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PRÉ-NATAL ODONTOLÓGICO:

UM GUIA PRÁTICO PARA O CIRURGIÃO-DENTISTA

ORGANIZADORES
Carolina Dea Bruzamolin
Marilisa Carneiro Leão Gabardo
PRÉ-NATAL ODONTOLÓGICO:
UM GUIA PRÁTICO PARA O CIRURGIÃO-DENTISTA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Biblioteca da Universidade Positivo - Curitiba – PR
Elaborada pela Bibliotecária Priscila Fernandes de Assis – CRB-9-1852

P922 Pré-natal odontológico : um guia prático para o cirurgião-


dentista [recurso eletrônico] / organizadores Carolina Dea
Bruzamolin, Marilisa Carneiro Leão Gabardo . – Curitiba:
Universidade Positivo, 2020.
85 p. : il. color.

Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader.


Modo de acesso: <http://www.up.edu.br>
Título da página da Web (acesso em 08 julho 2020).
ISBN 978-65-990273-6-9

1. Odontólogos. 2. Gestantes. 3. Saúde bucal. 4. Promoção


da Saúde. I. Bruzamolin, Carolina Dea. II. Gabardo, Marilisa
Carneiro Leão. III. Título.

CDU 616.314:618.3
AUTORES
Carolina Dea Bruzamolin
Doutora em Odontologia pela Universidade Positivo.
Professora do Curso de Graduação em Odontologia.
Escola de Ciências da Saúde. Universidade Positivo,
Curitiba, PR, Brasil.

Marilisa Carneiro Leão Gabardo


Doutora em Odontologia pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná. Professora do Programa de Pós-
Graduação em Odontologia. Escola de Ciências da Saúde.
Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

Adriane Sousa de Siqueira


Doutora em Biologia Celular e Tecidual. Professora do
Curso de Graduação em Odontologia. Escola de Ciências
da Saúde. Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

Bárbara Munhoz da Cunha


Odontóloga da Prefeitura Municipal de Curitiba. Aluna do
Programa de Pós-Graduação em Odontologia (Mestrado
em Odontologia Clínica). Escola de Ciências da Saúde.
Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

Erika Calvano Küchler


Doutora em Ciências Médicas pela Universidade Federal
Fluminense. Professora do Programa de Pós-Graduação
em Odontologia. Escola de Ciências da Saúde.
Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.
Giuliana Martina Bordin
Odontóloga da Secretaria Estadual de Saúde Paraná.
Aluna do Programa de Pós-Graduação em Odontologia
(Mestrado em Odontologia Clínica). Escola de Ciências da
Saúde. Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

Ingrid Biberg Koller


Odontóloga da Prefeitura Municipal de Curitiba. Aluna do
Programa de Pós-Graduação em Odontologia (Mestrado
em Odontologia Clínica). Escola de Ciências da Saúde.
Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

Isabela Ribeiro Madalena


Doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação
em Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de
Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Pós-
Doutoranda. Escola de Ciências da Saúde. Universidade
Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

João Armando Brancher


Doutor em Ciências da Saúde Pontifícia Universidade
Católica do Paraná. Programa de Pós-Graduação em
Odontologia. Escola de Ciências da Saúde. Universidade
Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

Juliana Schaia Rocha Orsi


Doutora em Odontologia pela Universidade Estadual de
Ponta Grossa. Professora do Programa de Pós-
Graduação em Odontologia. Escola de Ciências da Vida.
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR,
Brasil.
Luciana Stadler Demenech
Doutora em Odontologia pela Universidade Positivo.
Professora do Curso de Graduação em Odontologia.
Escola de Ciências da Saúde. Universidade Positivo,
Curitiba, PR, Brasil.

Maitê Barroso da Costa


Doutora em Odontologia pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná. Professora do Curso de Graduação
em Odontologia. Escola de Ciências da Saúde.
Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

Maria Ângela Naval Machado


Doutora em Clínica Odontológica pela Faculdade de
Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de
Campinas. Professora do Programa de Pós-Graduação
em Odontologia. Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, PR, Brasil.

Milena Binhame Albini Martini


Doutora em Odontologia pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná. Professora do Curso de Graduação
em Odontologia. Escola de Ciências da Saúde.
Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

Pablo Guilherme Caldarelli


Doutor em Odontologia pela Faculdade de Odontologia de
Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas.
Professor do Curso de Graduação da Universidade
Estadual de Londrina e da Faculdade Positivo Londrina,
Londrina, PR, Brasil.
Rafaela Scariot
Doutora em Odontologia pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná. Professora do Programa de Pós-
Graduação em Odontologia da Escola de Ciências da
Saúde. Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil.

Reila Tainá Mendes


Doutora em Odontologia pela Universidade Estadual de
Ponta Grossa. Professora do Curso de Graduação em
Odontologia. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR,
Brasil.

Ricardo Rossi Cardoso


Ginecologista-Obstetra, Diretor Técnico da SORANUS -
Odontologia & Medicina, Curitiba, PR, Brasil.

Saulo Vinicius da Rosa


Aluno do Programa de Pós-Graduação em Odontologia
(Doutorado). Escola de Ciências da Vida. Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

Taís Ramos Pimenta


Aluna do Curso de Graduação em Odontologia. Escola de
Ciências da Saúde. Universidade Positivo, Curitiba, PR,
Brasil.
PREFÁCIO

O cuidado em saúde de mães e crianças, desde os


primeiros momentos da concepção, é essencial para a
possibilidade da manutenção da qualidade de vida de forma
equânime e sustentável. As evidências têm demonstrado que
respostas biológicas adaptativas e fatores socioambientais e
de atenção em saúde influenciam o perfil da saúde na
gestação e nos primeiros anos da vida de crianças, até a
vida adulta. Por isso, o cuidado e proteção da mulher, que
eventualmente será mãe vivenciando a gestação e o
puerpério, ou seja, promovendo a saúde materna, é
considerado crítico e exige o acompanhamento de fatores
que afetam sua vulnerabilidade e a exposição a ambientes
estressores.
O impacto da condição de saúde bucal na qualidade da
saúde e vida de gestantes reforça a importância da garantia
e acesso ao cuidado odontológico qualificado e resolutivo. O
adequado diagnóstico e tratamento, com a identificação de
determinantes e vulnerabilidades na condição de saúde
bucal durante a gestação, qualificam as linhas de cuidado,
permitindo abordagens mais amplas e integradas de equipes
de saúde durante o cuidado pré-natal.
Daí a relevância desta publicação. Abrangendo
conhecimentos essenciais sobre aspectos biológicos,
psicológicos e da atenção odontológica durante o período
pré-natal e perinatal, é uma importante contribuição ao
processo de qualificação da atenção materno-infantil no
campo da odontologia. Proposto como um guia prático para
o cirurgião-dentista, o texto é apresentado de forma clara e
objetiva, construído por autores capacitados e
comprometidos com a utilização da melhor evidência
disponível. Certamente será também uma importante
referência de apoio para práticas individuais e coletivas,
públicas e privadas, de ensino e pesquisa no cotidiano da
atenção profissional.
Desejo que esta publicação cumpra as finalidades para
as quais foi pensada e inspire leitores comprometidos com a
promoção e o cuidado em saúde de mães e seus filhos.

Simone Tetü Moysés


APRESENTAÇÃO

O período gestacional é marcado por profundas alterações


fisiológicas e psicológicas. Em virtude disso, o atendimento
odontológico da paciente gestante é permeado por dúvidas
oriundas tanto da falta de conhecimento e preparo adequado
para a execução das intervenções, quanto de questões
culturais que fazem com que a paciente evite procurar o
cirurgião-dentista.
Este texto tem por objetivo ressaltar a importância do pré-
natal odontológico e desmistificar ao atendimento à gestante.
Para tanto, serão abordados diversos temas, que incluem as
alterações que ocorrem no organismo nesse período, as
alterações bucais, bem como uma série de questões
específicas voltadas para o atendimento em si. Por fim, a obra
contempla a temática do pré-natal odontológico.

Desejamos a todos que seja muito proveitosa a leitura!

Carolina Dea Bruzamolin


Marilisa Carneiro Leão Gabardo
SUMÁRIO

01 CAPÍTULO 1. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS NO PERÍODO GESTACIONAL


Ricardo Rossi Cardoso
1.1 Endócrinas
1.2 Gastrointestinais
1.3 Cardiovasculares
1.4 Respiratórias
1.4 Hematológicas

02 CAPÍTULO 2. ALTERAÇÕES BUCAIS NO PERÍODO GESTACIONAL


Adriane de Sousa Siqueira
Giuliana Martina Bordin
João Armando Brancher
Maria Ângela Narval Machado
Marilisa Carneiro Leão Gabardo
Milena Binhame Albini Martini
Pablo Guilherme Caldarelli
Reila Tainá Mendes
Taís Ramos Pimenta

2.1 Alterações no fluxo, pH e capacidade de tamponamento


salivar
2.1.1 Velocidade de fluxo salivar (VFS)
2.1.2 pH salivar
2.1.3 Capacidade de tamponamento salivar (CTS)
2.1.4 Saliva artificial, uma alternativa que pode ser
considerada!
2.2 Alterações microbiológicas
2.2 Cárie dentária
2.3 Alterações periodontais
2.3.1 Gengivite
2.3.2 Periodontite
2.3.3 Plausibilidade biológica da associação entre doença
periodontal e gestação
2.4 Outras alterações estomatológicas
2.4.1 Granuloma gravídico
SUMÁRIO

03 CAPÍTULO 3. DESMISTIFICANDO
ODONTOLÓGICO À GESTANTE
O ATENDIMENTO

Bárbara Munhoz da Cunha


Ingrid Biberg Koller
Juliana Schaia Rocha
Luciana Stadler Demenech
Maitê Barroso da Costa
Rafaela Scariot
Saulo Vinicius da Rosa

3.1 Trimestre ideal para o atendimento


3.2 Avaliação dos sinais vitais em gestantes
3.2.1 Temperatura
3.2.2 Frequência cardíaca
3.2.3 Pressão arterial (PA)
3.2.4 Frequência respiratória (FR)
3.2.5 Dor
3.3 Horário de atendimento
3.4 Posição de atendimento
3.5 Exposição à radiação odontológica
3.6 Terapêutica medicamentosa na gestação
3.6.1 Anestesia local
3.6.2 Prescrição de antibióticos, anti-inflamatórios e
analgésicos

04 CAPÍTULO 4. IMPORTÂNCIA DO PRÉ-NATAL ODONTOLÓGICO


Carolina Dea Bruzamolin
Erika Calvano Küchler
Isabela Ribeiro Madalena
Juliana Schaia Rocha
Pablo Guilherme Caldarelli
Saulo Vinicius da Rosa

