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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA.
CAMPUS JOINVILLE
DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTO DE ENSINO

LÍNGUA PORTUGUESA V – REALISMO e NATURALISMO (material teórico)


PROFESSOR: Samuel Ivan Kuhn
Estudante_______________________________________________ CTI em _______________________________

1. LOCALIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL

1871 1881 1882 1885 1888 1889 1893 1922


Lei do Início do Início do Lei dos Lei Proclamação Início do Semana
Ventre Livre Realismo e do Parnasianismo Sexagenários Áurea da República Simbolismo de Arte
Naturalismo Moderna

O Realismo, o Naturalismo, o Parnasianismo e o Simbolismo são as correntes artstcas expressivas da segunda


metade do século XIX e início do século XX. Elas refetem, no plano artstco, a consolidação da burguesia e seu
fortalecimento, enquanto classe detentora do poder, em função do triunfo defnitvo do capital industrial sobre o capital
de comércio, e da implementação do capitalismo avançado e sua expansão às áreas periféricas do sistema mundial:
América, África e Ásia.
O ímpeto revolucionário e contestatório do período romântco, a exaltação da liberdade
individual, da rebeldia, são substtuídos por novas palavras de ordem: a CIÊNCIA, o
PROGRESSO, a RAZÃO, que interessam à classe dominante, no sentdo da estabilização de suas
conquistas, de preservação da ORDEM, de maximização da produção industrial. O lema da
bandeira brasileira ‘Ordem e Progresso’, extraído de Augusto Comte, sintetza a proposta do
Positvismo, uma das vertentes do pensamento da época.
Com o apogeu da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, o avanço cientfco e tecnológico marcou profundas transformações na
vida, na arte e no pensamento. A situação das massas trabalhadoras nas cidades industriais, a explosão urbana, a
eletricidade, o telégrafo, a locomotva a vapor criam uma nova forma de vida.
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2. A GERAÇÃO DO MATERIALISMO
O desenvolvimento cientfco da época galvanizou a intelectualidade, que, das cátedras universitárias aos bares
boêmios, adere ao CIENTIFICISMO, ao MATERIALISMO, opondo-se à metafsica, à religião e a tudo que escapasse aos
limites da matéria. Algumas doutrinas cientfco-flosófcas da época deixaram marcas visíveis na produção literária:

2.1. O Positiisso
Designa o conjunto de doutrinas do francês Augusto Comte (1798-1857) caracterizado pela orientação cientfcista
que deu ao pensamento flosófco. O método positvista consiste na observação dos fenômenos, dos fatos, não dando
importância à imaginação. As explicações eram baseadas nas coisas prátcas e presentes na vida do homem.

2.2. O Eiolucionisso
Teve no inglês Charles Darwin (1809-1882) o seu mais eminente sistematzador. A teoria de que o homem é o produto
da evolução natural das espécies, e o reconhecimento dos mecanismos pelo qual essa evolução se processou, deu à
BIOLOGIA um papel fundamental, e o domínio desse campo do conhecimento passa a infuenciar vários outros
(Psicologia, Sociologia etc.). O homem passa a ser visto especialmente sob o aspecto biofsiológico, tomado como ser
animal, regido pelo instnto biológico, pelas mesmas leis que regem todos os animais. Dessa noção, decorre o gosto dos
autores do Naturalismo pela zoomorfização, que consiste na aproximação, através de símiles, entre o homem e o animal,
com o propósito de depreciar o humanismo. Observemos o exemplo abaixo, trecho do livro ‘O Cortço’, de Aluísio
Azevedo:

“E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a


minhocar, a fervilhar, a crescer um mundo, uma coisa viva, uma geração que parecia brotar
espontânea, ali mesmo, daquele lameiro e multplicaase como larvas no esterco.” (Cap. I)

Aqui ocorre a aproximação entre o homem do cortço e o estado larval, enfatzando, por hipérbole negatva, o
primitvismo da condição de vida do homem (larva, verme, minhoca) na habitação coletva.

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2.3. O Detersinisso
Sistematzado pelo francês Hypolyte Taine (1828-1893), propõe que o comportamento humano seja determinado por
forças biológicas (o instnto, a herança genétca), sociológicas e ambientais (ecologia, meio social) e históricas. Todos os
fatos psicológicos e sociais são manifestações naturais que nada têm de transcendência. A verdade, o bem e o belo
existem nas coisas, independentemente de razões subjetvas. As circunstâncias externas determinam rigidamente a
natureza dos seres vivos, inclusive do homem; nem a razão nem a vontade podem agir independentemente de seu
condicionamento. Toda a realidade passa por um processo evolutvo, dentro de um sistema de leis naturais
absolutamente defnidas.
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3. CARACTERÍSTICAS TEMÁTICAS E ESTILÍSTICAS

3.1. Objetiisso
Caracteriza-se pela preocupação com a verdade, não apenas verossímil, mas exata, através da observação e análise.
Na recriação artstca da realidade, os autores da época põem em primeiro plano as impressões sensoriais, através da
descrição objetva. Os detalhes são da maior importância e nada é desprovido de interesse.

