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São Paulo
Outubro/2009
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SUMÁRIO
Resumo ..................................................................................................................... 8
Introdução ................................................................................................................ 9
Bibliografia ............................................................................................................ 57
Discografia ............................................................................................................. 58
4
LISTA DE FIGURAS
FIG. 2 – Riff tema do álbum tocado pelo baixo inicialmente na primeira faixa ......... 22
FIG. 6 – Ostinato (riff) com a letra adicionada. Adição de letra por esse Autor. ....... 24
saxofonista utilizada notas fora da escala de Ebm. (transcrição deste Autor) ............. 27
uso de acordes quartais com dissonâncias fora da escala de Ebm. (transcrição deste
Autor) ....................................................................................................................... 27
5
FIG. 11 – Clímax do segundo solo de Coltrane da música “Resolution” (transcrição
FIG. 14 – Exemplo de acordes quartais com baixo pedal utilizados por Tyner no final
FIG. 19 – Exemplo de frase de extensa tessitura e de longo período sem respirar que
1
Nesta citação em especial, Coltrane não utiliza as mesmas notas do tema para citá-lo, ele
transpões o primeiro compasso da melodia de “Pursuance” para um tom acima.
6
FIG. 20 – Exemplo do solo de Coltrane em “Pursuance”, frase utilizando notas fora
transição para o solo de baixo que é realizado sem fórmula de compasso (Transcrição
FIG. 22 – Transcrição das notas usadas para o verso “Thank you God” do Poema de
Autor ........................................................................................................................ 37
Autor) ....................................................................................................................... 41
2
Neste exemplo Coltrane utiliza apenas uma nota fora da pentatônica de Fm, a nota sol.
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FIG. 30 – Linha do Tempo da música “Resolution” .................................................. 49
RESUMO
estrutura e estética dos solos (dando maior ênfase e detalhamento aos solos do
INTRODUÇÃO
como sideman3 ou como líder. Em 1961 o produtor musical Creed Taylor convida
Coltrane para trabalhar para o selo IMPULSE!. Na nova 4 gravadora Coltrane teve
muito mais liberdade de opinião, o selo lançava ao menos dois discos por ano (o que o
satisfazia, mas mesmo assim, se fosse de seu desejo lançar mais algum, a gravadora o
de som que desejasse. O escolhido foi Rudy Van Gelder e seu estúdio em Nova
Jersey.
dos responsáveis por lançar a revista americana Jazz (em 1961), assumiu a gravadora
IMPULSE! no lugar de Creed Taylor, que foi dirigir a Verve Records na MGM.
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Sideman é um músico que faz parte do grupo ou banda mas não é o líder.
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Antes da IMPULSE! Coltrane trabalhava para a gravadora Atlantic. Apesar de ser a primeira
gravadora que apoiou os trabalhos de Coltrane como líder, não lhe dava muita liberdade para opinar,
John não decidia quantos álbuns lançaria por ano e coisas do tipo.
5
Hanckensack era onde ficava a casa dos pais de Gelder, lá o engenheiro realizou várias
gravações na sala de visitas.
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material mais acessível ao público (como parcerias com Duke Ellington (1899-
grande público dentro e fora dos EUA. Depois de seguir lançando grandes sucessos
com o quarteto para gravar um dos álbuns mais famosos da história do jazz e tema
Coltrane até a gravação do álbum A Love Supreme. A resumida biografia servirá para
análise faixa por faixa do disco. Os arranjos e a forma das músicas serão explicados e
comparados entre si. Além disso, será apresentada uma breve análise sobre o material
partitura dos temas e das frases e motivos mais importantes para auxiliar na
compreensão do álbum.
1962. Lá, o grupo foi recebido com a devida reverência: aclamados como heróis e
vencendo nas votações abertas ao público das revistas de música. A prima de Elvin
Quanto eu dizia para John – tentando ser moderna – “Rapaz! John, você
botou fogo naquele último show!”, ele olhava para mim demoradamente e
respondia: “O que você quer dizer com isso? O que você ouviu de
diferente? O que impressionou tanto?”. Como eu não conseguia explicar,
11
ele falava: “Não seja como tanta gente que conhecemos. Se você não
consegue explicar o que ouviu de diferente, o que impressionou, não diga
nada”. Ele realmente era um professor, na minha opinião. Ele me ensinou
como ouvir jazz, o que ouvir, como ser humilde e não fazer música de
fachada. (Kahn, 2002, p. 93 adaptação deste Autor)
Em julho de 1964 o quarteto volta à Europa para uma turnê muito bem sucedida
todo o mundo. Além de executar alguns conhecidos standards de jazz, Coltrane, nas
diversas vezes em que tocou no festival em questão, sempre tocou músicas de sua
Supreme.
comentada e analisada assim como feito com a versão em estúdio, sempre com
O quarto capítulo trará uma série de figuras que são compostas por “linhas do
tempo” que representam os arranjos de cada faixa. Serão duas linhas por figura, cada
versão em estúdio). Dessa maneira, a comparação entre os arranjos das duas versões
diferenças entre os arranjos e a estética entre os dois álbuns. Também será exposta
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A Love Supreme havia sido lançado seis meses antes da turnê do quarteto pela Europa e fazia
grande sucesso por todo o continente.