4.1. Conhecimento das gestantes sobre saúde bucal


4.2. Higiene bucal da mãe
4.3. Higiene bucal do bebê
01
Alterações fisiológicas no
período gestacional
Ricardo Rossi Cardoso
1.1 ENDÓCRINAS

Várias modificações metabólicas ocorrem durante a gestação para o


crescimento do feto e da placenta (TAN; TAN, 2013). Esta condição
leva a um aumento do metabolismo basal de 20% até o final da
gestação. Até a segunda metade da gestação, a glicemia de jejum
encontra-se diminuída e, no terceiro trimestre, ocorre um estado de
hiperinsulinismo materno, associado a uma resistência insulínica
periférica, com a finalidade de aumentar a oferta de glicose para o feto
(BURTI et al., 2006).
A síntese de lipídios encontra-se aumentada na primeira metade da
gestação, sendo reservada no tecido adiposo para utilização no final
da gestação. A gestante possui níveis séricos de proteínas totais
aumentadas em valores absolutos, porém pela hemodiluição
apresentam-se diminuídos em comparação aos valores pré-
gestacionais (PEIXOTO, 2014).
A retenção de água durante a gestação pode chegar em torno de
7,5 l, o que justifica a presença do edema no final do período. O
controle hidroeletrolítico é feito pelo sistema renina-angiotensina-
aldosterona, que promove a reabsorção do sódio, uma vez que
sistema urinário aumenta a taxa de filtração glomerular em 50%.
A glândula tireoide também sofre um aumento de tamanho
durante a gestação e cabe ressaltar que o hormônio tireoidiano tem
uma função importante na neurogênese fetal e estão associados ao
desenvolvimento cognitivo na infância. A triiodotironina (T3) e a
tetraiodotironina (T4) estão aumentadas na gestação, embora o nível
de iodo materno esteja diminuído pelo aumento do consumo fetal.
As gestantes tem um aumento de 30 vezes na secreção de
estrogênio e de dez vezes na de progesterona, quando comparadas
às não gestantes. A progesterona tem a função de reduzir a
atividade da musculatura uterina e aumentar a vascularização,
hipertrofia e hiperplasia das fibras musculares do miométrio. Essa
explosão hormonal tem o intuito de preparar o corpo da mulher para
gerar o feto, o que pode trazer consequências para a cavidade bucal
(BASTOS et al., 2014; NASEEM et al., 2016), tema a ser abordado
nos Capítulos seguintes.

1.2 GASTROINTESTINAIS

De um modo geral, todo aparelho digestivo passa por


modificações durante a gestação. Na boca ocorre a sialorreia,
decorrente do aumento do funcionamento das glândulas salivares
(PEIXOTO, 2014).
Outra alteração é a atonia da musculatura lisa. A diminuição do
tônus do esfíncter esofagiano leva ao aparecimento de náuseas e
vômitos, lentificação do esvaziamento do estômago. O sintoma mais
comum é a pirose (azia), que ocorre por causa de uma diminuição
do pH da secreção gástrica (PEIXOTO, 2014)
O fígado tem sua função aumentada na gravidez. A vesícula
biliar torna-se hipotônica, o que pode levar a colestase (estase
biliar). Com o aumento do volume uterino durante a gestação, ocorre
um deslocamento do intestino para cima, diminuição da peristalse,
levando à obstipação e distensão abdominal. Além de todas essas
modificações, há um aumento da congestão vascular pélvica,
podendo ocorrer hemorroidas.

1.3 CARDIOVASCULARES

O coração muda sua posição, deslocando-se para a esquerda e


para cima, devido à elevação do diafragma. Ocorre, ainda, a
hipertrofia do ventrículo esquerdo, melhorando a ejeção cardíaca. O
débito cardíaco aumenta cerca de 40%, o que pode levar a
taquicardia, turgor jugular e edema (BURTI et al., 2006).
A síndrome da hipotensão supina é um quadro de bradicardia e
hipotensão postural, promovendo diminuição do débito cardíaco por
compressão uterina nos grandes vasos maternos (PEIXOTO, 2014).
Numa condição em que a gestante em decúbito dorsal se
levanta, podem ocorrer tonturas e até lipotimia ortostática. Na
presença desses sintomas, recomenda-se colocá-la em decúbito
lateral esquerdo, preferencialmente, para que o fluxo sanguíneo seja
restabelecido.

1.4 RESPIRATÓRIAS

Com os níveis aumentados de progesterona durante a gestação,


há um aumento na ventilação pulmonar (hiperventilação), com
diminuição do dióxido de carbono (pCO2), melhorando o oxigênio
materno (pO2) e, por conseguinte, o suprimento fetal.
A frequência respiratória aumenta (taquipneia) e esse aumento
na capacidade pulmonar leva a uma alcalose respiratória
compensatória (BURTI et al., 2006). Este mecanismo se dá para
contrabalancear a acidose metabólica materna e fetal, podendo
interferir no efeito de algumas drogas anestésicas, como a
bupivacaína e a meperidina.
1.4 HEMATOLÓGICAS

O volume do plasma aumenta cerca de 15% durante a gestação.


Ao comparar esse ganho em relação ao volume anterior à gravidez,
corresponde a um ganho de 30% a 50% do volume sanguíneo.
Embora ocorra um aumento do volume das hemácias, os valores
mostram uma anemia pela hemodiluição. Os valores normais da
hemoglobina de 12.5 g/dl passam para 11 g/dl, durante a gestação.
Ocorre uma leucocitose com aumento de linfócitos e neutrófilos.
Existe um estado de hipercoagulabilidade, com aumento de
quase todos os fatores de coagulação, para assegurar o controle das
perdas sanguíneas durante o trabalho de parto. Há uma diminuição
do número de plaquetas durante a gravidez, com a finalidade de que
não ocorram fenômenos tromboembólicas, com deposição de fibrina,
em especial na placenta.
Ainda, algumas gestantes podem apresentar sintomas de
congestão nasal, edema de mucosa e dispneia (PEIXOTO, 2014).
Essa maior dificuldade respiratória favorece a respiração pela boca
que, apesar da inexistência de comprovação científica, é capaz de
reduzir o fluxo salivar, sintoma reportado por em torno de 50% das
gestantes como “sensação de boca seca”.
Alterações bucais no
02
período gestacional
Adriane de Sousa Siqueira
Giuliana Martina Bordin
João Armando Brancher
Maria Ângela Narval Machado
Marilisa Carneiro Leão Gabardo
Milena Binhame Albini Martini
Pablo Guilherme Caldarelli
Reila Tainá Mendes
Taís Ramos Pimenta
2.1 ALTERAÇÕES NO FLUXO, pH E CAPACIDADE DE
TAMPONAMENTO SALIVAR

Ao se pensar em saliva, rapidamente há uma associação com a


manutenção da saúde bucal. De fato, a saliva desempenha um papel
importantíssimo no que diz respeito à saúde bucal, entretanto,
marcadores biológicos nela contidos também podem oferecer um
panorama geral da saúde sistêmica da gestante. A saliva pode ser
considerada uma solução ultrafiltrada do sangue (PUNYADEERA,
2013) frequentemente utilizada para diagnosticar e monitorar o
estado de saúde geral de uma pessoa (MELETI et al., 2020; PFAFFE
et al., 2011), além disso, o seu método de coleta é muito simples e
não invasivo.

Atenção: várias substâncias que estão presentes no sangue


podem ser detectadas na saliva!

São diversas as funções atribuídas à saliva, e enumerar e discutir


todas elas não são o objetivo deste texto, entretanto, é importante
mencionar pelo menos duas dessas funções: proteção e
manutenção do equilíbrio do pH bucal. Para desempenhar o papel
de proteção, a saliva possui uma série de proteínas antibacterianas,
antifúngicas e antivirais, além de enzimas. A manutenção do
equilíbrio do pH se dá por intermédio de tampões presentes na
saliva, entre eles o tampão bicarbonato.
2.1.1 VELOCIDADE DE FLUXO SALIVAR (VFS)

A velocidade de fluxo salivar (VFS) é considerada o principal


parâmetro salivar associado à saúde bucal. O teste para avaliar a
quantidade de saliva produzida é não invasivo, de baixo custo e
pode ser aplicado facilmente na gestante. Talvez a sua principal
vantagem seja a obtenção do resultado imediato que poderá ser
utilizado para motivar a paciente.
A técnica mencionada neste texto foi descrita originalmente por
Navazesh (1993) e adaptada para facilitar a coleta em consultório
odontológico. Para tanto, a gestante deve se sentar
confortavelmente e mastigar um pedaço de látex estéril com
tamanho padrão de 1 cm de comprimento por 0,5 cm de diâmetro,
preso a um fio dental de 20 cm (em caso de alergia ao látex, pode
ser usada parafina).

Figura 1. Frasco coletor graduado, fio dental


e um pedaço de látex.
Fonte: Imagem gentilmente cedida pelo Prof. Dr.

João Armando Brancher.


A ação mastigatória ocorrerá por seis minutos ininterruptos,
sendo que a saliva produzida no primeiro minuto será desprezada.
Nos cinco minutos subsequentes, toda a saliva produzida será
depositada em um frasco coletor graduado (Figura 1). A VFS será
estimada dividindo-se o volume de saliva produzida pelo tempo de
estímulo, e o valor será expresso em mililitros por minuto (ml/min).
Fluxo salivar inferior a 1 ml/min pode aumentar o risco de
patologias bucais (LARMAS, 1992). Fisiologicamente, o fluxo
salivar aumenta durante a gestação, o que garante uma proteção
adicional aos tecidos bucais. Uma informação importante que deve
ser repassada às gestantes é que caso ela perceba diminuição do
fluxo salivar, por qualquer motivo, poderá haver alteração da
percepção do sabor dos alimentos, entre eles a percepção do sabor
do açúcar, o que tende a induzir ao aumento involuntário do
consumo de alimentos doces e, consequentemente, predispor à
cárie dentária (KAMATE; VIBHUTE; BAAD, 2017; SALUJA et al.,
2014;).

2.1.2 pH SALIVAR

O pH é uma medida utilizada para indicar o grau de acidez ou de


basicidade de uma solução qualquer. Para exemplificar, sabe-se que
o suco de laranja é ácido, afinal de contas a fruta possui ácido
cítrico.
Quando medido, o pH do suco é de aproximadamente 4,0 em
uma escala que vai de 0 a 14. Com a saliva não é diferente: o pH
salivar deve ficar próximo a 7,0, ou seja, próximo da neutralidade,
porém pode variar entre 6,5 a 7,5 (Figura 2).

