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Fisiologia – Medicina UFG

Núcleo Universitário Cristão 1

FISIOLOGIA
2º Período Medicina UFG
Sumário
FISIOLOGIA CARDÍACA ....................................................................................................................... 7

ELETROFISIOLOGIA CARDÍACA ............................................................................................................... 8

O CORAÇÃO ....................................................................................................................................................... 8
SISTEMA DE CONDUÇÃO INTRÍNSECO DO CORAÇÃO .................................................................................................. 10
POTENCIAIS CARDÍACOS ...................................................................................................................................... 11
Potencial de ação do cardiomiócito ........................................................................................................ 12
Potencial de ação nodal .......................................................................................................................... 14

CONTROLE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA ................................................................................................ 16

ESTIMULAÇÃO SIMPÁTICA E TAQUICARDIA .............................................................................................................. 16


ESTIMULAÇÃO PARASSIMPÁTICA E BRADICARDIA...................................................................................................... 17

DINÂMICA DE CONTRAÇÃO E RELAXAMENTO DO MIOCÁRDIO.............................................................. 20

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CONTRAÇÃO DO MIOCÁRDIO ............................................................................................................................... 20


RELAXAMENTO DO MIOCÁRDIO ............................................................................................................................ 20
PARTICIPAÇÃO DA FOSFOLAMBAN......................................................................................................................... 21

CICLO CARDÍACO ................................................................................................................................. 23

VARIAÇÕES DE PARÂMETROS DURANTE O CICLO CARDÍACO ........................................................................................ 23


Atividade elétrica do coração .................................................................................................................. 25
Pressões do coração ................................................................................................................................ 26
Volume do ventrículo esquerdo ............................................................................................................... 27
Análise conjuntural dos parâmetros de um ciclo cardíaco ..................................................................... 29
RELAÇÃO ENTRE VOLUME E PRESSÃO NO CICLO CARDÍACO ......................................................................................... 32
Variações da relação entre volume e pressão......................................................................................... 33

REGULAÇÃO DA FUNÇÃO CARDÍACA .................................................................................................... 36

DÉBITO CARDÍACO (DC) ..................................................................................................................................... 36


SITUAÇÕES DE CONTROLE AUTONÔMICO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA (FC) .................................................................... 36
Reflexo barorreceptor.............................................................................................................................. 40
Reflexo de Bainbridge.............................................................................................................................. 41
Influência da respiração .......................................................................................................................... 43
Reflexo quimiorreceptor .......................................................................................................................... 44
SITUAÇÕES DE CONTROLE AUTONÔMICO DO VOLUME SISTÓLICO (VS) ......................................................................... 45
Alteração da contratilidade cardíaca ...................................................................................................... 46
Alteração da pré-carga............................................................................................................................ 49
Alteração da pós-carga ........................................................................................................................... 49
Alteração da frequência cardíaca ........................................................................................................... 49

CIRCULAÇÃO CORONARIANA ............................................................................................................... 51

MECANISMOS DE CONTROLE DO FLUXO CORONARIANO ............................................................................................ 52


Fatores físicos que influenciam o fluxo coronariano ............................................................................... 53
Fatores neurais e neuro-humorais que influenciam o fluxo coronariano ............................................... 56
Fatores metabólicos que influenciam o fluxo coronariano ..................................................................... 56

MICROCIRCULAÇÃO ............................................................................................................................ 57

REGULAÇÃO DO FLUXO SANGUÍNEO NA MICROCIRCULAÇÃO ....................................................................................... 58


Regulação metabólica ............................................................................................................................. 58
Regulação endotelial ativa ...................................................................................................................... 60
TROCA TRANSCAPILAR ........................................................................................................................................ 61
Equilíbrio de Starling ............................................................................................................................... 63

HEMODINÂMICA ................................................................................................................................. 65

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VASOS SANGUÍNEOS ARTERIAIS ............................................................................................................................ 65


VARIAÇÃO DA PRESSÃO SANGUÍNEA NA CIRCULAÇÃO................................................................................................ 66
PARÂMETROS IMPORTANTES EM HEMODINÂMICA ................................................................................................... 68
Lei de Poiseuille ....................................................................................................................................... 70
MEDIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL .......................................................................................................................... 71
Método auscultatório .............................................................................................................................. 71
FLUXO LAMINAR DO SANGUE ............................................................................................................................... 73
RETORNO VENOSO............................................................................................................................................. 76

ELETROCARDIOGRAFIA ........................................................................................................................ 79

Registro eletrocardiográfico na segunda derivação ............................................................................... 85

CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL ....................................................................................................... 89

REGULAÇÃO DA PA A CURTO PRAZO ..................................................................................................................... 89


Regulação da PA pelo SNA simpático ...................................................................................................... 90
Regulação da PA pelo SNA parassimpático............................................................................................. 94
AFERÊNCIAS PARA A REGULAÇÃO DA PA A CURTO PRAZO .......................................................................................... 95
Barorreceptores ....................................................................................................................................... 96
Quimiorreceptores................................................................................................................................... 98
Receptores cardiopulmonares ................................................................................................................. 99
REGULAÇÃO DA PA A LONGO PRAZO ................................................................................................................... 100
Sistema rim-líquidos corporais .............................................................................................................. 100
Sistema renina-angiotensina-aldosterona ............................................................................................ 104

FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA ............................................................................................................106

VENTILAÇÃO PULMONAR ...................................................................................................................107

DINÂMICA PRESSÓRICA DA VENTILAÇÃO............................................................................................................... 110


Dinâmica pressórica alveolar ................................................................................................................ 113
Histerese ................................................................................................................................................ 114
DINÂMICA VOLUMÉTRICA DA VENTILAÇÃO ........................................................................................................... 117
Espaço morto ......................................................................................................................................... 118

TROCAS GASOSAS ..............................................................................................................................121

CARACTERÍSTICAS DO AR CIRCULANTE NAS VIAS RESPIRATÓRIAS ................................................................................ 122


VENTILAÇÃO ALVEOLAR .................................................................................................................................... 123
Difusão de O2 ......................................................................................................................................... 123
Difusão de CO2 ....................................................................................................................................... 125
HEMATOSE .................................................................................................................................................... 126
OXIGENAÇÃO ................................................................................................................................................. 128

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REMOÇÃO DE CO2 .......................................................................................................................................... 131

TRANSPORTE DE GASES ......................................................................................................................133

TRANSPORTE DE O2 ......................................................................................................................................... 133


TRANSPORTE DE CO2 ....................................................................................................................................... 135

REGULAÇÃO DA VENTILAÇÃO PULMONAR ..........................................................................................137

CENTRO RESPIRATÓRIO..................................................................................................................................... 137


CENTRO PNEUMOTÁXICO .................................................................................................................................. 139
AFERÊNCIAS PARA A REGULAÇÃO DA VENTILAÇÃO .................................................................................................. 139

FISIOLOGIA DIGESTÓRIA ................................................................................................................142

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO TRATO DIGESTÓRIO ..............................................................................143

CONTROLE DO SISTEMA DIGESTÓRIO ................................................................................................................... 143


Controle nervoso ................................................................................................................................... 143
Controle hormonal................................................................................................................................. 146

MOTILIDADE DO TRATO GASTROINTESTINAL.......................................................................................148

CAMADA MUSCULAR DA PAREDE DIGESTÓRIA ....................................................................................................... 148


INGESTÃO E MASTIGAÇÃO ................................................................................................................................. 152
DEGLUTIÇÃO .................................................................................................................................................. 152
FUNÇÕES MOTORAS DO ESTÔMAGO.................................................................................................................... 155
Armazenamento .................................................................................................................................... 155
Mistura e propulsão .............................................................................................................................. 156
Esvaziamento gástrico........................................................................................................................... 157
Reflexo do vômito .................................................................................................................................. 161
FUNÇÕES MOTORAS DO INTESTINO DELGADO........................................................................................................ 162
FUNÇÕES MOTORAS DO INTESTINO GROSSO ......................................................................................................... 163
Reflexo de defecação............................................................................................................................. 164
REGULAÇÃO DA MOTILIDADE DO TRATO GASTROINTESTINAL .................................................................................... 165

SECREÇÕES EXÓCRINAS DO TRATO GASTROINTESTINAL.......................................................................166

MECANISMOS BÁSICOS DE SECREÇÃO DAS CÉLULAS GLANDULARES ............................................................................ 167


SECREÇÃO DE SALIVA........................................................................................................................................ 168
Controle da secreção salivar ................................................................................................................. 169
Produção da saliva ................................................................................................................................ 171
SECREÇÃO ESOFÁGICA ...................................................................................................................................... 175
SECREÇÃO GÁSTRICA ........................................................................................................................................ 175
Produção da secreção gástrica.............................................................................................................. 176

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Controle da secreção gástrica ............................................................................................................... 178


Fases da secreção gástrica .................................................................................................................... 179
SECREÇÃO PANCREÁTICA................................................................................................................................... 180
Produção da secreção pancreática ....................................................................................................... 181
Controle da secreção pancreática ......................................................................................................... 183
Fases da secreção pancreática .............................................................................................................. 183
SECREÇÃO HEPÁTICA ........................................................................................................................................ 184
Secreção da bile ..................................................................................................................................... 185
Controle da secreção hepática .............................................................................................................. 186
Vesícula biliar ........................................................................................................................................ 186
SECREÇÃO ENTÉRICA ........................................................................................................................................ 186
SECREÇÃO DO INTESTINO GROSSO ...................................................................................................................... 187

DIGESTÃO E ABSORÇÃO ......................................................................................................................188

ELETRÓLITOS E ÁGUA ....................................................................................................................................... 188


CARBOIDRATOS ............................................................................................................................................... 193
PROTEÍNAS..................................................................................................................................................... 194
GORDURAS .................................................................................................................................................... 195
ABSORÇÃO NO INTESTINO GROSSO ..................................................................................................................... 197

FISIOLOGIA RENAL ..........................................................................................................................198

RINS...................................................................................................................................................199

FILTRAÇÃO ..................................................................................................................................................... 205


Mecanismos intrínsecos de regulação da filtração ............................................................................... 207
Mecanismos extrínsecos da regulação da filtração .............................................................................. 209
REABSORÇÃO E SECREÇÃO................................................................................................................................. 211
CLEARANCE RENAL........................................................................................................................................... 213

FUNÇÃO TUBULAR .............................................................................................................................214

REABSORÇÃO DE ÁGUA E SÓDIO ......................................................................................................................... 214


Detalhes da reabsorção de sódio .......................................................................................................... 214
Detalhas da reabsorção de água........................................................................................................... 219
Controle hormonal da reabsorção de sódio e água .............................................................................. 219
SECREÇÃO DE ÍONS .......................................................................................................................................... 220
DIURÉTICOS ................................................................................................................................................... 222
RESUMO DA FUNÇÃO TUBULAR .......................................................................................................................... 224

CONTROLE DA OSMOLARIDADE E VOLUME DOS FLUIDOS CORPORAIS .................................................225

SITUAÇÕES DE VARIAÇÃO DE VOLUME/OSMOLARIDADE DOS COMPARTIMENTOS .......................................................... 226

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Perda de solução isotônica .................................................................................................................... 230


Ganho de solução isotônica................................................................................................................... 231
Ganho de água pura (solução hipotônica) ............................................................................................ 232
Perda de água pura (solução hipotônica) ............................................................................................. 233
Ganho de sódio (solução hipertônica) ................................................................................................... 234
Perda de sódio (solução hipertônica) .................................................................................................... 235
RESUMO DOS DISTÚRBIOS DOS LÍQUIDOS CORPÓREOS ............................................................................................ 235
TIPOS DE DESIDRATAÇÃO .................................................................................................................................. 236
MECANISMOS DE AJUSTE DE VOLUME E OSMOLARIDADE ......................................................................................... 237
Hormônio antidiurético ......................................................................................................................... 237
Sistema renina-angiotensina-aldosterona ............................................................................................ 239
Peptídeo natriurético atrial ................................................................................................................... 240

CONCENTRAÇÃO E DILUIÇÃO DA URINA ..............................................................................................242

CONCENTRAÇÃO DO INTERSTÍCIO RENAL .............................................................................................................. 243


HOMEOSTASE DE POTÁSSIO ............................................................................................................................... 245

REGULAÇÃO RENAL DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE ................................................................................247

CONTROLE DO PH DOS FLUIDOS CORPORAIS ......................................................................................................... 248


OBS ............................................................................................................................................................. 248
SISTEMA RENAL DE CONTROLE DO PH .................................................................................................................. 249

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FISIOLOGIA
CARDÍACA

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Eletrofisiologia cardíaca
• A circulação corporal se processa em dois circuitos:
o Circulação sistêmica, de alta pressão;
o Circulação pulmonar, de baixa pressão.

O coração
• O coração é um órgão composto de quatro câmaras, responsáveis por bombear o
sangue nas duas circulações. O funcionamento básico do coração é o seguinte:

Figura 1: Circulação do sangue no organismo humano.


o O sangue venoso chega ao átrio direito pelas veias cavas;
o O átrio direito transfere sangue ao ventrículo direito pela válvula
tricúspide;
o O ventrículo direito bombeia o sangue venoso pelas artérias pulmonares
até os pulmões para ser oxigenado;

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o O sangue arterial advindo dos pulmões chega ao átrio esquerdo pelas


veias pulmonares;
o O átrio esquerdo transfere sangue ao ventrículo esquerdo pela válvula
mitral;
o O ventrículo esquerdo bombeia sangue arterial aos demais órgãos e tecidos
corporais;
o O sangue arterial transfere oxigênio a esses órgãos e tecidos e então é
retornado ao coração, agora como sangue venoso, pelas veias cavas.
• O coração é composto basicamente de tecido muscular cardíaco (cujas células são
cardiomiócitos), que, por sua vez, é subdividido em:
o Músculo atrial;
o Músculo ventricular, mais forte do que o músculo atrial;
o Fibras musculares especializadas excitatórias e condutoras, compondo o
sistema de Purkinje.
• O coração possui quatro propriedades importantes:
o Automatismo (ou cronotropismo; cronos = tempo): o coração funciona
involuntariamente sem estímulos nervosos ou hormonais. Essa propriedade
é possível graças ao nodo sinoatrial, que é capaz de se excitar
espontaneamente; isto é, suas células, por si só, fazem com que seu
potencial de membrana se despolarize a ponto de provocar um potencial de
ação.
▪ Efeitos cronotrópicos: são aqueles que mudam a frequência
cardíaca. As drogas cronotrópicas podem mudar a frequência e o
ritmo cardíaco ao afetarem o sistema de condução elétrica do
coração e/ou os nervos que o influenciam (por exemplo, alterar o
ritmo de despolarização do nodo sinoatrial). Um efeito
cronotrópico positivo (epinefrina, agonistas adrenérgicos, atropina,
dopamina) aumenta a frequência cardíaca, enquanto um efeito
cronotrópico negativo (acetilcolina, betabloqueadores) diminui a
frequência cardíaca.
o Condutibilidade (ou dromotropismo; dromos = correr): os cardiomiócitos
possuem junções gap entre si que permitem a transmissão do potencial de
ação através de sinapses elétricas um para o outro; diferentemente do

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músculo esquelético, em que todas as fibras precisam ser estimuladas


individualmente para promoverem o potencial de ação.
o Excitabilidade (ou batimotropismo; bathmos = limiar): os cardiomiócitos
conseguem promover o potencial de membrana uma vez tendo recebido os
estímulos advindos de sinapses elétricas com outros cardiomiócitos.
o Contratilidade (ou inotropismo; inos = fibra): uma vez excitado, o
cardiomiócito é capaz de se contrair graças às proteínas contráteis que ele
possui.
▪ Efeitos inotrópicos: são aqueles que alteram a força ou a energia
das contrações musculares do coração. Efeitos inotrópicos
negativos (betabloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio)
diminuem a força das contrações musculares. Efeitos inotrópicos
positivos (cálcio, catecolaminas como adrenalina, angiotensina II,
glucagon, insulina) aumentam a força das contrações musculares,
normalmente por aumento das concentrações intracelulares de íons
Ca2+ (aumentando o influxo de Ca2+ a partir do meio externo, ou
liberação a partir do retículo sarcoplasmático) ou da afinidade dos
receptores de Ca2+.

Sistema de condução intrínseco do coração

Figura 2: Sistema de Purkinje integrado aos músculos cardíacos.

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• Todo o mecanismo de funcionamento correto do coração é garantido pelo sistema


de Purkinje, que envolve o nodo sinoatrial, o nodo atrioventricular, o feixe de His
e as fibras de Purkinje.
• O nodo sinoatrial é o grande responsável pela geração do potencial de ação que
permitirá o funcionamento do coração. Uma vez que esse potencial é gerado, ele é
conduzido célula a célula até os dois átrios e o nodo atrioventricular.
o A partir do nodo atrioventricular, os potenciais de ação são transferidos até
os ventrículos por meio do feixe de His, que se divide em ramos direito e
esquerdo, que por sua vez se ramificam em fibras de Purkinje (que são
praticamente indistinguíveis dos cardiomiócitos convencionais).
▪ Assim, o feixe de His é muito importante para a comunicação
elétrica entre átrios e ventrículos, uma vez que eles são separados
por elementos do esqueleto fibroso do coração, as válvulas e os
septos, que não conduzem potenciais.
• Não há simultaneidade entre o fenômeno elétrico e o fenômeno mecânico: a
atividade elétrica (despolarização) ocorre primeiro, e a atividade mecânica
(contração muscular) ocorre em seguida. Isso é extremamente importante, pois
permite que a contração em ambos os átrios ou ventrículos ocorra ao mesmo tempo.
• Também há um mecanismo de atraso da transmissão elétrica dos átrios para os
ventrículos, para impedir que eles contraiam simultaneamente. Esse mecanismo é
permitido graças a diferentes formas de expressão dos canais de potássio e das
conexinas das junções gap presentes nas células do nodo atrioventricular e do feixe
de His.

Potenciais cardíacos
• Para que haja o funcionamento correto do sistema de Purkinje, e, portanto, do
coração como um todo, é preciso que haja uma dinâmica saudável dos potenciais
de membrana das células que compõem o coração. Para que isso ocorra, é
necessário que o corpo mantenha a homeostase, isto é, a correta concentração de
substâncias químicas nos diversos compartimentos corporais. Por isso, os valores
das concentrações químicas ao longo do organismo são fatores que interferem nos
valores do potencial de membrana das células (assim, doenças que provoquem
desbalanço químico no corpo podem prejudicar fortemente o correto
funcionamento cardíaco).

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• Outro fator que interfere nos valores do potencial de membrana das células é sua
permeabilidade aos íons que a atravessam. Por isso, Goldman, Hodgkin e Katz
formularam maneiras para calcular o potencial de membrana de uma célula,
levando em conta ambos os fatores: o gradiente de concentração química dos íons;
e a permeabilidade individual desses íons na membrana.
o Dessa forma, quanto mais permeável é um íon naquela membrana, mais
próximo o potencial desta membrana estará do potencial de Nernst daquele
íon. Diferentes células podem ter diferentes permeabilidades, e, portanto,
diferentes potenciais.

Potencial de ação do cardiomiócito


• O potencial de ação de um cardiomiócito, assim, se processa de maneira distinta
daquela dos neurônios e das fibras musculares esqueléticas:
o Primeiro, porque a transmissão do potencial de ação ocorre através de
sinapses elétricas, ou seja, por junções gap entre os cardiomiócitos.
o Por outro lado, o começo do potencial de ação acaba sendo idêntico ao das
outras células: a estimulação da célula faz com que haja uma leve
despolarização da membrana até um limiar capaz de abrir os canais de
sódio voltagem-dependentes (que se abrem primeiro e se fecham
rapidamente) e os canais de potássio voltagem-dependentes (que se abrem
um pouco depois e demoram a fechar).
o Concomitantemente a este evento, entretanto, há uma particularidade do
potencial de ação do cardiomiócito: há a abertura também dos canais de
cálcio voltagem-dependentes, que se abrem quase que simultaneamente
aos canais de potássio voltagem-dependentes, mas fecham antes dele.
Assim, com a abertura de canais para os íons positivos sódio e cálcio, há um
brusco aumento de potencial.
o A seguir, após o fechamento dos canais de sódio voltagem-dependentes, há
uma breve redução do potencial. Logo depois, entretanto, a continuidade do
efluxo de potássio e do influxo de cálcio acabam por se equilibrar, fazendo
com que se observe um platô no gráfico do potencial de ação por um certo
tempo. Uma vez que se fechem os canais de cálcio voltagem-dependentes,
entretanto, o potencial voltar a reduzir.

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• Dessa maneira, o potencial de ação do cardiomiócito, chamado de potencial de


ação de resposta rápida, possui cinco momentos:

Figura 3: Dinâmica de abertura e fechamento dos canais iônicos e sua correspondência nos valores dos
potencias de ação dos cardiomiócitos.
o Em 0, ocorre súbita despolarização devido aos canais de sódio INa, que se
fecham rapidamente, e o potencial para de subir.
o Em 1, ocorre súbita, porém breve, repolarização devido aos canais de
potássio transientes de fluxo Ito, que se abrem e fecham rapidamente.
o Em 2, os canais de potássio retificadores retardados IK ainda estão se
abrindo, promovendo um efluxo crescente de potássio. Ao mesmo tempo,
os canais de cálcio ainda estão se fechando, promovendo um influxo
decrescente de cálcio. Isso faz com que exista um platô com tendência para
a repolarização.
o Em 3, os canais de potássio retificadores retardados IK continuam a se abrir,
promovendo uma repolarização contínua, mas os canais de íons positivos já
estão fechados. Dessa forma, não se tem mais o platô e a repolarização fica
mais acentuada.
o Em 4, o fechamento dos canais de potássio retificadores retardados I K e a
abertura dos canais de potássio retificadores de influxo IK1 faz com que o
potencial de membrana volte ao valor normal.

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Potencial de ação nodal


• O potencial de ação do nodo sinoatrial e do nodo atrioventricular (potencial de
ação nodal ou potencial de ação de resposta lenta) explica o automatismo do
coração e fornece as bases para o controle da frequência cardíaca por este nodo.
• Primeiramente, o nodo sinoatrial tem um potencial de membrana menos negativo
do que o normal, em torno de -60mV. Isso permite que ele esteja bem mais
próximo do valor do limiar de excitação, que é em torno de -40mV. Dessa
maneira, fica mais fácil da célula nodal de, espontaneamente, alterar seu potencial
até o limiar de excitação e provocar um potencial de ação por conta própria.

Figura 4: Dinâmica de abertura e fechamento dos canais iônicos e sua correspondência nos valores dos
potencias de ação dos nodos.

• Esse mecanismo de alteração do potencial de -60mV até -40mV é possível graças a


um fluxo lento, porém constante, de cátions para o interior da célula, por meio de
canais de vazamento que ficam abertos constantemente (momento 4).
o Estes canais são chamados de HCN (hyperpolarization-activated cyclic
nucleotide-gate), e nunca se fecham: apenas ficam mais abertos (“ativados”)
ou menos abertos (“inativados”).
o A dinâmica dos canais HCN é a seguinte: quanto mais negativa a voltagem
da célula, mais aberto/ativado/permeável ficará o canal HCN, portanto mais
influxo de cátions haverá (principalmente de sódio), portanto maior vai
ficando o potencial de membrana da célula.
o A corrente iônica promovida pelos canais HCN é chamada de corrente
funny (if), ou corrente de marcapasso.

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• Assim, a lenta entrada de cátions para dentro da célula consequentemente provoca


um aumento no potencial de membrana do nodo sinoatrial, que, quando atinge o
limiar de excitação, ativa os canais iônicos voltagem-dependentes.
o Antes de atingir o limiar de excitação, entretanto, o potencial de membrana
em aumento lento e constante ativa os canais de cálcio transitórios (ICa, T)
para dar o “aumento final” ao potencial de membrana para atingir o limiar
de excitação.
• Uma vez atingido o limiar de excitação, será ativado o canal de cálcio voltagem-
dependente (ICa, L), fazendo que haja um influxo brusco e súbito de íons cálcio para
dentro da célula, aumentando seu potencial até um determinado valor máximo
(momento 0). A partir dele, o fechamento dos canais de cálcio voltagem-
dependente e a contínua abertura (também catalisada ao atingir o limiar de
excitação) dos canais de potássio voltagem-dependentes de potássio faz com que o
potencial de membrana diminua e retorne ao valor de repouso (momento 3).
• Naturalmente, com a queda dos valores de potencial, os canais HCN seguem sua
dinâmica e retomam sua função (uma vez que o potencial mais negativo os tornará
mais permeáveis), reiniciando seu processo espontaneamente (momento 4).
• Apesar das células nodais possuírem canais de sódio voltagem-dependentes, eles
estão permanentemente inativados, não participando do processo de geração do
potencial de membrana nodal, pois essas células não hiperpolarizam o necessário
para abri-las.

o Bloqueio dos canais de sódio voltagem-dependentes: dado este fato,


conclui-se que um bloqueio dos canais de sódio voltagem-dependentes não
provocará efeitos no funcionamento do potencial de ação nodal, porém,
provocará um atraso no funcionamento do potencial de ação do
cardiomiócito, e, portanto, bradicardia.

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Controle da frequência cardíaca


• O principal mecanismo de controle da frequência cardíaca é o sistema nervoso
autônomo. Certos hormônios, por mais que exerçam influência nesse controle, o
fazem de maneira menos significativa.
• O mecanismo básico de controle da frequência cardíaca é alterar o potencial de
ação nodal, mais especificamente alterando a permeabilidade dos canais iônicos
envolvidos no processo.

Estimulação simpática e taquicardia


• Caso seja necessário aumentar a frequência cardíaca (provocar taquicardia),
existem dois mecanismos básicos, que envolvem alterações na fase 4 do potencial
de ação nodal:

Figura 5: Efeito da estimulação simpática na geração de potenciais nodais.


o Fazer com que a célula não repolarize tanto. A célula volta então a um
potencial de repouso mais próximo do limiar de excitação, facilitando o
processo de atingi-lo novamente, dessa forma fazendo com que a frequência
de potenciais aumente.
o Fazer com que a célula despolarize mais rápido com uma corrente funny
mais rápida, ao se aumentar a permeabilidade dos canais HCN. A célula
então consegue atingir o limiar de excitação mais rápido, fazendo com que a
frequência de potenciais de ação aumente.

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▪ Efetivamente, esses mecanismos acontecem ao mesmo tempo


durante a estimulação simpática.
• O aumento da frequência cardíaca é feito por estimulação simpática. As fibras
simpáticas liberam o neurotransmissor noradrenalina, que se ligam a um receptor
β-adrenérgico nas células nodais.
o Este tipo de receptor está ligado à proteína G, que está ligada a uma
subunidade alfa excitatória. Então, uma vez ativada, ela é capaz de ativar o
cAMP, que por sua vez ativa outras quinases citoplasmáticas.
o As quinases são proteínas capazes de fosforilar os canais iônicos presentes
na membrana das células nodais, tornando-os mais permeáveis a seus
respectivos íons.
o Com os canais mais permeáveis, o influxo de cálcio será mais rápido,
permitindo que a corrente funny faça com que o potencial de membrana
atinja o limiar de excitação mais rápido também, aumentando, portanto, a
frequência cardíaca.
▪ Pode-se pensar que o aumento da permeabilidade dos canais iônicos
afetaria também os canais iônicos de potássio, e, teoricamente, a
célula iria se repolarizar muito mais, ficando difícil em se atingir
novamente o limiar de excitação. Entretanto, esse é efeito é
compensado pelo aumento da permeabilidade do cálcio.

Estimulação parassimpática e bradicardia


• Caso seja necessário reduzir a frequência cardíaca, existem dois mecanismos
básicos, que também envolvem alterações na fase 4 do potencial de ação nodal:

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Figura 6: Efeitos da estimulação parassimpática no nodo sinoatrial.


o Fazer com que a célula repolarize mais do que o normal. A célula volta
então a um potencial de repouso mais distante do limiar de excitação,
fazendo com que a frequência de potenciais diminua.
o Fazer com que a célula despolarize mais lentamente com uma corrente
funny mais lenta, diminuindo a permeabilidade dos canais de cálcio. A
célula então atinge com dificuldade o limiar de excitação, fazendo com que
a frequência de potenciais de ação diminua.
▪ Efetivamente, esses mecanismos acontecem ao mesmo tempo
durante a estimulação parassimpática.
• A redução da frequência cardíaca é feita por estimulação parassimpática. As
fibras parassimpáticas liberam o neurotransmissor acetilcolina, que se ligam a um
receptor muscarínico nas células nodais.
o O receptor muscarínico está ligado a uma proteína G associada a
subunidade alfa inibitória, que inibe a fosforilação dos canais iônicos das
células nodais, fazendo com que eles fiquem menos permeáveis a seus
respectivos íons.
o Assim, os canais de cálcio teriam sua performance reduzida, reduzindo
também a corrente funny, aumentando o tempo necessário para atingir o
limiar de excitação. Dessa forma, a frequência cardíaca fica reduzida.

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o A subunidade beta dos receptores muscarínicos, entretanto, é capaz de


aumentar a permeabilidade dos canais de potássio. Isso faz com que a célula
repolarize muito mais e seja mais difícil de atingir o limiar de excitação.
o Além disso, existem canais de potássio ativados por acetilcolina (IK, ACh)
que amplificam o processo.

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Dinâmica de contração e relaxamento do miocárdio


• Os cardiomiócitos possuem uma estrutura interna semelhante às dos músculos
esqueléticos. Uma diferença microestrutural é que os túbulos T com as cisternas
terminais não formam tríades no músculo cardíaco, mas díades.
• No músculo esquelético, a contração efetiva só é possível se houver uma somação
de abalos provocados por potenciais de ação. Entretanto, no músculo cardíaco, a
contração efetiva é possibilitada com um único potencial de ação gerado pelo
nodo sinoatrial.

Contração do miocárdio
• Contração do cardiomiócito: tal qual nas fibras musculares esqueléticas, a
propagação do potencial de ação pelos túbulos T dos cardiomiócitos faz com que a
diidropiridina ative o receptor de rianodina do retículo sarcoplasmático, que se
abre e permite o fluxo de íons cálcio para o citoplasma. Entretanto, no músculo
cardíaco, o que existe é o receptor de rianodina tipo II na membrana do retículo
sarcoplasmático, que é ativado por íons cálcio. Este segundo tipo é que realmente
será significativa para a contração do coração:
o A diidropiridina é um canal de cálcio voltagem-dependente. No músculo
cardíaco, quando essa diidropiridina é ativada pela propagação do potencial
de ação do nodo sinoatrial, ela permite um influxo de cálcio para o
citoplasma, ativando a rianodina tipo II, que por sua vez libera mais ainda
íons cálcio para o citoplasma., ativando mais receptores de rianodina tipo II,
e assim sucessivamente. Assim, em um efeito de feedback positivo, cada
vez mais canais rianodina tipo II são abertos, e cada vez mais íons cálcio
são liberados no citoplasma.
o Essa grande quantidade de cálcio no citoplasma permite, portanto, a
contração efetiva do músculo cardíaco. Assim, de todos os íons Ca2+
responsáveis para que essa contração seja efetiva, 80% provém do retículo
sarcoplasmático, e 20% provém do meio extracelular.

Relaxamento do miocárdio
• Relaxamento do cardiomiócito: findada a contração do músculo cardíaco, o cálcio
precisa ser removido do citoplasma para que a fibra relaxe. Os mecanismos de
relaxamento são:

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o O transporte ativo primário de cálcio para o meio extracelular. Ou seja,


canais que gastam ATP para retirar íons cálcio do citoplasma e liberá-los no
meio externo.
o Transporte ativo secundário de três íons sódio para o meio intracelular
e um íon cálcio para o meio extracelular. Sendo do tipo secundário, é um
mecanismo dependente da bomba de sódio e potássio para que o gradiente
de concentração do sódio seja gerado.

▪ Medicamentos para insuficiência cardíaca: certos


medicamentos, assim, promovem uma diminuição na atividade da
bomba de sódio e potássio para tratar a insuficiência cardíaca,
impedindo o excesso de relaxamento do músculo cardíaco.
o Transporte ativo primário de íons cálcio para o interior do retículo
sarcoplasmático por meio do canal SERCA (sarco/endoplasmic reticulum
Ca2+-ATPase).

Participação da fosfolamban
• Fosfolamban: a proteína fosfolamban tem a função constitutiva de inibir a
atividade do canal SERCA. Trata-se de uma proteína que fica inativa quando é
fosforilada.
o Uma vez que a estimulação simpática induz a ação das quinases, e as
quinases promovem a fosforilação, então conclui-se que, nos
cardiomiócitos, o simpático inativa a fosfolamban. Portanto, o simpático
ativa a SERCA, que conduz íons cálcio do citoplasma para o retículo
sarcoplasmático. Dessa forma, o relaxamento muscular do miocárdio é
acelerado.
o A inativação da fosfolamban é, assim, um mecanismo adicional ao
aumento da permeabilidade dos canais iônicos provocado pela estimulação
simpática, que faz com que haja um maior influxo de cálcio para a o
citoplasma, acelerando a contração do cardiomiócito.
▪ Dessa forma, o relaxamento muscular acelerado, durante a
estimulação simpática, acaba sendo sucessivo a uma contração
muscular acelerada que esta estimulação simpática também
promove. É dessa maneira que o simpático leva à taquicardia: o
coração contrai e relaxa de maneira acelerada.

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o O mecanismo da estimulação parassimpática faz o oposto. Ela tanto


diminui a permeabilidade dos canais iônicos, entrando menos cálcio no
citoplasma, desacelerando a contração muscular; quanto inibe a fosforilação
da fosfolamban, que fica mais ativa, inibindo a ação SERCA, o que
desacelera o relaxamento muscular. Dessa forma, o parassimpático
consegue promover a bradicardia: fazer com que o coração contraia e
relaxe de maneira desacelerada.

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Ciclo cardíaco
• Parâmetros importantes para a compreensão do ciclo cardíaco:
o Pré-carga: tensão gerada nas paredes dos ventrículos pelo sangue neles
acumulado, ao final da diástole ventricular. É proporcional ao volume de
sangue acumulado, por isso, o aumento de volume sanguíneo faz com que a
pré-carga aumente (por exemplo, insuficiência de válvula mitral).
o Pós-carga: tensão sofrida pelas paredes dos ventrículos durante a sístole,
que aumenta crescentemente até um valor máximo. A pós-carga, dessa
maneira, sofre aumento quando há dificuldade para ejetar o sangue (por
exemplo, por compressão da a. aorta, estenose aórtica e hipertensão
arterial).

Variações de parâmetros durante o ciclo cardíaco


• Dois eventos básicos estão associados a um ciclo cardíaco: sístole e diástole.
Durante esse ciclo, há alterações de certos parâmetros importantes que devem ser
notadas, e que serão compreendidas a partir do seguinte gráfico:

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Figura 7: Gráfico das variações do eletrocardiograma, da pressão, do volume e das bulhas cardíacas ao
longo de um ciclo cardíaco.

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Atividade elétrica do coração

Figura 8: Variação da atividade elétrica do coração ao longo de um ciclo cardíaco.

• Eletrocardiograma (ECG): é um exame que faz o registro da atividade elétrica do


coração. Um aparelho, chamado eletrocardiógrafo, capta a corrente elétrica que é
propagada para todo o corpo a partir da atividade do coração. Esse registro é
demonstrado através de um gráfico, cuja curva em condições fisiológicas apresenta
uma série de ondas sequenciais, indicativas dos vários eventos que ocorrem em um
ciclo cardíaco (o estudo aprofundado do eletrocardiograma pode será visto
posteriormente):
o O ponto inicial do gráfico do ECG é a despolarização atrial, que gera a
onda P. Ocorre então a propagação deste potencial pelo coração, compondo
um breve período em que não se produz registro de atividade elétrica.
o A despolarização ventricular gera o complexo de ondas QRS.
o Após um certo tempo em que também não se registra atividade elétrica, a
repolarização ventricular gera a onda T. Este é o ponto final do gráfico do
ECG.

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Pressões do coração

Figura 9: Variação da pressão na aorta, no ventrículo esquerdo e nos átrios ao longo de um ciclo
cardíaco.

• Pressão atrial: aumenta um pouco durante a sístole atrial mas volta a cair
rapidamente; se iguala à pressão ventricular provocando o fechamento das valvas
atrioventricular; sobe brevemente devido a um quase prolapso das valvas
atrioventriculares (provocado pela sístole ventricular) e reduz rapidamente; sobe
gradativamente à medida em que os átrios se enchem de sangue; volta a cair
quando a valva atrioventricular se abre e o sangue flui para os ventrículos;
permanece baixa até uma nova sístole atrial, reiniciando o processo.
• Pressão aórtica: sofre um aumento súbito quando a valva aórtica se abre e há
ejeção de sangue pelo ventrículo na sístole ventricular; atinge um máximo chamado
pressão sistólica; se reduz à medida em que a pressão ventricular esquerda também
reduz; sobe novamente devido ao fechamento da valva aórtica e à tentativa de
refluxo sanguíneo, formando a pressão dicrótica; se reduz continuamente até uma
nova sístole ventricular, atingindo um mínimo chamado pressão diastólica no
momento instantâneo de uma nova abertura da valva aórtica, reiniciando o
processo.
• Pressão ventricular esquerda: começa baixa, menor que a pressão atrial, durante
a diástole, para permitir que o sangue flua a partir do átrio esquerdo; aumenta e
diminui brevemente durante a sístole atrial; no início da sístole ventricular, sobe e
se iguala primeiramente à pressão atrial fechando a valva atrioventricular; continua

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subindo até se igualar à pressão aórtica permitindo a abertura da valva aórtica;


continua subindo até atingir um máximo; começa a cair até se igualar à pressão
aórtica fechando a valva aórtica e finalizando a sístole; continua caindo na diástole
até se igualar à pressão arterial, quando se abre a valva atrioventricular; se
estabiliza em um valor inferior ao da pressão atrial para o reinício do processo.

Volume do ventrículo esquerdo

Figura 10: Gráfico da variação do volume ventricular esquerdo ao longo de um ciclo cardíaco.

• Período de relaxamento: é o período compreendido entre o fim de uma sístole


ventricular e o início de uma sístole atrial, portanto, compreende o período da
diástole ventricular até a sístole atrial.
o Relaxamento isovolumétrico: período em que o ventrículo esquerdo está
em diástole e com pressão menor do que a artéria aorta, mas maior do que o
átrio esquerdo; dessa forma, não há nem ejeção de sangue pelo ventrículo e
nem fluxo de sangue a partir do átrio esquerdo. Neste período, portanto, o
ventrículo fica com volume constante (isovolumétrico) igual ao volume
residual da sístole anterior, que é de 70mℓ.
o Enchimento ventricular: período em que a pressão do ventrículo esquerdo
fica menor que a pressão do átrio direito, permitindo o fluxo de sangue do
átrio para o ventrículo por diferença de pressão. Assim, compreende
também o momento da sístole atrial, estando o ventrículo em diástole
durante todo o tempo.
▪ Enchimento ventricular rápido: em um primeiro momento, a
diferença de pressão entre átrio e ventrículo esquerdos é muito

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grande, fazendo com que o fluxo de sangue do átrio para o


ventrículo seja acelerado. O volume ventricular aumenta 40mℓ, indo
de 70mℓ a 110mℓ.
▪ Diástase: à medida em que o ventrículo esquerdo vai se enchendo
de sangue, a diferença de pressão entre átrio e ventrículo vai
diminuindo, e o fluxo de sangue do átrio para o ventrículo vai
ficando mais lento, quase parando. O volume ventricular aumenta
10mℓ, indo de 110mℓ a 120mℓ.
• Sístole atrial: é o momento de contração do miocárdio atrial. Faz parte do período
de enchimento ventricular também, pois a pressão atrial estará maior que a
ventricular, e o ventrículo ainda estará em diástole. Apesar de contribuir muito
menos para o aumento do volume do ventrículo esquerdo, levando a um aumento
de apenas 10mℓ, finaliza um volume ventricular máximo de 130mℓ, que é chamado
de volume diastólico final, que corresponde à pré-carga máxima.
• Sístole ventricular: é o momento de contração do miocárdio ventricular. É neste
período que ocorre o esvaziamento do ventrículo esquerdo, até uma nova diástole
ventricular.
o Contração isovolumétrica: com o início da sístole ventricular, a pressão
do ventrículo esquerdo sobe de maneira abrupta, superando a pressão atrial
e fechando a valva atrioventricular para impedir o refluxo de sangue do
ventrículo para o átrio. Estando a valva aórtica fechada, a ejeção de sangue
só vai se iniciar no momento em que a pressão ventricular ficar maior que a
pressão aórtica. Até que este ponto seja atingido, o ventrículo esquerdo
contrai mantendo seu volume constante (isovolumétrico).
o Ejeção ventricular: no momento em que a pressão ventricular supera a
pressão aórtica, a valva aórtica se abre e o sangue é ejetado do ventrículo
esquerdo para a aorta. Isso faz com que o volume do ventrículo se reduza
rapidamente, mas logo se estabiliza quando se atinge a força máxima de
contração ventricular. A partir daí o sangue continua sendo ejetado, mas a
pressão abaixa, até um momento em que fica menor do que a pressão
aórtica, fechando a valva aórtica e a ejeção é bloqueada. Este bloqueio
ocorre antes do ventrículo se esvaziar totalmente, ficando um volume
residual de 70mℓ ao fim da sístole ventricular, que é chamado de volume
sistólico final; assim, todo o volume de sangue ejetado pelo ventrículo é de

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60mℓ, compondo o chamado volume sistólico. A partir daí o processo


reinicia.
▪ Fração de ejeção: razão entre o volume sistólico e o volume
diastólico final. Assim, normalmente, fica em torno de 50%. Este
parâmetro é um indicador da capacidade cardíaca de bombeamento
do sangue.

Análise conjuntural dos parâmetros de um ciclo cardíaco


• Antes que o átrio despolarize, sua pressão está baixa. A despolarização atrial
provoca a sístole atrial, fazendo com que a pressão no interior dos átrios aumente,
porém muito sutilmente e por pouco tempo.
• Antes deste momento, o ventrículo está relaxado, estando a pressão ventricular
muito pequena também, abaixo da pressão atrial, permitindo que o sangue flua do
átrio para o ventrículo. A sístole atrial faz com que a pressão ventricular aumente
um pouco também devido ao fluxo aumentado de sangue para o ventrículo.
o É importante notar que, mesmo antes da sístole atrial, o ventrículo ainda
possui volume de sangue em seu interior: o principal evento responsável
pelo enchimento do ventrículo é o relaxamento ventricular, que reduz a
pressão ventricular abaixo da pressão atrial, permitindo que cerca de 50mℓ
de sangue flua do átrio para o ventrículo por diferença de pressão, antes
mesmo da sístole atrial. A grande função do átrio, assim, é a de armazenar
sangue durante a sístole ventricular.
▪ Inclusive, ao final da sístole ventricular, o ventrículo não estará
totalmente vazio, mas com um volume residual de sangue de 70mℓ.
Com os 50mℓ que fluíram por diferença de pressão, tem-se que,
antes da sístole atrial, o ventrículo possui 120mℓ de sangue. A
sístole em si só contribui com mais 10mℓ, compondo, assim, um
volume máximo ventricular de 130mℓ.
• O enchimento ventricular ocorre quando todas as câmaras estão relaxadas, em um
fluxo que tende a se estabilizar, compondo um enchimento rápido que chega a
110mℓ (por fluxo rápido de sangue por diferença de pressão dos átrios para os
ventrículos) e um enchimento lento, chamado diástase (quando o fluxo fica mais
lento), que chega a 120mℓ. A sístole atrial é a fase final de enchimento ventricular,
fazendo o volume ventricular chegar a 130mℓ.

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o Deficiência de contração atrial: dessa forma, indivíduos com deficiência


de contração atrial (por fibrilação atrial aguda, por exemplo, em que os
cardiomiócitos atriais não sincronizam sua contração) não são tão
prejudiciais quanto se a deficiência fosse ventricular.
• A despolarização ventricular provoca a sístole ventricular, o que faz com que a
pressão ventricular aumente bruscamente. Nesse momento, a contração ventricular
opera em duas fases distintas:
o Uma contração isovolumétrica, em que o ventrículo está contraindo, mas
seu volume se mantém constante, pois a pressão ventricular ainda não
aumentou o suficiente para superar a pressão aórtica.
o Uma contração efetiva, em que a pressão ventricular supera a pressão
aórtica, abrindo as válvulas semilunares aórticas e fazendo com que o
volume ventricular diminua bruscamente por ejeção de sangue. Nesse
momento, a pressão aórtica volta a aumentar novamente, mas ainda menor
do que a pressão ventricular, permitindo que o fluxo do ventrículo para a
aorta permaneça.
▪ No momento em que a pressão ventricular se iguala à pressão
aórtica, imediatamente antes da abertura da valva aórtica, o valor
instantâneo da pressão aórtica observado é a chamada pressão
diastólica que é medida pelo esfigmomanômetro.
▪ No momento em que a pressão ventricular é máxima, a pressão
aórtica também será máxima. Neste momento, o valor instantâneo
da pressão aórtica é a chamada pressão sistólica que é medida pelo
esfigmomanômetro.

▪ Cardiomiopatia hipertrófica: para que a pressão ventricular


supere a pressão aórtica, os cardiomiócitos ventriculares precisam
exercer um determinado valor de força para aumentar a pressão
ventricular. Indivíduos com insuficiência cardíaca possuem
cardiomiócitos deficitários, que precisam exercer muito mais força
para conseguir elevar a pressão ventricular (ocorre, portanto,
aumento da pós-carga). Isso aumenta a exigência sobre os
cardiomiócitos, provocando a hipertrofia concêntrica do miocárdio.
A longo prazo, se a insuficiência não for tratada, essa hipertrofia

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provoca a dilatação do coração (cardiomiopatia hipertrófica). O


mesmo ocorre em indivíduos portadores de hipertensão, cujos
cardiomiócitos precisam ser mais exigidos para conseguir aumentar
a pressão ventricular acima da pressão aórtica que está elevada.
 Lei de Laplace: define relações entre tensão na parede da
câmara cardíaca (σ), pressão nessa câmara (P), espessura da
𝑃×𝑟
parede da câmara (η) e raio da câmara (r), a saber: 𝜎 =
𝜂

Assim, postula que a dilatação das câmaras cardíacas faz


com que tanto a pós-carga quanto a pré-carga aumentem,
pois haverá tanto aumento da pressão sobre a parede do
ventrículo quanto aumento do raio da câmara cardíaca.
• A sístole ventricular faz com que a pressão atrial sofra um aumento breve e sutil,
devido a um quase prolapso das válvulas atrioventriculares. Logo após esse evento,
há a diástole atrial, que aumenta o volume atrial pelo fluxo de sangue a partir das
veias, mas que aumenta muito pouco a pressão atrial.
• Com a pressão atrial ainda menor do que a pressão ventricular, não há passagem de
sangue do átrio para o ventrículo, mesmo a partir do momento em que a sístole
ventricular termina e o ventrículo entre em diástole – o que é chamado de
relaxamento ventricular isovolumétrico.
• Um rápido relaxamento do ventrículo faz com que a pressão ventricular caia
bruscamente (devido à ação da SERCA nos cardiomiócitos), porém, a pressão
aórtica cai muito pouco, permanecendo elevada. Isso ocorre porque
momentaneamente, a pressão ventricular fica menor do que a pressão aórtica, o que
forçaria o sangue a retornar ao ventrículo, porém, as válvulas semilunares aórticas
se fecham, impedindo que sangue retorne ao ventrículo e mantendo a pressão
aórtica elevada. Neste momento, a tentativa do sangue de retornar provoca um certo
aumento de pressão nas válvulas semilunares aórticas, compondo a chamada
pressão dicrótica.
o A rápida redução da pressão ventricular e o lento aumento da pressão atrial
eventualmente chegarão em um ponto em que a pressão atrial ficará maior
do que a pressão ventricular, fazendo que passe sangue do átrio para o
ventrículo naturalmente por diferença de pressão.