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CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO BIOGRÁFICA
americana e difundiu sua música pelo mundo através do jazz e suas vertentes (free
Tendo a música presente em sua vida desde o berço – apesar de seu pai ser
alfaiate também tocava violão e violino e sua mãe cantava na igreja (porém, ambos
amadores) – não foi um espanto que Coltrane logo se interessasse. Começa a estudar
primavera de 1940 teve contato com a música de Lester Young (1909-1959), e acaba
iniciando seus estudos no sax alto. “No começo eu tocava saxofone alto – Eu não sei
bem por que, já que naquele tempo eu admirava o Lester Young (saxofonista tenor)”
(Porter, 1999, p. 30; tradução deste Autor). Já nessa época, Coltrane mostrava sua
passava madrugadas estudando na escola, no jardim e no quarto que dividia com sua
14
mãe7. Rosetta Haywood, uma colega de classe, conta: “Ele estava sempre com o
saxofone, era possível ouvi-lo o tempo todo (depois da escola), de qualquer parte do
prédio”. Sua prima Mary também relata: “Mesmo quando era criança, ele sentava-se à
mesa de jantar e praticava o tempo todo. Ele praticava o tempo todo”. (Porter, 1999, p.
Coltrane continua seus intensos estudos no saxofone, até que em agosto de 1945,
aos dezoito anos, enquanto trabalhava na Campbell Soup Company (empresa que
Segunda Guerra Mundial, que estava em pleno curso. Lá tem contato com alguns
músicos e acaba entrando para um grupo chamado The Melody Masters com o qual
faz alguns shows pelo Havaí (onde situava a base militar na qual estava servindo).
Juntamente com a Segunda Guerra veio o Bebop. Era um novo estilo jazz que
Na volta para casa e aos estudos, ouvindo discos dos novos grandes nomes do
musicais. Em 1949 Coltrane recebe o convite para entrar na big band de Gillespie,
com a qual faz alguns shows, mas a banda dura apenas um ano. Mesmo com o final da
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Quando seu pai, seu tio e seus avós morreram em 1939, a situação financeira da família ficou
complicada, a mãe de John, Alice, vai trabalhar como doméstica para manter o filho estudando, aluga
os quartos da casa para ajudar na renda e acaba tendo que ficar no mesmo cômodo de John.
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big band, Gillespie mantém um sexteto do qual Coltrane fazia parte, realizando
Coltrane gira em torno apenas da música e até certo ponto do álcool e heroína,
gravando e fazendo shows com músicos cada vez mais influentes e importantes. Seu
trompetista já renomado por suas gravações com Parker, o contrata. Como integrante
da banda de Miles Davis, a sua fama aumenta, assim como sua reputação de solista.
Foi ao lado do trompetista que Coltrane lançou diversos discos que consolidaram sua
carreira e abriram as portas para seu maior desejo: realizar seu trabalho solo.
Em 1957 Coltrane grava seu primeiro trabalho como líder, um álbum cujo título
era apenas Coltrane, mas que ficou conhecido como “First Trane”. Coltrane segue em
paralelo mantendo seus próprios trabalhos e realizando gravações com Red Garland,
Miles Davis, Milt Jackson e com o pianista Thelonious Monk. Coltrane diz que foi
com ele que refinou sua técnica, senso melódico e obteve uma liberdade muito maior
para solar em formas blues e changes mais complexos. Davis inicia uma fase em seu
trabalho que é conhecida como jazz modal, utilizando poucos e esparsos acordes, com
Miles, com um time de peso – ele mesmo no trompete, Coltrane no sax tenor,
Cannonball Adderley no sax alto, Wynton Kelly ocasionalmente ao piano, Bill Evans
famoso e um dos mais influentes álbuns do jazz, o Kind of Blue8. Entre as sessões do
novo disco de Miles, Coltrane estava fazendo algumas gravações como líder com um
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Gravado em 2 de março e 22 de abril de 1959 e lançado em 17 de agosto de 1959, Kind of Blue
é um dos álbuns mais vendidos da história do jazz.
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conceito completamente avesso ao do Kind of Blue, o também famoso Giant Steps.
O conceito do álbum consistia no que depois foi chamado de “Coltrane Changes”. Era
soava como tendo três centros tonais, ou seja, na maioria das vezes dois acordes por
compasso9 em uma velocidade desafiadora até mesmo para ele, que tinha uma técnica
apuradíssima.
É importante salientar que John Coltrane travou grandes lutas pessoais, ao longo
que buscou na religião um apoio para sua vida e sua carreira. Coltrane chegou a perder
vários trabalhos devido ao seu estado de dependência química que lhe impedia de
tocar devidamente, o que acabou por consumir todo seu dinheiro e saúde.