Figura 2. Escala de pH.


Fonte: https://www.todamateria.com.br/indicadores-acido-base/

Mas por que é importante avaliar o pH salivar? A resposta para


essa pergunta não é simples, mas de maneira objetiva, pode-se dizer
que alterações acentuadas no pH salivar estão relacionadas a
doenças bucais. Jain e Kaur (2015) avaliaram o pH salivar de 120
gestantes e evidenciaram uma queda significativa no seu valor ao
longo da gestação. De fato, o pH salivar no final do terceiro trimestre
de gestação chegou próximo a 6,0 e, à medida que diminuía, a
prevalência de lesões bucais aumentava.

Mensurar o pH salivar de gestantes ao longo da gestação


pode ser útil para acessar informações a respeito de lesões
bucais que podem ocorrer nos diferentes trimestres da
gravidez.
Também é importante mencionar que a troca de minerais entre os
dentes e a saliva depende do pH salivar. Quando a saliva se torna
ácida, e o pH fica abaixo de 5,5, o esmalte dentário perde mais
minerais para o meio bucal do que ganha, ou seja, o processo de
desmineralização se intensifica.
Por outro lado, a elevação acentuada do pH salivar favorece a
precipitação de minerais sobre o biofilme que recobre os dentes,
assim, pode-se afirmar que o pH bucal alcalino proporciona um
ambiente ideal para precipitação do fosfato de cálcio sobre os dentes
e o resultado é a formação de cálculo dentário.
Existem algumas possibilidades para ser mensurado o pH no
consultório odontológico. A primeira delas é a utilização de fitas
colorimétricas (Figura 3). Sua utilização é bastante simples. Basta
umedecer a fita com a saliva da gestante por 10 segundos e
comparar a cor desenvolvida com a cor da escala presente na
embalagem.

Figura 3. Fita indicadora de pH.


Fonte: https://alunosonline.uol.com.br/quimica/calculo-
ph-uma-solucao.html
Sugestão: as fitas indicadoras podem ser utilizadas para
mensurar o pH de diferentes bebidas, tais como
refrigerantes, café, chás etc. Os resultados servem para
explicar o que o consumo frequente de bebidas ácidas
pode causar sobre a estrutura dos dentes.

Outra possibilidade para mensurar o pH salivar é a utilização do


pHmetro portátil (Figura 4). Esse equipamento é comum em
laboratórios de análises clínicas e em pesquisas de campo, nas quais
é necessário medir o pH salivar de uma grande quantidade de
pessoas. A precisão do equipamento é bastante alta e o resultado é
imediato. Sua utilização é simples: basta imergir o bulbo do
instrumento na saliva e anotar o pH.

Figura 4. pHmetro portátil.


Fonte: https://br.omega.com/pptst/PHH-7000.html
Também existem no mercado líquidos indicadores de pH que
utilizam escalas colorimétricas para medi-lo. Tais soluções podem ser
adquiridas em lojas especializadas.

2.1.3 CAPACIDADE DE TAMPONAMENTO SALIVAR (CTS)

O terceiro e último teste que pode ser realizado em consultório


odontológico e que traz um resultado imediato é a CTS. De maneira
objetiva, trata-se da capacidade que a saliva possui para
equilibrar o pH bucal após a ingestão de uma solução ácida ou
básica.
Voltando ao exemplo do suco de laranja utilizado no início deste
texto: quando uma pessoa bebe suco de laranja, que tem um pH
próximo a 4,0, a tendência seria de a cavidade bucal acidificar. Na
verdade isso ocorre, porém a saliva dispõe de mecanismos para
neutralizar o ácido contido no suco, por meio de tampões, entre eles o
bicarbonato e o fosfato. Ao ser observada a equação abaixo:
HCO3- + H+  H2CO3  H2O + CO2
observa-se que o bicarbonato (HCO3-) rapidamente reage com o
ácido (H+) formando água (H2O) e dióxido de carbono (CO2). Essa é
uma maneira rápida de neutralizar o ácido e formar água, protegendo
a cavidade bucal. Essa reação química depende da ação de uma
enzima, chamada anidrase carbônica: é ela que liga o bicarbonato
com o ácido para formar água. Essa propriedade é denominada
capacidade tampão salivar.
Em gestantes, caso o volume salivar diminua, a CTS também
diminui. Também se levanta a hipótese de que a atividade da enzima
anidrase carbônica possa ser afetada por alterações hormonais
fisiológicas que ocorrem durante a gravidez (KIVELÄ et al., 2003). Da
mesma forma, a CTS seria afetada.
Sendo assim, é importante mensurar a CTS para prevenir
alterações no pH salivar. O método considerado clássico para
determiná-la é a titulação da saliva com ácido clorídrico. Para tanto,
utiliza-se uma mistura de 1 ml de saliva com 3 ml de ácido clorídrico
0,005 N (ERICSSON, 1953).
A técnica preconiza que os 3 ml de ácido sejam adicionados
lentamente à saliva. A solução é homogeneizada e colocada em
repouso por 10 minutos. Então, o pH é medido, e caso nesta nova
medição o valor seja maior do que 5,0, a saliva exibe boa
capacidade tampão. pH entre 4,0 e 5,0, indica uma capacidade de
tamponamento da saliva duvidosa; abaixo de 4,0 indica capacidade
de tamponamento ruim.

2.1.4 SALIVA ARTIFICIAL, UMA ALTERNATIVA QUE


PODE SER CONSIDERADA!

Caso a gestante sofra com a diminuição do fluxo salivar durante


a gestação, uma alternativa a ser recomendada é a utilização de
saliva artificial.
A saliva artificial é extremamente eficiente e alivia a sensação de
boca seca que pode acometer a gestante, além de promover
lubrificação, limpeza e proteção da cavidade bucal. Abaixo segue
uma receita básica para produção de saliva artificial.

→ Receita para formulação de 1000 ml de saliva artificial (BORAKS,


2001, p. 13) :

01 Dissolver bem todos os ingredientes listados abaixo em

900 ml de destilada.

900 ml Água destilada

674 mg Cloreto de sódio

960 mg Cloreto de potássio

40,8 mg Cloreto de magnésio hexidratado

106,8 mg Cloreto de cálcio diidratado

274 mg Fosfato de potássio hidrogenado

10 mg Metil-p- hidroxibenzoato (nipagin)

100 mg Propil-p-dihidroxibenzoato (nipasol)

02 Quando a solução estiver bem homogênea, acrescentar


lentamente 8 g de carboximetil celulose de sódio. Misturar
até a solução ficar homogênea novamente.
03 Acrescentar sorbitol (70%) até completar 1000 ml.

04 Acrescentar 0,5 ml de óleo de menta. Misturar.

05 Acondicionar a saliva artificial em recipiente apropriado.

Uma opção mais simples é prescrever saliva artificial a ser


manipulada em farmácia. Hoje em dia, grandes redes de farmácias
também oferecem saliva artificial na forma de sprays que se
aproximam muito da saliva humana, pois possuem componentes
minerais, hidratantes e componentes orgânicos que protegem e
hidratam os tecidos bucais. Basta a gestante borrifar a saliva
algumas vezes ao dia na boca.

ATENÇÃO! Antes de prescrever a saliva artificial, deve-


se certificar que a gestante não é sensível a algum
componente da fórmula.

Para finalizar, não se pode esquecer de aconselhar a


gestante para que estimule a produção de saliva! Mastigar
vagarosamente alimentos sólidos aumenta a quantidade de saliva
produzida e, consequentemente, melhora a limpeza da cavidade
bucal. Assim, mais proteínas e minerais estarão presentes na
saliva, entre eles o cálcio e o bicarbonato, o que favorecerá a
capacidade de normalização do pH.
2.2 ALTERAÇÕES MICROBIOLÓGICAS

A microbiota ou microbioma bucal possui cerca de 600


espécies bacterianas distintas, incluindo as do gênero
Streptococcus, Lactobacillus, Staphylococcus e Corynebacterium,
além de fungos e vírus (DEWHIRST et al., 2010). Estes
microrganismos estão distribuídos em diferentes habitats da
cavidade bucal, como dentes, língua, palato e gengiva, sendo que
cada um destes ambientes é colonizado por espécies microbianas
específicas (AAS et al., 2005). Os microrganismos da microflora
bucal, juntamente com aqueles localizados em outras regiões do
corpo humano como intestino, pele e canal vaginal, são
responsáveis por garantir em parte a nossa imunidade, já que
dificultam a instalação de agentes microbianos patogênicos
(BELKAID; NAIK, 2013).
Diversos fatores intrínsecos e extrínsecos podem estar
associados a um fenômeno conhecido como disbiose, que
representa uma modificação na composição das microbiotas
residentes. Algumas mudanças naturais na composição da flora
microbiana são observadas durante a gravidez. Enquanto algumas
dessas mudanças podem ser consideradas benéficas para as
gestantes, outras podem ser capazes de gerar doenças (NURIEL-
OHAYON; NEUMAN; KOREN, 2016).
Como se sabe, a gravidez é um processo que provoca alterações
simultâneas em diversos sistemas fisiológicos. Enquanto algumas
dessas alterações, especialmente as hormonais, as metabólicas e as
imunológicas, já são conhecidas por décadas, mudanças em relação
à composição da microbiota das gestantes começaram a ser
estudadas somente em períodos mais recentes (NURIEL-OHAYON;
NEUMAN; KOREN, 2016). Mesmo em mulheres que apresentam
uma gravidez sem complicações, costuma-se observar grandes
modificações na quantidade e na diversidade de microrganismos nos
microbiomas do intestino (KOREN et al., 2012) e do canal vaginal
(AAGAARD et al., 2012).
Já na cavidade bucal, a quantidade de bactérias viáveis em
mulheres grávidas é maior do que a observada em mulheres não
grávidas, especialmente durante o primeiro trimestre da gestação
(FUJIWARA et al., 2015). A maioria das espécies bacterianas bucais
que costumam se multiplicar durante o período gestacional estão
relacionadas à ocorrência de doença periodontal. Diversos estudos
demonstram que os níveis de Porphyromonas gingivalis, Prevotella
intermedia e Aggregatibacter actinomycetemcomitans apresentam-se
significativamente maiores em gestantes em comparação a não
gestantes (BORGO et al., 2014; CARRILLO-DE-ALBORNOZ et al,
2010; FUJIWARA et al., 2015).
Adicionalmente, os níveis de fungos do gênero Candida também
se mostraram aumentados durante a gravidez (FUJIWARA et al.,
2015). A grande disponibilidade dos hormônios femininos estrógeno
e progesterona durante o período gestacional é comumente relatada
como fator capaz de promover a proliferação de diversas espécies
microbianas (PELZER et al., 2012). Contudo, para alguns
pesquisadores, esta relação ainda não foi totalmente comprovada
(NURIEL-OHAYON; NEUMAN; KOREN, 2016).
Várias correlações entre doenças infecciosas da cavidade bucal
e complicações gestacionais têm sido demonstradas. Mulheres
grávidas que desenvolvem doença periodontal apresentam risco
aumentado de parto prematuro (OFFENBACHER et al., 2006),
devido ao fato de lipopolissacarídeos (LPS) presentes em bactérias
gram-negativas da doença periodontal promoverem aumento
sistêmico da produção de mediadores inflamatórios como
interleucinas e prostaglandinas (KIM; AMAR, 2006). Adicionalmente,
a colonização da placenta por microrganismos bucais também pode
estimular o parto prematuro (AAGAARD et al., 2014). Estes
microrganismos podem atingir a placenta por meio de propagação
hematogênica (bacteremia) ou por meio de transmissão microbiana
e colonização do canal vaginal durante práticas sexuais (COBB et
al., 2017).
Também a doença periodontal também pode estar relacionada
ao baixo peso da criança ao nascimento (JARJOURA et al., 2005) e
a pré-eclâmpsia (SGOLASTRA et al., 2013). A identificação de
microrganismos benéficos e nocivos, bem como de seu papel
durante a gestação e o parto, podem ter implicações extremamente
importantes para definir dietas adequadas, tratamentos com
antibióticos ou probióticos, e potenciais terapias para doenças em
todos os estágios de desenvolvimento fetal (NURIEL-OHAYON;
NEUMAN; KOREN, 2016).

