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FISIOLOGIA
2º Período Medicina UFG
Sumário
FISIOLOGIA CARDÍACA ....................................................................................................................... 7
O CORAÇÃO ....................................................................................................................................................... 8
SISTEMA DE CONDUÇÃO INTRÍNSECO DO CORAÇÃO .................................................................................................. 10
POTENCIAIS CARDÍACOS ...................................................................................................................................... 11
Potencial de ação do cardiomiócito ........................................................................................................ 12
Potencial de ação nodal .......................................................................................................................... 14
MICROCIRCULAÇÃO ............................................................................................................................ 57
HEMODINÂMICA ................................................................................................................................. 65
ELETROCARDIOGRAFIA ........................................................................................................................ 79
RINS...................................................................................................................................................199
FISIOLOGIA
CARDÍACA
Eletrofisiologia cardíaca
• A circulação corporal se processa em dois circuitos:
o Circulação sistêmica, de alta pressão;
o Circulação pulmonar, de baixa pressão.
O coração
• O coração é um órgão composto de quatro câmaras, responsáveis por bombear o
sangue nas duas circulações. O funcionamento básico do coração é o seguinte:
Potenciais cardíacos
• Para que haja o funcionamento correto do sistema de Purkinje, e, portanto, do
coração como um todo, é preciso que haja uma dinâmica saudável dos potenciais
de membrana das células que compõem o coração. Para que isso ocorra, é
necessário que o corpo mantenha a homeostase, isto é, a correta concentração de
substâncias químicas nos diversos compartimentos corporais. Por isso, os valores
das concentrações químicas ao longo do organismo são fatores que interferem nos
valores do potencial de membrana das células (assim, doenças que provoquem
desbalanço químico no corpo podem prejudicar fortemente o correto
funcionamento cardíaco).
• Outro fator que interfere nos valores do potencial de membrana das células é sua
permeabilidade aos íons que a atravessam. Por isso, Goldman, Hodgkin e Katz
formularam maneiras para calcular o potencial de membrana de uma célula,
levando em conta ambos os fatores: o gradiente de concentração química dos íons;
e a permeabilidade individual desses íons na membrana.
o Dessa forma, quanto mais permeável é um íon naquela membrana, mais
próximo o potencial desta membrana estará do potencial de Nernst daquele
íon. Diferentes células podem ter diferentes permeabilidades, e, portanto,
diferentes potenciais.
Figura 3: Dinâmica de abertura e fechamento dos canais iônicos e sua correspondência nos valores dos
potencias de ação dos cardiomiócitos.
o Em 0, ocorre súbita despolarização devido aos canais de sódio INa, que se
fecham rapidamente, e o potencial para de subir.
o Em 1, ocorre súbita, porém breve, repolarização devido aos canais de
potássio transientes de fluxo Ito, que se abrem e fecham rapidamente.
o Em 2, os canais de potássio retificadores retardados IK ainda estão se
abrindo, promovendo um efluxo crescente de potássio. Ao mesmo tempo,
os canais de cálcio ainda estão se fechando, promovendo um influxo
decrescente de cálcio. Isso faz com que exista um platô com tendência para
a repolarização.
o Em 3, os canais de potássio retificadores retardados IK continuam a se abrir,
promovendo uma repolarização contínua, mas os canais de íons positivos já
estão fechados. Dessa forma, não se tem mais o platô e a repolarização fica
mais acentuada.
o Em 4, o fechamento dos canais de potássio retificadores retardados I K e a
abertura dos canais de potássio retificadores de influxo IK1 faz com que o
potencial de membrana volte ao valor normal.
Figura 4: Dinâmica de abertura e fechamento dos canais iônicos e sua correspondência nos valores dos
potencias de ação dos nodos.
Contração do miocárdio
• Contração do cardiomiócito: tal qual nas fibras musculares esqueléticas, a
propagação do potencial de ação pelos túbulos T dos cardiomiócitos faz com que a
diidropiridina ative o receptor de rianodina do retículo sarcoplasmático, que se
abre e permite o fluxo de íons cálcio para o citoplasma. Entretanto, no músculo
cardíaco, o que existe é o receptor de rianodina tipo II na membrana do retículo
sarcoplasmático, que é ativado por íons cálcio. Este segundo tipo é que realmente
será significativa para a contração do coração:
o A diidropiridina é um canal de cálcio voltagem-dependente. No músculo
cardíaco, quando essa diidropiridina é ativada pela propagação do potencial
de ação do nodo sinoatrial, ela permite um influxo de cálcio para o
citoplasma, ativando a rianodina tipo II, que por sua vez libera mais ainda
íons cálcio para o citoplasma., ativando mais receptores de rianodina tipo II,
e assim sucessivamente. Assim, em um efeito de feedback positivo, cada
vez mais canais rianodina tipo II são abertos, e cada vez mais íons cálcio
são liberados no citoplasma.
o Essa grande quantidade de cálcio no citoplasma permite, portanto, a
contração efetiva do músculo cardíaco. Assim, de todos os íons Ca2+
responsáveis para que essa contração seja efetiva, 80% provém do retículo
sarcoplasmático, e 20% provém do meio extracelular.
Relaxamento do miocárdio
• Relaxamento do cardiomiócito: findada a contração do músculo cardíaco, o cálcio
precisa ser removido do citoplasma para que a fibra relaxe. Os mecanismos de
relaxamento são:
Participação da fosfolamban
• Fosfolamban: a proteína fosfolamban tem a função constitutiva de inibir a
atividade do canal SERCA. Trata-se de uma proteína que fica inativa quando é
fosforilada.
o Uma vez que a estimulação simpática induz a ação das quinases, e as
quinases promovem a fosforilação, então conclui-se que, nos
cardiomiócitos, o simpático inativa a fosfolamban. Portanto, o simpático
ativa a SERCA, que conduz íons cálcio do citoplasma para o retículo
sarcoplasmático. Dessa forma, o relaxamento muscular do miocárdio é
acelerado.
o A inativação da fosfolamban é, assim, um mecanismo adicional ao
aumento da permeabilidade dos canais iônicos provocado pela estimulação
simpática, que faz com que haja um maior influxo de cálcio para a o
citoplasma, acelerando a contração do cardiomiócito.
▪ Dessa forma, o relaxamento muscular acelerado, durante a
estimulação simpática, acaba sendo sucessivo a uma contração
muscular acelerada que esta estimulação simpática também
promove. É dessa maneira que o simpático leva à taquicardia: o
coração contrai e relaxa de maneira acelerada.
Ciclo cardíaco
• Parâmetros importantes para a compreensão do ciclo cardíaco:
o Pré-carga: tensão gerada nas paredes dos ventrículos pelo sangue neles
acumulado, ao final da diástole ventricular. É proporcional ao volume de
sangue acumulado, por isso, o aumento de volume sanguíneo faz com que a
pré-carga aumente (por exemplo, insuficiência de válvula mitral).
o Pós-carga: tensão sofrida pelas paredes dos ventrículos durante a sístole,
que aumenta crescentemente até um valor máximo. A pós-carga, dessa
maneira, sofre aumento quando há dificuldade para ejetar o sangue (por
exemplo, por compressão da a. aorta, estenose aórtica e hipertensão
arterial).
Figura 7: Gráfico das variações do eletrocardiograma, da pressão, do volume e das bulhas cardíacas ao
longo de um ciclo cardíaco.
Pressões do coração
Figura 9: Variação da pressão na aorta, no ventrículo esquerdo e nos átrios ao longo de um ciclo
cardíaco.