A religião foi o suporte que ele encontrou para manter a decisão de parar com o
álcool e as drogas (sem auxílio profissional e por conta própria, trancado em casa
vícios, sempre contando com o apoio da sua mulher Naima 10, Coltrane consegue,
enfim, se livrar das drogas a partir de 1957 e se torna grato, eternamente, à religião
carreira como líder. Em outubro do mesmo ano, o saxofonista grava algumas faixas
que iriam ser utilizadas posteriormente em alguns de seus álbuns de maior renome,
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Coltrane gravou seus famosos changes, apenas em compassos 4/4 (quatro por quatro).
10
Coltrane casou-se com Naima em outubro de 1955 e se separou em 1963. Esposa dedicada,
Naima foi fundamental para que Coltrane deixasse os vícios e o apresentou ao Islã. (Informações
retiradas da enciclopédia on-line Wikipédia, http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Coltrane, visitado em
16/09/2009)
17
nessas gravações a maioria das vezes por McCoy Tyner ao piano, Steve Davis no
baixo acústico e Elvin Jones na bateria. Algum tempo e alguns discos se passaram
com Coltrane mantendo quase sempre a mesma formação, mas, com frequência
Eric Dolphy11 também é convidado, formando o quinteto que gravou o álbum Live at
the Village Vanguard em 1961. Por volta de 1959 e 1960, Coltrane, muito
Hammerstein II), que será um marco em sua carreira. Este último tema é uma
composição conhecida por ser parte do filme The Sound of Music (A Noviça Rebelde,
popularizada. Coltrane tocará “My Favourite Things” até o final de sua vida, ela irá
seu grupo.
Após ter “assustado” de maneira marcante o público, pois trouxe – com seu
composições, que passa a explorar texturas e não mais a se apegar a ideias técnicas
nova fase, que já vinha sendo explorada pelo amigo e saxofonista Ornette Coleman e
que foi rotulada pelos críticos de música da época como free jazz, ou “the new thing”
11
Viria a falecer em junho de 1964 causando um forte impacto na vida de John, há inclusive
fotos de Coltrane fazendo “serenatas” para uma foto de Dolphy que ele carregava junto a si,
obviamente como forma de homenagem ao amigo.
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Era sobretudo um conceito de visão musical, com mais liberdade,
Em 1962, Coltrane despediu Eric Dolphy alegando que com o ele o quinteto
soava mais como “um quarteto mais um” do que como um quinteto. Na mesma época,
Reggie Workman saiu do grupo. A saída de Workman fez com que Coltrane tivesse
que procurar outro baixista à altura para suprir o posto e sobretudo ter bom
econômicos (Kahn, 2002, p. 89) e logo recebeu o convite para integrar o quarteto.
Agora consolidado com Tyner, Jones e Garrison, o quarteto clássico de Coltrane (que
duraria apenas três anos, de 1962 a 1965) iria atingir o status de atração principal dos
estilo que rapidamente se popularizaria pelo mundo todo com diversos seguidores.
executando suas próprias ideias – foram algumas das razões que ajudaram a levar
harmônicos que ele tinha estudado à exaustão não eram mais o seu foco. A busca
agora era outra, como ele mesmo dizia: “Eu gostaria de chamar a atenção das pessoas
para o divino utilizando uma linguagem musical que transcende as palavras, eu quero
falar com a suas almas” (Porter, 1999, p. 232; tradução deste Autor). Era um busca
espiritual, não mais com uma ênfase matemática. Portanto, nada mais normal do que
família aproveita a ocasião para descansar em sua casa em Long Island. Em vez de
aproveitar o descanso, Coltrane se tranca no sótão por cinco dias com seu instrumento,
onde meditava e estudava. Alice, sua esposa na época, conta como foi o regresso da
meditação:
Parecia Moisés descendo da montanha, foi lindo. Ele desceu, e havia uma alegria, uma
paz em seu rosto, uma tranquilidade. Eu disse: “Conte-me tudo, faz uns quatro ou cinco
dias que a gente nem se vê...”. Ele respondeu: “Esta é a primeira vez em que me veio toda
a música que quero gravar, como uma suíte. Pela primeira vez, tenho tudo, tudo pronto.
(Kahn, 2002, p. 16).
álbuns de sua carreira, A Love Supreme, gravado no estúdio de Rudy Van Gelder em
IMPULSE!