2.2 CÁRIE DENTÁRIA

A gestação é considerada um período em que a mulher pode


estar mais suscetível às doenças bucais (FIGUERO et al., 2013;
VERGNES et al., 2013). Evidências científicas apontam uma alta
prevalência de alterações periodontais (FIGUERO et al., 2013) e de
cárie dentária (RAKCHANOK et al., 2010) neste grupo populacional.
Essas doenças podem impactar negativamente na qualidade de
vida das gestantes, causando limitação funcional, dor, desconforto
psicológico e físico (CALDARELLI et al., 2019; NG; LEUNG, 2006;
OLIVEIRA; NADANOVSKY, 2006).
A cárie dentária não pode ser considerada uma “doença
infecciosa e transmissível”!

A cárie dentária não é provocada por bactérias estranhas a


cavidade bucal humana. A doença é considerada multifatorial e
complexa. Além disso, não é causada por uma única espécie
bacteriana, embora algumas sejam mais cariogênicas.

A cárie dentária é uma doença biofilme-açúcar-dependente


complexa. O acúmulo de bactérias nas superfícies dentárias
formando o biofilme é considerado o fator necessário para o
desenvolvimento da doença. Em adição ao biofilme dentário, a
exposição a açúcares da dieta durante a sua formação e maturação
também está relacionada ao desenvolvimento da doença (TENUTA;
CHEDID; CURY, 2013).
Considerando as mudanças de hábitos alimentares e de higiene
associados ao período gestacional (FIGUERO et al., 2013;
VERGNES et al., 2013), torna-se importante destacar que a
ingestão frequente de açúcares, principalmente a sacarose (açúcar
mais cariogênico da dieta humana), é fator determinante para o
desenvolvimento das lesões de cárie. Ao mesmo tempo em que
bactérias mais cariogênicas são selecionadas no biofilme dentário
em formação, o ácido produzido pelo metabolismo dos
microrganismos tem a capacidade de dissolver o mineral dos
dentes (TENUTA; CHEDID; CURY, 2013).
Frente à complexidade da doença cárie (Figura 1), que está
relacionada a determinantes biológicos e sociais (individuais e
coletivos), a orientação sobre o seu controle por meio da
escovação dentária, disciplina do consumo de açúcar e uso
racional de fluoretos devem ser foco de atenção em ações
educativo-preventivas durante todo o período gestacional
(CALDARELLI et al., 2019).

Figura 1. A cárie dentária como uma doença multifatorial complexa.


Fonte: Adaptado de FEJERSKOV e KIDD (2011).
2.3 ALTERAÇÕES PERIODONTAIS

As características clínicas da gengivite e da periodontite podem ser


exacerbadas devido à inflamação dos tecidos periodontais em
resposta ao acúmulo de biofilme dentário, mesmo sem mudanças
significativas na quantidade do mesmo (FIGUEIREDO et al., 2017).
Isso demonstra o importante papel do aumento dos níveis plasmáticos
de hormônios na gravidez. A mudança de hábitos de higiene bucal
também contribui na patogênese dessas doenças em gestantes.
Estudos observacionais sugerem que o tratamento periodontal
potencialmente reduz efeitos adversos durante a gestação
(IHEOZOR-EJIOFOR et al., 2017). Há evidências também da
associação entre saúde bucal durante a gravidez e problemas
adversos, incluindo baixo peso ao nascer, parto prematuro e pré-
eclâmpsia. Assim, a presença de periodontite na gestante representa
uma fonte potencial de microrganismos que sabidamente podem
atingir a circulação sanguínea e, desse modo, interferir direta ou
indiretamente na saúde da mãe e do bebê (SANZ; KORNMAN, 2013).
A gestação pode, eventualmente, estar associada a eventos adversos,
que incluem:

Parto Parto muito prematuro Restrição do Pré-eclâmpsia: Aborto


Baixo peso ao Muito baixo
nascer peso ao (<32 semanas) crescimento hipertensão espontâneo
prematuro
(< 2500 g) nascer (baixo peso para a maternal e e/ou natimorto
(<37 semanas)
(< 1500 g) idade gestacional) proteinúria após a
vigésima semana
gestacional
2.3.1 GENGIVITE

A gengivite é uma inflamação localizada na margem gengival,


caracterizada por edema, vermelhidão e sangramento (Figura 1A). É o
estágio inicial da doença periodontal. É uma condição reversível
quando tratada por eliminação do biofilme dentário. Na gravidez, ela é
caracterizada por um aumento na sua prevalência e gravidade durante
o segundo e terceiro trimestres (GÜRSOY et al., 2008; NIEDERMAN,
2013).
Alterações do sistema microcirculatório são produzidas por
aumento dos níveis hormonais de estrogênio, progesterona e
gonadotrofina coriônica no plasma, potencializando a inflamação
gengival (FIGUEIREDO et al., 2017; ZACHARIASEN et al., 1989).
Um intensivo regime de higiene bucal (escovação, uso do fio
dental e profilaxia profissional) diminui a gengivite em pacientes
grávidas (GEISINGER et al., 2014).

NOTA: As mulheres grávidas demonstram aumento de gengivite,


apesar da quantidade biofilme ser semelhante a de mulheres não
grávidas.

A periodontite é um estágio mais avançado da doença periodontal.


É uma condição que afeta as estruturas de suporte dos dentes e, se
não tratada, pode levar à perda dentária (Figura 1B). O biofilme é o
principal fator etiológico da periodontite e as alterações sistêmicas
influenciam diretamente na patogenia do agravo (BECK et al., 2019),
dentre elas o estado gestacional.
A B

Figura 1. (A) Gengivite; (B) Periodontite em gestante.


Fonte: SILK et al., 2008.

2.3.3 PLAUSIBILIDADE BIOLÓGICA DA ASSOCIAÇÃO ENTRE


DOENÇA PERIODONTAL E GESTAÇÃO

Duas vias principais na ativação da resposta imune/inflamatória


e/ou supressão na unidade feto-placenta:

Direta:
- Microrganismos bucais e/ou seus componentes atingem a unidade
feto-placenta via disseminação sanguínea a partir da cavidade bucal.
- Microrganismos bucais e/ou seus componentes atingem a unidade
feto-placenta através do trato genitourinário.

Indireta:
- Mediadores inflamatórios localmente produzidos nos tecidos
periodontais (PGE2, TNFa) circulam e impactam a unidade feto-
placenta.
- Mediadores inflamatórios e/ou componentes microbianos circulam até
o fígado e há aumento na produção de citocinas (IL-6) e proteínas da
fase aguda (PCR) que por sua vez têm impacto na unidade feto-
placenta.
2.4 OUTRAS ALTERAÇÕES ESTOMATOLÓGICAS

Durante a gestação, o desequilíbrio estrógeno-progesterona e o


aumento dos níveis de progesterona não apresentam um papel
determinante no desenvolvimento de lesões bucais. As gestantes
poderão manifestar gengivite generalizada relacionada aos hábitos
de higiene bucal precários devido a náuseas e vômitos (TOMMASI,
2013).

2.4.1 GRANULOMA GRAVÍDICO

O granuloma gravídico ou tumor gravídico é uma lesão benigna


na cavidade bucal, de natureza não-neoplásica. A elevação gradual
das lesões com a progressão da gravidez deve-se provavelmente ao
aumento nos níveis de hormônios esteroides (CARDOSO et al., 2013;
GONDIVKAR et al., 2010; KRISHNAPILLAI et al., 2012) que
aumentam a expressão de fatores angiogênicos no tecido gengival
(YUAN et al., 2002) causando uma proliferação vascular acentuada.
Ainda sem se saber ao certo a verdadeira causa do granuloma na
gestação, a maioria dos casos está relacionada à presença de
traumatismo crônico local de baixa intensidade como: próteses mal
adaptadas, restaurações em excesso, cálculos ou algum outro
trauma (JAFARZADEH et al., 2006; SHARMA et al., 2019).
Observa-se uma prevalência de até 5% de ocorrência na fase
gestacional e sua aparição inicia por volta da 23.ª semana de
gestação e costuma desaparecer após o parto ou sofrem maturação
fibrosa.
O granuloma gravídico manifesta-se usualmente na região de
papilas interdentais sob a forma de um nódulo exofítico indolor, com
sangramento espontâneo ou ao toque (TOMMASI, 2013). Localiza-se
nas regiões anteriores e na maxila, com aspecto consistente, com
lesão lobulada, pediculada, de coloração rosada, vermelha ou roxa,
sem um tamanho determinado e com rápido crescimento (Figura 2).

Figura 2. Granuloma gravídico.