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• O volume sistólico é o volume de sangue ejetado pelo ventrículo enquanto a


pressão ventricular se mantiver maior do que a pressão aórtica, que fica em torno
de 60mℓ. Esse volume sistólico é a diferença entre o volume diastólico final (cerca
de 130mℓ) e o volume sistólico final (cerca de 70mℓ). Esses valores de volume, por
outro lado, podem variar de pessoa para pessoa. Eles estarão condicionados a um
parâmetro chamado de fração de ejeção, que é a razão entre o volume sistólico e o
volume diastólico final, e gira em torno de 50%. A fração de ejeção é medida pelo
ecocardiograma, que é capaz de definir os níveis de insuficiência cardíaca.

Relação entre volume e pressão no ciclo cardíaco

Figura 11: Gráfico pressão X volume no ciclo cardíaco

• A partir de um momento A, tem-se o enchimento diastólico, em que a pressão


diminui e o volume aumenta, uma vez que o relaxamento ventricular é muito
rápido, chegando em B.
• De B para C, há aumento de pressão e de volume, sendo que há um breve impulso
ao final provocado pela sístole atrial. Assim, do ponto A até o ponto C é o período
de enchimento diastólico.
o O ponto C terá o volume de sangue máximo (volume diastólico final) que
determinará a pré-carga.
• De C para D, há contração isovolumétrica: não há variação de volume, mas a
pressão aumenta grandemente.
• De D para E, há ejeção rápida de sangue, com o volume diminuindo e a pressão
aumentando.
o Esse é o momento em que é determinada a pós-carga.

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• De E para F, há ejeção lenta de sangue, com o volume diminuindo e a pressão


diminuindo também.
• De F para A, há relaxamento isovolumétrico, reduzindo a pressão, mas não
variando volume, pois o sangue ainda não consegue passar do átrio para o
ventrículo. No momento em que a pressão ventricular fica menor que a atrial, o
sangue volta a encher o ventrículo.

Variações da relação entre volume e pressão


• Súbito aumento de pós-carga (ex.: por aumento de resistência periférica): por
aumento da pressão aórtica, a pós-carga aumenta, ou seja, haverá maior dificuldade
em se ejetar o sangue, e consequentemente o volume sistólico irá diminuir, e o
volume sistólico aumentar. Isso, porém, não aumenta a pré-carga, pois o volume de
sangue que encherá o ventrículo será o mesmo, ou seja, o volume diastólico final
será o mesmo.

Figura 12: Gráfico pressão x volume no ciclo cardíaco após fator causador de aumento súbito da pós-
carga.

• Aumento do volume sistólico (ex.: exercícios físicos): durante um exercício físico


intenso, há aumento de pós-carga pelo aumento da força de contração dos
cardiomiócitos ventriculares, e havendo, consequentemente, aumento do volume
sistólico e diminuição do volume sistólico final, com manutenção do volume
diastólico final (pré-carga não muda).

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Figura 13: Gráfico pressão x volume no ciclo cardíaco após fator causador de aumento do volume
sistólico.

• Aumento de pré-carga (ex.: por gravidez): haverá um aumento do volume de


sangue que encherá o ventrículo (volume diastólico final), mas a eficiência de
contração será a mesma, pois haverá compensação pelo aumento do volume
sistólico, ficando o volume sistólico final igual. Há aumento de pós-carga também
para aumentar o volume sistólico.

Figura 14: Gráfico pressão x volume no ciclo cardíaco após fator causador de aumento da pré-carga.

• Insuficiência cardíaca: há a tendência de aumento da pré-carga havendo maior


quantidade de sangue no interior do ventrículo devido à dilatação das câmaras
cardíacas (aumento de volume diastólico final); e redução da pós-carga devido à
maior dificuldade do coração em ejetar o sangue, fazendo com que o volume
sistólico diminua e o volume sistólico final aumente.

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Figura 15: Gráficos de tendência pressão x volume com a progressão da insuficiência cardíaca,
havendo aumento da pré-carga e queda da pós-carga.

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Regulação da função cardíaca


• A regulação da função cardíaca será feita principalmente pelo controle sobre o
débito cardíaco.

Débito cardíaco (DC)


• Débito cardíaco é o volume de sangue ejetado pelo coração por unidade de tempo
(volume ejetado/tempo). Pode ser calculado multiplicando a frequência cardíaca
(batimentos/tempo) pelo volume sistólico (volume ejetado/batimento). Em outras
palavras, o débito cardíaco (DC) é igual à frequência cardíaca (FC) multiplicada
pelo volume sistólico (VS), ou 𝐷𝐶 = 𝐹𝐶 × 𝑉𝑆.
• Em condições normais, a frequência cardíaca costuma ser de 70bpm, e o volume
sistólico, de 70mℓ. Isso dá, portanto, um débito cardíaco de 4900mℓ/min.
• A regulação da função cardíaca consiste, principalmente, no controle do débito
cardíaco. Este controle, portanto, pode ser feito:
o Regulando-se a frequência cardíaca;
o Regulando-se o volume sistólico.
• Pressão arterial: a pressão arterial está intimamente relacionada ao débito
cardíaco. Sabe-se que a pressão arterial (PA) é o produto do débito cardíaco (DC)
com a resistência periférica total (RPT), portanto, 𝑃𝐴 = 𝐷𝐶 × 𝑅𝑃𝑇. Como o débito
cardíaco é o produto da frequência cardíaca (FC) com o volume sistólico (VS),
tem-se ao final seguinte equação:

𝑃𝐴 = 𝐹𝐶 × 𝑉𝑆 × 𝑅𝑃𝑇

Situações de controle autonômico da frequência cardíaca (FC)


• O sistema nervoso autônomo (SNA) do coração será o principal responsável por
regular a frequência cardíaca. É sabido que o SNA possui uma porção simpática e
uma porção parassimpática, cada uma com ações específicas.

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Figura 16: Distribuição das fibras autonômicas para o coração.

• SNA parassimpático: as fibras parassimpáticas irão inervar especialmente os


nodos do coração. O nodo sinoatrial é inervado por ramos do nervo vago direito, e
o nodo atrioventricular é inervado por ramos do nervo vago esquerdo (note-se que
existe também inervação parassimpática dos ventrículos muito pouco significativa).
A principal ação do SNA parassimpático será o de provocar bradicardia.
o A estimulação parassimpática pelo nervo vago direito irá conseguir
provocar uma bradicardia normal, pois estimulará a fonte do estímulo
para a contração do coração, que é o nodo sinoatrial. Assim, uma vez
reduzido o ritmo excitatório do nodo sinoatrial, o nodo atrioventricular, cuja
excitação depende do estímulo advindo do nodo sinoatrial, terá seu ritmo
excitatório diminuído também.
o Já uma estimulação parassimpática pelo nervo vago esquerdo pode
provocar arritmia, pois apenas o nodo atrioventricular estará tendo seu
ritmo excitatório reduzido, enquanto o nodo sinoatrial envia estímulos em
ritmo normal. Este descompasso entre os ritmos excitatórios dos nodos
provocará uma alteração no ECG chamada de bloqueio atrioventricular,
que se manifesta em três graus:
▪ Bloqueio atrioventricular de primeiro grau: aumento do intervalo
entre a onda P e o complexo de ondas QRS.
▪ Bloqueio atrioventricular de segundo grau: faz com que sejam
necessários dois estímulos sinoatriais para um estímulo
atrioventricular.

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▪ Bloqueio atrioventricular de terceiro grau: faz com que as


características tanto do primeiro grau quanto do segundo grau
ocorram desordenadamente.
o A estimulação parassimpática é muito imediata, porém pouco duradoura.
Quando ativado, o SNA parassimpático faz com que a frequência cardíaca
diminua quase imediatamente, e, quando essa estimulação parassimpática
cessa, a frequência cardíaca volta ao normal quase imediatamente também.
O motivo disso acontecer é que as fibras parassimpáticas operam com
acetilcolina, neurotransmissor que é rapidamente degradado pela enzima
acetilcolinesterase.

Figura 17: Gráfico demonstrando o efeito quase imediato e pouco duradouro do SNA parassimpático
sobre a frequência cardíaca, provocando bradicardia.

• SNA simpático: as fibras simpáticas que partem dos troncos simpáticos irão
inervar todos os elementos do coração (cardiomiócitos atriais, cardiomiócitos
ventriculares e nodos). A principal ação do SNA simpático será o de provocar
taquicardia.
o A estimulação simpática é relativamente demorada, mas é duradoura. Seu
efeito de aumento da frequência cardíaca é lento, mas, quando essa
estimulação cessa, a frequência cardíaca demora a voltar para níveis
normais. O motivo disso acontecer é que as fibras simpáticas operam com
norepinefrina, neurotransmissor que demora a se difundir pelos tecidos
para, assim, parar de agir na região que foi liberado.

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Figura 18: Gráfico demonstrando o efeito lento e muito duradouro do SNA simpático sobre a
frequência cardíaca, provocando taquicardia.

• Tônus autonômico: é importante notar que as estimulações tanto simpáticas


quanto parassimpáticas, em condições normais do organismo, estarão sendo
aplicadas simultânea e constantemente, compondo o chamado tônus autonômico,
que garante a chamada frequência fisiológica do nodo sinoatrial. Apenas em
situações experimentais será possível isolar o nodo sinoatrial dessas influências, e
assim medir a sua frequência intrínseca.
o Frequência intrínseca do nodo sinoatrial: caso, experimentalmente,
ambas as estimulações simpática e parassimpática sejam interrompidas,
poderá ser avaliada a chamada frequência intrínseca do nodo sinoatrial. Isso
é feito com o uso de bloqueadores: a atropina inibe acetilcolina,
bloqueando o parassimpático; e o propranolol/metanolol inibe a
norepinefrina, bloqueando o simpático.
▪ Com esse experimento foi descoberto que a frequência intrínseca do
nodo sinoatrial é maior do que a sua frequência fisiológica. Isso
significa que, no organismo saudável, a inibição do nodo supera sua
ativação; conclui-se que a estimulação parassimpática é
predominante na regulação da frequência fisiológica. Isso faz
muito sentido do ponto de vista fisiológico, pois os efeitos do SNA
parassimpático são muito mais fáceis de se controlar, haja vista que
sua ação é praticamente imediata e pouco duradoura.

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Figura 19: Efeito dos bloqueadores sobre a frequência cardíaca. A atropina tem um efeito
taquicardíaco quase imediato por inibir o SNA parassimpático. O propranolol tem um efeito
bradicardíaco lento por inibir o SNA simpático. A frequência cardíaca fisiológica, evidente no começo
das curvas, é menor do que a frequência cardíaca intrínseca, evidente no final das curvas.

Reflexo barorreceptor
• Reflexo barorreceptor (barorreflexo): a função do barorreflexo é estabilizar a
pressão arterial, e não a normalizar. Ou seja, a sua função é evitar que a pressão
arterial fique muito oscilante (pois há uma extensa variedade de fatores capazes de
alterar a pressão arterial a todo o momento), mas ele é incapaz de ajustar a pressão
não-oscilante para valores normais.
o Isso significa que, caso uma pessoa seja hipertensa, o barorreflexo não irá
ser responsivo à alta pressão arterial que a pessoa já possui.
• No organismo, a variação da pressão arterial é muito frequente, portanto o
barorreflexo atua quase que constantemente.
• Para que o barorreflexo funcione, são necessários dois tipos de agentes: os
detectores de variação da pressão arterial e os executores do controle da pressão
arterial.
o Os detectores da variação da pressão arterial são os barorreceptores,
fibras aferentes sensíveis à pressão localizadas no arco aórtico e no seio
carotídeo. A deflagração de potenciais de ação nos barorreceptores ocorre
quando há variação da pressão arterial, provocando distensão (pressão
arterial aumentada) ou relaxamento (pressão arterial reduzida) dos vasos

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nos quais eles se localizam. As informações captadas serão então enviadas


ao SNC.
o Os executores do controle da pressão arterial são as fibras do SNA. Por
elas serão enviadas as respostas que o SNC dará às informações que
chegaram a ele pelos barorreceptores. Caso a pressão arterial esteja
aumentada, o SNA intensifica o parassimpático e reduz o simpático,
reduzindo a frequência cardíaca e, em seguida, a pressão arterial (pois são
grandezas diretamente proporcionais). Caso a pressão arterial esteja
reduzida, ocorre o inverso: o SNA intensifica o simpático e reduz o
parassimpático, aumentando a frequência cardíaca e, em seguida, a pressão
arterial.

Figura 20: Quando a pressão arterial nos seios carotídeos está aumentada, a atividade parassimpática
(vagal) será estimulada. Quando a pressão arterial nos seios carotídeos está diminuída, a atividade
simpática será estimulada.

Reflexo de Bainbridge
• Reflexo de Bainbridge: diferente do barorreflexo, que atua quase constantemente,
o reflexo de Bainbridge ocorre praticamente apenas em situações patológicas em
que há aumento do volume de sangue circulante (aumento de volemia -
hipervolemia), como em uma infusão intravenosa.

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o O reflexo de Bainbridge é unidirecional. Em uma diminuição de volemia -


hipovolemia, ele não será ativado, mas o barorreflexo sim: uma
hipovolemia provocará redução da pressão arterial, estimulando o
barorreflexo a responder provocando aumento da frequência cardíaca.
o O mecanismo do reflexo de Bainbridge funciona da seguinte maneira: com
o volume total de sangue aumentado, mais sangue chegará ao coração,
provocando o estiramento das paredes do átrio direito, ação que é captada
por mecanorreceptores atriais. Eles enviarão esta informação ao SNC, que
responderá aumentando a frequência cardíaca (por aumento de simpático
e redução de parassimpático) para que o coração possa ter maior capacidade
de bombeamento, para bombear uma maior quantidade de sangue que nele
está chegando.
• Influência do barorreflexo: o aumento da volemia irá aumentar o volume
sistólico, que é diretamente proporcional à pressão arterial, portanto esta também
aumentará. O aumento da pressão arterial ativa o barorreflexo no sentido de
diminui-la: há ativação do parassimpático e inibição do simpático, diminuindo a
frequência cardíaca.

Figura 21: Efeitos antagônicos do barorreflexo e reflexo de Bainbridge durante uma hipervolemia.

• Assim, durante uma hipervolemia, com o reflexo de Bainbridge aumentando a FC e


o barorreflexo diminuindo a FC, existirá, portanto, uma competição entre esses
reflexos. Nesse caso, a resposta efetiva advirá do reflexo cujo estímulo (distensão
da parede atrial para Bainbridge; distensão da parede do seio carotídeo para o
barorreflexo) estiver sendo mais intenso.
o Em geral, entretanto, o que se tem é uma prevalência do reflexo de
Bainbridge, com aumento da frequência cardíaca e do débito cardíaco e
estabilização do volume sistólico (condizente com DC = FC x VS).

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• Hipovolemia: no caso de uma depleção de volume de sangue circulante, ocorre


redução do volume sistólico, reduzindo assim a pressão arterial e levando à
ativação do barorreflexo no sentido de aumento da frequência cardíaca.
Teoricamente, esperar-se-ia que esse aumento fosse acompanhado de aumento do
débito cardíaco, mas como há pouco sangue circulante, o coração não consegue
aumentar a quantidade de sangue ejetado. Assim, ocorre queda do débito cardíaco,
que faz com que o volume sistólico diminua também.
o Isso significa que, embora do ponto de vista teórico tanto FC quanto DC
iriam determinar VS; a partir de um momento em que há depleção de
volume sanguíneo, DC passa a ser preponderante para determinar VS.

Figura 22: Variação de FC, DC e VS para situações de depleção e sobrecarga de volume sanguíneo.

Influência da respiração
• Respiração: existe uma oscilação da frequência cardíaca relacionada aos
movimentos respiratórios, conhecida como arritmia sinusal respiratória, que é
fisiologicamente normal. Essa arritmia é caracterizada basicamente por uma
variação no intervalo entre as ondas do complexo QRS do ECG, mas que está
dentro da normalidade do organismo.

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o O mecanismo dessa arritmia é o seguinte: durante a expiração, a frequência


cardíaca diminui devido a um leve aumento do parassimpático; durante a
inspiração, a frequência aumenta devido a um leve aumento do simpático.

Figura 23: Arritmia sinusal respiratória. A expiração coincide com aumentos do parassimpático e
redução da FC; a inspiração coincide com aumentos do simpático e aumento da FC.

Reflexo quimiorreceptor
• Reflexo quimiorreceptor: é um reflexo que atua em situações patológicas como a
insuficiência respiratória, possuindo um efeito primário e um efeito secundário.

Figura 24: Demonstração do efeito primário do reflexo quimiorreceptor sobre a frequência cardíaca: a
hipoxemia provoca a queda da frequência cardíaca.

• Efeito primário: A insuficiência respiratória provoca queda na pressão parcial de


O2 sanguíneo, causando a hipoxemia (ou hipóxia). Essa condição é passível de ser

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captada por quimiorreceptores centrais no tronco encefálico e quimiorreceptores


periféricos pelo corpo, que são fibras aferentes sensíveis à hipoxemia. Essas fibras,
fazem conexão com os núcleos do nervo vago; assim, uma vez ativadas, são
capazes de ativar o parassimpático e levar à redução da frequência cardíaca.
• Efeito secundário: por outro lado, em uma situação de insuficiência respiratória,
tem-se também aumento do estiramento pulmonar e hipocapnia (diminuição da
pressão parcial de CO2), fatores estes que provocam a inibição dos núcleos do
nervo vago, inibindo, portanto, o parassimpático, e levando a um aumento da
frequência cardíaca.
o Esta segunda situação, entretanto, é dependente do correto funcionamento
da atividade mecânica voluntária da respiração, havendo hiperventilação
que gera o estiramento pulmonar e a hipocapnia. Em um momento em que
este funcionamento esteja prejudicado (caso da maioria das insuficiências
respiratórias), a primeira situação será preponderante (hipoxemia com
diminuição da frequência cardíaca).

Figura 25: Efeitos antagônicos da insuficiência respiratória sobre a frequência cardíaca. Em geral, o
efeito primário é preponderante nos casos de insuficiência respiratória devido ao prejuízo da atividade
mecânica voluntária da respiração.

Situações de controle autonômico do volume sistólico (VS)


• O controle do volume sistólico é feito alterando-se, na verdade, outros parâmetros
que o determinam: contratilidade, pré-carga, pós-carga e frequência cardíaca.

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Alteração da contratilidade cardíaca


• Contratilidade: tem-se que o volume sistólico vai ser tanto maior quanto maior for
a capacidade contrátil das fibras cardíacas. Assim, o organismo, ao alterar a
contratilidade, altera o volume sistólico, que por sua vez altera o débito cardíaco.
Existem duas formas de regulação da contratilidade cardíaca: a regulação intrínseca
(própria do coração, não dependente de hormônios/neurotransmissores) e uma
extrínseca (dependente de hormônios/neurotransmissores).
• Regulação intrínseca (ou mecanismo de Frank-Starling): trata-se de ajuste
próprio do coração em sua força de contração para ajustar a quantidade de sangue
ejetado (ou seja, o volume sistólico). A existência desse mecanismo é necessária
porque o volume diastólico final (a partir do qual se terá o volume sistólico) é
muito dependente do retorno venoso. O retorno venoso, entretanto, é um
parâmetro que varia constantemente de acordo com as condições nas quais o corpo
se encontra, portanto, o volume diastólico final varia constantemente também. Com
essa quantidade maior ou menor de sangue acumulado, há a exigência de que a
contratilidade cardíaca se ajuste para ejetar mais ou menos sangue. Esse ajuste se
dará graças a dois fatores:
o Primeiro fator: a capacidade contrátil de uma fibra muscular é determinada
pelo grau de sobreposição inicial da actina e miosina nos sarcômeros.
Durante a contração da fibra muscular, actina e miosina se sobrepõem ainda
mais, assim, quanto menor for a sobreposição inicial dessas proteínas, maior
será o potencial contrátil da fibra muscular.
▪ Caso haja aumento do volume diastólico final, a câmara cardíaca
ficará mais distendida para comportar esse volume, e mais
distendidos também serão os cardiomiócitos do coração. A
distensão individual em cada fibra faz com que haja menor
sobreposição inicial entre actina e miosina, assim, a capacidade
contrátil fica aumentada. Com a capacidade contrátil aumentada, o
coração será capaz de ejetar mais sangue – justamente o que
necessário em um caso de aumento do volume diastólico final.
▪ Entretanto, há um limite para o funcionamento dessa dinâmica. Caso
haja um aumento excessivo de volume diastólico final, as fibras
musculares ficarão tão distendidas, e a sobreposição entre as

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proteínas tão reduzida, que actina e miosina irão perder sua ligação,
o que diminui bruscamente a capacidade contrátil.
 Teoricamente, isso tornaria o volume sistólico constante (a
contratilidade ficaria baixa, mas ejetando uma mesma
quantidade de sangue) mesmo com aumento do volume
diastólico final. Entretanto, um aumento progressivo do
volume diastólico final faz com que haja um aumento
também progressivo da tensão σ sobre as paredes do coração,
𝑃×𝑟
conforme previsto pela lei de Laplace 𝜎 = 𝜂
devido ao

aumento do raio r. Haverá aumento da pré-carga (maior


volume diastólico final) e da pós-carga (maior tensão sobre
as paredes do coração). Nessa situação, o coração começa
então a perder sua capacidade de bombear sangue,
diminuindo o volume sistólico e aumentando o volume
sistólico final.

Figura 26: Gráfico de volume sistólico x volume diastólico final. Ambos seguem diretamente
proporcionais devido à regulação intrínseca, até um certo limite posterior ao comprimento ótimo do
sarcômero. A partir deste limite, o aumento do volume diastólico final e do comprimento da fibra
muscular fazem com que o volume sistólico reduza, devido ao aumento da tensão sobre a parede da
câmara cardíaca.

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o Segundo fator: a capacidade contrátil de uma fibra muscular é determinada


pela afinidade da troponina presente em seu sarcômero por íons Ca2+.
Quando ocorre uma distensão da fibra muscular, ocorre por consequência
também uma modificação no padrão conformacional (estrutura terciária) da
troponina, que fica com maior afinidade pelo Ca2+, aumentando, portanto,
a capacidade contrátil da fibra.
o O mecanismo de Frank-Starling também tem seu efeito potencializado no
caso de uma estimulação simpática. Isso ocorre porque ela provoca um
aumento da frequência cardíaca, que por sua vez irá aumentar a quantidade
de íons Ca2+ disponível para a contração, o que também aumenta a
capacidade contrátil do coração. Esse é o chamado efeito escada positivo.

Figura 27: Efeito escada positivo. A curva verde mostra o mecanismo de Frank-Starling em condições
normais, e a roxa, durante uma estimulação simpática. Tem-se que, para um mesmo volume diastólico
final, o volume sistólico será maior durante a ação do simpático, devido ao aumento da capacidade
contrátil do coração.

• Regulação extrínseca: trata-se de um ajuste da capacidade contrátil do coração


feito por hormônios e neurotransmissores.
o Os neurotransmissores liberados pelo SNA simpático (norepinefrina) e
parassimpático (acetilcolina) promovem esse ajuste de contratilidade por
serem capazes de aumentar (simpático) ou diminuir (parassimpático) a
quantidade de íons Ca2+ disponível para a contração, o que
consequentemente leva ao aumento ou diminuição da capacidade contrátil
também.

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o Os hormônios de certas glândulas também são capazes de regular a


contratilidade cardíaca: hormônios suprarrenais, tireoidianos, insulina e
glucagon.

Alteração da pré-carga
• Pré-carga: um aumento da pré-carga, em situações normais, aumenta o volume
sistólico, que aumenta o débito cardíaco. A pré-carga, por sua vez, é determinada
pelo volume diastólico final, que por sua vez está condicionado ao retorno
venoso. O retorno venoso pode variar dependendo de vários fatores:
o Posição do corpo;
o Prática de exercícios físicos;
o Respiração;
o Volemia;
o Competência das válvulas venosas;
o Atividade do sistema nervoso autônomo simpático (que é o único a inervar
a circulação periférica, portanto, as veias que promovem o sistema venoso).
O simpático, via de regra, provoca venoconstrição, que aumenta o
retorno venoso.

Alteração da pós-carga
• Pós-carga: também modula o volume sistólico, sendo que, em uma situação inicial,
o aumento da pós-carga diminui o volume sistólico. Em uma situação posterior,
isso será compensado posteriormente por hormônios adrenérgicos, em uma
condição bifásica chamada de efeito Anrep, que termina no aumento do volume
sistólico. Por isso, o efeito da pós-carga sobre o volume sistólico é variável
dependendo das condições imposta sobre o organismo.
o Entre os fatores que alteram a pós-carga, tem-se: resistência arterial,
complacência aórtica, contração muscular estática, e formato geométrico do
ventrículo (lei de Laplace).

Alteração da frequência cardíaca


• Frequência cardíaca: a frequência cardíaca, apesar de coparticipar da
determinação do débito cardíaco juntamente com o volume sistólico (DC = FC x
VS), também é capaz de modular o volume sistólico.
• O aumento da frequência faz com que o período do ciclo cardíaco diminua,
diminuindo o tempo que o coração fica em diástole, que é justamente o período em

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que o coração se enche de sangue. Com a redução do volume de sangue que enche
o coração, haverá, portanto, menos sangue sendo ejetado. Conclui-se que o
aumento da frequência cardíaca diminui o volume sistólico. Como essa
dinâmica se refletirá sobre o débito cardíaco, entretanto, irá depender de algumas
condições:
o Em uma condição inicial, a diminuição do volume sistólico provocado pelo
aumento da frequência cardíaca é muito insignificante. Assim, com
aumento significativo de FC e redução insignificante de VS, o resultado é o
aumento do DC.
o Em uma condição prolongada de aumento da frequência cardíaca, por
outro lado, ocorrerá redução significativa do volume sistólico também.
Assim, com aumento significativo de FC e redução significativa de VS, o
resultado é a praticamente não alteração do DC. Entretanto, devido à
condição inicial, este valor de DC já terá ficado muito alto – o DC fica
estabilizado em níveis altos, portanto.
o Patologicamente, em um excesso de aumento da frequência cardíaca, o
volume sistólico fica excessivamente reduzido, e agora preponderante para
determinar o débito cardíaco: o DC será reduzido.

Figura 28: Gráfico que demonstra a dinâmica de alteração do volume sistólico e do débito cardíaco
com o aumento progressivo da frequência cardíaca. O volume sistólico sempre se reduz. O débito
cardíaco aumenta, se estabiliza a altos níveis e então se reduz.

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Circulação coronariana

Figura 29: Anatomia da circulação coronariana.

• A circulação coronariana é o conjunto de artérias nutridoras do coração. Toda


circulação coronariana se inicia nos troncos coronários, que saem da porção
ascendente da artéria aorta, e termina no seio coronário, que desemboca no átrio
direito. Existe um tronco coronário direito e um esquerdo:
o O tronco coronário direito se ramifica para perfundir prioritariamente o
lado direito do coração;
o O tronco coronário esquerdo se ramifica para perfundir prioritariamente o
lado esquerdo do coração.
• Na circulação coronariana há a ocorrência dos chamados vasos
arteriossinusoidais. São vasos que, antes de formarem capilares, desembocam
diretamente em seios. Há a ocorrência também dos vasos arterioluminais. São
vasos que não formam capilares, desembocando diretamente nas câmaras cardíacas.
• Há ainda a ocorrência de vasos tebesianos. São vasos venosos carregando sangue
venoso que desembocam no ventrículo esquerdo. Como no ventrículo esquerdo há
a chegada de sangue arterial advindo dos pulmões, haverá mistura de sangue
arterial e sangue venoso. Este evento é conhecido como shunt, mas que não tem
significativo impacto fisiológico.

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Figura 30: Vasos especiais do coração: (1) vasos tebesianos levando sangue venoso ao ventrículo; (3)
vasos arteriossinusoidais desembocando em um seio; (5) vasos arterioluminais desembocando
diretamente na câmara cardíaca.
o Outro local de ocorrência do shunt é na circulação brônquica. Nela,
existem os vasos nutridores do parênquima pulmonar, que, ao nutrirem as
células do pulmão, passam a circular sangue venoso. Estes vasos então se
anastomosarão com as veias pulmonares, que conduzem o sangue arterial
resultante da hematose para o átrio esquerdo.

Mecanismos de controle do fluxo coronariano


• Antes de aprofundar nos mecanismos, é preciso compreender os parâmetros físicos
que regulam um fluxo (F) em um tubo. Sabe-se que este fluxo é diretamente
proporcional à diferença de pressão (∆P = P1 – P2) entre as extremidades do tubo,
∆𝑃
e inversamente proporcional à resistência (R) do tubo, portanto: 𝐹 = 𝑅

o Há também uma influência do raio (r) do tubo, porque este varia


inversamente com a resistência (R) do tubo em uma ordem de quarta
potência. Assim, se o raio (r) cair pela metade, a resistência (R) aumentará
em dezesseis vezes.

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▪ Por causa disso, o local de maior resistência (R) na circulação é a


arteríola, que possui um raio (r) muito pequeno. Assim, na fórmula
da pressão arterial: 𝑃𝐴 = 𝐷𝐶 × 𝑅𝑃𝑇, a arteríola é a principal
influenciadora da resistência periférica total (RPT).
 É importante notar que o capilar, cujo raio (r) é muito
pequeno, não apresenta muita resistência (R), pois é
basicamente composto de endotélio, que é pouco resistente,
diferentemente da arteríola, que possui músculo que lhe
garante resistência.

Fatores físicos que influenciam o fluxo coronariano


• Pressão aórtica: na coronária, o fluxo (F) é diretamente proporcional à diferença
de pressão (∆P) entre a pressão aórtica (P1) e a pressão atrial (P2). Assim, quanto
maior for a pressão aórtica (P1), maior diferença de pressão (∆P) na coronária, e
maior o fluxo (F) coronariano.
• Resistência arteriolar: na coronária, o fluxo (F) é inversamente proporcional à sua
resistência (R). Daí, tem-se que dois fatores influenciam a resistência (R) das
arteríolas coronárias: a atividade metabólica e a autorregulação.
o Atividade metabólica: existem metabólitos no organismo produzidos pelas
células em atividade que podem ser vasoconstritores ou vasodilatadores.
Quando o tecido está em grande atividade devido ao alto metabolismo, há
grande produção de vasodilatadores (adenosina, CO 2, aumento de K+,
redução de O2, aumento de H+ com redução de pH). Uma vasodilatação
aumentará o raio (r) da arteríola, o que diminuirá sua resistência (R),
aumentando seu fluxo (F) e assim garantindo o maior aporte de sangue
para aquele tecido que se encontra em alta atividade.
o Autorregulação (ou vasomoção): trata-se do ajuste intrínseco do vaso para
a variação da pressão arterial. Tem-se que um eventual aumento da
pressão arterial provoca aumento do raio da arteríola, e com isso uma
redução de sua resistência e um aumento de seu fluxo. Os tecidos
musculares então são capazes de contrabalancear este aumento de fluxo,
pois o aumento do raio das arteríolas estira as fibras musculares a elas
adjacente, e as estimula a produzir vasoconstritores que reajustem o fluxo.

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▪ A autorregulação também é importante para controlar a diurese de


pressão: quanto maior a pressão nas arteríolas dos glomérulos
renais, maior será a filtração do sangue, consequentemente maior
será o volume de urina produzida. Por isso, os rins são capazes de
detectar esse aumento de pressão nas arteríolas para produzir
vasodilatadores que reduzam esta pressão, evitando uma
eliminação excessiva de água na urina.
• Compressão extravascular: estando intimamente aderidos ao epicárdio do
coração, os vasos coronarianos estão constantemente sofrendo o impacto da
contração rítmica do coração, que ora comprime, ora relaxa os vasos coronarianos.
Por isso, o fluxo coronariano é grandemente influenciado pelo ciclo cardíaco:
quanto mais comprimido o vaso coronariano, maior a resistência por ele oferecida,
e menor o fluxo coronariano.

Figura 31: Dinâmica de alteração do fluxo coronariano nas duas artérias coronárias, conforme as
alterações sofridas pela pressão aórtica.

• Compressão extravascular na coronária esquerda: estando intimamente aderida


à superfície externa do ventrículo esquerdo, a coronária esquerda será a que mais
sofrerá a ação da compressão extravascular, pois a contração do ventrículo
esquerdo é muito vigorosa. A dinâmica de seu fluxo é descrita da seguinte maneira:

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o Em um momento inicial de diástole ventricular, a pressão aórtica está


reduzindo, o que faz com que o fluxo coronariano também reduza, pois
ele é diretamente proporcional à pressão aórtica.
o Em seguida, em um momento de contração ventricular isovolumétrica,
tem-se o momento de maior compressão extravascular do coração sobre a
coronária esquerda (que reduz bruscamente o fluxo por diminuição do raio e
aumento da resistência) juntamente com o momento de menor pressão
aórtica (que reduz o fluxo por diminuição da variação de pressão). Isso faz
com que o fluxo coronariano caia bruscamente (o sangue chega até
mesmo a refluir para o óstio da coronária).
o No momento da sístole ventricular efetiva, a pressão aórtica aumenta
rapidamente até chegar a um máximo e depois reduz, sendo acompanhada
pelo fluxo coronariano, que também aumenta rapidamente até chegar a um
máximo, e depois reduz.
o No momento de fechamento das válvulas semilunares na diástole
ventricular, tem-se o momento de aumento brusco do fluxo coronariano:
a pressão aórtica ainda está alta e a do coração está reduzindo (aumentando
o fluxo por aumento da variação de pressão), e o ventrículo está relaxando
(aumentando o fluxo por redução da compressão extravascular).
o O momento final é o de redução progressiva da pressão aórtica, que é
acompanhada por redução progressiva do fluxo coronariano também, até
que o ciclo cardíaco se reinicie.

▪ Balão intra-aórtico: tem-se, portanto, que o fluxo coronariano na


coronária esquerda é altamente dependente da diástole
ventricular, pois é o momento em que ela possui o maior fluxo.
Insuficiências cardíacas, assim, geram um efeito prejudicial de
feedback positivo: a falta de função contrátil da insuficiência reduz a
pressão aórtica, reduzindo o fluxo coronariano, fazendo com que a
nutrição do coração diminua, realimentando o processo. Nestes
casos pode-se fazer a colocação de um balão na aorta, para manter a
pressão aórtica elevada e permitir que o fluxo coronariano se
mantenha estável e o coração possa recuperar sua capacidade ao ser
nutrido adequadamente.

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• Compressão extravascular na coronária direita: a contração do ventrículo


direito exerce pouca influência na circulação da coronária direita, pois não é muito
forte. Isso faz com que o fluxo, apesar de microscopicamente perceptível como
idêntico ao da coronária esquerda (embora o momento de maior fluxo seja na
sístole ventricular), não varie muito significativamente.

Fatores neurais e neuro-humorais que influenciam o fluxo coronariano


• SNA simpático: as coronárias possuem grande quantidade de receptores
adrenérgicos do tipo alfa, que, ativados pela norepinefrina do simpático,
provocam vasoconstrição. Assim, a tendência, em uma estimulação simpática, seria
a vasoconstrição que reduziria o fluxo coronariano; porém, com a estimulação
simpática, a atividade metabólica geral do organismo aumenta, o que induz a
produção de vasodilatadores, fazendo com que o fluxo coronariano aumente
muito mais significativamente do que diminua.
o Os músculos esqueléticos, por outro lado, possuem grande quantidade de
receptores adrenérgicos tipo beta, que, ativados pela norepinefrina do
simpático, provocam vasodilatação. Assim, a estimulação simpática neles
provoca a vasodilatação das arteríolas de maneira direta, aumentando o
fluxo no interior delas.
• SNA parassimpático: os receptores muscarínicos das coronárias, uma vez
ativados pela acetilcolina do parassimpático, provocam vasodilatação. Assim, em
uma estimulação parassimpática, ocorrerá, nas coronárias, o inverso da estimulação
simpática.

Fatores metabólicos que influenciam o fluxo coronariano


• Um aumento do metabolismo cardíaco provoca o aumento do fluxo
coronariano, pois há a liberação de metabólitos pelo coração que agirão como
vasodilatadores.

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Microcirculação
• Microcirculação: trata-se da circulação do sangue pelos menores vasos do corpo:
o Arteríolas: vasos que possuem tecido elástico, tecido muscular e tecido
fibroso. Via de regra, saem das artérias de maior calibre e desembocam nos
capilares.
o Capilares: vasos que possuem apenas endotélio. Via de regra, recebem
sangue a partir de arteríolas, realizam as trocas com as células do corpo e
desembocam em vênulas.
o Vênulas: vasos que possuem endotélio com tecido fibroso. Via de regra,
drenam o sangue dos capilares para as veias de maior calibre.

Figura 32: Diagrama esquemático das diferenças entre os tipos de vasos sanguíneos da
macrocirculação e da microcirculação (boxe quadriculado)

• Funções: a circulação capilar possui majoritariamente a função de troca de


substâncias do sangue com os tecidos, através dos capilares.
o Outra função da microcirculação (que, na verdade, ajuda o correto
desempenho da função principal de trocas) é a regulação regional do fluxo
sanguíneo pelas arteríolas e pelos esfíncteres pré-capilares. Isso é feito pela
produção de vasodilatadores ou vasoconstritores de acordo com a atividade
metabólica do tecido.
• Características dos capilares: para que possam intermediar o intercâmbio de
substâncias entre sangue e tecidos, os capilares são adaptados com as seguintes
características:
o Grande área transversal: a existência de um enorme número de capilares
no corpo permite que eles perfaçam, conjuntamente, uma enorme área de

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secção transversa. Desse modo, a superfície que o sangue tem para


percorrer, desde as grandes artérias até os capilares, aumenta enormemente.
Isso faz com que a velocidade do sangue nesse trajeto vá diminuindo
proporcionalmente, até ser mínima no interior dos capilares. A baixa
velocidade do fluxo sanguíneo nos capilares é essencial para que possa
haver tempo suficiente de contato entre sangue e tecidos, tornando o
intercâmbio de substâncias entre eles mais efetivo.

Figura 33: Gráfico comparativo da área de secção transversa e da velocidade do fluxo sanguíneo nos
diferentes tipos de vasos sanguíneos. Essas duas grandezas são inversamente proporcionais: dessa
forma, os capilares possuem a maior área de secção transversa e a menor velocidade de fluxo
sanguíneo.
o Fenestração: a parede dos capilares é formada por células endoteliais com
fenestras (aberturas), garantindo a permeabilidade do capilar para que haja
o efetivo intercâmbio de substâncias entre o sangue e as células do corpo.

Regulação do fluxo sanguíneo na microcirculação


Regulação metabólica
• Atividade metabólica: mecanismo extrínseco de regulação do fluxo
microcirculatório. A produção de metabólitos vasodilatadores pelas células dos

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tecidos corporais, de acordo com a sua atividade metabólica em determinado, é


capaz de regular o fluxo sanguíneo na microcirculação por interferir nos tônus da
musculatura lisa das arteríolas e dos esfíncteres pré-capilares.
o Aqui se aplica o mesmo princípio descrito na regulação do fluxo
coronariano: quanto maior a atividade metabólica tecidual, maior a
produção de metabólitos vasodilatadores (aumento de CO2, redução de
O2, etc.) que provocam o relaxamento de esfíncteres pré-capilares e a
vasodilatação arteriolar.
▪ Relaxamento de esfíncteres pré-capilares: diminui a resistência
(R) ao fluxo (F) nos capilares, permitindo que o sangue possa
atravessar uma quantidade maior de capilares (a rede capilar possui
vários vasos capilares que podem ou não serem individualmente
perfundidos por sangue). Esse aumento de capilares abertos faz com
que aumente a área superficial capilar disponível para trocas, e
diminui a distância de difusão entre a célula a ser nutrida e o capilar
aberto. Esses fatores promovem o aumento das trocas entre sangue e
tecidos, o que é o necessário em um aumento de atividade
metabólica.

Figura 34: Efeito do grau de contração dos esfíncteres pré-capilares sobre a perfusão sanguínea nos
diversos vasos capilares que compõem a rede capilar.

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▪ Vasodilatação arteriolar: o aumento do raio (r) arteriolar diminui a


resistência (R), aumentando o fluxo (F) nos capilares, o que aumenta
a oferta de O2 e acelera a remoção de CO2 e outros metabólitos.
Com isso, há aumento no gradiente de concentração desses materiais
entre o sangue e as células dos tecidos, favorecendo as trocas em um
momento de atividade metabólica aumentada.

Regulação endotelial ativa


• Papel vasoativo do endotélio capilar: mecanismo intrínseco de regulação do fluxo
microcirculatório. Nele, as próprias células endoteliais dos vasos que compõem a
microcirculação são capazes de promover respostas intracelulares a certos
estímulos, que podem consistir na produção de substâncias vasodilatadoras ou
vasoconstritoras para a musculatura lisa nas arteríolas e para os esfíncteres pré-
capilares. Esse mecanismo manifesta-se, principalmente, pela via de relaxamento
do óxido nítrico:

Figura 35: Diagrama esquemático da via de relaxamento do óxido nítrico.


o O sangue que circula no lúmen do vaso da microcirculação passa a conter
substâncias como acetilcolina, bradicinina e substância P.
o Essas substâncias são capazes de ativar receptores muscarínicos da célula
endotelial.

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o O receptor ativado provoca influxo de íons Ca2+ para dentro da célula


endotelial, que então se ligarão à proteína calmodulina.
o O complexoCa2+-calmodulina é então capaz de ativar a enzima óxido
nítrico sintase (NOS), que por sua vez é capaz de converter arginina em
citrulina e óxido nítrico.
o O óxido nítrico (NO) é a grande substância vasodilatadora do organismo.
Ele é extremamente permeável na membrana endotelial, sendo capaz de se
difundir da célula endotelial para a fibra muscular lisa do vaso.
o Na fibra muscular, o NO é capaz de ativar a proteína GC, que converte
GTP em cGMP para ativar a proteína PKG.
o A proteína quinase G (PKG) provoca hiperpolarização da fibra muscular
lisa e diminuição dos níveis de Ca2_ intracelular, portanto induzindo o
relaxamento do músculo, que é a vasodilatação.

Troca transcapilar
• O intercâmbio de substâncias entre o sangue (dentro do capilar) e interstícios e
células teciduais (fora do capilar) é intermediado pelo vaso capilar, composto de
endotélio; assim, as trocas transcapilares representam o papel passivo do endotélio
capilar. A troca transcapilar pode ocorrer por três rotas:
o Através das fenestras capilares;
o Através da membrana do endotélio capilar;
o Por pinocitose.

Figura 36: Esquematização das diferentes rotas de troca transcapilar.

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• Por pinocitose: no caso de intercâmbio de substâncias maiores, a célula endotelial


engloba essa substância e a encerra no interior de uma vesícula, para então
transportá-la até o lado externo do vaso e expulsar seu conteúdo para as células e
interstícios teciduais.
• Através da membrana do endotélio capilar: a passagem de substâncias por entre
as membranas das células endoteliais só ocorre no caso de intercâmbio de
substâncias lipossolúveis, que conseguem se dissolver na bicamada lipídica que
compõe essas membranas.
• Através das fenestras capilares: a passagem de substâncias pelas fenestras (poros)
da parede do capilar ocorre no caso de substâncias hidrossolúveis (uma vez que a
fenestra normalmente é preenchida por água). Esta é a principal forma de troca
transcapilar. Ela pode ocorrer por duas forças:
o Difusão: as substâncias são trocadas de acordo com seu gradiente de
concentração existente entre os meios interno e externo ao capilar. Quanto
maior o gradiente, mais intensa a difusão.
o Filtração: as substâncias são trocadas de acordo com os valores de pressão
hidrostática e de pressão oncótica. Assim, a filtração é muito dependente do
equilíbrio de Starling.

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Equilíbrio de Starling

Figura 37: Esquematização das forças envolvidas para o equilíbrio de Starling.

• Na extremidade arterial do capilar (porção inicial do capilar), tem-se que:


o A pressão hidrostática do líquido capilar, que é a pressão do sangue sobre
a parede interna do vaso, sofre uma redução progressiva à medida em que se
afasta das artérias de maior calibre e se aproxima do capilar. Na
extremidade arterial do capilar, essa pressão chega a um valor muito
reduzido, de cerca de 35mmHg. Por outro lado, a pressão hidrostática do
líquido intersticial sobre a parede externa do capilar é praticamente nula
(uma vez que o interstício é aberto, praticamente inexistindo área sobre a
qual o líquido fazer pressão).
o Já a pressão oncótica é a pressão osmótica que surge em decorrência de um
gradiente proteico existente entre dois meios, que, neste caso, são o interior
do capilar e o interstício tecidual. Assim, tem-se há grande concentração
proteínas no capilar, fazendo que a tendência de movimentação osmótica da
água seja ir do interstício tecidual para o interior capilar. Essa tendência faz

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surgir uma pressão oncótica de cerca de 25mmHg, que é constante em toda


extensão do capilar.
o Assim, na extremidade arterial do capilar, a diferença entre a pressão
hidrostática que empurra o líquido capilar para o interstício (35mmHg) e a
pressão oncótica que empurra o líquido intersticial para adentrar o capilar
(25mmHg) resulta em uma pressão efetiva de saída de líquido capilar
para o interstício de 10mmHg.
• Na extremidade venosa do capilar (porção final do capilar), tem-se que:
o Conforme o capilar percorre o tecido, a pressão hidrostática do líquido
capilar continua a cair gradativamente, até chegar a cerca de 16mmHg na
extremidade venosa do capilar.
o Entretanto, a pressão oncótica continua a ser de cerca de 25mmHg, pois é
constante em toda extensão do capilar.
o Assim, na extremidade venosa do capilar, a diferença entre a pressão
hidrostática que empurra o líquido capilar para o interstício (16mmHg) e a
pressão oncótica que empurra o líquido intersticial para adentrar o capilar
(25mmHg) resulta em uma pressão efetiva de entrada de líquido
intersticial para o capilar de -9mmHg.
• Se na extremidade arterial do capilar há uma pressão de saída líquido de 10mmHg,
e na extremidade venosa há uma pressão de retorno de líquido de -9mmHg, tem-se
uma situação em que há mais líquido saindo do que entrando no capilar. O
responsável por recolher este líquido intersticial em excesso (resultante da
diferença de cerca de 1mmHg entre os valores absolutos das pressões de filtração)
e, assim, manter a volemia da circulação, é o sistema linfático. Ele é composto de
capilares linfáticos que drenam esse líquido para vasos linfáticos, que o
reconduzirão ao sistema cardiovascular ao desembocarem por meio dos ductos
linfáticos nas veias.

o Edema: o edema é a condição em que não há um correto retorno de


líquido para os capilares, havendo acúmulo de líquido nos interstícios
teciduais. O edema que pode ocorrer em uma situação em que a pressão
hidrostática aumente (por filtração capilar excessiva), ou que a pressão
oncótica diminua (por baixa concentração de proteínas plasmáticas), ou que
haja deficiência da recondução linfática (por obstrução de vasos linfáticos).

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Hemodinâmica
Vasos sanguíneos arteriais
• As artérias são os vasos sanguíneos que saem do coração, conduzindo sangue até
os tecidos, sendo essa sua principal função.
• As artérias possuem grande quantidade de fibras elásticas, sobretudo nas de grande
calibre. À medida em que se afastam do coração e se ramificam, as fibras elásticas
das artérias diminuem.
• As artérias possuem musculatura lisa. A proporção entre essa musculatura e os
demais constituintes do vaso, diferentemente do que ocorre no caso das fibras
elásticas, aumenta conforme as artérias se afastam do coração e se ramificam.

Figura 38: Diferenças morfológicas entre os tipos de vasos sanguíneos arteriais.