• Pressão atrial: aumenta um pouco durante a sístole atrial mas volta a cair
rapidamente; se iguala à pressão ventricular provocando o fechamento das valvas
atrioventricular; sobe brevemente devido a um quase prolapso das valvas
atrioventriculares (provocado pela sístole ventricular) e reduz rapidamente; sobe
gradativamente à medida em que os átrios se enchem de sangue; volta a cair
quando a valva atrioventricular se abre e o sangue flui para os ventrículos;
permanece baixa até uma nova sístole atrial, reiniciando o processo.
• Pressão aórtica: sofre um aumento súbito quando a valva aórtica se abre e há
ejeção de sangue pelo ventrículo na sístole ventricular; atinge um máximo chamado
pressão sistólica; se reduz à medida em que a pressão ventricular esquerda também
reduz; sobe novamente devido ao fechamento da valva aórtica e à tentativa de
refluxo sanguíneo, formando a pressão dicrótica; se reduz continuamente até uma
nova sístole ventricular, atingindo um mínimo chamado pressão diastólica no
momento instantâneo de uma nova abertura da valva aórtica, reiniciando o
processo.
• Pressão ventricular esquerda: começa baixa, menor que a pressão atrial, durante
a diástole, para permitir que o sangue flua a partir do átrio esquerdo; aumenta e
diminui brevemente durante a sístole atrial; no início da sístole ventricular, sobe e
se iguala primeiramente à pressão atrial fechando a valva atrioventricular; continua
Figura 10: Gráfico da variação do volume ventricular esquerdo ao longo de um ciclo cardíaco.
Figura 12: Gráfico pressão x volume no ciclo cardíaco após fator causador de aumento súbito da pós-
carga.
Figura 13: Gráfico pressão x volume no ciclo cardíaco após fator causador de aumento do volume
sistólico.
Figura 14: Gráfico pressão x volume no ciclo cardíaco após fator causador de aumento da pré-carga.
Figura 15: Gráficos de tendência pressão x volume com a progressão da insuficiência cardíaca,
havendo aumento da pré-carga e queda da pós-carga.
𝑃𝐴 = 𝐹𝐶 × 𝑉𝑆 × 𝑅𝑃𝑇
Figura 17: Gráfico demonstrando o efeito quase imediato e pouco duradouro do SNA parassimpático
sobre a frequência cardíaca, provocando bradicardia.
• SNA simpático: as fibras simpáticas que partem dos troncos simpáticos irão
inervar todos os elementos do coração (cardiomiócitos atriais, cardiomiócitos
ventriculares e nodos). A principal ação do SNA simpático será o de provocar
taquicardia.
o A estimulação simpática é relativamente demorada, mas é duradoura. Seu
efeito de aumento da frequência cardíaca é lento, mas, quando essa
estimulação cessa, a frequência cardíaca demora a voltar para níveis
normais. O motivo disso acontecer é que as fibras simpáticas operam com
norepinefrina, neurotransmissor que demora a se difundir pelos tecidos
para, assim, parar de agir na região que foi liberado.
Figura 18: Gráfico demonstrando o efeito lento e muito duradouro do SNA simpático sobre a
frequência cardíaca, provocando taquicardia.
Figura 19: Efeito dos bloqueadores sobre a frequência cardíaca. A atropina tem um efeito
taquicardíaco quase imediato por inibir o SNA parassimpático. O propranolol tem um efeito
bradicardíaco lento por inibir o SNA simpático. A frequência cardíaca fisiológica, evidente no começo
das curvas, é menor do que a frequência cardíaca intrínseca, evidente no final das curvas.
Reflexo barorreceptor
• Reflexo barorreceptor (barorreflexo): a função do barorreflexo é estabilizar a
pressão arterial, e não a normalizar. Ou seja, a sua função é evitar que a pressão
arterial fique muito oscilante (pois há uma extensa variedade de fatores capazes de
alterar a pressão arterial a todo o momento), mas ele é incapaz de ajustar a pressão
não-oscilante para valores normais.
o Isso significa que, caso uma pessoa seja hipertensa, o barorreflexo não irá
ser responsivo à alta pressão arterial que a pessoa já possui.
• No organismo, a variação da pressão arterial é muito frequente, portanto o
barorreflexo atua quase que constantemente.
• Para que o barorreflexo funcione, são necessários dois tipos de agentes: os
detectores de variação da pressão arterial e os executores do controle da pressão
arterial.
o Os detectores da variação da pressão arterial são os barorreceptores,
fibras aferentes sensíveis à pressão localizadas no arco aórtico e no seio
carotídeo. A deflagração de potenciais de ação nos barorreceptores ocorre
quando há variação da pressão arterial, provocando distensão (pressão
arterial aumentada) ou relaxamento (pressão arterial reduzida) dos vasos
Figura 20: Quando a pressão arterial nos seios carotídeos está aumentada, a atividade parassimpática
(vagal) será estimulada. Quando a pressão arterial nos seios carotídeos está diminuída, a atividade
simpática será estimulada.
Reflexo de Bainbridge
• Reflexo de Bainbridge: diferente do barorreflexo, que atua quase constantemente,
o reflexo de Bainbridge ocorre praticamente apenas em situações patológicas em
que há aumento do volume de sangue circulante (aumento de volemia -
hipervolemia), como em uma infusão intravenosa.
Figura 21: Efeitos antagônicos do barorreflexo e reflexo de Bainbridge durante uma hipervolemia.
Figura 22: Variação de FC, DC e VS para situações de depleção e sobrecarga de volume sanguíneo.
Influência da respiração
• Respiração: existe uma oscilação da frequência cardíaca relacionada aos
movimentos respiratórios, conhecida como arritmia sinusal respiratória, que é
fisiologicamente normal. Essa arritmia é caracterizada basicamente por uma
variação no intervalo entre as ondas do complexo QRS do ECG, mas que está
dentro da normalidade do organismo.
Figura 23: Arritmia sinusal respiratória. A expiração coincide com aumentos do parassimpático e
redução da FC; a inspiração coincide com aumentos do simpático e aumento da FC.
Reflexo quimiorreceptor
• Reflexo quimiorreceptor: é um reflexo que atua em situações patológicas como a
insuficiência respiratória, possuindo um efeito primário e um efeito secundário.
Figura 24: Demonstração do efeito primário do reflexo quimiorreceptor sobre a frequência cardíaca: a
hipoxemia provoca a queda da frequência cardíaca.
Figura 25: Efeitos antagônicos da insuficiência respiratória sobre a frequência cardíaca. Em geral, o
efeito primário é preponderante nos casos de insuficiência respiratória devido ao prejuízo da atividade
mecânica voluntária da respiração.
proteínas tão reduzida, que actina e miosina irão perder sua ligação,
o que diminui bruscamente a capacidade contrátil.
Teoricamente, isso tornaria o volume sistólico constante (a
contratilidade ficaria baixa, mas ejetando uma mesma
quantidade de sangue) mesmo com aumento do volume
diastólico final. Entretanto, um aumento progressivo do
volume diastólico final faz com que haja um aumento
também progressivo da tensão σ sobre as paredes do coração,
𝑃×𝑟
conforme previsto pela lei de Laplace 𝜎 = 𝜂
devido ao
Figura 26: Gráfico de volume sistólico x volume diastólico final. Ambos seguem diretamente
proporcionais devido à regulação intrínseca, até um certo limite posterior ao comprimento ótimo do
sarcômero. A partir deste limite, o aumento do volume diastólico final e do comprimento da fibra
muscular fazem com que o volume sistólico reduza, devido ao aumento da tensão sobre a parede da
câmara cardíaca.