Fonte: Imagem gentilmente cedida pela
Prof.ª Dra. Melissa Rodrigues Araújo

A conduta clínica se refere à remoção dos agentes irritantes locais


e biópsia excisional da lesão. Deve-se levar em conta a prévia
avaliação obstétrica, buscando definir o momento mais oportuno para
tanto (TOMMASI, 2013). A remoção de possíveis irritantes (biofilme e
cálculo dentário) auxilia no controle da lesão e tem grande
importância para prevenir a recidiva após o tratamento (GONDIVKAR
et al., 2010). É provável a recidiva quando removido cirurgicamente
durante a gravidez (SILK et al., 2008).
03
Desmistificando o
atendimento odontológico
à gestante
Bárbara Munhoz da Cunha
Ingrid Biberg Koller
Juliana Schaia Rocha
Luciana Stadler Demenech
Maitê Barroso da Costa
Rafaela Scariot
Saulo Vinicius da Rosa
3.1 TRIMESTRE IDEAL PARA O ATENDIMENTO

A Odontologia intrauterina deve ser iniciada logo no início do


período gestacional, considerando que a gestação é composta de
três trimestres, com características fisiológicas e psicológicas
distintas. Segundo Varellis (2013), de acordo com as características
psicológicas, o primeiro trimestre - período da instabilidade emocional
- é a fase onde a gestante vai trabalhar a aceitação ou não da sua
condição. Ainda, há o fato de o excesso de sono ser uma reação
presente nesta fase, os desejos e aversões estarem relacionados ao
aspecto emocional, e as mudanças bruscas de humor e
hipersensibilidade estarem relacionadas a fatores metabólicos e
hormonais.
No segundo trimestre - período mais estável emocionalmente –
inicia-se uma fase de introspecção e passividade, no qual a gestante
começa a perceber os movimentos fetais, havendo uma melhor
aceitação da gestação, na maioria dos casos. Ocorrem alterações da
sexualidade e também a maternalização, importante para a relação
mãe e filho, com clara influência na amamentação.
O terceiro trimestre - marcado por grande ansiedade - é o período
em que afloram o temor e a insegurança por assumir novas
responsabilidades, temor do parto, e desejo de ver o filho.
Por isso, é importante que o cirurgião-dentista conheça as fases
psicológicas da gestação, o que facilitará a abordagem, permitindo o
estabelecimento de um vínculo de confiança com a gestante.
O tratamento odontológico pode ser realizado em qualquer
trimestre da gestação, embora o segundo seja o mais indicado,
justamente decorrente da maior estabilidade. No primeiro trimestre
os medicamentos devem ser evitados, pois ocorrem as principaiem
virtude das formações embriológicas, estando o feto mais suscetível
às influências teratogênicas e ao aborto. Devem ser priorizados
procedimentos profiláticos-preventivos, restauradores básicos e a
eliminação de focos infecciosos locais. No segundo trimestre o feto
encontra-se bem desenvolvido, mas não o suficiente para causar
incômodo na cadeira odontológica, por isso é considerado o melhor
período para se realizar o tratamento. Os procedimentos cirúrgicos
eletivos devem ser evitados para não submeter a gestante ao
estresse e aos riscos de bacteremia, os quais poderiam
desencadear um aborto.
No terceiro trimestre o tratamento deve ser realizado
precocemente, pois a partir do meio desse período o feto pode
comprimir a veia cava inferior, provocando hipotensão supina. A
demanda cardiovascular aumenta o ritmo respiratório, o risco de
anemia, o risco de hipertensão e de eclampsia.
A paciente gestante deve ser posicionada na cadeira com uma
pequena almofada nas costas, de maneira que a barriga fique um
pouco de lado, evitando, assim, que o bebê pressione a veia cava
inferior desencadeando hipotensão supina (VARELLIS, 2013). Se
houver tratamentos de urgência, ou que se apresente algum foco de
infecção, esses devem ser realizados imediatamente, para não haver
a chance de ocorrer a septicemia, que é teratogênica e uma das
principais causas de aborto espontâneo (BASTOS et al., 2014).

3.2 AVALIAÇÃO DOS SINAIS VITAIS EM GESTANTES

Os sinais vitais podem ser considerados os indicadores das


funções vitais, e podem orientar o diagnóstico inicial e o
acompanhamento da evolução de determinado quadro clínico da
paciente. São importantes serem aferidas temperatura, frequências
cardíaca e respiratória, e pressão arterial.
Algumas condições alteram os sinais vitais, possibilitando uma
falsa interpretação dos mesmos, como tensão, alimentação e
temperatura.
ATENÇÃO! Os equipamentos de
verificação dos sinais vitais tem que estar
corretamente calibrados!

Antes de iniciar a realização de qualquer procedimento


odontológico, os sinais vitais da gestante devem ser avaliados.

3.2.1 TEMPERATURA

A temperatura corpórea normal é entre 35,5 ºC e 37 ºC, podendo


haver variações de 0,3 ºC a 0,6 ºC na média, e ser mais elevada em
crianças e no final do dia. Quando há o aumento da temperatura
(hipertermia ou febre), deve-se atentar a doenças infecciosas, trauma
ou até mesmo ansiedade.
E, quando há diminuição da temperatura (hipotermia), pode ser
sinal de exposição ao frio ou um estado de choque hipovolêmico.
Abaixo segue uma escala de referência de temperatura:

NORMAL
TC 35,5 °C - 37 °C com
média de 36,5 °C HIPOTERMIA
TC < 35 °C
FEBRE LEVE
OU FEBRÍCULA
TC > 37 °C - 37,5 °C FEBRE MODERADA
TC > 37,5 °C - 38,5 °C
FEBRE ALTA
OU ELEVADA
TC > 38,5 °C

3.3.2 FREQUÊNCIA CARDÍACA

A frequência cardíaca (FC) ou frequência de pulso é sentida pelo


toque (Figura 1), pela pressão exercida do sangue sobre a parede do
vaso sanguíneo (artéria), e é avaliada pelo número de batimentos
cardíacos por minuto (bpm). Normalmente a FC da gestante fica
entre 60 a 100 bpm, podendo se elevar em torno de 10 a 15 bpm a
partir do sexto mês de gestação, ocasionado pela queda da
resistência periférica. O pulso (a artéria) radial é o mais utilizado para
se palpar para a avaliação da frequência cardíaca. FC >100 bpm =
taquicardia; FC < 60 bpm = bradicardia.
Figura 1. Pulso sendo tomado na artéria radial.
Fonte: http://www.universomedico.med.br/sinais-vitais/

3.2.3 PRESSÃO ARTERIAL (PA)

A pressão exercida sobre a parede do vaso sanguíneo é chamada


de pressão arterial (PA). Para aferição adequada, a gestante deverá
estar sentada, o que evita a compressão da veia cava inferior, podendo
ser utilizado o braço direito na altura do coração.
Os fatores que podem alterar os valores da PA são: posição do
paciente, atividade física e manguito inapropriado. A PA sistólica é
considerada normal quando se apresenta abaixo de 139 mmHg e a PA
diastólica abaixo de 89 mmHg. As gestantes que apresentarem valores
acima de 140/90 mmHg são consideradas hipertensas.
A seguir seguem valores de referência:

HAS I Crise
ELEVADA HAS II
HTA II

120-129/80 mmHg 130-139/80 mmHg ≥140/90 mmHg ≥180/120 mmHg

HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica Grau I e II


Crise HTA – Crise Hipertensiva
Valores segundo atualização da American Heart Association (AHA, 2017).
Quadro 1. Valores de referência da PA.

Pressão Arterial Sistólica Pressão Arterial Diastólica Frequência Cardíaca

≥ 140 ou ≤ 59 bpm em paciente


Inaudível ou abaixo de 80 ************
sintomática

≥ 140 ou ≤ 50 bpm em
≥ 160 mmHg ≥ 110 mmHg
paciente assintomática

≥140 mmHg a 159 mmHg com ≥ 90 mmHg a 109 mmHg com


91 a 139 bpm
sintomas sintomas

Abaixo de 139 mmHg Abaixo de 89 mmHg 60 a 90 bpm

Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão /


Sociedade Brasileira de Nefrologia, 2010.

3.2.4 FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA (FR)

A frequência respiratória (FR) é avaliada pelo número de inspirações


ou expirações durante um minuto seguido (movimentos respiratórios por
minuto). Deve ser realizada enquanto a paciente está em repouso e se
situa entre 12 a 20 respirações por minuto na gestante.
O objetivo da respiração é promover a troca gasosa (saída de dióxido
de carbono e entrada de oxigênio). Através da saturação parcial do
oxigênio (SPO2) é verificada a quantidade de oxigênio circulante. O valor
ideal para a SPO2 deve ser superior a 94%, atingindo um teto máximo de
99%. Qualquer valor baixo deve ser avaliado imediatamente, pois a
queda na saturação é critério para oxigenação complementar. A aferição
desse padrão pode ser feita com um oxímetro (Figura 2).
Figura 2. Oxímetro.
Fonte: http://jgmoriya.com.br/produto/oximetro-de-pulso-portatil-md300c2-md300e/

3.2.5 DOR

Considerada o “quinto sinal vital”, a dor é referida pela maioria dos


pacientes durante as consultas odontológicas, mas muitas vezes é mal
avaliada. Para melhorar a eficácia da avaliação da dor pode-se usar a
escala visual analógica (EVA), que consiste de notas de 0 a 10, sendo 0
a inexistência da dor e 10 a dor máxima.
Especificamente para as mulheres, a tabela abaixo traz uma tabela
extraída do site do Ministério da Saúde:

Tabela 1. EVA para análise subjetiva da intensidade da dor da mulher.

Fonte:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_acolhimento_classificacao_risco_obstetrici
a_2017.pdf
3.3 HORÁRIO DE ATENDIMENTO

Numa gravidez normal, náuseas e vômitos costumam surgir dentre


as cinco semanas após o último período menstrual, atingindo
intensidade máxima entre oito e 12 semanas de gestação. Geralmente,
são preconizados consultas e procedimentos curtos, de preferência na
segunda metade da manhã, quando os enjoos matinais são menos
frequentes (GIGLIO et al., 2009; HEMALATHA, 2013; MARTINS et al.,
2013).
A hipoglicemia pode levar a desmaios e isso pode ser evitado,
orientando-se a paciente para que faça um lanche leve antes do
atendimento e sejam evitadas consultas logo no início da manhã. Há
também que se considerar a importância do cuidado de evitar agendar
consultas para gestantes no mesmo horário de pacientes ou membros
da equipe doentes ou acometidos por qualquer infecção viral
(MARTINS et al., 2013).