• Por emergirem diretamente do coração, as artérias são os vasos que estão


submetidos aos maiores valores de pressão. A alta pressão a qual as artérias estão
submetidas exige que sua parede seja mais calibrosa e mais elástica para resistir a
essa pressão.
o Assim, quando o coração bombeia o sangue na sístole, a elasticidade
permite que a parede das artérias se distenda, acumulando energia potencial.
Isso amortece a pressão imediata do sangue ao sair do ventrículo.
o No período da diástole, a elasticidade permite que a parede arterial se
retraia, voltando a uma configuração menos distendida.
• Considera-se que o fluxo sanguíneo no interior das artérias de grande calibre é
intermitente, isto é, inconstante devido ao ciclo cardíaco, que ora ejeta sangue nas
artérias (sístole), ora fecha sua comunicação com elas (diástole). Isso provoca o
aparecimento de frentes de onda nas artérias, que representam os picos de pressão
provocados pela sístole.

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Figura 39: Representação das frentes de onda na aorta, resultantes dos picos de pressão gerados pelo
coração.
o Quanto mais as artérias se afastam do coração e se aproximam dos
capilares, mais constante se torna o fluxo sanguíneo. Isso ocorre porque há
um acúmulo de energia no interior das artérias mais próximas do coração à
medida em que elas se distendem durante as sístoles e relaxam durante as
sístoles. Assim, essa energia pulsante não é distribuída às artérias mais
distantes do coração, não afetando o fluxo sanguíneo no interior delas.
▪ Assim, considera-se que, no interior dos tecidos, o fluxo sanguíneo
é constante e sem variação de velocidade.

Variação da pressão sanguínea na circulação


• A pressão sanguínea tem origem nas vigorosas contrações dos ventrículos cardíacos
e é imediatamente transmitida às artérias mais próximas do coração. Mas a pressão
sanguínea diminui progressivamente à medida que avança no sistema
circulatório (aproximando-se do leito capilar) devido a três razões:
o A elasticidade das artérias. Ela permite o amortecimento da pressão
sanguínea que é gerada pelos ventrículos, contribuindo para sua redução.
▪ Ao longo da vida, a participação dessa elasticidade para o
amortecimento da pressão vai mudando. Quanto mais jovem o
indivíduo, mais flexíveis são suas artérias. O envelhecimento, por
outro lado, as torna mais rígidas.
o A ramificação das artérias em vasos estreitos, porém muito numerosos: as
arteríolas e os capilares. A enorme quantidade desses ramos gera uma
enorme área de secção transversal conjunta, o que significa que existirá
uma maior área para o sangue passar, o que promove a redução da pressão

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(para se ter uma ideia, enquanto na aorta o sangue passa por uma única área
transversal de 2,8cm2 nos capilares o sangue passa por uma área transversal
conjunta de 1357cm2).
o A viscosidade do sangue (muito relacionada ao hematócrito, e normalmente
igual a 3 vezes a viscosidade da água). Ela cria uma força de atrito entre os
elementos do sangue e a parede interna dos vasos que é capaz de reduzir a
intensidade do fluxo sanguíneo no interior dos vasos, reduzindo também a
pressão arterial.

▪ Anemia: em condições anêmicas, a viscosidade do sangue reduz


devido à depleção de elementos do sangue (no caso, hemácias),
fazendo com que a pressão fique elevada e a velocidade do sangue
aumente. Isto é, de certa forma, um efeito compensatório da anemia:
haverá uma maior disponibilização de sangue para os tecidos
(sangue este que, por outro lado, estará pobre em hemácias).

▪ Policitemia: pacientes policitêmicos (com excesso de hemácias)


possuem um sangue mais viscoso devido à grande quantidade de
elementos do sangue (no caso, hemácias). O mesmo ocorre com
pacientes desidratados, devido à pouca quantidade de água no
sangue.
• Análise conjuntural da variação da pressão sanguínea: tem-se, portanto, o
seguinte cenário geral para a variação da pressão sanguínea ao longo dos vários
segmentos da circulação:

Figura 40: Gráfico da variação da pressão sanguínea ao longo dos diferentes segmentos da circulação.
o Desde a aorta até as pequenas artérias, a pressão é alta e muito oscilante.
o Nas arteríolas, a pressão passa a oscilar menos e diminuir de valor.

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o Nos capilares, não há oscilação, e a pressão vai diminuindo até zerar, ao


atingir a extremidade venosa desses capilares.
o Das pequenas veias até as veias cavas, a pressão sanguínea é nula.
o No lado direito do coração, a pressão volta a subir um pouco.
o Nas artérias pulmonares, a pressão volta a oscilar, mas rapidamente diminui
de valor ao passar pelas arteríolas pulmonares.
o Dos capilares pulmonares até as veias pulmonares, a pressão volta a ser
nula.
o No lado esquerdo direito do coração, a pressão é recolocada em altos
valores e fica muito oscilante novamente, e o processo reinicia.

Parâmetros importantes em hemodinâmica


• Pressão arterial média: a pressão arterial média (PAM, ou pressão média do
sangue) é definida pela pressão arterial diastólica (PAD) somada a 1/3 da pressão
de pulso (ou pressão diferencial), que é a diferença entre a pressão arterial sistólica
(𝑃𝐴𝑆−𝑃𝐴𝐷)
(PAS) e a diastólica. Assim, tem-se a fórmula 𝑃𝐴𝑀 = 𝑃𝐴𝐷 +
3

o A maior significância da pressão diastólica para a composição da pressão


arterial média se dá ao fato de que a diástole dura mais tempo que a
sístole. Assim, a pressão média é mais próxima da pressão diastólica.
o Relembrando: no ciclo cardíaco, a sístole faz com que a pressão arterial
(no caso, da aorta) aumente até um máximo que é a pressão arterial
sistólica. Ela então passa a cair devido ao esgotamento do volume
ventricular, até que as válvulas semilunares fechem (provocando a breve
incisura da onda dicrótica no gráfico da pressão arterial), e o ventrículo
passa a fazer a diástole, período no qual a pressão arterial diminui até um
valor mínimo definido pelo início da próxima sístole, que é a pressão
arterial diastólica.
• Fluxo sanguíneo: o fluxo sanguíneo (Q) é constante nos vasos mais afastados do
coração. Entretanto, os diferentes tipos de vasos (artérias, capilares e veias)
possuem diferentes valores de calibre/área de secção transversal. Com isso, o que
variará não será o fluxo sanguíneo (Q), medido em taxa de deslocamento de
volume por unidade de tempo (mililitros por segundo); mas a velocidade do sangue
(v), medida em taxa de deslocamento linear do fluido por unidade de tempo
(milímetros por segundo).

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Figura 41: Variação da velocidade de um fluido para um fluxo constante em tubos de diferentes raios.

• Velocidade do sangue: a velocidade do sangue (v) é diretamente proporcional ao


fluxo sanguíneo (Q) e inversamente proporcional à área de secção transversal total
𝑄
(A). Com isso, tem-se que 𝑣 = 𝐴

o Nas artérias, a área transversal total é pequena, portanto a velocidade será a


maior possível para um fluxo constante. A pressão será muito oscilante e
muito alta.
o Nos capilares, a área transversal total é a maior possível, portanto a
velocidade é a menor possível para um fluxo constante. A pressão passa a
não mais oscilar e cai bruscamente.
o Nas veias, a área transversal é intermediária, e a velocidade também
intermediária entre os demais segmentos. Por outro lado, a pressão passa a
diminuir até ficar nula (o sangue passa a ser conduzido de maneira passiva).

Figura 42: Gráfico que correlaciona velocidade do sangue, pressão arterial e área transversal total com
cada segmento da circulação.

• Resistência vascular: a resistência vascular (R) é uma grandeza referente à


dificuldade enfrentada pelo sangue para percorrer um vaso. Conforme visto

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anteriormente, a resistência é inversamente proporcional ao fluxo (Q) e diretamente


∆𝑃
proporcional à diferença de pressão entre as extremidades do vaso (∆P), ou 𝑄 = .
𝑅

• Diferença de pressão: a diferença de pressão considera a pressão existente nas


∆𝑃
duas extremidades do vaso (P1 e P2). Pela fórmula 𝑄 = , quanto maior a
𝑅

diferença de pressão, maior o fluxo sanguíneo (que sempre irá em direção à


extremidade de menor pressão).
o É este o fenômeno físico que impulsiona o sangue das artérias (que detêm
maiores valores pressão) até os capilares e veias (que detêm menores
valores de pressão).

Lei de Poiseuille
• Lei de Poiseuille: fórmula que determina que o fluxo (Q) de um fluido através de
um tubo rígido é:
o Diretamente proporcional à diferença de pressão (∆P) entre as
extremidades do tubo;
o Diretamente proporcional à quarta potência do raio (r) do tubo;
o Inversamente proporcional à viscosidade (η) do fluido;
o Inversamente proporcional ao comprimento (l) do tubo;
o Relativo a um valor constante de π/8.

𝜋 × ∆𝑃 × 𝑟 4
𝑄=
8×𝜂×𝑙

• Segunda aplicação da lei de Poiseuille: aplicando-se a lei de Poiseuille à fórmula


∆𝑃
inicial do fluxo 𝑄 = , tem-se que a resistência (R) de um vaso é diretamente
𝑅

proporcional à viscosidade (η) do fluido, diretamente proporcional ao comprimento


(l) do tubo, e inversamente proporcional à quarta potência do raio (r); além de
relativa a um valor constante de 8/π.

8×𝜂×𝑙
𝑅=
𝜋 × 𝑟4

• Raio: o raio (r) do tubo, conforme verificado, afeta tanto o fluxo (Q) quanto a
resistência (R) deste tubo.
o Assim, a partir de um tubo cujas extremidades estabeleçam uma diferença
de pressão (∆P) constante, se o raio (r) deste tubo for dobrado, o fluxo (Q)
aumentará dezesseis vezes e a resistência (R) diminuirá dezesseis vezes.

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▪ Com isso, no sistema cardiovascular, os vasos sanguíneos que


possuem grande proporção de músculo liso (que é o caso das
arteríolas) em suas paredes detêm grande capacidade de regular o
fluxo (Q) sanguíneo constante e geral para praticamente todos os
vasos, apenas com pequenas oscilações do raio de seu lúmen
provocadas pela contração ou relaxamento de sua musculatura lisa.

Medição da pressão arterial


• Medição direta: A medição direta empírica da pressão arterial foi feita usando um
êmbolo conectado a um manguito cuja pressão tenha se igualado à pressão arterial.
Essa pressão arterial fazia o êmbolo se movimentar e mover uma coluna de
mercúrio. Por causa disso, a medição usual da pressão arterial é em milímetros de
mercúrio, sendo que para um indivíduo saudável é de 120mmHg (sistólica) por
80mmHg (diastólica), corriqueiramente referida como “doze por oito”.
• Medição indireta: métodos indiretos de registro da pressão arterial incluem os
métodos palpatório, oscilométrico e auscultatório. Será dado enfoque ao método
auscultatório, que é o mais habitualmente utilizado na prática médica cotidiana.

Método auscultatório
• Equipamentos necessários: esfigmomanômetro, que consiste em um manguito
ligado a uma ampola de insuflação, um esfíncter de exsuflação e um manômetro
(leitor de pressão no interior do manguito); e estetoscópio, para fazer a ausculta
(detecção de sons produzidos no interior do corpo).
• Colocar um manguito ao redor do braço, inflá-lo com a ampola e obstruir a
artéria braquial.
o Para obstruir a artéria, é necessário que a pressão em seu interior seja
superada pela pressão do manguito. Isso costuma acontecer ao se insuflar o
manguito a uma pressão acima de 160mmHg.
• Com a artéria braquial obstruída, o sangue deixa de passar por ela. Neste momento,
ao se auscultar a artéria, nada será ouvido, pois ela estará colabada. Também não
haverá palpação de pulso radial na artéria radial.
• Abrir o esfíncter e exsuflar o manguito gradativa e lentamente, até que sua pressão
se iguale à pressão no interior da artéria braquial. Isso faz com que a artéria consiga
abrir um pouco, formando um canal estreito para a passagem de sangue.

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• Como o sangue no interior da artéria possui uma pressão elevada, o jato de sangue
irá percorrer o canal estreito com uma força tão alta que pode ser auscultada. Uma
vez auscultado o som deste jato, deve-se ler o manômetro imediatamente para a
determinação da pressão arterial sistólica.
• Continua-se a se exsuflar gradativa e lentamente o manguito. Os sons auscultados
durante esta exsuflação são intermitentes e variáveis em intensidade. São chamados
de sons de Korotkov.

Figura 43: Representação gráfica das pressões envolvidas na geração dos sons de Korotkov. A curva
ondulatória vermelha é a pressão arterial, e a curva azul, a pressão do manguito. O primeiro momento
em que elas se tocam corresponde à pressão sistólica, e o último, à pressão diastólica.
o A natureza intermitente desses sons se deve ao fato de que a pressão no
interior da artéria braquial é oscilante (característica da pressão nas grandes
artérias). Assim, dependendo do valor de pressão ainda existente no interior
do manguito, há momentos em que a pressão do sangue vai ser alta o
suficiente para conseguir vencê-la e passar pelo canal estreito produzindo o
som auscultado; porém, há momentos em que essa pressão oscila para um
valor inferior ao do manguito, fazendo com que a artéria volte a ficar
colabada. Dessa forma, surge a intermitência dos sons: há momentos em
que eles são auscultados, e momentos de silêncio.
o A natureza de intensidade variável desses sons se deve ao fato de que eles
só são produzidos quando há um fluxo turbulento (não-laminar) de sangue
no interior do vaso, que é o caso da passagem dele pelo canal estreito. À
medida em que o manguito tem sua pressão reduzida, esse canal vai ficando
mais amplo, permitindo que mais sangue flua de forma turbulenta no
interior da artéria, o que aumenta a intensidade dos sons. Entretanto, a partir

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de um certo limite, o canal vai ficando tão amplo que o sangue começa a
fluir de maneira laminar, o que reduz a intensidade dos sons. É por isso que
os sons auscultados começam fracos, ficam fortes e depois ficam fracos
novamente.

Figura 44: Representação gráfica da intensidade dos sons de Korotkov.

• Eventualmente, os sons ficam tão fracos que param de ser auscultados. Uma vez
que isso aconteça, deve-se ler o manômetro imediatamente para a determinação da
pressão arterial diastólica.

Fluxo laminar do sangue


• Fluxo sanguíneo laminar: dentro dos vasos sanguíneos, o fluxo do sangue é do
tipo laminar. Isso significa que, à medida em que o sangue percorre o vaso, ele se
distribui em lâminas transversais, concêntricas à luz do vaso.
o A lâmina mais externa desse fluxo é a que está em contato com endotélio
do vaso. Portanto, ela sofre maior resistência devido ao atrito com as
paredes do vaso, portanto o fluxo nessa lâmina é mais lento.
o Conforme as lâminas vão ficando mais próximas do centro da luz do vaso, o
fluxo sanguíneo vai ficando mais rápido. A lâmina mais interna do fluxo
praticamente não sofre a resistência do vaso, portanto o fluxo nessa lâmina
é mais rápido.
• Os elementos mais leves e mais pesados do sangue são divididos quanto à sua
posição de circulação nas lâminas externas e internas:
o Os elementos mais leves (plasma, muito leve, e plaquetas, pouco leves)
circulam nas lâminas externas, mais lentas e próximas à parede do vaso.
o Os elementos mais pesados (leucócitos, pouco pesados, e eritrócitos, muito
pesados) circulam nas lâminas internas, mais rápidas e próximas centro da
luz do vaso.

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Figura 45: Esquematização das lâminas do fluxo sanguíneo laminar e dos elementos que nelas
circulam.

• O fluxo laminar é capaz de promover o posicionamento estratégico dos elementos


do sangue para favorecer certos processos fisiológicos:
o Quando a artéria emite uma ramificação perpendicular ao seu trajeto, este
ramo irá receber maior quantidade de elementos que estejam nas lâminas
externas (próximas das paredes dos vasos), ou seja, irá receber
principalmente plasma.
▪ Isso é uma vantagem para as artérias renais, ramos perpendiculares
da aorta abdominal, pois favorece o influxo de plasma para dentro
delas. O plasma é justamente o elemento sanguíneo que será sujeito
à filtração nos rins.
o O fluxo laminar também faz com que as plaquetas sejam o elemento
figurado do sangue mais próximo da parede dos vasos. Quando houver uma
lesão da parede do vaso, portanto, a chegada de plaquetas para coagular a
lesão será favorecida.

▪ Aterosclerose / trombose: este fenômeno das plaquetas


circularem mais próximas à parede do vaso, entretanto, é prejudicial
para o organismo caso surjam placas de ateroma nessa parede: a
aglomeração de plaquetas nestas placas favorece a formação de
trombos.
• O fluxo laminar permite ao sangue que circule de maneira linear e não interrompida
no interior dos vasos, o que torna o fluxo laminar silencioso.
o Quando há obstrução parcial do vaso (por insuflação do manguito do
esfigmomanômetro, ou por placas de ateroma), tem-se um aumento na
velocidade do sangue, originando um fluxo sanguíneo turbulento, que
emite sons que podem ser auscultados.

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Figura 46: Esquema representativo de um fluxo sanguíneo laminar e um turbulento por obstrução.

• Número de Reynolds: grandeza usada para definir o tipo de fluxo (laminar ou


turbulento) que se processa no interior de um dado vaso.
o A fórmula do número de Reynolds (NR) depende da densidade do fluido
(ρ), do diâmetro do vaso (D), da velocidade do fluido (v) e da viscosidade
do fluido (η).

ρ×D×v
𝑁𝑅 =
8×η

o Valores de NR até 2000 indicam fluxo laminar; entre 2000 e 3000 o fluxo é
transicional; acima de 3000, o fluxo é turbulento.
o Assim, o fluxo sanguíneo laminar é dependente da viscosidade do sangue.
Quanto menor for a viscosidade, mais turbulento será o fluxo.
• Ausculta cardíaca: o fechamento das válvulas cardíacas ao longo do ciclo
cardíaco permitirá, em uma ausculta normal do coração, escutar os sons rítmicos
típicos do coração, chamados de bulhas cardíacas. Essas bulhas podem ser
foneticamente representadas por “lub-dub”.
o Primeira bulha cardíaca: é causada pelo bloqueio súbito da tentativa de
refluxo sanguíneo dos ventrículos para os átrios, promovido pelo
fechamento das valvas atrioventriculares, no início da sístole.
o Segunda bulha cardíaca: é causada pelo bloqueio súbito da tentativa de
refluxo sanguíneo das artérias para os ventrículos, promovido pelo
fechamento das valvas semilunares, no final da sístole.

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o Sopro cardíaco: quando se percebe algum som diferente durante a


ausculta das bulhas, tem-se o sopro cardíaco, que são sons anormais
indicadores de que há provável prejuízo em pelo menos uma válvula
cardíaca, que não está se fechando adequadamente. Esse não fechamento
faz com que haja um fluxo turbulento originado do refluxo sanguíneo,
provocando o som diferente.
▪ Por outro lado, uma vez que o número de Reynolds também depende
da viscosidade do fluido, alterações desse fator podem provocar
sons anômalos na ausculta também. Nesse caso, portanto, não há
prejuízo de válvula cardíaca.

Retorno venoso
• O retorno venoso é promovido pelas veias, que são vasos que conduzem o sangue
dos tecidos para o coração. Na circulação sistêmica, elas levam sangue venoso ao
lado direito do coração para que seja enviado aos pulmões; na circulação pulmonar,
elas levam sangue arterial ao lado esquerdo do coração para que seja enviado ao
restante dos tecidos. Quando se fala em retorno venoso, toma-se por base a ação
das veias na circulação sistêmica, que drenam sangue pobre em O2 e rico em CO2.
• Pressão venosa: via de regra, a grande maioria das veias possui uma pressão
interna muito baixa, quase nula, pois não recebem o sangue ejetado diretamente do
coração. Assim, a circulação de sangue no interior das veias é muito dependente de
forças externas (nas artérias, a pressão gerada pelos ventrículos garante a
circulação), fazendo com que o volume total de sangue do corpo fique muito
concentrado nas veias, em uma porcentagem de cerca de 64%.
o Entretanto, veias em regiões mais baixas do corpo (por exemplo, nos
membros inferiores) têm uma pressão relativamente elevada, devido à
grande altura da coluna de sangue que se forma nessas veias (sabe-se que,
quanto maior a coluna de um líquido, maior a pressão hidrostática por ele
exercida).
o Veias acima do coração, por outro lado, possuem uma pressão de sentido
inverso às daquelas abaixo do coração: a força da gravidade ajuda a
direcionar o fluxo sanguíneo de volta para o coração.

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Figura 47: Pressão venosa nas veias em diferentes regiões do corpo.

• Válvulas venosas: nas regiões onde a alta coluna de sangue se forma, encontram-se
as válvulas venosas no interior da parede das veias. Essas válvulas são responsáveis
por fragmentar a alta coluna de sangue em várias colunas menores, diminuindo a
pressão hidrostática total sobre as veias.
o A ação das válvulas venosas é fecharem-se quando o sangue dentro das
veias tenta refluir, cortando, assim, a altura da coluna de sangue e
reduzindo a pressão exercida nos níveis inferiores das veias.
o O sangue acumulado entre uma válvula e outra só será impulsionado em
direção ao coração novamente quando houver contração muscular sobre as
paredes das veias, promovendo a contração passiva da veia. Essa
contração promove uma pressão de progressão que ajuda a superar a
pressão sanguínea de refluxo exercida pela coluna de sangue sobre a válvula
venosa. Quando o músculo relaxar, a pressão entre as válvulas voltará a
diminuir, permitindo que elas recebam sangue advindo de uma válvula
inferior que se contraia passivamente.

o Insuficiência venosa: a insuficiência venosa é uma dificuldade em se


fazer o retorno sanguíneo. Com isso, há um acúmulo de sangue nos
capilares, o que faz com que a pressão hidrostática na extremidade venosa
dos capilares fique aumentada. Nesta situação, pelo equilíbrio de Starling, a

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saída do sangue nos capilares (filtração) ficará mais intensa, acumulando


um excesso de líquido no espaço intersticial (que não conseguirá nem
mesmo ser compensado pela recirculação promovida pelo sistema linfático),
que é o edema. Ao mesmo tempo, essa depleção de líquido do sangue
provocará queda da volemia.
• Complacência e resistência venosa: a complacência venosa é a capacidade da veia
de se distender em um momento de recebimento de sangue. A resistência venosa é
a capacidade da veia de manter um estado íntegro após a distensão, permitindo seu
correto funcionamento.

o Veia varicosa: situações em que haja sangue acumulado por tempo


excessivo nas válvulas venosas provocam a exacerbação da complacência
da parede venosa. Com as paredes excessivamente distendidas, as válvulas
venosas ficam incapazes de reter o sangue. Uma veia sob esta condição é
chamada de veia varicosa.

Figura 48: Fluxo sanguíneo normal em uma veia saudável, com participação das válvulas para evitar o
refluxo sanguíneo; e refluxo sanguíneo em uma veia varicosa.

• Influência sobre a pressão arterial: com cerca de 64% do volume sanguíneo total
acumulado em veias, o sistema venoso é um local de estocagem de sangue para o
sistema circulatório (essa estocagem é garantida pela complacência das veias, que
conseguem comportar mais volume de sangue que as artérias). Com isso, tem-se
que a pressão arterial é dependente do retorno venoso das veias sistêmicas para
manter seus valores normais. Se menos sangue for retornado, a pressão irá
diminuir, e se mais sangue for retornado, a pressão irá aumentar.

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Eletrocardiografia
• Eletrocardiograma: é o registro do potencial elétrico médio gerado no miocárdio
em termos de voltagem e tempo durante todas as fases do ciclo cardíaco. É
importante notar que não é o estudo eletrofisiológico de uma célula isolada como o
cardiomiócito ou as células nodais (este estudo foi feito ao se analisar o potencial
de resposta rápida e o potencial de resposta lenta, mais anteriormente), mas o
estudo eletrofisiológico do coração como um todo. Elementos importantes para o
registro eletrocardiográfico são:
o Eletrodos: o instrumento utilizado para registrar os potenciais elétricos de
um organismo biológico é o eletrodo. Ele é capaz de captar a atividade
elétrica gerada por qualquer órgão do corpo, como o coração (para a
eletrocardiografia), os músculos esqueléticos (para a eletromiografia) e o
cérebro (para a eletroencefalografia).
o Registro: as informações eletrocardiográficas captadas pelo eletrodo são
traduzidas graficamente por um equipamento de registro sobre um papel, na
forma de um gráfico bidimensional, cujo eixo vertical é a voltagem em
milivolts, e o eixo horizontal é o tempo em segundos.
▪ Escala gráfica: o papel que se desenrola para ser registrado avança
a 25mm/s, tipicamente, apesar de ser possível colocá-lo a 50mm/s.
A unidade básica deste papel é um quadriculado de 5 linhas e 5
colunas medindo 0,5cmx0,5cm, assim:
 A largura de cada quadriculado é de 0,2s sendo que cada
uma das 5 colunas internas do quadriculado mede 0,04s em
comprimento, para a velocidade de 25mm/s. Para a
velocidade de 50mm/s, esses valores são reduzidos à metade.
 A altura de cada quadriculado é de 0,5mV sendo que cada
uma das 5 linhas internas do quadriculado mede 0,1mV em
altura.

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Figura 49: Demonstração dos elementos de um registro eletrocardiográfico.

• Polarização do coração: o coração funciona como uma bateria, contendo polos


positivos e negativos (portanto dipolos elétricos), os quais surgem, mudam de
posição e desaparecem, de acordo com o momento do ciclo cardíaco.
• A polarização do coração no período anterior à sístole ventricular funciona da
seguinte maneira:
o Em um momento de relaxamento do coração, não há diferença de
potencial no interior do coração, estando todo ele carregado positivamente,
portanto, não há dipolo elétrico.
o O primeiro momento de despolarização é do nodo sinoatrial. O coração
passa a se comportar como uma pilha, tendo um dipolo elétrico com o polo
negativo na extremidade superior direita do átrio direito (onde o nodo
sinoatrial se despolarizou), e com polo positivo no restante dos átrios (pois
ainda não se despolarizou). Esta situação, apesar de muito passageira, é
suficiente para originar um campo elétrico que se distribui por todo o corpo
e pode ser captado pelo eletrodo).
o No momento em que os dois átrios estão despolarizados, o coração deixa
de ser uma pilha também (não há dipolo). Isso porque os átrios e os
ventrículos estão eletricamente isolados pelo esqueleto fibroso do coração;
assim, ainda que os átrios estejam com voltagem negativa e os ventrículos
estejam com voltagem positiva, não haverá comunicação elétrica entre eles
para que seja estabelecido um dipolo elétrico.

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• Momentos de surgimento do impulso ao longo do coração:

Figura 50: Os números descrevem quantos segundos, após a despolarização do nodo sinoatrial, a
região correspondente será despolarizada.
o 0s: o nodo sinoatrial despolariza.
o 0,03s: através da condução do impulso pela rápida via internodal, o nodo
atrioventricular na região atrial despolariza.
o 0,07s: o átrio direito despolariza completamente.
o 0,09s: o átrio esquerdo despolariza completamente.
o 0,16s: o nodo atrioventricular na região ventricular despolariza.
o 0,19s: a camada interna do miocárdio de ambos os ventrículos despolariza,
iniciando a contração para a sístole ventricular.
o 0,22s: a camada externa do miocárdio de ambos os ventrículos despolariza,
reforçando a contração da camada interna, e efetivando a sístole ventricular.
▪ Importante notar que a camada externa do miocárdio ventricular
se repolarizará primeiro que a camada interna. Isso significa
que, enquanto a despolarização segue um sentido de interior para
exterior, a repolarização segue um sentido de exterior para interior.
▪ No começo e no final dos processos de despolarização e
repolarização das camadas, não há dipolo elétrico entre elas.
Entretanto, nos intervalos de cada processo, esse dipolo elétrico
entre as camadas existirá. Mas, o que era polo positivo durante a

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despolarização, será polo negativo durante a repolarização, (e vice-


versa) uma vez que o sentido dos dois processos é inverso.
• Para compreender a oscilação das ondas do eletrocardiograma, é preciso
primeiramente considerar uma fibra cardíaca em que a despolarização e a
repolarização ocorram no mesmo sentido, e que hajam eletrodos paralelos e
perpendiculares ao eixo desta fibra.
o Os eletrodos perpendiculares, por estarem um ponto isoelétrico, não
captarão o potencial elétrico gerado pela atividade elétrica da fibra, mas os
eletrodos paralelos sim.

Figura 51: Estudo do potencial elétrico de uma fibra cardíaca em despolarização e repolarização,
utilizando-se eletrodos paralelos e perpendiculares a seu eixo.
o A célula em repouso está totalmente carregada positivamente. Não há
diferença de potencial nesse momento.
o O início da despolarização faz com que os eletrodos paralelos comecem a
captar a atividade elétrica da célula.
o Do ponto de vista gráfico, quando a despolarização ainda está no seu início,
a diferença de potencial existente na célula será muito pequena, pois a área
do miocárdio despolarizada ainda será muito pequena.
o A diferença de potencial está sendo medida tendo como referência uma
extremidade que ainda está polarizada (positiva) em relação a uma

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extremidade que está sendo despolarizada (negativa). Por isso, os valores


registrados são positivos (deflexão positiva da curva do gráfico).
o Com o progredir da despolarização, essa diferença de potencial na célula
aumentará, porque a área despolarizada começa a aumentar, e a área
polarizada começa a diminuir.
o O valor máximo da diferença de potencial ocorrerá quando ambas as áreas
despolarizadas e polarizadas da célula forem idênticas.
o Após atingido o valor máximo, a área polarizada começa a ficar menor do
que a área despolarizada, e a diferença de potencial começa a cair.
o Uma vez totalmente despolarizada, a célula não terá diferença de
potencial.
o Na repolarização, a dinâmica de aumento, valor máximo e redução da
diferença de potencial será a mesma. Entretanto, a diferença de potencial
está sendo medida tendo como referência uma extremidade que ainda está
despolarizada (negativa) em relação a uma extremidade que está sendo
repolarizada (positiva). Por isso, os valores registrados são positivos
(deflexão negativa da curva do gráfico).
o Conclui-se então que, nos momentos em que o miocárdio estiver totalmente
polarizado/repolarizado e totalmente despolarizado, não existirá diferença
de potencial.
• Colocação dos eletrodos: os eletrodos que medirão a diferença de potencial gerado
pela atividade cardíaca serão colocados em pontos do corpo correspondentes aos
vértices de um triângulo equilátero que esteja ao redor do coração, com o ápice
voltado para inferior. Essa correspondência entre pontos é garantida graças ao fato
de que o corpo é um volume condutor, permitindo que os pontos no coração sejam
transportados (desde que mantida a proporcionalidade volumétrica) para pontos
na extremidade do corpo. Assim, os pontos no corpo serão: braço esquerdo, braço
direito e perna esquerda. Para o registro eletrocardiográfico, a comparação deve ser
feita entre dois desses três pontos, originando, assim, as derivações bipolares (D)
clássicas:
o D1: Braço esquerdo (+) com braço direito (-);
o D2: Pé esquerdo (+) com braço direito (-) (padrão);
o D3: Pé esquerdo (+) com braço esquerdo (-).

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Figura 52: Pontos no corpo correspondentes a pontos no coração e as derivações 1, 2 e 3 originadas a


partir da comparação deles dois a dois.

• Vetor diferença de potencial: a existência de dois polos de sinais opostos (dipolo)


nas diferentes fases do ciclo cardíaco faz com que surja um vetor representativo da
diferença de potencial entre esses polos. A direção, o sentido e a intensidade desse
vetor determinarão a amplitude e a deflexão das ondas geradas a partir da captação
da diferença de potencial na derivação estabelecida.
o As derivações por si já possuem uma direção definida pelos dois pontos que
a compõem. Quanto mais alinhada a direção do vetor com a direção da
derivação, maior a amplitude da onda registrada no ECG.
▪ Se a direção do vetor for perpendicular à da derivação, não será
possível ao eletrodo captar a diferença de potencial, não havendo
registro no ECG.
o As derivações por si também já possuem um sentido definido pela fixação
de polos negativos ou positivos (sentido de negativo para positivo) nos dois
pontos que compõem a derivação. Se o sentido do vetor for o mesmo da
derivação, a deflexão será positiva; se os sentidos forem opostos, a deflexão
será negativa.
o A intensidade do vetor também atuará na determinação da amplitude da
onda registrada no ECG.

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▪ Apenas com um vetor de direção totalmente alinhada à da derivação


é que os eletrodos conseguirão registrar fielmente a intensidade do
vetor.

Figura 53: Esquematização da relação entre a direção e o sentido do vetor da diferença de potencial e a
onda registrada no ECG a partir de sua captação nos eletrodos em uma dada derivação.

Registro eletrocardiográfico na segunda derivação


• A segunda derivação (D2) toma como referenciais o pé esquerdo (+) para com o
braço direito (-).

Figura 54: Vetor da diferença de potencial elétrico na despolarização atrial. É de pequena intensidade
e no mesmo sentido da 2ª derivação, portanto gera uma onda P de pequena amplitude e deflexão
positiva.

• Despolarização atrial e onda P: o nodo sinoatrial, no vértice superior direito do


átrio direito despolariza (fica negativo). O resto do átrio direito está polarizado (fica
positivo).
o O vértice superior direito do átrio direito (-) corresponde ao braço direito (-)
o O resto do átrio direito (+), corresponde ao pé esquerdo (+)
o Como estamos em D2, a diferença de potencial fica positiva, e a onda
registrada no ECG terá deflexão positiva. É a onda P.

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o A distância dos polos do dipolo que surgem neste caso (vértice superior
direito do átrio direito e resto do átrio direito) é muito pequena. A onda P
tem uma baixa amplitude.

Figura 55: Vetor da diferença de potencial elétrico na despolarização ventricular prematura. É de


pequena intensidade e no sentido oposto da 2ª derivação, portanto gera uma onda Q de pequena
amplitude e deflexão negativa.

• Despolarização ventricular prematura e onda Q: a camada interna medial do


ventrículo esquerdo despolariza primeiro (fica negativa) do que a camada interna
medial do ventrículo direito (fica positiva).
o A camada interna medial do ventrículo esquerdo (-) corresponde ao pé
esquerdo (+)
o A camada interna medial do ventrículo direito (+) corresponde ao braço
direito (-)
o Como estamos em D2, a diferença de potencial fica negativa, e a onda
registrada no ECG terá deflexão negativa. É a onda Q.
o A distância dos polos do dipolo que surge neste caso (camada interna
medial do ventrículo esquerdo e camada interna medial do ventrículo
direito) é muito pequena. A onda Q tem uma baixa amplitude.

Figura 56: Vetor da diferença de potencial elétrico na despolarização ventricular. É de grande


intensidade e no mesmo sentido da 2ª derivação, portanto gera uma onda R de grande amplitude e
deflexão positiva.

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• Despolarização ventricular e onda R: a camada interna dos ventrículos fica


totalmente despolarizadas (fica negativa) enquanto a camada externa dos
ventrículos ainda está polarizada (fica positiva).
o A camada interna dos ventrículos (-) corresponde ao braço direito (-)
o A camada externa dos ventrículos (+) corresponde ao pé esquerdo (+)
o Como estamos em D2, a diferença de potencial fica positiva, e a onda
registrada no ECG terá deflexão positiva. É a onda R.
o A distância dos polos do dipolo que surge neste caso (camada interna dos
ventrículos e camada externa dos ventrículos) é muito grande. A onda Q
tem uma alta amplitude.

Figura 57: Vetor da diferença de potencial elétrico na despolarização ventricular tardia. É de pequena
intensidade e no sentido oposto da 2ª derivação, portanto gera uma onda S de pequena amplitude e
deflexão negativa.

• Despolarização ventricular tardia e onda S: por algum motivo, a região do


ventrículo direito próxima à valva tricúspide demora muito a despolarizar (fica
positiva) enquanto a camada interna medial do ventrículo direito ainda está
despolarizada (fica negativa).
o A região do ventrículo direito próxima à valva tricúspide (+) corresponde ao
braço direito (-)
o A camada interna medial do ventrículo direito (-) corresponde ao pé
esquerdo (+)
o Como estamos em D2, a diferença de potencial fica negativa, e a onda
registrada no ECG terá deflexão negativa. É a onda S.
o A distância dos polos do dipolo que surge neste caso (região do ventrículo
direito próxima à valva tricúspide e camada interna medial do ventrículo
direito) é muito pequena. A onda S tem uma baixa amplitude.

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Figura 58: Vetor da diferença de potencial elétrico na repolarização ventricular. É de intensidade


intermediária e no mesmo sentido da 2ª derivação, portanto gera uma onda T de amplitude
intermediária e deflexão positiva.

• Despolarização ventricular tardia e onda S: a camada externa dos ventrículos se


repolariza (fica positiva) enquanto a camada interna dos ventrículos ainda está
despolarizada (fica negativa).
o A camada interna dos ventrículos (-) corresponde ao braço direito (-)
o A camada externa dos ventrículos (+) corresponde ao pé esquerdo (+)
o Como estamos em D2, a diferença de potencial fica positiva, e a onda
registrada no ECG terá deflexão positiva. É a onda T.
o A distância dos polos do dipolo que surge neste caso (camada externa dos
ventrículos se repolariza e camada interna dos ventrículos) é intermediária.
A onda S tem uma amplitude intermediária.

Figura 59: ECG completo demonstrando os eventos que provocam cada onda e cada intervalo entre
elas.

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Controle da pressão arterial


• A pressão arterial precisa ser ajustada para garantir que o fluxo sanguíneo a
todos os tecidos corporais seja eficiente. Por isso, ela não pode ter valores muito
altos (hipertensão) ou muito baixos (hipotensão).
o Uma vez que a pressão arterial média normal não é constante, mas
fisiologicamente oscilatória (ao redor de valores próximos 100mmHg), o
corpo também deve agir para evitar que essa oscilação atinja valores
excessivos.
▪ Fatores que provocam a oscilação da pressão arterial: estar em
repouso ou em vigília, praticar exercícios e atividade sexual,
variação de estado emocional.
• Uma vez que a pressão arterial (PA) está intimamente relacionada ao débito
cardíaco (DC) e à resistência periférica total (RPT) pela fórmula PA = DC x RPT,
alterar DC e RPT também alterará a PA.
o Como DC depende da frequência cardíaca (FC) e do volume sistólico (VS)
pela fórmula DC = FC x VS, conclui-se que o controle da PA pode ser feito
alterando-se valores de FC e VS. Eles dependem de parâmetros como pré-
carga, contratilidade miocárdica e resistência periférica. A fórmula final,
assim, seria PA = FC x VS x RPT, sendo que FC, VS e RPT são
diretamente proporcionais a PA.

Regulação da PA a curto prazo


• O controle nervoso da circulação é responsável pela regulação da PA a curto prazo.
Assim, quando ocorre uma variação da PA, passa a atuar quase que imediatamente
o sistema nervoso autônomo (SNA) para reajustá-la. Os componentes do SNA,
controlados pelo centro vasomotor no SNC, são os seguintes:
o O SNA simpático possui uma ação abrangente sobre o sistema
cardiovascular. É capaz de regular parâmetros de funcionamento tanto do
coração quanto de artérias e veias (circulação periférica). Assim, é o
componente do SNA mais importante para a regulação da circulação.
o O SNA parassimpático possui uma ação mais restrita sobre o sistema
cardiovascular. Regula de maneira direta apenas o funcionamento do
coração, sendo a circulação periférica afetada indiretamente (pela ação
regional do parassimpático sobre o tecido) ou, em alguns casos específicos,

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diretamente, como nos vasos da genitália externa, do reto, da bexiga, das


glândulas sudoríparas e salivares e do cérebro. Assim, o parassimpático tem
papel secundário na regulação da função vascular na maioria dos tecidos.
• Centro vasomotor: a área bilateral referida como centro vasomotor está situada no
bulbo, em sua substância reticular e no terço inferior da ponte. Esse centro
transmite impulsos parassimpáticos por meio dos nervos vagos até o coração; e
impulsos simpáticos, pela medula espinal e então o tronco simpático, para o
coração e praticamente todos os vasos do corpo.
o Existem três áreas importantes no centro vasomotor:
▪ Área vasoconstritora, com neurônios responsáveis por excitar as
fibras vasoconstritoras do simpático;
▪ Área vasodilatadora, com neurônios responsáveis por inibir a área
vasoconstritora.
▪ Área sensorial, com neurônios que recebem sinais advindos de
fibras aferentes dos nervos vago e glossofaríngeo para a realização
do controle “reflexo” de funções circulatórias. Assim, pode tanto
inibir quanto estimular as áreas vasoconstritora e vasodilatadora
dependendo das informações recebidas.
o É importante notar que tanto o simpático quanto o parassimpático estão
ativos o tempo todo (a ideia de que eles se “liguem” ou se “desliguem”,
portanto, é errada). Cabe ao organismo ativar ou inibir um deles para que
sua ação se sobressaia ou se enfraqueça.

Regulação da PA pelo SNA simpático


• Anatomia do simpático vasomotor: as fibras nervosas vasomotoras simpáticas
saem da medula espinhal pelos nervos espinais, formam o tronco simpático e então
seguem para a circulação por meio de duas vias: por nervos simpáticos específicos
que inervam principalmente a vasculatura do coração e das vísceras intestinais; e
por segmentos periféricos dos nervos espinais que inervam a vasculatura das
áreas periféricas.

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Figura 60: Inervação simpática dos vasos sistêmicos.


o Inervação simpática vascular: na maioria dos tecidos, todos os vasos
(artérias, arteríolas, veias e vênulas), exceto os capilares, são inervados pelo
simpático. São inervados inclusive os esfíncteres pré-capilares e as
metarteríolas.
• Simpático nos vasos sanguíneos: como o SNA parassimpático não atua
diretamente sobre os vasos sanguíneos, isso significa que os eventos fisiológicos
vasculares (como contração/relaxamento da musculatura lisa vascular) são
determinados de forma praticamente única pelo simpático. Assim, para promover
uma certa ação, o simpático é ativado, e para promover uma ação oposta, o
simpático é inibido.
o Vasoconstrição: de modo geral, as fibras simpáticas que inervam os vasos
sanguíneos têm uma ação predominantemente vasoconstritora. A
norepinefrina é o principal neurotransmissor secretado por elas, capaz de
estimular os receptores alfa-adrenérgicos do músculo liso vascular, que
são vasoconstritores. O efeito vasoconstritor simpático é especialmente
intenso nos rins, no intestino, no baço e na pele, e muito menos potente no
músculo esquelético e no cérebro.
▪ Tônus vasoconstritor: Mesmo em condições normais, o simpático
nos vasos permanece ativo e o tempo todo, sendo que seu tônus
vasoconstritor (estímulo nervoso contínuo para a vasoconstrição)
mantém o tônus vasomotor (resposta muscular contínua ao
estímulo, gerando um estado de contração parcial do músculo do
vaso).

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 Anestesia espinal total: se toda a transmissão simpática


aos vasos for interrompida, o resultado é a queda imediata de
mais de 50% da PA, como resultado da perda do tônus
vasoconstritor sobre o organismo.
▪ Vasoconstrição arterial: a contração da musculatura das artérias
(especialmente as pequenas artérias e as arteríolas, que são os vasos
de resistência da circulação) leva à redução do raio (r) de seu lúmen,
aumentando a resistência das artérias (R), aumentando a RPT,
aumentando a pós-carga, aumentando a PA. O aumento de R
também diminui a velocidade do fluxo (v) pelos tecidos.
▪ Venoconstrição (ou vasoconstrição venosa): o aumento da
contração do músculo liso das veias aumenta o tônus venoso,
aumentando o volume de sangue que é levado de volta ao coração
pelas veias (retorno venoso), aumentando a pré-carga, aumentando o
estiramento do miocárdio, aumentando a força de contração
miocárdica, aumentando o VS, aumentando a PA.
o Vasodilatação: existe também o efeito do simpático de promover a
dilatação do músculo liso dos vasos. É o caso das fibras simpáticas que
inervam a vasculatura dos músculos esqueléticos.
▪ Elas podem promover essa vasodilatação de duas maneiras:
 Receptores beta-adrenérgicos: uma vez estimulados pela
norepinefrina, os receptores beta-adrenérgicos da vasculatura
dos músculos esqueléticos iriam promover a vasodilatação,
efeito oposto ao dos receptores alfa-adrenérgicos.
 Acetilcolina: essas fibras simpáticas para a vasculatura dos
músculos esqueléticos iriam secretar o neurotransmissor
acetilcolina, vasodilatadora. em vez de norepinefrina,
vasoconstritora.
▪ Vasodilatação arterial: o relaxamento da musculatura das artérias
(especialmente as pequenas artérias e as arteríolas, que são os vasos
de resistência da circulação) leva ao aumento do raio (r) de seu
lúmen, reduzindo a resistência das artérias (R), reduzindo a RPT,

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reduzindo a pós-carga, reduzindo a PA. A redução de R também


aumenta a velocidade do fluxo (v) pelos tecidos.

 Pré-exercício: o simpático promove a vasodilatação da


vasculatura dos músculos esqueléticos no início do exercício
para permitir um aumento antecipatório do fluxo sanguíneo
antes mesmo que os músculos precisem de nutrientes
adicionais.

 Síncope vasovagal: pessoas que apresentam intensos


distúrbios emocionais têm seu simpático vasodilatador
ativado ao mesmo tempo que seu parassimpático
cardioinibitório. Juntos, eles provocam redução acentuada de
FC, reduzindo rapidamente a PA, reduzindo o fluxo
sanguíneo para o cérebro, fazendo com que a pessoa perca a
consciência.
• Simpático no coração: o simpático inerva praticamente todos os componentes do
coração. Conforme estudado, a estimulação simpática sobre o coração provoca:
o Aumento da FC: o simpático provoca aumento da frequência de envio de
impulsos pelo nodo sinoatrial (taquicardia) associado a redução do tempo de
propagação do impulso entre átrios e ventrículos (ou seja, redução intervalo
PR do ECG) através do nodo atrioventricular. Isso causa aumento da FC
(cronotropismo positivo), aumentando a PA.
o Aumento do VS: o simpático provoca aumento da força de contração do
miocárdio atrial e ventricular (inotropismo positivo) associado a diminuição
do período refratário (ou seja, redução do intervalo QT). Isso causa aumento
do VS, aumentando a PA.
• Ativação do simpático: o centro vasomotor estimula os núcleos bulbares do
simpático e inibe os núcleos vagais do parassimpático quando é necessário haver
aumento da PA. As situações em que isso ocorre são:
o Em uma queda da PA a partir de uma situação normal;
o Durante o exercício muscular, em que os músculos requerem um fluxo
sanguíneo muito aumento. Assim, ocorre vasodilatação local (pelo
simpático vasodilatador no pré-exercício; pelos metabólitos vasodilatadores
liberados pelos músculos em alta atividade no exercício intenso e vigoroso)

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para acelerar o fluxo sanguíneo para os músculos; e vasoconstrição


generalizada (pelo simpático vasoconstritor) e cardioaceleração (pelo
simpático cardioacelerador) para aumentar a PA;
o Durante o medo extremo, compondo a reação de alarme: o simpático
provoca súbito e excessivo aumento de PA que pode suprir imediatamente o
fluxo sanguíneo para os músculos do corpo que precisem responder, de
forma instantânea, para fugir do perigo que causou o medo.
• Inativação do simpático: o centro vasomotor inibe os núcleos bulbares do
simpático e ativa os núcleos vagais do parassimpático quando é necessário haver
redução da PA. Isso ocorre quando há um aumento da PA a partir de uma situação
normal.