Figura 27: Efeito escada positivo. A curva verde mostra o mecanismo de Frank-Starling em condições
normais, e a roxa, durante uma estimulação simpática. Tem-se que, para um mesmo volume diastólico
final, o volume sistólico será maior durante a ação do simpático, devido ao aumento da capacidade
contrátil do coração.
Alteração da pré-carga
• Pré-carga: um aumento da pré-carga, em situações normais, aumenta o volume
sistólico, que aumenta o débito cardíaco. A pré-carga, por sua vez, é determinada
pelo volume diastólico final, que por sua vez está condicionado ao retorno
venoso. O retorno venoso pode variar dependendo de vários fatores:
o Posição do corpo;
o Prática de exercícios físicos;
o Respiração;
o Volemia;
o Competência das válvulas venosas;
o Atividade do sistema nervoso autônomo simpático (que é o único a inervar
a circulação periférica, portanto, as veias que promovem o sistema venoso).
O simpático, via de regra, provoca venoconstrição, que aumenta o
retorno venoso.
Alteração da pós-carga
• Pós-carga: também modula o volume sistólico, sendo que, em uma situação inicial,
o aumento da pós-carga diminui o volume sistólico. Em uma situação posterior,
isso será compensado posteriormente por hormônios adrenérgicos, em uma
condição bifásica chamada de efeito Anrep, que termina no aumento do volume
sistólico. Por isso, o efeito da pós-carga sobre o volume sistólico é variável
dependendo das condições imposta sobre o organismo.
o Entre os fatores que alteram a pós-carga, tem-se: resistência arterial,
complacência aórtica, contração muscular estática, e formato geométrico do
ventrículo (lei de Laplace).
que o coração se enche de sangue. Com a redução do volume de sangue que enche
o coração, haverá, portanto, menos sangue sendo ejetado. Conclui-se que o
aumento da frequência cardíaca diminui o volume sistólico. Como essa
dinâmica se refletirá sobre o débito cardíaco, entretanto, irá depender de algumas
condições:
o Em uma condição inicial, a diminuição do volume sistólico provocado pelo
aumento da frequência cardíaca é muito insignificante. Assim, com
aumento significativo de FC e redução insignificante de VS, o resultado é o
aumento do DC.
o Em uma condição prolongada de aumento da frequência cardíaca, por
outro lado, ocorrerá redução significativa do volume sistólico também.
Assim, com aumento significativo de FC e redução significativa de VS, o
resultado é a praticamente não alteração do DC. Entretanto, devido à
condição inicial, este valor de DC já terá ficado muito alto – o DC fica
estabilizado em níveis altos, portanto.
o Patologicamente, em um excesso de aumento da frequência cardíaca, o
volume sistólico fica excessivamente reduzido, e agora preponderante para
determinar o débito cardíaco: o DC será reduzido.
Figura 28: Gráfico que demonstra a dinâmica de alteração do volume sistólico e do débito cardíaco
com o aumento progressivo da frequência cardíaca. O volume sistólico sempre se reduz. O débito
cardíaco aumenta, se estabiliza a altos níveis e então se reduz.
Circulação coronariana
Figura 30: Vasos especiais do coração: (1) vasos tebesianos levando sangue venoso ao ventrículo; (3)
vasos arteriossinusoidais desembocando em um seio; (5) vasos arterioluminais desembocando
diretamente na câmara cardíaca.
o Outro local de ocorrência do shunt é na circulação brônquica. Nela,
existem os vasos nutridores do parênquima pulmonar, que, ao nutrirem as
células do pulmão, passam a circular sangue venoso. Estes vasos então se
anastomosarão com as veias pulmonares, que conduzem o sangue arterial
resultante da hematose para o átrio esquerdo.
Figura 31: Dinâmica de alteração do fluxo coronariano nas duas artérias coronárias, conforme as
alterações sofridas pela pressão aórtica.
Microcirculação
• Microcirculação: trata-se da circulação do sangue pelos menores vasos do corpo:
o Arteríolas: vasos que possuem tecido elástico, tecido muscular e tecido
fibroso. Via de regra, saem das artérias de maior calibre e desembocam nos
capilares.
o Capilares: vasos que possuem apenas endotélio. Via de regra, recebem
sangue a partir de arteríolas, realizam as trocas com as células do corpo e
desembocam em vênulas.
o Vênulas: vasos que possuem endotélio com tecido fibroso. Via de regra,
drenam o sangue dos capilares para as veias de maior calibre.
Figura 32: Diagrama esquemático das diferenças entre os tipos de vasos sanguíneos da
macrocirculação e da microcirculação (boxe quadriculado)
Figura 33: Gráfico comparativo da área de secção transversa e da velocidade do fluxo sanguíneo nos
diferentes tipos de vasos sanguíneos. Essas duas grandezas são inversamente proporcionais: dessa
forma, os capilares possuem a maior área de secção transversa e a menor velocidade de fluxo
sanguíneo.
o Fenestração: a parede dos capilares é formada por células endoteliais com
fenestras (aberturas), garantindo a permeabilidade do capilar para que haja
o efetivo intercâmbio de substâncias entre o sangue e as células do corpo.
Figura 34: Efeito do grau de contração dos esfíncteres pré-capilares sobre a perfusão sanguínea nos
diversos vasos capilares que compõem a rede capilar.
Troca transcapilar
• O intercâmbio de substâncias entre o sangue (dentro do capilar) e interstícios e
células teciduais (fora do capilar) é intermediado pelo vaso capilar, composto de
endotélio; assim, as trocas transcapilares representam o papel passivo do endotélio
capilar. A troca transcapilar pode ocorrer por três rotas:
o Através das fenestras capilares;
o Através da membrana do endotélio capilar;
o Por pinocitose.
Equilíbrio de Starling
Hemodinâmica
Vasos sanguíneos arteriais
• As artérias são os vasos sanguíneos que saem do coração, conduzindo sangue até
os tecidos, sendo essa sua principal função.
• As artérias possuem grande quantidade de fibras elásticas, sobretudo nas de grande
calibre. À medida em que se afastam do coração e se ramificam, as fibras elásticas
das artérias diminuem.
• As artérias possuem musculatura lisa. A proporção entre essa musculatura e os
demais constituintes do vaso, diferentemente do que ocorre no caso das fibras
elásticas, aumenta conforme as artérias se afastam do coração e se ramificam.
Figura 39: Representação das frentes de onda na aorta, resultantes dos picos de pressão gerados pelo
coração.
o Quanto mais as artérias se afastam do coração e se aproximam dos
capilares, mais constante se torna o fluxo sanguíneo. Isso ocorre porque há
um acúmulo de energia no interior das artérias mais próximas do coração à
medida em que elas se distendem durante as sístoles e relaxam durante as
sístoles. Assim, essa energia pulsante não é distribuída às artérias mais
distantes do coração, não afetando o fluxo sanguíneo no interior delas.
▪ Assim, considera-se que, no interior dos tecidos, o fluxo sanguíneo
é constante e sem variação de velocidade.
(para se ter uma ideia, enquanto na aorta o sangue passa por uma única área
transversal de 2,8cm2 nos capilares o sangue passa por uma área transversal
conjunta de 1357cm2).
o A viscosidade do sangue (muito relacionada ao hematócrito, e normalmente
igual a 3 vezes a viscosidade da água). Ela cria uma força de atrito entre os
elementos do sangue e a parede interna dos vasos que é capaz de reduzir a
intensidade do fluxo sanguíneo no interior dos vasos, reduzindo também a
pressão arterial.