A Love Supreme foi sem dúvida nenhuma um grande divisor de águas para sua
carreira. A partir desse disco, Coltrane se libertaria cada vez mais dos padrões
dispostas de maneira a formarem uma suíte. Apesar de ser um dos primeiros trabalhos
que Coltrane preparou antes de entrar em estúdio (muitas vezes o saxofonista só sabia
o que iria gravar quando pisava na sala de gravação), mesmo tendo partes pré-escritas
e pensadas, são quatro faixas que, como a grande maioria do trabalho de Coltrane, são
tocar sempre as mesmas músicas. Ele diz que escrever para o grupo estava começando
a se tornar um problema (provavelmente porque não era mais sua intenção tocar
arranjos complexos que acabavam por definir demais como a música iria soar) e que
uma das soluções possíveis para isso seria deixar a natureza de cada música guiar o
seu jeito de tocar, fosse ela modal, tonal ou até mesmo uma progressão de acordes não
específicos. Um bom exemplo seria como improvisar sobre Lá, não Lá maior ou Lá
menor, nem um modo particular em Lá, apenas, Lá (Porter, 1999 p. 231; tradução e
adaptação deste Autor). Esse pensamento que passeia entra o modal e o tonal se faz
muito presente em todas as quatro músicas do disco. Essa abordagem fez com que o
material pré-concebido que trouxera para a gravação fosse apenas uma guia.
Ele escrevia as cifras para um grupo de acordes bem básicos – si bemol, si natural, mi,
apenas acordes comuns – e dava para ouvir a relação entre os acordes e como eles se
encaixavam. Mas não era como se ele dissesse: “Quero que você toque assim, quero que
toque assado”. Tocávamos juntos havia tanto tempo àquela altura que a banda tinha um
som, por isso não ficávamos nos prendendo aos acordes. Em outras palavras, você podia
fazer o que quisesse, tendo o formato em mente. A Love Supreme foi assim. (Kahn, 2002,
p. 119).
livre e coletiva (que seria o futuro trabalho do saxofonista) são abertas por esse álbum.
Tyner:
John falava bem pouco sobre o que queria. Se tivesse algo bem específico que quisesse
acrescentar à música ou sobre como queria que fosse tocada, aí falava. Acho isso muito
importante porque era improviso na hora, música feita com honestidade, sem nenhuma
pretensão. No caso de A Love Supreme, eram canções de verdade, mas a estrutura era
muito limitada. Uma linha melódica simples e não muito prolongada. Lembro que ele
treinou uma linha de baixo com Jimmy e disse a Elvin “isso é o que eu queria”, e,
basicamente, foi assim que saiu. (Kahn, 2002, p. 118-9).
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CAPÍTULO II
EM ESTÚDIO
Como já mencionado nesta monografia, A Love Supreme foi sem dúvida um dos
trabalhos mais importantes da história do jazz, não só por ter influenciado muitos
músicos devido à qualidade da obra, mas também porque abriu as portas para um
estilo que misturava o pós-bop com uma estética free jazz, introduzindo uma liberdade
infinitamente maior aos que faziam música para que pudessem experimentar e
estúdio e na presença do engenheiro de som Rudy Van Gelder. Foi realizada uma
22
segunda gravação do quarteto no dia 10 de dezembro de 1964 – juntamente com
Arthur Davis (baixista) e Archie Shepp (saxofone tenor) – com uma formação
inusitada (dois saxofones tenores, dois contrabaixos acústicos, piano e bateria). Nesta
(“Acknowledgement”) que não foram lançadas junto com o álbum em 1965, mas
apenas posteriormente em uma reedição do álbum com takes alternativos. Não iremos
musical.
duas primeiras já vinham sendo executadas ao vivo por Coltrane com seu quarteto,
pois foi por meio dessa gravação que elas tomaram forma e se popularizaram.
2.1 – Acknowledgement
baterista Elvin Jones. Assim que o som se dissipa, o baterista começa a atacar os
pratos levemente, criando o clima para a entrada dos outros três integrantes: Coltrane
tocando uma melodia sobre a tonalidade de Mi maior, Tyner, acordes sobre a mesma
definida para essa introdução, Coltrane finaliza a melodia e simplesmente sai de cena,
baixista, que será umas das partes mais características e lembradas de todo o disco.
menor) sozinho, Tyner e Jones entram fazendo a cama para que Coltrane, 16
compassos após o início do motivo, apresente o tema da faixa. Assim como todo o
primeira parte da suíte também é apenas uma idéia melódica simples de dois
compassos repetida três vezes, que é trabalhada com diversos tipos de ritmos
intenção. A resposta vindo por meio de outra idéia melódica concluindo a sentença.
Depois que o tema é executado duas vezes (três vezes a pergunta e uma vez a
resposta), já podemos considerar que aquilo que Coltrane toca a partir dali é
hora fazendo variações do motivo-tema inicial, hora preenchendo com melodias que
FIG. 5 – Exemplos de acordes abertos em quartas usados por McCoy para acompanhar o solo
modulando a cada vez, até passar pelos 12 tons. Logo em seguida, Coltrane resgata o
tom inicial do ostinato e sem mais a presença do seu saxofone, começa a cantar o
Eb menor e, depois de cantar quatro vezes no novo tom, deixa que a música seja
finalizada por Garrison e Jones, até que Jones também sai e o baixista termina a faixa.