3.4 POSIÇÃO DE ATENDIMENTO

O crescimento do útero e as mudanças hormonais durante a


gestação promovem alterações gastrointestinais, respiratórias e
cardiovasculares que podem interferir na posição de atendimento
odontológico da gestante.
O crescimento uterino promove o deslocamento do estômago para
cima, aumentando a pressão intra-gástrica, e a elevação do diafragma,
que por sua vez, reduz o volume de reserva expiratória.
O aumento da produção do estrogênio promove a dilatação dos
vasos capilares da mucosa nasofaríngea, e consequentemente maior
edema local, congestão nasal e predisposição a epistaxes. Tais
alterações fisiológicas levam a um maior desconforto e dificuldade de
respirar em posição supina (GIGLIO et al., 2009).
Recomenda-se manter a gestante posicionada o mais vertical
possível para aliviar a pressão abdominal e mantê-la confortável
(GIGLIO et al., 2009; HEMALATHA et al., 2013).
No último trimestre de gestação, o posicionamento da gestante
em posição supina e dorsal favorece a “Síndrome da Hipotensão da
Posição Supina” pela compressão da veia cava inferior. Essa situação
pode desencadear bradicardia, tontura, fraqueza, sudorese, agitação,
zumbidos, palidez, diminuição da pressão arterial e até síncope e
convulsões. A manobra de “empurrar” o útero para esquerda,
deitando a paciente para o lado esquerdo e elevando a bacia com o
auxílio de um travesseiro ou lençol dobrado é recomendada
(HEMALATHA et al., 2013; KURIEN et al., 2013) (Figura 3).

Figura 3. Posicionamento adequado da gestante na cadeira


odontológica.
Fonte: Imagens gentilmente cedidas pela mestranda em Odontologia
Clínica da Universidade Positivo, Bárbara Munhoz da Cunha, com
consentimento da paciente.
MITO OU
VERDADE? “O tratamento deve ser interrompido no
terceiro trimestre de gestação.”

MITO: Adotando-se alguns cuidados para maior conforto da paciente, o


tratamento odontológico, embora seja preferencialmente realizado no
segundo trimestre, pode ser realizado a qualquer momento
(VASCONCELOS et al., 2012).

3.5 EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO ODONTOLÓGICA

A exposição à radiação x na Odontologia é uma rotina frequente e


as pacientes gestantes e é sempre uma dúvida pertinente ao
profissional. Pode-se fazer radiografias em gestante? A resposta é
sim. Porém, a indicação correta e a real necessidade do exame devem
ser avaliadas.
Os raios x são propagações de energia através do espaço ou em
um meio material. A radiação x é uma radiação chamada ionizante,
pois em contato com a matéria, tem a capacidade de causar efeitos
biológicos no organismo, podendo ser prejudicial à formação do feto.
A Lei da Radiossensibilidade (BERGONIE; TRIBONDEAU, 1906)
determina que células menos diferenciadas, em grande atividade
mitótica, são as mais afetadas pela radiação. Para a formação do feto,
as células estão em sua atividade máxima de reprodução, em
constante mitose. Assim, o risco biológico de possíveis alterações é
aumentado.
Pode-se fazer radiografia em gestantes, desde que avaliado risco
versus benefício. Em casos de urgência, quando a paciente
apresenta dor, infecção aguda, ou ainda em traumatismos dentários,
a radiografia torna-se necessária. Alguns cuidados devem ser
tomados para uma radiografia mais segura:

Tempo/dose de exposição Evitar repetições


reduzidos, o mínimo necessário ou tentativas
para uma imagem visível. desnecessárias.

Usar posicionador radiográfico, Uso de avental plumbífero Conduta preventiva.


sempre que possível, para evitar de tamanho adequado e
repetições por erro de técnica. protetor de tireoide.

Segundo a Portaria SVS/MS n.° 453, de 1 de junho de 1998, que


aprova o regulamento técnico e estabelece as diretrizes básicas de
proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico, que
dispõe sobre o uso dos raios-x diagnósticos em todo território
nacional e dá outras providências, em casos de exposições
ocupacionais, quando a profissional e/ou auxiliar está grávida, devem
ser observados os seguintes requisitos adicionais, de modo a
proteger o embrião ou feto: a gravidez da profissional deve ser
informada ao responsável pela clínica ou serviço o mais breve
possível; as condições de trabalho devem ser reavaliadas para
garantir que a dose na região do abdômen não exceda 2 mSv
durante todo o período restante da gravidez, tornando pouco provável
que a dose adicional no embrião ou feto exceda cerca de 1 mSv
neste período.
A dose efetiva média anual não deve exceder 20 mSv em qualquer
período de cinco anos consecutivos, não podendo exceder 50 mSv
em nenhum ano (ocupacional).
A mesma Portaria ainda determina que as exposições normais a
pacientes gestantes, decorrentes de todas as práticas, devem ser
restringidas de modo que a dose efetiva anual não exceda 1 mSv. É
importante lembrar que a paciente não será submetida apenas ao
exame radiográfico odontológico, mas sim a outros exames de
diagnóstico que por ventura venham a ser requisitados em
tratamentos médicos, além da exposição diária à radiação do meio
ambiente e outras fontes.
Se o profissional indicar o exame radiográfico é porque a
importância do exame deve superar o risco para o feto. Os efeitos
biológicos decorrentes da exposição à radiação ionizante pelo feto
merecem destaque e podem ser divididos em quatro categorias: a)
óbito intrauterino; b) malformações; c) distúrbios do crescimento e
desenvolvimento; d) efeitos mutagênicos e carcinogênicos. O embrião
é mais sensível aos efeitos da radiação ionizante nas duas primeiras
semanas de gestação; durante este período, o embrião exposto à
radiação permanecerá intacto ou será reabsorvido ou abortado.
Porém, nas radiografias odontológicas, onde a área de exposição é
menor, distante da região de abdômen, os riscos são bastante
reduzidos.
MITO OU
VERDADE? “Durante a gravidez a gestante não pode ser
submetida a exame radiográfico.”
MITO: O cirurgião-dentista deve realizar o exame radiográfico quando
necessário, mesmo em gestantes, porém com cautela e proteção adequada.
Dessa forma, os riscos serão minimizados, ou quase nulos (D’IPOLLITO;
MEDEIROS, 2005).

3.6 TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA NA GESTAÇÃO

3.6.1 ANESTESIA LOCAL

MITO OU
VERDADE? ““Durante a gravidez a gestante não pode receber
anestesia local, principalmente se a solução
contiver vasoconstritor.”
MITO: Esse mito é oriundo da falta de conhecimento do cirurgião-dentista
sobre o assunto, fazendo com que as gestantes também fiquem com receio
do atendimento odontológico. A anestesia local em gestantes pode e deve ser
usada quando necessário (ANDRADE, 2014; OLIVEIRA; GONÇALVES, 2009;
RODRIGUES et al., 2017; SOARES et al., 2006).

Se utilizada a dose terapêutica, técnica e solução anestésica


corretas ela é considerada como segura em qualquer trimestre
gestacional. A dose máxima recomendada é de 2 tubetes por
atendimento, executando a técnica correta. É importante que a injeção
da solução anestésica seja realizada de forma lenta e precedida de
aspiração, evitando assim a injeção intravascular.
No Quadro 1 é apresentado um resumo das principais soluções
anestésicas e suas recomendações durante a gestação.

Quadro 1. Resumo das soluções anestésicas e suas recomendações de uso.


Adaptado da Linha Guia de Saúde Bucal – SESA (PARANÁ, 2014).
Solução Categoria
Recomendações Observações
anestésica FDA
Considerada de
Sem
primeira escolha com
Categoria evidência de Recomendada em
LIDOCAÍNA 2% adrenalina na
B risco para o gestante e lactante
concentração
feto
1:100.000 ou 1:200.000
Os efeitos deste
medicamento não
Dados obtidos de podem ser descartados
teratogenicidade em humanos, devido ao
MEPIVACAÍNA Categoria
Precaução em estudos fato de que todos os
BUPIVACAÍNA C
realizados em anestésicos locais
animais podem atravessar a
barreira e causar
depressão fetal

- Pouca Contraindicação: No Brasil não é


vasodilatação risco de produzir comercializada sem
Categoria
PRILOCAÍNA - Pode ser metemoglobinemia, vasocontritor
B
utilizada sem ocasionando (associada à
vasoconstritor quadro de cianose felipressina)

A solução anestésica que apresenta maior


segurança é a lidocaína 2% com adrenalina
(1:100.000) (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2009;
RODRIGUES et al., 2017; SOARES et al., 2006).

Além disso, sua metabolização primária ocorre no fígado, e no


feto existe uma imaturidade do sistema hepático, podendo dificultar
a metabolização desta solução (RODRIGUES et al., 2017).
O uso da solução anestésica prilocaína com felipressina deve
ser evitada. A prilocaína pode causar a metemoglobimemia, uma
alteração hematológica em que a hemoglobina é oxidada e impede o
transporte de oxigênio para os tecidos. Já a felipressina tem uma
ação semelhante à ocitocina e pode causar contração uterina que
podem induzir aborto espontâneo e parto prematuro (MICHALOWICZ
et al., 2008; RODRIGUES et al., 2017; SOARES et al., 2006).
Quanto ao uso de vasoconstritor, sabe-se que a quantidade de
adrenalina liberada pelo organismo em uma situação de estresse é
muito maior do que a de um tubete anestésico (Quadro 2). Como por
exemplo, em um caso em que a dor foi mal controlada durante o
atendimento odontológico, seja porque o profissional optou por não
usar anestésico ou usou uma solução sem vasoconstritor e seu efeito
anestésico passou rapidamente, a quantidade de adrenalina
endógena injetada no organismo é de aproximadamente 280 μg por
minuto.
Se utilizada uma solução anestésica com adrenalina 1:100.000,
respeitando a dose máxima recomendada de 2 tubetes, apenas 36 μg
(18 μg x 2) serão injetados, fora do vaso sanguíneo.
Quadro 2. Quantidade de adrenalina liberada no organismo em uma situação
de estresse e durante a anestesia local.

Adrenalina* Noradrenalina**

Secreção da suprarrenal em repouso 7 μg/min 1,5 μg/min


Estresse 280 μg/min 56 μg/min
Tubete anestésico (1:100.000*/1:50.000**) 18 μg/tubete 36 μg/tubete

Fonte: Adaptado de MALAMED (2013).