Figura 40: Gráfico da variação da pressão sanguínea ao longo dos diferentes segmentos da circulação.
o Desde a aorta até as pequenas artérias, a pressão é alta e muito oscilante.
o Nas arteríolas, a pressão passa a oscilar menos e diminuir de valor.
Figura 41: Variação da velocidade de um fluido para um fluxo constante em tubos de diferentes raios.
Figura 42: Gráfico que correlaciona velocidade do sangue, pressão arterial e área transversal total com
cada segmento da circulação.
Lei de Poiseuille
• Lei de Poiseuille: fórmula que determina que o fluxo (Q) de um fluido através de
um tubo rígido é:
o Diretamente proporcional à diferença de pressão (∆P) entre as
extremidades do tubo;
o Diretamente proporcional à quarta potência do raio (r) do tubo;
o Inversamente proporcional à viscosidade (η) do fluido;
o Inversamente proporcional ao comprimento (l) do tubo;
o Relativo a um valor constante de π/8.
𝜋 × ∆𝑃 × 𝑟 4
𝑄=
8×𝜂×𝑙
8×𝜂×𝑙
𝑅=
𝜋 × 𝑟4
• Raio: o raio (r) do tubo, conforme verificado, afeta tanto o fluxo (Q) quanto a
resistência (R) deste tubo.
o Assim, a partir de um tubo cujas extremidades estabeleçam uma diferença
de pressão (∆P) constante, se o raio (r) deste tubo for dobrado, o fluxo (Q)
aumentará dezesseis vezes e a resistência (R) diminuirá dezesseis vezes.
Método auscultatório
• Equipamentos necessários: esfigmomanômetro, que consiste em um manguito
ligado a uma ampola de insuflação, um esfíncter de exsuflação e um manômetro
(leitor de pressão no interior do manguito); e estetoscópio, para fazer a ausculta
(detecção de sons produzidos no interior do corpo).
• Colocar um manguito ao redor do braço, inflá-lo com a ampola e obstruir a
artéria braquial.
o Para obstruir a artéria, é necessário que a pressão em seu interior seja
superada pela pressão do manguito. Isso costuma acontecer ao se insuflar o
manguito a uma pressão acima de 160mmHg.
• Com a artéria braquial obstruída, o sangue deixa de passar por ela. Neste momento,
ao se auscultar a artéria, nada será ouvido, pois ela estará colabada. Também não
haverá palpação de pulso radial na artéria radial.
• Abrir o esfíncter e exsuflar o manguito gradativa e lentamente, até que sua pressão
se iguale à pressão no interior da artéria braquial. Isso faz com que a artéria consiga
abrir um pouco, formando um canal estreito para a passagem de sangue.
• Como o sangue no interior da artéria possui uma pressão elevada, o jato de sangue
irá percorrer o canal estreito com uma força tão alta que pode ser auscultada. Uma
vez auscultado o som deste jato, deve-se ler o manômetro imediatamente para a
determinação da pressão arterial sistólica.
• Continua-se a se exsuflar gradativa e lentamente o manguito. Os sons auscultados
durante esta exsuflação são intermitentes e variáveis em intensidade. São chamados
de sons de Korotkov.
Figura 43: Representação gráfica das pressões envolvidas na geração dos sons de Korotkov. A curva
ondulatória vermelha é a pressão arterial, e a curva azul, a pressão do manguito. O primeiro momento
em que elas se tocam corresponde à pressão sistólica, e o último, à pressão diastólica.
o A natureza intermitente desses sons se deve ao fato de que a pressão no
interior da artéria braquial é oscilante (característica da pressão nas grandes
artérias). Assim, dependendo do valor de pressão ainda existente no interior
do manguito, há momentos em que a pressão do sangue vai ser alta o
suficiente para conseguir vencê-la e passar pelo canal estreito produzindo o
som auscultado; porém, há momentos em que essa pressão oscila para um
valor inferior ao do manguito, fazendo com que a artéria volte a ficar
colabada. Dessa forma, surge a intermitência dos sons: há momentos em
que eles são auscultados, e momentos de silêncio.
o A natureza de intensidade variável desses sons se deve ao fato de que eles
só são produzidos quando há um fluxo turbulento (não-laminar) de sangue
no interior do vaso, que é o caso da passagem dele pelo canal estreito. À
medida em que o manguito tem sua pressão reduzida, esse canal vai ficando
mais amplo, permitindo que mais sangue flua de forma turbulenta no
interior da artéria, o que aumenta a intensidade dos sons. Entretanto, a partir
de um certo limite, o canal vai ficando tão amplo que o sangue começa a
fluir de maneira laminar, o que reduz a intensidade dos sons. É por isso que
os sons auscultados começam fracos, ficam fortes e depois ficam fracos
novamente.
• Eventualmente, os sons ficam tão fracos que param de ser auscultados. Uma vez
que isso aconteça, deve-se ler o manômetro imediatamente para a determinação da
pressão arterial diastólica.
Figura 45: Esquematização das lâminas do fluxo sanguíneo laminar e dos elementos que nelas
circulam.
Figura 46: Esquema representativo de um fluxo sanguíneo laminar e um turbulento por obstrução.
ρ×D×v
𝑁𝑅 =
8×η
o Valores de NR até 2000 indicam fluxo laminar; entre 2000 e 3000 o fluxo é
transicional; acima de 3000, o fluxo é turbulento.
o Assim, o fluxo sanguíneo laminar é dependente da viscosidade do sangue.
Quanto menor for a viscosidade, mais turbulento será o fluxo.
• Ausculta cardíaca: o fechamento das válvulas cardíacas ao longo do ciclo
cardíaco permitirá, em uma ausculta normal do coração, escutar os sons rítmicos
típicos do coração, chamados de bulhas cardíacas. Essas bulhas podem ser
foneticamente representadas por “lub-dub”.
o Primeira bulha cardíaca: é causada pelo bloqueio súbito da tentativa de
refluxo sanguíneo dos ventrículos para os átrios, promovido pelo
fechamento das valvas atrioventriculares, no início da sístole.
o Segunda bulha cardíaca: é causada pelo bloqueio súbito da tentativa de
refluxo sanguíneo das artérias para os ventrículos, promovido pelo
fechamento das valvas semilunares, no final da sístole.
Retorno venoso
• O retorno venoso é promovido pelas veias, que são vasos que conduzem o sangue
dos tecidos para o coração. Na circulação sistêmica, elas levam sangue venoso ao
lado direito do coração para que seja enviado aos pulmões; na circulação pulmonar,
elas levam sangue arterial ao lado esquerdo do coração para que seja enviado ao
restante dos tecidos. Quando se fala em retorno venoso, toma-se por base a ação
das veias na circulação sistêmica, que drenam sangue pobre em O2 e rico em CO2.
• Pressão venosa: via de regra, a grande maioria das veias possui uma pressão
interna muito baixa, quase nula, pois não recebem o sangue ejetado diretamente do
coração. Assim, a circulação de sangue no interior das veias é muito dependente de
forças externas (nas artérias, a pressão gerada pelos ventrículos garante a
circulação), fazendo com que o volume total de sangue do corpo fique muito
concentrado nas veias, em uma porcentagem de cerca de 64%.
o Entretanto, veias em regiões mais baixas do corpo (por exemplo, nos
membros inferiores) têm uma pressão relativamente elevada, devido à
grande altura da coluna de sangue que se forma nessas veias (sabe-se que,
quanto maior a coluna de um líquido, maior a pressão hidrostática por ele
exercida).
o Veias acima do coração, por outro lado, possuem uma pressão de sentido
inverso às daquelas abaixo do coração: a força da gravidade ajuda a
direcionar o fluxo sanguíneo de volta para o coração.