2.2 – Resolution
Não foi sem propósito que Coltrane acabou a primeira faixa do álbum em Eb
menor. “Resolution” começa apenas com o baixista fazendo uma melodia utilizando a
chamada blue note (nota fora da escala que normalmente é usada como aproximação
cromática entre a quarta justa e a quinta do tom, que foi popularizada pelo seu uso
12
Nesse caso, Garrison faz uso dessa técnica da seguinte maneira: em vez de tocar uma nota de
cada vez – como é mais comum no baixo acústico – ele descreve uma melodia improvisada tocando
sempre duas notas ao mesmo tempo, quase que todas as vezes em intervalos de quartas, devido à
sonoridade e facilidade de execução.
26
principalmente em improvisações de blues, estilo no qual se usa muito as
pentatônicas), fazendo com que mesmo a nota Lá natural, que, tecnicamente sendo
uma nota fora, passa a fazer parte escala mediante seu uso repetido como nota de
passagem e repouso.
editora Hal Leonard, há uma sugestão de harmonia para ser executada sobre o tema,
no qual poderemos ver os acordes usados para harmonizar as notas dentro e fora da
tonalidade:
FIG. 8 – Oito primeiros compassos do tema de “Resolution” com harmonização13 sugerida (a harmonia,
tirada do livro Artist Transcriptions, tenor saxofone – John Coltrane: Acknowledgemente, Resolution,
Coltrane com seu quarteto a vinha executando há algum tempo, o que nos leva a
concluir que, provavelmente, a harmonia que anda em paralelo ao tema tenha nascido
Coltrane faz três finais diferentes para cada uma das três vezes em que a melodia
é exposta e segue com o primeiro improviso da música. Tendo por trás uma harmonia
13
A harmonia sugerida da figura 8 foi transposta para o tom original, pois a transcrição foi
realizada para leitura em saxofone tenor. Transposição feita por esse Autor.
27
em vamp na tonalidade de Ebm, o improviso de 16 compassos segue sobre
pentatônicas, até que Coltrane instiga Tyner a segui-lo, fazendo uso de notas fora da
tonalidade, ao fim do solo, quando o tema é retomado e executado mais três vezes e
FIG. 9 – Exemplo do primeiro solo de Coltrane da música “Resolution” no qual o saxofonista utilizada
compassos e contrasta com o solo antes feito por John. McCoy, no fim de seu solo,
explora acordes quartais com baixo estático. O pianista desenvolveu uma técnica para
piano – mesmo que a nota choque com o que está sendo tocado pelo baixista devido à
abrindo o acorde que lhe pareceu conveniente. Deste modo, traz tensões que ainda não
dá a deixa para que o líder retome e sole com um discurso mais longo.
FIG. 10 – Exemplo do solo de Tyner da música “Resolution” no qual o pianista faz uso de
acordes quartais com dissonâncias fora da escala de Ebm. (Transcrição deste Autor)
28
compassos. Em torno dos 5’32” o solo chega a seu clímax com Coltrane tocando em
uma região muito aguda, atingindo as notas mais altas de toda a faixa (inclusive um si
bemol 5), fazendo toda a dinâmica da música crescer. Apesar de conter todas as 12
notas, o solo inteiro passa ao ouvinte uma grande sensação de estabilidade devido à
Autor)
Aos 6’17”, Coltrane toca a última frase do solo e retorna ao tema. Como no
início, após repetir a melodia três vezes, o quarteto encerra a segunda faixa do álbum.
2.3 – Pursuance
e meio, quando subitamente marca dois compassos no andamento que a música será
tocada, dando espaço para que Coltrane ataque o tema, com McCoy e Garrison
construído sobre a pentatônica de Bbm com a adição da nota dó. Abaixo segue o tema
FIG. 12 – Transcrição do tema14 com notas da escala sinalizadas e harmonia15 da terceira faixa do disco
Pursuance/Psalm, Hal Leonard, p.14; sinalização das notas feita por esse Autor.)
Assim que o tema é executado (apenas uma vez, como consta na figura) McCoy
inicia o mais longo solo de piano no disco. Utilizando motivos rítmicos diferentes dos
14
O tema transcrito da figura 12 foi transposto para o tom original, pois a transcrição foi
realizada para leitura em saxofone tenor. Transposição por esse Autor.
15
A harmonia sugerida da figura 12 foi transposta para o tom original pois a transcrição foi
realizada para leitura em saxofone tenor. Transposição por esse Autor.
16
Pentatônica de Bbm – Bb, Db, Eb, F, e Ab.
30
até então apresentados, Tyner dialoga de maneira muito fluente e concisa com a
FIG. 13 – Exemplo de motivo rítmico e acordes de apoio retirados do solo de Tyner da música
Solando sobre a tonalidade de Bbm, são 163 compassos apenas de piano, baixo e
abundante acordes de apoio, variando suas aberturas e tensões para dar movimento à
Tyner novamente faz uso dos acordes quartais com baixo pedal e passa a vez
para que o líder realize seu solo. De forma enérgica Coltrane, assim como no tema,
inicia seu solo com a nota dó. Motivado também pela alta velocidade com que Jones
conduz a música, Coltrane realiza um solo extenso e cheio de citações ao tema inicial.