Regulação da PA pelo SNA parassimpático


• Anatomia do parassimpático vasomotor: fibras nervosas parassimpáticas do
nervo vago (X par de nervos cranianos) inervam o coração. As fibras do nervo vago
esquerdo inervam o nodo sinoatrial e as fibras do nervo vago direito inervam o
nodo atrioventricular.
• Parassimpático no coração: a estimulação parassimpática no coração provoca,
principalmente, acentuada redução da FC (cronotropismo negativo) e redução
ligeira da contratilidade do miocárdio (inotropismo negativo). Dessa forma, o
parassimpático reduz a PA.
• Ativação do parassimpático: o centro vasomotor estimula os núcleos vagais do
parassimpático e inibe os núcleos bulbares do simpático quando é necessário haver
redução da PA. Isso ocorre quando há um aumento da PA a partir de uma situação
normal.

o Hipertensão supina: um indivíduo que fique deitado por muito tempo


terá um retorno venoso aumentado devido à pouca resistência oferecida pela
gravidade no trajeto de recondução do sangue ao coração. O aumento do
retorno venoso aumenta a pré-carga, aumentando a PA. O indivíduo então
ficará hipertenso, levando à ativação do parassimpático, que provocará
bradicardia em uma tentativa de reduzir essa PA.
• Inibição do parassimpático: o centro vasomotor inibe os núcleos vagais do
parassimpático e ativa os núcleos bulbares do simpático quando é necessário haver

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aumento da PA. Isso ocorre quando há uma redução da PA a partir de uma


situação normal.

o Hipotensão ortostática: um indivíduo que fique parado em pé por muito


tempo, sem movimentar a musculatura esquelética, sofrerá redução do
retorno venoso devido à não atuação da bomba musculovenosa. A redução
do retorno venoso reduz a pré-carga, reduzindo a PA. O indivíduo então
ficará hipotenso, levando à inativação do parassimpático, o que provocará
taquicardia em uma tentativa de aumentar a PA.

Aferências para a regulação da PA a curto prazo


• Para que o centro vasomotor consiga ativar corretamente o simpático ou o
parassimpático, é essencial que ele receba, por fibras aferentes, informações
acerca de parâmetros correlacionados à PA. Os principais receptores dessas fibras
serão os barorreceptores, os quimiorreceptores e os receptores cardiopulmonares.
o Por outro lado, existe uma porção sensitiva do próprio centro vasomotor
também. Ela atua primordialmente na chamada resposta isquêmica do SNC.
• Resposta isquêmica do SNC: quando o fluxo sanguíneo para o centro vasomotor
diminui o suficiente para causar deficiência nutricional (isquemia cerebral), os
neurônios vasoconstritores e cardioaceleradores do centro vasomotor respondem de
modo direto à isquemia, ficando fortemente excitados. Quando essa excitação
ocorre, a PA sistêmica se eleva até os níveis máximos do bombeamento
cardíaco.
o Apesar da intensidade da resposta isquêmica do SNC, ela não é significativa
até que a PA caia a valores muito baixos (variações de 60mmHg), sendo
que seu grau máximo de estimulação sob pressões de 15 a 20mmHg.
Portanto, não se trata de um mecanismo normal de regulação da PA, mas
um sistema de emergência de controle da PA que age muito rápida e
intensamente para impedir uma maior diminuição da PA que provocaria
uma redução do fluxo sanguíneo cerebral até níveis letais. Pode ser
considerado, portanto, como a “última cartada” no controle da PA. Por isso,
é observada momentos antes da morte de uma pessoa.
• Reação de Cushing: é um tipo especial de resposta isquêmica do SNC, resultante
do aumento da pressão do líquor ao redor do cérebro na caixa craniana. Por
exemplo, quando a pressão do líquor aumenta até se igualar à PA, ocorre a

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compressão de todo o cérebro, bem como de suas artérias, bloqueando o


suprimento sanguíneo cerebral. Isso inicia a resposta isquêmica do SNC que
provoca aumento da PA. Uma vez superior à pressão do líquor, a PA permite o
restabelecimento da circulação no encéfalo.

Barorreceptores

Figura 61: Gráfico que correlaciona a pressão arterial detectada pelos barorreceptores com a
frequência de impulsos por eles enviados.

• Barorreceptores (ou pressorreceptores): são terminações nervosas aferentes de


fibras do nervo glossofaríngeo (barorreceptores carotídeos) e do nervo vago
(barorreceptores aórticos) capazes de detectar o grau de estiramento do vaso em
que se localizam. Como esse estiramento é determinado pela PA, então os
barorreceptores são capazes de detectar a PA diretamente. Essa informação é então
codificada sob a forma de impulso nervoso e enviada até o centro vasomotor para
que sejam processadas as respostas adequadas.
o Os barorreceptores estão localizados em pontos específicos das paredes de
diversas grandes artérias sistêmicas, como a artéria aorta (no arco aórtico)
e a artéria carótida interna (no seio carotídeo). Nas paredes de praticamente
todas as grandes artérias nas regiões cervical e torácica existem poucos
barorreceptores.
o Os barorreceptores são tão sensíveis que até mesmo a variação entre
pressão sistólica e pressão diastólica é detectada por eles. Por outro lado,
eles são muito menos ativos quando se tem uma pressão estacionária, ainda
que ela seja superior a valores saudáveis (mecanismo adaptativo).

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Figura 62: Gráfico de variação da pressão arterial com barorreceptores atuantes (acima) e com
barorreceptores desnervados (abaixo).

• Reflexo barorreceptor: o reflexo barorreceptor é capaz de responder a situações


antagônicas com efeitos também antagônicos:
o Quando a PA aumenta, os barorreceptores são estirados, despolarizam e
transmitem sinais para o centro vasomotor. Este, por sua vez, em um
sistema de feedback, inibe o simpático e envia pelo SNA parassimpático
sinais que resultarão na redução da PA até seu nível normal, como
vasodilatação e redução dos parâmetros FC, DC, VS, RPT, força de
contração miocárdica e retorno venoso.
o Quando a PA reduz, os barorreceptores deixam de ser estimulados,
havendo diminuição nos sinais deles para o centro vasomotor. Este, por sua
vez, em um sistema de feedback, deixa de ativar o parassimpático e passa a
enviar pelo SNA simpático sinais que resultarão no aumento da PA até
seu nível normal, como vasoconstrição e aumento dos parâmetros FC, DC,
VS, RPT, força de contração miocárdica e retorno venoso.

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▪ Síncope ortostática: quando uma pessoa deitada por um longo


tempo assume a posição ereta, imediatamente a PA na cabeça e parte
superior do corpo tende a cair acentuadamente, mas é compensada
pelo reflexo normalizador promovido pelos barorreceptores. Caso
haja alguma deficiência neste mecanismo, entretanto, a pessoa pode
experimentar tontura, lipotimia ou até mesmo síncope pela súbita
queda da PA na cabeça (síncope ortostática).
• Apesar de essencial, o reflexo barorreceptor é “reprogramável”. Isso significa que
pessoas hipertensas possuem um sistema de regulação de pressão que ajusta os
valores de pressão para níveis mais elevados que os saudáveis.
o A explicação é que ele se trata de um mecanismo de curto prazo, que age
instantaneamente e não se prolonga. Com uma persistência de alta PA, o
mecanismo irá se “adaptar” a ela, ficando incapaz de reajustá-la a níveis
saudáveis.
o Assim, a função dos barorreceptores é como se fosse um “tamponamento”
pressórico para a circulação: eles são capazes apenas de estabilizar, e não
de normalizar.

• Hipovolemia hemorrágica: a perda de sangue provoca uma hipovolemia que


leva à a queda da PA. Essa PA reduzida acaba, entretanto, favorecendo a
coagulação em hemorragias pequenas, permitindo que o sangue, agora em baixa
pressão, se acumule no local lesado para coagular.
o Posteriormente, pela diminuição do volume dos capilares haverá também
diminuição da pressão de saída de líquido deles, favorecendo a pressão de
entrada de líquido para eles. Então, após uma hemorragia, o plasma é
reposto rapidamente. O mesmo não acontece com as células, que levarão
mais tempo para serem repostas pelo sistema hematopoiético. Assim, após
uma hemorragia, o sangue fica menos viscoso.

Quimiorreceptores
• Quimiorreceptores: são as chamadas células do glomo (ou células glomais),
terminações nervosas aferentes de fibras do nervo vago capazes de detectar níveis
baixos da pressão parcial de oxigênio (PO2) e níveis altos da pressão parcial de gás
carbônico (PCO2) do sangue, além da concentração de íons hidrogênio (pH) do
sangue.

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o Estas células estão localizadas nos corpos aórticos e carotídeos, que são
microambientes de circulação sanguínea paralelos à aorta e à artéria
carótida comum, ou seja, neles haverá circulação de sangue que ainda não
fez nenhuma troca gasosa, permitindo que seja detectado o nível real de
oxigenação do corpo.
• Reflexo quimiorreceptor: quando a PA cai abaixo do nível crítico, há redução do
fluxo sanguíneo, o que reduz os níveis de O 2 e aumenta os de CO2 no sangue, além
de reduzir o pH. Esse desbalanço químico ativa os quimiorreceptores, cujos sinais,
uma vez captados pelo SNC, causarão o aumento da PA e da frequência
respiratória, para que possa haver então o retorno de P O2, PCO2 e pH a níveis
normais.
o O reflexo quimiorreceptor, por outro lado, é apenas um sistema acessório
para o ajuste da PA, sendo que o realmente efetivo é o reflexo
barorreceptor. A real importância do reflexo quimiorreceptor será para o
ajuste da ventilação.

Receptores cardiopulmonares
• Receptores de baixa pressão: os átrios e as artérias pulmonares têm em suas
paredes receptores de estiramento referidos como receptores de baixa pressão, uma
vez que conseguem captar variações da PA na pequena circulação, que
normalmente opera a baixa pressão. Eles são semelhantes aos barorreceptores
arteriais, e atuam de forma auxiliá-los na estabilização da PA em resposta a
alterações da volemia.
• Quimiorreceptores associados: outros receptores cardiopulmonares encontrados
em associação com os receptores de baixa pressão são quimiorreceptores.
Conjuntamente, eles promovem um efeito paralelo à arritmia sinusal respiratória,
que são as ondas respiratórias da pressão arterial. Com isso, a PA irá aumentar
durante a parte inicial da expiração e diminuir no restante do ciclo respiratório, mas
sempre muito sutilmente.
• Peptídeo natriurético atrial (PNA): hormônio produzido pelos receptores
cardiopulmonares dos átrios quando estes sofrem uma distensão ampla. Sua
atuação é provocar a excreção de íons Na+ na urina, fazendo com que ela receba
mais água do plasma sanguíneo por osmose. Com isso, haverá diminuição da
volemia, reduzindo da PA.

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o Como efeito secundário, o PNA é capaz de promover a vasodilatação para


também reduzir a PA.

Regulação da PA a longo prazo


• Conforme verificado, o controle da PA pelo SNA perde sua eficiência de reajustá-
la a níveis saudáveis caso haja uma alteração persistente da PA sustentada por
algum outro fator. Assim, como controle da PA é vital para o organismo, existe um
sistema adicional de controle, que atua de maneira eficiente a longo prazo, que é o
sistema rim-líquidos corporais. Associado a ele, há um sistema auxiliar, que é o
renina-angiotensina-aldosterona.

Sistema rim-líquidos corporais


• Trata-se de um sistema que integra a homeostasia do volume de líquido corporal,
determinado pelo balanço entre ingestão e eliminação de líquido, à pressão arterial.
Ele é o principal responsável pelo controle lento, porém poderoso e muito
duradouro, da pressão arterial.
• A PA interfere diretamente no volume de sangue que é filtrado pelos rins, pois a
saída de componentes sanguíneos para o néfron é tanto maior quanto maior for a
pressão no interior do vaso filtrado por esse néfron. Dessa forma, se houver um
acréscimo de volume sanguíneo, provocando um aumento de PA, os rins deverão
excretar esse acréscimo para normalizar a PA.
• PA e débito urinário: a quantidade de plasma filtrado pelo rim e convertido em
urina, em um dia inteiro, para uma dada ingesta de água e sal, é chamada de débito
urinário. Assim, o débito urinário para uma mesma ingesta de água e sal é tanto
maior quanto maior for a PA do indivíduo.
o A quantificação do aumento de água no débito urinário provocado pelo
aumento da PA é chamada de diurese de pressão, que aumenta o volume
do débito urinário. O mesmo parâmetro, aplicado ao sal, é a natriurese de
pressão, que aumenta a concentração do débito urinário.

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Figura 63: Curva da função renal. Trata-se de um gráfico comparativo de valores do débito urinário
(para uma ingesta fixa de água e sal) com valores da pressão arterial. O ponto de equilíbrio indica que
uma pressão arterial de 100mmHg é capaz de manter um débito urinário normal. O aumento do
débito urinário indica a diurese de pressão.

• Curva de função renal saudável: no ser humano saudável com ingesta fixa de
água e sal, uma PA de 50mmHg levaria a um débito urinário nulo. Uma pressão de
100mmHg permite o débito urinário normal, ficando a curva de função renal no
chamado ponto de equilíbrio.
o Elevação da PA: devido à diurese de pressão, uma pressão de 200mmHg
levaria a um débito urinário 6-8 vezes maior do que o normal. Nessa última
condição, é justamente a grande excreção de água que permitirá o
reajuste da PA, pois, uma vez que essa água veio da filtração do sangue
pelos rins, houve redução do volume de sangue, acarretando também
redução da PA, apesar do processo levar tempo para acontecer.
▪ Novamente, é importante notar que não apenas o volume do débito
urinário aumentará por causa diurese de pressão, mas sua
concentração também, devido à natriurese de pressão.
o Redução da PA: se a pressão cair abaixo do ponto de equilíbrio, a ingesta
de água e sal passa a ser menor que o débito, ou seja, os rins excretarão
menos água e sal, evitando que haja uma queda progressiva de PA. Para que
a PA volte a valores normais, o corpo é estimulado a continuar ingerindo
água e sal para aumentar o volume de sangue e, assim, aumentar a PA.

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Figura 64: Curva de função renal com elevação da pressão arterial.

• Curva de função renal na hipertensão: considera-se que, para um indivíduo


saudável, seu ponto de equilíbrio é uma PA é de 100mmHg, um débito urinário de
1L e uma ingesta de água e sal de 1L. Para um indivíduo hipertenso, entretanto, o
ponto de equilíbrio será uma PA de 150mmHg, um débito urinário de 1L e uma
ingesta de água e sal de 1L também. Isso significa que a curva de função renal
desse indivíduo foi deslocada para a direita. Isso também significa que se houver
uma tentativa de redução forçada da alta PA desse indivíduo, ele terá problemas
renais, pois em sua curva de função renal, uma PA de 100mmHg para uma ingesta
de água de 1L resultará em um débito urinário quase nulo.
o Curva de função renal na disfunção renal: se os fatores causadores da
situação anterior se inverterem, o resultado será o mesmo. Em outras
palavras, se o indivíduo que ingere 1L de água e sal adquirir uma doença
renal que o incapacite de manter o débito urinário de 1L para uma PA de
100mmHg, sendo capaz de mantê-la apenas com uma PA de 150mmHg,
então, no longo prazo, sua PA será gradativamente estabilizada pelo sistema
rim-líquidos corporais em 150mmHg. Nesse caso, a curva de função renal
também deslocou para direita.

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Figura 65: Curva da função renal com elevação da ingesta de água e sal.

• Curva de função renal na ingesta excessiva de água e sal: considera-se


novamente que, para um indivíduo saudável, seu ponto de equilíbrio é uma PA é de
100mmHg, um débito urinário de 1L e uma ingesta de água e sal de 1L. Se ele
passar a ingerir 4L de água e sal, tem-se que:
o Em um primeiro momento, haverá a manutenção do débito urinário em 1L e
da PA em 100mmHg. Entretanto, a quantidade de água e sal ingerida em
excesso e não excretada permanecerá no sangue, aumentando a volemia e
consequentemente a PA do indivíduo progressivamente, até que o ponto de
equilíbrio da curva de função renal seja reajustado em uma PA de
160mmHg para um débito urinário de 4L. Nessa condição, a função renal
ainda está saudável.
o Em um segundo momento, estando o ponto de equilíbrio reajustado, se o
indivíduo tentar reduzir sua ingesta de água e sal de volta para 1L de uma
vez só, o débito urinário continuará sendo de 4L. Com isso, o corpo sofrerá
com um aumento da necessidade de ingestão e reabsorção hídrica, tentando
manter altos os volumes do líquido intersticial e sanguíneo para
compensar o excesso perdido e para conseguir manter a PA de 160mmHg
do ponto de equilíbrio. Essa condição, além de desidratar o organismo, pode
comprometer severamente a função renal.
o Portanto, para uma pessoa com dieta hiperssódica, cortar o sal da dieta
muito bruscamente não é adequado. O ideal é reduzir o sal da dieta aos
poucos, permitindo que o organismo vá se adaptando aos poucos, reduzindo
débito urinário e PA de maneira gradativa e controlada. Ao mesmo tempo, a
pessoa deve praticar exercícios físicos, pois os músculos em atividade

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demandam alto volume sanguíneo, o que produz vasodilatadores, que


ajudam a reduzir a PA.
• Limitação da correlação entre PA e débito urinário: apesar de, via de regra,
haver proporcionalidade direta entre PA e débito urinário, existe nessa correlação
um limite: se a PA variar dentro de uma faixa de valores próxima a 80mmHg, não
haverá variação significativa do débito urinário. Isso significa que as alterações da
PA devem ser muito pronunciadas para conseguirem efetivamente modificar o
débito urinário por deslocar o ponto de equilíbrio.
o O ser humano vive, na maior parte do tempo, com valores de PA na faixa
em que não há alteração do fluxo sanguíneo renal. Assim, mesmo diante
de momentos fisiológicos distintos do organismo (atividades físicas e
repouso, por exemplo), em que há alteração de PA, o débito urinário
saudável não será alterado.
o Reflexo miogênico: um dos fatores que garantem esse intervalo de valor
constante do fluxo sanguíneo renal mesmo com diferentes valores de PA é a
atuação do músculo liso das arteríolas renais, cujas fibras se contraem
diante do aumento da PA nessa faixa, compensando-o de forma a não
alterar o fluxo sanguíneo renal significativamente. Isso é conhecido como
reflexo miogênico, um eficiente autocontrole do fluxo sanguíneo renal
para manter o débito urinário.
▪ O reflexo miogênico, entretanto, só acontece para o fluxo sanguíneo
da zona cortical do rim. Ele inexiste no fluxo sanguíneo da região
medular do rim, mantido pelos vasos retos.

Sistema renina-angiotensina-aldosterona
• Renina: quando a PA se reduz, o aparelho justaglomerular dos rins responde
produzindo renina. A renina é uma enzima que cai na corrente sanguínea onde
converte o angiotensinogênio, uma globulina, em angiotensina I.
• Angiotensina: a angiotensina I é uma substância vasoativa com tem propriedades
levemente vasoconstritoras, pouco significativas. Por isso, a angiotensina I é
primordialmente convertida nos pulmões pela ECA (enzima conversora de
angiotensina) em angiotensina II. A angiotensina II, por sua vez, é uma
vasoconstritora potente, contribuindo significativamente para aumentar a PA.
Entretanto, como é rapidamente degradada pela angiotensinase, ela precisa

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estimular o córtex da adrenal a produzir aldosterona para que o efeito de aumento


da PA possa ser prolongado.
• Aldosterona: a aldosterona é um hormônio mineralocorticoide que aumenta a
reabsorção de íons Na+ do filtrado renal de volta para o plasma sanguíneo. Com
isso, a água, por osmose, terá sua reabsorção de volta para o plasma aumentada
também. Com maior volume de água, no plasma, o volume sanguíneo aumenta,
aumentando também a PA. Esse efeito também é provocado pela angiotensina,
porém, por ser um hormônio, a aldosterona manterá esse efeito no longo prazo.

o Medicamentos para hipertensão: hipertensos normalmente têm uma


hiperatividade desse sistema. Por isso, muitos medicamentos de
hipertensão promovem a inibição da ativação de angiotensina e o bloqueio
de receptores de angiotensina.

Figura 66: Gráfico de restabelecimento da pressão arterial após hemorragia severa, com e sem o
sistema renina-angiotensina.

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FISIOLOGIA
RESPIRATÓRIA

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Ventilação pulmonar
• Mecânica ventilatória: as funções principais da respiração são prover oxigênio aos
tecidos e remover dióxido de carbono. Para realizar essa função, o sistema
respiratório constitui-se de órgãos capazes de promover, em seu interior, tanto a
entrada (influxo) de ar na inspiração quanto a saída (efluxo) de ar na expiração. A
mecânica ventilatória será o estudo dos movimentos feitos pelos órgãos que
permitem essa dinâmica. Chama-se de ciclo respiratório o intervalo composto por
uma inspiração e uma expiração subsequente.
o Pulmões: o órgão pelo qual o ar circula, entrando e saindo a cada
movimento, são os pulmões, contidos no interior da cavidade torácica.
o Diafragma: o órgão primordialmente executor das forças necessárias para
os movimentos do sistema respiratório é o diafragma. Ele é capaz de, ao se
contrair, descer e aumentar a cavidade torácica; e, ao se relaxar, subir e
diminuir a cavidade torácica.
o Musculatura secundária: o órgão secundário da execução das forças
necessárias para os movimentos do sistema respiratório são os músculos
intercostais (externo, interno e íntimo), cervicais, transverso do tórax, entre
outros. Eles são capazes de elevar as costelas para elevar o diâmetro
anteroposterior da cavidade torácica; e de deprimir as costelas para reduzir
esse mesmo diâmetro.
o Ar ideal: considera-se que o ar expirado e inspirado na atividade
ventilatória é ideal, de molaridade constante e temperatura constante. Dessa
forma, para as análises de mecânica ventilatória, considera-se que a pressão
1
de uma cavidade é inversamente proporcional a seu volume: 𝑃 = 𝑉 .

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Figura 67: Esquematização da mecânica ventilatória durante a inspiração e a expiração.

• Inspiração: trata-se do movimento do sistema respiratório que permite a entrada


(influxo) de ar das vias aéreas. A inspiração, seja tranquila ou forçada, é um
movimento sempre ativo.
o Inspiração tranquila: é realizada praticamente apenas pela movimentação
do diafragma. Ele se contrai puxando as superfícies inferiores dos pulmões
para baixo, levando a um aumento de volume da caixa torácica, o que reduz
a pressão no seu interior (funcionando assim de maneira análoga a um
“êmbolo do cilindro torácico sendo puxado”). Com a pressão interior sendo
menor do que a pressão atmosférica do meio externo, o ar entra nas vias
aéreas.
o Inspiração forçada: inspiração realizada em uma situação em que se é
necessário captar maior volume de ar. Ela ocorre com a participação tanto
do diafragma quanto da musculatura da inspiração (músculos cuja contração
promove a elevação da caixa torácica: intercostais externos,
esternocleidomastoide, serrátil anterior e escaleno). Assim, aliada à
contração do diafragma, há contração da musculatura da inspiração que
aumenta o diâmetro da cavidade torácica, aumentando ainda mais seu
volume, reduzindo ainda mais sua pressão abaixo da pressão atmosférica,
permitindo ainda mais ar entrar nas vias aéreas.

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• Expiração: trata-se do movimento do sistema respiratório que permite a saída


(efluxo) de ar das vias áreas. A expiração tranquila é um movimento passivo, mas a
expiração forçada é um movimento com componente ativo.
o Expiração tranquila: é realizada praticamente apenas pelo relaxamento do
diafragma e pela retração elástica dos pulmões, da parede torácica e das
estruturas abdominais. O diafragma relaxa empurrando as superfícies
inferiores dos pulmões para cima, (funcionando assim de maneira análoga a
um “êmbolo do cilindro torácico sendo pressionado”) bem como a retração
elástica dos órgãos comprime a cavidade torácica como um todo, levando a
uma redução de volume da caixa torácica, o que aumenta a pressão no seu
interior. Com a pressão interior sendo maior do que a pressão atmosférica
do meio externo, o ar sai das vias aéreas.
o Expiração forçada: expiração realizada em uma situação em que se é
necessário expulsar maior volume de ar. Soma-se aos agentes da expiração
tranquila a musculatura abdominal, que empurra o conteúdo abdominal para
cima, contra a parte inferior do diafragma, comprimindo, dessa maneira, os
pulmões; e os músculos intercostais internos e reto abdominal, que
promovem a depressão das costelas, reduzindo o volume da caixa torácica.
Com o volume da caixa torácica ainda mais reduzido, sua pressão aumenta
ainda mais, permitindo que ainda mais ar saia das vias aéreas.
• Padrões respiratórios: padrões de trabalho dos órgãos respiratórios, compondo
ciclos respiratórios que podem de acordo com diversos parâmetros fisiológicos.
o Eupneia: padrão respiratório normal.
o Taquipneia: aumento da velocidade do ritmo ventilatório.
o Bradipneia: redução da velocidade do ritmo ventilatório.
o Hiperpneia: aumento de volume corrente.
o Hipopneia: redução de volume corrente.
o Hipoventilação: insuficiência de volume corrente ou de ritmo ventilatório.
o Hiperventilação: excesso de volume corrente ou de ritmo ventilatório.
o Dispneia: dificuldade ventilatória.
o Apneia: ausência de ventilação.

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Dinâmica pressórica da ventilação


• Pulmão em repouso: caso o pulmão fosse isolado dos demais componentes do
organismo, ele colapsaria como um balão, devido a suas estruturas elásticas. Isso
significa que o estado inflado do pulmão em repouso é devido a outras forças do
organismo.

Figura 68: Gráfico de mudanças da pressão pleural, da pressão alveolar e da pressão transpulmonar
durante um ciclo respiratório. Acima, a correlação dessa variação de pressões com a variação do
volume pulmonar.

• Pressão pleural: é a pressão do líquido no interior do estreito espaço pleural (ou


cavidade pleural, localizada entre a pleura visceral e a pleura parietal). Este líquido
está sendo constantemente drenado pelos vasos linfáticos, dessa forma, existe uma
constante força de sucção que faz com que a pressão pleural seja negativa, ou seja,
menor do que a pressão atmosférica (pois considera-se que a pressão atmosférica é
o ponto 0 de referência para valores de pressão, portanto P atm = 0).

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o Dessa forma, a pressão pleural é a principal responsável por evitar que o


pulmão sofra colabamento, ficando inflado no interior da cavidade torácica
e com volume praticamente idêntico a ela.
o O valor da pressão pleural sofre variações durante o ciclo respiratório,
porém mantém-se sempre negativo:
▪ No início da inspiração, a pressão pleural é de -5cmH2O, que é a
quantidade de sucção necessária para manter os pulmões abertos
(inflados) em seu nível de repouso.
▪ Durante a inspiração normal, a expansão da caixa torácica traciona
os pulmões e comprime o espaço pleural, criando ainda mais pressão
negativa, que a chega a cerca de -7,5cmH2O.
▪ Durante a expiração, os eventos se invertem: a compressão da caixa
torácica faz os pulmões se retraírem e afastarem do espaço pleural,
permitindo que haja maior acúmulo de líquido que acrescenta
valores positivos à pressão pleural, que retorna a -5cmH2O.
• Pressão alveolar: é a pressão do ar no interior dos alvéolos pulmonares. Ela é
variável de acordo com a variação do volume pulmonar, oscilando entre valores
positivos (maiores que Patm) e negativos (menores do que Patm) durante o ciclo
respiratório.
o Quando a glote está aberta e não existe fluxo de ar para dentro ou para fora
dos pulmões, as pressões em todas as partes da árvore respiratória, até os
alvéolos, são iguais a Patm.
o No início da inspiração, a pressão negativa do espaço pleural fica ainda
mais negativa, e, como consequência, o pulmão sofre um aumento de
volume, fazendo com que a pressão alveolar diminua até -1cmH2O.
o A inspiração prossegue, e pressão alveolar negativa permite então que a Patm
promova a entrada de ar no interior dos alvéolos, fato este que então
aumenta a pressão alveolar até que ela zere (iguale-se novamente a Patm) ao
final da inspiração.
o No início da expiração, a pressão do espaço pleural aumenta (apesar de
ainda permanecer negativa), e, como consequência, o pulmão sofre uma
redução de volume, fazendo com que a pressão alveolar aumente até
1cmH2O.

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o A expiração prossegue, e a pressão alveolar positiva permite então que o ar


no interior dos alvéolos supere a Patm e saia das vias aéreas, fato este que
então reduz a pressão alveolar até que ela zere (iguale-se novamente a Patm)
ao final da expiração.

• Pneumotórax: se houver perfuração do espaço pleural, conectando-o ao ar


atmosférico, o espaço pleural perderá sua pressão negativa, ganhando uma pressão
positiva que provocará o colabamento dos pulmões.
• Pressão transpulmonar: parâmetro analítico da atividade respiratória, que é
fornece a diferença entre a pressão alveolar e a pressão pleural (em um gráfico, é a
área compreendida entre as curvas de pressão alveolar e pleural em um ciclo
respiratório). Considerando-se as variações que essas duas pressões sofrem no ciclo
respiratório, tem-se que, no ser humano adulto em repouso, a pressão
transpulmonar varia entre 5 e 7cmH2O.
• Complacência pulmonar: quando a pressão transpulmonar é analisada juntamente
com as variações do volume pulmonar ao longo do ciclo respiratório, ela é capaz de
traduzir a complacência pulmonar (e também resistência pulmonar), ou seja, refletir
o quanto a pressão pleural precisa ser reduzida pelo esforço respiratório para
conseguir reduzir a pressão alveolar, para que assim haja aumento do volume
pulmonar.
o Para a complacência de um humano adulto, tem-se que, sempre que a
pressão transpulmonar aumentar 1cmH2O, o volume pulmonar aumentará
200mℓ.
o Se houver aumento da resistência pulmonar, isso significa que é necessário
que a pressão pleural se reduza muito mais, demandando um esforço
respiratório mais intenso, para conseguir um mesmo aumento do volume
pulmonar em condições normais. Com isso, a pressão transpulmonar sofre
aumentos mais acentuados.
▪ Conclui-se que, quanto menores os aumentos da pressão
transpulmonar, menor será o esforço inspiratório para conseguir um
mesmo aumento de volume pulmonar, portanto maior será a
complacência pulmonar e menor será a resistência pulmonar.

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Dinâmica pressórica alveolar


• Alvéolo pulmonar: os alvéolos são os espaços finais da árvore respiratória, onde
são processadas as trocas gasosas entre ar e sangue, que é a chamada hematose.
o Pneumócito tipo I: a principal célula que reveste as paredes dos alvéolos é
o pneumócito tipo I. É através dessa célula que ocorre a hematose.
o Células de poeira: encontradas aderidas à parede alveolar existem as
células de poeira. Elas são responsáveis pela remoção de partículas e
patógenos do ar que circula no alvéolo, uma vez que não está mais presente
o epitélio respiratório, que fazia essa função no restante do trato
respiratório.
▪ Epitélio respiratório: fora do alvéolo, no restante do trato
respiratório, o ar passa por condutos revestidos de epitélio
respiratório, que é composto basicamente por células epiteliais
ciliadas cobertas de muco. O muco, viscoso, é capaz de captar
partículas e patógenos do ar. Nas vias aéreas inferiores (desde
bronquíolos até laringe), esse muco é movimentado pelos cílios para
cima até chegar à orofaringe. Nas vias áreas superiores (desde
cavidade nasal até nasofaringe), esse muco é movimento pelos cílios
para baixo até chegar à orofaringe. Na orofaringe, esse muco é
deglutido para o trato gastrointestinal continuamente.
o Pneumócito tipo II: é a célula responsável por produzir o surfactante,
líquido que cobre a parede alveolar e tem um importante papel na
manutenção da correta dinâmica pressórica da atividade respiratória.
• Tensão superficial: quando a água forma uma superfície de contato com o ar, as
moléculas de água na superfície têm atração especialmente forte umas pelas outras,
devido à grande polaridade da molécula de água. Como resultado, a superfície da
água está sempre tentando se “contrair”, formando as gotas de água que se observa
quando pequena quantidade de água cai sobre uma superfície. Dessa forma, a
tendência é que as moléculas de água formem uma firme membrana contrátil por
toda a superfície do volume que as contém.
o Tensão superficial do líquido alveolar: a parede alveolar possui um
líquido alveolar formando uma camada aquosa para que os gases se
dissolvam e sejam trocados. Aplicando-se ao líquido os princípios da tensão

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superficial, tem-se que a sua superfície está tentando se contrair o tempo


todo, o que tende a forçar o ar para fora do alvéolo, induzindo seu colapso.
▪ Retração pulmonar: portanto, a força elástica da tensão superficial
do líquido alveolar é uma das que compõem a resistência pulmonar,
e que permitem a retração pulmonar para que a expiração seja
passiva (o outro componente é a força elástica do tecido pulmonar
propriamente dito, na qual elementos elásticos do pulmão tendem a
se contrair passivamente). Por outro lado, essa força deve ser
mantida em níveis aceitáveis para que não haja colabamento do
pulmão, e o responsável por esse equilíbrio será o surfactante.
• Surfactante: líquido que reveste a parede alveolar, cujos componentes são
fosfolipídios, proteínas e íons. A grande importância do surfactante é sua
capacidade de reduzir a tensão superficial da camada aquosa da mucosa alveolar.
Isso ocorre porque os componentes do surfactante não se dissolvem uniformemente
na água, reduzindo a força de atração entre suas moléculas. Portanto, o surfactante
impede o colabamento do alvéolo (evento chamado de atelectasia) pela força
elástica da tensão superficial do líquido alveolar.
o Com isso, a manutenção de uma complacência pulmonar saudável depende
da produção de surfactante para reduzir a resistência pulmonar.

• Síndrome de angústia respiratória do recém-nascidos: recém-nascidos


prematuros, cujos pulmões ainda produzem pouca quantidade de surfactante, têm
uma maior adesão entre as paredes alveolares e tendência ao colabamento. Assim,
possuem uma maior resistência pulmonar, ou seja, necessitam de maiores aumentos
da pressão transpulmonar, o que requer maior esforço ventilatório. Como um
recém-nascido prematuro não dispõem de força necessária para exercê-lo, ele
estabelece um quadro de síndrome de angústia respiratória do recém-nascido, que é
fatal caso não tratada com medidas enérgicas como respiração assistida.

Histerese
• Diagrama de complacência pulmonar: conforme mencionado, a complacência
pulmonar é o grau de extensão dos pulmões por cada unidade de aumento da
pressão transpulmonar. Em um gráfico da complacência, é possível relacionar as
alterações do volume pulmonar com as mudanças da pressão pleural (que compõe a
pressão transpulmonar).

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Figura 69: Diagrama da complacência pulmonar em uma pessoa saudável. Ele mostra as variações no
volume pulmonar durante as alterações na pressão transpulmonar.
o Na inspiração, a pressão transpulmonar aumenta porque a pressão pleural
reduz e se distancia da pressão alveolar. É esse aumento da pressão
transpulmonar que permite o aumento do volume pulmonar.
▪ Entretanto, inicialmente, a pressão transpulmonar precisa aumentar
muito para conseguir aumentar o volume pulmonar. Isso ocorre
porque o líquido alveolar ainda está promovendo adesão entre as
paredes do alvéolo.
▪ Porém, após a pressão transpulmonar ultrapassar um certo valor, se
terá um momento em que um pequeno aumento da pressão
transpulmonar conseguirá aumentar muito o volume pulmonar,
porque a adesão promovida pelo líquido superficial do alvéolo já
terá sido superada, graças ao surfactante.
o Na expiração, a pressão transpulmonar diminui a porque a pressão pleural
aumenta e se aproxima da pressão alveolar. É essa queda da pressão
transpulmonar que permite a redução do volume pulmonar.
▪ Entretanto, inicialmente, a pressão transpulmonar precisa reduzir
muito para conseguir reduzir o volume pulmonar. Isso ocorre porque
o surfactante ainda está promovendo resistência à adesão entre as
paredes do alvéolo provocada pela tensão superficial do líquido
alveolar.

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▪ Porém, após a pressão transpulmonar se rebaixar a um certo valor,


se terá um momento em que uma pequena redução da pressão
transpulmonar conseguirá reduzir muito o volume pulmonar, porque
a adesão promovida pelo líquido superficial do alvéolo conseguirá
ser um pouco mais significativa (embora não completamente).
o Histerese: é a diferença entre as variações da pressão transpulmonar
durante a expiração e aquelas durante a inspiração. Pela histerese pode-se
analisar a complacência pulmonar: quanto maior a histerese, menor a
complacência (e, consequentemente, maior a resistência).

Figura 70: Comparação da histerese de um pulmão cheio de solução salina e de um cheio de ar.

• Histerese no pulmão cheio com solução salina: se todo o pulmão fosse


preenchido com solução salina, a complacência aumentaria enormemente. Isso
significa que uma pequeníssima variação da pressão transpulmonar conseguiria
varia sobremaneira o volume pulmonar. Isso ocorre porque, sem a interface ar-
água, inexistira nos alvéolos uma superfície aquosa na qual se teria uma tensão
superficial, havendo, assim, grande redução da resistência pulmonar.
• Histerese sem surfactante: se um pulmão tivesse seu surfactante removido, sua
complacência se reduziria sobremaneira, porque ele teria enorme dificuldade para
vencer a resistência pulmonar promovida pela força da tensão superficial do líquido
superficial dos alvéolos. Com isso, mesmo com uma enorme variação de pressão
transpulmonar, a variação efetiva de volume pulmonar seria insignificante.

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Dinâmica volumétrica da ventilação


• Pneumografia/Espirografia: trata-se registro da quantidade de ar inspirado e
expirado de acordo com o tempo, compondo um gráfico chamado de espirograma.

Figura 71: Espirograma demonstrando as diversas capacidades pulmonares.

• Espirograma de repouso: a curva de um espirograma feito em uma respiração de


repouso tem padrão ondulatório. Com isso, ela possuirá um valor máximo, atingido
com a inspiração; e um valor mínimo, atingido com a expiração.
o Volume corrente: a curva de um espirograma corresponde ao volume
corrente, isto é, a quantidade de ar que entra e sai dos pulmões a cada ciclo
respiratório. Ele varia de indivíduo para indivíduo, e, em um mesmo
indivíduo, varia de acordo com o grau de atividade do organismo e seu
estado de saúde. Convencionalmente, tem-se que:
▪ O pulmão no início da inspiração possui volume de 2,5L.
▪ Ao inspirar, o pulmão se enche com mais 0,5L de ar, ficando com
volume de 3L. Essa é a capacidade inspiratória.
▪ Ao expirar, o pulmão expele os mesmos 0,5L e volta a ter volume de
2,5L. O volume inicial de 2,5L é, portanto, a capacidade
expiratória.
 Tendo captado 0,5L na inspiração e expelido esses mesmos
0,5L na expiração, tem-se que o volume corrente
convencional é de 0,5L.

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• Volumes de reserva: são volumes assumidos pelo pulmão caso seja necessário
modificar o volume corrente. É importante notar que, enquanto volume corrente
normal do pulmão pode ser mantido somente com a ação diafragmática, para
utilizar os volumes de reserva, é necessário que a ventilação sofra ação da
musculatura acessória.
o Volume de reserva inspiratório: é um volume adicional para o qual o
pulmão pode se expandir caso seja necessário. Convencionalmente, é um
volume de 2L. Assim, ao inspirar e aumentar seu volume para 3L, o pulmão
é ainda capaz de utilizar o volume de reserva inspiratório e ficar com, no
máximo, 5L.
o Volume de reserva expiratório: é um volume adicional que o pulmão pode
expulsar caso seja necessário. Convencionalmente, é um volume de 1,5L.
Assim, ao expirar e reduzir seu volume para 2,5L, o pulmão ainda é capaz
de expelir o volume de reserva expiratório e ficar com, no mínimo, 1L.
▪ Volume residual: é o volume basal do pulmão, o qual ele não
consegue expulsar, a não ser em uma situação patológica em que o
pulmão sofra colabamento. Corresponde ao volume do pulmão após
utilizar totalmente seu volume de reserva expiratório, ou seja, tem
valor convencional de 1L.
o Capacidade vital do pulmão: a amplitude volumétrica que o pulmão pode
utilizar valendo-se de seus dois volumes de reserva compõe a capacidade
vital do pulmão, isto é, os limites fisiológicos de expansão pulmonar (5L) e
de compressão pulmonar (1L). Portanto, convencionalmente, essa
capacidade vital é de 4L.
▪ Volume pulmonar total: quando a capacidade vital do pulmão é
somada ao volume residual do pulmão, tem-se o volume pulmonar
total, é que a medida exata do volume máximo que o pulmão
humano pode atingir. Portanto, convencionalmente, este volume é
de 5L.

Espaço morto
• Espaço morto: compreende o volume das regiões das vias aéreas que não
promovem trocas gasosas, mas que estão preenchidas com ar. Experimentalmente,
foi verificado que o ar do espaço morto compreende a 30% do ar inspirado. Apesar
de não participar das trocas gasosas, o ar desse espaço possui outras funções

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importantes, como ajudar a empurrar o ar que efetivamente participará das trocas


gasosas; e acondicionar e filtrar o ar inspirado.
• Espaço morto anatômico: é o espaço morto assim categorizado por estar em
órgãos incapazes de promover as trocas gasosas, assim, corresponde a toda a
porção condutora do sistema respiratório (desde nariz até bronquíolos terminais).
• Espaço morto fisiológico: é o espaço morto assim categorizado por estar em
regiões capazes de promover trocas gasosas, ou seja, pertencentes à porção
respiratória do sistema respiratório (desde bronquíolos respiratórios até alvéolos),
mas que não estão de fato promovendo essas trocas. É o caso dos alvéolos que não
estão sendo perfundidos por sangue da circulação pulmonar funcional em um
determinado momento.
o Circulações pulmonares: o espaço morto não é perfundido por sangue da
circulação pulmonar funcional, isto é, aquele que circula nas redes
capilares cuja origem é o tronco pulmonar e o término são as veias
pulmonares, e cuja função é ser oxigenado. Por outro lado, esse espaço
morto é perfundido por sangue da circulação sistêmica do pulmão (ou
circulação nutritiva), isto é, aquele que circula nas redes capilares cujas
origem são as artérias brônquicas e o término são as veias pulmonares, e
cuja função é oxigenar os tecidos pulmonares.
o Alvéolos apicais: os alvéolos mais apicais do pulmão tornam-se espaço
morto fisiológico quando a pessoa está em repouso em posição ortostática.
Isso ocorre devido à dificuldade do fluxo sanguíneo em os atingir: como a
contração ventricular direita não é tão forte, o sangue enviado aos pulmões
pelo tronco pulmonar não consegue vencer a força da gravidade para atingir
os alvéolos mais apicais. Por isso, embora neles haja circulação de ar, não
há perfusão de sangue da circulação funcional para realizar trocas gasosas.
▪ Caso haja um aumento da pressão arterial (ex.: atividade física) ou
anulação da resistência gravitacional (ex.: decúbito) estes alvéolos
passam a receber sangue da circulação funcional e deixam de ser
espaço morto fisiológico.
• Regulação alveolar da circulação funcional: no sistema circulatório, foi
demonstrado que tecidos corporais, quando sofrem uma queda da P O2, passam a
promover vasodilatação, que por sua vez intensifica a perfusão sanguínea para
ampliar a oferta de O2. Por outro lado, quando há queda da PO2 no ar que circula

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nos espaços alveolares, os alvéolos passam a promover vasoconstrição dos vasos da


circulação funcional, tornando-se temporariamente quase espaços mortos.
o Com a vasoconstrição ocorrendo nos capilares funcionais dos alvéolos cujo
ar circulante está deficiente em O2, ocorre uma redução da perfusão
sanguínea funcional nesses capilares. Concomitantemente, entretanto, o
sangue impedido de perfundir é então redirecionado aos capilares
funcionais daqueles alvéolos cujo ar circulante estiver com um melhor
suprimento de O2. Dessa forma, a regulação da perfusão sanguínea pelos
alvéolos de acordo com a oferta de O2 do ar que neles circula é capaz de
manter a oxigenação sanguínea ocorrendo de maneira mais eficiente.

Figura 72: Esquema das circulações funcional e sistêmica do pulmão. A funcional se inicia na artéria
pulmonar, que circula sangue desoxigenado. A sistêmica se inicia na artéria brônquica, que circula
sangue oxigenado. Ambas terminam nas veias pulmonares, que circulam sangue oxigenado.

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Trocas gasosas
• Pressão parcial de um gás: é a soma das forças exercidas pelos choques das
moléculas de um dado gás sobre uma superfície em um determinado instante. É
representada por Pgás: PO2, PN2, PCO2.
o A pressão parcial de um gás, via de regra, é proporcional à sua concentração
no volume em que se encontra. Assim, no ar atmosférico em dia seco, PN2 =
597mmHg, o que corresponde a 78,62% da Patm = 760mmHg, o que
corresponde à concentração de N2 no ar atmosférico em relação aos outros
gases.
• Solubilidade de um gás: é a quantidade de gás que se dissolve em determinado
meio.
o Solubilidade dos principais gases do ar atmosférico, em meio aquoso:
▪ O2: 1 (ou 0,003mℓ/dℓ).
▪ CO2: 20,3 (ou 0,067mℓ/dℓ), portanto muito solúvel.
▪ N2: 0,53, portanto pouco solúvel.
o Nas membranas celulares, existe alta lipossolubilidade para todos os gases
importantes, ou seja, todos eles conseguem passa pela membrana das
células com o mesmo grau de dificuldade.
• Relação volume x pressão de um gás: sabe-se que, quanto maior a pressão a qual
um gás está submetido, menor seu volume.

o Mergulho a altas profundidades: a pressão da coluna de água é muito


acentuada: a cada 10m de profundidade em um ambiente aquoso, tem-se um
acréscimo de pressão de 1atm. Assim, o volume dos gases, tanto dentro
quanto fora do corpo, diminui drasticamente quando se está a grandes
profundidades.
▪ Durante a imersão, essa redução de volume dos gases é compensada
por uma maior captação deles para o interior do organismo. Por isso,
se a emersão for muito brusca, o aumento súbito do volume desses
gases pode provocar embolia no organismo.
▪ Isso é especialmente danoso no caso do N 2. Como ele é pouco
solúvel em meio aquosos, ele é e expelido do organismo com maior
dificuldade, assim, sua embolia pode ser mais severa.

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Características do ar circulante nas vias respiratórias

Figura 73: Tabela com a pressão parcial de cada gás em cada um dos tipos de ar envolvidos na
ventilação.

• Umidificação do ar inspirado: devido à evaporação da água que ocorre ao longo


das vias respiratórias, a porcentagem de água no ar atmosférico, que era de 0,05%,
passa a ser de 6,2% no ar umidificado (o significa uma mudança de PH2O de
3,7mmHg para 47mmHg). Assim, evidencia-se uma das funções das vias
respiratórias, que a de é umidificar o ar.
o Com a elevação da porcentagem de água, a porcentagem dos outros
componentes passa a diminuir. Por exemplo, a PO2 do ar atmosférico, que
era de 160mmHg, passa a ser, no ar umidificado, de 140mmHg.
• Chegada do ar nos alvéolos: nos alvéolos pulmonares, o ar inspirado chega com
uma velocidade baixíssima, devido à enorme área de seção transversa total de todos
os alvéolos pulmonares. Na verdade, é uma velocidade tão baixa que se considera
que, o ar inspirado, ao atingir os bronquíolos respiratórios, zera sua velocidade. Dos
bronquíolos respiratórios até os alvéolos, portanto, o ar está parado. O que ocorre
nele é apenas uma “difusão” de gases com o ar que chegou.
o Composição do ar alveolar: O ar alveolar possui PO2 = 104mmHg. A
redução ocorrida a partir dos 140mmHg do ar umidificado se deve à
remoção de O2 do para o sangue nas trocas gasosas. Aquilo que não é
removido fica no alvéolo como uma quantidade residual de O2 que serve de
reserva em casos de apneia.
o Saída de ar dos alvéolos: quando ocorre a inspiração, o ar alveolar é
misturado ao ar umidificado nas vias respiratórias, resultando em uma PO2 =
120mmHg no ar expirado.

