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ECONOMIA DO CAMBOJA E OS PROBLEMAS DA INDUSTRIALIZAÇÃO

Prefácio

Como seu título indica, este ensaio está preocupado com a “economia do Camboja e os problemas
de industrialização”. Não esconderemos o perigo envolvido em abordar um tópico tão vasto de
qualquer maneira, especialmente quando múltiplas dificuldades associadas a documentos históricos
e estatísticos insuficientes são agravadas pela falta de experiência pessoal e prática. Ainda. Para
determinar as perspectivas de desenvolvimento econômico em nosso país, é absolutamente
essencial tentar entender os vínculos e a interdependência de diferentes componentes do processo
de desenvolvimento que afetam a vida social. Procuraremos examinar as características que
parecem mais críticas.

Este trabalho será dividido em duas partes. Na primeira, tentaremos demonstrar a necessidade
objetiva de industrialização e desenvolvimento autônomo estudando a estrutura econômica
contemporânea do Camboja, o mecanismo subjacente a essa estrutura e sua influência no ritmo do
desenvolvimento econômico que se seguiu. Na segunda parte, vamos avaliar alguns problemas de
industrialização propriamente ditos: Em particular, tentaremos determinar como uma reforma
estrutural pode ser efetuada para garantir uma base sólida para a industrialização e quais são os pré-
requisitos dessa reforma.

ESTRUTURA ECONÔMICA CONTEMPORÂNEA

A. AGRICULTURA

1.Setor pré-capitalista vasto

Aproximadamente 5 milhões de pessoas vivem no território do Camboja de 182.000 quilômetros


quadrados. A população ativa é cerca de 2 milhões de pessoas, e destes, cerca de 85% estão
envolvidos na agricultura, onde suas energias produtivas são limitadas por meios primitivos: alguns
animais de tração por aldeia; arados de madeira; e a força de trabalho de indivíduos isolados
sujeitos a forças indisciplinadas como a seca, inundações e doenças. Assim, a agricultura continua a
ser uma atividade basicamente familiar.

Entretanto, deve-se fazer uma distinção importante entre as iniciativas familiares dedicadas ao
cultivo do arroz nas planícies internas e aquelas dedicadas ao cultivo de chamcar[1] ao longo das
margens dos rios. Essas formas de atividade invariavelmente se qualificam como iniciativas
familiares, pois empregam apenas o trabalho manual da família – o cultivador, sua esposa e filhos.

Nestas duas formas de cultivo, o custo das ferramentas é de apenas um a dois por cento das
despesas operacionais totais. As terras de arroz de pequenas famílias, no entanto, são mais atrasadas
do que as margens de rio de Chamcar de pequenas famílias. Orientados essencialmente para o
consumo direto, eles se assemelham ao tipo de agricultura familiar praticada na Europa medieval,
enquanto o chamcar de pequenas famílias é orientado para o mercado. Em princípio, essas pequenas
iniciativas comerciais podem fornecer uma base para um verdadeiro desenvolvimento capitalista
(baseado na produção que utiliza capital e trabalho assalariado). Até agora, a região dos rios é a
única área onde encontramos elementos evoluídos que compõem um tipo de burguesia rural. Mas,
na ausência de indústrias nacionais, cortadas pela concorrência das importações estrangeiras, o
desenvolvimento da produção comercial e capitalista nessas partes está ligado à produção das
exportações agrícolas. A seleção das culturas e a quantidade produzida são subordinadas ao longo
dos anos às flutuações dos preços mundiais para diferentes mercadorias.
A região dos rios e dos remansos ocupa apenas uma área de cerca de 500.000 hectares[2] ao redor
dos ramos do “x” feitos pela interseção dos rios Mekong-Tonle Sap e Bassac em Phnom Penh. O
modo de produção capitalista, frágil e pequeno mercante lá parece incapaz de se estender além dos
bancos. Cerca de 1.500.000 hectares de arrozais, três quartos de toda a terra cultivada no Camboja,
são trabalhados sob uma produção feudal. A família camponesa cultiva o arroz principalmente para
pagar as rendas e dívidas da terra; o que resta é consumido diretamente sem pensar em troca ou
ganho monetário.

2. Setor Capitalista Ligado a Grandes Unidades Internacionais

Há, contudo, uma ilha de agricultura capitalista que corta essa vasta base tradicional. Este é o setor
de plantação de borracha. Em contraste com a iniciativa familiar, as plantações de borracha foram
criadas por grandes empresas capitalistas fazendo uso extensivo de capital e mão de obra contratada
(cerca de 17.000 trabalhadores)…

[A produção de borracha no Camboja é totalmente controlada por cinco empresas, cada uma
pertencente a uma grande “unidade internacional”. As plantações ocupam 32.200 hectares de terra e
produzem 27.500 toneladas de borracha, todas exportadas.]

B. INDÚSTRIA

As características básicas da indústria Khmer podem ser resumidas como as seguintes:


(1) é fraca e instável;
(2) faz parte de um conjunto cujo centro está localizado no exterior e não parte de um conjunto
nacional integrado;

1. A indústria é fraca e instável

A fraqueza da indústria é demonstrada pela sua pequena contribuição para a produção nacional
bruta.

O anuário estatístico do Camboja para 1937-1957 atribui 1,2 bilhão de riéis[3] (aproximadamente
US34,2 milhões) à produção industrial. Isto inclui o “valor agregado” por numerosos artesãos
dispersos por todo o país, fabricantes de macarrão familiar e fabricantes de molho de soja,
pedreiros, fabricantes de joias, marcenarias, lojas de utensílios domésticos, tecelões, escultores de
mármore, cortadores de madeira, sapateiros, etc.

Tais oficinas, que empregam quase exclusivamente o trabalho familiar, são mais propriamente
classificadas como artesanais ou indústrias artesanais, como pequenas formas mercantes e pré-
capitalistas. Não devem ser consideradas “indústrias capitalistas”. Além disso, como o setor
artesanal claramente predomina na indústria, sua produção bruta poderia ser estimada em 600
milhões de riéis, uma soma que deve ser subtraída da figura acima. A produção industrial é então de
aproximadamente 600 milhões de riéis, ou apenas 8,6% do Produto Nacional Bruto(PNB) (estimado
em 7 bilhões de riéis).

As refinarias de açúcar, as fábricas de cigarros, as serrarias manuais, as fábricas de carvão vegetal,


os fornos, oficinas de tijolos e telhas, as fábricas de sabão, as destilarias de óleo, as fábricas de
molho de peixe, lojas de tecelagem de seda, olarias, sapatarias e tinturarias, fábricas de cobertor e
moinhos de algodão são instalações do tipo de oficina que utilizam pouco capital fixo[4], como as
da Europa dos séculos XVII e XVIII. Da mesma forma, os moinhos de arroz, as destilarias, as
serrarias mecanizadas, as casas de gelo, as fábricas de refrigerantes, as usinas de energia, as
gráficas, os ferreiros e as fundições e as oficinas mecânicas parecem fábricas dos séculos XVII e
XVIII mais do que as fábricas “modernas”.

As usinas de Água e Eletricidade são estações de geração de vapor de baixa eficiência. Em 1957, o
poder emitido foi de 11.579 quilowatts, exigindo 9.350 quilowatts para produzir. Beneficiando de
uma posição de monopólio absoluto (as duas empresas existentes pertencendo ao Banco da
Indochina) e preocupadas em obter retornos imediatos, essas empresas não investiram grandes
quantidades de capital para instalar um sistema hidroelétrico, ou para melhorar as instalações de
vapor para fornecer eletricidade mais barata. Eles estavam satisfeitos com geradores ineficientes
que prometiam retornos mais rápidos sobre o investimento, mesmo que produzissem eletricidade a
um custo proibitivo. Por essa razão, apenas 21,7 milhões de kWh foram consumidos em 1955, de
uma produção total de 27,5 milhões de kWh, enquanto que, ao mesmo tempo, todas as empresas
nacionais e estrangeiras foram obrigadas a adquirir seus próprios grupos geradores para obter a
energia elétrica de que precisavam. Os principais consumidores de eletricidade produzidos no
Camboja são os serviços públicos e uma fina camada da população. A eletricidade continua a ser
uma comodidade de luxo para a grande maioria.

Os ferreiros e as fundições poderiam esperar que desempenhassem um papel importante no


processo de industrialização, mas até agora foram reduzidos a tarefa de reparar barcos e máquinas a
vapor. Em adição aos estaleiros navais velhos, nós devemos notar a presença de uma companhia
francesa previamente estabelecida em Haiphong, que foi realocada no Camboja em 1955.Essa é a
SOKREC[5]. Com sua linha de montagem a 2 CV (hp) Citroen, instalada no final de 1957, a
SOKREC é superficialmente mais que uma garagem para a venda de automóveis importados, mas
apenas superficialmente.

Outras indústrias maiores são os moinhos de arroz e as destilarias de álcool de arroz. Outros bens de
consumo são produzidos ou por artesãos ou por oficinas de muito menos importância empregando
um capital muito pequeno (processamento de tabaco, tecelagem, notavelmente). A maior parte da
população fuma cigarros enrolados à mão. Cigarros manufaturados e bebidas gaseificadas são
totalmente inacessíveis a massa de camponeses, devido ao seu extremamente limitado poder de
compra. Por essa razão, tais produtos devem ser considerados como produtos de “luxo”.
Finalmente, a prosperidade das destilarias de álcool de arroz deriva do envenenamento sistemático
da população.

Essa análise da estrutura industrial nos permite apontar a sua natureza insubstancial. A maioria das
oficinas e fábricas assemelha-se aquelas da alta idade média. Sua estrutura é, além disso,
profundamente desbalanceada por não ser orientada a contemplar as necessidades das massas ou a
satisfazer as necessidades de desenvolvimento da sociedade Khmer.

2.Industria e Artesanato dependem de um centro estrangeiro.

Independentemente do fato de que as indústrias e oficios são fracos e desbalanceados, eles não
constituem um conjunto nacional autônomo, integrado. Cada componente separado é mais uma
parte de um conjunto centrado no exterior. Portanto, o desenvolvimento industrial é totalmente
dependente em cima das circunstâncias externas que a sociedade Khmer tem um controle muito
pequeno. Isto não é uma matéria de interdependência de unidades econômicas discretas, mas
claramente e certamente, um caso de dependência unilateral de componentes Khmer sobre o
conjunto composto de indústrias vinda de países capitalistas avançados. Essa dependência é
demonstrada pelo fato de que:

(1)Empreendimentos maiores de tipo capitalista são possuídos diretamente pelas “Grandes


Unidades Internacionais” com sede estrangeira;
(2)Indústria e artesanato são totalmente dependentes de fornecimentos estrangeiros de materiais
primários e semi-processados.

Vamos analisar esses dois pontos por vez:

(1)Empreendimentos maiores de tipo capitalista são possuídos diretamente pelas “Grandes


Unidades Internacionais” com sede estrangeira;

Nos já consideramos a situação das plantações de borracha. Pelos outros empreendimentos


industriais, o Banco da Indochina predomina. Ele possuía ambas companhias de água e eletricidade
até suas instalações serem cedidas ao governo cambojano no começo de 1958. O Banco também
controla “Distilleries de I'Indochine”, que originalmente teve um total monopólio sob a produção
industrial de álcool de arroz. Ela produzia 7 milhões de litros (100% álcool puro) fora de uma
produção cambojana de 9,6 milhões de litros. Depois de perder seu monopólio, ele manteve sua
posição de mercado apesar de uma competição séria com a grande firma americana, “Green
Spot.”[6]

(2) Indústria e artesanato são totalmente dependentes de fornecimentos estrangeiros de materiais


primários e semi-processados.