• Válvulas venosas: nas regiões onde a alta coluna de sangue se forma, encontram-se
as válvulas venosas no interior da parede das veias. Essas válvulas são responsáveis
por fragmentar a alta coluna de sangue em várias colunas menores, diminuindo a
pressão hidrostática total sobre as veias.
o A ação das válvulas venosas é fecharem-se quando o sangue dentro das
veias tenta refluir, cortando, assim, a altura da coluna de sangue e
reduzindo a pressão exercida nos níveis inferiores das veias.
o O sangue acumulado entre uma válvula e outra só será impulsionado em
direção ao coração novamente quando houver contração muscular sobre as
paredes das veias, promovendo a contração passiva da veia. Essa
contração promove uma pressão de progressão que ajuda a superar a
pressão sanguínea de refluxo exercida pela coluna de sangue sobre a válvula
venosa. Quando o músculo relaxar, a pressão entre as válvulas voltará a
diminuir, permitindo que elas recebam sangue advindo de uma válvula
inferior que se contraia passivamente.
Figura 48: Fluxo sanguíneo normal em uma veia saudável, com participação das válvulas para evitar o
refluxo sanguíneo; e refluxo sanguíneo em uma veia varicosa.
• Influência sobre a pressão arterial: com cerca de 64% do volume sanguíneo total
acumulado em veias, o sistema venoso é um local de estocagem de sangue para o
sistema circulatório (essa estocagem é garantida pela complacência das veias, que
conseguem comportar mais volume de sangue que as artérias). Com isso, tem-se
que a pressão arterial é dependente do retorno venoso das veias sistêmicas para
manter seus valores normais. Se menos sangue for retornado, a pressão irá
diminuir, e se mais sangue for retornado, a pressão irá aumentar.
Eletrocardiografia
• Eletrocardiograma: é o registro do potencial elétrico médio gerado no miocárdio
em termos de voltagem e tempo durante todas as fases do ciclo cardíaco. É
importante notar que não é o estudo eletrofisiológico de uma célula isolada como o
cardiomiócito ou as células nodais (este estudo foi feito ao se analisar o potencial
de resposta rápida e o potencial de resposta lenta, mais anteriormente), mas o
estudo eletrofisiológico do coração como um todo. Elementos importantes para o
registro eletrocardiográfico são:
o Eletrodos: o instrumento utilizado para registrar os potenciais elétricos de
um organismo biológico é o eletrodo. Ele é capaz de captar a atividade
elétrica gerada por qualquer órgão do corpo, como o coração (para a
eletrocardiografia), os músculos esqueléticos (para a eletromiografia) e o
cérebro (para a eletroencefalografia).
o Registro: as informações eletrocardiográficas captadas pelo eletrodo são
traduzidas graficamente por um equipamento de registro sobre um papel, na
forma de um gráfico bidimensional, cujo eixo vertical é a voltagem em
milivolts, e o eixo horizontal é o tempo em segundos.
▪ Escala gráfica: o papel que se desenrola para ser registrado avança
a 25mm/s, tipicamente, apesar de ser possível colocá-lo a 50mm/s.
A unidade básica deste papel é um quadriculado de 5 linhas e 5
colunas medindo 0,5cmx0,5cm, assim:
A largura de cada quadriculado é de 0,2s sendo que cada
uma das 5 colunas internas do quadriculado mede 0,04s em
comprimento, para a velocidade de 25mm/s. Para a
velocidade de 50mm/s, esses valores são reduzidos à metade.
A altura de cada quadriculado é de 0,5mV sendo que cada
uma das 5 linhas internas do quadriculado mede 0,1mV em
altura.
Figura 50: Os números descrevem quantos segundos, após a despolarização do nodo sinoatrial, a
região correspondente será despolarizada.
o 0s: o nodo sinoatrial despolariza.
o 0,03s: através da condução do impulso pela rápida via internodal, o nodo
atrioventricular na região atrial despolariza.
o 0,07s: o átrio direito despolariza completamente.
o 0,09s: o átrio esquerdo despolariza completamente.
o 0,16s: o nodo atrioventricular na região ventricular despolariza.
o 0,19s: a camada interna do miocárdio de ambos os ventrículos despolariza,
iniciando a contração para a sístole ventricular.
o 0,22s: a camada externa do miocárdio de ambos os ventrículos despolariza,
reforçando a contração da camada interna, e efetivando a sístole ventricular.
▪ Importante notar que a camada externa do miocárdio ventricular
se repolarizará primeiro que a camada interna. Isso significa
que, enquanto a despolarização segue um sentido de interior para
exterior, a repolarização segue um sentido de exterior para interior.
▪ No começo e no final dos processos de despolarização e
repolarização das camadas, não há dipolo elétrico entre elas.
Entretanto, nos intervalos de cada processo, esse dipolo elétrico
entre as camadas existirá. Mas, o que era polo positivo durante a
Figura 51: Estudo do potencial elétrico de uma fibra cardíaca em despolarização e repolarização,
utilizando-se eletrodos paralelos e perpendiculares a seu eixo.
o A célula em repouso está totalmente carregada positivamente. Não há
diferença de potencial nesse momento.
o O início da despolarização faz com que os eletrodos paralelos comecem a
captar a atividade elétrica da célula.
o Do ponto de vista gráfico, quando a despolarização ainda está no seu início,
a diferença de potencial existente na célula será muito pequena, pois a área
do miocárdio despolarizada ainda será muito pequena.
o A diferença de potencial está sendo medida tendo como referência uma
extremidade que ainda está polarizada (positiva) em relação a uma
Figura 53: Esquematização da relação entre a direção e o sentido do vetor da diferença de potencial e a
onda registrada no ECG a partir de sua captação nos eletrodos em uma dada derivação.
Figura 54: Vetor da diferença de potencial elétrico na despolarização atrial. É de pequena intensidade
e no mesmo sentido da 2ª derivação, portanto gera uma onda P de pequena amplitude e deflexão
positiva.
o A distância dos polos do dipolo que surgem neste caso (vértice superior
direito do átrio direito e resto do átrio direito) é muito pequena. A onda P
tem uma baixa amplitude.
Figura 57: Vetor da diferença de potencial elétrico na despolarização ventricular tardia. É de pequena
intensidade e no sentido oposto da 2ª derivação, portanto gera uma onda S de pequena amplitude e
deflexão negativa.
Figura 59: ECG completo demonstrando os eventos que provocam cada onda e cada intervalo entre
elas.
Barorreceptores
Figura 61: Gráfico que correlaciona a pressão arterial detectada pelos barorreceptores com a
frequência de impulsos por eles enviados.
Figura 62: Gráfico de variação da pressão arterial com barorreceptores atuantes (acima) e com
barorreceptores desnervados (abaixo).
Quimiorreceptores
• Quimiorreceptores: são as chamadas células do glomo (ou células glomais),
terminações nervosas aferentes de fibras do nervo vago capazes de detectar níveis
baixos da pressão parcial de oxigênio (PO2) e níveis altos da pressão parcial de gás
carbônico (PCO2) do sangue, além da concentração de íons hidrogênio (pH) do
sangue.
o Estas células estão localizadas nos corpos aórticos e carotídeos, que são
microambientes de circulação sanguínea paralelos à aorta e à artéria
carótida comum, ou seja, neles haverá circulação de sangue que ainda não
fez nenhuma troca gasosa, permitindo que seja detectado o nível real de
oxigenação do corpo.