▪ Respiração boca a boca: a respiração boca a boca (soprar ar no


trato respiratório de uma pessoa em parada respiratória) funciona

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porque existe uma quantidade considerável de O2 no ar expirado,


que pode compensar a não entrada de ar inspirado pela pessoa em
parada respiratória.
• Fluxo laminar do ar: ao fluir no interior das vias respiratórias, o ar assume um
padrão de fluxo laminar, tal qual o fluxo sanguíneo no interior dos vasos. Com isso,
a ausculta pulmonar normal é silenciosa. Entretanto, eventuais alterações
patológicas nas vias respiratórias podem alterar esse fluxo laminar, provocando
sons que podem ser auscultados.

Ventilação alveolar
• Ventilação alveolar: trata-se da quantidade de ar novo que entra nos alvéolos e
áreas adjacentes de trocas gasosas a cada ciclo respiratório. Calculado, portanto,
como volume corrente menos o volume do espaço morto. Convencionalmente, é de
500 – 150 = 350mℓ por ciclo respiratório.
o São necessários cerca de 6 ciclos respiratórios para completa renovação do
ar alveolar, tendo em vista que a capacidade residual funcional (volume
de reserva expiratório somado ao volume residual) é de 2500mℓ.

Difusão de O2

Figura 74: Gráfico que demonstra os valores de PO2 do ar alveolar para cada valor de ventilação
alveolar. A curva vermelha mostra essa correlação para um consumo metabólico de 250mℓ O2/min, e a
azul, para um consumo de 1000mℓ O2/min. A linha tracejada horizontal representa os valores exigidos
de ventilação alveolar para manter uma PO2 saudável de 104mmHg em cada um dos cenários de
consumo metabólico.

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• Difusão de O2: a nível do mar, tem-se que a PO2 = 104mmHg do ar alveolar é o


valor necessário para manter a oxigenação do sangue nos capilares. Ela, portanto,
garante um gradiente de pressão saudável para que o O2 (que não é muito solúvel
no meio aquoso do alvéolo) se difunda do ar para o sangue via hematose.
o Ventilação alveolar em repouso: considerando uma pessoa em repouso
com consumo metabólico de 250mℓ O2/min, para que ela mantenha esse
valor de PO2 = 104mmHg do ar alveolar, ela precisa manter uma ventilação
alveolar igual a 5mℓ/min.
o Aumento de taxa metabólica: caso essa pessoa passe a ter metabolismo
que consuma quatro vezes mais oxigênio (1000mℓ O2/min), ela não pode
manter a mesma ventilação alveolar de 5L/min (sob o risco ver sua PO2 do
ar alveolar reduzida a menos de 50mmHg). Nessa situação, ela precisaria
ajustar a ventilação alveolar para 20L/min para manter PO2 = 104mmHg do
ar alveolar.
o Taquipneia: caso a pessoa em repouso, com o mesmo consumo metabólico
de 250mℓ O2/min, comece a fazer taquipneia, por conta própria ou por fator
externo, haverá aumento da ventilação alveolar, fazendo com que a PO2 do
ar alveolar aumente até um valor limite, que é o limite superior máximo de
ventilação, de aproximadamente 150mmHg.
▪ Portanto, é aparentemente benéfico aumentar a oxigenação do corpo
via taquipneia, pois se está aumentando a PO2 do ar alveolar e
aumentando a difusão de O2. Entretanto, analogamente, a taquipneia
também provoca aumento da PCO2 do ar alveolar, o que não é
benéfico, uma vez que a PCO2 do ar alveolar precisa ser menor do
que a PCO2 sanguínea para que o CO2 seja removido do sangue.

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Difusão de CO2

Figura 75: Gráfico que demonstra os valores de PCO2 do ar alveolar para cada valor de ventilação
alveolar. A curva vermelha mostra essa correlação para uma produção metabólica de 250mℓ CO2/min,
e a azul, para uma produção de 1000mℓ CO2/min. A linha tracejada horizontal representa os valores
exigidos de ventilação alveolar para manter uma P CO2 saudável de 40mmHg em cada um dos cenários
de produção metabólica.

• Difusão de CO2: A nível do mar, tem-se que a PCO2 = 40mmHg do ar alveolar é o


valor necessário para manter a saída de CO 2 do sangue para os alvéolos, pois o CO2
é mais solúvel em meio aquoso, portanto se difundindo mais facilmente.
o Ventilação alveolar em repouso: considerando uma pessoa em repouso
com produção metabólica de 200mℓ CO2/min, para que ela mantenha esse
valor de pressão parcial alveolar de CO2 em 40mmHg, ela precisa manter
uma ventilação alveolar em 4,2mℓ/min.
o Aumento de taxa metabólica: caso essa pessoa em repouso passe a
produzir cinco vezes mais CO2 (1000mℓ CO2/min), ela não pode manter a
ventilação alveolar em 4,2L/min (sob o risco ver sua PCO2 do ar alveolar
aumentada para mais de 150mmHg). Nesta situação, ela precisaria ajustar a
ventilação alveolar para 15,5L/min para manter a pressão parcial alveolar de
CO2 em 40mmHg.

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Hematose

Figura 76: Elementos da barreira hematoaérea e as direções do intercâmbio de gases que nela se
processa.

• Barreira hematoaérea (ou membrana alveolocapilar, ou membrana respiratória): é


toda a extensão de componentes os quais os gases devem atravessar para ir do ar
alveolar até o sangue, ou seja, o obstáculo biológico da hematose. Possui uma
espessura de 0,2-0,6μm e é encontrada nos septos interalveolares (praticamente
inexiste barreira hematoaérea na parede alveolar em contato com a pleura).
o Esta barreira é composta, a partir do interior do alvéolo até o lúmen capilar,
de:
▪ Camada aquosa, com água e surfactante;
▪ Epitélio alveolar, sendo que as trocas se processam mais
especificamente na região delgada do pneumócito tipo I;
▪ Lâminas basais fundidas do epitélio alveolar e do endotélio capilar;
▪ Endotélio capilar.
o Os alvéolos, juntos, perfazem uma área total de 50m2. O volume de sangue
que circula nos capilares alveolares, entretanto, é de apenas 70mℓ. Assim, a

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distribuição das hemácias desses 70mℓ nessa extensa área promove um


contato muito íntimo entre elas e a barreira hematoaérea.
• Fatores que afetam a velocidade de difusão dos gases na membrana
respiratória: a velocidade de difusão dos gases (D) na membrana hematoaérea é
diretamente proporcional à diferença de pressão do gás entre o alvéolo e o capilar
(∆P), à área (A) da membrana e à solubilidade do gás (S) na camada aquosa; e
inversamente proporcional à espessura (d) da membrana e ao peso molecular do gás
(PM). Isso é conhecido como lei de Fick, sintetizada na fórmula:

∆𝑃 × 𝐴 × 𝑆
𝐷=
𝑑 × √𝑃𝑀

o Edema pulmonar: no edema pulmonar, ocorre acúmulo de líquido no


interior da membrana respiratória. Isso aumenta a espessura (d) da
membrana, reduzindo a difusão (D) e provocando dispneia (dificuldade
respiratória). Em casos graves ocorre o extravasamento de líquido da
membrana respiratória para o espaço alveolar; em casos mais graves há
rompimento da membrana respiratória e consequente extravasamento de
hemácias para dentro do espaço alveolar, gerando como sintoma uma
expectoração espumosa rósea.

▪ Tratamento do edema pulmonar: nebulização com O2, para


aumentar a diferença de pressão de O2 (∆P), aumentando a difusão
(D) de forma compensatória à sua queda provocada pelo aumento da
espessura (d).

o Enfisema pulmonar: caso haja constrição bronquiolar por algum motivo,


ocorre dificuldade na renovação do ar alveolar, podendo haver então
aumento da pressão sobre a parede alveolar devido ao acúmulo dos
componentes gasosos. Esse aumento de pressão pode provocar o
rompimento dos septos interalveolares, fundido o espaço aéreo de dois
alvéolos, que é o enfisema. Como a hematose ocorre nesses septos, o
rompimento deles provoca a diminuição da área (A) de difusão, diminuindo
também a difusão (D) alveolar.

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Oxigenação

Figura 77: Oxigenação do sangue ao longo do capilar alveolar.

• Oxigenação do sangue capilar pulmonar: tem-se que um capilar alveolar começa


em sua extremidade na artéria pulmonar, sofre oxigenação, e termina em sua
extremidade na veia pulmonar. Em uma condição de repouso:
o Na extremidade arterial do capilar o sangue está desoxigenado, com PO2 =
40mmHg.
o Após percorrer 1/3 do comprimento do capilar alveolar, o sangue já vai ser
quase que completamente oxigenado, ficando com PO2 = 104mmHg (igual à
PO2 do ar alveolar).
o Assim, o sangue sai pela extremidade venosa do capilar com P O2 =
104mmHg.

o Oxigenação capilar no exercício: Em exercício, a frequência cardíaca


aumenta, o débito cardíaco aumenta e a pressão arterial aumenta. Com o
aumento de pressão arterial, em um momento inicial, há a perfusão de
sangue em capilares alveolares que estavam passando pelo espaço morto
fisiológico dos pulmões. Isso garante, por certo tempo, um aumento na
oxigenação do organismo.
▪ Caso persista o exercício, a abertura de capilares até então fechados
não será suficiente. O que acontece nesse caso é que a oxigenação

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total do sangue no capilar alveolar só vai acontecer após ele


percorrer 2/3 do capilar.
▪ Excedendo a atividade física, entretanto, é possível que o sangue não
consiga sair totalmente oxigenado mesmo após percorrer toda a
extensão do capilar.

o Oxigenação capilar no edema pulmonar: em um caso de edema


pulmonar, o sangue tem dificuldade de se oxigenar totalmente ao percorrer
o capilar, devido à redução da difusão. Comparativamente, é como se a
oxigenação capilar de uma pessoa normal em exercício fosse igual à de uma
pessoa com edema pulmonar em repouso.
▪ Assim, dependendo do grau de esforço físico que a pessoa fizer, essa
situação se exacerba e o sangue não é totalmente oxigenado mesmo
após percorrer toda a extensão do capilar, gerando como sintoma
uma dispneia de esforço.

Figura 78: Gráfico do nível de oxigenação do sangue ao longo da circulação.

• Desoxigenação do sangue até os tecidos: depois que o sangue sai dos pulmões
pelas veias pulmonares, com uma PO2 = 104mmHg, ele é bombeado pelo ventrículo
esquerdo e chega aos tecidos. Entretanto, ele chega com PO2 = 95mmHg. A
princípio, essa redução poderia ser explicada pelo consumo pequeno e gradual de
O2 ao longo do percurso do sangue até os tecidos.
o Shunts fisiológicos: entretanto, o que melhor explica a queda da PO2
sanguínea no percurso entre os pulmões e os tecidos são os shunts entre as
veias pulmonares (com sangue oxigenado) e as veias brônquicas (com

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sangue desoxigenado), e a drenagem das veias cardíacas mínimas (com


sangue desoxigenado) do miocárdio para o ventrículo esquerdo (com
sangue oxigenado).

Figura 79: Esquematização das pressões parciais de O2 envolvidas na oxigenação dos tecidos.

• Oxigenação dos tecidos (desoxigenação do sangue capilar tecidual): de qualquer


forma, o sangue dos capilares sistêmicos chega nos tecidos corporais pela
extremidade arterial com PO2 = 95mmHg. Via de regra, esses tecidos corporais
possuem interstício com PO2 = 40mmHg e células com PO2 = 23mmHg de pressão.
A diferença de pressão de 55mmHg repassa O 2 do sangue para o interstício, e a
diferença de pressão de 17mmHg repassa O2 do interstício para as células.
o Para oxigenar adequadamente as mitocôndrias, entretanto, seria necessário
que houvesse apenas uma PO2 = 3mmHg no interior das células. A
existência de uma média de PO2 = 23mmHg permite ao organismo dispor de
uma boa garantia de oxigenação caso ocorra obstrução de alguns capilares
(o que acontece ocasionalmente), fato este que é ainda compensado por um
sistema de vasoconstrição e vasodilatação para que redirecionar fluxo
sanguíneo para capilares pouco perfundidos (tecidos com menor oferta de
O2).
o Esses valores saudáveis de PO2, que permitem que a oxigenação dos tecidos
aconteça, entretanto, só são mantidos se houver uma boa distância entre os
capilares e a região por eles nutrida. Usualmente, a região tecidual central
entre dois capilares é a que possui a menor PO2, devido à maior distância
que o O2 deve percorrer para alcançar a região central. Essa PO2, portanto, se
reduz quanto maior for a distância entre a região tecidual e os capilares.
Caso ela se reduza abaixo dos 3mmHg necessários para oxigenar as
mitocôndrias, as células dessa região central podem sofrer necrose.

▪ Edema: o edema faz com que o espaço intersticial aumente de


volume devido ao acúmulo de líquido neste espaço, fazendo com

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que a distância entre os capilares aumente, diminuindo ainda mais a


PO2 nas regiões teciduais centrais, levando a uma oxigenação
deficitária. Ela geraria como sintoma uma fraqueza pulmonar em um
caso de edema pulmonar.

Remoção de CO2

Figura 80: Remoção de CO2 do sangue ao longo do capilar alveolar

• Remoção de CO2 do sangue capilar alveolar: tem-se que um capilar alveolar


começa em sua extremidade na artéria pulmonar, tem seu CO2 removido, e termina
em sua extremidade na veia pulmonar. Em uma condição de repouso:
o Na extremidade arterial do capilar o sangue está rico em CO 2, com PCO2 =
45mmHg.
o Após percorrer 1/3 do comprimento do capilar alveolar, o sangue já vai
sofrer toda a remoção possível de CO2, restando PCO2 = 40mmHg (igual à
PCO2 do ar alveolar).
o Assim, o sangue sai pela extremidade venosa do capilar com P CO2 =
40mmHg.

Figura 81: Esquematização das pressões parciais de CO2 envolvidas na remoção de CO2 dos tecidos.

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• Captação de CO2 pelo sangue capilar tecidual (remoção de CO2 dos tecidos): o
sangue dos capilares sistêmicos chega nos tecidos corporais pela extremidade
arterial com PCO2 = 40mmHg. Via de regra, esses tecidos corporais possuem
interstício com PCO2 = 45mmHg e células com PCO2 = 46mmHg de pressão. A
diferença de pressão de -1mmHg repassa CO2 das células para o interstício, e a
diferença de pressão de -5mmHg repassa CO2 do interstício para o sangue.
o Essas diferenças de pressão fisiológicas e saudáveis são menores do que
aquelas encontradas para o O2 porque o CO2 é mais solúvel.

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Transporte de gases
Transporte de O2
• Transporte de O2 no sangue: 97% do O2 transportado no sangue está nas
hemácias associado à hemoglobina, sendo esta então chamada de oxiemoglobina
(HbO2) quando ligada ao O2, enquanto apenas 3% está dissolvido diretamente no
plasma sanguíneo.
o Apesar de ser uma quantidade muito diminuta, esses 3% diretamente
dissolvidos é que respondem pela PO2 do sangue. O O2 transportado pela
hemoglobina não é levado em consideração.
o Assim, existe uma certa incorreção em se dizer que um sangue com P O2 =
104mmHg está corretamente oxigenado. Como a P O2 não considera o O2
transportado pela hemoglobina, pode ser que um sangue extremamente
anêmico possua PO2 = 104mmHg, sem que esteja corretamente oxigênio.

▪ Nebulização: com a nebulização, fornece-se ao paciente uma


maior quantidade de O2 a ser transportado na forma dissolvida,
havendo assim aumento na porcentagem de O 2 dissolvido. Por isso,
a nebulização é capaz de ajudar um pouco pacientes com dispneia
por espessamento da membrana alveolar ou por deficiência de
hemácias.
• Transporte de O2 pela hemoglobina (Hb): 1g de Hb é capaz de transportar
1,34mℓ de O2. Isso significa que, para uma concentração de Hb no sangue de
15g/dℓ, haveria uma concentração de O2 de 20mℓ/dℓ no sangue. Entretanto, como a
saturação da Hb costuma ser de 97%, esse valor se reduz um pouco, para uma
concentração sanguínea de O2 de 19,4mℓ/dℓ.
o Ao retornar aos pulmões, a Hb não terá perdido totalmente seu O2,
retornando com saturação de 75% (ou seja, o sangue retorna com cerca de
14mℓ de O2/dℓ, tendo deixado nos tecidos 5mℓ de O2/dℓ) É uma margem
de segurança para o corpo, evitando que a Hb perca totalmente o O 2 ao
nutrir os tecidos.
o É importante também notar que o excesso de O2 é prejudicial ao organismo,
pois aumenta a geração de espécies reativas do oxigênio, ou radicais livres,
que são capazes de inutilizar estruturas bioquímicas do corpo.

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o Oxímetro: o oxímetro é um aparelho de medição da saturação da Hb. Ele


é colocado no dedo de uma pessoa, com duas placas pressionando o dedo de
cada lado. Uma das placas emite uma luz vermelha, e a outra é capaz de
captar a porcentagem de luz que atravessou completamente o dedo e
informá-la no visor do oxímetro.
▪ A Hb é capaz de refletir a luz vermelha apenas quando está
altamente saturada de O2; quando está empobrecida de O2, ela deixa
essa luz passar. Assim, o grau de saturação da Hb se traduz na
porcentagem de luz vermelha que atravessa o dedo e é captada pela
segunda placa.

Figura 82: Curva de dissociação da oxiemoglobina.

• Curva de dissociação da HbO2: de maneira geral, tem-se que, quanto maior for a
PO2 do sangue, maior a afinidade da Hb pelo O2.
o A oxigenação da Hb ocorre nos pulmões, resultando em uma saturação de
97% da HbO2 para uma PO2 sanguínea de 100mmHg. Ou seja, a alta PO2
existente nos capilares alveolares age como fator intensificador da afinidade
da Hb pelo O2. Isso é essencial para uma captação efetiva de O 2 pelo sangue
nos pulmões.
o O sangue que circula nos tecidos e retorna tem sua PO2 rebaixada a
40mmHg, resultando em uma saturação de 75% da HbO2. Ou seja, a baixa
PO2 existente nos tecidos age como fator redutor da afinidade da Hb pelo
O2. Isso é essencial para uma liberação efetiva de O 2 pelo sangue nos
tecidos.

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Transporte de CO2
• Transporte de CO2 no sangue: o CO2 é transportado no sangue de três maneiras
diferentes:
o 70% é transportado diretamente no plasma sanguíneo na forma de íons
bicarbonato (HCO3-).
o 23% é transportado pelas hemácias associado à Hb, que então é chamada de
carbaminoemoglobina (CO2Hb).
o 7% é transportado dissolvido diretamente no plasma sanguíneo.

Figura 83: Dinâmica das formas de transporte de CO2 no sangue.

• Dinâmica das formas de transporte de CO2: as formas de transporte de CO2


interligam-se entre si com reações reversíveis, portanto, é um deslocamento entre
elas de acordo com a necessidade:
o De todo o CO2 produzido pela célula e captado pelo sangue, uma pequena
parte é dissolvido diretamente no plasma sanguíneo; a maior parte vai é
captada pelo eritrócito.
o No eritrócito, uma parte do CO2 se liga aos radicais amina da Hb, formando
a CO2Hb.
o Entretanto, no eritrócito, a maior parte do CO2 reage com H2O, reação esta
catalisada pela anidrase carbônica, resultando em ácido carbônico (H 2CO3).
O H2CO3 então naturalmente se dissocia em íons bicarbonato (HCO 3-) e
íons hidrogênio (H+) no interior do eritrócito.

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▪ Os íons H+, que poderiam causar acidez no sangue se fossem


liberados, são rapidamente captados pela Hb, formando HHb.
Portanto a Hb exerce também uma função de tampão acidobásico
para o sangue.
 Com isso, o sangue próximo aos tecidos, devido ao grande
aporte de CO2, é mais ácido do que o sangue próximo aos
alvéolos, em que há expulsão de CO2.
▪ Os íons HCO3- por sua vez se difundem para o plasma sanguíneo,
onde funcionarão como base conjugada de um ácido fraco (o
H2CO3) para compor o principal tampão acidobásico do sangue.
• Eliminação de CO2 no alvéolo: a dinâmica entre as formas de transporte do CO 2
se processa, no sangue dos capilares alveolares, de maneira oposta àquela
observada nos capilares sistêmicos. Isso ocorre porque no sangue dos capilares
alveolares, há baixa concentração de CO2. Isso faz com que o sentido da reação seja
no sentido de formar CO2 novamente. Assim:
o O HCO3- que estava no plasma sanguíneo é recapturado pelo eritrócito;
o A HHb do eritrócito libera H+;
▪ HCO3- e H+ então formam novamente H2CO3.
o O H2CO3 volta a se dissociar em CO2 e H2O, e o CO 2 difunde para fora do
capilar, adentrando o espaço alveolar, onde sua pressão parcial é menor.

• Alcalose e acidose respiratórias: em uma hiperventilação, por exemplo, em que


há aumento na expulsão de CO2, há redução da quantidade de CO2 que forma
HCO3- e H+, aumentando o pH do sangue. Com isso, há alcalose respiratória. O
contrário irá ocorrer em uma hipoventilação: a expulsão de CO2 diminui, havendo
acúmulo de CO2 no corpo, formando mais HCO3- e H+, reduzindo o pH sanguíneo,
provocando acidose respiratória.

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Regulação da ventilação pulmonar


• O controle da ventilação pulmonar é fundamentalmente automático, envolvendo
principalmente componentes localizados no tronco encefálico, mais
especificamente no bulbo (centro respiratório) e na ponte (centro pneumotáxico).
o Há, entretanto, a participação de componentes como o córtex motor, que é
capaz de ativa a musculatura que promove a ventilação. Porém este e outros
componentes não fazem parte do controle basal da ventilação.

Figura 84: Esquema das regiões de controle da ventilação pulmonar.

Centro respiratório
• Centro respiratório: responsável pelo controle automático e involuntário da
ventilação, o centro respiratório está localizado no bulbo. Nele existem o grupo
respiratório dorsal, responsável pela inspiração tranquila, e o grupo respiratório
ventral, responsável pela inspiração e expiração forçadas (mas que são realizadas
involuntariamente, como durante um exercício físico).
• Grupo respiratório dorsal: é o principal responsável pela inspiração normal,
tranquila, da qual normalmente o indivíduo nem tem consciência que está
acontecendo. Este grupo tem uma característica de marcapasso, pois possui alguns
neurônios que disparam potenciais rítmicos, que descem pelos nervos frênicos e
ativam a contração do diafragma.
o Sinal em rampa: a despolarização desses neurônios tem um aspecto de
“sinal em rampa”, que caracteriza a intensidade com que o sinal é gerado e

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a quantidade de células que se despolarizam na atividade do grupo


respiratório dorsal: inicialmente, poucas células se despolarizam, ativando
unidades motoras pequenas no diafragma. Essa contração vai progredindo
em força devido ao aumento da quantidade de células que despolarizam,
ativando então unidades motoras maiores e promovendo uma maior
contração mais forte. Portanto no começo da inspiração a contração
diafragmática é sutil, intensificando-se progressivamente até o final da
inspiração.
▪ É graças a essa despolarização progressiva de neurônios (que
aumenta gradativamente o sinal enviado ao diafragma) que é
possível que a inspiração normal do organismo seja um processo
harmonioso. Entretanto, ela seria disruptiva caso a despolarização de
todos os neurônios desse grupo fosse imediata, tendo-se uma
contração muito vigorosa do diafragma sendo realizada em um
curtíssimo espaço de tempo, ou seja, uma contração espasmódica.

Figura 85: Correlação entre a despolarização progressiva do diafragma com todas as etapas
do ciclo respiratório.

• Grupo respiratório ventral: é o principal responsável pela inspiração e expiração


forçadas, porém realizadas de forma automática e voluntária. Portanto, este grupo
fica inativo na respiração tranquila, uma vez que a inspiração tranquila é controlada

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pelo grupo respiratório dorsal, e a expiração tranquila é um processo passivo,


independente de controle.
o Assim, caso seja necessário um aumento da ventilação, o grupo ventral é
acionado para potencializar e acelerar a inspiração e a expiração por meio
da ativação da musculatura secundária.

Centro pneumotáxico
• Centro pneumotáxico: localizado na ponte, é responsável pelo “desligamento” do
sinal em rampa do grupo respiratório dorsal que promove a inspiração tranquila,
para que então possa se processar a expiração tranquila, que é passiva em condições
normais, pois é dependente apenas da retração pulmonar. Assim, o centro
pneumotáxico exerce um efeito limitante sobre a inspiração, deprimindo o grupo
dorsal. Esse desligamento também ocorre como um sinal em rampa, por isso
expiração tranquila também é harmoniosa.

Aferências para a regulação da ventilação


• As aferências para os centros de controle da ventilação agem como moduladores da
respiração que desencadeiam uma série de reflexos.
• Reflexo de insuflação de Hering-Breuer: ele é acionado caso haja excesso de
insuflação pulmonar (estiramento das vias aéreas inferiores). Sua ação é transmitir
impulsos via nervo vago que alcançam e deprimem o grupo respiratório dorsal,
evitando a exacerbação da inspiração.
• Outros reflexos respiratórios relevantes envolvendo centros moduladores:
o Reflexo do espirro: inspiração profunda seguida de expiração súbita
o Reflexo da tosse: inspiração rápida seguida de expiração súbita rápida,
intermitentemente.
• Modulação respiratória por quimiorreceptores: a modulação por
quimiorreceptores é muito importante, uma vez que o objetivo final da respiração é
manter a correta entrega de O2 e remoção de CO2 dos tecidos, o que se reflete nas
concentrações desses gases no sangue. Os quimiorreceptores são, portanto,
responsáveis por fiscalizar se esse balanço químico de gases está corretamente
estabelecido: caso haja algum problema, os quimiorreceptores irão enviar sinais aos
centros respiratórios de forma a corrigi-lo.
o Quimiorreceptores periféricos: esses quimiorreceptores estão localizados
nos corpos aórticos e carotídeos (são os mesmos envolvidos no controle da

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pressão arterial), sendo compostos de células glomais, fibras aferentes


sensíveis a concentrações de O2 e CO2. Elas são irrigadas por um capilar
paralelo à aorta ou a carótida, captando fielmente as concentrações dos
gases que seguem para os tecidos.
▪ Se os quimiorreceptores detectarem, no sangue, uma redução da
PO2/aumento da PCO2 (significando que há, possivelmente, uma
deficiência na ação ventilatória), eles enviam sinais ao centro
respiratório para intensificar a ventilação, dessa forma aumentando a
captação de O2/remoção de CO2.

Figura 86: Gráfico que relaciona os valores da PO2 captados pelos quimiorreceptores com sua
frequência de envio de impulsos.
▪ É importante lembrar que existe uma outra aferência dos
quimiorreceptores para os centros de controle da pressão arterial,
que, neste caso, irão atuar para aumentar a pressão arterial (pois uma
baixa pressão arterial também é outra possível causadora do
problema de baixa PO2/alta PCO2).
o Quimiorreceptores centrais: estão localizados no próprio centro
respiratório. Eles são sensíveis ao pH, ou seja, à concentração de H + do
sangue que os perfunde.
▪ É importante notar que a aferição do pH é uma interpretação indireta
da concentração de CO2, uma vez que ele é uma das poucas
substâncias capazes de atravessar a barreira hematocefálica, para
então formar H+ no SNC sob ação da anidrase carbônica.
▪ Uma redução de pH (aumento de H+ e, portanto, aumento de CO2)
provoca a intensificação da ventilação, para assim aumentar e

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normalizar o pH novamente; o contrário ocorre no aumento de pH.


A ventilação, assim, tanto afeta quanto é afetada pelo pH sanguíneo.

• Respiração no exercício: no organismo praticando exercício físico, seria


esperado que, com o aumento do metabolismo, aumentasse significativamente a
produção de CO2, levando a hipercapnia; e o consumo de O2, levando a hipóxia.
o Entretanto, observou-se que a própria movimentação do indivíduo em
exercício sensibiliza os proprioceptores articulares, cujo sinal é então levado
diretamente aos centros respiratórios, de forma a modular sua atividade,
alterando a ventilação para a evitar a hipercapnia/hipóxia significativas
antes que elas possam acontecer.
▪ Também foi observado que o córtex, ao enviar sinais para a
movimentação da musculatura durante o exercício, também enviava
sinais colaterais para os centros respiratórios de forma a obter os
mesmos efeitos supracitados.

• Hipóxia: a hipóxia, definida como a baixa concentração de O 2 no sangue,


acontece no organismo submetido a exercícios aeróbicos e altas altitudes.
Observou-se que esta condição estimula a produção de eritropoietina pelos rins,
hormônio que por sua vez estimula a produção de hemácias. Com a produção de
hemácia aumentada, aumenta a quantidade de O 2 transportado pelo sangue, o que
justamente ajuda a combater a hipóxia a longo prazo.

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FISIOLOGIA
DIGESTÓRIA

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Características gerais do trato digestório


• Funções do sistema digestório: a função básica do sistema digestório é fornecer
suprimento contínuo de água, eletrólitos e nutrientes ao corpo. Para que isso ocorra,
é essencial o correto funcionamento das seguintes capacidades do trato digestivo:
o Movimento do alimento;
o Secreção de sucos digestivos;
o Digestão dos alimentos;
o Absorção dos produtos digestivos.
• Circulação do sistema digestório: a irrigação dos componentes do sistema
digestivo é essencial. Ela tem a função, além de nutrir os tecidos como um todo, de:
o Levar às glândulas do sistema digestório os substratos necessários para a
composição de suas secreções;
o Captar os nutrientes absorvidos pelo sistema digestório.
• Mucosa da parede digestória: a diferenciação dos diversos segmentos do trato
gastrointestinal se dá, principalmente, pelo tipo e pelo formato de mucosa que ele
apresenta.
o Existem basicamente dois tipos de mucosas:
▪ Mucosa secretora, responsável pela secreção de substâncias na luz
gastrointestinal que realizam diversas funções;
▪ Mucosa absortiva, responsável pela captação dos nutrientes uma vez
digeridos na luz gastrointestinal.
o Quanto ao formato, a mucosa pode possuir vilosidades, criptas,
estratificações de epitélio, entre outros.

Controle do sistema digestório


Controle nervoso
• Controle nervoso do sistema digestório: o controle da função digestória é
primordialmente neural, sendo feita por dois componentes: o sistema nervoso
autônomo e o sistema nervoso entérico.
• Sistema nervoso autônomo (SNA): com nervos aferentes e eferentes, o SNA é o
responsável pelos reflexos longos (rápidos) para controlar as funções digestórias.
Para isso, ele dispõe de duas circuitarias distintas: o SNA simpático e o SNA
parassimpático.

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Figura 87: Regulação do sistema nervoso entérico pelo sistema nervoso autônomo.
o SNA parassimpático: no controle nervoso do sistema digestivo há uma
primazia da atuação do nervo vago (X par craniano), que é a principal via
eferente parassimpática. Isso porque a atividade vagal, principalmente
aquela mediada por acetilcolina, é excitatória para os constituintes do
sistema digestório. Ao mesmo tempo, entretanto, existe uma atuação
parassimpática inibitória. Os nervos parassimpáticos para o trato
gastrointestinal são pré-ganglionares.
o SNA simpático: a atuação simpática, mediada por adrenalina, é inibitória.
Os nervos simpáticos para o trato gastrointestinal são pós-ganglionares.

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• Sistema nervoso entérico: composta por plexos interpostos à parede digestória (o


mioentérico e o submucoso), responsável por reflexos curtos (lentos). É importante
frisar que tanto o plexo mioentérico quanto o submucoso recebem modulação pelo
simpático e o parassimpático.

Figura 88: Controle nervoso da parede digestória, mostrando (1) o plexo submucoso e o mioentérico
(fibras pretas); (2) controle extrínseco destes plexos pelo sistema nervoso simpático e parassimpático
(fibras vermelhas); e (3) fibras sensitivas passando do epitélio luminal e parede intestinal para os
plexos entéricos, e então para os gânglios paravertebrais da medula espinhal e diretamente para
medula espinhal e o tronco encefálico (fibras verdes).
o Plexo mioentérico: o plexo mioentérico, cujos neurônios são menores e
mais numerosos, promovem o controle da motilidade do sistema digestório
ao inervarem as fibras musculares lisas da camada muscular da parede
digestória. As unidades motoras desse plexo, portanto, são pequenas e
numerosas, permitindo um controle fino da musculatura lisa do trato
gastrointestinal, tendo em vista que o peristaltismo deve ser finamente
controlado.
▪ Peristaltismo: o músculo acima do alimento contrai, e o músculo
abaixo do alimento relaxa. Isso promove uma movimentação
fisiológica unidirecional do alimento ao longo do trato
gastrointestinal.

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o Plexo submucoso: o plexo submucoso possui neurônios maiores, muito


ramificados e pouco numerosos. Eles são responsáveis pelo controle da
mucosa secretora.
• Aferências nervosas: as fibras aferentes (quimiorreceptores e mecanorreceptores,
principalmente), levam informações tanto para o sistema nervoso autônomo
(compondo reflexos longos) quanto para o sistema nervoso entérico (compondo
reflexos curtos).
o Mecanorreceptores: percebem o estiramento da musculatura lisa e o sinal
gerado é transduzido pelo plexo mioentérico, estimulando as contrações.
o Quimiorreceptores: percebem a composição química do quimo e regulam
a motilidade e secreção dos tampões para controlar o pH da luz durante o
influxo do quimo ácido ao duodeno.
o Osmorreceptores: percebem a osmolaridade do quimo no intestino
delgado. Isto é importante porque há apenas uma barreira de um tipo de
célula entre o quimo na luz do intestino delgado e os capilares. O quimo
hipertônico pode exercer uma força osmótica, puxando o líquido para fora
das células (e, em última instância, o plasma). Assim, os osmorreceptores
controlam a quantidade de quimo que entra no intestino delgado, assim
como a quantidade de secreções necessárias para tamponar o quimo.

Controle hormonal
• Controle hormonal do sistema digestório: o outro componente controlador do
sistema digestório é hormonal. Ele advém de:
o Glândulas parácrinas: localizadas no próprio trato gastrointestinal,
geralmente unicelulares difusamente distribuídas. A tabela a seguir
demonstra os principais hormônios parácrinos do sistema digestório.

Figura 89: Esquematização da regulação parácrina do sistema digestório.

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Estímulo para Local de


Hormônio Efeitos
secreção secreção
Proteínas Estimula:
Células G do
Distensão estomacal Secreção ácida gástrica
Gastrina Estímulo vagal
antro, duodeno e
Mistura gástrica
jejuno
(inibidor: ácido) Motilidade do TGI inferior
Estimula:
Secreção enzimática pancreática
Proteínas Células I do Secreção de bicarbonato pancreático
Colecistoquinina Gorduras duodeno, jejuno e Contração da vesícula biliar
Ácido íleo Motilidade do TGI inferior
Inibe:
Esvaziamento gástrico
Estimula:
Secreção de pepsina
Células S do Secreção de bicarbonato pancreático
Ácido
Secretina Gorduras
duodeno, jejuno e Secreção de bicarbonato biliar
íleo Crescimento do pâncreas exócrino
Inibe:
Secreção ácida gástrica
Estimula:
Proteína Liberação de insulina
Peptídeo Células K do
Gordura Inibe:
inibidor gástrico duodeno e jejuno
Carboidratos Secreção ácida gástrica
Esvaziamento gástrico
Gorduras
Estimula:
Ácido Células M do
Motilina Estímulo vagal duodeno e jejuno
Motilidade gástrica
Motilidade intestinal
Jejum

o Glândulas endócrinas: órgãos endócrinos associados ao trato


gastrointestinal, como pâncreas, fígado.

Figura 90: Esquematização da regulação endócrina do sistema digestório.

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Motilidade do trato gastrointestinal


Camada muscular da parede digestória
• Músculo liso unitário (ou músculo liso sincicial) da parede digestória: o tipo de
músculo presente na musculatura lisa da parede digestória é unitário/sincicial. Isso
significa suas fibras comunicam-se entre si por junções gap, permitindo a
propagação multidirecional do potencial de ação.
o Essa musculatura é encontrada em toda extensão do TGI com exceção da
boca, região superior do esôfago e esfíncter anal externo, que possuem
músculo esquelético. Ele permite o controle voluntário da entrada
(deglutição) e saída (defecação).
o O restante do trato possui essa musculatura dividida em uma banda
longitudinal (mais externa) e uma banda circular (mais interna) que
permitem a propulsão e mistura do quimo.
▪ A camada oblíqua auxilia o componente de mistura que é
importante na motilidade do estômago.
o A atividade elétrica no trato gastrointestinal é única. Diferente de outros
tecidos, existem ondulações nos potenciais de membrana de repouso das
células musculares lisas de sua parede, conhecidas como ondas lentas, as
quais são geradas pelas células de Cajal.
• Células de Cajal (ou células intersticiais de Cajal, ou ICC): são células
marcapasso, isto é, células capazes de se despolarizarem espontaneamente. Essa
despolarização é transmitida através de junções gap às células da musculatura lisa
do TGI, gerando um padrão característico de variação de potencial de membrana
conhecido como padrão de ondas lentas.
o As ICC estão localizadas ao longo do TGI entre as camadas musculares
longitudinais e circulares.
o A despolarização espontânea das ICC provavelmente é causada por
pequenas mudanças na carga da membrana resultando da atividade da
Na+/K+ ATPase (bomba de sódio e potássio).
• Ondas lentas (ou ritmo elétrico básico): referem-se ao padrão ondulatório do
potencial de membrana das células musculares lisas do TGI, originado pelas células
de Cajal e transmitido por junções gap por segmentos relativamente longos do

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trato. Sob condições de repouso, as ondas lentas ondulam entre -70 e -80mV e não
causam contrações.

Figura 91: Esquema que indica as ondas lentas em fase com as contrações, e os potenciais de ação/picos
das ondas lentas. Algumas células se contraem fracamente somente com as ondas lentas. Outras se
contraem mais vigorosamente com os picos nas ondas lentas.
o Algumas células musculares lisas, raras e muito pequenas, entretanto, são
capazes de se contrair somente com essas ondas, sem que seja necessário
terem um potencial de ação. Por possuem um tamanho muito diminuto, um
leve aumento do influxo de Na+ é capaz de abrir canais de diidropiridina,
levando à contração. Imediatamente depois, entretanto, ocorre o efluxo de
K+, a células relaxa e o potencial se restabelece. A força da contração
resultante deste tipo de processo, entretanto, é reduzida e pouco
significativa para o TGI como um todo.
o A maioria das células musculares lisas do TGI, por sua vez, necessitam de
sofrerem uma despolarização adicional pela atividade nervosa ou
hormonal para se contraírem. Com essa despolarização adicional, a
amplitude das ondas lentas aumenta, e quando seus valores ultrapassam o
limiar de -40mV, as células geram um ou mais potenciais de ação (ou
picos).

Figura 92: Ondas lentas no músculo liso sofrendo picos e gerando o tônus muscular correspondente.

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o Neurotransmissores como a acetilcolina e a substância P (taquicinina)


liberadas de nervos parassimpáticos terminando no plexo mioentérico,
hormônios como a colecistoquinina e a gastrina, e a estimulação de
motoneurônios excitatórios do plexo mioentérico por mecanorreceptores
locais, são capazes de despolarizarem as ondas lentas, gerando potenciais de
ação e causam contrações. Com uma maior liberação de
neurotransmissores, a amplitude das ondas é maior, produzindo uma maior
despolarização. Isto resulta em mais potenciais de ação, aumentando a
força de contração.
o Também existem motoneurônios inibitórios que são estimulados pelos
nervos simpáticos, liberando peptídeo vasoativo intestinal e óxido nítrico, o
qual hiperpolariza as ondas lentas, relaxando a musculatura lisa.
• Esfíncteres musculares: a musculatura lisa presente nos esfíncteres do TGI, graças
à teoria da catraca, é capaz de ficar permanentemente contraída, fechando pontos
importantes do trato. A teoria consiste no fato de que as fibras contráteis do
músculo liso, uma vez tendo sido contraídas e imediatamente desfosforiladas,
conseguem ficar permanentemente contraídas sem que haja gasto de energia,
ficando em “estado de engate”.
• Tipos de movimentos realizados pela musculatura lisa: a interação entre os
motoneurônios excitatórios e inibitórios do plexo mioentérico resulta em uma
variedade de movimentos propulsores e de mistura através do TGI.

Figura 93: Movimentos de mistura. As contrações constritivas locais geram diferentes padrões de
movimentos.

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o Movimento de mistura: promovido pela contração da camada circular.


Ocorre por constrições locais intermitentes a cada poucos centímetros da
parede digestória. Essas constrições geralmente duram apenas 5 a 30
segundos; novas constrições então ocorrem em outros pontos da parede,
promovendo a “trituração” e a “separação” dos conteúdos luminais.

Figura 94: Peristaltismo.


o Movimento propulsivo (peristaltismo): promovido pela contração da
camada circular e da longitudinal juntas. Neste movimento, um anel
contrátil aparece no tubo e então se move para frente. Este mecanismo é
análogo a colocar os dedos ao redor de um tubo fino distendido, e então
apertar os dedos e deslizá-los para frente no tubo. Com isso, qualquer
material à frente do anel contrátil é propulsionado para frente.
• Funções da motilidade do TGI: a motilidade do trato gastrointestinal se refere aos
movimentos dos diferentes segmentos do trato para desempenharem duas funções
essenciais para o efetivo funcionamento do sistema digestório:
o Homogeneização do alimento: é feito por meio da mistura do alimento
consigo mesmo e com as secreções liberadas pelo corpo. Portanto, nisso
agem principalmente os movimentos de mistura, que são diferentes de
acordo com a parte do trato considerada.
o Propulsão aboral: deslocamento do bolo alimentar em direção às partes
distais do trato gastrointestinal. Portanto, nisso agem principalmente os
movimentos propulsivos, que compõem o peristaltismo típico do trato.

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Ingestão e mastigação
• Ingestão do alimento e mastigação: é feita principalmente pelos dentes e
dependente da contração dos músculos da mastigação (masseter, pterigóideos
medial e lateral, e temporal).
• Funções da ingestão e mastigação:
o Lubrificação do alimento;
o Aumento da área de ação das enzimas;
o Evitar lesões do trato gastrointestinal.
• Reflexo da mastigação: é um reflexo muito secundário, se for considerado o
movimento voluntário da mastigação. As aferências deste reflexo são os
mecanorreceptores do glossofaríngeo e do vago.

Deglutição
• A deglutição possui três fases: oral, faríngea e esofágica.
• Fase oral da deglutição: é uma fase voluntária, na qual o bolo de alimento é
movido para a parte traseira da boca, para dentro da região faríngea, estimulando
mecanorreceptores que levarão ao início da fase faríngea, que é o início do reflexo
da deglutição (involuntário).

Figura 95: Controle neural das fases faríngea e esofágica da deglutição.

• Fase faríngea da deglutição: a fase faríngea possui as seguintes etapas:


o O palato é empurrado para cima, fechando as coanas. Isto isola a faringe da
cavidade nasal.

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o As pregas palatofaríngeas se aproximam, juntamente com as pregas vocais,


puxando a faringe para frente e para cima. A elevação da faringe eleva a
laringe também, que fica então obstruída pela epiglote. Ligamentos
impedem a movimentação da epiglote que está fechando a laringe. Isto isola
a faringe da árvore traqueobrônquica.
o O movimento da faringe aumenta a abertura do esôfago. Isto prepara a
recepção do alimento pelo esôfago.
o Há o relaxamento do esfíncter faringoesofágico. Isto permite a
comunicação da faringe com o esôfago.
o Ao mesmo tempo, ocorre a contração dos músculos da faringe. Isto
propulsiona o alimento para o esôfago.
• Fase esofágica: também compreende diferentes etapas:
o Mecanorreceptores presentes na faringe ativam o centro da deglutição
quando o alimento se aproxima do esfíncter; o centro envia estímulos pelo
nervo vago para o esfíncter esofágico superior (e também para o inferior).
o Os estímulos vagais são excitatórios para os neurônios do plexo
mioentérico. Os neurônios do plexo mioentérico, por sua vez, podem ser
tanto excitatórios quanto inibitórios.
▪ Para abrir o esfíncter, a musculatura precisa ser relaxada, portanto
são excitados os neurônios inibitórios.
▪ Para fechar o esfíncter, a musculatura precisa ser contraída, portanto
são excitados os neurônios excitatórios.
o Pela excitação de neurônios inibitórios do plexo mioentérico, assim, há
então o relaxamento do esfíncter faringoesofágico. Ele é um esfíncter
composto de musculatura lisa e musculatura esquelética dotado de tônus de
fechamento.
o Tão logo o alimento ultrapasse o esfíncter esofágico superior, neurônios
excitatórios do plexo mioentérico são excitados e o esfíncter
faringoesofágico se fecha.

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Figura 96: Dinâmica pressórica das diferentes partes do esôfago durante o repouso e a deglutição.

• Dinâmica pressórica da deglutição:


o Faringe: em repouso, a faringe tem pressão 0 (tomando como referência a
Patm), para recepcionar o alimento. No momento da deglutição, a pressão na
faringe se eleva muito por um breve momento, pois os músculos faríngeos
se contraem para empurrar o alimento em direção ao esfíncter esofágico
superior.
o Esfíncter esofágico superior: em repouso, o esfíncter possui pressão de
cerca de 30mmHg, estando contraído, portanto, de forma a fechar a
comunicação entre faringe e esôfago. Em um momento de deglutição, essa
pressão se reduz até zerar, pois há relaxamento do esfíncter para que o
alimento o atravesse. Logo depois, a pressão volta a subir até 60mmHg,
pois o esfíncter contrai para empurrar o alimento para o esôfago, mas logo
depois se reduzindo de volta a 30mmHg, ficando o esfíncter contraído e
fechando a comunicação faringe-esôfago mais uma vez.
o Extensão do esôfago: pouco depois da deglutição, o alimento começa a
atravessar toda a extensão do esôfago. Essa extensão possui inicialmente

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pressão 0, recepcionando o alimento; imediatamente depois, a pressão sobe


até quase 100mmHg, o que propulsiona o alimento em direção ao estômago.
o Esfíncter esofágico inferior: em repouso, este esfíncter possui pressão de
20mmHg, portanto, encontra-se fechado (evitando o refluxo de ácido
gástrico). No momento da deglutição, um reflexo faz com que este esfíncter
se abra, permanecendo aberto até a chegada do alimento. Neste momento, a
pressão volta a subir, chegando a 40mmHg, enviando o alimento para o
estômago. Logo depois, a pressão cai para 20mmHg novamente, ou seja, o
esfíncter se fecha novamente.

• Distúrbios da motilidade gastrointestinal: a dependência de mecanismos


nervosos para a motilidade do trato digestório faz com que, em doenças que afetem
o sistema nervoso, o trato digestório seja afetado também. No caso de doenças
nervosas que afetem centros/nervos controladores dos movimentos voluntários e
involuntários da deglutição, pode haver uma deglutição incorreta que, por exemplo,
faça com que o alimento caia no trato respiratório.

o Acalasia: a acalasia é uma alteração neuromuscular caracterizada pela


falência das fibras musculares lisas em se relaxarem, o que pode fazer com
que um esfíncter permaneça fechado e não consiga se abrir quando
necessário. A acalasia mais comum é a acalasia cárdica. A fisiopatologia
dessa doença envolve a falência dos motoneurônios inibitórios distais do
esôfago.

Funções motoras do estômago


• Constituintes do estômago: o estômago é a porção do trato digestório
compreendido entre a junção gastroesofágica e o piloro (considerado
funcionalmente como um esfíncter). Possui as seguintes regiões: cárdia, fundo e
corpo, e antro pilórico. No revestimento interno do estômago, encontram-se pregas
gástricas, que são dobras de músculo liso revestidas de mucosa. O plexo
mioentérico e submucoso continua normalmente.