A indústria (fábricas e moinhos) e o artesanato experimentam apenas um ciclo incompleto de


desenvolvimento que impede todas as possibilidades de independência econômica. As cervejarias e
casas de gelo, por exemplo, importam bicarbonato de sódio, citrato de sódio, ácido fosfórico, ácido
cítrico, soda cáustica, concentrado de laranja, óleo de louro, corante azul, corante laranja, alfinetes e
pregos de diversos tamanhos, lubrificantes e peças sobressalentes. A única matéria-prima local que
estas “indústrias de transformação” processam, são as águas do Mekong.

Todos os outros exemplos são igualmente impressionantes. Os componentes da indústria são mais
uma parte de um todo estrangeiro do que um todo nacional. As empresas locais são soldadas a
indústrias nos países capitalistas avançados e ignoram totalmente o resto da economia nacional: os
moinhos de cigarros processam o tabaco estrangeiro, as fábricas de sabão usam a copra estrangeira
e ambos ignoram completamente o tabaco e a copra “indígenas”. Assim, as atividades industriais
provenientes da integração internacional da economia são mais precisamente pensadas como
extensões das indústrias de países capitalistas avançados enquanto a agricultura vegeta sob o peso
de uma estrutura profundamente pré-capitalista.

C. RENDIMENTO NACIONAL

Com base neste panorama, podemos dizer que a economia do Camboja é agrícola e atrasada. O
caráter retardado dessa estrutura é demonstrado pela baixa renda nacional do
Camboja.

De acordo com as estatísticas oficiais, o produto nacional líquido era de 12 bilhões de riéis em
1956, o equivalente a 120 bilhões de francos (US $ 343 milhões) às taxas de câmbio oficiais atuais.
Isso equivale a 24.000 francos (U$ 68) per capita.

O nosso ver, a cifra de 12 mil milhões de riéis é contenciosa. Na verdade, o produto nacional total é
um pouco menor. De fato, o cálculo do produto nacional incluiu o “valor agregado” da
administração, da defesa, do comércio e do setor bancário. Parece claro, porém, que esses ramos de
atividade não agregam valor à sociedade da perspectiva da economia como um todo. Eles
simplesmente lucram com uma transferência de valor proveniente de outras atividades produtivas
dentro da sociedade (agricultura, artesanato, pequena indústria). E a transferência de produtos
dentro da sociedade não amplia o valor total da produção obtida pela sociedade. A distinção feita
pelo economista escocês Adam Smith entre o trabalho produtivo e o improdutivo merece ser
cuidadosamente considerada aqui[7]. Isto está longe de dizer, por exemplo, que um funcionário
público ou um soldado seria inútil para a sociedade. No entanto, quanto maior a redução do número
de indivíduos preocupados com a organização social geral, maior o número de pessoas que podem
contribuir para a produção e mais rápido o enriquecimento da nação.

Se esta distinção entre atividade produtiva e improdutiva é correta, ou seja, uma distinção feita a
partir de uma perspectiva.

Além disso, se o custo de manter o soldado representa uma despesa necessária, como certamente
acontece no caso do Camboja, tais despesas permanecem, no entanto, improdutivas. A situação é
clara: a luta pela paz no Sudeste Asiático e contra os pactos militares figura no quadro dos nossos
esforços de desenvolvimento econômico[8].Finalmente, o caráter “improdutivo” do comércio
surgirá uma vez que tenhamos estudado o mecanismo subjacente do seu superdesenvolvimento. A
economia como um todo sem qualquer intenção pejorativa, segue-se que devemos deduzir a soma
de cerca de 5 bilhões de riéis considerados como “valor agregado” pela administração, defesa,
comércio e setor bancário. O produto nacional líquido passa assim a 7 bilhões de riéis (US$ 20
milhões) (12-5 = 7 bilhões de riéis).

Essa figura aproxima mais a realidade na economia Khmer. O crescimento da renda não tem
significado, mesmo que reflita o crescimento material. Parece-nos que o crescimento do potencial
produtivo, é o único critério válido para medir o grau de desenvolvimento de uma economia. Somos
de opinião que, o raciocínio expresso em termos puramente monetários sem referência a fatores de
produção “reais”, só pode conduzir a decepções.

CAUSAS DE UM ATRASO ECONÔMICO

Do ponto de vista estritamente econômico, o efeito da intervenção francesa no Camboja desde 1863
foi o de “abrir” o país ao comércio com a França. De acordo com o ato de janeiro de 1892, os bens
metropolitanos (franceses) entraram na Indochina sem tributo e os produtos indochineses
importados pela metrópole foram isentos do tributo. Como regra e de acordo com os termos do
mesmo ato, os bens estrangeiros que entram na Indochina pagaram o mesmo imposto que teriam
pago pela entrada na França. Assim, o dispositivo alfandegário proibia a entrada de mercadorias de
outros países capitalistas, mas estabelecia o livre comércio entre a França e a Indochina, dentro do
qual o Camboja estava dissolvido.

A atual estrutura econômica do Camboja é fruto desse contato livre e sem restrições entre uma
economia basicamente pré-capitalista khmer e uma economia capitalista francesa mais avançada.

Quando dois países capitalistas entram em contato (supressão de tarifas protetoras e cotas de
importação, livre transferência de capital e ganhos), eles são capazes de desempenhar papéis
simetricamente ativos, desde que se aproximem do mesmo nível de desenvolvimento econômico.
As duas economias se interpenetram de forma gradual até formarem um todo perfeitamente
integrado. Escusado será dizer que este processo de integração recíproca não é realizado sem
conflito ou crise. Mas, no final da luta, apenas as pequenas e médias empresas, as empresas
marginais dos dois países, serão eliminadas. As grandes indústrias dos dois países emergirão em
uma posição mais forte e lucrarão com um “espaço econômico” maior, no qual poderão desdobrar o
capital e o trabalho como desejarem.

O processo é profundamente diferente nas relações entre economias capitalistas e pré-capitalistas,


se as relações forem estabelecidas com base no princípio da liberdade de comércio, do tipo
desenvolvido em meados do século XIX entre a França e o Camboja. O confronto aqui é desigual.
Uma das economias em causa já está mais avançada e mais dinâmica, impulsionada pela troca e
busca de lucro. A outra é estacionária, vivendo essencialmente do princípio da gratificação imediata
das necessidades e ignorando a troca e o lucro. O contato não quebra o caráter pré-capitalista do
último, que se torna subdesenvolvido. No comércio entre a França e o Camboja, o Camboja não
pôde desempenhar um papel simétrico ao da França, um país capitalista desenvolvido. Somente a
França desempenhou um papel ativo, integrando seu parceiro, que foi submetido à integração, em
um capitalismo estrangeiro. Nesta situação está a razão essencial para o atual atraso econômico do
Camboja.

A partir de 1955, o comércio internacional do Camboja foi ampliado para incluir outros países
capitalistas avançados, particularmente os Estados Unidos da América. Depois de duas guerras, os
Estados Unidos gozam de um domínio econômico incomparável no mundo ocidental. Aproveitou as
dificuldades de pagamento encontradas pelo Camboja, bem como pela maioria dos países
subdesenvolvidos, para desenvolver o comércio com base no antigo princípio do livre comércio. De
fato, a ajuda econômica americana incorpora esse princípio, uma vez que é principalmente uma
ajuda comercial e contém, de forma rudimentar, os meios de integrar a economia khmer na nova
economia dominante, processo que só pode fortalecer a estrutura pré-capitalista na economia
nacional.

Mencionamos relações baseadas no livre comércio e enfatizamos essa premissa porque o contato
com as economias capitalistas avançadas não necessariamente resulta necessariamente em
desequilíbrio. Sob outras circunstâncias que não podemos definir no decorrer deste ensaio, o
contato é, em contraste, não apenas benéfico para o Camboja, mas para ambas as partes.[9]

Para começar, vamos tentar analisar mais de perto o mecanismo que deu origem à estrutura atual.

A.A ESTRUTURA ECONÔMICA DO CAMBOJA EM MEADOS DO SÉCULO XIX

Um estudo aprofundado da economia khmer antes de seu contato com a França nos daria uma
melhor compreensão dos aspectos característicos da economia cambojana contemporânea. Na
ausência de tal estudo, podemos apenas apresentar uma visão geral dos principais traços da
estrutura atual.

A economia do Camboja no século XIX ainda era uma economia agrícola pré-capitalista: a
agricultura é a principal ocupação e recurso, cuja primazia se reflete nos rituais da corte e na
organização do Estado, tanto quanto na literatura e nas tradições populares.

A agricultura dependia de uma organização agrária que se aproximava da forma feudal. O caráter
feudal da vida rural Khmer tinha nuances específicas ligadas talvez às condições técnicas do cultivo
do arroz e certamente às condições históricas e geográficas do país. Não havia grandes proprietários
agrícolas, apenas as pequenas aldeias. Mas a massa camponesa foi aprisionada dentro da aldeia ou
srok[10] sob uma forma feudal de autoridade, a do sethey[11], uma oligarquia terratenente e
nacional. Mesmo que o rei era, em teoria, mestre exclusivo do solo e de seus seres, a terra estava
concentrada nas mãos de sethey, senhores feudais e mandarins ainda mais poderosos do que
ministros. O capital estava afastado distante com respeito aos meios de transporte deste período

No começo de seu reinado, o rei confiou a administração de sua propriedade ao seu povo,
proclamando: "Água, terra, floresta e montanhas nas províncias do Reino não podem ser tomadas
por nós. Deixo-os para as comunidades religiosas, para todas as pessoas e para todos os animais, a
fim de que possam encontrar a sua subsistência com integridade."[12] Na verdade, a grande classe
de mandarins e notáveis que o rei não podia satisfazer dividiu a terra para si. Esta terra foi então
cultivada por camponeses reduzidos à servidão e à escravidão. Poderia ser de outra forma quando,
como observou Paul Collard: "A influência tirânica dos mandarins penetrou profundamente no
coração deste país; É tão bem embutida, que o camponês não é nada mais que um ser abstrato."[13]

Assim, a vida rural Khmer certamente apresenta um caráter feudal. Em meio a este manto feudal,
surge um setor de artesanato ativo. Embora a exploração artesanal e a transformação da riqueza do
subsolo parecem ser primariamente o trabalho do rei e dos senhores feudais através do uso de seus
escravos, artesãos livres estão ativamente envolvidos em seda, algodão, rattan, açúcar de palma,
madeira, marfim e couro…

[Em sua dissertação de 1874, Le Cambodge Economique, Pierre Dreyfus notou uma variedade de
ofícios florescentes, alguns dos quais foram vendidos a distâncias consideráveis. No entanto, ele
também informou que a indústria de seda estava começando a diminuir devido à concorrência de
sedas chinesas mais baratas. Em seu relato, ele rotula os cambojanos de “apáticos”.]

