disciplinando o modo pelo qual se deve dar sua
alteração. Tal procedimento, como regra geral, será mais complexo que o da
edição da legislação ordinária. De tal circunstância resulta a rigidez
constitucional. Já a alteração por via informal se dá pela denominada
mutação constitucional, mecanismo que permite a transformação do sentido
e do alcance de normas da Constituição, sem que se opere, no entanto,
qualquer modificação do seu texto. A mutação está associada à plasticidade
de que são dotadas inúmeras normas constitucionais.
Nessa linha, o costume, para que seja reconhecido como tal, deve preencher
dois requisitos, quais sejam: a repetição de um comportamento habitual e a crença
em sua obrigatoriedade (REALE, 2002).
Pelo o que foi dito, percebe-se que a própria natureza do costume faz com que
ele se torne um mecanismo de mutação constitucional. Isso ocorre porque não há um
rito jurídico formal para a produção e modificação do costume constitucional. Assim,
ele se aproxima da mutação, que, de acordo com o que foi explanado, segue esta
mesma linha.
Em verdade, Barroso (2015, p. 170) aponta o seguinte exemplo em que o
costume agiu como mecanismo de mutação constitucional:
Tal pergunta será respondida no item seguinte, que é quando será analisada a
mutação constitucional do artigo 52, X, da CF/1988.
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Vide artigos 554 e 557 do CPC/1973, os quais correspondem ao artigo 932 do CPC/2015
7
Equivale ao artigo 949, parágrafo único do CPC/2015.
8
Correspondente ao artigo 955, parágrafo único do CPC/2015.
9
O artigo 496, §4º do CPC/2015 possui igual disposição.
61
decisão da Corte Suprema irradiará para outros processos que estavam sobrestados
na origem, sem que tenha sido considerada a atuação a referida casa legislativa
(DIDIER JÚNIOR, 2014).
Concomitantemente a essa vasta quantidade de normas, as quais dão eficácia
ampliada aos precedentes, de forma a irradiá-los para além do caso concreto
analisado, há, também, as deliberações proferidas nos processos coletivos, as quais,
por sua própria essência, possuem eficácia ultra partes.
A título de exemplo, cita-se a ação civil pública cuja decisão faz coisa julgada
erga omnes nos limites da competência territorial do órgão da qual foi emanada.
Nesse sentido, quando ocorre a deliberação acerca da constitucionalidade de uma
norma, mesmo que de modo incidente, os efeitos dessa decisão irradiarão para além
das partes da emana, sem que haja qualquer atuação do Senado. Vale salientar que
essas mesmas disposições são aplicadas para a decisão do mandado de segurança
coletivo.
Toda essa gama normativa, a qual, de acordo com o que foi abordado, tem o
objetivo de conferir força vinculante aos precedentes firmados pelos tribunais
superiores, especialmente aqueles emanados pelo Supremo Tribunal Federal,
culmina por tornar cada vez mais desnecessário o papel do Senado Federal no
controle incidental de constitucionalidade.
Ainda assim, mesmo com todas essas leis, deve-se apontar quais foram as
mudanças constitucionais que colaboraram para, paralelamente às alterações no
âmbito infraconstitucional, provocar a ocorrência da mutação constitucional do artigo
52, X, da Carta Maior, a qual ocorreu, reforça-se, devido à atuação do legislador.
De acordo com o que foi explicado anteriormente, as decisões exaradas pelo
STF no controle abstrato possuem eficácia erga omnes e efeito vinculante, conforme
o artigo 102, §2º, CF/1988. Assim, prescinde-se de qualquer ato do Senado Federal
para que tal decisão estenda seus efeitos.
Nesse diapasão, no que se refere ao controle de constitucionalidade, o próprio
legislador permitiu que a Corte Suprema profira julgamentos com eficácia erga omnes,
sem que haja qualquer manifestação do Senado. Isso é o que está previsto para o
controle concentrado e é o que se pretende estender, por intermédio da mutação
constitucional, ao controle incidental.
Seguindo nessa linha de pensamento, a Emenda Constitucional nº 45/2004
adicionou o artigo 103-A à Carta Maior, dando competência ao STF para editar
súmulas vinculantes (LENZA, 2016). Essa nova disposição serviu para, mais ainda,
62
Por fim, Uadi Lammêgo Bulos (2015) também afirma que “o mandamento
cristalizado no artigo 52, X, encontra-se totalmente superado e já passou da hora de
ser excluído da normativa constitucional brasileira”.