Armazenamento
• Armazenamento: é a entrada de alimento no estômago. Depende de que o
estômago esteja em relaxamento receptivo, condição promovida pelo reflexo
vagovagal. Uma vez nesta condição, o estômago aumenta de tamanho, permitindo a
acomodação do alimento.

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• Reflexo vagovagal: mecanorreceptores, que são fibras aferentes do nervo vago


presentes na parede da junção gastroesofágica, estimulam fibras eferentes do
próprio nervo vago. Estas, por sua vez, estimulam o relaxamento receptivo do
estômago. O principal neurotransmissor desse reflexo é o óxido nítrico.
• Reprocessamento do reflexo vagovagal: a partir do momento de armazenamento
do estômago, o estômago passa a exercer os movimentos de mistura. Entretanto, o
reflexo vagovagal se processa toda vez que a deglutição envia alimento até a
junção gastroesofágica. Como os movimentos de mistura e o relaxamento receptivo
do estômago são ações antagônicas, é preciso que um deles se sobressaia – e o que
vai sobressair, caso haja o envio de alimento, é o relaxamento receptivo, graças a
dois fatores:
o A grande liberação de óxido nítrico por esse processo, que se sobressai
sobre os mediadores movimentos de mistura;
o A fraca atividade contrátil das porções do estômago próximas à junção
gastroesofágica (cárdia) em comparação ao restante do estômago. Assim, os
movimentos de mistura que ocorrem na região do relaxamento receptivo
não são tão fortes quanto ele.

Mistura e propulsão
• Mistura e propulsão: à medida que o estômago é preenchido, a distensão e o
conteúdo químico estimulam as contrações, as quais ajudam a misturar o alimento
às secreções gástricas, formando o quimo. Essas contrações geram movimentos de
mistura e de propulsão que envolvem ondas peristálticas que se iniciam como um
“anel”, que se propaga ora para a direção proximal (retropropulsão), ora para a
direção distal (propulsão em direção ao piloro) do TGI.
• A sequência da motilidade gástrica é a que se segue:

Figura 97: O estômago está sendo preenchido. Uma onda peristáltica branda (A) iniciou0se no antro e
está passando pelo piloro. O conteúdo gástrico é agitado e fortemente empurrado de volta ao corpo do
estômago.

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Figura 98: A onda (A) diminui de intensidade à medida que o piloro não abre. Uma onda mais forte
(B) inicia-se na incisura e novamente espreme o conteúdo gástrico em ambas as direções.
o As ondas (A) e (B) vão se repetindo continuamente, promovendo um
turbilhonamento que efetivamente mistura o conteúdo estomacal. Graças a
esses movimentos, as enzimas produzidas pelas glândulas do estômago, isto
é, o suco gástrico, são misturadas ao alimento, promovendo a quebra de
certas macromoléculas.
• O tempo de trânsito do alimento ao longo do estômago depende da quantidade e
tipo de alimento ingerido. Refeições pequenas e facilmente digeríveis (com alta
quantidade de carboidratos como massas e açúcares) se movem através do
estômago rapidamente, enquanto refeições com alimentos mais sólidos (carnes) e
com alto conteúdo de gorduras (alimentos fritos) requerem um tempo muito mais
longo para saírem do estômago.

Esvaziamento gástrico
• Esvaziamento gástrico: o esvaziamento gástrico se processa quando o piloro se
abre, permitindo a passagem do conteúdo gástrico para o duodeno.
• Na maioria das vezes, o tônus pilórico é alto, e, desta forma, conforme o estômago
é preenchido e as contrações se iniciam, a maioria do quimo ácido que se move em
direção ao antro sofre retropropulsão para longe do esfíncter.
• À medida em que as ondas de contração progridem em direção ao antro, o ciclo
antral ocorre, com relaxamento do esfíncter e ejeção de uma parte do quimo para
dentro do bulbo duodenal.
o Este ciclo (ejeção para dentro do duodeno) está sob rígido controle, e à
medida que o quimo entra no antro e no duodeno, a liberação de hormônios
reduz o esvaziamento gástrico através da contração do esfíncter.

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o Portanto, o relaxamento vias sinais inibitórios vagais permite que o ciclo


antral ocorra, enquanto que os outros fatores (principalmente hormonais)
evitam que uma quantidade grande de quimo ácido penetre no duodeno de
uma só vez.
• A sequência do esvaziamento gástrico é a que se segue:

Figura 99: O piloro se abre à medida que a onda (B) se aproxima dele. O bulbo duodenal é preenchido,
e algum conteúdo passa para a segunda porção do duodeno. Uma onda (C) inicia-se logo acima da
incisura.

Figura 100: O piloro é novamente fechado. Uma onda (C) falha em evacuar o conteúdo. Uma onda (D)
inicia-se mais acima no corpo do estômago. O bulbo duodenal pode contrair-se ou permanecer
preenchido à medida que uma onda peristáltica, originando-se logo abaixo dele, esvazia a segunda
porção.

Figura 101: Ondas peristálticas agora estão originando-se mais acima no corpo do estômago. O
conteúdo gástrico é evacuado intermitentemente. O conteúdo do bulbo duodenal é empurrado
passivamente para a segunda porção, à medida que surge mais conteúdo gástrico.

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Figura 102: Entre 3 e 4 horas depois, o estômago está quase vazio. Uma onda peristáltica pequena
esvazia o bulbo duodenal com algum refluxo para o estômago. O peristaltismo reverso e anterógrado
ocorre no duodeno.

• Estimulação do esvaziamento gástrico:


o Distensão estomacal: a distensão da musculatura lisa do estômago, ao
sensibilizar mecanorreceptores associados a fibras eferentes vagais,
estimula a produção de substâncias que irão estimular o esvaziamento
gástrico.
o Acetilcolina: a acetilcolina é o neurotransmissor das fibras eferentes vagais
estimuladas pela distensão estomacal, e atua fazendo com que as contrações
do estômago fiquem ainda mais fortes. Dessa forma, fica mais fácil das
ondas peristálticas estomacais vencerem o tônus contrátil do piloro.
▪ Controversamente, a acetilcolina aumenta a contração do piloro,
dificultando o esvaziamento gástrico. Por isso, as fibras vagais
liberam peptídeo intestinal vasoativo no piloro para promover seu
relaxamento e, portanto, o esvaziamento gástrico.
o Gastrina: a gastrina é produzida por glândulas enteroendócrinas gástricas
sob estímulo vagal (as fibras vagais produzem peptídeo estimulador de
gastrina). Sua ação é estimular as células parietais a produzirem ácido
clorídrico, aumentando o volume gástrico e, assim, fortalecendo a força
exercida sobre o piloro pelo peristaltismo do estômago.
• Inibição do esvaziamento gástrico: existem fatores tanto neurais quanto
hormonais que irão inibir o esvaziamento gástrico. Esses fatores estão relacionados
à atividade duodenal, ou seja, quanto maior a atividade do duodeno, menor a
atividade do estômago. Isso é vital para a integridade e funcionalidade do intestino
delgado, uma vez que as enzimas duodenais só atuam sob pH básico, e o estômago
envia o quimo com pH ácido.

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o Fatores neurais: aferências nervosas são capazes de captar estímulos que


sinalizam a entrada de conteúdo estomacal no duodeno. A partir desses
estímulos, esses componentes nervosos medeiam reflexos curtos para inibir
o esvaziamento gástrico até que o duodeno consiga readequar o quimo a ele
enviado, para que então mais quimo possa ser enviado. Os estímulos aos
quais esses componentes nervosos são sensíveis são:
▪ Grau de distensão do duodeno: a chegada do quimo aumenta o
volume interno do duodeno, distendendo sua parede. O volume do
quimo é alto, o que dificultaria a digestão e reabsorção no intestino.
Por isso, o volume de quimo é capaz de estimular
mecanorreceptores duodenais.
▪ Irritação da mucosa duodenal: a chega de quimo ácido irrita a
mucosa duodenal, adaptada para funcionar sob valores básicos de
pH. Isso estimula nociceptores duodenais.
▪ Acidez do quimo: a própria acidez do quimo (prejudicial à atividade
enzimática do intestino delgado) é capaz de estimular
quimiorreceptores duodenais.
▪ Osmolaridade: a osmolaridade do quimo é característica devido ao
alto volume do quimo, que precisa ser reajustado para que se possa
processar a absorção. Por isso, a osmolaridade do quimo é capaz de
estimular osmorreceptores duodenais.
▪ Produtos da digestão: produtos resultantes da digestão feita pelo
estômago, principalmente proteínas e gorduras, estimulam
quimiorreceptores duodenais.
o Fatores hormonais: devido ao caráter amplificado e duradouro da ação
hormonal, os hormônios são o principal mecanismo de inibição do
esvaziamento gástrico. Os hormônios que desempenham essa função são:
▪ CCK: inibe a motilidade gástrica e aumenta a contração do piloro.
▪ Secretina: inibe a secreção gástrica e aumenta a contração do
piloro.
▪ Peptídeo inibitório gástrico: inibe a motilidade gástrica, inibe a
secreção gástrica e aumenta a contração do piloro.

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Reflexo do vômito
• Reflexo do vômito: o vômito é uma ação reflexa que está sob regulação central
pelo centro do vômito no bulbo. Os estímulos para o vômito também iniciam a
salivação, e normalmente a ânsia precede o vômito, pois a área das ânsias é
mutuamente estimulada. Durante a ânsia, os conteúdos intestinais e gástricos são
levados ao esôfago, mas não para dentro da boca, devido ao esfíncter esofágico
superior estar fechado. O vômito ocorre quando ele se abre e o conteúdo é expelido.

Figura 103: Regulação neural do vômito.

• Estímulos iniciadores do reflexo do vômito podem ser provenientes do interior do


TGI, assim como centralmente através do quimiorreceptor da zona de gatilho:
o Irritantes no estômago/intestino delgado, vírus entérico ou bactéria.
Estimulam quimiorreceptores e mecanorreceptores entéricos.
o Irritantes sistêmicos percebidos por quimiorreceptores da zona de gatilho
no quarto ventrículo do cérebro.

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o Lesão cefálica, como concussão, que gera um efeito central na zona de


gatilho.
o Estimulação anormal dos órgãos vestibulares, causando um efeito central
via SNA ao quimiorreceptor da zona de gatilho, e então para o centro do
vômito. Isso pode ser feito voluntariamente pela estimulação de receptores
táteis na orofaringe.
• Os eventos induzidos por todos os estímulos são consistentes. O peristaltismo
reverso ocorre (com contração aboral e relaxamento atrás do bolo) a partir do meio
do intestino delgado até o piloro, o qual relaxa para permitir a entrada do quimo no
estômago. O estômago é preenchido e fortes contrações dos músculos abdominais
forçam o conteúdo gástrico para dentro do esôfago, causando a ânsia. Através de
estímulos subsequentes, o esfíncter esofágico superior relaxa, permitindo que o
conteúdo seja levado à boca.

Funções motoras do intestino delgado


• Movimentos segmentares: são os movimentos de mistura do conteúdo entérico,
que envolvem a formação de bolsões móveis de quimo, através da contração forte
da musculatura circular. Diferentemente do peristaltismo, no qual ocorre contração
atrás do bolo, na segmentação ocorre contração no meio do bolo, espalhando o
quimo proximalmente e distalmente.
o Estas contrações ocorrem ritmicamente e são o tipo mais frequente de
contração do intestino delgado.
o Esses movimentos são muito importantes nas porções proximais do
intestino delgado, para que efetivamente as enzimas digestivas digiram o
conteúdo entérico. Entretanto, nas porções distais do intestino delgado, os
movimentos de mistura ficam reduzidos, uma vez que, nessas porções, é
mais importante que ocorra a absorção dos nutrientes digeridos.
• Movimentos propulsivos (peristaltismo): segue a “lei dos intestinos”, na qual a
contração ocorre atrás do bolo de quimo e o relaxamento à frente do quimo. Este
processo é conseguido através da estimulação simultânea de motoneurônios
excitatórios e inibitórios. Desta maneira, o quimo é propelido aboralmente (para
longe da boca)
o Controle nervoso do peristaltismo entérico: ocorre principalmente pelo
reflexo gastroentérico. Este reflexo ocorre quando o estômago se enche de

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alimento. Componentes nervosos detectam esse evento e passam a estimular


os intestinos a iniciarem seus movimentos. O reflexo prossegue quando o
intestino delgado se enche de alimento, dessa vez com os componentes
nervosos detectam este evento e inibindo os movimentos do estômago.
o Controle hormonal do peristaltismo entérico: ocorre principalmente pela
secreção de CCK e gastrina, hormônios que estimulam a motilidade
intestinal; e a secretina e o glucagon inibem a motilidade intestinal.

Funções motoras do intestino grosso


• Enchimento: a válvula ileocecal regula a quantidade quilo que penetra no intestino
grosso. No repouso, ela encontra-se fechada, se relaxando quando há a chegada do
quilo na porção terminal do íleo (ocorrendo, assim, distensão ileal) para permitir a
sua passagem para o intestino grosso (colo), promovendo assim o enchimento do
colo. Imediatamente depois do seu enchimento, o colo procede com os movimentos
peristálticos.
• Movimentos de mistura: a estrutura muscular do intestino grosso é diferente do
intestino delgado, possuindo três bandas longitudinais de músculos, denominadas
de tênias do colo, as quais são responsáveis, pelo comprimento do órgão. Quando
elas se contraem, formam saculações sequenciais na extensão do colo denominadas
de haustros. Por isso, os movimentos de mistura, no intestino grosso, são chamados
de haustrações. Os haustros permanecem em formação por longos períodos, os
quais ajudam a “armazenar” o quimo, à medida que estes são desidratados e são
transformados em fezes.
• Movimentos propulsivos: os haustros também irão promover os movimentos
propulsivos, e, por serem os haustros segmentados, esses movimentos serão
chamados de propulsão segmentar.
o Movimentos de massa: apesar da propulsão segmentar ser muito lenta, os
movimentos de massa ocorrem periodicamente (normalmente 1 a 3 vezes
por dia). Eles são de natureza peristáltica, mas as contrações se estendem
por um período de tempo longo, de cerca de 30 minutos, sendo que cada
contração leva 30 segundos para percorrer toda a extensão do intestino
grosso, com latência de 2 a 3 minutos entre cada contração.
• Regulação da função colônica: o controle é primariamente neural, envolvendo o
sistema nervoso entérico e o parassimpático, que promovem o reflexo gastrocólico

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(a atividade gástrica estimula a atividade cólica) e o reflexo duodenocólico (a


atividade duodenal estimula a atividade cólica).

Reflexo de defecação
• Reflexo da defecação: também chamado de reflexo retoesfinctérico, envolve a
dinâmica de componentes nervosos voluntários e involuntários para que se processe
a expulsão das fezes pelo corpo.

Figura 104: Vias aferentes e eferentes do mecanismo parassimpático para o reflexo da defecação.

• Relaxamento do esfíncter anal interno e contração do colo sigmoide: quando as


fezes são movidas para dentro do reto, a distensão retal é percebida pelos
mecanorreceptores locais, os quais sinalizam o plexo mioentérico para relaxar o
esfíncter anal interno, e iniciar o peristaltismo do colo sigmoide, empurrando as
fezes mais adiante no reto. Este efeito local é reforçado pelo parassimpático, o qual
inicia contrações mais fortes no sigmoide, via nervos pélvicos.
• Urgência para defecar: ao mesmo tempo que o parassimpático contrai a
musculatura sigmóidea, ele envia um sinal aferente para o SNC, estimulando a
urgência para defecar. Este é um reflexo rápido e, em resposta à urgência, o
indivíduo voluntariamente fecha o esfíncter anal externo, para evitar a defecação.
• Não possibilidade de defecar e reprocessamento do reflexo: se a defecação não
puder ocorre, ocorre algum relaxamento do reto, o esfíncter anal interno é contraído

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novamente, e o esfíncter anal externo pode ser relaxado, até que outro movimento
empurre as fezes para dentro do reto e o reflexo retorne.
• Possibilidade de defecar: no momento apropriado para a defecação, o esfíncter
anal externo relaxa voluntariamente, a pressão intra-abdominal aumenta, e a
defecação ocorre.

Regulação da motilidade do trato gastrointestinal


• A motilidade é regulada pelo plexo mioentérico, nervos autonômicos e hormônios.
o Plexo mioentérico: o plexo mioentérico responde aos receptores luminais
que percebem a presença e composição do quimo, bem como a sinais dos
nervos autonômicos e hormônios.
o Sistema nervoso autônomo: como foi descrito anteriormente, o
parassimpático promove principalmente a motilidade, enquanto que o
simpático reduz ou interrompe a motilidade.
o Hormônios: uma regra geral é que a maioria dos hormônios
gastrointestinais inibe a motilidade e/ou esvaziamento gástrico, permitindo
que o duodeno processo o quimo que é liberado.
▪ Entretanto, a gastrina é uma exceção: ela tende a estimular a
motilidade gástrica e a atividade do ciclo antral, desta forma
aumentando o esvaziamento gástrico. Assim, ela e os outros
hormônios trabalham em conjunto para regular a saída do quimo do
estômago.
▪ Além disso, a CCK e a gastrina apresentam efeitos excitatórios na
motilidade do intestino delgado inferior e colo. Eles iniciam
movimentos de massa no colo, facilitando a remoção do conteúdo
não digerido.
▪ A motilina possui a função específica de estimular as contrações
durante o jejum.

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Secreções exócrinas do trato gastrointestinal


• Praticamente todos os segmentos do trato gastrointestinal secretam água, muco e
enzimas, consideradas como secreções exócrinas. Essas secreções são
responsáveis, basicamente, por:
o Conduzir o alimento por toda a extensão do trato gastrointestinal;
o Digerir os alimentos;
o Controlar o pH e a osmolaridade do alimento ingerido;
o Promover propriedades aderentes;
o Facilitar a formação do bolo fecal.
• O controle da taxa de secreção exócrina pelas glândulas do TGI possui
particularidades específicas para cada glândula. Entretanto, via de regra:
o A estimulação colinérgica parassimpática aumenta a secreção exócrina;
o A estimulação adrenérgica simpática inibe a secreção exócrina, porém, a
ação do simpático só é significativa quando ele está intensamente ativado.
• Resumo das secreções exócrinas do trato gastrointestinal:

Local de pH Secreção
Ação
produção ótimo exócrina
Sais e água Solubilização do alimento
6,0 – Muco Lubrificação e adesão do alimento
Boca
7,0 Amilase
Digestão de polissacarídeos
salivar
Esôfago - Muco Lubrificação
Ácido
Ativação do pepsinogênio; bactericida
clorídrico
Pepsinogênio/ Precursor da pepsina/
1,0 –
Estômago Pepsina digestão de proteínas
3,5
Muco Lubrificação, adesão, proteção da mucosa
Fator
Absorção de vitamina B12
intrínseco
Enzimas Digestão de polissacarídeos, proteínas, ácidos
8,0-
Pâncreas pancreáticas nucleicos e lipídeos
8,3
Bicarbonato Neutralização do pH do quimo
Fígado 7,8 Bile Emulsificar lipídeos
Sais e água Solubilização do quimo
Enzimas
Intestino 7,5 – Digestão final de peptídeos e dissacarídeos
entéricas
delgado 8,0
Muco e
Lubrificação, adesão, proteção da mucosa
bicarbonato
Intestino 7,5 – Muco e Lubrificação e adesão da massa fecal; proteção da
grosso 8,0 bicarbonato mucosa

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Mecanismos básicos de secreção das células glandulares


• Secreção de substâncias orgânicas (ou secreção serosa): compreende, no sistema
digestório, principalmente a secreção de enzimas.

Figura 105: Características funcionais típicas de uma célula glandular para formação e secreção de
enzimas e outras substâncias.
o Os substratos para a composição das secreções chegam até as células
glandulares por meio da circulação.
o No interior das células, as organelas retículo endoplasmático rugoso e
complexo de Golgi são as principais responsáveis por sintetizar as enzimas
que comporão as secreções, a partir dos substratos fornecidos.
o O sinal para a liberação das secreções é, principalmente, o influxo de íons
Ca2+ para o interior das células.
• Secreção de água e eletrólitos: está, na maioria dos casos, associada a canais
transientes de Cl- e de Na+. Isso ocorre porque os íons Na+ são íons que elevam a
pressão osmótica quando se concentram em um certo meio, portanto eles
conseguem levar água consigo.
o Na membrana basal das células, existem canais de Cl- que fazem influxo
deste íon a partir da circulação.
o Canais de Cl- na membrana apical (ou luminal) então fazem o efluxo deste
íon para o lúmen, que fica, portanto, cheio de cargas negativas.

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o Com o lúmen negativo, facilita-se o efluxo de íons Na+ para este meio,
aumentando sua pressão osmótica.
o Com a pressão osmótica luminal aumentada, moléculas de água, por
osmose, são transportadas para o lúmen a partir das células.
• Secreção de muco: o muco tem propriedades anfotéricas e é secretado em
praticamente toda a extensão do trato gastrointestinal, pois possui funções
importantes para todos os seus segmentos:
o Promove a adesão do bolo alimentar;
o Promove o deslizamento das partículas;
o Facilita a formação do bolo fecal;
o Protege as mucosas contra as enzimas gastrointestinais.

Secreção de saliva
• Secreção salivar: as secreções salivares facilitam a ingestão (e digestão) dos
alimentos por meio da lubrificação, resfriamento e adição de enzimas digestivas. A
saliva é sempre hipotônica em relação ao plasma, devido à reabsorção de íons que
sofre ao ser conduzida pelos ductos salivares, mas é relativamente rica em íons K +,
pois estes são secretados pelos mesmo ductos. Diariamente, são secretados
aproximadamente 1,5 litro de saliva, sendo que a maioria ocorre durante a
alimentação, fator que estimula a salivação.

o Deficiências de secreção salivar: causam distúrbios como dificuldade


para deglutir e degradação do esmalte dentário.
• Funções da saliva:
o Lubrificar o alimento (água e mucinas);
o Iniciar a digestão;
o Proteger a boca e o trato gastrointestinal através do resfriamento de
alimentos quentes e de patógenos bacterianos;
o Auxiliar no processo de coagulação por meio da secreção do fator ativador
de plaquetas;
o Fornecer higiene oral por meio do tamponamento e limpeza da cavidade
oral – deglutir e cuspir permite a expulsão de bactérias, enquanto que o
baixo fluxo de saliva durante o sono permite que as bactérias se acumulem,
o que causa a halitose.

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• Glândulas salivares: podem ser tanto as três glândulas salivares maiores (descritas
abaixo) quanto as glândulas salivares menores difusamente distribuídas na boca.
o Glândula sublingual: secreção de muco principalmente, portanto
considerada glândula mucosa. Responde pela menor parte (5%) da saliva
produzida.
o Glândula submandibular: secreção tanto de muco quanto de enzimas,
portanto considerada glândula exócrina mista (serosa e mucosa). Responde
pela maior parte (70%) da saliva produzida.
o Glândula parótida: secreção de enzimas muito importantes, portanto
considerada glândula serosa. O fluido é aquoso e pobre em mucinas.
Responde por 25% da saliva produzida.
• Componentes da saliva:
o Mucina (glicoproteínas), com ação antimicrobiana;
o Íons K+ e HCO3-, sendo que Na+ e Cl- são reabsorvidos;
o Amilase salivar (ou α-amilase, ou ptialina), cujo pH ótimo é de 7,4;
o Lipase lingual, secretada pelas glândulas de von Ebner;
o Proteínas ricas em prolina, que formam o esmalte dental;
o Ribonuclease, que digere RNA e é secretada por ductos salivares;
o Calicreína, que digere proteínas e é secretada por ductos salivares;
o Substâncias de defesa:
▪ lactoperoxidase e lactoferrina, secretadas por células acinares;
▪ lisozima, receptor para IgA, IgA e fatores de crescimento,
secretados por células dos ductos salivares.

Controle da secreção salivar


• Primariamente, a secreção salivar é regulada pelos nervos cranianos
parassimpáticos, os quais controlam o fluxo de sangue para as glândulas.
• Centro salivatório: os núcleos salivatórios superior e inferior estão localizados na
ponte e no bulbo.
o Aferências: fibras aferentes detectores de estímulos mastigatórios,
estímulos gustativos e olfatórios, e distensão gástrica.
o Eferências: fibras simpáticas do gânglio cervical superior; fibras
parassimpáticas dos nervos facial e glossofaríngeo.

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• Estimulação da secreção salivar: a secreção de saliva é constante com tônus


parassimpático, compondo um fluxo salivar de 0,5ml/min, mas pode ser estimulada
conforme a necessidade. Tanto o sistema nervoso autônomo simpático quanto o
parassimpático são capazes de estimular a secreção salivar, isto é, tanto a
noradrenalina quanto a acetilcolina são capazes de superexcitar as glândulas
salivares, aumentando o fluxo salivar (volume de saliva secretada por unidade de
tempo).
o Hipotonicidade salivar: as secreções da maioria das células glandulares,
quando imediatamente liberadas nos ductos são, via de regra, isotônicas.
Entretanto, à medida que essas secreções percorrem os ductos, as células
que os formam são capazes de reabsorver íons da saliva, impedindo que
haja uma perda excessiva desses íons. Por isso, a saliva final é hipotônica.
▪ A hipotonicidade da saliva está condicionada ao valor do fluxo
salivar. Isso porque, quanto maior o fluxo salivar, mais difícil é a
reabsorção iônica nos ductos, e, portanto, mais isotônica será a
saliva final.
▪ É importante notar que a hipotonicidade salivar se refere à
concentração dos íons Na+ e Cl- em relação ao plasma, que são
menores. A concentração de K+ e de HCO3-, por outro lado, é maior
do que o plasma, pois eles são secretados pelos ductos salivares.
Entretanto, o íon osmoticamente ativo mais importante é o Na+.
• Inibição da secreção salivar: ocorre quando há estímulo dos receptores α-
adrenérgicos dos vasos nutridores das glândulas salivares. Isso é feito pelo
simpático. Assim, quando a ação do sistema simpático se intensifica, ocorre a
vasoconstrição dos vasos que levam sangue até essas glândulas. Essa
vasoconstrição diminui o fluxo sanguíneo, diminuindo a chegada de substratos para
as células glandulares, diminuindo o fluxo salivar (ainda que a estimulação
simpática direta sobre essas células as superexcite).
o Assim, pode-se dizer que o simpático, enquanto aja de maneira branda,
estimula o fluxo salivar por acionar receptores das próprias células
acinares das glândulas salivares, que por sua vez estimulam sua atividade;
entretanto, quando o simpático age de maneira intensa, ele inibe o fluxo
salivar por acionar receptores dos vasos que nutrem as glândulas salivares,
que por sua vez provocam vasoconstrição.

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• Reflexos da salivação: ocorrem principalmente por estímulos gerados pela


alimentação: a captação de estímulos mastigatórios, gustativos e olfatórios, além da
distensão gástrica, são capazes de estimular o centro salivatório. O centro
salivatório responde aos estímulos por meio de fibras tanto simpáticas quanto
parassimpáticas para estimular a secreção salivar.
o Reflexos condicionados: são aqueles que dependem de aprendizado prévio
e repetitivo, associado principalmente às memórias olfatória visual. Por
exemplo, um lactente não saliva como um adulto diante de um prato feito,
pois, o lactante não aprendeu a se alimentar deste tipo de comida ainda.
o Reflexos incondicionados: são aqueles inatos, isto é, que estimulam a
salivação sem que haja o aprendizado. Por exemplo, apresentação de
comida a um indivíduo faminto.

Produção da saliva
• As glândulas salivares são glândulas exócrinas, cujas secreções são drenadas por
meio de ductos salivares. A secreção primária é produzida nos fundos cegos dos
ductos, os ácinos salivares.
o As glândulas são altamente vascularizadas, tanto que a regulação do fluxo
sanguíneo é a principal forma de controle da secreção salivar pelo
parassimpático: quanto maior o fluxo sanguíneo para as glândulas, maior a
secreção salivar;
• O mecanismo básico da produção de saliva é o seguinte:

Figura 106: Mecanismo básico da produção de saliva na glândula submandibular.

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o O ultrafiltrado isotônico proveniente do plasma se difunde através das


células acinares para o interior do lúmen;
o Esta “secreção primária” é então misturada a outros produtos das células
serosas e mucosas;
o A secreção é drenada por ductos estriados, e os eletrólitos são trocados
dependendo da taxa de fluxo através dos ductos;
o Assim, à medida em que a taxa de fluxo aumenta, há um menor tempo
para a reabsorção de Na+ e Cl-, e a concentração destes eletrólitos na saliva
é maior.
o Sinalização: a entrada de íons Ca+ no interior das células é capaz de
intensificar a ação de todos os canais transportadores envolvidos na
secreção salivar.
• Mecanismo canal Na+, Cl-, K+: importante para secreção de água na saliva.

Figura 107: Secreção de água na saliva pelo mecanismo do canal de Na +, Cl- e K+.
o Na membrana basolateral (em contato com os capilares) das células
acinares, existem:
▪ (2) Bomba contratransporte de K+ (influxo do sangue) e Na+ (efluxo
para sangue).
▪ (1) Canal cotransportador de K+, Cl-, Na+ (influxo do sangue) que é
um transporte ativo secundário que utiliza a energia gerada por (2).
▪ (3) difusão facilitada de K+ (efluxo para sangue) que entrou na
célula através de (1) e (2).
o Na membrana luminal (em contato com o lúmen, também chamada de
membrana apical) das células acinares, existe:

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▪ (4) difusão facilitada de Cl- (efluxo para saliva) que entrou na célula
através de (1).
o (5) Ocorre passagem transcelular de Na+ (efluxo para a saliva) através das
junções intercelulares entre as células acinares. Esta passagem ocorre
porque o Na+ foi atraído pelo Cl- transportado para a saliva em (4).
o (6) Ocorre passagem de água (efluxo para a saliva) através da célula por
meio de aquaporinas na membrana luminal. Essa água vai para a saliva
devido à pressão osmótica criada pelo Na+ neste meio, devido a (5).
• Mecanismo trocador H+ e Cl- : importante para a secreção de água na saliva e para
a manutenção do pH do citoplasma da célula acinar.

Figura 108: Secreção de água na saliva e regulação da acidez da célula acinar pelo mecanismo do
trocador de H+ e Cl-.
o No interior da célula acinar, ocorre:
▪ (2) anidrase carbônica faz com que o CO2 advindo de (1) reaja com
H2O e forme HCO3- e H+.
o Na membrana basolateral da célula acinar, existem:
▪ (1) difusão simples de CO2 (influxo do sangue).
▪ (3) contratransporte/trocador de H+ advindo de (2) (efluxo para
sangue) e Cl- (influxo do sangue).
▪ (4) bomba de Na+ (efluxo para sangue) e K+ (influxo do sangue).
▪ (5) cotransporte de H+ advindo de (2) (efluxo para sangue) e Na+
(efluxo para o sangue).
▪ (6) difusão facilitada de K+ advindo de (4) (efluxo para sangue).

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o O efluxo de H+ da célula acinar para o sangue, promovido por (3) e (5),


ajuda a liberar o ácido de dentro da célula, controlando sua acidez.
o Na membrana luminal da célula acinar, existe:
▪ (7) difusão facilitada de Cl- advindo de (3) (efluxo para a saliva).
o (8) Ocorre passagem transcelular de Na+ (efluxo para a saliva) através das
junções intercelulares entre as células acinares. Esta passagem ocorre
porque o Na+ foi atraído pelo Cl- transportado para a saliva em (7).
o (9) Ocorre passagem de água (efluxo para a saliva) através da célula por
meio de aquaporinas na membrana luminal. Essa água vai para a saliva
devido à pressão osmótica criada pelo Na+ neste meio, devido a (8).
• Mecanismo do gás carbônico: importante para a secreção de água na saliva e para
a secreção de tampão bicarbonato na saliva também.

Figura 109: Secreção de água e de tampão para a saliva pelo mecanismo do gás carbônico.
o No interior da célula acinar, ocorre:
▪ (2) anidrase carbônica faz com que o CO2 advindo de (1) reaja com
H2O e forme HCO3- e H+.
o Na membrana basolateral da célula acinar, existem:
▪ (1) difusão simples de CO2 (influxo do sangue).
▪ (3) contratransporte/trocador de H+ advindo de (2) (efluxo para
sangue) e Na+ (influxo do sangue).
▪ (4) bomba de Na+ advindo de (3) (efluxo para sangue) e K+ (influxo
do sangue).
▪ (6) difusão facilitada de K+ advindo de (4) (efluxo para sangue).
o Na membrana apical da célula acinar, existe:

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▪ (7) difusão facilitada de HCO3- advindo de (2) (efluxo para saliva)


o (8) Ocorre passagem transcelular de Na+ (efluxo para a saliva) através das
junções intercelulares entre as células acinares. Esta passagem ocorre
porque o Na+ foi atraído pelo HCO3- transportado para a saliva em (7).
o (9) Ocorre passagem de água (efluxo para a saliva) através da célula por
meio de aquaporinas na membrana luminal. Essa água vai para a saliva
devido à pressão osmótica criada pelo Na+ neste meio, devido a (8).

Secreção esofágica
• Glândulas esofágicas: as glândulas esofágicas são, essencialmente, glândulas
mucosas compostas, localizadas principalmente no esôfago proximal e na
extremidade gástrica do esôfago.
• Composição da secreção esofágica: a secreção esofágica é principalmente
mucosa.
• Funções da secreção esofágica:
o Lubrificar o esôfago e o alimento para que ocorra a deglutição;
o Proteger a parede do esôfago contra o atrito do próprio alimento e contra o
refluxo gastresofágico.
• Estimulação da secreção esofágica: a partir da sensibilização de
mecanorreceptores da faringe, que sofrem estiramento quando a faringe recebe o
alimento durante a deglutição, ocorre um reflexo vagovagal que libera acetilcolina
para o plexo submucoso, estimulando o esôfago a liberar suas secreções.

Secreção gástrica
• Glândulas gástricas:
o Glândulas mucosas: localizadas principalmente na cárdia. Secretam muco.
o Glândulas oxínticas: localizadas principalmente no corpo e no fundo do
estômago. Secretam HCl, muco, pepsinogênio e fator intrínseco. Possuem
as seguintes células:
▪ Células cervicais mucosas: secretam muco.
▪ Células oxínticas/parietais: secretam HCl e fator intrínseco.
▪ Células pépticas/principais: secretam pepsinogênio.

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Figura 110: Glândulas oxínticas do corpo do estômago.


o Glândulas pilóricas: localizadas principalmente no antro pilórico, secretam
muco e gastrina.
• Função da secreção gástrica:
o Muco: proteção da mucosa gástrica contra o HCl.
o HCl: ativação do pepsinogênio em pepsina.
o Pepsinogênio: será ativado em pepsina pelo HCl.
o Pepsina: enzima capaz de digerir proteínas (enzima proteolítica ou
protease).
o Fator intrínseco: se acopla à vitamina B12 para permitir que o corpo seja
capaz de absorvê-la.

Produção da secreção gástrica


• Mecanismo de secreção de HCl: o HCl é produzido pelas células oxínticas das
glândulas oxínticas quando estas são estimuladas. O principal mecanismo
envolvido neste caso será a migração de proteínas transportadoras localizadas em
vesículas citoplasmáticas para a membrana plasmática, seja em sua porção
basolateral, seja em sua porção luminal.

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Figura 111: Secreção de H+ e Cl- para formar HCl, pela célula oxíntica das glândulas oxínticas.
o (1) na membrana basolateral, mesmo em condições de repouso, existe a
bomba de Na+ (efluxo para sangue) e K+ (influxo do sangue). Ela fica mais
ativa quando a célula é estimulada.
o (2) quando a célula oxíntica é estimulada, o seu metabolismo aumenta,
ocorrendo maior produção de CO2 no citoplasma, que pela anidrase
carbônica é então convertido em HCO3- e H+.
o Quando a célula oxíntica é estimulada, há a migração, para a membrana
basolateral, das seguintes proteínas transportadoras:
▪ (3) difusão facilitada de K+ advindo de (1) e de (5) (efluxo para o
sangue)
▪ (4) contratransporte de HCO3- advindo de (2) (efluxo para o sangue)
e de Cl- (influxo do sangue)
o Quando a célula oxíntica é estimulada, há a migração, para a membrana
luminal, das seguintes proteínas transportadoras:
▪ (5) contratransporte de H+ advindo de (2) (efluxo para suco gástrico)
e de K+ (influxo do suco gástrico), ou seja, é uma bomba de
prótons.
▪ (6) difusão facilitada de Cl- advindo de (4) (efluxo para o suco
gástrico)

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o Com a liberação de H+ e de Cl- no lúmen do estômago, há a formação de


HCl, que ajusta o pH para cerca de 0,8 (muito ácido).
• Mecanismo de ativação do pepsinogênio: a ativação de pepsinogênio em pepsina
é essencial para que esta enzima digira proteínas em peptídeos.

Figura 112: Mecanismo de ativação do pepsinogênio.


o As células pépticas, sob estimulação principalmente colinérgica, liberam
pepsinogênio no lúmen do estômago;
o As células oxínticas liberam HCl no lúmen do estômago, criando um
ambiente muito ácido;
o O ambiente ácido criado pelo HCl faz com que o pepsinogênio se converta
em pepsina;
o A pepsina é uma protease ativa, capaz de digerir proteínas em peptídeos.

Controle da secreção gástrica


• Estímulo da secreção de HCl: os principais estimuladores das células oxínticas
são:
o Acetilcolina, que é o neurotransmissor das fibras vagais;
o Histamina, que é produzida por células enterocromafins. Essas células, por
sua vez, são estimuladas pela acetilcolina e pela gastrina também.

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o Gastrina, que é produzida por células G. Elas são estimuladas pelo


peptídeo liberador de gastrina liberado por fibras parassimpáticas.
• Inibição da secreção de HCl:
o Somatostatina, inibidor das células G, produzida por células D
pancreáticas, que por sua vez são estimuladas pela acidez do estômago.

o Ranitidina: medicamento para refluxo gastresofágico que inibe a


secreção histaminérgica das células enterocromafins. Assim, as células
oxínticas produzem menos HCl.

o Omeprazol: medicamento para refluxo gastresofágico que inibe a bomba


de prótons das células oxínticas. Assim, elas irão produzir menos HCl.

Fases da secreção gástrica


• Fases da secreção gástrica durante a alimentação: durante a alimentação, a
secreção gástrica se processa em três fases diferentes, nas quais há diferentes
composições e estímulos para essa secreção:

Figura 113: Fases da secreção gástrica durante a alimentação.


o Fase cefálica:

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▪ Envolve a ativação de reflexos longos, geralmente vagais, mediante


sensibilização de vias aferentes durante a mastigação (visão, odores
e paladar), para estimular a secreção gástrica.
▪ Nesta fase, a secreção não é muito volumosa, e costuma ser serosa.
Responsável por 20% da secreção durante a alimentação.
o Fase gástrica:
▪ Envolve a ativação de reflexos curtos e longos, além de liberação
hormonal, mediante sensibilização de mecanorreceptores e
quimiorreceptores do estômago em atividade, para estimular a
secreção gástrica.
▪ É a fase em que há maior volume de secreção gástrica, sendo rica
em enzimas e ácido clorídrico. Responsável por 70% da secreção
durante a alimentação.
o Fase intestinal:
▪ Envolve a ativação de reflexos longos (reflexo gastroentérico) e
curtos, além de liberação hormonal, mediante sensibilização de
mecanorreceptores e quimiorreceptores do duodeno, para inibir a
secreção gástrica, principalmente através da liberação de óxido
nítrico.
▪ Por ser uma fase inibitória, é a que menos produz secreção.
Responsável por 10% da secreção durante a alimentação.
• Secreção gástrica no período interdigestivo: durante o jejum, a secreção gástrica
é pouco volumosa, do tipo não oxíntica, com pouca pepsina e quase nenhum ácido.
o Entretanto, estímulos emocionais (como ansiedade) ou o uso de certas
substâncias podem aumentar a secreção gástrica altamente péptica e ácida.

Secreção pancreática
• Secreção pancreática exócrina: a porção exócrina do pâncreas, isto é, os ácinos
pancreáticos e seus ductos, são responsáveis pela produção da secreção pancreática.
Ela é enviada até o duodeno.
o Células acinares pancreáticas: secretam enzimas para a digestão de
proteínas, lipídeos e carboidratos. As enzimas presentes são:
▪ Amilase: digere amido e glicogênio.
▪ Lipase: digere gorduras.

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▪ Tripsina, quimotripsina e carboxipeptidases /


carboxipolipeptidases: digerem proteínas e peptídeos.
o Células epiteliais dos ductos: secretam bicarbonato para a estabilização do
pH ácido e da osmolaridade do quimo que chega ao duodeno.

Produção da secreção pancreática


• Ativação enzimática de lipases: as lipases pancreáticas precisam ser corretamente
ativadas para poder exercer sua função.
o Inicialmente, as células acinares liberam co-lipases associadas a seus fatores
inibitórios.
o Ao longo do transporte das lipases até o duodeno, os fatores inibitórios das
co-lipases são removidos e finalmente as lipases são ativadas.
• Ativação enzimática das proteases pancreáticas: as proteases pancreáticas
precisam ser corretamente ativadas para poder exercer sua função.

Figura 114: Mecanismo de ativação enzimática das proteases pancreáticas


o Inicialmente, as células acinares liberam tripsinogênio, quimotripsinogênio
e procarboxipeptidases, que são proteases inativas.
o As células epiteliais do intestino, os enterócitos, possuem na sua membrana
luminal uma borda em escova. Acoplada a esta borda em escova está a
enteroquinase. A enteroquinase é capaz de ativar o tripsinogênio em
tripsina.
o A tripsina, por sua vez, é capaz de ativar o quimotripsinogênio e as
procarboxipeptidases em quimotripsina e carboxipeptidases (ou
carboxipolipeptidases), respectivamente.

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• Pancreatite: quando ocorre patologicamente o acúmulo de secreção pancreática


no interior do pâncreas, ocorre a ativação das enzimas dessa secreção, que passam a
digerir o próprio parênquima pancreático.
• Mecanismo de secreção de bicarbonato:

Figura 115: Mecanismo de secreção de bicarbonato nas células epiteliais dos ductos pancreáticos.
o (1) no interior da célula epitelial dos ductos pancreáticos, ocorre a ação da
anidrase carbônica, que converte o CO2 transportado por (2) em H+ e HCO3-
o Na membrana basolateral das células epiteliais dos ductos pancreáticos (em
contato com os capilares), existe:
▪ (2) difusão simples de CO2 (influxo do sangue)
▪ (3) contratransporte de Na+ (influxo do sangue) e H+ advindo de (1)
(efluxo para sangue)
o Na membrana luminal das células epiteliais dos ductos pancreáticos (em
contato com a luz do ducto), existe:
▪ (4) cotransporte de Na+ advindo de (3) (efluxo para secreção
pancreática) e de HCO3- advindo de (1) (efluxo para secreção
pancreática)
o (5) ocorre passagem de água pela célula epitelial, atraída pela alta pressão
osmótica criada pelo Na+ levado para a secreção pancreática por (4).

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Controle da secreção pancreática

Figura 116: Esquematização do controle da secreção pancreática.

• Estímulo da secreção pancreática: é feita pelos seguintes produtos:


o Acetilcolina: neurotransmissor liberado pelo parassimpático (nervo vago)
que estimula a secreção serosa do pâncreas pelas células acinares.
o Colecistoquinina: hormônio produzido pelo duodeno que estimula a
secreção serosa do pâncreas pelas células acinares. Este hormônio é
estimulado pela distensão da parede duodenal e pela chegada de certos
nutrientes no duodeno.
o Secretina: hormônio produzido pelo duodeno que estimula a secreção de
bicarbonato e de água pelos ductos pancreáticos. Este hormônio é
estimulado pela irritação da mucosa duodenal pelo quimo ácido.

Fases da secreção pancreática


• Fase cefálica:
o Envolve a ativação de reflexo vagal longo, mediante aferências visuais,
olfatórias, gustativas ou do pensamento.
o Estimula a produção de secreção pancreática rica em enzimas.
o A fase cefálica responde por 20% do total de secreção.

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• Fase gástrica:
o Envolve a ativação de reflexo vagal longo, mediante aferências da atividade
gástrica.
o Estimula a produção de secreção pancreática rica em enzimas.
o A fase gástrica responde por 5 a 10% do total de secreção.
• Fase entérica:
o Envolve a produção de secretina, liberada mediante a chegada do quimo no
intestino delgado.
o Por ser um hormônio, o efeito excitatório é amplificado, havendo grande
volume de secreção pancreática como um todo (água, eletrólitos, enzimas).
o O grande efeito da secretina faz com que essa fase responda por 70 a 75%
do total de secreção.

Secreção hepática
• Bile: a bile é a secreção exócrina do fígado.
o Componentes da bile:
▪ Ácidos biliares (ou sais biliares)
▪ Colesterol
▪ Bilirrubina
o Funções da bile:
▪ Emulsificação de gorduras para que possam ser digeridas e
absorvidas.
▪ Excreção de produtos de degradação do sangue.

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Secreção da bile

Figura 117: Esquematização dos mecanismos de secreção biliar.

• No fígado: os hepatócitos secretam a bile rica em ácidos biliares, colesterol e


bilirrubina nos canalículos biliares. Essa bile é conduzida pelos canalículos biliares
até os ductos hepáticos.
• Nos ductos hepáticos: as células epiteliais dos ductos hepáticos secretam íons e
água na bile, diluindo-a e aumentando seu volume. Esta secreção é estimulada
especialmente pela secretina.
• Na vesícula biliar: as células epiteliais da vesícula reabsorvem íons e água da bile,
concentrando-a mais uma vez. A bile é armazenada neste órgão e, quando ele se
contrai (por ação da colecistoquinina), é liberada para o ducto colédoco.
• No ducto colédoco: o ducto colédoco conduz a bile até o duodeno quando o
esfíncter de Oddi se relaxa (por ação também da colecistoquinina e do
peristaltismo entérico), a papila duodenal maior se abre e bile atinge o duodeno.
• No lúmen do TGI: os sais biliares são reabsorvidos ao longo da extensão do trato
gastrointestinal, caindo no sistema da veia porta (a circulação portal) e retornando
ao fígado para serem reutilizados na produção da bile, que é energeticamente
dispendiosa. Apenas uma pequena porcentagem é excretada nas fezes.

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Controle da secreção hepática


• Estímulo da secreção hepática:
o Acetilcolina: neurotransmissor do parassimpático, possui dois efeitos
principais:
▪ Estimula a síntese de ácidos biliares no fígado;
▪ Estimula a produção de colecistoquinina pelo duodeno.
o Colecistoquinina: hormônio do duodeno que possui três efeitos principais:
▪ Estimula a secreção de ácidos biliares e de água na bile;
▪ Estimula a contração da vesícula biliar, liberando a bile;
▪ Estimula o relaxamento do esfíncter de Oddi.
 Este hormônio, por sua vez, é estimulado pela acetilcolina do
parassimpático e pela presença de gorduras no duodeno.
o Secretina: hormônio do duodeno que estimula a secreção de íons e água na
bile.

Vesícula biliar
• Funções da vesícula biliar: a vesícula biliar é um órgão em formato de saco que
está ligada ao ducto hepático comum pelo ducto cístico, formando com ele o ducto
colédoco. Suas funções são:
o Armazenamento da bile: uma vez que a secreção exócrina hepática se
processa de forma tônica (contínua), sendo apenas estimulada quando
necessário, é necessário que haja um mecanismo de preservação dos sais
biliares para que eles só sejam liberados quando necessário no duodeno.
o Concentração da bile: o epitélio da vesícula biliar é capaz de tornar a bile
mais concentrada, pois ele reabsorve água e íons. Assim, a secreção enviada
pelo fígado é mais diluída e volumosa; a secreção enviada pela vesícula
biliar é mais concentrada e menos volumosa.