• Reflexo quimiorreceptor: quando a PA cai abaixo do nível crítico, há redução do
fluxo sanguíneo, o que reduz os níveis de O 2 e aumenta os de CO2 no sangue, além
de reduzir o pH. Esse desbalanço químico ativa os quimiorreceptores, cujos sinais,
uma vez captados pelo SNC, causarão o aumento da PA e da frequência
respiratória, para que possa haver então o retorno de P O2, PCO2 e pH a níveis
normais.
o O reflexo quimiorreceptor, por outro lado, é apenas um sistema acessório
para o ajuste da PA, sendo que o realmente efetivo é o reflexo
barorreceptor. A real importância do reflexo quimiorreceptor será para o
ajuste da ventilação.
Receptores cardiopulmonares
• Receptores de baixa pressão: os átrios e as artérias pulmonares têm em suas
paredes receptores de estiramento referidos como receptores de baixa pressão, uma
vez que conseguem captar variações da PA na pequena circulação, que
normalmente opera a baixa pressão. Eles são semelhantes aos barorreceptores
arteriais, e atuam de forma auxiliá-los na estabilização da PA em resposta a
alterações da volemia.
• Quimiorreceptores associados: outros receptores cardiopulmonares encontrados
em associação com os receptores de baixa pressão são quimiorreceptores.
Conjuntamente, eles promovem um efeito paralelo à arritmia sinusal respiratória,
que são as ondas respiratórias da pressão arterial. Com isso, a PA irá aumentar
durante a parte inicial da expiração e diminuir no restante do ciclo respiratório, mas
sempre muito sutilmente.
• Peptídeo natriurético atrial (PNA): hormônio produzido pelos receptores
cardiopulmonares dos átrios quando estes sofrem uma distensão ampla. Sua
atuação é provocar a excreção de íons Na+ na urina, fazendo com que ela receba
mais água do plasma sanguíneo por osmose. Com isso, haverá diminuição da
volemia, reduzindo da PA.
Figura 63: Curva da função renal. Trata-se de um gráfico comparativo de valores do débito urinário
(para uma ingesta fixa de água e sal) com valores da pressão arterial. O ponto de equilíbrio indica que
uma pressão arterial de 100mmHg é capaz de manter um débito urinário normal. O aumento do
débito urinário indica a diurese de pressão.
• Curva de função renal saudável: no ser humano saudável com ingesta fixa de
água e sal, uma PA de 50mmHg levaria a um débito urinário nulo. Uma pressão de
100mmHg permite o débito urinário normal, ficando a curva de função renal no
chamado ponto de equilíbrio.
o Elevação da PA: devido à diurese de pressão, uma pressão de 200mmHg
levaria a um débito urinário 6-8 vezes maior do que o normal. Nessa última
condição, é justamente a grande excreção de água que permitirá o
reajuste da PA, pois, uma vez que essa água veio da filtração do sangue
pelos rins, houve redução do volume de sangue, acarretando também
redução da PA, apesar do processo levar tempo para acontecer.
▪ Novamente, é importante notar que não apenas o volume do débito
urinário aumentará por causa diurese de pressão, mas sua
concentração também, devido à natriurese de pressão.
o Redução da PA: se a pressão cair abaixo do ponto de equilíbrio, a ingesta
de água e sal passa a ser menor que o débito, ou seja, os rins excretarão
menos água e sal, evitando que haja uma queda progressiva de PA. Para que
a PA volte a valores normais, o corpo é estimulado a continuar ingerindo
água e sal para aumentar o volume de sangue e, assim, aumentar a PA.
Figura 65: Curva da função renal com elevação da ingesta de água e sal.
Sistema renina-angiotensina-aldosterona
• Renina: quando a PA se reduz, o aparelho justaglomerular dos rins responde
produzindo renina. A renina é uma enzima que cai na corrente sanguínea onde
converte o angiotensinogênio, uma globulina, em angiotensina I.
• Angiotensina: a angiotensina I é uma substância vasoativa com tem propriedades
levemente vasoconstritoras, pouco significativas. Por isso, a angiotensina I é
primordialmente convertida nos pulmões pela ECA (enzima conversora de
angiotensina) em angiotensina II. A angiotensina II, por sua vez, é uma
vasoconstritora potente, contribuindo significativamente para aumentar a PA.
Entretanto, como é rapidamente degradada pela angiotensinase, ela precisa
Figura 66: Gráfico de restabelecimento da pressão arterial após hemorragia severa, com e sem o
sistema renina-angiotensina.
FISIOLOGIA
RESPIRATÓRIA
Ventilação pulmonar
• Mecânica ventilatória: as funções principais da respiração são prover oxigênio aos
tecidos e remover dióxido de carbono. Para realizar essa função, o sistema
respiratório constitui-se de órgãos capazes de promover, em seu interior, tanto a
entrada (influxo) de ar na inspiração quanto a saída (efluxo) de ar na expiração. A
mecânica ventilatória será o estudo dos movimentos feitos pelos órgãos que
permitem essa dinâmica. Chama-se de ciclo respiratório o intervalo composto por
uma inspiração e uma expiração subsequente.
o Pulmões: o órgão pelo qual o ar circula, entrando e saindo a cada
movimento, são os pulmões, contidos no interior da cavidade torácica.
o Diafragma: o órgão primordialmente executor das forças necessárias para
os movimentos do sistema respiratório é o diafragma. Ele é capaz de, ao se
contrair, descer e aumentar a cavidade torácica; e, ao se relaxar, subir e
diminuir a cavidade torácica.
o Musculatura secundária: o órgão secundário da execução das forças
necessárias para os movimentos do sistema respiratório são os músculos
intercostais (externo, interno e íntimo), cervicais, transverso do tórax, entre
outros. Eles são capazes de elevar as costelas para elevar o diâmetro
anteroposterior da cavidade torácica; e de deprimir as costelas para reduzir
esse mesmo diâmetro.
o Ar ideal: considera-se que o ar expirado e inspirado na atividade
ventilatória é ideal, de molaridade constante e temperatura constante. Dessa
forma, para as análises de mecânica ventilatória, considera-se que a pressão
1
de uma cavidade é inversamente proporcional a seu volume: 𝑃 = 𝑉 .
Figura 68: Gráfico de mudanças da pressão pleural, da pressão alveolar e da pressão transpulmonar
durante um ciclo respiratório. Acima, a correlação dessa variação de pressões com a variação do
volume pulmonar.
Histerese
• Diagrama de complacência pulmonar: conforme mencionado, a complacência
pulmonar é o grau de extensão dos pulmões por cada unidade de aumento da
pressão transpulmonar. Em um gráfico da complacência, é possível relacionar as
alterações do volume pulmonar com as mudanças da pressão pleural (que compõe a
pressão transpulmonar).
Figura 69: Diagrama da complacência pulmonar em uma pessoa saudável. Ele mostra as variações no
volume pulmonar durante as alterações na pressão transpulmonar.
o Na inspiração, a pressão transpulmonar aumenta porque a pressão pleural
reduz e se distancia da pressão alveolar. É esse aumento da pressão
transpulmonar que permite o aumento do volume pulmonar.
▪ Entretanto, inicialmente, a pressão transpulmonar precisa aumentar
muito para conseguir aumentar o volume pulmonar. Isso ocorre
porque o líquido alveolar ainda está promovendo adesão entre as
paredes do alvéolo.