…A apatia dos cambojanos é frequentemente discutida e atribuída livremente a um traço particular


da raça. Mas não seria mais apropriado localizar a causa dessa “apatia” na estrutura econômica e
social da época, mais precisamente nessa “influência tirânica” de mandarins e senhores feudais que
diminuía as pessoas para nada mais do que “seres abstratos”? O cambojano que vivia sob as
condições da sociedade feudal era mais apático do que o servo francês na Idade Média? Parece que
não. Foi a estrutura econômica e social que proibiu os camponeses e artesãos Khmer de
desenvolverem todo o seu potencial.

Não se deve esquecer que a indústria khmer em meados do século XIX evoluiu sob condições
fundamentalmente semelhantes às experimentadas pelos artesãos franceses ao longo da Idade
Média. A transformação de uma economia de subsistência essencialmente “estática” em uma
economia mercantil mais dinâmica mal começou. A este respeito, a economia do Camboja ainda
estava atrasada em relação à Índia onde os produtos manufaturados já estavam aparecendo.
Também se encontrava atrás de seu vizinho, o Vietnã, onde o artesanato já se separava da
agricultura e se concentrava em aldeias especializadas ou “assembleias de aldeia”, onde cada aldeia,
como unidade, executava todas as operações necessárias em uma área de produção. A existência de
algumas aldeias especializadas (seda, tecelagem de algodão e aldeias de cerâmica): a aparência
neste momento de centros de câmbio em kampong [14] (flutuante ou rio); O fato de que alguns
produtos, especialmente a cerâmica, já eram objeto de comércio ampliado; Tudo demonstra que a
divisão social do trabalho já era relativamente avançada, e que a economia mercantil já havia feito
certos progressos. Antigos artesanatos já estavam tecnicamente avançados. Aqui está uma
impressão da situação registrada por um dos primeiros administradores franceses:

E, no entanto, quando se veem as maravilhas da solidez executadas pelos


cambojanos para carros tão leves e elegantes, a vigorosa robustez de seus quadros de pagodes. O
acabamento de todos os instrumentos que empregam e o gosto com que são feitos, curvados e
graciosamente esculpidos, a ciência da combinação de design e cor empregada na tecelagem de seu
sampot de seda maravilhosa, não se pode deixar de acreditar na possibilidade de rápido
desenvolvimento industrial por esta raça…[15]

[No entanto] é impossível alcançar mais desenvolvimento industrial a menos que a economia pré-
capitalista seja assistida no processo de desagregação [16] da sociedade feudal e de dar origem ao
capitalismo nacional.

O contato com a França não acelerou a expansão desse capitalismo nacional. Em vez disso, a
integração da economia de transição em um mercado internacional dominado pelos países mais
avançados desviou o desenvolvimento para seu caminho semicolonial e semifeudal contemporâneo.
Vamos tentar um exame mais atento deste mecanismo de transformação estrutural.

B.O IMPACTO ESTRUTURAL DO CONTATO COM A FRANÇA DE MEADOS DO SÉCULO


XIX

No tempo da Renascença, o desenvolvimento do capitalismo nos países europeus foi um processo


evoluindo com a economia feudal em si e atravessando dois estágios:

(1)A transformação da economia de subsistência através da simples economia mercante. Esse


estagio foi concluído no curso da idade média quando as novas inovações tecnológicas permitiram o
crescimento em produtividade requirindo a separação das funções agrícolas e artesanais. Os
artesãos deixaram a agricultura a fim de se especializar na produção de bens domésticos e
ferramentas agrícolas. O cultivador acabou fazendo estes bens e ferramentas para ele mesmo.
Houve agora um mercado para vender e comprar bens que surgiu dessa inicial divisão de trabalho
dentro da sociedade. Isso estimulou moedas de troca entre setores agrários e artesanais, e mais
tarde, no interior dos setores agrários e de manufatura deles mesmos.

(2)Transformação de uma simples economia mercante em uma economia capitalista. Como a


divisão social do trabalho e o desenvolvimento de troca progrediram, a relação competitiva foi
estabelecida entre os produtores individuais, cada um se esforçando para vender a melhores preços
e para comprar mais barato. Isso resultou no fortalecimento daqueles que foram fortes e a ruína de
outros, que por sua vez levou a transformação de produtores independentes em trabalhadores
assalariados e a transformação de um número de estabelecimentos pequenos em empreendimentos
manufatureiros.

A competição continuamente forçou os primeiros capitalistas a modernizarem os seus


empreendimentos, recorrendo a maior e mais intensivo uso de capital. Um empreendimento em um
único setor decidindo trazer novos equipamentos foi suficiente para forçar os seus concorrentes a
fazerem investimentos comparáveis, para que não se distanciassem. Assim, a tecnologia avançou
rapidamente junto a produção.

Reconhecidamente, as coisas não são tão esquemática na realidade histórica. Primeiro de tudo, os
dois processos evoluem simultaneamente em parte: a transformação de simples circuitos mercantes
em circuitos capitalistas acelera a monetarização de setores ainda excluídos do processo de troca.
Em seguida, o processo de transformação de uma simples economia mercante em economia
capitalista é acelerada pelas trocas estrangeiras: os “aventureiros” mercantes se tornam ricos a partir
da venda de especiarias e bens estrangeiros aos grandes senhores feudais, e isso facilita a sua
acumulação inicial da riqueza anteriormente acumulada. Esses comerciantes prósperos se tornaram
manufatureiros. Mas todas essas considerações não devem obscurecer o essencial, que é, o fato de
que houve uma divisão de trabalho inicial dentro da sociedade e do desenvolvimento de trocas
internas.

O processo observado em economias pré-capitalistas submetido a integração internacional é


profundamente diferente.

Nós veremos isso no curso de exame do caso do Camboja.

1.O IMPACTO ESTRUTURA DO COMÉRCIO ESTRANGEIRO


A. Declínio dos artesanato. Enquanto o investimento capital indígena e a criação de indústria leve
assumiu a produção de bens anteriormente fornecido por artesãos foi a base do desenvolvimento
capitalista europeu, a penetração de produtos estrangeiros e industriais franceses é a base da
economia subdesenvolvida do Camboja. O homem de negócio francês coloca loja e afunda o
mercado local com bens manufaturados. O relativa barateamento desses bens assinalam o declínio
de grande parte do setor artesanal nacional. A tecelagem de seda e algodão quase desapareceu
completamente por conta da competição das roupas de algodão e raiom manufaturadas francesas. O
falecimento da indústria de tecelagem levou por extensão a um declínio em empreendimentos de
tingimento familiares.

Industrias com base no açúcar enfrentaram competição das refinarias instaladas no Vietnã pela
companhia “Raffineries de l'Indochine”.As destilarias de álcool de arroz locais encontraram o
mesmo das “Distilleries de l'Indochine”. Alimentos importados tendo apreendido parte do mercado,
artesãos que processavam produtos agrícolas subsistiam só pelo encontro das necessidades de uma
fração da população muito pobre para comprar mercadoria estrangeira. A mesma coisa aconteceu as
produções de lataria, cerâmica, tecelagem de cesto e esparto[17].Uma parte importante de seu
mercado dentro da classe rica e média da população foi encirrada por igual, produtos substitutos
produzidos de forma mais barata pela indústria estrangeira.

Monsieur De Coulgean, cujas impressões do artesanato Khmer já citamos, estava espantado:

"…e ainda individualmente, o cambojano é laborioso e habilidoso; ele pode fazer tudo que
ele necessitar através de ferramentas, utensílios, roupas e casa…"

E um pouco além:

“Portanto, enquanto o Khmer é um bom oleiro, um hábil lenhado, um admirável construtor


de barcos, um trabalhador manual de bom gosto e habilidoso, faltando nem coragem nem paciência,
nem mesmo um certo espírito empreendedor, ele não tem conseguido, até agora, nenhuma
significância industrial.”

No Camboja, a economia mercantil ainda estava em seus estágios iniciais. Evoluiu lentamente no
âmbito da sociedade feudal em meados do século XIX. Os artesanatos já haviam atingido um nível
técnico elevado, mas ainda não estavam separados da agricultura. A introdução de bens de
indústrias estrangeiras mais desenvolvidas só poderia enfraquecer e desestimular os artesãos de
quebrar a intrincada rede de relações de produção feudais.

Mais recentemente, durante a Segunda Guerra Mundial, algumas indústrias artesanais foram
capazes de surgir quando a autarquia[18] forçada reduziu a concorrência estrangeira. Estes eram
principalmente artesanato de sabão, algodão, cobertor, seda, açúcar de palma e papel. As fábricas de
papel desapareceram logo após a retomada das importações. Outras empresas também foram
colocadas em perigo. No seu relatório de 11 de Outubro de 1956, a Administração de Minas,
Indústria e Artesanato observa:"… a nossa situação industrial é ainda mais crítica devido à incerteza
quanto ao futuro". Referindo-se ao refinador de açúcar Tan-y-Sine criado durante os tempos difíceis
causados pela guerra e que agora produz 700 toneladas de açúcar [por ano], o mesmo relatório diz:
"… Poderia produzir o suficiente para cobrir as necessidades do país se as importações de açúcar
fossem proibidas." Na verdade, esta refinaria sofreu uma perda de 174.172 riéis (4.976 dólares) em
1954 devido à concorrência do açúcar importado (2.086 toneladas em 1954).
A concorrência da indústria estrangeira ou de suas “antenas” comerciais continua. O setor de
artesanato “se ilumina e desaparece”. Entretanto, não se deve concluir que ela logo desaparecerá
completamente. Na verdade, apenas alguns artesãos sucumbem. Outros subsistem por satisfazer as
necessidades da parte empobrecida da sociedade cujo precário poder de compra lhes nega o acesso
a bens estrangeiros. Ainda outros artesãos sobrevivem na esteira da grande indústria estrangeira e se
veem responsáveis pelo serviço e reparação de bens fabricados no exterior. Este é o caso de todos os
tipos de reparadores e mantenedores que atendem itens como rádio, automóvel e equipamentos
elétricos. O artesanato e as pequenas indústrias tendem assim a se tornar um apêndice de grandes
indústrias estrangeiras. Isso, naturalmente, significa aumentar a vulnerabilidade dos artesãos às
flutuações das economias capitalistas avançadas. A partir daí, as perspectivas de desenvolvimento
oferecidas pelo capitalismo estrangeiro estão fortemente ligadas à evolução da situação
internacional.

Enquanto os negócios estiverem vívidos, o artesanato recebe uma parte dos lucros, ainda que
modestos, mas suficientes para assegurar um certo nível de atividade e melhorá-la de novas
maneiras. Enquanto os “artesãos tradicionais” continuam a deslizar para ocupações secundárias,
parte do setor de artesanato pode até atingir escala industrial modernizando-se e ampliando sua
força de trabalho.

Se, em contraste, uma recessão surge, o “impulso” para a indústria para; As pequenas indústrias
capitalistas serão obrigadas a reduzir a sua atividade e tendem a recuar para as fileiras artesanais.
Este tipo particular de “reforço” não, no entanto, equivale a qualquer ampliação quantitativa de
artesanato, porque é mais do que compensado pelo declínio simultâneo e falência de muitas
empresas existentes.