Secreção entérica
• Glândulas do intestino delgado: as secreções destas glândulas não circulam no
lúmen intestinal, mas ficam acopladas à borda em escova da mucosa.
o Glândulas de Brunner (ou glândulas duodenais): estão localizadas no
duodeno e secretam um muco alcalino espesso, que ajuda a proteger a
porção inicial da mucosa do intestino delgado contra o quimo ácido que
deixa o estômago.

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▪ Adicionalmente, estas glândulas liberam secretina, que, juntamente


com a atividade vagal, tem um efeito excitatório sobre as outras
células produtoras de muco da glândula de Brunner.
o Criptas de Lieberkühnn: localizadas na parte de baixo das vilosidades do
intestino delgado, apresentam uma variedade de tipos celulares que
produzem e secretam tampões, enzimas e hormônios que facilitam a
digestão e a absorção de nutrientes presentes no quimo.
o Células caliciformes: estão localizadas por todo o intestino delgado e são
responsáveis pela secreção de muco.
o Enterócito: a principal célula constitutiva da mucosa intestinal e suas
vilosidades, possui um papel duplo na ação secretória do intestino delgado:
▪ Secreta e também reabsorve água, criando uma corrente de água que
favorece a mistura das enzimas com seus substratos;
▪ Secreta enzimas constitutivas como a enteroquinase,
predominantemente nas porções proximais do intestino delgado.
• Estímulo da secreção entérica:
o Reflexos locais envolvendo o nervo vago (parassimpático)
o Secretina
o Colecistoquinina

Secreção do intestino grosso


• Células caliciformes: estão localizadas por todo o intestino grosso e são
responsáveis pela secreção de muco rico em HCO 3-.
o A função deste muco é a lubrificação, favorecendo a condução da massa
fecal até a defecação, uma vez que o quilo foi desidratado para formar as
fezes.
o O estímulo para a secreção dessas células são os reflexos colônicos curtos
cujas aferências são principalmente os estímulos táteis.

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Digestão e absorção
• Digestão: definida como a degradação química dos alimentos ingeridos em
moléculas absorvíveis. A digestão se processa desde a boca até o intestino delgado.
o O principal mecanismo bioquímico da digestão é a hidrólise dos substratos.
• Absorção: definida como o movimento dos nutrientes, água e eletrólitos da luz
intestinal para o sangue. A absorção se processa nos intestinos.
o A absorção por ocorrer por vias transcelulares/paracelulares (sem passar
pela célula que se interpõe entre a luz intestinal e o sangue) ou por vias
intracelulares.
o A absorção é intensificada quando a superfície absortiva aumenta. Por
isso, nas regiões especializadas em digestão, há estruturas especiais que
aumentam em cerca de 600 vezes a superfície absortiva do intestino. É o
caso das vilosidades (a nível tecidual) e das microvilosidades (a nível
celular).
o O sistema digestório reabsorve cerca de 9 litros de conteúdo intestinal por
dia. Já a capacidade máxima de absorção (pois ela pode ser estimulada)
chega a 20 litros por dia.

Eletrólitos e água
• Absorção de Na+: o principal íon que participa dos mecanismos de digestão e
absorção é o Na+, pois é o principal íon osmoticamente ativo dos líquidos corporais.
Assim, seu movimento ao longo dos compartimentos corporais é determinante
também para o movimento das moléculas de água. Por dia, cerca de 5g de Na+ são
ingeridos, e outros 25g são secretados na luz gastrointestinal pela parede do TGI.
Por isso, é necessário que ocorra reabsorção de 25 a 35g de Na+ para evitar sua
perda excessiva.
o Mecanismo básico ao longo do intestino delgado:

Figura 118: Mecanismo básico de absorção de Na+ e H2O ao longo do intestino delgado.

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▪ (1) na membrana luminal dos enterócitos, ocorre a difusão simples


de Na+ (influxo da luz)
▪ (2) na membrana basolateral dos enterócitos, a bomba de Na+ e K+
transporta o Na+ advindo de (1) (efluxo para sangue)
▪ (3) por osmose, a água presente tanto na luz quanto no citoplasma
do enterócito passa para o sangue devido à alta força osmótica
exercida pelos íons Na+ que foram enviados ao sangue em (2)
o Mecanismo do jejuno: envolve um trocador Na+ / H+ e o envio de HCO3-
para o sangue.

Figura 119: Mecanismo de absorção de Na+ e H2O no jejuno.


▪ (1) no interior do enterócito jejunal, CO2 e H2O são convertidos em
H+ e HCO3- pela anidrase carbônica.
▪ (2) na membrana luminal do enterócito jejunal, ocorre
contratransporte de H+ advindo de (1) (efluxo para luz) e de Na+
(influxo da luz)
▪ (3) na membrana luminal do enterócito jejunal, ocorre cotransporte
de Na+ e aminoácidos e carboidratos (influxo da luz)
▪ (4) na membrana basolateral do enterócito jejunal, ocorre
contratransporte de Na+ advindo de (2) e (3) (efluxo para sangue) e
de K+ (influxo do sangue)

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▪ (5) na membrana basolateral do enterócito jejunal, ocorre difusão


facilitada de aminoácidos e carboidratos advindos de (3) (efluxo
para sangue)
▪ (6) na membrana basolateral do enterócito jejunal, ocorre difusão
facilitada de HCO3- advindo de (1) (efluxo para sangue). A presença
de HCO3- no sangue favorece o envio de Na+ ao sangue em (4)
▪ (7) por osmose, a água presente tanto na luz quanto no citoplasma
do enterócito passa para o sangue devido à alta força osmótica
exercida pelos íons Na+ que foram enviados ao sangue em (4)
o Mecanismo do íleo: envolve um trocador Na+ / H+ e o envio de Cl- para o
sangue.

Figura 120: Mecanismo de absorção de Na+ e H2O no íleo.


▪ (1) no interior do enterócito ileal, CO2 e H2O são convertidos em H+
e HCO3- pela anidrase carbônica.
▪ (2) na membrana luminal do enterócito ileal, ocorre contratransporte
de H+ advindo de (1) (efluxo para luz) e de Na+ (influxo da luz)
▪ (3) na membrana luminal do enterócito ileal, ocorre cotransporte de
Na+ e aminoácidos e carboidratos (influxo da luz)
▪ (4) na membrana luminal do enterócito ileal, ocorre contratransporte
de HCO3- advindo de (1) (efluxo para luz) e de Cl- (influxo da luz)

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▪ (5) na membrana basolateral do enterócito ileal, ocorre


contratransporte de Na+ advindo de (2) e (3) (efluxo para sangue) e
de K+ (influxo do sangue)
▪ (6) na membrana basolateral do enterócito ileal, ocorre difusão
facilitada de aminoácidos e carboidratos advindos de (3) (efluxo
para sangue)
▪ (7) na membrana basolateral do enterócito ileal, ocorre difusão
facilitada de Cl- advindo de (4) (efluxo para sangue). A presença de
Cl- no sangue favorece o envio de Na+ ao sangue em (5)
▪ (8) por osmose, a água presente tanto na luz quanto no citoplasma
do enterócito passa para o sangue devido à alta força osmótica
exercida pelos íons Na+ que foram enviados ao sangue em (5)
o Mecanismo do intestino grosso:

Figura 121: Mecanismo de absorção de Na+ e H2O no intestino grosso.


▪ (1) na membrana luminal da célula colônica, um canal chamado
ENaC faz o influxo de Na+ da luz.

 Amilorida: a amilorida é um fármaco anti-hipertensivo e


diurético capaz de inibir o canal ENaC.
▪ (2) na membrana basolateral da célula colônica, ocorre
contratransporte de Na+ advindo de (1) (efluxo para sangue) e de K+
(influxo do sangue)

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▪ (3) por osmose, a água presente tanto na luz quanto no citoplasma da


célula colônica passa para o sangue devido à alta força osmótica
exercida pelos íons Na+ que foram enviados ao sangue em (2)
• Absorção de cálcio: é muito dependente da vitamina D.

Figura 122: Mecanismo de absorção de Ca2+ ao longo do intestino delgado.


o (1) na membrana luminal dos enterócitos, canais TRPV transportam Ca2+
(influxo da luz)
o (2) no interior do enterócito, o Ca2+ transportado por (1) é ligado à
calbindina D, uma proteína cuja produção é dependente de vitamina D.
Apenas ligado desta forma é que o Ca2+ pode ser transportado para o sangue
em (3) e (4)
o (3) na membrana basolateral dos enterócitos, ocorre transporte ativo de Ca2+
ligado à calbindina D em (2) (efluxo para sangue)
o (4) na membrana basolateral do enterócito, ocorre contratransporte de Ca2+
ligado à calbindina D em (2) (efluxo para sangue) e de Na+ (influxo do
sangue)
o (5) ocorre passagem paracelular de Ca2+ através das junções intercelulares
dos enterócitos diretamente para o sangue, porém em escala muito menor

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Carboidratos
• Digestão de carboidratos: cada tipo de carboidrato geralmente possui uma enzima
digestiva específica para convertê-lo em moléculas também específicas:

Figura 123: Esquematização da digestão de carboidratos: substratos, enzimas e produtos finais.


o O amido é digerido pela α-amilase em α-dextrinas, maltose e maltotriose.
▪ As α-dextrinas são digeridas pela α-dextrinase em glicose
▪ A maltose é digerida pela maltase em glicose
▪ A maltotriose é digerida pela sacarase em glicose
o A trealose é digerida pela trealase em glicose
o A lactose digerida pela lactase em glicose e galactose
o A sacarose digerida pela sacarase em glicose e frutose
• Absorção de carboidratos: ocorre nos enterócitos, participando as seguintes
proteínas transportadoras:

Figura 124: Mecanismos de absorção de carboidratos nos enterócitos.

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o SGLT1 (membrana luminal): cotransportador de Na+ e glicose/galactose


para o enterócito.
o GLUT5 (membrana luminal): transportador de frutose para o enterócito.
o GLUT2 (membrana basolateral): transportador de glicose/galactose/frutose
para o sangue.
o Bomba de Na+/K+ (membrana basolateral): faz influxo de K+ e efluxo de
Na+ para alimentar o transporte de SGLT1.

Proteínas
• Digestão de proteínas: é processada tanto no estômago quanto no intestino
delgado.

Figura 125: Esquematização da digestão de proteínas: substratos, enzimas e produtos finais.


o Estômago: o pepsinogênio é ativado pelo pH ácido em pepsina, e esta por
sua vez digere proteínas e polipeptídeos em oligopeptídeos e até mesmo
alguns aminoácidos.
o Intestino delgado: nele ocorre a digestão mais importante e eficiente de
proteínas, pois suas proteases (tripsina, quimotripsina, elastase, peptidases
e carboxipeptidases) conseguem converter eficientemente proteínas em
dipeptídeos, tripeptídeos e aminoácidos. Destas enzimas, a mais eficiente
são as peptidases.

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• Absorção de proteínas: ocorre nos enterócitos, participando as seguintes proteínas


transportadoras:

Figura 126: Mecanismos de absorção de proteínas nos enterócitos.


o (1) na membrana luminal do enterócito, ocorre cotransporte de Na+ e
aminoácidos (influxo da luz)
o (2) na membrana luminal do enterócito, ocorre cotransporte de H + e
dipeptídeos/tripeptídeos (influxo da luz)
o (3) no interior do enterócito, peptidases convertem os
dipeptídeos/tripeptídeos transportados em (2) em aminoácidos
o (4) na membrana basolateral do enterócito, ocorre difusão simples e difusão
facilitada dos aminoácidos transportados por (1) e produzidos por (3)
(efluxo para sangue)
o (5) na membrana basolateral do enterócito, a bomba de Na+ e K+ faz influxo
de K+ do sangue e efluxo de Na+ para o sangue para alimentar o transporte
feito em (1)

Gorduras
• Emulsificação de gorduras: a bile é uma secreção que contém sais biliares,
compostos capazes de reduzir grandes gotas de gordura em gotículas de lipídicas
(micelas). Com isso, aumenta-se exponencialmente área superficial sobre a qual
agem as lipases.

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• Digestão de lipídios: as micelas são digeridas pelas lipases. É importante notar


que, mesmo digeridos, os lipídios continuam a estarem acoplados aos sais biliares.

Figura 127: Esquematização da digestão de lipídeos: substratos, enzimas e produtos finais.


o Os triglicerídeos são digeridos pelas lipases (lingual, gástrica e
pancreática) em monoglicerídeos e ácidos graxos
o Os ésteres de colesterol são digeridos por colesterol éster hidrolase em
colesterol e ácido graxo
o Os fosfolipídios são digeridos pela fosfolipase A em lisolecitina e ácido
graxo.
• Absorção de lipídios:

Figura 128: Mecanismos de absorção de gorduras nos enterócitos.

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o Os ácidos graxos na luz intestinal entram nos enterócitos por difusão


simples a partir da membrana luminal.
o No citoplasma dos enterócitos, sintases de triglicerídeos no retículo
endoplasmático liso convertem os ácidos graxos novamente em
triglicerídeos.
o Gotículas de triglicerídeos são encapsuladas pela membrana do retículo
endoplasmático contendo apolipoproteínas. Assim, forma-se o
quilomícron, e as apolipoproteínas passam a ser chamadas de lipoproteínas.
o Os quilomícrons são exocitados para os vasos linfáticos lácteos, que
eventualmente transportarão os quilomícrons para a corrente sanguínea.

Absorção no intestino grosso


• Cerca de 1500ml de quimo normalmente passam através da válvula ileocecal para o
intestino grosso todo o dia. A maioria da água e eletrólitos neste quimo são
absorvidos no colo, deixando geralmente menos do que 100ml de fluido a ser
excretado nas fezes.
o Essencialmente, todos os íons são absorvidos, deixando apenas 1 a 5 mEq
de íons Na+ e Cl- a serem excretados nas fezes.
• Absorção e secreção de eletrólitos e água no intestino grosso: a mucosa do
intestino grosso, tal qual a do delgado, possui uma alta capacidade de absorção
ativa de Na+, que promove a absorção de Cl- também.
o Estreitas junções intercelulares existentes entre os enterócitos do intestino
grosso praticamente impedem a passagem transcelular desses íons, bem
como sua força de refluxo de volta para a luz intestinal.
o Aldosterona: é capaz de aumentar a absorção de Na + no intestino grosso.
o A parte do intestino grosso que promove a maior absorção é a sua metade
proximal, chamada de colo absortivo. Já a metade distal, o colo
armazenador, é responsável por acumular as fezes até o momento da
defecação.
o O intestino grosso consegue absorver um máximo de 5 a 8 litros de água e
eletrólitos por dia.

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FISIOLOGIA
RENAL

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Rins
• Funções dos rins: a função básica do rim é a manutenção da homeostase de água e
eletrólitos do organismo. Para este objetivo, o rim possui as seguintes capacidades:
o Regulação do volume plasmático e do equilíbrio hídrico (isso também
permite que o rim controle a pressão sanguínea);
o Regulação da osmolaridade sanguínea. Normalmente a osmolaridade é
medida como sendo a concentração do íon osmoticamente ativo (o Na +) em
termos de volume de solvente (a osmolaridade normal do plasma é de
290mOsmol/L);
o Manutenção do equilíbrio eletrolítico (os principais íons são Na+, K+, Cl-,
Ca2+, Mg2+, SO42-, PO43-).
o Garantia de que a ingestão seja igual à excreção, mantendo, assim, as
quantidades de íons e de água constantes no organismo;
o Regulação do equilíbrio acidobásico, ou seja, do pH sanguíneo,
principalmente por excreção dos ácidos fixos resultantes do metabolismo
(por isso, deficiências renais levam principalmente à acidose sanguínea);
o Excreção de metabólitos como ureia, ácido úrico e creatinina, que são
lesivas aos tecidos.
• Funções renais secundárias: o rim possui funções bioquímicas essenciais para o
metabolismo:
o Hormônios:
▪ Eritropoietina: estimula a produção de eritrócitos pela medula
óssea;
▪ Renina: enzima que catalisa a conversão de angiotensina I em
angiotensina II;
▪ Calcitriol: hormônio que é a forma biologicamente ativa da
vitamina D;
o Síntese de:
▪ Substâncias bioativas, principalmente vasoativos para a artéria
renal, como prostaglandinas, adenosina, endotelina, óxido nítrico e
bradicinina;
▪ Angiotensinogênio;
▪ Amônia;

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▪ Glicose e glicogênio;
o Metabolização da insulina.
• Néfrons: Os néfrons são as unidades básicas dos rins, participando de sua função
principal que é a filtração: filtram componentes do plasma sanguíneo advindo da
artéria renal, formam a urina, e então a conduzem até ser excretada.

Figura 129: Esquematização da estrutura de um néfron.


o Tipos de néfrons: os néfrons se diferenciam de acordo com a região do rim
em que se encontram. Com isso, embora todos possuam a mesma estrutura,
alguns penetram mais, e outros menos, na massa renal.
▪ Néfrons corticais: são aqueles cujos glomérulos estão localizados
na porção mais externa do córtex renal. Eles possuem alças de Henle
curtas, que penetram uma curta distância no interior da medula
renal.
▪ Néfrons justamedulares: são aqueles cujos glomérulos estão
localizados na porção mais interna do córtex renal, quase em contato
com a medula renal. Assim, esses néfrons possuem longas alças de
Henle que penetram profundamente na medula renal (em alguns

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casos alcançam até mesmo as papilas renais). Estes néfrons são os


grandes responsáveis pela capacidade de concentração da urina
pelos rins.
o Os processos que ocorrem no néfron são:
▪ Filtração: o néfron capta componentes plasmáticos e forma um
ultrafiltrado;
▪ Secreção: conjunto de processos que envolvem a liberação de certos
componentes no filtrado pelo néfron;
▪ Reabsorção: conjunto de processos que envolvem a retirada de
certos componentes do filtrado pelo néfron de volta para o rim;
▪ Excreção: liberação da urina resultante da combinação dos
processos de filtração, secreção e reabsorção para as estruturas que a
conduzirão para fora do corpo.
• Circulação renal: o fluxo sanguíneo para os dois rins é de cerca de 1100ml/min.
O sangue faz o seguinte trajeto nestes órgãos:
o A artéria renal entra no rim pelo hilo e então se ramifica profusamente em
artérias interlobares, artérias arqueadas, artérias radiais/interlobulares, e
finalmente arteríolas aferentes. Cerca de 600 a 700ml de plasma chegam
pelas arteríolas aferentes a cada minuto.
o Cada arteríola aferente forma os capilares glomerulares no néfron, onde
grandes quantidades de fluido e soluto (exceto proteínas) são filtrados para
iniciar a formação da urina. As extremidades distais dos capilares
glomerulares então se fundem para formar a arteríola eferente.
o As arteríolas eferentes darão origem a uma segunda rede capilar, os
capilares peritubulares, que rodeiam os túbulos renais. Essa rede participa
dos processos de secreção e reabsorção nos rins. Esses capilares também
seguem o trajeto da alça de Henle que penetra na medula renal, formando
assim os vasos retos.
o Os vasos retos, após os processos de secreção e absorção nos néfrons,
progressivamente formam veias interlobulares, veias arqueadas, veias
interlobares e enfim a veia renal, que deixa o rim ao lado da artéria renal e
do ureter.

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Figura 130: Esquematização dos dois tipos de néfrons bem como da circulação renal.

• Segmentos tubulares dos néfrons:


o Túbulo contorcido proximal: é a primeira porção tubular do néfron, logo
após a cápsula de Bowman. Sua parede é composta células com
microvilosidades e muitas mitocôndrias, o que significa que este segmento é
especializado em reabsorção de substâncias.

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Figura 131: Estrutura celular e transportes primários do túbulo proximal.


o Ramo fino descendente da alça de Henle: segunda porção tubular do
néfron, logo após o túbulo contorcido proximal. Sua parede é composta de
células achatadas, com poucas organelas, o que permite a grande
permeabilidade da água do filtrado, que para sai do néfron e vai para o
interstício.

Figura 132: Estrutura celular e transportes primários da alça de Henle descendente fina.
o Ramo fino ascendente da alça de Henle: terceira porção tubular do néfron,
logo após o ramo fino descendente da alça. Sua parede é composta também
por células achatadas com poucas organelas. Entretanto, elas são
impermeáveis a água (exceto na presença de ADH) permeáveis à ureia, que
precisa ser captada do interstício para a urina.
o Ramo contorcido ascendente de alça de Henle: quarta porção tubular do
néfron, logo após o ramo fino ascendente da alça. Sua parede é composta de

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células altas, com muitas mitocôndrias, havendo grande transporte ativo de


íons sódio para o interstício. É, entretanto, impermeável à água.

Figura 133: Estrutura celular e transportes primários da alça de Henle ascendente espessa.
o Túbulo contorcido distal: quinta porção tubular do néfron, logo após o
ramo contorcido ascendente da alça. Sua parede é composta de células altas
com muitas mitocôndrias, também impermeáveis à água.
▪ Célula principal: célula do túbulo distal que faz a secreção do
potássio, sendo o local de atuação da aldosterona.
▪ Célula intercalada: célula do túbulo distal que possui a bomba de
hidrogênio e potássio, permitindo a secreção de hidrogênio e a
reabsorção de potássio.
▪ Mácula densa: células do túbulo distal que são capazes de captar
concentrações de sódio para o controle da secreção de renina pelas
células granulares.

Figura 134: Estrutura celular e transportes primários do ducto coletor.

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• Inervação renal: o rim possui apenas inervação simpática, que promove efeitos
como a vasoconstrição localizada.

Filtração
• Quanto ao sangue que chega ao rim para ser filtrado:
o Fluxo sanguíneo renal (FSR): volume total de sangue que chega ao rim.
Em média, chega 25% do débito cardíaco ao leito renal.
o Fluxo plasmático renal (FPR): volume de plasma que chega pela artéria
aferente para ser filtrado, por unidade de tempo. Chegam de 600 a 700ml de
plasma a cada minuto.
▪ O FSR pode ser definido como o FPR dividido por (1 – Ht), em que
Ht é o hematócrito, isto é, a porção do volume sanguíneo
correspondente às células.
• Propriedades importantes da filtração do capilar glomerular na cápsula de Bowman:
o A filtração é indiferente e inespecífica: filtra sempre cerca de 20% do
volume plasmático com e 20% dos solutos filtráveis. O volume filtrado no
capilar glomerular por unidade de tempo é chamado de ritmo de filtração
glomerular (RFG).
▪ O volume plasmático e o soluto filtrável não filtrados, bem como os
solutos não filtráveis, passam para a arteríola eferente.
▪ Assim, dos 600ml/min que chegam pela artéria aferente, são
filtrados cerca de 120ml/min na cápsula, e, portanto, 480ml/min
seguem pela artéria eferente.
o Membrana de filtração glomerular: para que o rim filtre todos os
componentes filtráveis do plasma sanguíneo, e deixe passar os não filtráveis
como as proteínas, deve estar presente a membrana de filtração glomerular,
que filtra os componentes sanguíneos baseando-se em seu tamanho e em
sua carga elétrica.
▪ Pelo fato de que as moléculas devem passar por muitas barreiras
para se mover do lúmen dos capilares para o espaço de Bowman
(epitélio fenestrado → membrana basal → entre os podócitos →
fenda de filtração → espaço de Bowman), existem limitações de
tamanho. As pequenas moléculas como a da água, glicose, sacarose,
creatinina e a ureia são filtradas livremente. Conforme as moléculas

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aumentam de tamanho ou sua carga total negativa aumenta (por


exemplo, entre as proteínas), a filtração torna-se progressivamente
restrita.
▪ Proteínas eventualmente detectadas em exames de urina em
situações não patológicas advêm não de uma filtração de proteínas
plasmáticas, mas de eventuais descamações das células do néfron.
o O ultrafiltrado é isosmótico em relação ao plasma: a concentração de
componentes plasmáticos filtráveis não muda durante a filtração do plasma
da arteríola aferente. Isso significa que, na arteríola aferente, na eferente e
na cápsula renal, a concentração de solutos filtráveis é a mesma.
▪ Entretanto, a concentração de solutos plasmáticos não filtráveis é
alterada. Ela é menor na arteríola aferente, nula na cápsula renal e
maior na arteríola eferente.
• Forças de Starling: o RFG é determinado pelas forças de Starling e pela
permeabilidade dos capilares glomerulares aos solutos no plasma. Em geral, com
exceção dos elementos figurados (hemácias, leucócitos, plaquetas) e a maioria das
proteínas, o plasma é disponível para filtração nos capilares glomerulares.
o As forças de Starling governam o movimento de fluido para dentro ou para
fora dos capilares. As pressões que determinam a dinâmica de filtração
glomerular são:
▪ A pressão hidrostática do capilar glomerular, que força o fluido
para fora dos capilares (costuma ser de 60mmHg);
▪ A pressão coloidosmótica (ou oncótica) capilar glomerular, que
atrai o fluido para os capilares glomerulares (costuma ser de
21mmHg);
▪ A pressão na cápsula, que é a pressão hidrostática do espaço de
Bowman, em oposição à pressão hidrostática capilar (costuma ser de
15mmHg);
o Pressão de filtração: é a pressão resultante das forças de Starling, e da qual
é dependente o valor de RFG e da fração de filtração. A pressão de filtração,
portanto, é dada pela fórmula PF = PH – (Pcol + Pcáp), e costuma ser de
24mmHg. Essa pressão de filtração, assim, determina o RFG, que costuma
ser de 100-125ml por cada minuto, em cada rim.

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▪ A fração de filtração é o RFG dividido pelo FPR. Ela costuma ser,


conforme visto, de 20%.
▪ Em conclusão, o RFG é determinado pelo equilíbrio das forças de
saída de plasma, e de resistência a essa saída, a nível da membrana
capilar. A força de saída do plasma é a pressão hidrostática. As
forças de resistência à saída de plasma são a pressão coloidosmótica
e a pressão da cápsula.

▪ Proteinúria: condição patológica em que há perda de proteínas


através da urina. Ela causa uma queda na pressão coloidosmótica,
reduzindo a resistência à saída de plasma, o que aumenta o RFG.
• Coeficiente de filtração (Kf): é o produto da área de superfície com a
permeabilidade dos capilares.
o Podemos concluir que quando Kf diminui, RFG diminui (por diminuição
da área de superfície e/ou de permeabilidade). Isso ocorre na hipertensão
arterial sistêmica e no diabetes mellitus, que lesam os capilares.

Mecanismos intrínsecos de regulação da filtração


• Autorregulação renal: o rim tenta sempre manter o FSR/FPR e o RFG constantes.
Assim, ele atua para reajustar eventuais variações nestes parâmetros. Ele é capaz de
fazer isso contanto que a pressão arterial se mantenha dentro de um intervalo de 90
a 180mmHg. Existem duas teorias para esse fenômeno, ambas envolvidas com
constrição e dilatação da artéria renal.
o Primeiramente, nota-se que o principal fator sistêmico de alteração de FPR
e RFG é a pressão arterial. Quanto maior for a pressão arterial, maiores os
valores de FPR (chega mais sangue por unidade de tempo ao rim) e de RFG
(maior pressão hidrostática no capilar glomerular).
o Mecanismo miogênico (mecanismo do próprio vaso): o próprio vaso é
capaz de perceber seu estiramento causado por variações na pressão
sanguínea (que por sua vez alteraria os valores de FPR e RFG). Com isso,
ele seria capaz de responder a essas variações produzindo substâncias
vasoativas de acordo com a necessidade.
▪ Com aumento de FPR: o próprio vaso produz vasoconstritores;
▪ Com redução de FPR, o próprio vaso produz vasodilatadores.

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o Feedback tubuloglomerular: (mecanismo do aparelho justaglomerular): é


um mecanismo regulatório que envolve a mácula densa do aparelho
justaglomerular. O rim é único pelo fato de seus capilares glomerulares
possuírem arteríolas (vasos de resistência) nas duas extremidades do
glomérulo renal. A vasoconstrição das arteríolas aferentes e eferentes pode
causar efeitos imediatos na pressão hidrostática dos capilares glomerulares,
controlando o RFG. Como o aparelho justaglomerular funcionalmente se
associa ao túbulo distal e à arteríola aferente, o fluxo tubular que passa pela
mácula densa pode controlar a resistência arteriolar aferente.
▪ A diminuição no fluxo e na concentração de sódio do fluido tubular
diminuirá a resistência arteriolar aferente e aumentará o RFG
naquele néfron;
▪ Por outro lado, se o fluxo tubular distal ou a osmolaridade forem
altos, o feedback tubuloglomerular aumentará a resistência arteriolar
aferente, diminuindo o RFG.
• Relação entre tônus de constrição do vaso e fluxo: para compreender os
mecanismos de alteração do fluxo sanguíneo renal, é preciso entender que:
o Quando é feita a vasoconstrição em um vaso, a pressão antes do vaso é
aumentada, e a pressão depois do vaso é diminuída. O fluxo no local
contraído é reduzido.
o Quando é feita vasodilatação em um vaso, a pressão antes do vaso é
diminuída, e a pressão depois do vaso é aumentada. O fluxo no local
dilatado é aumentado.
o A circulação do néfron é composta de três segmentos vasculares: arteríola
aferente, capilares glomerulares, e arteríola eferente. Dessa forma:
▪ Apenas as arteríolas estão sujeitas a vasoconstrição e
vasodilatação.
▪ A pressão dos capilares glomerulares é determinante para RFG.
▪ A pressão da arteríola aferente é determinante para FPR.
o Existem, portanto, quatro casos possíveis de alteração de RFG e FPR
devido a vasoconstrição e vasodilatação:
▪ Vasoconstrição na arteríola aferente: reduz a pressão no capilar
glomerular (reduz RFG) e reduz o fluxo na arteríola aferente (reduz
FPR).

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▪ Vasoconstrição na arteríola eferente: aumenta a pressão no capilar


glomerular (aumenta RFG) e reduz FPR.
▪ Vasodilatação na arteríola aferente: aumenta a pressão no capilar
glomerular (aumenta RFG) e aumenta o fluxo na arteríola aferente
(aumenta FPR).
▪ Vasodilatação na arteríola eferente: reduz a pressão no capilar
glomerular (reduz RFG) e aumenta FPR.

Mecanismos extrínsecos da regulação da filtração


• Influências hormonais:

Local de Efeito sobre Efeito sobre


Hormônio Ação
liberação RFG FPR
Constrição de
Noradrenalina/ Medula arteríolas
Reduz Reduz
adrenalina suprarrenal aferentes e
eferentes
Células Constrição de
Endotelina Reduz Reduz
endoteliais arteríolas renais
Constrição
principalmente Previne
Angiotensina II Reduz
da arteríola Reduz
eferente
Diminuição da
Células
Óxido nítrico resistência Aumenta Aumenta
endoteliais
vascular renal
Atenuam os efeitos vasoconstritores do simpático
ou da angiotensina II principalmente a nível das
arteríolas aferentes, pois as prostaglandinas agem
quando há hemorragia, situação em que ocorre
Prostaglandinas vasoconstrição generalizada. Entretanto, a Aumenta
vasoconstrição não poderia ocorrer no rim, pois
comprometeria a função renal. Assim, as
prostaglandinas evitam a desnutrição do leito renal.
Por isso, elas não interferem no RFG.
Dilata arteríola
Peptídeo aferente e
Cardiomiócitos
natriurético contrai a Aumenta Aumenta
do átrio direito
atrial arteríola
eferente

• O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA): é ativado em resposta ao


baixo fluxo vascular renal. Os barorreceptores vasculares renais estimulam a
secreção de renina pelas células justaglomerulares ao final das arteríolas aferentes.

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Isto, adicionalmente à modulação da secreção de renina pela mácula densa, ativará


o SRAA. A renina agirá localmente e na circulação sistêmica para produzir
angiotensina II, e assim controlar o RFG.
• A angiotensina II: exerce tanto efeito direto quanto indireto no RFG. Ela é
vasoconstritora, e nos rins, age diretamente nas artérias renais, e em maior extensão
nas arteríolas aferentes e eferentes, aumentando a resistência, reduzindo a pressão
hidrostática do capilar glomerular, e diminuindo o RFG; a angiotensina II na
verdade tem maior efeito sobre a arteríola eferente quando comparado à arteríola
aferente. Ao mesmo tempo, ela pode determinar a vasoconstrição das células
mesangiais glomerulares, reduzindo o Kf, e, assim, o RFG.
• O peptídeo natriurético atrial (PNA): é liberado dos cardiomiócitos do átrio
direito em resposta ao estiramento (em altos volumes sanguíneos). Para regular o
RFG, o PNA dilata a arteríola aferente, e determina vasoconstrição da arteríola
eferente, aumentando a pressão hidrostática do capilar glomerular, e, assim, o RFG.
O maior fluxo aumento a excreção de sódio e água, reduzindo o volume sanguíneo.
• As catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), que podem ser liberadas dos
nervos simpáticos: são estimuladas em resposta reduções na pressão sanguínea
sistêmica e causam vasoconstrição das arteríolas e artérias renais. Nos níveis
tônicos da atividade nervosa simpática, os sistemas intrarrenais neutralizarão este
efeito para assegurar que a vasculatura renal permaneça dilatada, preservando o
RFG. Durante a alta atividade nervosa simpática (hemorragia, exercício
extenuante) a atividade nervosa simpática sobrepuja os mecanismos regulatórios
intrarrenais e reduz o FPR e o RFG.

o Hemorragias: com a perda de sangue por hemorragia, o sistema nervoso


simpático e os sistemas hormonais (SRAA, ADH, aldosterona) são ativados
para preservar a pressão sanguínea sistêmica e evitar a perda de fluido. Se a
pressão arterial média cair abaixo de 80mmHg, os altos níveis de
vasoconstrição sobrepujarão a regulação intrarrenal de RFG, e ela cairá. Isto
pode resultar em insuficiência renal aguda, que é quando RFG cai para
menos de 25mL/min se o volume sanguíneo não for restaurado
rapidamente.
o Influência do SNA simpático: o simpático inerva as arteríolas aferente e
eferente, promovendo, quando estimulado:

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▪ Ativação do sistema renina-angiotensina: induz a liberação de


renina para a formação de angiotensina II.
▪ Liberação de substâncias vasoativas (endotelina, bradicinina, óxido
nítrico, prostaglandinas).
• As prostaglandinas intrarrenais: são vasodilatadoras e servem para neutralizar
primariamente a vasoconstrição mediada pela angiotensina II, agindo nas arteríolas
e nas células mesangiais glomerulares.

Reabsorção e secreção
• Reabsorção tubular: refere-se ao movimento de substâncias do lúmen do néfron
para o sangue. É um processo altamente seletivo e fundamental para algumas
substâncias, como íons, glicose, aminoácidos, água, entre outros componentes
plasmáticos que não podem ser perdidos em excesso na urina.
• Secreção tubular: refere-se ao movimento de substâncias do sangue para o lúmen
do néfron. É um processo também altamente seletivo, e fundamental para a
algumas substâncias, como H+, K+ e NH4+, que não podem ser mantidos em
elevadas concentrações no sangue.
• Com isso, sabe-se que a excreção resulta da filtração somada à secreção e
diminuída da reabsorção.
o Tanto a reabsorção quanto a secreção são processos dependentes de
proteínas carreadoras (ou proteínas transportadoras) que movimentam as
substâncias circulantes no néfron e no sangue entre estes compartimentos.
▪ Como qualquer proteína, elas possuem um valor máximo de
atividade, acima do qual não é possível aumentar nem a reabsorção
(mesmo com o aumento da filtração) nem a secreção (mesmo com a
diminuição da filtração).
• Cálculo de FPR: toma-se como referência uma substância que seja totalmente
secretada no néfron. Isso significa que a quantidade dessa substância na artéria
renal e na urina é a mesma, e também que ela está ausente na veia renal. Exemplos
de substâncias com essas propriedades são o ácido paraminohipúrico (PAH) e o
diodrast.
o É possível coletar a urina do indivíduo para medir o fluxo urinário (FU, que
é o volume de urina) e fazer sua dosagem para medir a concentração de

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PAH/diodrast nessa urina. Com o volume de urina, e a concentração na


urina, é possível calcular a quantidade na urina.
o Também é possível fazer a dosagem do sangue da artéria renal para medir
sua concentração de PAH/diodrast. Sabe-se a quantidade dessas substâncias
na artéria renal é a mesma quantidade delas na urina. Assim, com a
concentração na artéria renal, e com a quantidade na artéria renal, é
possível calcular o volume da artéria renal (que é o FPR).
• Cálculo de RFG: toma-se como referência uma substância que não seja nem
secretada, nem reabsorvida ao longo do néfron. Isso significa que a quantidade
filtrada da substância e a quantidade da substância na urina são as mesmas.
Exemplos de substâncias com essas propriedades são a inulina e a creatinina.
o Novamente, mede-se o fluxo o urinário e faz-se a dosagem de
inulina/creatinina na urina, obtendo-se volume de urina e concentração na
urina para obter-se então a quantidade na urina.
o Sabe-se que a concentração de inulina/creatinina no ultrafiltrado é a mesma
da concentração na artéria renal, que pode ser encontrada por dosagem do
sangue. Sabe-se também que a quantidade de inulina/creatinina no
ultrafiltrado é a mesma da quantidade na urina. Assim, obtém-se a
concentração no ultrafiltrado e a quantidade no ultrafiltrado,
permitindo que então se calcule o volume do ultrafiltrado (que é o RFG).
• Manipulação renal de substâncias: o rim precisa ser adaptado para ser capaz de
excretar, secretar e reabsorver as substâncias certas.
o Existem substâncias que são totalmente secretadas (ou seja, totalmente
excretadas). Elas são parcialmente filtradas e depois totalmente secretadas,
e não são reabsorvidas. É o caso de catabólitos e xenobióticos.
o Existem substâncias parcialmente excretadas. Elas são parcialmente
filtradas e não são nem totalmente reabsorvidas e nem totalmente
secretadas. É o caso da água e íons.
o Existem substâncias que são totalmente reabsorvidas (ou seja, não são
excretadas). Elas são parcialmente filtradas e totalmente reabsorvidas, e não
são secretadas. É o caso de glicose e de aminoácidos.

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Clearance renal
• Clearance renal (ou depuração plasmática renal): é o parâmetro que mede o
resultado da manipulação renal de substâncias em termos do volume inicial de
plasma. Ou seja, o clearance traduz o volume de plasma que ficou totalmente
depurado de certa substância por unidade de tempo.

o Dosagem medicamentosa: O clearance renal é muito importante para se


fazer a correta dosagem medicamentosa, isto é, a correta frequência de
administração de medicamentos, uma vez que é preciso saber se aquele
medicamento será eliminado mais rapidamente ou mais lentamente.
• Parâmetros para o cálculo do clearance: o clearance depende da quantidade do
soluto excretado e a concentração dele no plasma sanguíneo. Com isso, sabe-se o
volume de sangue no qual aquela quantidade excretada estava contida, que é
justamente o volume de sangue que foi depurado pelo rim.
o O clearance de uma substância totalmente excretada é de 100%, pois todo
o plasma foi depurado desta substância. Assim, o clearance dela é igual ao
FPR.
o O clearance de uma substância totalmente reabsorvida é de 0, pois
nenhum volume de plasma ficou livre desta substância, ou seja, ela não foi
excretada.
o O clearance de uma substância nem totalmente secretada nem totalmente
reabsorvida é o RFG.
• Assim, conclui-se que a depuração quanto a filtração:
o Substâncias nem secretadas nem reabsorvidas terão sua carga filtrada igual
à sua carga excretada. A depuração será igual à filtração.
o Substâncias que são secretadas terão sua carga filtrada sendo menor do que
sua carga excretada. A depuração será maior do que a filtração.
o Substâncias que são reabsorvidas terão sua carga filtrada sendo maior do
que a carga excretada. A depuração será menor do que a filtração.

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Função tubular
• As células dos túbulos renais possuem dois polos, distinguindo-se duas
membranas:
o Membrana luminal, ou membrana apical, voltada para a luz dos túbulos do
néfron.
o Membrana basolateral, voltada para o endotélio capilar.

Reabsorção de água e sódio


• Em cada uma das membranas, existirão diferentes proteínas transportadoras de
membrana. Essas proteínas diferem de acordo com o segmento, mas, de maneira
geral, possuem os seguintes transportadores:
o Na membrana luminal:
▪ Há maior permeabilidade de íons sódio, que entram mais no
interior da célula. Isso se deve à ausência da bomba de sódio e
potássio nessa membrana.
▪ Consequentemente, o potencial da membrana luminal é menos
positivo.
o Na membrana basolateral:
▪ Há a presença da bomba de sódio e potássio, o que diminui a
concentração de sódio dentro da célula (auxiliando o influxo de
sódio na membrana luminal) e a aumenta fora da célula.
▪ Consequentemente, o potencial da membrana basolateral é mais
positivo.
• Conclui-se que, portanto, as células do néfron tem a capacidade de reabsorver
sódio da urina para o sangue e que, quanto maior a atividade da bomba de sódio
e potássio, maior essa capacidade.
o Lembrar que, sempre que o sódio é reabsorvido para o sangue, ele
“carrega” a água consigo, portanto, a reabsorção de sódio significa
reabsorção de água, o que aumenta o volume sanguíneo.

Detalhes da reabsorção de sódio


• Reabsorção de sódio: os 20% de sódio filtrados no sangue, tem-se diferentes
percentuais de reabsorção em cada segmento tubular, diferentes mecanismos de
reabsorção e diferentes hormônios reguladores, sintetizados na tabela abaixo. (ao
final, cerca de apenas 1% do sódio plasmático é eliminado na urina)

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Figura 135: Locais de reabsorção do sódio no néfron.

Porcentagem Mecanismo de entrada do


Hormônios reguladores
Segmento do filtrado Na+ através da membrana
mais importantes
reabsorvido apical
• Trocador de Na+/H+;
• Cotransporte de Na+ Angiotensina II
Túbulo
67% com aminoácidos e Noradrenalina/adrenalina
proximal
solutos orgânicos; Dopamina
• Trocador Cl-/ânion
Aldosterona
Alça de
25% Simporte 1Na+/1K+/2Cl- Furosemida: inibidor do
Henle
simporte
Aldosterona
Túbulo
~4% Simporte NaCl Tiazídicos: inibidores do
distal
simporte
Túbulo
Aldosterona
distal final e
~3% Canais para Na+ PNA
ducto
Urodilatina
coletor
Aldosterona: atua na célula principal, intensificando a bomba Na+/K+;
ADH: movimenta aquaporinas para membrana luminal

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Figura 136: Mecanismos celulares da reabsorção do Na+ na porção inicial do túbulo proximal.

• Túbulo contorcido proximal: a maior carga reabsorvida de sódio ocorre por


cotransporte ativo secundário de sódio com muitas outras substâncias
incluindo-se a glicose, aminoácidos, fosfato e ácidos orgânicos.
o O túbulo proximal também tem contratransportadores de Na+/H+, que
permitem a secreção de H+ para o fluido do túbulo renal proximal.

Figura 137: O processo de transporte de Na+ no túbulo proximal reto


o Túbulo proximal reto (segunda metade do túbulo proximal): os
contratransportadores Na+/H+ continuam a reabsorver sódio e secretar H+
para o fluido tubular. A reabsorção de sódio e água também cria um

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gradiente eletroquímico que favorece a reabsorção de cloreto. A


concentração de Cl- aumenta ao longo dos segmentos do túbulo proximal
conforme a água é reabsorvida. O cloreto entra nas células a favor de seu
gradiente eletroquímico por contratransportadores Cl-/ânions, resultando
na secreção apical de ânions como OH-, HCO3-, SO4- e oxalato. A
reabsorção de Cl- também ocorre paracelularmente.
• Ramo delgado descendente da alça de Henle: este segmento é impermeável ao
sódio e à maioria dos outros solutos, mas é permeável à água na presença do ADH,
e assim é capaz de concentrar o fluido tubular.

Figura 138: Mecanismo de transporte para reabsorção de NaCl no segmento espesso ascendente da
alça de Henle.

• Ramo espesso ascendente da alça de Henle: este segmento é impermeável à água,


mas seus cotransportadores Na+/K+/2Cl- apicais facilitam a reabsorção de
eletrólitos e diluem o fluido tubular que entra no túbulo distal. Estes
transportadores são os alvos dos diuréticos de alça como a furosemida e a
bumetanida.
o Adicionalmente, ocorre uma perda de K+ para fora das células em direção
ao lúmen, criando uma diferença de potencial transepitelial lúmen-positiva
(comparado com o fluido intersticial). Esta diferença de potencial permite o

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movimento paracelular de cátions (Ca2+, Mg2+, Na+, K+) para fora do lúmen
tubular.
o Em adição aos cotransportadores Na+/K+/2Cl-, existem os
contratransportadores Na+/H+, que reabsorvem Na+ e secretam H+ para o
túbulo.

Figura 139: Mecanismo de reabsorção de Na+ no segmento inicial do túbulo distal.

• Túbulo distal: a porção do túbulo distal possui cotransportadores Na+/Cl- que


podem ser inibidos por diuréticos tiazídicos.

Figura 140: Mecanismo de reabsorção de Na+ nas células intercaladas do túbulo distal, e nos ductos
coletores
o Células intercaladas: células localizadas na porção final do túbulo distal, e
que possuem canais de influxo de Na+ (e canais de efluxo de K+) que são
aumentados em número pela aldosterona, resultando em maior reabsorção
de Na+ e água. Estes canais epiteliais de sódio sensíveis à aldosterona são
bloqueados pela amilorida, que é um diurético poupador de potássio. A

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aldosterona também responde à elevação plasmática de K+, e aumenta a


secreção de K+ nos túbulos distais e coletores.
• Ductos coletores: como a porção final do túbulo distal, os ductos coletores
possuem canais de influxo de Na+ (e canais de efluxo de K+) que são aumentados
em número pela aldosterona.

Detalhas da reabsorção de água


• Reabsorção de água: a reabsorção de sódio promoverá também o transporte de
água, que será distinto quanto à porcentagem de água reabsorvida em cada
segmento, quanto ao mecanismo de reabsorção, e quanto aos hormônios
reguladores, sintetizados na tabela abaixo.

Hormônios que
Porcentagem
Mecanismo de reabsorção de regulam a
Segmento do filtrado
água permeabilidade da
reabsorvido
água
Túbulo
67% Passivo Nenhum
proximal
(ocorre somente na porção final
Alça de
15% do túbulo distal) Nenhum
Henle
Passivo
Túbulo distal 0 Não há reabsorção de água Nenhum
Túbulo distal
ADH
final e ducto ~8-17% Passivo
PNA
coletor
Controle hormonal da reabsorção de sódio e água
• As influências hormonais sobre a reabsorção de sódio e água estão listadas abaixo.

Hormônio Principal estímulo Local de ação Efeito


Angiotensina
↑renina Túbulo proximal ↑reabsorção Na+/H2O
II
↑angiotensina II Alça espessa
Aldosterona ↑concentração ascendente*; túbulo ↑reabsorção Na+/H2O
plasmática de K+ distal; ducto coletor
↑pressão arterial
PNA Ducto coletor ↓reabsorção Na+/H2O
↑volume extracelular
↑pressão arterial
Urodilatina Ducto coletor ↓reabsorção Na+/H2O
↑volume extracelular
Túbulo proximal; alça
Nervos espessa ascendente*;
↓volume extracelular túbulo distal; ducto
↑reabsorção Na+/H2O
simpáticos
coletor
Dopamina ↓volume extracelular Túbulo proximal ↓reabsorção Na+/H2O
↑pressão osmótica Túbulo distal; ducto
ADH ↑reabsorção Na+/H2O
↓volume extracelular coletor
* Não há reabsorção de água neste segmento

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• Em resumo, tem-se que:


o Hormônios que aumentam a reabsorção: angiotensina II, aldosterona,
simpático, ADH.
o Hormônios que diminuem a reabsorção: PNA, urodilatina, dopamina.
• Relação com RFG: a magnitude da reabsorção de água depende do RFG, o que
significa que também é dependente do equilíbrio entre as forças de Starling.
o Sabe-se que o aumento da RFG (mantido constante o FPR) aumenta a
concentração de proteínas na arteríola eferente, o que aumenta a pressão
oncótica capilar, aumentando assim a reabsorção de sódio e água. Isso
compensa o aumento de filtração que foi decorrente do aumento de RFG,
o Sabe-se também que a dilatação da arteríola eferente aumenta a FPR, reduz
o RFG, leva a aumento da pressão hidrostática capilar, diminui a
reabsorção de sódio e água. Isso evita que haja uma mesma excreção para
uma menor filtração.