▪ Porém, após a pressão transpulmonar ultrapassar um certo valor, se
terá um momento em que um pequeno aumento da pressão
transpulmonar conseguirá aumentar muito o volume pulmonar,
porque a adesão promovida pelo líquido superficial do alvéolo já
terá sido superada, graças ao surfactante.
o Na expiração, a pressão transpulmonar diminui a porque a pressão pleural
aumenta e se aproxima da pressão alveolar. É essa queda da pressão
transpulmonar que permite a redução do volume pulmonar.
▪ Entretanto, inicialmente, a pressão transpulmonar precisa reduzir
muito para conseguir reduzir o volume pulmonar. Isso ocorre porque
o surfactante ainda está promovendo resistência à adesão entre as
paredes do alvéolo provocada pela tensão superficial do líquido
alveolar.
Figura 70: Comparação da histerese de um pulmão cheio de solução salina e de um cheio de ar.
• Volumes de reserva: são volumes assumidos pelo pulmão caso seja necessário
modificar o volume corrente. É importante notar que, enquanto volume corrente
normal do pulmão pode ser mantido somente com a ação diafragmática, para
utilizar os volumes de reserva, é necessário que a ventilação sofra ação da
musculatura acessória.
o Volume de reserva inspiratório: é um volume adicional para o qual o
pulmão pode se expandir caso seja necessário. Convencionalmente, é um
volume de 2L. Assim, ao inspirar e aumentar seu volume para 3L, o pulmão
é ainda capaz de utilizar o volume de reserva inspiratório e ficar com, no
máximo, 5L.
o Volume de reserva expiratório: é um volume adicional que o pulmão pode
expulsar caso seja necessário. Convencionalmente, é um volume de 1,5L.
Assim, ao expirar e reduzir seu volume para 2,5L, o pulmão ainda é capaz
de expelir o volume de reserva expiratório e ficar com, no mínimo, 1L.
▪ Volume residual: é o volume basal do pulmão, o qual ele não
consegue expulsar, a não ser em uma situação patológica em que o
pulmão sofra colabamento. Corresponde ao volume do pulmão após
utilizar totalmente seu volume de reserva expiratório, ou seja, tem
valor convencional de 1L.
o Capacidade vital do pulmão: a amplitude volumétrica que o pulmão pode
utilizar valendo-se de seus dois volumes de reserva compõe a capacidade
vital do pulmão, isto é, os limites fisiológicos de expansão pulmonar (5L) e
de compressão pulmonar (1L). Portanto, convencionalmente, essa
capacidade vital é de 4L.
▪ Volume pulmonar total: quando a capacidade vital do pulmão é
somada ao volume residual do pulmão, tem-se o volume pulmonar
total, é que a medida exata do volume máximo que o pulmão
humano pode atingir. Portanto, convencionalmente, este volume é
de 5L.
Espaço morto
• Espaço morto: compreende o volume das regiões das vias aéreas que não
promovem trocas gasosas, mas que estão preenchidas com ar. Experimentalmente,
foi verificado que o ar do espaço morto compreende a 30% do ar inspirado. Apesar
de não participar das trocas gasosas, o ar desse espaço possui outras funções
Figura 72: Esquema das circulações funcional e sistêmica do pulmão. A funcional se inicia na artéria
pulmonar, que circula sangue desoxigenado. A sistêmica se inicia na artéria brônquica, que circula
sangue oxigenado. Ambas terminam nas veias pulmonares, que circulam sangue oxigenado.
Trocas gasosas
• Pressão parcial de um gás: é a soma das forças exercidas pelos choques das
moléculas de um dado gás sobre uma superfície em um determinado instante. É
representada por Pgás: PO2, PN2, PCO2.
o A pressão parcial de um gás, via de regra, é proporcional à sua concentração
no volume em que se encontra. Assim, no ar atmosférico em dia seco, PN2 =
597mmHg, o que corresponde a 78,62% da Patm = 760mmHg, o que
corresponde à concentração de N2 no ar atmosférico em relação aos outros
gases.
• Solubilidade de um gás: é a quantidade de gás que se dissolve em determinado
meio.
o Solubilidade dos principais gases do ar atmosférico, em meio aquoso:
▪ O2: 1 (ou 0,003mℓ/dℓ).
▪ CO2: 20,3 (ou 0,067mℓ/dℓ), portanto muito solúvel.
▪ N2: 0,53, portanto pouco solúvel.
o Nas membranas celulares, existe alta lipossolubilidade para todos os gases
importantes, ou seja, todos eles conseguem passa pela membrana das
células com o mesmo grau de dificuldade.
• Relação volume x pressão de um gás: sabe-se que, quanto maior a pressão a qual
um gás está submetido, menor seu volume.
Figura 73: Tabela com a pressão parcial de cada gás em cada um dos tipos de ar envolvidos na
ventilação.
Ventilação alveolar
• Ventilação alveolar: trata-se da quantidade de ar novo que entra nos alvéolos e
áreas adjacentes de trocas gasosas a cada ciclo respiratório. Calculado, portanto,
como volume corrente menos o volume do espaço morto. Convencionalmente, é de
500 – 150 = 350mℓ por ciclo respiratório.
o São necessários cerca de 6 ciclos respiratórios para completa renovação do
ar alveolar, tendo em vista que a capacidade residual funcional (volume
de reserva expiratório somado ao volume residual) é de 2500mℓ.
Difusão de O2
Figura 74: Gráfico que demonstra os valores de PO2 do ar alveolar para cada valor de ventilação
alveolar. A curva vermelha mostra essa correlação para um consumo metabólico de 250mℓ O2/min, e a
azul, para um consumo de 1000mℓ O2/min. A linha tracejada horizontal representa os valores exigidos
de ventilação alveolar para manter uma PO2 saudável de 104mmHg em cada um dos cenários de
consumo metabólico.
Difusão de CO2
Figura 75: Gráfico que demonstra os valores de PCO2 do ar alveolar para cada valor de ventilação
alveolar. A curva vermelha mostra essa correlação para uma produção metabólica de 250mℓ CO2/min,
e a azul, para uma produção de 1000mℓ CO2/min. A linha tracejada horizontal representa os valores
exigidos de ventilação alveolar para manter uma P CO2 saudável de 40mmHg em cada um dos cenários
de produção metabólica.
Hematose
Figura 76: Elementos da barreira hematoaérea e as direções do intercâmbio de gases que nela se
processa.
∆𝑃 × 𝐴 × 𝑆
𝐷=
𝑑 × √𝑃𝑀
Oxigenação
• Desoxigenação do sangue até os tecidos: depois que o sangue sai dos pulmões
pelas veias pulmonares, com uma PO2 = 104mmHg, ele é bombeado pelo ventrículo
esquerdo e chega aos tecidos. Entretanto, ele chega com PO2 = 95mmHg. A
princípio, essa redução poderia ser explicada pelo consumo pequeno e gradual de
O2 ao longo do percurso do sangue até os tecidos.
o Shunts fisiológicos: entretanto, o que melhor explica a queda da PO2
sanguínea no percurso entre os pulmões e os tecidos são os shunts entre as
veias pulmonares (com sangue oxigenado) e as veias brônquicas (com
Figura 79: Esquematização das pressões parciais de O2 envolvidas na oxigenação dos tecidos.
Remoção de CO2
Figura 81: Esquematização das pressões parciais de CO2 envolvidas na remoção de CO2 dos tecidos.