31
FIG. 14 – Exemplo de acordes quartais com baixo pedal utilizados por Tyner no final de seu solo em
Coltrane executa 193 compassos de solo com respirações curtas e frases longas de
tessitura extensa.
FIG. 19 – Exemplo de frase de extensa tessitura e de longo período sem respirar que Coltrane
17
Nesta citação em especial, Coltrane não utiliza as mesmas notas do tema para citá-lo, ele
transpões o primeiro compasso da melodia de “Pursuance” para um tom acima.
33
Depois do regresso ao tema, logo após ter tocado por um bom tempo bem
com uma frase de seis compassos, indicando o fim de seu solo e o início do solo de
Jimmy.
FIG. 20 – Exemplo do solo de Coltrane em “Pursuance”, frase utilizando notas fora da escala
transição para o solo de baixo que é realizado sem fórmula de compasso (Transcrição retirada do livro
Jimmy seja a menos brusca possível. Solando sem fórmula de compasso, Garrison
de ter mais notas – que é tocado sem a intenção de abrir uma faixa enérgica e “ácida”
disco, pois não tem um tema específico, não tem fórmula de compasso, não tem forma
ou harmonia definida.
um improviso comum, mas o que seria para ele a tradução em notas de seu poema
espiritual. Isso se depreende do que está escrito no encarte lançado junto com o
álbum:
Peace.
There is no other.
18
Salmo é a tradução para o português de Psalm.
35
No matter what... it is God.
God is.
God loves.
of Thee O Lord.
He always has...
go backto God.
Blessed is He.
always will.
it is our everything.
forma tão clara que é possível acompanhar com o poema escrito. Isso se deve à
musical.
Nota-se a presença de uma frase que se repete com freqüência no texto. Assim
como foi repetida no poema, “Thank you God”, que aparece na música sempre com a
FIG. 22 – Transcrição das notas usadas para o verso “Thank you God” do Poema de John Coltrane
Durante toda a faixa, que não tem pulso, Jones toca os pratos e os tambores com
banda criando um tipo de clima que dá ênfase ao fato de que o solista recita um poema
para Deus.
Como já foi dito, é possível acompanhar a faixa com o poema escrito, mas como
a um leitor), o solista aproveita para, às vezes, enfatizar algum pedaço específico com
uma dinâmica mais forte ou pular uma linha e retornar a ela depois, talvez porque lhe
era conveniente solar sobre aquela frase específica, ou aquelas palavras lhe remetiam
Nos últimos 30 segundos de faixa podemos ouvir que Coltrane soma à gravação
mais um saxofone para ornamentar ainda mais o final e, com Jones atacando
CAPÍTULO III
O ano de 1965 foi um período muito atarefado para Coltrane, que era requisitado
em muitos dos clubes e festivais, dentro e fora dos Estados Unidos. Um grande evento
que sempre atraía muitos músicos do mundo inteiro era o Antibes Jazz Festival,
e 1965. Em 1961, compareceu com seu quinteto com Eric Dolphy e Reggie Workman
foi a primeira e última vez que A Love Supreme foi executada inteira, depois da
pelo baixo –, pois na gravação ao vivo, após um rápido silêncio criado pela banda,
motivo da mesma maneira que no estúdio, com a primeira nota Fá antecipada (ver
figura 2), mas quando Garrison vai dobrá-lo com o líder, o baixista o executa de forma
FIG. 23 – Motivo-tema executado na gravação ao vivo pelo baixista Garrison sem a nota de
antecipação.
mesma forma que o baixista. A frase permanece deslocada por pouco tempo, alguns
primeiro álbum. Nesta gravação, Coltrane toca de maneira muito mais agressiva, com
frases mais rápidas, usando muitas notas fora da escala e, inclusive, tocando urros e
guinchos ao instrumento.
FIG. 26 – Exemplo de frase utilizando notas fora (notas em destaque) da pentatônica de Fm,
frase retirada do solo de Coltrane da música “Acknowledgement” versão ao vivo. (Transcrição deste
Autor)
o ostinato do começo passeando por várias tonalidades. De fato ele toca o ostinato, da
maneira como ele tocou no estúdio (com a nota antecipada), porém não passa por
19
Neste exemplo Coltrane utiliza apenas uma nota fora da pentatônica de Fm, a nota sol.
42
todos os tons como antes, pois após executar o ostinato 17 vezes se afasta do
na verdade, o final pode ser considerado brusco. Também não há o solo de baixo que
faz a transição da primeira para a segunda faixa, em vez disso, nos últimos segundos
tema de “Resolution”.