3.2. Ispassibilidade
O autor procura uma posição neutra, ausentando-se da narratva, desinteressado pelo destno das personagens, que
são ‘fotografadas’ por dentro (Machado de Assis) e por fora (Aluísio Azevedo). Procura-se obedecer a uma lógica rigorosa
entre as causas que determinam o comportamento humano; nenhuma atvidade da personagem realista é gratuita, há
sempre uma explicação lógica e cientfcamente aceitável para seu comportamento.

3.3. Personagens esféricas


Enquanto no Romantsmo as personagens eram lineares, construídas ao redor de uma única ideia ou qualidade (bem x
mal, herói x vilão), com attudes plenamente previsíveis e sem qualquer evolução, reduzindo-se a tpos (o mocinho pobre
bem-intencionado; a mocinha; o pai trano; a ta bisbilhoteira; o arrivista), o Realismo valoriza as personagens esféricas,
que apresentam simultaneamente várias qualidades ou tendências; são complexas, multformes, e repelem qualquer
simplifcação. São dinâmicas, porque evoluem e têm profundidade psicológica.

3.4. Tesas contesporâneos


A obra realista e naturalista centra-se no presente, no momento vivido pelo autor. Os temas prediletos são: a crítca
social, desnudando as mazelas da burguesia e do clero, e a análise psicológica, voltada para a investgação dos motvos
das ações humanas.

3.5. Exaltação sensorial


O romântco apreendia o mundo com o coração, com o sentmento, com uma attude espiritualizante. O realista é,
acima de tudo, sensorial: precisa ver, apalpar, experimentar fsicamente. A sensação é elemento fundamental no
conhecimento do mundo. Assim, no Realismo, o amor perde a conotação espiritualizante para restringir-se ao aspecto
fsico: ocorre o que chamaríamos de sexualização do amor. Ao invés do casamento como epílogo, teremos o adultério
como ponto de partda. O sexo torna-se pratcamente obrigatório.

3.6. Elesentos da narratia Realista – Naturalista


a) A narratva é lenta, minuciosa, a ação e o enredo perdem a importância para a caracterização das personagens.
b) Predomina a denotação e a metáfora é colocada em segundo plano, cedendo lugar à metonímia.
c) Preocupação formal. Busca-se a clareza, o equilíbrio, a harmonia da composição, além da correção gramatcal.
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4. A CORRENTE NATURALISTA

É um desdobramento do Realismo, por isso falamos em período do Realismo-Naturalismo, pois há muitos pontos
comuns entre as duas correntes. Ambas Orientam-se no sentdo do cientfcismo e do materialismo, da objetvidade; da
crítca às insttuições burguesas, ao clero, à monarquia. No Brasil, ambas se desenvolvem simultaneamente e coexistem
em determinados autores; mas há diferenças a assinalar:

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a) A visão de vida do Naturalismo é mais determinista, mais mecanicista; ressalta-se o aspecto biofsiológico do Homem,
visto como um animal, regido pelo instnto e pela fsiologia.

b) Por infuência do método cientfco da Medicina Experimental, de Claude Bernard, o naturalista faz do romance uma
espécie de laboratório da vida, encarando o homem e a sociedade como um ‘caso’ a ser analisado.

c) O autor naturalista, com sua preocupação cientfca, e seus interesses universais, atém-se aos fatos e nada que esteja
na Natureza é indigno da literatura. Isso implica certa indiferença, certo amoralismo, não importando a opinião sobre os
atos, mas os atos em si mesmos. Daí a abordagem de temas como: sedução, adultério, incesto, homossexualismo, taras e
vícios, tão ao gosto de determinados autores. A denúncia dos aspectos degradantes da condição humana faz-se com o
propósito de melhoria das conduções sociais que os geraram.

d) As obras naturalistas pecam por esquematsmo, presas que estão ao determinismo, à explicação cientfcista e
esquemátca da vida. Restringem-se, muitas vezes, apenas à exterioridade, aos condicionamentos, incapazes de perfurar
essa crosta e contemplar o homem em toda a sua complexidade.

4.1. Quadro cosparatio

Realisso Naturalisso
Rosance docusental: apoiado na observação e na Rosance experisental: apoiado na experimentação
análise. cientfca.
Arte desinteressada: aspirações estétcas. Arte engajada: denúncia (social e polítca).
Análise psicológica: indivíduo. Análise social.
Indireto na interpretação: o leitor tra as suas conclusões. Direto na interpretação: expõe conclusões, cabendo ao
leitor aceitar ou discutr.
Retrata e critca as classes dominantes, a alta burguesia Espelha as camadas inferiores, o proletariado, os
urbana. marginais.
Preocupação com o estlo. Focado na denúncia.
Autores es destaque: Autores es destaque:
- Machado de Assis. - Aluísio Azevedo.
 Memórias Póstumas de Brás Cubas  O Mulato
 Quincas Borba  Casa de Pensão
 Dom Casmurro  O Cortço
- Raul Pompéia. - Adolfo Caminha.
 O Ateneu  A Normalista
 BomaCrioulo
- Visconde de Taunay.
 Inocência

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