Nesse diapasão, as mudanças normativas, tanto as constitucionais, como as
infraconstitucionais, já explanadas foram as responsáveis pela mutação constitucional
do artigo 52, X, CF/1988. Em outras palavras, tal processo informal de mudança de
interpretação do papel do Senado não aconteceu, como alguns defendem, devido à
atuação do STF, por intermédio da interpretação judicial. Ao revés, a Corte Suprema
apenas pratica a função de reconhecer a mutação que ocorreu em virtude de atos
praticados pelo próprio legislador (BARROSO, 2015).
Dessa forma, o presente estudo defende que não é o STF que usurpa a
competência do Senado Federal prevista no artigo 52, X, da CF/1988, e sim o próprio
Congresso Nacional, incluindo o Senado, assim o fez ao realizar as mudanças
normativas mencionadas.
4.2.2. Novo entendimento do artigo 52, X, da CF/1988: mutação fora dos limites?
não deve se contrapor ao que preceitua a Carta Maior, tanto as suas normas, quanto
os seus princípios (MENDES, 2004).
Assim sendo, questiona-se: a mutação constitucional do artigo 52, X, da
CF/1988, a qual pretende limitar a atuação do Senado Federal em termos de controle
difuso de constitucionalidade, não ofenderia o princípio da separação dos poderes, o
qual fora alçado ao patamar de cláusula pétrea 10 pelo legislador constituinte?
Por diversos motivos, este trabalho monográfico defende que a resposta é
negativa. Primeiramente porque foi o próprio Poder Legislativo que abriu mal de tal
competência ao elaborar todas as normas que já foram examinadas. Em outra
palavras, quem deu margem à mutação constitucional foi o próprio possuidor da
competência, a qual foi reduzida devido às suas próprias ações.
Ademais, não há que se falar em ofensa ao princípio da separação dos
poderes, visto que o STF não foi o responsável pela mutação. Em verdade, ele apenas
reconheceu tal fenômeno, o que foi levado a efeito por ações do próprio Poder
Legislativo (BARROSO, 2016).
Acrescenta-se ainda que se adotarmos a ideia de que a mutação constitucional
viola o referido princípio, o controle abstrato também o violaria, bem como a súmula
vinculante, a repercussão geral e as demais mudanças infraconstitucionais aqui
estudadas, posto que todas elas parte do mesmo pressuposto, o que, em tese,
ofenderia o artigo 52, X, da CF/1988.
Sucede-se que qualquer dos institutos acima referidos, até mesmo a mutação
constitucional, não ofende o artigo 52, X, da CF/1988, posto que todas eles foram
feitos pelo próprio legislativo, o qual estava ciente e atento ao novo contexto social e
jurídico do país.
Além disso, rememora-se que o artigo 60, §4º, da CF/1988 estabelece a
vedação a mudança da Constituição que tenda a abolir a separação dos poderes.
Assim sendo, é importante ressaltar que em momento algum se apadrinha uma
mutação constitucional que venha a abolir a separação dos poderes. Ao revés, a
concepção defendida por este trabalho monográfico é no sentindo de uma releitura da
atuação do Senado no controle incidental de constitucionalidade.
No entanto, verifica-se que, mesmo não abolindo a separação dos Poderes, a
mutação do artigo 52, X, da CF/1988 representa uma limitação à competência do
Poder Legislativo, fato este que poderia ser levantado por vozes que defendem a
10
Vide artigo 60, §4, III.
65
violação do princípio da separação dos Poderes. Acontece que, mesmo que se adote
esse posicionamento, o contexto social vivenciado pelo país é diferente daquele em
que se determinou a necessidade de intervenção da referida casa legislativa na
concessão de efeitos erga omnes às decisões do STF.
Esse novo contexto é defendido por diversos autores, dentre eles Zavascki
(2013, p. 49), Cunha Júnior (2016), Barroso (2016), Clève (2012), Mendes e Branco
(2016), Bulos (2015), todos eles defendem que o artigo 52, X, da CF/1988 está
obsoleto.