B. Reforço da estrutura pré-capitalista no campo. O declínio do artesanato, parte do qual,


paradoxalmente, deve sua sobrevivência ao extremo empobrecimento de uma parcela significativa
da população, sinaliza um recuo para a economia de subsistência. A indústria artesanal enfraquecida
não é mais capaz de sair do setor agrícola e persistir apenas sob o título de “atividades secundárias”
dos camponeses. O processo de desintegração da estrutura feudal é então interrompido.

Nos países capitalistas avançados, a “revolução industrial” foi acompanhada por uma profunda
agitação na estrutura agrária. Em certos países, notadamente na França, o domínio senhorial foi
destruído por expropriação revolucionária e divisão de propriedades feudais. Os camponeses
feudais de outros países (Inglaterra, Alemanha e Japão) sob a influência de fortes correntes de
câmbio da nova e emergente indústria “reorganizaram” suas propriedades, substituindo os antigos e
atrasados métodos de cultivo (parceria, arrendamento) com os métodos de cultivo capitalistas
(investimento de capital e uso de trabalhadores assalariados). Isso trouxe um aumento da
produtividade e uma redução no número de camponeses por hectare de terra cultivada.

________________________________________________________________________________
|AS PRINCIPAIS INDUSTRIAS DO CAMBOJA E AS SUAS NECESSIDADES DE
|IMPORTAÇÃO ANUAL
|
|NATUREZA DA INDUSTRIA MATERIAL PRIMÁRIO
| Local Anualmente importado
|
|I-INDÚSTRIA PESADA
|
|Instalações elétricas Nenhum a)Peças de reposição: Motor, produtos
metalúrgicos(cobre, aço, latão),cabos,
|Número:10 tubulação, peças de fundição, medidor
de | água
|Produção Anual:
| b)Acessórios elétricos
|28.400.000 KWh
| c)Químicos: Sulfato de Alumínio e
outros
| d)Variados: Fiação isolada, dúctil e
| simples;107.530 toneladas de óleo de
| gasolina e combustível diesel;
| 100.033 toneladas de graxa
|
|
|Fábricas de ferro, fundições Nenhum a)Bens semi-processados:
|S.O.K.R.E.C. Ferro de aro 450.000 t.
| Seções de ferro 1.200 t.
| Ferro forjado 250 t.
| Chapa de metal preta 200 t.
| Chapa de metal comum 100 t.
| Alumínio 5 t.
| Persianas 120 rolos
| Tubulação dobrada e reta 100 t.
| b)Peças de reposição
| c)Combustíveis:Óleo de gasolina, óleo
| diesel
| d)Lubrificantes
|
|
|
|Fabricas de bebidas gasificadas Aguá a)Bens semi-processados:
| Bicarbonato de sódio, citrato de
| sódio, ácido fosfórico, ácido cítrico,soda
| cáustica, concentrado de laranja,óleos
| variados; essência de salsaparrilha, de
| cola africana, concentrado de hortelã-
| pimenta, oléo de louro, corantes azul e
| laranja, caramelo…
| b)Suprimentos:
| Ganchos, rolhas, grampos, agulhas de
| gravação de diferentes tamanhos
| c)Lubrificantes
|
|
|Fábricas de peças de bicicletas Nenhum a)Produtos semi-processados:
|Número:1 Madeira compensada 15 t.
|Produção: Tubulação de aço 15 t.
|36.000 peças Tubulação de duralumínio 15 t.
| b)Peças:
| Parafusos e porcas, varas de
| solda, manômetro
| c)Combustíveis:Óleo de gasolina,óleo
| diesel,óleo
| d)Lubrificante:Óleo
|
|
|Moinhos de arroz Arrozais a)Peças: correia transportadora e
| peças, correias de borracha
|Número:33 b)Produtos químicos: pó de
| esmeril, cimento de magnésio, cloreto de
| magnésio
|Produção: c)Combustíveis:Óleo de gasolina,óleo
| diesel
| 305.000 toneladas de arroz e cerda d)Variados: graxa
|
|
|
|
|Instalações têxteis mecanizadas Nenhuma a)Peças: peças de reposição para teares e
| geradores
|Número:5 b)Bens semi-processados: seda
| crua(93.850Kg.),cola, papel-
| vegetal, Moldura Jacquard, fio de
| ponte, corda de marcação
| Tan Pa & Filhos: 68 teares c)Combustíveis:Óleo de gasolina,óleo
| Seng Thai: 60 teares diesel
| Tran I: 26 teares d)Lubrificantes:óleo, graxa
| Chip Tong: 24 teares
| Bory Ky: 10
|
|Produção Anual:
| 1.173.120 metros
|
|
|
|II-INDUSTRIAS LEVES
|
|
|Ateliês de tecelagem mecanizada Nenhuma a)Bens semi-processados:36.350 kg de
| seda crua
|
|Número:8 tendo
| 67 teares de madeira
|Produção Anual:
|453.360 metros
|
|
|Moinhos de papel Cascas de Sódio 40 t.
| chifre, Cloreto de cálcio 40 t.
| restos Acido acético 40 t.
| de papel, Alúmen de cromo 50 t.
|Número:1 sacos velhos,
| Cascas de
| fruta kapok
|Produção :
| 4.800 resmas
| (Papéis de embalagem,
| papéis higiênicos, caixas)
|
|
|Fabrica de cola Restos de Carbonato de cálcio
| porcos, Placas de secagem
| gado,
| lenha,
| cascas de
| arrozais
|Número:1
|Produção :
| 60 toneladas
|
|
|Fábricas de frascos e garrafas Vidro Cacos de vidro
| quebrado, Argila à prova de fogo
| fragmentos para aquecimento e moldagem
| de Tubulação, ventiladores,fole
|Número:1 garrafa,
| lenha
|
|Produção:
| 625.000 itens
|
|
|Fábricas de cigarros Tabaco Tabaco estrangeiro 1.300 t.
| local
| (556 t), Rótulos, papéis sulfite, folha de alumínio
| celofane, caixas, papel pardo, papel
|Número:3 mel, amido sulfite, fita adesiva parda, glicerina, pó
| de farinha de cobre
| de arroz,
|Produção: madeira
|
|
| 1.376.800.000 cigarros
|
| 60.000 pacotes de tabaco
| Equipamento e peças de reposição:
| Caldeiras, pulverizador, inseticida,
| triturador, máquina de embalagem de
| cigarro, selador e empacotador de
| celofane
|
|
|
________________________________________________________________________________
Da mesma forma, segundo Colin Clark, a população agrícola nos Estados Unidos aumentou de 4,97
milhões de trabalhadores em 1850 para apenas 10,5 milhões em 1935, enquanto a terra cultivada
aumentou a um ritmo mais rápido. Na Grã-Bretanha, a população empregada na agricultura caiu de
2,06 milhões em 1861 para 886 mil em 1930; Em França, de 6,3 milhões em 1860-69 para 5,5
milhões em 1930. Nestes dois países, a área cultivada pode ser considerada estável ao longo do
período citado. Ao mesmo tempo, a produção agrícola nesses países, estimada em unidades
internacionais, subiu de 298 para 669 para os Estados Unidos; De 581 para 827 para a Grã-
Bretanha; E de 435 para 500 para a França.

No Camboja, como em outros países subdesenvolvidos, parece que ocorreu o fenômeno inverso.
Faltam informações sobre os movimentos populacionais, bem como sobre as terras cultivadas,
porque as estatísticas anuais disponíveis eram de fato apenas estimativas feitas pelas autoridades
centrais a partir do número de registos de terras ou de declarações frequentemente imprecisas das
autoridades locais. No entanto, como o método de estimação foi constante ao longo dos anos, é
razoável supor que as séries temporais resultantes podem refletir a evolução da população e do
cultivo da terra. Assim, em 1900-1913, a área dedicada aos arrozais foi estimada em 620.000[19]
hectares. Tendo em conta as áreas semeadas com algodão, milho, tabaco, pimenta, etc., que o
Camboja já exportava em grandes quantidades, o total de terras cultivadas poderia razoavelmente
ser estimado em 650.000 hectares. Em 1950-51, a área cultivada atingiu 1.320.000 hectares, um
aumento de 103 por cento. [20]

E quanto às mudanças na população rural? Sem estatísticas precisas. Podemos fazer inferências
sobre as mudanças na população agrícola, observando o êxodo dos residentes rurais do campo. Em
1900-1913, sendo as cidades pouco desenvolvidas, podemos estimar que aproximadamente 95% da
população total de cerca de 1,5 milhão de pessoas viviam no campo, dando 1,43 milhão de
moradores rurais (ver Brunier).

Em 1951, o número de pessoas vivendo no campo aumentou para cerca de 3,54 milhões (87% da
população), um número obtido por subtração da população das cidades provinciais (529.127) da
população total (4,07 milhões)[21]. De 1900-13 a 1950, portanto, a população agrícola aumentou
em 149 por cento.

Área cultivada População Agrária


1913-100 1913-100
1950-203 1950-249

O aumento do número de cultivadores por hectare de terra é parcialmente oculto pela


disponibilidade de terras facilmente cultivadas no Camboja. No entanto, esta tendência é
discernível.

Além disso, cada ano, quando o trabalho nos arrozais e outros campos é terminado, uma massa de
pequenos produtores empobrecidos e arruinados é observada descendo para
a cidade, a fim de encontrar empregos. Trabalhadores de docas, motoristas de táxi, coolies para a
construção de estradas e pontes, carregadores e domésticos são recrutados deste reservatório de mão
de obra ocasional. Uma indústria em desenvolvimento, capaz de assegurar um emprego estável e
remunerado, poderia ter “corrigido” esse “excesso” sazonal que se desviava entre a cidade e o
campo. A vida no campo é difícil para os camponeses empobrecidos, mas as cidades oferecem
apenas uma alternativa medíocre. A maioria deles é, portanto, obrigada a se agarrar à terra, dividir
as explorações familiares em pedaços infinitos, submeter-se a pesadas rendas e outros tipos de
exploração dolorosa que servem apenas para reforçar a posição monopolista dos latifundiários.
É preciso falar do monopólio dos proprietários no Camboja? Existem grandes fazendas lá? A visão
geralmente aceita tende a negá-la. A justificação para este ponto de vista baseia-se no fato da zona
rural do Camboja estar cheia de pequenas e médias iniciativas familiares. Mas parece-nos que a
parcela de terra não significa a ausência de grandes propriedades. Em sua dissertação, La
paysannerie du Cambodge[22], Hou Yuon corretamente apontou que uma grande propriedade não
consiste de um único arrozal, campo ou lote. A partir de 13 de janeiro de 1950, ele observou que
437.883 proprietários registados possuem 3.168.920 lotes. Se a cidade de Phnom Penh é
excluída, 3.157.533 lotes estão mantidos por 435.744 proprietários, ou seja, 7,22 porções por
proprietário. As grandes propriedades não devem ser definidas em termos absolutos, mas em termos
comparativos. O estudo realizado por Yves Henri em 1929 e 1930 nas cinco províncias cambojanas
que contêm mais da metade de todos os campos de arroz do país (Sway-Rieng, Prey-Yeng, Kandal,
Kampong Cham e Battambang) revela que os proprietários de terras muito pequenas (um hectare ou
menos), representam 12,9 por cento de todos os proprietários de arroz em Sway-Rieng, 18,5 por
cento em Battambang, 28,3 por cento em Prey-Yeng, 48,6 por cento em Kampong Cham e 64,7 por
cento em Kandal.Eles são ainda mais numerosos nas margens do rio: 81,1 Por cento em Kandal, 88
Por cento em Kampong Cham. O grande número dessas pequenas propriedades apenas fortalece a
posição econômica de grandes propriedades (10-50 hectares), apesar de seu número reduzido. A
crise de 1929-30 e o subsequente desenvolvimento econômico significa apenas que essa disparidade
será aumentada.