Secreção de íons

Figura 141: Mecanismos de secreção do PAH no túbulo proximal.

• Secreção de ácido paraminohipúrico (PAH): no túbulo proximal, o PAH é


captado a partir do sangue sendo trocado com α-cetoglutarato, uma vez que a
membrana basolateral das células possui um contratransportador de PAH/αCG.
o Uma vez captado o PAH, ele é liberado no lúmen tubular por dois
mecanismos presentes na membrana luminal:

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▪ Contratransporte PAH/ânion.
▪ Difusão facilitada de PAH.
o A característica mais importante desse transporte é que permite que o PAH
seja uma substância totalmente secretada pelo rim, até um limite que é a
atividade máxima das proteínas transportadoras.
o O mecanismo de transporte do PAH é compartilhado com várias outras
substâncias, como os ânions orgânicos (sais biliares, prostaglandinas,
urato, cAMP) e as drogas (penicilina, salicilato, enalapril, furosemida,
clorotiazida).
▪ Entretanto, os mecanismos não ocorrem de maneira independente,
pois as proteínas transportadoras são as mesmas. Ou seja, as
quantidades dessas substâncias são limitantes entre si: se houver
muita secreção de PAH, haverá pouca secreção das outras
substâncias.

Figura 142: Mecanismos de secreção de cátions orgânicos no túbulo proximal.

• Secreção de cátions orgânicos: no túbulo proximal, a membrana basolateral das


células possui proteínas transportadoras que fazem a captação a partir do sangue,
sangue por difusão facilitada dos cátions orgânicos (que podem ser creatinina,
dopamina, adrenalina, noradrenalina) e de certas drogas (atropina, cimetidina,
cinina, morfina).

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o Uma vez captados os cátions orgânicos, eles são enviados ao lúmen tubular
por um contratransportador cátion/H+, o que acaba removendo H+ do
fluido tubular.

Diuréticos
• Diuréticos: são drogas que agem no néfron inibindo a reabsorção de sódio,
aumentando sua excreção na urina. Em consequência, o volume urinário
aumenta, pois, uma menor reabsorção de sódio determina uma menor reabsorção
de água, e uma maior concentração de sódio na urina aumenta a pressão osmótica
deste fluido, provocando a retenção da água.

Classe de diurético Mecanismo de ação Região tubular de atuação


Inibe a reabsorção de água e Na+
Diurético osmótico Principalmente túbulo
ao aumentar a osmolaridade do
(manitol) fluido tubular proximal
Diurético de alça Inibe o cotransporte Na+/K+/Cl- Segmento ascendente
(furosemida, bumetanida) na membrana luminal espesso da alça de Henle
Diurético tiazídico Inibe o cotransporte Na+/Cl- na Porção inicial do túbulo
(clorotiazida) membrana luminal distal
Inibidores de anidrase Inibe a secreção de H+ e a
carbônica reabsorção de HCO3-, o que Túbulo proximal
(acetazolamida) reduz a reabsorção de Na+
Antagonistas de Inibe a ação da aldosterona sobre
o receptor tubular; diminui a
aldosterona reabsorção de Na+, diminui Ducto coletor
(espironolactona) secreção de K+
Bloqueadores de canal de Bloqueia a entrada de Na+ nos
canais de Na+ da membrana
sódio luminal; diminui reabsorção de Ducto coletor
(amilorida) Na+, diminui secreção de K+

• Diuréticos do túbulo proximal:


o Diuréticos osmóticos (manitol): elevam a osmolaridade do fluido tubular,
inibindo, portanto, a reabsorção de água, o que reduz a reabsorção de Na+.
o Inibidores da anidrase carbônica (acetazolamida): uma vez que o Na+ do
fluido tubular é captado pela célula tubular através de contratransporte com
o H+ intracelular, e este H+ intracelular advém da ação da anidrase
carbônica sobre CO2 e H2O, então se a anidrase carbônica for inibida, a
reabsorção é inibida.
• Diuréticos de alça (furosemida, bumetanida): agem no segmento espesso da alça
de Henle bloqueando o cotransporte Na+/K+/Cl-, que faz a reabsorção de Na+ neste
segmento. Com menos Na+ reabsorvido, menos água é reabsorvida.

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• Diuréticos do túbulo distal (tiazídicos): agem principalmente na porção proximal


dos túbulos distais para bloquear o cotransporte Na+/Cl-, que faz a reabsorção de
Na+ neste segmento. Com menos Na+ reabsorvido, menos água é reabsorvida.
• Diuréticos do ducto coletor:
o Bloqueadores do canal luminal de Na+ (amilorida): bloqueiam os canais
de influxo de Na+, que fazem a reabsorção de Na+ no ducto coletor. Com
menos Na+ reabsorvido, menos água é reabsorvida. Devido à menor
captação de Na+, a atividade da Na+/K+ ATPase é reduzida, o que reduz
também a atividade dos canais de efluxo de K+, que fazem a secreção de K+
para o fluido tubular.
o Antagonistas da aldosterona (espironolactona): bloqueadores de
mineralocorticoides (como a aldosterona) impedem a ligação destes
hormônios às células tubulares. Como os mineralocorticoides promovem a
reabsorção de Na+, sua inibição provocará a retenção deste íon, bem como
de água, no fluido tubular. Eles também inibem a ação da aldosterona de
promover secreção de K+ para o fluido tubular.

• Cuidados com o uso de diuréticos: conforme verificado assim, muitos diuréticos


conservam a concentração de K+ no sangue, sendo chamados de diuréticos
poupadores de potássio. Isso a longo prazo pode levar a um efeito colateral
danoso, que é a hipercalemia.
o A hipercalemia pode ser resultante não só de diuréticos poupadores de
potássio, mas também de inibidores da enzima conversora de
angiotensina (captopril, enalapril), que são utilizados no tratamento de
hipertensão arterial sistêmica, e que faz a inibição de angiotensina II e de
aldosterona.

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Resumo da função tubular


Mecanismos de
Segmento Função Ação hormonal
transporte
Cotransportadores
Reabsorção de Na+/glicose,
Porção inicial do
isosmótica de soluto aminoácido, fosfato
túbulo distal
e água Contratransporte PTH inibe
Na+/H+ Ang II estimula
Reabsorção de NaCl Cotransportador de
ADH estimula
sem água Na+/K+/2Cl-
Ramo ascendente Diluição do líquido
espesso da alça de tubular
Henle Efeito isolado da
multiplicação em
contracorrente
Reabsorção de NaCl Cotransporte de
Ramo proximal do sem água Na+/Cl-
túbulo distal Diluição do líquido
tubular
Reabsorção Reabsorção de NaCl
Porção final do
isosmótica de soluto impulsionada pelo
túbulo distal
e água gradiente de Cl-
Canais de influxo Aldosterona
Reabsorção de NaCl
de Na+ estimula
Células principais
Canais de efluxo de Aldosterona
(porção final do Secreção de K+
K+ estimula
túbulo distal e
Reabsorção de água
ducto coletor)
na presença de Aquaporinas ADH estimula
ADH
Células Reabsorção de K+ H+/K+ ATPase
intercaladas
(porção final do Aldosterona
Secreção de H+ H+ ATPase
túbulo distal e estimula
ducto coletor)

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Controle da osmolaridade e volume dos fluidos corporais


• Volumes corporais: O controle da osmolaridade dos fluidos é altamente
dependente do volume desses mesmos fluidos. Cerca de 60% do peso corporal
humano é de água, o que corresponde ao volume total de água no corpo. Este
volume, por sua vez, está dividido em dois compartimentos:

Figura 143: Esquematização dos compartimentos corporais.


o Líquido intracelular: responde por 2/3 do volume total de água no corpo.
▪ Os compartimentos intracelular e extracelular estão separados pela
membrana celular.
o Líquido extracelular: responde por 1/3 do volume total de água no corpo.
Por sua vez, também está dividido em dois compartimentos.
▪ Líquido intersticial: responde por 75% do volume de líquido
extracelular.
 O líquido intersticial está separado do plasma sanguíneo pelo
endotélio e a membrana basal dos capilares.
▪ Plasma sanguíneo: responde por 25% do volume do líquido
extracelular.

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• Osmolaridade: a osmolaridade é a concentração total de solutos dos fluidos


corporais. Normalmente, é de cerca de 290 miliosmols por litro (290mosm/L), em
todos os compartimentos corporais.
• Trocas entre os compartimentos: as membranas celulares são seletivamente
permeáveis (membranas semipermeáveis), o que significa que elas permitem a
passagem de algumas, mas não todas, moléculas através delas. As membranas dos
tecidos variam em sua permeabilidade a solutos específicos. Esta especificidade
tissular é crítica para a função, como observado na variação de permeabilidade
celular a solutos através do néfron.

Figura 144: Esquematização das trocas entre os fluidos dos compartimentos corporais.
o Água: a água é capaz de passar por osmose de qualquer compartimento para
outro, em um processo conhecido como osmose. A osmose é dependente da
osmolaridade dos compartimentos corporais, sendo que a maior
osmolaridade de um lado fornece pressão osmótica que “puxa” a água para
dentro de outro compartimento.
o Íons Na+: como regra geral, a membrana plasmática é impermeável a íons
sódio. Dessa forma, ele não é trocado entre os compartimentos, agindo
como o principal íon osmoticamente ativo, determinando as variações de
osmolaridade entre os compartimentos corporais.

Situações de variação de volume/osmolaridade dos compartimentos


• Equilíbrio osmolar: variações da concentração de íons osmoticamente ativos nos
diferentes compartimentos corporais determinarão serão ajustados pela própria

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osmose entre esses compartimentos, promovendo assim um mecanismo de


equilíbrio osmolar que iguala a osmolaridade entre todos os compartimentos
corporais após variações de osmolaridade desses compartimentos (ainda que essa
osmolaridade comum a todos os compartimentos não seja idêntica àquela
observada antes de um deles sofrer mudança de osmolaridade).
o Se um compartimento sofrer aumento de osmolaridade, a água dos outros
compartimentos se deslocará para este compartimento por osmose, para
igualar a osmolaridade em todos os compartimentos, que, neste caso, será
maior do que a osmolaridade inicial.
o Se um compartimento sofrer redução de osmolaridade, a água se deslocará
deste compartimento para outros compartimentos, para igualar a
osmolaridade em todos os compartimentos, que, neste caso, será menor do
que a osmolaridade inicial.
▪ Quando os deslocamentos da água envolvem alterações de volume
intracelular, são afetadas primordialmente as células neuronais.
• Resposta renal às alterações no volume plasmático e na osmolaridade: o
controle do líquido extracelular (LEC) é um processo contínuo, sendo que
alterações no volume e na osmolaridade plasmática determinam a sinalização para
que múltiplos sistemas hormonais e neurais regulem a concentração e a diluição da
urina. A integração destes sistemas é ilustrada em uma resposta integrada à
contração e expansão do volume do LEC.

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Figura 145: Resposta renal à contração de volume.


o Contração de volume do LEC: quando o volume plasmático é contraído,
os sistemas de conservação de fluido e sódio são ativados, limitando a
contração de volume adicional, por diminuição da perda de fluido na urina.
Durante a contração de volume, os rins respondem para:
▪ Aumentar simpático: o aumento da atividade do sistema nervoso
simpático aumenta a resistência vascular renal e diminui o RFG;
aumenta reabsorção tubular proximal de sódio (e água).
▪ Ativar SRAA: a ativação do sistema renina-angiotensina-
aldosterona aumenta a concentração de angiotensina II e
aldosterona, aumentando a reabsorção de sódio (e água) nos túbulos
proximais e ductos coletores, respectivamente.

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▪ Aumentar ADH: o aumento da concentração do hormônio


antidiurético faz aumentar as aquaporinas nos ductos coletores,
aumentando a absorção de água livre do soluto.

Figura 146: Resposta renal à expansão de volume.


o Expansão de volume do LEC: quando o volume plasmático é expandido,
os sistemas de conservação de fluido e sódio são revertidos, permitindo a
eliminação de fluido e a redução do volume plasmático e do LEC. Há um
papel fundamental do aumento de peptídeo natriurético atrial, pelo átrio
cardíaco direito, que leva à natriurese e diurese por:
▪ Inibir aldosterona, reduzindo sua secreção pela suprarrenal;
▪ Diminuir ADH, reduzindo sua secreção pelo hipotálamo;

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▪ Aumentar RFG, por meio do relaxamento das células mesangiais (e


também pelos efeitos vasculares sobre os vasos renais);
▪ Diminuir canais de Na+ dos ductos coletores, diminuindo assim a
reabsorção de sódio (e água).

Perda de solução isotônica

Figura 147: Contração de volume do LEC após perda de solução isotônica.

• A perda de solução isotônica reduz o volume do LEC, mas mantém o valor da


osmolaridade deste compartimento inalterado (portanto mantém a osmolaridade
geral inalterada).
• Esta condição é conhecida como desidratação isotônica, pode ocorrer por
hemorragia e por diarreia.
• Correção: a desidratação isotônica pode ser corrigida pela ingestão de solução
isotônica, aumentando o volume do LEC de volta à normalidade sem alterar a
osmolaridade que já está normal.
o Caso haja a ingestão de água pura, a osmolaridade do LEC diminuiria,
levando à osmose de água do LEC para o LIC. Isso faria o LEC voltar a
ficar com volume reduzido, não corrigindo o problema.

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Ganho de solução isotônica

Figura 148: Expansão de volume de LEC após ganho de solução isotônica.

• O ganho de solução isotônica aumenta o volume do LEC, mas mantém o valor da


osmolaridade deste compartimento inalterado (portanto mantém a osmolaridade
geral inalterada).
• Esta condição pode ocorrer por ingestão de bebidas isotônicas ou ainda por
injeção endovenosa de soro por tempo prolongado. Ela pode provocar aumento
da pressão arterial.
• Correção: o ganho de solução isotônica é corrigido por excreção de urina
isosmótica, reduzindo o volume do LEC à normalidade sem alterar a osmolaridade.

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Ganho de água pura (solução hipotônica)

Figura 149: Expansão do volume de LIC e LEC após ganho de água pura.

• O ganho de água pura aumenta o volume do LEC e também reduz a osmolaridade


do LEC.
o O organismo então age para igualar as osmolaridades de LEC e LIC,
promovendo a osmose do LEC para o LIC, diminuindo um pouco o volume
do LEC, mas que ao final da osmose continua maior do que o volume
inicial. Assim, os volumes do LEC e do LIC ficam aumentados.
o O valor da osmolaridade, idêntico para LIC e LEC, fica menor do que o
valor inicial.
• Esta condição pode ocorrer pela síndrome de secreção inadequada de ADH, na
qual há excesso de secreção de ADH, tornando o rim incapaz de excretar a mesma
quantidade de água pura que foi ingerida, reabsorvendo-a em excesso e
acumulando-a no LEC.
• Correção: o ganho de água pura é corrigido pela diurese hídrica, na qual há
redução da produção de ADH para permitir a excreção desse volume que foi
adicionado ao corpo, aumentando a osmolaridade de volta à normalidade. Com
isso, a urina será mais diluída.

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Perda de água pura (solução hipotônica)

Figura 150: Contração de volume de LIC e LEC após perda de água pura.

• A perda de água pura pelo LEC reduz o volume do LEC e também aumenta a
osmolaridade do LEC.
o O organismo então age para igualar as osmolaridades de LEC e LIC,
promovendo a osmose para o LEC, aumentando um pouco o volume do
LEC, mas que ao final continua menor do que o volume inicial. Assim, os
volumes do LEC e do LIC ficam reduzidos.
o O valor da osmolaridade, idêntico para LIC e LEC, fica maior do que o
valor inicial.
• Esta condição pode ocorrer pela não ingestão de água (para repor o volume de
água que é excretado diariamente), pelo diabetes insipidus nefrogênico (doença
em que grandes volumes de água hipotônica são excretados, por não expressão de
receptores para o ADH).
• Correção: a correção é feita pelo estímulo para a liberação do ADH, pois houve
redução do volume plasmático e aumento de osmolaridade. O ADH evita a perda
progressiva de volume do LEC, e também estimula o centro da sede para que haja a
ingesta de água pura, que por sua vez aumenta o volume plasmático e reduz a
osmolaridade.

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Ganho de sódio (solução hipertônica)

Figura 151: Expansão do volume do LEC e contração do volume do LIC após o ganho de sódio pelo
LEC.

• O ganho de sódio aumenta a osmolaridade do LEC.


o O organismo então age para igualar as osmolaridades de LEC e LIC,
promovendo a osmose para o LEC, aumentando o volume do LEC e
diminuindo o volume do LIC. Assim, o volume do LEC expande e o do LIC
contrai.
o O valor da osmolaridade, idêntico para LIC e LEC, fica maior do que o
valor inicial.
• Esta condição pode ocorrer pela grande ingestão de sódio com pouca ingesta de
água, o que aumenta a pressão arterial e ativa o centro da sede.
• Correção: há a diminuição de aldosterona e angiotensina, evitando a reabsorção
de água e sódio, permitindo que eles sejam excretados na urina, reduzindo, assim,
suas quantidades no plasma, o que reduz o volume plasmático e a osmolaridade é
reduzida de volta à normalidade. Este mecanismo é a diurese osmótica.
o Neste caso, houve aumento do volume do LEC, o que diminuiria a secreção
de ADH, mas houve aumento da osmolaridade do plasma, o que aumentaria
a secreção de ADH. Quando isso acontece, o estímulo de ADH
permanece, porém, fica diminuído, e ele ativa o centro da sede.
o Ocorre também liberação de PNA, que reduz a reabsorção de sódio e água.

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Perda de sódio (solução hipertônica)

Figura 152: Contração de volume do LEC e expansão do volume do LIC após perda de sódio pelo
LEC.

• A perda de sódio reduz a osmolaridade do LEC.


o O organismo então age para igualar as osmolaridades de LEC e LIC,
promovendo a osmose para o LIC, aumentando o volume do LIC e
diminuindo o volume do LEC. Assim, o volume do LEC contrai e o do LIC
expande.
o O valor da osmolaridade, idêntico para LIC e LEC, fica menor do que o
valor inicial.
• Esta condição pode ocorrer pela não ingestão de sódio ou pelo
hipoaldosteronismo (condição de deficiência de aldosterona, o que prejudica os
mecanismos de reabsorção de sódio, fazendo com que ele seja excretado em
excesso).
• Correção: há a aumento de aldosterona e angiotensina, intensificando a
reabsorção de sódio, o que evita sua perda progressiva pelo corpo. Com isso, ocorre
também estímulo para que o indivíduo ingira sódio.

Resumo dos distúrbios dos líquidos corpóreos


• As alterações provocadas por distúrbios dos líquidos corpóreos estão sintetizadas
na tabela abaixo:

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Volume
Tipo Condição Volume LIC Osmolaridade
LEC
Diarreia
Perda
Hemorragia Reduz Inalterado Inalterado
isosmótica Sudorese básica
Perda
Insuficiência adrenal Reduz Aumenta Reduz
hiperosmótica
Sudorese intensa
Perda
Febre Reduz Reduz Aumenta
hiposmótica Diabetes insipidus
Ganho Infusão de soro
Aumenta Inalterado Inalterado
isosmótico isotônico
Ganho Aumento da ingestão
de sal
Aumenta Reduz Aumenta
hiperosmótico
Ganho Secreção inadequada
de ADH
Aumenta Aumenta Reduz
hiposmótico

Tipos de desidratação
• Tipos de desidratação (não cai na prova): são definidos de acordo com a variação
da concentração de sódio após a concentração de volume extracelular.
o Isotônica/isonatrêmica: há perda de água e de sódio. Causas: falta de
aldosterona, insuficiência renal (deixa de reabsorver água e sódio), uso
abusivo de diuréticos. Manifestações clínicas: sede intensa, queda de
pressão arterial na posição ereta, taquicardia, cefaleia, fraqueza.
o Hipotônica/hiponatrêmica (lembrar que nem sempre uma hiponatremia está
associada à hipotonicidade): há perda de água do volume extracelular,
ficando o sódio mantido. Normalmente é uma evolução da desidratação
isotônica, pois ela ativa o centro da sede, a pessoa bebe mais água, mas essa
água é deslocada para o volume intracelular para igualar as osmolaridades.
Nesse caso, os sintomas ficam intensificados, havendo também distúrbios
neuropsiquiátricas. Outras causas são nefrites crônicas e exercícios intensos.
o Hipertônica/hipernatrêmica: há aumento de osmolaridade do volume
extracelular, provocando saída de água do volume intracelular para igualar
as osmolaridades, que agora ficarão maiores. Causa: diabetes insipido, falta
de ingestão de água. Manifestações clínicas: ressecamento da pele,
irritabilidade, sonolência, confusão mental.

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Mecanismos de ajuste de volume e osmolaridade


Hormônio antidiurético
• Produção de ADH: o ADH é produzido nos núcleos paraventricular e supraóptico
do hipotálamo e desce pelas fibras nervosas descendentes para a neuro-hipófise,
onde ele é estocado para liberação subsequente.
• Estímulos para a liberação de ADH: os estímulos se baseiam nos valores de
osmolaridade sanguínea e de volume plasmático. Tanto o volume quanto a
osmolaridade sanguíneos são modificados pela ingestão de fluido (oral ou
parenteral); pelas trocas de água e eletrólitos com os tecidos, pelas perdas normais
ou patológicas (edema); perda pelo intestino (vômito, diarreia); perda para as
cavidades corpóreas (ascite, efusão); ou perdas externas (hemorragias, suor).
o A liberação de ADH é aumentada pela alta osmolaridade sanguínea, que
sensibiliza osmorreceptores hipotalâmicos;
▪ A partir de uma osmolaridade plasmática normal de 290mOsmol/kg,
quanto maior ela for, maior a produção de ADH. Quanto menor ela
for, menor a produção de ADH. Abaixo de um certo valor (280), a
produção de ADH fica nula.
o A liberação de ADH é aumentada também pelo baixo volume plasmático,
que sensibiliza os receptores de volume carotídeos e aórticos.
▪ A variação positiva de pressão ou volume sanguíneo não leva à
produção de ADH. A variação negativa, por outro lado, sim, e
quanto maior ela for, mais ADH será produzido.
o A osmolaridade plasmática interage com a variação de pressão/volume
sanguíneo:

Figura 153: Interação da variação do volume plasmático com a variação da osmolaridade na


determinação da liberação de ADH.

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▪ Se o aumento de osmolaridade for associado a uma diminuição de


volume/pressão sanguíneo, o estímulo de ADH fica muito
intensificado.
▪ Se o aumento de osmolaridade for associado a um aumento de
volume/pressão sanguíneo, o estímulo de ADH permanece, porém,
diminuído.
• Efeitos do ADH:
o Sobre os vasos (ativa os receptores V1): na presença de ADH:
▪ O FPR é diminuído por vasoconstrição, ocorrendo assim maior
hipertonicidade do interstício medular pela minimização da depleção
de solutos pela circulação sanguínea.
▪ Ao provocar a vasoconstrição de arteríola aferente, ocorre também
redução do RFG, sendo filtrada menos água para evitar o aumento
progressivo de osmolaridade e a queda progressiva de volume
plasmático.
o Sobre o final do túbulo dista/túbulo coletor (ativa os receptores V2): o
ADH torna as paredes dos ductos coletores mais permeáveis à água e assim
permite um equilíbrio osmolar e a absorção de água para o interstício
hipertônico; excreta-se um pequeno volume de urina altamente
concentrada.
o Sobre o centro da sede: o ADH estimula o centro da sede, fazendo com
que o indivíduo sinta vontade de beber água para normalizar a alta
osmolaridade e o baixo volume plasmático.

• Diabetes insipidus: o ADH permite aos rins concentrar a urina. A insuficiência


do ADH resulta no diabetes insipidus, uma doença em que grandes volumes de
urina hipotônica são excretados.
o Diabetes insipidus central: é normalmente causado por trauma, doença
(geralmente neoplásica) ou cirurgia afetando a neuro-hipófise ou o
hipotálamo.
o Diabetes insipidus nefrogênico: é raro, sendo normalmente herdado ou
resultante de lesões renais, e envolve uma redução da expressão de
receptores V2 de ADH ou de aquaporinas tipo 2 nos ductos coletores do
rim, reduzindo a sensibilidade das células ao ADH.

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• Síndrome da secreção inapropriada do ADH (SIADH): pode ter como


etiologia as neoplasias e as infecções cerebrais/pulmonares, ou ainda as drogas
antitumorais. Essa síndrome envolve um excesso de liberação de ADH, o que
resulta em grandes volumes de urina hipertônica excretados.

Sistema renina-angiotensina-aldosterona
• Estímulos para a ativação do SRAA: o SRAA pode ser estimulado por vários
fatores, os quais sensibilizam o aparelho justaglomerular, que é também o
responsável pela ativação do SRAA.
o Baixa pressão sanguínea: o aumento de pressão sanguínea na arteríola
aferente inibe a liberação de renina pelas células justaglomerulares;
portanto, a pressão sanguínea menor promove a liberação de renina.
o Estimulação simpática β1: os nervos β1 adrenérgicos estimulam a
liberação de renina.
o Baixo fluxo tubular e baixa concentração de sódio tubular (resultantes
de baixo volume extracelular): o maior fluxo de NaCl no néfron distal
inibe a liberação de renina; o menor fluxo promove a liberação de renina.
o Baixo PNA: o PNA tem a ação de inibir a ativação do SRAA, portanto os
baixos níveis de PNA permitem a ativação deste sistema.
o Hipercalemia: o aumento da concentração plasmática de potássio estimula
a liberação de aldosterona.
o Hipocalcemia: estimula a liberação de renina.
o Aumento de prostaglandinas: estimula a liberação de renina.
• Cascata de ativação: a ativação do SRAA envolve os seguintes processos:
o As células justaglomerulares produzem a enzima proteolítica renina e a
secretam nas arteríolas aferentes;
o A renina cliva o angiotensinogênio (uma proteína plasmática secretada
pelo fígado) formando a angiotensina I;
o A angiotensina I é convertida pela enzima conversora de angiotensina
(ECA), produzida pelos pulmões, em angiotensina II, sua forma ativa;
o Para efeitos de longo prazo, a angiotensina II estimula a zona glomerulosa
do córtex da glândula adrenal a produzir aldosterona.
o A angiotensina II também faz feedback negativo sobre a liberação de
renina.

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• Efeitos do SRAA:
o Efeitos da angiotensina II:
▪ Estimula a adrenal a produzir aldosterona;
▪ Estimula o hipotálamo/neuro-hipófise a produzir ADH;
▪ Estimula diretamente a reabsorção de sódio (e, assim, de água) nos
túbulos proximais;
▪ Provoca vasoconstrição das arteríolas aferentes e eferentes, o que
resulta em um menor RFG e em retenção de sódio pelo sangue;
▪ Estimula o centro da sede, estimulando a ingesta de água para
aumentar o volume plasmático.
o Efeitos da aldosterona: a aldosterona é um mineralocorticoide que se liga
aos seus receptores citoplasmáticos na porção final dos túbulos distais e
túbulos coletores.
▪ Estimula a reabsorção de Na+ e água (por aumentar os canais de
influxo de Na+, os cotransportadores de Na+/H+, e a Na+/K+ ATPase
basolateral), o que limita as perdas urinárias;
▪ Estimula a secreção de K+, combatendo a hipercalemia.

• Hipoaldosteronismo: deficiência de produção de aldosterona, o que resulta em


contração de volume extracelular, pois o organismo está com dificuldades de
reabsorver sódio e água, sendo estes excretados pela urina. Como mecanismos
compensatórios, há aumento do tônus simpático, aumento de angiotensina II e
aumento de ADH.

• Hiperaldosteronismo: excesso de produção de aldosterona, o que resulta em


expansão de volume extracelular, pois o organismo está reabsorvendo sódio e água
em excesso. Como mecanismos compensatórios, há aumento do PNA e da
urodilatina.

Peptídeo natriurético atrial


• Estímulos para a liberação de PNA: o PNA é estimulado pelo aumento do
volume plasmático. Este aumento provoca distensão do átrio direito, evento que é
captado pelas células endócrinas atriais produtoras de PNA.
• Efeitos do PNA:
o Aumento do RFG, filtrando mais plasma e contribuindo para a redução do
volume plasmático à normalidade;

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o Redução da reabsorção de sódio (e água), permitindo que eles sejam


excretados e intensificando a compensação do aumento de volume
plasmático (isso é feito ao se inibir a Na+/K+ ATPase);
o Inibição da ativação do SRAA, inibindo, portanto, a reabsorção de sódio
(e água);
o Diurese osmótica, na qual há excreção de sal e água.

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Concentração e diluição da urina


• Osmolaridade da urina: ao longo do seu caminho no lúmen tubular, a
osmolaridade do fluido é alterada por diversos mecanismos, que determinarão a
osmolaridade final da urina, que é o parâmetro para se considerar uma urina mais
concentrada ou mais diluída.
o O fluido tubular é isosmótico tanto no ultrafiltrado quanto no túbulo
proximal.
o O interstício renal mantém uma osmolaridade de 600 a 1200mOsm/L, ou
seja, o interstício renal é hiperosmótico, e quanto mais profundo na
medula renal, maior essa osmolaridade
o Ao longo do segmento descendente da alça de Henle, há permeabilidade
elevada de água e de sal, que se movimentam passivamente através dos
compartimentos.
▪ Como o fluido tubular está com osmolaridade menor do que o
interstício, há passagem de água para este interstício.
▪ Como o interstício é hipertônico em relação ao fluido tubular, há a
passagem de sal para este fluido.
▪ Uma vez que quanto mais profundo no interstício, maior a
concentração de solutos, nas porções mais profundas da alça de
Henle, o fluido tubular terá concentração máxima de solutos, e
também máxima osmolaridade (igual à do interstício).
▪ Assim, na extremidade da alça, a urina está hiperosmótica, de
1200mOsm.
o Ao longo do segmento ascendente da alça de Henle, há transporte ativo de
sal e impermeabilidade de água. Ao longo deste segmento, o sal é
transportado de volta para o interstício, mantendo-o concentrado e
reduzindo a concentração do fluido tubular, que vai ficando cada vez mais
hiposmótico (apesar de que, ao sair da alça, o fluido terá osmolaridade
levemente maior do que a que tinha ao entrar na alça).
o No túbulo distal e túbulo coletor, a osmolaridade do fluido tubular depende
da ação hormonal, que pode tornar a urina final pode ser hipotônica,
hipertônica ou isotônica.

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Concentração do interstício renal


• Multiplicador por contracorrente: é responsável por produzir o interstício
concentrado.
o Transporte ativo de sódio na alça de Henle ascendente: na alça inteira,
em um primeiro momento, tanto o interstício quanto a urina estão
isosmóticas a 300mOsm/L. Depois, atua o transporte ativo de sódio no
segmento ascendente. O máximo que ele transporta de sódio para o
interstício é para deixar uma diferença de 200mOsm/L entre alça e
interstício. Com isso, o interstício fica com 400mOsm/L e o segmento
ascendente com 200mOsm/L. O segmento descendente fica com
300mOsm/L.
o Permeabilidade de água na alça de Henle descendente: depois, como o
segmento descendente é permeável à água, e ele está hipotônico
(300mOsm/L) em relação ao interstício (400mOsm/L), ocorre saída de água
para o interstício. Interstício e segmento descendente, portanto, ficam com
350mOsm/L.
o Novo fluxo na alça de Henle: um novo fluxo de urina empurra os
350mOsm/L do segmento descendente, levando os 350mOsm/L que lá
estavam para regiões mais profundas da alça de Henle.
▪ Com isso, o mecanismo contracorrente está fazendo com que,
quanto mais profunda a alça de Henle, mais concentrado fique a
urina em seu interior, e também mais concentrado o interstício
renal. Por isso, o mecanismo multiplicador por contracorrente
ocorre nos néfrons justamedulares, cuja alça de Henle penetra muito
no interstício.
▪ O limite deste processo é a osmolaridade máxima da alça de Henle,
de 1200mOsm/L. Como metade disso é sódio e a outra metade é
ureia, a concentração máxima de sódio dentro de uma alça de Henle,
nos néfrons que mais penetram a pirâmide renal, possuem
osmolaridade de 600mOsm/L de sódio.
• Troca por contracorrente: para manter o interstício concentrado, através dos
vasos retos.

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o Os vasos retos acompanham o aprofundamento da alça de Henle no


interstício renal. O endotélio dos capilares retos são permeáveis à água e aos
solutos.
o Assim, quando o capilar reto penetra no interstício, e o interstício vai
ficando mais concentrado, o capilar começa a perder água para o interstício
e captar o soluto.
o Na extremidade profunda do capilar reto, portanto, o sangue em seu interior
vai estar extremamente concentrado, até um máximo de 1200mOsm/L para
os que penetram mais profundamente.
o Quando o capilar começa a sair do interstício, e o interstício vai ficando
menos concentrado, o capilar começa a ganhar água e perder soluto para o
interstício.
▪ Entretanto, ele não perde todo o soluto: um leve excesso de soluto
do interstício é levado pelo capilar.
o Assim, o capilar é capaz de “tirar” e depois “devolver” o soluto do
interstício, mantendo-o concentrado adequadamente.
• Reciclagem da ureia: a ureia é um metabólito que precisa ser excretado, mas
participa da concentração do interstício. A sua reciclagem só vai acontecer se
houver ADH.
o Com o ADH, há reabsorção de água. Com isso, a concentração de ureia no
interior do túbulo distal aumenta.
o O ducto coletor é permeável à ureia, e é seguinte ao túbulo distal. Com a
concentração de ureia chegando baixa, há transporte de ureia para fora do
ducto, indo para o interstício e aumentando sua concentração lá.
o Mas a ureia precisa ser excretada. Por isso, a alça de Henle é capaz de
captar essa quantidade de ureia que foi transportada do ducto para o
interstício. Com isso, a quantidade de ureia excretada permanece a mesma,
mas agora com água diminuída devido ao ADH, portanto a urina fica com
maior concentração de ureia.
▪ Assim, tendo ADH ou não, a mesma quantidade de ureia é excretada
- a diferença é que, na presença do ADH, essa ureia é reciclada.
▪ Vegetarianos tem pouca ureia, portanto têm dificuldade de
concentrar o interstício e assim reenviar essa ureia para a urina.
• Fatores que afetam a concentração da urina:

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o Transporte ativo de sódio


o Comprimento da alça de Henle
o Fluxo na alça de Henle
o ADH
o Ureia
o Diuréticos que bloqueiam o transporte de sódio (lavagem intersticial)
• Depuração de água livre (clearance de água livre): quanto de água sem soluto está
sendo eliminada na urina. Pode-se saber se a urina está diluída (valores positivos –
existe água sem soluto na urina) ou concentrada (valores negativos – não existe
água sem soluto na urina).

Clearance de água livre = fluxo urinário – clearance osmolar

o Clearance de água livre = 1. Valor normal. Tem água livre de soluto na


urina, a urina está levemente diluída.
o Altos valores positivos de clearance. Está havendo excreção de água. A
urina está sendo diluída.
o Altos valores negativos de clearance. Está havendo reabsorção de água. A
urina está sendo concentrada.
o Clearance igual a zero. Urina isosmótica. Ocorre quando há uso de
diuréticos que agem na alça de Henle, por exemplo.

Homeostase de potássio
• Normalmente o potássio está em baixa concentração no plasma. A maior parte está
dentro das células. Assim, qualquer alteração de potássio por mínima que seja
aumenta essa concentração plasmática.
• Quando o potássio é ingerido, a concentração dele no plasma aumenta, precisando a
célula captá-lo pela bomba de sódio e potássio, que é ativada por aldosterona,
insulina e epinefrina.
• Condições:
o Hipocalemia: reduz o potencial de membrana das células. Dificulta a
despolarização das células. Sintoma: astenia.
o Hipercalemia: aumenta o potencial de membrana das células. Facilita
demais a despolarização das células. É assintomática. Pode levar a
fibrilação ventricular.

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• Quando há uma dieta rica em potássio, há excreção do potássio principalmente


pelos rins (a excreção pelo intestino é insignificante). Assim, em um indivíduo
normal ou com potássio aumentado, tem-se no néfron:
o Reabsorção de cerca de 90% de potássio até o ducto coletor.
o No ducto coletor, entretanto, a célula principal é capaz de secretar o
potássio, aumentando os valores de tal forma a excretar no máximo 80% do
potássio sanguíneo na urina. A ativação da célula principal é feita pela
aldosterona, estimulada pela hipercalemia.
• Quando há uma dieta pobre em potássio:
o Permanece a reabsorção de quase 90% de potássio até o ducto coletor.
o Na ausência de aldosterona (pela hipocalemia), as células principais não
agem, mas sim as células intercalares, capazes de reabsorver potássio.
Assim, apenas cerca de 1% do potássio é excretado.
• Hipercalemia sem ser por dieta:
o Deficiência de insulina (perde estímulo da secreção de potássio)
o Jejum prolongado (perde insulina)
o Quimioterapia (rompe membrana das células tumorais, derramando potássio
no sangue)
o Queimaduras (rompe membrana das células, derramando potássio no
sangue)
o Acidose (secreta o excesso de H+ sanguíneo às custas de reabsorver K+ em
excesso)
o Antagonistas β2-adrenérgicos
o Hiperosmolaridade plasmática (dificulta a ação da bomba de sódio e
potássio, dificultando a secreção de K+)
• Hipocalemia sem ser dieta:
o Insulina (estimula secreção de potássio)
o Hiposmolaridade plasmática (intensifica a ação da bomba de sódio e
potássio, intensificando a secreção de K+)
o Alcalose (retém o H+ no sangue, trocando-o pouco com o K+ que é
reabsorvido)
o Agonistas β2-adrenérgicos

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Regulação renal do equilíbrio ácido-base


• A concentração do íon hidrogênio livre no plasma (pH sanguíneo) é extremamente
baixa, de cerca de 40nEq/L, e as variações normais são de apenas 3 a 5nEq/L.
Portanto, existe uma final regulação dos níveis de H+. Isso ocorre devido a dois
motivos:
o Os íons H+ afetam a estrutura terciária de macromoléculas como proteínas,
ácidos nucleicos e lipídeos. Consequentemente, afetam as propriedades
funcionais dessas moléculas.
o Os íons H+ afetam a excitabilidade das células nervosas e musculares.
• Os ácidos dos quais são derivados esses íons H+ são continuamente produzidos
pela atividade metabólica dos carboidratos e gorduras. O ácido carbônico é o mais
abundante, relacionado ao CO2 que é transportado pelo sangue, portanto é volátil e
continuamente expelido pelos pulmões. Já a produção de outros ácidos é reduzida e
resulta do metabolismo de aminoácidos, e estes não são voláteis, sendo chamados
de ácidos fixos, precisando ser expelidos com a urina.
• Acidificação da urina: a produção de ácidos fixos pelo organismo depende da
dieta. Sua concentração no sangue irá ser refletida no pH da urina. Por isso, a urina
de uma pessoa com dieta rica em proteínas é ácida (pH em torno de 5,5 com
máximo de 5,0), enquanto a urina de vegetarianos é mais alcalina (pH em torno de
7,0 a 8,0).
o Processos que produzem ácido fixos incluem:
▪ Catabolismo de aminoácidos com enxofre, como cisteína e
metionina (produz ácido sulfúrico);
▪ Catabolismo de ácidos nucleicos (produz ácido fosfórico e ácido
úrico);
▪ Jejum, situações fisiopatológicas, exercício (produz corpos
cetônicos, ácido lático, ácido acetoacético e ácido beata-
hidroxibutírico).
o O principal tampão da urina é o fosfato, tanto que ele é secretado na urina
quando atinge o seu máximo de filtração no glomérulo. Outros tampões são
a ureia e a creatinina.

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Controle do pH dos fluidos corporais


• Sistema tampão químico: atua imediatamente, combinando-se com os ácidos ou
com as bases para evitarem alterações excessivas de pH nos fluidos. Constituem a
primeira linha de defesa contra essas variações.
o Os principais tampões extracelulares são:
▪ Bicarbonato/dióxido de carbono
▪ Fosfato inorgânico
▪ Proteínas plasmáticas
• Sistema respiratório: regula a remoção de CO2 e H2CO3 do sangue. Ele atua em
segundos/minutos e é utilizado como segunda linha de defesa.
o A ventilação é capaz de regular o pH por determinar a taxa de remoção de
CO2: quanto maior a ventilação, menos CO2, menos ácido carbônico, maior
a alcalinidade.
• Sistema renal: excretam urina alcalina ou ácida, ajustando o pH sanguíneo para a
normalidade em situações de alcalose ou acidose. Este mecanismo atua lentamente
(horas a dias), mas de forma mais potente.

OBS
• A membrana luminal possui:
o Cotransportador de sódio e glicose para a célula
o Cotransportador de sódio e aminoácidos para a célula
o Cotransportador de sódio e fosfato, lactato e citrato para a célula
o contratransportador de sódio (influxo) e hidrogênio (efluxo)
▪ O hidrogênio advém do gás carbônico captado pela célula. Uma vez
dentro dela, o gás carbônico é convertido em hidrogênio e
bicarbonato pela anidrase carbônica. Assim, o hidrogênio é
excretado na urina
▪ Se houver inibição da anidrase carbônica, haverá menos reabsorção
de sódio, portanto. Então, alguns diuréticos agem inibindo a anidrase
carbônica
▪ Outros diuréticos possuem uma ação de aumentar a osmolaridade da
urina, dificultando a reabsorção de água.
o A membrana basolateral possui:
▪ Bomba de sódio e potássio

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▪ Transportador de glicose para o sangue


▪ Transportador de aminoácidos para o sangue
▪ Transportador de fosfato, lactato e citrato para o sangue
▪ Transportador de bicarbonato
 Conforme mencionado, o bicarbonato advém da conversão
do gás carbônico em hidrogênio e bicarbonato no interior da
célula. Assim, o bicarbonato é reabsorvido para o sangue.

Sistema renal de controle do pH


• Os rins precisam excretar o ácido fixo do sangue e evitar a perda do bicarbonato na
urina.
o Por isso, a reabsorção de HCO3 é praticamente completa ao longo do
néfron, em seus vários segmentos (principalmente no túbulo proximal),
fazendo com que praticamente não seja excretado pela urina.
o As células do néfron também são capazes de produzir certa quantidade de
bicarbonato novo para o sangue, mecanismo importante para o combate da
alcalose sanguínea, e que origina a acidez titulável da urina.
• Mecanismo de reabsorção de bicarbonato:

Figura 154: Mecanismo celular para reabsorção de HCO3- filtrado pelas células do túbulo proximal.
o A reabsorção de bicarbonato ocorre principalmente quando há a passagem
de CO2 da urina (a partir da conversão de H2CO3 da urina em H2O e CO2

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pela anidrase carbônica) para a célula tubular. No interior dessa célula, esse
CO2 reage com a água, catalisado pela anidrase carbônica, e forma o
bicarbonato.
o O mecanismo de passagem do bicarbonato para o sangue ocorre juntamente
com a passagem de sódio para o sangue também. Esse sódio, por sua vez,
está sendo reabsorvido da urina ao mesmo tempo em que hidrogênio está
sendo secretado.
▪ Por isso, pessoas com contração de volume sanguíneo possuem uma
alcalose sanguínea: na contração de volume, a quantidade de sódio
reabsorvido será maior (para reabsorver mais água e assim evitar a
perda o volume sanguíneo), portanto a quantidade de hidrogênio
secretado será maior. Assim, associada à alcalose sanguínea, haverá
uma acidose urinária.
• Ação das células intercalares: tanto secretam H+ quanto bicarbonato.
o O mecanismo de secreção de H+ é pela:

Figura 155: Secreção de H+ pela célula intercalar.


▪ Bomba de H+ e K+: há secreção de H+ e reabsorção de K+ (ativa
apenas quando há hipocalemia)

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▪ Bomba de H+: secreta H+ na urina, fazendo com que o bicarbonato


da urina reaja com ele e forme CO2. Esse CO2 é reabsorvido pela
célula.
▪ O CO2 reabsorvido forma bicarbonato novamente, e este é enviado
ao sangue.
o Necessidade de secreção de bicarbonato (ocorre em situações de alcalose
sanguínea):

Figura 156: Secreção de bicarbonato pela célula intercalar.


▪ O CO2 da célula é convertido em bicarbonato e H+
▪ O bicarbonato é secretado na urina
▪ O H+ é enviado para o sangue por uma bomba. Isso ajuda a
combater a alcalose.
• H+ na urina: na urina, os íons H+ não podem ser liberados livremente, eles
precisam ser tamponados. Os principais tampões da urina são o fosfato e a
creatinina (além de amônia). Isso origina a acidez titulável da urina, mesmo em um
indivíduo saudável.

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Figura 157: Produção de novo H+ e novo bicarbonato.


o Importante notar que este H+ excretado é produzido principalmente no final
do túbulo distal e coletor, pelas células intercalares. Este H+ é novo, isto é,
não advém do CO2 reabsorvido na urina, mas do próprio funcionamento
célula alfa-intercalar. Como consequência, novo bicarbonato é produzido
também.
• Mecanismo alternativo de produção de novo bicarbonato: ocorre principalmente
nas células do túbulo contorcido proximal.

o A célula metaboliza glutamina, produzindo bicarbonato e amônio.


o O novo bicarbonato é enviado ao sangue.
o O íon amônio é secretado na urina de duas formas:

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▪ contratransporte com o Na+


▪ Conversão de amônio em H+ e NH3. O NH3 passa diretamente pela
membrana. O H+ é contratransportado com o sódio. No segmento
ascendente da alça de Henle, o íon amônio e a amônia são liberados
no interstício, sendo recapturados no ducto coletor. No ducto
coletor, essa amônia reage com o H+ que está sendo secretado,
formando amônio novamente. Assim, muito amônio é excretado na
urina.
• Assim, a acidez da urina advém de três fatores:
o Ácido fixo (50%)
o Secreção de novo bicarbonato para o sangue e de hidrogênio adicional para
a urina tamponado por amônio, creatinina, ureia (acidez titulável da urina)
o Secreção de íon amônio (30%)
▪ Na insuficiência renal, as funções de secreção e reabsorção são
prejudicadas. Por isso, a quantidade de ácido na urina será reduzida
(principalmente pela não secreção de fosfato e de íon amônio), e a
urina será alcalina.
▪ Na acidose prolongada, o metabolismo de aminoácidos no fígado é
diminuído porque este ocorre a partir de reações de desaminação que
produzem amônia e liberem H+. Então as células tubulares renais
passam a realizar reações de desaminação em proteínas, como a
glutamina liberando íon amônio como forma de eliminação dos
compostos nitrogenados sem aumentar a concentração de H+ no
plasma.
• Em resumo, a secreção de H+ pode estar representando tanto reabsorção de
bicarbonato quanto geração de novo bicarbonato:
o Se o H+ secretado para a urina é tamponado por bicarbonato, isso
corresponde à reabsorção de bicarbonato (mecanismo importante para o
ajuste de uma acidose, por exemplo);
o Se o H+ secretado para a urina é tamponado por outros tampões (fosfato,
amônia, creatinina), isso corresponde à geração de novo bicarbonato;

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• Condições anormais do equilíbrio acidobásico:

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