É importante ressaltar que o vasoconstritor noradrenalina deve


ser evitado, pois pode causas complicações neurológicas e
cardiovasculares (RODRIGUES et al., 2017).
3.6.2 PRESCRIÇÃO DE ANTIBIÓTICOS, ANTI-INFLAMATÓRIOS
E ANALGÉSICOS

Apesar da escolha da utilização de medicamentos em gestantes


ser delicada, em muitas situações, como nos casos de infecções, os
medicamentos são necessários para o bem-estar da mãe e do feto.
É necessário que o cirurgião-dentista prescreva de forma adequada
durante esse período, visto que cerca de 3% das malformações
fetais ainda são provocadas pelo uso indevido de medicamentos
durante a gravidez, principalmente quando estes são administrados
no primeiro trimestre (ŠTEFAN; VOJTĚCH, 2018). O ideal é que
procedimentos eletivos sejam adiados para após o parto e após o
período de lactação, ou caso necessário, após o primeiro trimestre e
antes do último trimestre de gestação.
O cirurgião-dentista deve considerar cuidadosamente a relação
entre benefício e risco, quando indica o uso de antibióticos para
gestantes. Antibióticos como penicilinas são a primeira escolha em
caso de infecções dentárias. Em pacientes alérgicos, os macrolídeos
podem ser uma alternativa. Sendo assim, pode-se utilizar com
segurança a amoxicilina (Amoxil®), benzilpenicilina, benzatina
(Benzetacil®), eritromicina (Pantomicina®), e fenoximetilpenicilina
potássica (Pen-Ve-Oral®) (AMADEI et al., 2011; ARMONIA;
TORTAMANO, 2006).
As tetraciclinas, quando administradas até a segunda metade da
gravidez causam hipoplasia dos dentes e dos ossos do feto além de
serem associadas à ocorrência de cataratas congênitas (YAGIELA,
2000). O metronidazol, amplamente utilizado na Odontologia,
também deve ser evitado na gravidez pelo seu potencial teratogênico
(AMADEI et al., 2011; FUCS et al., 2006).
No tocante a anti-inflamatórios e analgésicos, sabe-se que os
anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) causam a inibição da
síntese de prostaglandinas, o que pode levar a um período
gestacional prolongado e a um trabalho de parto prolongado
(anormalmente lento), além da diminuição da função plaquetária que
pode aumentar o risco de sangramento materno e fetal prolongado
(REBORDOSA et al., 2009). De forma geral, todos os AINE podem
levar à hemorragia ou complicações no parto e, portanto, devem ser
evitados, assim como o ácido acetilsalicílico (AAS). Essa classe de
medicamentos deve ser administrada na gravidez somente se os
benefícios maternos superarem os riscos fetais em potencial, com a
menor dose eficaz e a menor duração possível. Se for necessária a
utilização de um desses fármacos durante a gravidez, o ibuprofeno,
antes do terceiro trimestre, e em pequenas doses, é provavelmente o
mais seguro (AMADEI et al., 2011).
A Aspirina® inclusive, demonstrou ser eficiente na prevenção de
pré-eclâmpsia, porém seu uso na gravidez não deve exceder as
doses diárias de 100 mg, visto que há evidência de que, em doses
elevadas, o AAS pode causar efeitos teratogênicos (BELHOMME et
al., 2017; TONUCCI et al., 2012; YAGIELA, 2000).
O paracetamol (Tylenol®) é o analgésico de escolha no
tratamento da dor no pós-operatório. Além disso sua natureza
benigna durante a gravidez já foi demonstrada (FELDKAMP et al.,
2010). A dipirona sódica (Novalgina®) é o analgésico de segunda
escolha. Quando existe a necessidade de um maior controle
analgésico, os analgésicos opioides são a próxima linha de
tratamento. Contudo, o clínico deve comparar riscos e benefícios,
visto que essa classe de medicamento aumenta o risco de um
recém-nascido com síndrome de abstinência neonatal (LAUGHTER;
CLOSSMAN, 2016). A oxicodona, quando necessária, pode ser
usada com relativa segurança, sendo da categoria de baixo risco
(DESAI et al., 2015). Todos os opioides devem ser usados com
cuidado e indicação bem avaliada, levando em conta também o alto
risco de dependência física fetal ao nascimento.
04
Importância do pré-natal
odontológico
Carolina Dea Bruzamolin
Erika Calvano Küchler
Isabela Ribeiro Madalena
Juliana Schaia Rocha
Pablo Guilherme Caldarelli
Saulo Vinicius da Rosa
4.1. CONHECIMENTO DAS GESTANTES SOBRE SAÚDE BUCAL -
A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA A
SUPERAÇÃO DE BARREIRAS

Como visto nos tópicos “Alterações fisiológicas no período


gestacional” e “Desmistificando o atendimento odontológico à
gestante”, a gestante tem um maior risco para o desenvolvimento de
doenças bucais durante esse período, seja por mudanças
comportamentais associadas a alterações fisiológicas ou por mitos e
crenças arraigadas na sociedade. Estes mitos e crenças estão
relacionados à segurança do atendimento odontológico e por doenças
bucais serem consideradas normais durante a gestação (ROCHA et
al., 2018a; 2018b).
Sendo assim, apesar de ser importante que a futura mãe saiba
dos primeiros cuidados com a saúde bucal do seu bebê, as
intervenções durante o pré-natal odontológico devem ser
centradas na gestante, com foco nos cuidados com sua saúde bucal
durante a gestação (ORSI, 2017; VAMOS et al., 2015). As consultas
do pré-natal odontológico devem ser um momento de aprendizado
para promoção do autocuidado e transformador da mesma como
agente multiplicador de saúde, pois a gestante que será a modeladora
de hábitos para toda a família (BOGGESS et al., 2010; REIS et al.,
2010).
Deve-se instituir um protocolo em que a educação em saúde
seja preconizada durante todas as etapas do atendimento (Figura
1), com diálogo e troca de conhecimentos (ORSI, 2017). As técnicas
educativas utilizadas devem estimular uma maior autonomia e
empoderamento dos pacientes, com abordagens problematizadoras
que envolvam a paciente durante em todo o processo, podendo ser
utilizados materiais educativos de apoio (CALDARELLI et al., 2019;
SÃO PAULO, 1997).
As consultas também devem ser fundamentadas na
humanização do atendimento (SÃO PAULO, 1997), com o
acolhimento e vínculo do paciente, estimulando a confiança entre a
mesma e o profissional de saúde, tendo por objetivo aumentar a
adesão das gestantes e promover o autocuidado (ORSI, 2017).
A atenção integral a gestante com o pré-natal odontológico irá
trazer maior conforto e segurança no momento do atendimento
odontológico durante a gestação, além de que se for necessária
alguma intervenção mais invasiva na cavidade bucal, a gestante irá
receber toda assistência de imediato proporcionando uma gestação
saudável e de qualidade, para ela e para o bebê.
PRIMEIRA Preenchimento da ficha
CONSULTA clínica
Exame Clínico

SEGUNDA Educação em Saúde


CONSULTA Evidenciação de Biofilme
Orientação de higiene
Profilaxia
ACOLHIMENTO
E VÍNCULO
CONSULTAS De acordo com as
SUBSEQUENTES necessidades da gestante
Motivação e esclarecimento
de dúvidas

ENCAMINHAMENTOS

ÚLTIMA Programação do retorno


CONSULTA Reavaliação da higiene
Educação em saúde

Figura 1. Protocolo das etapas do atendimento à gestante.


Fonte: Adaptado de ORSI, 2017.
4.2. HIGIENE BUCAL DA MÃE

Durante o período gestacional a cavidade bucal pode sofrer


alterações que tornam a mulher mais suscetível às doenças bucais
(FIGUERO et al., 2013; VERGNES et al., 2013). Evidências
científicas apontam uma alta prevalência de alterações periodontais
(FIGUERO et al., 2013) e de cárie dentária (RAKCHANOK et al.,
2010) neste grupo populacional. Na perspectiva da promoção da
saúde e prevenção das doenças bucais, é de fundamental
importância que a gestante realize, principalmente nesse período,
uma boa higiene bucal. Para isso se recomenda:
Acompanhamento com cirurgião-dentista para orientação,
promoção da saúde e prevenção de doenças bucais desde o início da
gestação;
Escovação dentária, de duas a três vezes ao dia, com dentifrício
fluoretado, contendo pelo menos 1000 ppm de flúor;
Utilização de fio ou fita dental para desorganização do biofilme
interdental;
Higienização da língua.

A orientação de higiene bucal deve ser rotina na vida da gestante


durante este período e após a gestação. O hábito de higienização da
boca será transmitido de mãe para filho, por isso uma orientação com
cuidado e atenção, será um fator de prevenção para o
desenvolvimento de doenças bucais na boca do bebê.
Em relação às gestantes com risco e atividade de cárie
dentária, outras formas de utilização de fluoretos podem ser
empregadas, como os meios profissionais para o controle da
doença. Dentre eles destacam-se: as soluções para bochechos,
géis, espumas, vernizes e associações de meios. Torna-se
importante ressaltar que, independentemente da forma de utilização,
todos esses meios aumentam a concentração de flúor na cavidade
bucal para interferir no processo de des e remineralização da
estrutura dentária (TENUTA; CURY, 2016).

O FLÚOR NÃO EVITA A CÁRIE DENTÁRIA!

Como o flúor não interfere com os fatores etiológicos da doença, por


exemplo, o acúmulo de bactérias sobre os dentes e a fermentação de
açúcares em ácidos, ele apenas reduz/controla a manifestação (sinais) da
doença.

Nos produtos de aplicação profissional encontra-se uma


alternativa para tentar compensar o não auto uso ou a deficiência em
medidas preventivas dos pacientes (CURY; TENUTA, 2015). A
utilização desses produtos é extremamente apropriada em termos
da atenção de acordo com as necessidades. Dessa maneira, a
utilização de meios de aplicação profissional de flúor, com
efetividade comprovada por estudos clínicos controlados (MARINHO
et al., 2003), deve ser vista como um meio complementar ao uso de
flúor pelos pacientes a partir da água e dentifrício fluoretados
(CURY; TENUTA, 2015).
NÃO EXISTE UM PROTOCOLO UNIVERSAL PARA APLICAÇÃO
TÓPICA DE FLUORETOS!
Cabe ao cirurgião-dentista utilizar os produtos de aplicação profissional
de flúor da forma que melhor atenda às necessidades da gestante ou as
possibilidades de utilização na sua comunidade.

Por fim, a equipe de saúde bucal é responsável pelo pré-natal


odontológico. Nas consultas, a gestante deve receber orientações
sobre higiene bucal, com ênfase no controle do biofilme, orientações
sobre dieta e a necessidade do controle de suas doenças bucais
(CALDARELLI et al., 2019). Para tanto, é importante considerar uma
avaliação da saúde bucal da paciente já na primeira consulta do pré-
natal e os problemas detectados devem ser resolvidos gradualmente
(MOIMAZ; SALIBA; GARBIN, 2009).