Historicamente falando, embora a “constituição de propriedade” (decretada pelo governador


Thompson em 1881) se encontra apenas com indiferença e total negligência da população
cambojana, isso favorece a consolidação e organização de grandes propriedades por parte de antigos
proprietários feudais, mandarins e dignitários que implementaram a política, depois de,
naturalmente, colonos e grandes empresas de plantação terem tomado enormes pedaços de terra
para si próprios para cultivo de arroz e borracha (proprietários europeus de terras mantém 139.759
hectares em 31 de dezembro de 1951)[23].

De tudo isso, não se deve, no entanto, chegar à conclusão de que a grande propriedade goza de
primazia absoluta no Camboja. Embora seja muito difícil, vamos tentar colocar a estrutura da
propriedade fundiária em uma perspectiva muito aproximada. De acordo com o Annuaire statistique
de I'ndochine, a distribuição dos proprietários de arrozais de acordo com o tamanho de sua
participação nas três principais províncias produtoras de arroz de Battambang, Prey-Vieng e Sway
Rieng, em 1930-31, foi a seguinte:

Categoria de Número de Porcentagem


Propriedade proprietários

Menor que 1 ha. 25.000 20,9


1-5 ha. 72.000 60,3
5-10 ha. 18.000 15,0
10-50 ha. 4.400 7,3
50-100ha. 100 0,1

Sob as condições econômicas e sociais do Camboja, os proprietários com 7 a 10 hectares não


podem trabalhar sozinhos com o trabalho familiar; Geralmente, aumentam a força de trabalho
familiar com mão de obra assalariada ou alugam parte de sua terra. No contexto da sociedade
Khmer, estes já são camponeses ricos. A maioria dos proprietários com 10 a 50 hectares são capazes
de extrair a maior parte de seus meios de subsistência alugando suas terras sem ter que cultivar nada
para si. Estes são, portanto, grandes proprietários. Uma propriedade de menos de dois hectares é
insuficiente para satisfazer as necessidades de subsistência de uma família média de cinco pessoas.
A família é, portanto, obrigada a trabalhar na terra de outros, quer como arrendatários, meeiros ou
trabalhadores assalariados. Eles pertencem, portanto, na categoria de pequenos proprietários. Uma
propriedade de tamanho médio consiste em cerca de dois a sete hectares…

[Trinta por cento dos proprietários possuem menos de dois hectares, o mínimo de subsistência. Os
próximos 60% possuem entre dois e sete hectares, e na maioria dos casos trabalham na própria terra
sem mão de obra contratada. Isso deixa o topo dos 10 por cento dos proprietários de terra no
controle de 40 por cento da terra, a maioria da qual é trabalhada por meeiros, inquilinos ou
trabalhadores contratados. O arrendamento em espécie varia de 25 a 60 por cento da colheita. - Veja
“Lacooperative agricole en Indochine.”]

Por conseguinte, a renda no Camboja não é uma renda capitalista cobrada sobre o excedente do
lucro médio do agricultor, mas uma renda feudal, pré-capitalista, proveniente de um monopólio da
propriedade da terra e da dependência pessoal do camponês em relação ao proprietário, a
dependência mais abertamente manifestada pela persistência da renda no trabalho combinada com a
renda em espécie e em dinheiro, pela prática de corveias voluntárias (dias de trabalho, descasque da
comunidade de arrozais e polimento de arroz), pela tradicional doação de presente e pelo serviço da
dívida.

Disto podemos tirar duas conclusões:

(1) A comercialização da agricultura iniciada por grandes monopólios estrangeiros não veio de uma
ruptura radical do modo de produção feudal. O impulso inicialmente veio de dois quartos: Ele
brotou de grandes proprietários arrendando suas terras em pequenos lotes. Antes da integração
internacional da economia, proprietários consumiam diretamente seu produto de arrendamento que
era pago em espécie. Após a integração, surgiu uma abertura para a exportação do produto de
arrendamento. Os grandes proprietários vendiam produtos para empresas de exportação ou para
seus intermediários para comprar mercadorias importadas. O arrendamento foi cada vez mais
procurado na forma de dinheiro, para ser claro. Assim, os camponeses foram obrigados a colocar
cada vez mais mercadorias no mercado. Eles então caem nas mãos de todos os tipos de
intermediários comerciais, usurários e outros agentes da agricultura comercial.

Desta forma e por meio de tributos, rendas e usura, o excedente de arroz foi extraído anualmente
para exportação, à custa do consumo do camponês.

(2) A preservação ou fortalecimento da organização feudal em seus aspectos mais cruciais significa
que as forças econômicas estão agora inseridas em uma rede densa de relações econômicas
atrasadas. Como isso afeta a massa camponesa? É mantida em um estado de perpetua prostração
moral como resultado de semi-servidão, da renda da terra e da usura. Consequentemente, o
progresso nas suas atividades, conhecimentos e iniciativas torna-se muito difícil. Como para os
proprietários, o aluguel e os interesses usura são seu melhor investimento possível. O uso de
fertilizantes não traria mais de 50-60% de retorno em um ano. O empréstimo de dinheiro e o
arrendamento de terrenos são assim sendo mais rentáveis do que a renovação dos solos, a melhoria
da irrigação ou da drenagem, ou o uso racional de equipamentos agrícolas modernos. Nada leva os
proprietários a economizar ou a investir. Os seus rendimentos são utilizados para o consumo de
bens importados.

Assim, ninguém toma a iniciativa no progresso técnico. Não é surpreendente que a economia khmer
tenha permanecido tal como era na época de Angkor.

A questão dos investimentos estrangeiros surge então e, na medida em que existem, por que eles
foram incapazes de contribuir para o desenvolvimento. Este é o assunto a que nos voltamos agora.

2. Generalização das Redes Capitalistas após Penetração de Capital Estrangeiro

A) Investimento Privado. A quantidade exata de investimento estrangeiro privado no Camboja é


difícil de estimar. Em 1954, o Escritório do Alto Comissariado francês avaliou o “investimento de
capital ou grandes empresas até a agora” em cerca de 2,975 bilhões de piastras (US $ 85 bilhões).

Este número é suspeito dadas as circunstâncias do período: Em 1954, houve grande incerteza
política e as empresas que operam na Indochina poderia ter superestimado o valor de suas
instalações, na esperança de obter um lucro de uma possível retirada. No entanto, na medida em que
esses investimentos foram feitos, por que eles foram incapazes de contribuir para o
desenvolvimento do capitalismo no Camboja? A razão é que os múltiplos efeitos do investimento
são destruídos (1) pela exportação de lucros, (2) pela Transferência do locus do acelerador [24] fora
da economia.

Examinemos esses fenômenos, por sua vez.

(1)Exportação de lucros

Em um país onde os recursos de capital são pouco utilizados, mesmo um uso moderadamente mais
intenso resulta em um aumento relativamente grande na produção e, posteriormente, na poupança.
Isso, então, fornece a base para o investimento “secundário” significativo. O efeito
multiplicador[25] real do investimento produtivo não deve ser confundido com a simples inflação
artística da demanda que emana do investimento improdutivo (comércio, despesas administrativas e
militares) em que o poder de compra criado artificialmente se perde em aumentos de preços
infrutíferos. Na situação de integração internacional, porém, o efeito multiplicador do investimento
mesmo produtivo é anulado porque os lucros obtidos são, não reinvestidos localmente, mas
exportados.

É difícil especular sobre a quantidade de lucros exportados a cada ano antes de 1954 porque o
Camboja foi dissolvido em “L'Union Indochinoise”.Para os anos posteriores a 1954, se analisarmos
os ganhos pressionados pelos canais legais, conforme registrados na balança de pagamentos,
observamos que 381 milhões de riéis (US $ 10,9 milhões) foram exportados em 1957. Esse
montante inclui lucros de 1955-56 que não puderam ser transferidos até 1957, devido a dificuldades
relacionadas com a liquidação da união monetária quadripartida e a criação de um novo sistema
monetário. Assim, os lucros exportados anualmente pelos canais legais são de cerca de 190
milhões de riéis (5,4 milhões de dólares). Essas estatísticas subestimam o montante total dos ganhos
anuais exportados, uma vez que é necessário contar duas vezes as receitas reinvestidas:
primeiramente como os lucros exportados, e depois como capital recém-importado que
posteriormente gera ganhos suplementares para exportação. Retornaremos a este assunto depois.
Certas transferências de valor são ocultadas pela política de preços das empresas estrangeiras dentro
do país. Todos os tipos de manipulações são possíveis devido à extrema concentração de relações
comerciais e financeiras com os mercados estrangeiros. Por exemplo, o equivalente a cerca de 300
milhões de riéis (US $ 8,6 milhões) transferidos do Camboja para mercados estrangeiros são, de
fato, tratados por dois ou três bancos estrangeiros dentro do país. A exportação e importação de
mercadorias permite, portanto, operações de câmbio em larga escala. Os importadores e
exportadores declaram o valor das suas mercadorias à alfândega e ao escritório de câmbio. As
operações de câmbio necessárias para o pagamento são executadas com base nessas declarações....
[Uma vez que a fraude é difícil de detectar], a moeda estrangeira é facilmente adquirida ao
preencher o custo declarado para os produtos importados e subestimar o preço declarado para os
produtos exportados. Uma fraude média de cinco por cento sobre o valor de todas as transações
comerciais em 1956 seria de 210 milhões de riéis (US $ 6 milhões). Na realidade, muito mais do
que isso poderia facilmente ser exportado a cada ano.

Os rendimentos assim exportados podem ser próximos de 400 milhões de riéis por ano (11,4
milhões de dólares), mais de 6% da renda nacional. Figuras desta ordem são consideráveis. Eles
sugerem, contrariamente a algumas opiniões, que a poupança líquida total no país é igual, senão
maior, do que a dos países desenvolvidos em termos percentuais (embora certamente não em termos
absolutos). Sem esse vazamento considerável, o desenvolvimento do país poderia muito bem
avançar pelo menos tão rapidamente quanto o dos países europeus.

Os efeitos da exportação de ganhos devem ser medidos em relação aos lucros totais feitos no país,
pois o lucro é a fonte essencial de financiamento para investimentos em regime capitalista. Os
lucros exportados representam pelo menos 40% dos lucros brutos realizados no país por empresas
estrangeiras e nacionais. Por conseguinte, estas exportações são um considerável dreno na economia
Khmer e limitam o seu impulso de desenvolvimento ao extremo.