3.2 Resolution
arranjo antes feito, o quarteto executa o tema três vezes, Coltrane faz seu improviso de
16 compassos e todos voltam à melodia que, como antes, é tocada mais três vezes.
Segue um longo solo de piano de Tyner, começando com a mesma frase que
começa seu solo no álbum em estúdio. O solo dura cinco minutos, recheado de
outra versão antes analisada. Tocando com uma estética muito parecida com o solo de
acordes ao piano com muita força e com muitas dissonâncias, quando a faixa atinge
6’30”, o pianista encerra o que é um dos solos mais longos de todo o disco.
Coltrane aproveita a energia do solo antes feito pelo pianista para já sair
utilizando o registro agudo do sax e, entre guinchos agudíssimos, tocar frases com a
técnicas para tocar duas notas ao mesmo tempo, Coltrane retorna ao tema e depois de
uma série de urros e notas extremamente agudas, tocadas de forma muita intensa,
finaliza a faixa.
FIG. 28 – Exemplo de uso da região aguda do saxofone retirado do solo de Coltrane da música
3.3 Pursuance
A faixa começa20 com um longo solo de bateria (ainda mais longo que o da
subitamente entra com o tema trazendo McCoy Tyner e Jimmy Garrison fazendo a
20
O solo de bateria está situado no final da faixa anterior (“Resolution”), provavelmente o
responsável por dividir as faixas imaginou que seria melhor deixar o solo na faixa “Resolution” porque
Jones o emenda logo após a última execução do tema. Como Coltrane também emenda o tema de
“Pursuance” logo após o solo, fica claro que o arranjo nessa parte permanece o mesmo, foi apenas uma
escolha na hora de dividir as faixas.
44
Nesta versão o andamento é mais rápido e claramente perceptível a diferença
no arranjo da versão gravada com Van Gelder, pois ao finalizar o tema, Coltrane não
Desde o início das primeiras temporadas de shows do quarteto, sempre foi muito
comentada a interação especial que Jones tinha com Coltrane, sendo possível perceber
essa interação (diálogo) quando o pianista e o baixista saem de cena para que Coltrane
grande pedal em Bb tocado pelo baixista, com Coltrane tocando também uma nota
pedal que varia de Ab para Bb na região mais grave do saxofone tenor, o quarteto faz
o que se pode chamar de uma “ponte” que liga a última execução do tema com o
Além das duas notas pedais tocadas pelo baixista e pelo saxofonista, aparece
Coltrane e os dois solos de Jones (tendo o segundo duração de pouco mais que 3
minutos).
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A seguir 21, o quarteto mantém o arranjo e Garrison entra em cena solando
com a técnica de doublestops. Durante o longo solo, Garrison aproveita para explorar
maneira muito percussiva, aproveitando esse momento até para fazer uso do arco, com
o qual também utiliza a técnica de doublestop. Garrison faz a deixa para “Psalm”,
finalizando, assim, um dos mais longos solos do disco com mais de oito minutos.
(C) é a abertura dessa faixa. Poucos segundos depois, Coltrane começa a recitar o
mais enérgica e não mais com uma nota por sílaba, como fez em 1964.
Nesta versão ao vivo fica muito mais difícil acompanhar o poema paralelamente
ao solo. Não se sabe se Coltrane tocou lendo o poema escrito, talvez por isso tenha
tocado de forma mais livre, não tão literal como fez na primeira gravação.
No início, o saxofonista mantém muitas das idéias melódicas que ele usou na
gravação em estúdio, as notas usadas para a primeira frase do poema são as mesmas,
assim como as notas usadas para a frase “thank you God” (FIG. 8).
21
A mesma situação ocorrida com o solo de Jones acontece com o solo de Garrison, o solo
deveria estar no final da faixa “Pursuance”, porém novamente o responsável por separar as faixas do
disco o colocou no início da próxima música, “Psalm”. Foi preferível analisar o arranjo considerando o
solo de Garrison como parte integrante de “Pursuance”, porque assim o arranjo é mais próximo da
versão original gravada em estúdio.
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É possível acompanhar o solo com o poema até a parte: “One thought can
produce millions of vibrations and they all go back to God... everything does...”. A
partir daí, Coltrane não segue mais o poema e passa a solar de maneira livre.
Por já vir se interessando por outros tipos de sonoridades e com isso procurando
forma única de estética musical, permitindo-se usar uma nova para seus solos nesse
fôlego, mesmo que às vezes intercale com frases já executadas no solo da versão em
de seguir a linha recitativa constante do primeiro álbum. Coltrane improvisa ainda por
mantendo a idéia de que, mesmo o seu solo não seguindo os versos do poema, ele o
mantém em mente.
Depois de solar por quase seis minutos Coltrane volta a recitar o poema, mas de
uma maneira que não é possível saber de qual verso partiu. O líder após oito minutos
até o silêncio.
22
Outside é o contraste de notas ou acordes não previstos no contexto harmônico.
