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As competências socioemocionais e a relação

com a escola

Adriana de Melo Ramos


GEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas em
Educação Moral) UNESP/UNICAMP

adrimeloramos@gmail.com
O que são competências socioemocionais?

 Conjunto de habilidades que cada pessoa tem


para lidar com as próprias emoções, se relacionar com
os outros e gerenciar objetivos de vida, como
autoconhecimento, colaboração e resolução de
problemas.

Utilizadas cotidianamente nas diversas situações da


vida e integram o processo de cada um para aprender a
conhecer, aprender a conviver, aprender a trabalhar e
aprender a ser. Ou seja, são parte da formação integral
e do desenvolvimento de todos.
Por que é necessário o
desenvolvimento dessas competências?

Século XXI - a interconectividade e a crescente


complexidade das transformações sociais,
tecnológicas, entre outras, têm ampliado a
relevância dessas competências para a realização
no âmbito pessoal, de trabalho e social.
Qual a relevância das competências
socioemocionais no trabalho da escola?

 Meados de 90 - Relatório Jacques Delors,


organizado pela Unesco, marco importante para o
debate sobre a importância de uma educação
plena, que considere o ser humano em sua
integralidade.

O relatório da Unesco indica um sistema de ensino


fundado em quatro pilares: (i) aprender a conhecer,
(ii) aprender a fazer, (iii) aprender a ser, e (iv)
aprender a conviver.
Qual a relevância das competências
socioemocionais no trabalho da escola?

 A partir disso, especialistas iniciam a definição das


competências necessárias ao alcance dos pilares
propostos. Essa nova visão não desconsidera as
competências cognitivas, mas acrescenta as
socioemocionais.

Algumas pesquisas, relacionam maior facilidade de


alunos aprenderem os conteúdos acadêmicos ao
desenvolvimento das competências
socioemocionais.
O autor mais conhecido atualmente...
É Paul Tough, no seu livro: “Uma
Questão de caráter", ele defende a ideia
de que o sucesso acadêmico não está
ligado ao bom desempenho na escola e
sim à manifestação de características
como otimismo, resiliência, rapidez na
socialização. Ele defende ainda que, as
competências socioemocionais não são
inatas e fixas, são habilidades que
podem ser aprendidas seja no ambiente
familiar, seja na escola.
Quando começou a ganhar destaque no
Brasil?
No início dos anos 90 - atualmente temos o Instituto
Ayrton Sena e a OCDE realizando pesquisas nesta área,
porém, o foco é sempre a melhoria da aprendizagem
dos conteúdos escolares, alunos mais focados,
organizados, responsáveis, aprendem mais...

E isso é ruim?
Não é de todo ruim, porém...

Mas se queremos formar cidadãos críticos, essas


competências precisam ser um investimento de
toda escola, e o objetivo deve ser o
desenvolvimento de pessoas mais autônomas
cognitivamente, mas também moralmente.
Quais competências socioemocionais são
importantes? Por que precisam ser trabalhadas?

Teoria dos Big Five* elenca cinco dimensões para este


trabalho:

1. Abertura a novas experiências;


2. Consciência;
3. Extroversão;
4. Amabilidade;
5. Estabilidade emocional.
* Big Five (port. "cinco grandes") refere-se em psicologia aos cinco fatores da personalidade descritos
pelo método lexical, ou seja, baseado em uma análise linguística.
Outros estudos apontam...
Habilidades para o aprendizado e para a inovação;
Resiliência;
Empatia;
Temperança;
Assertividade;
Cooperação;
Autoconfiança;
Responsabilidade;
Etc.
Um exemplo atual...
13 reasons why (série Net Flix)

Episódio 7 – cenas relacionada a atividade: Saco de Elogios


(48’15’’ – 46’48’’ / 32’31’’ – 31’30’’ / 16’50 – 15’40’’ / 6’25 –
5’13’’)
Alguns resultados de pesquisas feitas
no Brasil:
OCDE - no Brasil, uma parceria entre o CERI e o
Instituto possibilitou a elaboração de um instrumento
de avaliação de competências socioemocionais no
contexto escolar, validado por uma aplicação com cerca
de 25.000 alunos da Rede Estadual do Rio de Janeiro.

Os resultados revelaram que os alunos com alto grau


de responsabilidade e determinação estavam 1/3 do
ano letivo à frente dos seus colegas em matemática,
enquanto os alunos com alto grau de abertura estavam
1/3 do ano letivo à frente em português.
Por que isso não é suficiente?