(2)Transferência para o exterior do efeito acelerador

O efeito acelerador pode ser iniciado como resultado da demanda por bens de capital ou
intermediários:

A. Uma grande parte do investimento estrangeiro é utilizada para adquirir bens de capital no país de
origem. O efeito acelerador induzido por essa demanda é, portanto, transferido para o exterior; Não
contribuiu para a generalização das redes capitalistas dentro do Camboja. Paul Bernard ilustra esses
pontos bem ao notar que apenas metade dos 8 bilhões de francos de capital público e privado
investidos na Indochina entre as guerras foi de fato distribuído dentro do país.

Neste ponto, o Camboja não pode se iludir. No curso de sua industrialização, precisará importar
bens de capital por um longo tempo, talvez indefinidamente.[26]

O efeito deletério da transferência do efeito acelerador pode ser estimado se se lembrar que a
indústria cambojana vive apenas um ciclo incompatível de desenvolvimento e importa suas peças
sobressalentes, produtos químicos, lubrificantes, combustíveis e até mesmo materiais para
processamento (ver Tabela “AS PRINCIPAIS INDUSTRIAS DO CAMBOJA E AS SUAS
NECESSIDADES DE IMPORTAÇÃO ANUAL”). A importação desses bens de capital, peças de
reposição e bens intermediários equivale à transferência integral para o exterior do locus do
acelerador induzido pela demanda desses bens.

B. Na medida em que os investimentos estrangeiros e nacionais canalizam os rendimentos


monetários para os trabalhadores indígenas, isto deve aumentar o desenvolvimento da economia
mercantil. Na verdade, isso aconteceu. Os rendimentos em dinheiro “primários” geraram demanda
local por alimentos ou artesanato que incentivou os produtores locais a se tornarem comerciantes,
isto é, produzir cada vez mais para “vender”. A partir dessa renda “primária”, foi possível criar um
mercado interno, uma corrente de intercâmbio interno autônomo.
Sempre que a renda distribuída no interior do país resulta em uma demanda por bens importados, e
uma vez que os bens estrangeiros são relativamente baratos, isso ocorre frequentemente em uma
situação de integração internacional, o locus do processo acelerador é transferido para o exterior. O
investimento estrangeiro não se torna um polo de desenvolvimento: não atrai investimento
estrangeiro adicional nem investimento local. Quando os lucros estrangeiros são reinvestidos no
local, os segundos fluxos de capital não podem ser atribuídos ao primeiro. Só há repetição de fluxos
autônomos de investimento estrangeiro sem efeitos induzidos. É por isso que acreditamos que é
necessário contar com os lucros reinvestidos de duas maneiras distintas: primeiro, como
reexportados ganhos e novamente como capital recém-importado.

Além disso, torna-se claro que uma vez que o fluxo de investimento estrangeiro termina, o mesmo
acontece com o crescimento. Não há formação de capital nacional induzida capaz de absorver a
folga. Foi o que aconteceu no Camboja.

C. Investimento Público. Para facilitar a integração da economia khmer à da metrópole, um


programa de desenvolvimento público era essencial. De acordo com estimativas do Banco da
Indochina, os investimentos públicos até 1939 para toda a Indochina somaram 14,162 bilhões de
francos (francos de 1939). Estes foram atribuídos da seguinte forma:

50% para a construção ferroviária.


25% para instalações militares.
11% para irrigação agrícola.
14% para o correio, portos marítimos, edifícios públicos e estradas.

É difícil dizer exatamente qual parcela desse investimento foi para o Camboja. O trabalho de
desenvolvimento lá consistiu basicamente em 300 quilômetros de estrada de ferro; 3.300
quilômetros de estradas, incluindo 1.090 quilômetros com asfalto e 2.743 quilômetros de estradas
de cascalho; Mobiliário básico para a estação de correios e para o porto fluvial de Phnom Penh.
Nenhum porto foi construído. Além disso, não foram realizados projetos de irrigação importantes
durante este período. A participação do Camboja nesses investimentos públicos foi provavelmente
um quinto do total, ou cerca de 2,8 bilhões (1939) francos.

Até que ponto estes investimentos contribuíram para a generalização dos circuitos capitalistas na
economia khmer? O coeficiente de generalização dos circuitos capitalistas ou mercantis foi
reduzido por vários fatores intervenientes:

(1) Como no caso dos investimentos privados, uma grande parte dos empréstimos indochineses foi
utilizada na metrópole para adquirir bens de capital.

(2) A distribuição dos rendimentos locais provenientes do investimento público foi


consideravelmente reduzida pela utilização de grande “corveia”[27]. Os rendimentos obtidos pelos
administradores europeus ou indígenas, grande parte dos dinheiros distribuídos, foram gastos na
importação de bens de consumo e não afetou a demanda por produtos agrícolas locais, o único tipo
de demanda que poderia ter contribuído para a generalização de trocas internas.

(3) Embora o Camboja já não pague juros e reembolsos sobre empréstimos metropolitanos para
financiar investimentos públicos, isso nem sempre foi o caso. Assim, dos 825 milhões de piastras
gastas entre 1900 e 1937 em obras públicas em toda a Indochina, o orçamento indochinês teve de
pagar 575 milhões, em parte como contributo local direto e acima de tudo, em atraso e reembolso
de empréstimos metropolitanos. Esses tributos e impostos caíam principalmente sobre os povos
indígenas. O regime fiscal rigoroso que recaía sobre as populações indígenas desencorajava as
inclinações capitalistas de um nível (isto era especialmente a facilidade com as patentes, os
impostos sobre o comércio, os impostos para a validação de pesos e medidas) e, por outro, jogava
os camponeses nas mãos dos empresários e emprestadores de dinheiro, os acessórios inestimáveis
de empresas estrangeiras de importação e exportação.

Em última análise, portanto, o investimento público teve um efeito muito limitado sobre a
generalização das redes de comerciantes.

(4) Todas as considerações precedentes são, no entanto, explicações insuficientes de pôr que o
investimento público não conseguiu desenvolver redes capitalistas no Camboja. A razão principal e
permanente, em nossa opinião, reside no fato de que esses investimentos foram feitos em termos
impostos pela integração econômica no comércio mundial. Deixando de lado o desenvolvimento
militar e político, esses investimentos financiaram principalmente uma infraestrutura econômica de
ferrovias e estradas. Numa economia nacional independente e não integrada, as estradas, os
caminhos de ferro, as pontes e os portos contribuem para a expansão do intercâmbio interno entre as
aldeias e vilas dentro do país e, assim, ampliam o mercado nacional e facilitam o capitalismo
nacional autônomo. Em contrapartida, no atual estado de integração econômica nas economias
capitalistas avançadas (liberdade de comércio externo), os investimentos em infraestruturas,
independentemente das condições secundárias que lhes estão associadas, só podem facilitar uma
maior penetração dos bens industriais estrangeiros, permitindo-os competir nos últimos recantos no
campo deixado para o artesanato nacional, e então facilitar a extração de produtos agrícolas
cambojanos para atender às necessidades de matérias-primas dessas mesmas indústrias. Numa
palavra, o investimento intensifica a integração internacional que, como já vimos, é a causa raiz do
subdesenvolvimento da economia Khmer.

A análise das estatísticas anuais da ferrovia mostra que 80% da tonelagem transportada era
composta de bens manufaturados importados ou de produtos agrícolas (arroz) destinados à
exportação. O intercâmbio interno entre as várias províncias do Khmer ao longo da linha de
caminho de ferro representou, no máximo, apenas 20% do tráfego total. Estas porcentagens revelam
a estrutura tradicional do transporte ferroviário. As contas também dão um esboço geral do
transporte rodoviário e fluvial no Camboja, que é completamente diferente da situação em países
capitalistas avançados como o da França, por exemplo, onde pelo menos 80% do transporte de
mercadorias internamente é para intercâmbio interno autônomo, entre várias cidades ou entre
regiões do país. No Camboja, cada canal de comunicação tem essencialmente duas correntes
opostas de tráfego (exportação de produtos agrícolas, a importação de bens e produtos alimentares
fabricados) que só se juntam por meio de países capitalistas.

Nos termos atuais da integração internacional, os investimentos na área de infraestrutura apenas


favorecem as atividades de exportação e importação, com exclusão de qualquer intercâmbio interno
autônomo. Este é também o caso, mais recentemente, com os investimentos americanos nesta área.

Em conclusão, portanto, os efeitos de multiplicação do capital estrangeiro privado são muito fracos
e não podem compensar os efeitos opostos da integração internacional. Os investimentos
estrangeiros públicos tendem a reforçar essa integração porque são direcionados para a
infraestrutura.

Atualmente, o efeito da ajuda norte-americana não é fundamentalmente diferente.

C. AJUDA AMERICANA E FORTALECIMENTO DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL

1. Investimentos

Do total de 172,2 milhões de dólares de ajuda dos EUA alocados no programa para os anos de
1955-56-57, 112,9 milhões de dólares, ou 66 por cento do total, foram ajuda militar. Isso tende a
expor o programa de “ajuda” como mais, uma parte do programa de “segurança” dos EUA do que
ajuda para o desenvolvimento econômico do Camboja. O ponto parece ainda mais evidente quando
se lembra que nossos dois vizinhos que se beneficiam, além da simpatia ativa dos Estados Unidos,
usam sua “ajuda” em armas e aviões para provocar múltiplos incidentes na fronteira.

Essa ajuda militar, longe de resolver o problema de segurança do país, contém sementes de graves
dificuldades. Apenas um exemplo, que pedimos emprestado ao responsável pela economia Khmer,
Monseigneur, o Príncipe Norodom Sihanouk, precisa ser citado:

"Suponha, de fato, que a ajuda externa foi cortada ou abruptamente reduzida em proporções
substanciais. Teríamos então dificuldades insuperáveis? Em cumprir nossas obrigações para com o
pessoal de nosso exército e seríamos ameaçados de desordem social: não pagamento de salários,
dificuldades com a reintegração de soldados comissionados em setores civis.

Nosso orçamento não poderia subscrever o custo dos carros, alojamentos e alimentos
requiridos por oficiais e soldados acostumados a “grande conforto”. E esse exército, transformado
em uma casta viva e fácil, não mais se relacionaria com nossa pequena gente que leva vidas simples
e frugais.

Quanto às dificuldades com os nossos vizinhos, estas permaneceriam. Nossos amigos


americanos costumam nos dizer: “Não podemos escolher entre dois amigos ou
julgá-los…”"

É necessário ressaltar que essa eventualidade restringe as opções políticas de um país?

Passemos agora à ajuda econômica e tecnológica dos Estados Unidos. Isso é reduzido para US $
59,3 milhões. O quadro a seguir apresenta a distribuição dos recursos alocados em milhares de
dólares dos Estados Unidos: [28]

Transporte...........................31.853 (56%)
Agricultura e Recursos Naturais...... 6.717 (12%)
Educação............................. 5.864 (11%)
Higiene e Purificação................ 3.715 (7%)
Miscelâneas.......................... 2.990 (5%)
Administração Pública................ 2.445 (4%)
Indústria e Mineração................ 2.206 (3%)
Desenvolvimento Urbano e Habitação… 1.045 (2%)
TOTAL..........................................56.835 (100%)

Como vemos, a infraestrutura absorve mais (56%). Em princípio, é bom para o Camboja ter portos,
estradas e um aeroporto, mas já vimos que a infraestrutura não promove o desenvolvimento
nacional autônomo no caso da integração internacional…

[A ajuda americana não encoraja a economia nacional do Khmer. As refinarias de açúcar, as fábricas
têxteis e outras instalações de produção nacionais capazes de satisfazer todas as necessidades do
país estão a operar muito abaixo da capacidade devido à concorrência das mercadorias importadas.]