4.3 HIGIENE BUCAL DO BEBÊ

A saúde bucal infantil é o alicerce sobre o qual a educação


preventiva e o atendimento odontológico deverão ser construídos para
aumentar a oportunidade de uma criança ter uma vida livre de
doenças bucais evitáveis (ABO, 2013; AAPD, 2017). Nesse cenário,
acredita-se que uma das ferramentas mais importantes que o
cirurgião-dentista e o odontopediatra dispõem para auxiliar na
construção de uma vida livre de doenças bucais é a conscientização
dos pais a respeito da saúde bucal do bebê.
Desta forma, esse capítulo baseado em evidências científicas
recentes tem como objetivo principal oferecer informações sobre a
higiene bucal em bebês, evitando o aparecimento de doenças bucais.

4.3.1. HIGIENE BUCAL DO BEBÊ EDÊNTULO

Inicialmente, é válido ressaltar que a cavidade edêntula do bebê


não possui nichos para retenção do biofilme desencadeantes de cárie
e doença periodontal. Desta forma, não há na literatura, evidências
científicas suficientes que suportem a indicação de higienização bucal
em bebês (CORREA, 2017). Contudo, sob o ponto de vista
motivacional, a dessensibilização da cavidade bucal do bebê é
recomendada com objetivo principal de formação de hábitos e
estreitamento de vínculo afetivo com o cuidador (WALTER, 2014). A
massagem gengival pode ser realizada com lenços, gazes ou fraldas
umedecidas em água filtrada ou soro fisiológico, substâncias inertes a
mucosa bucal do bebê (CORREA, 2017). O cuidador previamente
instruído, deve envolver o dedo indicador em gaze e massagear
inicialmente os rodetes gengivais, superior e inferior, e finalizar com o
movimento giratório posicionando o dedo indicador no palato e
transcorrendo no comprimento da língua (Figura 1A - D).
A massagem gengival pode ser especialmente recomendada após
a última mamada, evitando a estagnação do leite na cavidade bucal,
principalmente em bebês que fazem uso da formula infantil (WALTER,
2014).
Outro dispositivo que também pode ser usado para fins de
dessensibilização da cavidade bucal do bebê são as dedeiras de
silicone. Apesar de possuir cerdas não tem objetivo de limpeza nesta
etapa de desenvolvimento do bebê.

Figura 1. Higienização da cavidade bucal do bebê com auxílio de gaze.


Fonte: Imagens gentilmente cedidas pelo Departamento de Clínica Infantil da
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP)
realizadas pela Dra. Renata Rizental Delgado e Dra. Isabela Ribeiro Madalena.

Massagear os
rodetes gengivais,
superior e inferior, e
Água filtrada ou finalizar com o
Lenços, gazes ou soro fisiológico ou movimento giratório
fraldas umedecidas substâncias inertes posicionando o dedo
a mucosa do bebê indicador no palato e
transcorrendo no
comprimento da
língua

4.3.2. HIGIENE BUCAL DO BEBÊ DENTADO

Quando há emergência gengival dos dentes decíduos, por volta


dos 6 a 8 meses de idade, é importante que os pais ou responsáveis
sejam instruídos quanto às mudanças de todo ecossistema bucal
(CORREA, 2017).
Segundo as normativas oriundas da ABO (2013) e AAPD (2019),
recomenda-se que o indivíduo seja inserido em um “lar odontológico”
até os 12 meses de idade. Crianças que possuem um “lar
odontológico” precoce têm maior probabilidade de receber cuidados
de saúde bucal preventivos e de rotina apropriados, melhorando
assim os conhecimentos e práticas de saúde bucal das famílias,
especialmente em crianças com alto risco de cárie na primeira
infância (THOMPSON; MC CANN; SCHNEIDERMAN, 2017). Nesse
cenário, logo após a emergência gengival, cuidados quanto à
higienização mecanizada, realizada também com uso de
coadjuvantes químicos precisam ser esclarecidos (ABO, 2013;
AAPD, 2016; CORREA, 2017).
A higienização bucal do bebê deve ser realizada pelos pais,
responsáveis e/ou cuidadores, a partir do primeiro dente decíduo,
com escova dental, dentifrício fluoretado e fio dental (ABO, 2013;
AAPD, 2016). No mercado odontológico nacional atual, inúmeras
escovas destinadas exclusivamente para uso em bebês, de acordo
com a idade, podem ser encontradas. Assim, é importante que o
profissional saiba características essencialmente necessárias em
uma escova dental para correta indicação, tendo em vista que o
poder aquisitivo da família que o recorre pode influenciar na escolha
em adotar ou não, as orientações dadas pelo profissional.
Segundo a Associação Dentária Americana (ADA, 2015), a
escova ideal, destinada a bebês deve apresentar as características
sumarizadas na tabela 1.
Contudo, em termos práticos, devem ser leves, de fácil limpeza,
impermeáveis à umidade, de baixo custo, duráveis e eficientes. É
importante ressaltar que o profissional deve esclarecer aos pais e/ou
responsáveis, que a escova dental deve ser utilizada de acordo com
o tamanho da cavidade bucal do bebê e possuir cerdas macias ou
extra macias, para evitar desgastes excessivos, irritação da mucosa
e rejeição.
Tabela 1. Características ideais de escovas dentais destinadas a bebês.

CABO Longo (média de 10 a 13cm)


HASTE INTERMEDIÁRIO Reta
Situada no mesmo eixo da haste;
Cabeça pequena (média de 1 a 1,5cm, suficiente para cobrir
CABEÇA 2 a 3 dentes adjacentes);
Conter de 2 a 3 fileiras de tufos (sentido horizontal);
Conter 6 a 8 fileiras de tufos (sentido vertical).
Cerdas que possuam tufos com mesmo comprimento;
Constituídas de cerdas sintéticas ou de náilon;
CERDAS
Possuir durabilidade, flexibilidade, elasticidade e rigidez
suficiente para não provocar alterações nos tecidos bucais.

Logo após o esclarecimento sobre a escova dental ideal, também


é válido informar aos pais e responsáveis pelo bebê, que a
escovação é fundamental para a introdução de hábitos saudáveis e
promoção da saúde bucal e geral. Desta forma, estratégias que
motivem o núcleo familiar devem ser inseridas de acordo com a
realidade do paciente.
Ademais, para que o momento da higienização bucal seja
confortável para os ambos, pais, responsáveis e/ou cuidadores e o
bebê, a literatura aponta que a técnica de Fones apresenta resultados
mais promissores, devido à simplicidade e fácil execução (CORREA,
2017). A técnica é realizada a partir de movimentos circulares em todas
as faces dos dentes, com exceção dos bordos incisais e oclusais, nas
quais, movimentos anteroposteriores devem ser realizados (FONES,
1934).
Outro conteúdo fundamental e que, atualmente gera uma
preocupação grande nos pais e/ou responsáveis, é quanto à utilização
de dentifrício fluoretado. O uso do dentifrício fluoretado é recomendado
há mais de 50 anos para auxiliar na prevenção da doença cárie
dentária (MARTINEZ-MIER et al., 2019; TOUMBA et al., 2019;
WRIGHT et al., 2014). Todavia, as recomendações acerca de sua
utilização em bebês e crianças, sofreram algumas modificações
durante esse período. Medidas foram tomadas com intuito de
maximizar o efeito preventivo da doença cárie e minimizar o risco de
fluorose dentária (WRIGHT et al., 2014). A justificativa para sua
indicação se baseia principalmente em uma estratégia de saúde
pública para controle da doença cárie dentária (O'MULLANE et al.,
2016).
No Brasil, apesar do declínio da doença na dentição permanente
(GIMENEZ et al., 2016), quando analisada na primeira infância,
acomete mais de 600 milhões de crianças no mundo e permanecem
praticamente sem tratamento (TINANOFF et al., 2019). Dessa forma,
conforme as orientações atuais da ABO (2013) e AAPD (2016), o uso
do dentifrício fluoretado, a partir de 1000 ppm de F (partes por milhão
de flúor) é recomendado desde a erupção do primeiro dente decíduo.

Figura 2. Quantidade ideal de dentifrício fluoretado de acordo com a idade.


Na imagem A, nota-se a quantidade recomendada para bebês menores de
3 anos de idade. Na imagem B, nota-se a quantidade recomendada para
bebês maiores de 3 anos de idade.
Fonte: Imagens gentilmente cedidas pelo Departamento de Clínica Infantil da Faculdade
de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP) realizadas pela
Dra. Renata Rizental Delgado e Dra. Isabela Ribeiro Madalena.

Diversos estudos clínicos demonstram um controle efetivo da cárie


quando a concentração de no mínimo 1000 ppm de F é instituída
(CURY; TENUTA, 2014; TWETMAN et al., 2003). Para crianças
menores de 3 anos de idade, recomenda-se uma quantidade
equivalente a um “grão de arroz” (aproximadamente 0,1 mg de
fluoreto), e para acima dessa idade, uma quantidade equivalente a
um “grão de ervilha” (aproximadamente 0,25 mg de fluoreto) (Figura
2) (ABO, 2013; AAPD, 2018).
Os cuidadores devem distribuir dentifrício de forma que seja inserido
entre as cerdas e não sobre elas. Tal manobra reduz o risco de o
produto ser lambido ou ingerido pelo bebê (CORREA, 2017).
Ademais, a escovação deve ser praticada duas vezes ao dia, de
preferência de manhã e à noite (ABO, 2013; AAPD, 2016). Aconselha-
se que se inicie pelas superfícies oclusais superiores, a fim de gerar
espuma e garantir o uso do produto, pois quando as superfícies
oclusais inferiores são escovadas há uma tendência de deglutição
(CORREA, 2017).
Outro aspecto fundamental para prevenção da doença cárie em
bebês é o uso fio dental para higienização das superfícies proximais
(ABO, 2013; AAPD, 2016). Esse hábito deve ser incentivado desde a
época de emergência gengival de dentes adjacentes afim de se
construir hábitos saudáveis. Considerando que o uso do fio dental
requer uma certa habilidade manual, muitos pais e cuidadores usam
esse fato como justificativa para não aderirem à essa recomendação.
Assim, o odontopediatra e o cirurgião-dentista podem orientar quanto
às posições que favorecem a visualização da cavidade bucal e
também, na possibilidade de utilização de dispositivos criados
recentemente, para facilitar a introdução desse novo hábito (Figura 3).
Figura 3. Dispositivos que podem auxiliar na comodidade de pais,
responsáveis e cuidadores quando a inserção e utilização do hábito
de higienização com fio dental.
Fonte: Imagens gentilmente cedidas pelo Departamento de Clínica Infantil da
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP)
realizadas pela Dra. Renata Rizental Delgado e Dra. Isabela Ribeiro Madalena.
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