Desenvolvimento moral – noção de justiça, noção


de regras, respeito, generosidade

Ambiente sociomoral cooperativo


PROJETOS BEM SUCEDIDOS DE EDUCAÇÃO MORAL: EM
BUSCA DE EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS (Menin et all, 2014)

• 1062 questionários respondidos - apenas 29% receberam


alguma formação para atuar nesse tema
• Foram selecionadas menos de 2% das experiências relatadas
• Por que não foram “bem sucedidas”?
1. valores nem sempre morais x controle disciplinar
2. isolamento de iniciativas;
3. curto espaço de tempo;
4. transmissão/doutrinação;
5. direcionado apenas aos alunos;
6. contradição com o clima relacional/disciplinar na escola
Entendemos que...

• Formação não pode ser pontual e breve


• Os métodos devem ser ativos
• Trabalho para a convivência não é para os alunos, mas "para nós”
• Não é mais o adulto ou adultos que irão zelar pela resolução de conflitos, a
proposta é envolver a todos
• Há sim um adulto responsável em estimular a convivência e não pela
convivência
• Mudança de paradigma: a convivência passa a ser valor e não “um problema”
• Inserção de processos co-operativos nos diferentes contextos e momentos
Projeto: A
convivência ética nas
escolas
Nossos princípios…

• Papel da escola e papel da família

• Ambiente cooperativo e formação da personalidade ética

• Moralidade como construção do sujeito

• Reflexão sobre regras, princípios e valores


RAZÃO E CONHECIMENTO

• Afetividade
Como essas competências podem integrar o
currículo da escola de forma eficaz?

Formação de Educadores sólida – abordando a


complexidade do desenvolvimento humano;

Atuação em 3 vias: pessoal, curricular e institucional;

Melhoria do clima escolar.


Nossa proposta...

Vias pessoal e curricular

 Formação de professores (+ especialistas e gestores)


 Formação de professores tutores
 Propostas de atividades para os professores tutores usarem nas aulas de
convivência ética com os alunos
 Os valores e a convivência serão objeto de conhecimento

 Protagonismo Infantil e Juvenil (equipes de ajuda)


 Relatos on line em ambiente colaborativo
Via institucional
 Assembleia (dimensão coletiva) entre:
 alunos (quinzenalmente);

 professores, especialistas e gestores ( bimestralmente)*.

 Processos de mediação de conflitos (dimensão privada)*


Assembleias escolares:

• MELHORIA DA QUALIDADE DO DIÁLOGO NA ESCOLA;

• MAIS ESPAÇOS DEMOCRÁTICOS;

• ESPAÇOS DE ESCUTA AOS ALUNOS (AULAS DE CE E ASSEMBLEIAS);

• ESTUDOS E REFLEXÓES SOBRE A PRÁTICA (comunicação assertiva com


todos os envolvidos no projeto, as formações relacionando
fundamentação teórica e prática, a reflexão gerada a partir dos
encontros de formação, a atuação conjunta com os educadores da
escola, o engajamento dos alunos, implementação das assembleias e
equipes de ajuda).
Protagonismo juvenil: as equipes de
ajuda, vivenciando as competências
socioemocionais na prática
Por que as equipes de ajuda?
A acolhida... preparando a escola para
receber os alunos...

26
Ou seja... queremos transformar o
ambiente da escola em um lugar onde
todos sintam-se valor...

29
Um dos remédios...

Aluno
Aluno

Aluno

PROTAGONISMO JUVENIL
PROTAGONISMO... Por quê?
Autoridade Pares
Assim...

Aluno da Equipe de Ajuda

•É lançado a um papel de
PROTAGONISTA na saída aos
problemas de convivência que
possam produzir-se no dia a dia da
escola.
Sistemas de Apoio (Avilés 2008, 2015)

Experiências de
Cyber Alunos protagonismo
descritas por Cowie
mentores mediadores (2010):
nomenclaturas e
práticas diferentes
que são adaptadas
às necessidades de
cada ambiente ou
cultura.

Alunos Equipes de
tutores Ajuda
Uma experiência de protagonismo...

... as EQUIPES DE AJUDA.


Escolas Angelo Corassa e
Vitor - 2016
Vitor
As Equipes de Ajuda são mais
uma forma de ...

• Conhecer os outros
• Prestar-lhes ajuda

Apoio •

Valorizar e compreender suas diferenças
Favorecer a convivência entre todos os
envolvidos numa comunidade educativa

Serviço
EQUIPES
DE
AJUDA?