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CAPÍTULO IV
A série de figuras a seguir, representa a linha do tempo dos arranjos dos dois
álbuns, paralelas para melhor comparação. Nessa exposição dos arranjos, foi
respeitado o “corte” de cada faixa - mesmo já tendo comentado sobre os erros (ou
por minutagem.
Bx – Baixo
Pn – Piano
Bt - Bateria
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CAPÍTULO V
CONCLUSÃO
grandes conquistas. Após ter saído (com auxilia da fé) de seu envolvimento com
de se estranhar, portanto, que Coltrane tenha disposto de tanto energia para gravar um
álbum que reflete seu âmbito religioso e serve de agradecimento ao equilíbrio que a
divisor de águas na sua carreira e na sua vida pessoal, pois foi a partir dessa suíte que
Coltrane foi a busca de outras inspirações e idéias para compor e improvisar, deixando
mais simples que pudessem dar mais liberdade para si e para o resto da banda.
deixou a banda para seguir em carreira solo e desenvolver seus próprios projetos. No
final do mesmo ano - devido a algumas experiências que Coltrane vinha fazendo com
o uso de dois bateristas – Jones também deixa o grupo alegando que o som estava tão
A partir desse ponto, a carreira de Coltrane rumou cada vez mais para a
improvisos sem harmonia e forma definida e uma estética muito próxima da música
atonal.
Apesar de Coltrane ter refeito todo seu repertório devido à nova estética
utilizada, o fato do saxofonista ter mantido algumas de suas peças mais famosas talvez
som pelo seu público e fazer a ligação dos sucessos do quarteto às novas experiências
Alice23 (sua última esposa) realiza as primeiras gravações com o marido ampliando
ainda mais o seu interesse pelas influências da música oriental que já vinha sendo
quando tocava com Eric Dolphy, mas desta vez com a participação do sax-tenorista
Pharoah Sanders e do baterista Rashied Ali e continua a sua pesquisa com ritmos -
final de 1965.
23
Alice, pianista e compositora, realiza sua primeira gravação com Coltrane em 1965 e ingressa
a banda como membro regular em 1966.
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Ao ouvirmos com atenção os dois álbuns, é possível captar a grande diferença
estilística entre eles. A primeira, sem dúvida alguma, é a agressividade. Apesar das
ao vivo.
arranjo. Em “Resolution”, o solo de baixo que antes era responsável pela introdução
da música é suspenso e o líder ataca o tema logo após o final da faixa anterior.
saxofone acompanhado apenas pelo baterista Elvin Jones que, juntamente com
Coltrane, explora essa sessão de uma forma muito diferente dos outros solos dos dois
uma maneira muito diferente. Ele não toca uma nota para cada sílaba como antes,
fazendo com que a sensação de ouvir essa faixa seja a de um solo do saxofonista que
semelhança com a gravada em julho. Coltrane parece dedicar uma atenção especial a
ela e decide manter uma linha de desenvolvimento muito parecida com a sua versão
recurso para seus solos, e, apesar da voz do saxofonista cantando o famoso ostinato
(com a frase que leva o título do álbum) não se fazer presente, a ordem dos solos e
pelo primeiro solo) trabalha de uma maneira muito parecida com a versão em estúdio,
alcançada pelo solo de piano e a extrapola fazendo novamente uso de grandes saltos
A mais longa faixa do álbum ao vivo, “Pursuance”, também é regida pela nova
estética agressiva. A versão ao vivo é mais longa do que a versão gravada em estúdio
de piano que seguia logo após a apresentação do tema é substituído por um longo solo
de saxofone. Coltrane sola com o acompanhamento de toda a banda por dois minutos,
e quando a faixa atinge 2:30 o pianista e o baixista dão espaço para que o saxofonista
desenvolva seu solo acompanhado apenas pelo baterista Elvin Jones. Solando sem
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Como antes comentado, o poema recitado na versão em estúdio é tão metricamente regular que
é possível acompanhar linha por linha do texto.
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harmonia, Coltrane e Jones aproveitam esse momento único entre todas as faixas
analisadas para dialogar e criar diversas texturas rítmicas. Depois do solo do líder e da
nova exposição do tema, o quarteto executa uma “ponte” – que não se faz presente na
versão em estúdio - que serve para dissolver a passagem da execução do tema para o
são até hoje ouvidas e estudadas e mantém sempre o alto nível de qualidade e idéias
Barracuda, 2007.
KOFSKY, Frank. John Coltrane and the Jazz Revolution of the 1960s. Pathfinder
Press, 1998.
POTTER, Lewis. John Coltrane, his life and music. Michigan: The University of
RATLIFF, Ben. Coltrane, the story of a sound. New York: Farrar Straus Giroux,
2007.
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Discografia
COLTRANE, John. A Love Supreme. Impulse! Records, 1964
COLTRANE, John. John Coltrane in europe, cd-3. Charly Licensing Aps, Snapper
Music plc, 1965.