Ainda sobre a defesa de que a mudança do entendimento do artigo 52, X, da
CF/1988 não ultrapassou os limites da mutação, registra-se que essa nova
interpretação não excede as fronteiras semânticas do referido dispositivo. Em outras
palavras, é, ao menos, admissível e cabível a releitura do artigo 52, X, da CF/1988
para atribuir ao Senado Federal apenas a competência de publicação no Diário do
Congresso a decisão emanada pelo STF.
E, ainda que se sustente que a nova interpretação se contrapõe ao previsto na
Carta Maior, deve-se rememorar os elementos que justificam a ocorrência da mutação
constitucional. Isto é, ela ocorre exatamente para modificar o entendimento da
Constituição e atualizá-la para se harmonizar com o contexto social.
Não se pode esquecer que a mutação ocorreu por ações do próprio legislador.
Por isso, não se pode afirmar que ela não possui legitimidade democrática, visto que
foi proporcionada pelo Poder Legislativo, cuja atuação se dá por meio de deputados
e senadores eleitos para representar os interesses do povo (LENZA, 2016).
Para embasar ainda mais a argumentação, destaca-se as lições de Cunha
Júnior (2016):
Apesar dessa linha teórica ter surgido objetivando estender os limites objetivos
e subjetivos das decisões emanadas em sede de controle abstrato de
constitucionalidade, ela pode ser aplicada no controle difuso. Em bem verdade, não
só pode ser aplicada no sistema incidental, como já vem sendo.
Nesse sentido, devido a aplicação da teoria da transcendência dos motivos
determinantes, a parte da decisão que se refere à fundamentação também faria coisa
julgada, ampliando seus limites para além do caso concreto da lide.
Não obstante, a vinculação em relação à parte da fundamentação da decisão
seja uma novidade, ela não mostra dificuldades de entendimento, ao menos no que
se refere ao controle de constitucionalidade. Isso porque, mesmo que considerada em
caráter incidental, o ponto da constitucionalidade sempre seguirá duas vias: ou a
norma é reconhecida como constitucional ou é declarada incompatível com a Carta
Maior. Assim, há uma facilidade na aplicação da fundamentação para outras lidas
apreciadas pelo judiciário, que estejam na mesma situação fático-jurídica.
Ademais, observando o novo entendimento da jurisprudência, o legislador
ordinário trouxe para a lei a possibilidade de a coisa julgada também abarcar questões
prejudiciais incidentais, como é o caso do juízo de constitucionalidade feito em sede
de controle difuso.
Essa inovação está prevista no artigo 503 do CPC/2015, o qual estabelece que:
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei
nos limites da questão principal expressamente decidida.
11
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão
principal expressamente decidida.
Art. 504. Não fazem coisa julgada:
I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença;
II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.
68
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
inconstitucionalidade de uma determinada norma pela via difusa, visto que, por si só,
já é capaz de gerar efeitos erga omnes.
Por fim, acredita-se que a teoria da abstrativização do controle difuso pode,
perfeitamente, ser adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, principalmente
devido à teoria da transcendência dos motivos determinantes, assim como a nova
sistemática da casa julgada e dos precedentes judiciadas trazidas pelo Código de
Processo Civil de 2015.
72
REFERÊNCIAS
ALENCAR, Ana Valderez Ayres Neves de. A competência do Senado Federal para
suspender a execução dos atos declarados inconstitucionais. Revista de Informação
Legislativa, Brasília, ano 15, n. 57, p. 223-328, jan-mar, 1978.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 24. ed. atual. ampl. São Paulo:
Malheiros, 2009.
BULOS, Uadi Lammego. Curso de direito constitucional. 9. ed. rev. atual. de acordo
com a Emenda Constitucional n. 83/2014 e os últimos julgados do Supremo Tribunal
Federal. São Paulo: Saraiva, 2015 – versão digital (e-Pub).
CLÈVE, Clèmerson Merlin. Soluções Práticas de Direito. São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2012.
73
_________; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil:
processo nos tribunais, vol. 3, 14ª ed., Salvador: JusPodivm, 2017 – versão digital (e-
Pub).
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 15ª ed. rev. atual. São
Paulo: Saraiva, 2017 – versão digital (e-Pub).
VIEIRA, Oscar Vilhena. STF, Jurisprudência política. São Paulo: RT, 1994.