…Outros bens importados sob a rubrica de ajuda americana vêm como amostras de publicidade
para aumentar a demanda por bens de luxo e para nutrir o “efeito demostrativo” de Duesinberry-
Nurkse, ou seja, para incentivar o desejo de uma parte particular da sociedade Khmer de imitar o
estilo de vida americano. Como resultado desta ajuda, surgem circuitos artificiais para apoiar a
importação de bens não essenciais. Este é especialmente o caso de automóveis, motores e acessórios
(US $3,8 milhões, ou 6,6 por cento da ajuda total), aparelhos eléctricos (frigoríficos, rádios, etc: 2,3
milhões de dólares, ou cerca de 4 por cento da ajuda total). Todos estes bens de consumo duráveis
incorporam necessidades futuras de importação de bens complementares: gasolina, acessórios e
peças de reposição.

Esta ajuda não pode deixar de afetar a orientação do comércio exterior do Camboja. Durante 1946-
54, a participação dos EUA no valor do comércio exterior do Camboja foi de 11%. Para 1955-57, as
contas alfandegárias e de impostos especiais de consumo revelaram que a participação dos EUA no
comércio exterior do Camboja era de 12,3 por cento, representando 7,46 por cento das importações
totais do Camboja e 17,24 por cento das suas exportações. Mas esses números negligenciam os bens
de origem americana adquiridos em Hong Kong, Singapura, Vietnã do Sul, Tailândia e Indonésia
(cujos produtos petrolíferos pertencem à Caltex). A participação de Hong Kong nas importações do
Camboja é de 21,9%; Sul do Vietnã, 13 por cento; Indonésia, 5 por cento; Tailândia e Formosa, 3%.
Finalmente, o aliado da América, o Japão tem uma participação de 15 por cento das importações
Khmer. Juntos, esses países fornecem 52,9% das importações Khmer. Uma grande porcentagem das
mercadorias são de origem americana ou provêm de filiais de grandes empresas americanas criadas
nesses países. Se todas essas considerações fossem levadas em conta, as exportações americanas
para o Camboja representariam pelo menos 40% do valor total de todas importações do Khmer e
não 7,46 por cento, como isso pode aparecer à primeira vista.

Além disso, as exportações francesas, que representavam cerca de 60% do valor das Importações do
Camboja antes de 1954, caem para apenas 20%. Há, portanto, uma clara retirada de um polo de
“dominação”.

Parece bastante claro que a ajuda americana não é do tipo que permite o desenvolvimento da
economia. Pelo contrário, tende a intensificar sua integração no mercado mundial dominado pelos
Estados Unidos, integração que está na própria raiz do subdesenvolvimento atual. Por conseguinte,
a pequena porcentagem de ajuda concedida ao desenvolvimento da agricultura, dos recursos
naturais, da indústria, da educação, da higiene e do desenvolvimento urbano parece ser um
aparecimento de janelas concebido para facilitar a passagem da integração e não a demonstração de
um desejo de ajudar a economia.

No final deste primeiro capítulo, podemos concluir que a economia do Camboja é uma economia
agrícola atrasada, onde coexistem dois setores diferentes, um setor capitalista atrofiado e um setor
predominantemente pré-capitalista, ambos sendo, além disso, integrados no capitalismo estrangeiro
através do canal de Comércio exterior. O polo da “dominação” está se afastando da França e se
aproximando dos Estados Unidos. A administração da cooperação internacional em Phnom Penh
que distribui créditos da ajuda americana transformou-se um ímã mesmo mais poderoso do que o
banco de Indochina .... .

CONCLUSÃO

A Necessidade do Desenvolvimento Autônomo

A tarefa de industrializar o Camboja parece antes de tudo exigir uma decisão anterior e
fundamental: o desenvolvimento no âmbito da integração internacional, isto é, no âmbito do livre
comércio externo ou do desenvolvimento autônomo. A integração internacional aparentemente
criou rígidas restrições ao desenvolvimento econômico do país. Sob as circunstâncias, optar por
continuar o desenvolvimento no âmbito da integração internacional significa submeter-se ao
mecanismo onde pelo artesanato desapareceu, a estrutura pré-capitalista foi fortalecida e a vida
econômica foi orientada unilateralmente para a produção de exportação e o comércio intermediário
hiperativo. Dito de outra forma, concordar com a integração internacional significa aceitar o
mecanismo de ajuste estrutural do país agora subdesenvolvido às exigências das economias
dominantes e desenvolvidas. Aceitar a integração internacional equivale a aceitar o mecanismo pelo
qual o desequilíbrio estrutural se aprofunda, criando instabilidade que poderia levar a violenta
convulsão se ela se tornasse intolerável para uma parcela cada vez maior da população. De fato, já
há consciência das contradições inerentes à integração do mercado mundial da economia.

Portanto, o desenvolvimento autoconsciente e autônomo é objetivamente necessário..

TEXTOS ADICIONAIS

CHAMPANHE, ETC.

A fim de ter uma ideia do impacto desbalanceante das demandas dos consumidores da camada rica
aqui é [uma] análise da estrutura de importação para a Indochina. É válido para o Camboja
isoladamente, como confirmado pelas estatísticas do comércio externo.

a) Os produtos importados para “europeus”, os proprietários, compradores, altos funcionários


públicos: conservas, farinha, frutas, doces, perfumes, cosméticos, bebidas (champanhe, conhaque,
uísque, etc....), vidraria, porcelana, seda, lâmpadas eléctricas, automóveis, mobiliário, capas de
chuva, cigarros em maços e caixas, charutos, chapéus, leite concentrado, chocolates, peixes e
mariscos, ninhos de aves, cebolas, cebolinhas, verduras frescas e secas, passas, amidos, frutas
frescas e preservadas, barbatanas de tubarão, gasolina …

Essas importações, consumidas por menos de 10% da população total, representam 49% do valor de
todas as importações.

b) Produtos consumidos pela massa, 90% da população: algodão em bruto, em fibra ou tecido;
gasolina, ferramentas, fogos de artifícios, varas de incenso, velas, artigos domésticos, nozes de
bétel, temperos variados.

Essas importações representam 4% de todas as importações.

Khieu Samphan, Capitulo 3.

SIHANOUK SOBRE OS KHMERS VERMELHOS

"O Camboja se tornará comunista, e é justo que ele se torne comunista, porque a revolução que os
Khmer Vermelhos fizeram nas áreas liberadas teve êxito. Eu estava convencido disso vendo com
meus próprios olhos. Os Khmer Vermelhos são pessoas sérias. Eles sabem como construir um país e
fizeram coisas que eu nunca consegui fazer…

“Nas áreas libertas, já não lhes falta nada: nem carne nem legumes, frutas, arroz, roupas … Apesar
da guerra, a produção de arroz duplicou, quando eu era chefe do Estado, produziam uma tonelada e
meia por hectare. Agora são duas toneladas e meia por hectare ou três. Os produtos são bons e os
preços são baixos … E quando se veem esses resultados, é preciso admitir que aqueles que os
obtiveram têm o direito de governar o país. .. É muito justo que eu parabenize os comunistas
cambojanos e diga a eles: Vocês são pessoas excelentes, vocês merecem permanecer no poder para
sempre e ninguém deve empurrá-los para fora. Nem mesmo Sihanouk. Sihanouk não deve mais
governar em vez de vocês, porque ele não conseguiu fazer o que vocês fizeram. Ele quis, ele sonhou
em fazê-lo, mas ele não foi capaz de realizá-lo. Assim, mesmo se um dia vocês o expulsarem, ele
vai pensar como agora. Sim, porque ele é bizarro, mas ele não é desonesto; E ele não é um tolo. ”

Principe Norodom Sihanouk, citado em New York Times Magazine,12 de agosto de 1973.

UMA VISÃO CONSISTENTE

Os anúncios de rádio do novo governo cambojano nos primeiros meses após a libertação de Phnom
Penh refletiram a consistência ao longo dos anos da análise de Khieu Samphan sobre os problemas
econômicos básicos do país – eo papel-chave que ele desempenhou nas estratégias de
desenvolvimento econômico do movimento ele lidera. Em 11 de junho de 1975, a rádio de Phnom
Penh declarou: “Os antigos e novos agressores causaram a debilidade do nosso país, e se não
houvesse ataques estrangeiros, o Camboja se tornaria um país poderoso”. A transmissão acusou a
França de ter impedido o desenvolvimento das indústrias de tecelagem e artesanato durante os 90
anos de controle do país. A culpa foi atribuída ao Japão e aos Estados Unidos por danos similares à
economia, dizendo que os antigos e os novos colonialistas “queriam manter nosso país em uma
situação colonial, roubaram nossas matérias-primas para enviá-las para seus próprios países”. A
transmissão acusou os países desenvolvidos de trazer seus próprios produtos ao Camboja para
competir com produtos locais.

Contrariando a imprensa ocidental diz que o novo governo reforçaria um retorno radical a uma
sociedade camponesa tradicional, Phnom Penh rádio anunciou já em 9 de maio de 1975 que:
"Nosso povo não procuram produzir apenas arroz, mas também para produzir bens para a indústria
Algodão, borracha, fibras têxteis … Nossos soldados, nosso povo, nossos trabalhadores, nossa
juventude e nossos monges acreditam que podemos desenvolver nossa indústria e economia em um
curto espaço de tempo ".

Compilado do serviço de notícias da Reuters.

BALANÇO DE TROCAS

IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO
(Milhões de riéis)
1953 1,492 1,937
1954 1,750 2,188
1955 1,665 1,402
1956 1,980 1,282
1957 2,043 1,811
1958 2,670 1,852
1959 2,447 2,104
1960 3,322 2,441
1961 3,395 2,220
1962 3,583 1,903
1963 3,751 3,116
1964 2,863 3,367
1965 3,603 3,690
1966 3,888 2,356
1967 3,365 2,907
1968 4,043 3,098
1969 4,202 2,729
1970 2,893 2,125
1971 4,191 0,827
1972 12,158 1,204
1973 19,871 0,675

Fonte: Anuário das Nações Unidas sobre Estatísticas do Comércio Internacional,1974.

TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO

No capítulo três da dissertação, aqui suprimido devido às necessidades de espaço, Khieu Samphan
refere-se à dissertação doutoral de 1957 do seu contemporâneo, Samir Amin, intitulada “Os Efeitos
Estruturais da Integração Internacional nas Economias Pré-capitalistas”. Amin, que nasceu no Egito,
também estudou em Paris nos anos 50. Atualmente, é diretor do Instituto Africano de
Desenvolvimento Econômico e Planejamento patrocinado pelas Nações Unidas em Dakar, Senegal.
Ele é o autor de Accumulation on a World Scale (Monthly Review Press, 1975). Como suas
abordagens são tão parecidas, a análise de Samir Amin sobre o caráter sistemático e global do
subdesenvolvimento e as escolhas que apresenta a dezenas de países do Terceiro Mundo é de
particular interesse. Esses são trechos de um de seus artigos recentes.