POR Para que os alunos que


QUÊ? possam ver-se envolvidos em
problemas ou situações de
conflito disponham de um
referente próximo de si, OS
IGUAIS, que lhe proporcionam
instrumentos de
descompressão desses
problemas.
Quem é esse aluno da EQUIPE DE AJUDA?

Alguém que se
Alguém que disponha em apoiar
Alguém que aqueles que se sentem
precisará ter uma tenha a
formação em mal ou que tem
resolução de confiança dos dificuldades
conflitos e ajuda companheiros acadêmicas e/ou
pessoais

“Não é o meu amigo!”


Funções das Equipes de Ajuda
• Acolhe os alunos recém-chegados e facilita sua
integração no grupo
1

• Auxilia os amigos na organização de grupos de


apoio e nas tarefas acadêmicas
2

• Ajuda os amigos que estão tristes, sozinhos ou que


tenham algum problema pessoal e que necessitam
3 que alguém os escute e lhes preste atenção
Funções das Equipes de Ajuda
• Auxilia os alunos que se sintam excluídos e que
precisam de companhia
4

• Identifica conflitos, analisa-os e busca possíveis


soluções, intervenções – o olhar aos autores,
5 indignando-se com as injustiças

• Auxilia aqueles que têm problemas com ofensas pela


internet a buscar soluções e orienta quanto ao bom
6 uso das ferramentas de convivência no cyberespaço.
Funções das Equipes de Ajuda

• Participa das reuniões da equipe de ajuda


7
• Promove e participa, junto a outros
agentes da escola, de atuações para
melhorar a convivência, o respeito mútuo
8 e o cuidado com as pessoas e o entorno
COMO FUNCIONA?
• A ajuda funciona durante os intervalos, nas trocas de
aula, ou durante a própria aula, com a permissão do
professor.

• Não resolvem o problema: acolhem, escutam, não


julgam, não solucionam - quem tem que resolver o
problema é o aluno.
PARA QUE NÃO SERVE
• Não são “AGENTES INFILTRADOS” dos professores.

• Não resolvem problemas de indisciplina.

• Os alunos ajudantes ajudam a seus companheiros e NÃO aos professores.

• Não formam uma ELITE (cuidado com LÍDERES).

• Cuidado para evitar-se uma SÍNDROME DE SALVADORES – não poderão resolver


todos os problemas.

• Estigmatizar o ajudado: “aquele que tem problemas”/ “coitadinho”


A formação dos integrantes das EQUIPES DE
AJUDA

Processo de
Escuta ativa Assertividade
ajuda

Manejo das Resolução de


Empatia
emoções conflitos
TRABALHO EM EQUIPE, por quê?
Aumento da
Respaldo e Acordos para casos sensação de poder
acompanhamento importantes de ajuda nos alunos
ajudados

Diminuição da Potencialização do
Compartilhamento
responsabilidade respeito e confiança
de decisões
individual dos alunos

Diminuição do risco Evitar-se-á Facilitar


de atuações protagonismos não substituição
inadequadas necessários (quando necessário)
A formação em um sábado das 8h
às 17h...

Mensagem do professor Aviles
diretamente da Espanha para todos os
alunos das Escolas de Paulínia...
Integração e conhecimento
entre os alunos da equipe de ajuda?
A participação dos professores
tutores e da equipe gestora
Acompanhamento da atuação das
equipes de ajuda

• Reuniões mensais

• Formação continuada
• Eleição de identificação e logo
• Plano de divulgação nas escolas
• Plano de ação: o que fazer?
• Partilha de dúvidas
• Decisões de ações específicas – em conjunto
• Organização de aulas de tutoria
Avaliação dos Professores Tutores e da
Equipe Gestora:
• escola estava com um clima diferente, cuidado no preparo
que fez a diferença;
• muito positivo a participação dos alunos;
• trabalho das duplas de formadores – sintonia, respeito
entre si e mútuo;
• a vivência de uma convivência democrática e respeito
entre todos;
• atividades com Método Ativo, os alunos participaram até
o final do dia com entusiasmo, não se dispersaram,
processo crítico, reflexivo em um ambiente de respeito;
• Alunos falaram coisas surpreendentes...
E com a palavra os alunos...

• Vídeo: Marcela e Lucas (9º D - Corassa)


I Encontro das equipes de Ajuda
do Brasil
Seminário sobre Convivência Ética
E, por fim, um desejo...
Afinal, escola é lugar de...
Sentir-se respeitado.
Sentir-se protegido.
Sentir-se pertencente.
Obrigad@!!!

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www.somoscontraobullying.org/gepem

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