O diagrama abaixo resume a diferença entre um sistema autocentrado e um sistema periférico:

Relação determinante central


2 4
_____________________________________
Consumo Consumo de Bens
Exportação “em Massa” Bens de luxo de Capital
___________________________________________
1 3
Principais relações dependentes de periféricos

O sistema econômico está dividido em quatro setores que podem ser considerados tanto do ponto de
vista da produção como do ponto de vista da distribuição da população ativa envolvida nas
atividades produtivas acima mencionadas.

SISTEMA AUTOCENTRADO

A relação determinante em um sistema autocentrado é aquela que liga o setor 2 (produção de bens
de consumo “em massa”) ao setor 4 (produção de bens de capital destinados à produção do setor 2).
Esta relação determinante tem sido a característica do desenvolvimento histórico do capitalismo no
centro do sistema (na Europa, na América do Norte e no Japão) … O nível de desenvolvimento das
forças produtivas é expresso através da divisão social do trabalho: A divisão da força de trabalho,
em proporções adequadas, entre os sectores 2 e 4 …

MODELO PERIFÉRICO

O modelo de acumulação de capital e de desenvolvimento econômico e social na periferia do


sistema mundial não está de modo algum relacionado com o que examinamos acima.

Na periferia o processo começou quando sob um impulso do centro, um setor de exportação foi
criado. Isto foi para desempenhar um papel determinante na criação e moldagem do mercado. Não
vamos chegar muito longe repetindo ad nauseum a platitude de que os produtos exportados pela
periferia são minerais ou produtos agrícolas primários. Estes são obviamente produtos em que uma
dada região da periferia tem uma vantagem natural particular (oferta abundante de minério ou de
produtos tropicais produtos). A razão subjacente que tornou possível a criação deste sector de
exportação deve ser procurada nas condições que tornam o estabelecimento “rentável”. . A razão
para criar um sector de exportação reside, por conseguinte, na obtenção dos produtos periféricos
que constituem os elementos básicos do capital constante (matéria-prima) ou do capital variável
(produtos alimentares) a custos de produção inferiores aos centrais de produtos similares ( Ou
obviamente de substitutos no caso de produtos específicos tais como café ou chá).

Este é, portanto, o enquadramento da teoria essencial da troca desigual. Os produtos exportados


pela periferia são importantes na medida em que – ceteris paribus, significando produtividade igual
– o retorno ao trabalho será menor do que o que é no centro. E pode ser menos na medida em que a
sociedade, por todos os meios – econômicos e não econômicos – seja sujeita a essa nova função,
isto é, fornecer mão de obra barata ao setor exportador. … Uma vez que a sociedade está sujeita a
esta nova função – tornando-se, nesse sentido, dependente – perde seu caráter tradicional, já que
não é função de sociedades reais e tradicionais (ou seja, pré-capitalistas) fornecerem mão de obra
barata para o capitalismo …

Nestas condições, o mercado interno, nascido do desenvolvimento do setor exportador, será


limitado e distorcido. A pequenez do mercado interno explica o facto de a periferia atrair apenas
uma quantidade limitada de capital do centro, embora ofereça um melhor retorno.

…Além disso, os métodos utilizados para assegurar um baixo retorno ao trabalho correspondem a
um fortalecimento das diversas classes sociais internas parasitas que servem de transporte ou
cinturões: latifundiários em alguns lugares, Kulaks em outros, burguesias comerciais compradoras,
burocracias estatais, etc. O mercado interno baseia-se, assim, principalmente na procura de “bens de
luxo” destas classes sociais…

Do ponto de vista “social”, esse modelo leva a um fenômeno específico: a marginalização das
massas. Trata-se de uma série de mecanismos de natureza heterogênea que empobrecem as massas:
a proletarização dos pequenos produtores agrícolas e trabalhadores da indústria artesanal, a semi-
proletarização rural e o empobrecimento sem a proletarização dos camponeses organizados nas
aldeias, a urbanização e o aumento maciço do desemprego e subemprego urbano, Etc. O
desemprego neste caso difere do desemprego no modelo central de desenvolvimento. O
subemprego, em geral, terá a tendência de aumentar em vez de ser relativamente limitado e estável,
as variações cíclicas aparte. Assim, o desemprego e o subemprego têm um papel diferente do do
modelo central: o elevado nível de desemprego garante uma taxa de salário-mínimo relativamente
rígida e congelada tanto nos sectores 1 como 3; O salário não surge como custo e como rendimento
que cria uma demanda, vital para o modelo, mas ao contrário apenas como custo, demanda-se a
partir de outro lugar: do exterior ou fora da renda das classes sociais privilegiadas …

A análise nos leva assim à questão fundamental: o desenvolvimento para quem? Na medida em que
consideramos o desenvolvimento como significativo, só na medida em que integra as massas e
serve seu interesse, o modelo de acumulação de capital periférico dependente é um beco sem saída.
Uma estratégia de desenvolvimento para as massas deve adotar como base inicial uma revisão
fundamental das prioridades em matéria de afetação de recursos, o que pressupõe uma rejeição dos
pressupostos de rentabilidade dentro do sistema …

A transição do modelo periférico (baseado nos setores 1-3), para o modelo de desenvolvimento real,
autônomo, autocentrado (baseado nos setores 2-4) constitui o elemento essencial da transição …

Desde que a Inglaterra foi o berço do capitalismo industrial, todos os outros países desenvolvidos
foram, em algum momento, “atrasados” em comparação com ela. Mas nenhum desses países jamais
foi periférico no sentido em que o definimos. Gradualmente, o continente e a América do Norte
alcançaram, e no caso dos EUA e da Alemanha, ultrapassaram a Inglaterra de formas largamente
análogas às do modelo inglês..

Agora, este caminho é proibido para os países da periferia atual precisamente por causa do
desenvolvimento avançado da marginalização, a distância considerável e crescente entre a
tecnologia moderna criada pelo capital governante e a necessidade de uma melhoria imediata nas
condições das massas, Etc. Estas são as alternativas: desenvolvimento dependente de acordo com o
modelo acima, ou desenvolvimento autocentrado, necessariamente original em comparação com os
países já desenvolvidos. É nessa direção que descobrimos a lei do desenvolvimento desigual das
civilizações. A periferia é forçada a transcender o modelo capitalista (mesmo que seja capitalismo
de Estado). Não pode alcançá-lo…

Visto nesta luz, as estratégias concretas de transição parecem sobretudo como as de


autossuficiência. A autossuficiência, que deve ser compreendida em diferentes níveis, e que deve
respeitar democraticamente os verdadeiros grupos sociais populares que constituem a nação: a
aldeia, a região, … o Estado e, eventualmente, grupos de Estados. O nível de desenvolvimento
alcançado pode forçar um país por um tempo a considerar apenas os níveis mais elementares de
estratégias de transição concretas, de modo que a transição deve ser vista em perspectiva muito
longa. É nesse quadro que colocamos a questão dos “pequenos países”.

NOTAS E REFERÊNCIAS

1-Chamcar é Khmer para “jardim”. Os cambojanos usam o termo para denotar toda a área cultivada
que não é um arrozal ou na referência específica à agricultura de jardim. A referência do autor à
região da margem do rio mostra que ele está usando o termo neste último sentido.

2-Um hectare= 2.471 acres.

3-Em 1956, 1 riel cambojano= 10 francos.35 riéis= 1 Dólar Estadunidense.

4-Capital fixo é maquinário, estruturas e equipamentos de um caráter relativamente permanente.

5-SOKREC é o acrônimo de Société de Constructions,Représentation et Etudes du Cambodge.


SOKREC foi sediada em Phnom com estaleiros navais em Phnom Penh e Sihanoukville. Ela era
especializada em reparo e montagem industrial.Entre outras instalações, ela montou a instalação de
purificação de agua em Chamcar Mon, depósitos de combustivel militar e torre de televisão pela
Radiodiffusion Nationale Khmere.

6-A Sociéte Française des Destilleries de l'Indochine foi estabelecida pelo regime colonial em 1902
como um meio para regular a venda e a produção de álcool para obter fisco governamental.
Indústrias locais produzidas para um próspero mercado subterrâneo. Depois de 1933, a Société
Française perdeu seu monopólio oficial mas segurou sua posição de mercado por causa da
tecnologia superior e organização comercial. Green Spot foi estabelecida no Camboja depois da
independência.

7-Adam Smith, “A riqueza das nações”, tradução de Guillaumien French ,1843.

8-Essa é uma indireta mas especifica referência aos esforços agressivo por parte dos membros da
Organização do Tratado do Sudeste Asiático (SEATO) para curvar a política estrangeira do
Camboja a vontade do “Mundo livre”. Nos meses imediatamente precedendo a conclusão desse
ensaio, forças da SEATO financiaram um movimento militar clandestino e uma tentativa de golpe
mor contra o príncipe Sihanouk.

9-Essa posição no contato internacional foi confirmada pelo novo governo do Kampuchea na
recente Conferência de Cúpula das Nações Não-Alinhadas no Sri Lanka.

10-O Srok é uma unidade administrativa Khmer análoga a condado ou província ocidental.

11-Sethey denota “Os iluminados”.

12-Adhemard Leclerc, Codes Cambodgiens “Sainte regle et sacre royal du roi Sauryapearn,” p.42

13-Paul Collard, Le Cambodge et les Cambodgiens.

14-Kampong é Khmer para cidade do rio ou porto.

15-De Coulgean, Vice-cônsul francês."Relatório sobre o Camboja," Bulletin économique de


l'Indochine, 1902. p.420

16-O termo “desagregação” aparece aqui para denotar a “separação” de vários setores da economia
feudal desses lugares em um todo histórico e orgânico, para que possam ser reintegrados numa nova
estrutura capitalista nacional.

17-Esparto é uma grama utilizada para fazer cordame, sapatos e papel.

18-Autarquia é uma economia nacional autossuficiente e independente.

19-H.Brunier, “Essai d'atlas statistique de l'Indochine françaises”,1914.

20-“Bulletin de la Banque Nationale du Cambodge”,N°3,1955.

21-Ver “Annuaire statistique du Cambodge”, 1949-1950-1951.

22-Paris,1955.Hou Yuon, 46, juntou-se a resistência em 1967,e é o atual ministro do interior ,das
cooperativas e da reforma comunal.

23-As posses europeias incluem mais que um décimo da área cultivada total.
24-O “acelerador” refere-se à forma como a crescente demanda dos consumidores por produtos leva
os fabricantes a fazerem grandes investimentos em novos equipamentos de produção, ferramentas,
edifícios, etc., espalhando assim o aumento original da demanda.

25-O “efeito multiplicador” refere-se à reciclagem normal da renda através da economia, onde a
despesa de uma pessoa se torna a renda de outra pessoa, que é então gasta, etc.

26-Ver Indochina Chronicle N° 47,Fevereiro/Março de 1976,pagina 14 e 19.

27-Corveia é o uso de trabalho forçado para a construção de obras públicas.

28-“Résume exercise 55-57,” de L'aide américaine au Cambodge, brochura publicada pela Missão
de Ajuda Americana em Phnom Penh, página 11.

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