• Captação de CO2 pelo sangue capilar tecidual (remoção de CO2 dos tecidos): o
sangue dos capilares sistêmicos chega nos tecidos corporais pela extremidade
arterial com PCO2 = 40mmHg. Via de regra, esses tecidos corporais possuem
interstício com PCO2 = 45mmHg e células com PCO2 = 46mmHg de pressão. A
diferença de pressão de -1mmHg repassa CO2 das células para o interstício, e a
diferença de pressão de -5mmHg repassa CO2 do interstício para o sangue.
o Essas diferenças de pressão fisiológicas e saudáveis são menores do que
aquelas encontradas para o O2 porque o CO2 é mais solúvel.
Transporte de gases
Transporte de O2
• Transporte de O2 no sangue: 97% do O2 transportado no sangue está nas
hemácias associado à hemoglobina, sendo esta então chamada de oxiemoglobina
(HbO2) quando ligada ao O2, enquanto apenas 3% está dissolvido diretamente no
plasma sanguíneo.
o Apesar de ser uma quantidade muito diminuta, esses 3% diretamente
dissolvidos é que respondem pela PO2 do sangue. O O2 transportado pela
hemoglobina não é levado em consideração.
o Assim, existe uma certa incorreção em se dizer que um sangue com P O2 =
104mmHg está corretamente oxigenado. Como a P O2 não considera o O2
transportado pela hemoglobina, pode ser que um sangue extremamente
anêmico possua PO2 = 104mmHg, sem que esteja corretamente oxigênio.
• Curva de dissociação da HbO2: de maneira geral, tem-se que, quanto maior for a
PO2 do sangue, maior a afinidade da Hb pelo O2.
o A oxigenação da Hb ocorre nos pulmões, resultando em uma saturação de
97% da HbO2 para uma PO2 sanguínea de 100mmHg. Ou seja, a alta PO2
existente nos capilares alveolares age como fator intensificador da afinidade
da Hb pelo O2. Isso é essencial para uma captação efetiva de O 2 pelo sangue
nos pulmões.
o O sangue que circula nos tecidos e retorna tem sua PO2 rebaixada a
40mmHg, resultando em uma saturação de 75% da HbO2. Ou seja, a baixa
PO2 existente nos tecidos age como fator redutor da afinidade da Hb pelo
O2. Isso é essencial para uma liberação efetiva de O 2 pelo sangue nos
tecidos.
Transporte de CO2
• Transporte de CO2 no sangue: o CO2 é transportado no sangue de três maneiras
diferentes:
o 70% é transportado diretamente no plasma sanguíneo na forma de íons
bicarbonato (HCO3-).
o 23% é transportado pelas hemácias associado à Hb, que então é chamada de
carbaminoemoglobina (CO2Hb).
o 7% é transportado dissolvido diretamente no plasma sanguíneo.
Centro respiratório
• Centro respiratório: responsável pelo controle automático e involuntário da
ventilação, o centro respiratório está localizado no bulbo. Nele existem o grupo
respiratório dorsal, responsável pela inspiração tranquila, e o grupo respiratório
ventral, responsável pela inspiração e expiração forçadas (mas que são realizadas
involuntariamente, como durante um exercício físico).
• Grupo respiratório dorsal: é o principal responsável pela inspiração normal,
tranquila, da qual normalmente o indivíduo nem tem consciência que está
acontecendo. Este grupo tem uma característica de marcapasso, pois possui alguns
neurônios que disparam potenciais rítmicos, que descem pelos nervos frênicos e
ativam a contração do diafragma.
o Sinal em rampa: a despolarização desses neurônios tem um aspecto de
“sinal em rampa”, que caracteriza a intensidade com que o sinal é gerado e
Figura 85: Correlação entre a despolarização progressiva do diafragma com todas as etapas
do ciclo respiratório.
Centro pneumotáxico
• Centro pneumotáxico: localizado na ponte, é responsável pelo “desligamento” do
sinal em rampa do grupo respiratório dorsal que promove a inspiração tranquila,
para que então possa se processar a expiração tranquila, que é passiva em condições
normais, pois é dependente apenas da retração pulmonar. Assim, o centro
pneumotáxico exerce um efeito limitante sobre a inspiração, deprimindo o grupo
dorsal. Esse desligamento também ocorre como um sinal em rampa, por isso
expiração tranquila também é harmoniosa.
Figura 86: Gráfico que relaciona os valores da PO2 captados pelos quimiorreceptores com sua
frequência de envio de impulsos.
▪ É importante lembrar que existe uma outra aferência dos
quimiorreceptores para os centros de controle da pressão arterial,
que, neste caso, irão atuar para aumentar a pressão arterial (pois uma
baixa pressão arterial também é outra possível causadora do
problema de baixa PO2/alta PCO2).
o Quimiorreceptores centrais: estão localizados no próprio centro
respiratório. Eles são sensíveis ao pH, ou seja, à concentração de H + do
sangue que os perfunde.
▪ É importante notar que a aferição do pH é uma interpretação indireta
da concentração de CO2, uma vez que ele é uma das poucas
substâncias capazes de atravessar a barreira hematocefálica, para
então formar H+ no SNC sob ação da anidrase carbônica.
▪ Uma redução de pH (aumento de H+ e, portanto, aumento de CO2)
provoca a intensificação da ventilação, para assim aumentar e
FISIOLOGIA
DIGESTÓRIA
Figura 87: Regulação do sistema nervoso entérico pelo sistema nervoso autônomo.
o SNA parassimpático: no controle nervoso do sistema digestivo há uma
primazia da atuação do nervo vago (X par craniano), que é a principal via
eferente parassimpática. Isso porque a atividade vagal, principalmente
aquela mediada por acetilcolina, é excitatória para os constituintes do
sistema digestório. Ao mesmo tempo, entretanto, existe uma atuação
parassimpática inibitória. Os nervos parassimpáticos para o trato
gastrointestinal são pré-ganglionares.
o SNA simpático: a atuação simpática, mediada por adrenalina, é inibitória.
Os nervos simpáticos para o trato gastrointestinal são pós-ganglionares.
Figura 88: Controle nervoso da parede digestória, mostrando (1) o plexo submucoso e o mioentérico
(fibras pretas); (2) controle extrínseco destes plexos pelo sistema nervoso simpático e parassimpático
(fibras vermelhas); e (3) fibras sensitivas passando do epitélio luminal e parede intestinal para os
plexos entéricos, e então para os gânglios paravertebrais da medula espinhal e diretamente para
medula espinhal e o tronco encefálico (fibras verdes).
o Plexo mioentérico: o plexo mioentérico, cujos neurônios são menores e
mais numerosos, promovem o controle da motilidade do sistema digestório
ao inervarem as fibras musculares lisas da camada muscular da parede
digestória. As unidades motoras desse plexo, portanto, são pequenas e
numerosas, permitindo um controle fino da musculatura lisa do trato
gastrointestinal, tendo em vista que o peristaltismo deve ser finamente
controlado.
▪ Peristaltismo: o músculo acima do alimento contrai, e o músculo
abaixo do alimento relaxa. Isso promove uma movimentação
fisiológica unidirecional do alimento ao longo do trato
gastrointestinal.
Controle hormonal
• Controle hormonal do sistema digestório: o outro componente controlador do
sistema digestório é hormonal. Ele advém de:
o Glândulas parácrinas: localizadas no próprio trato gastrointestinal,
geralmente unicelulares difusamente distribuídas. A tabela a seguir
demonstra os principais hormônios parácrinos do sistema digestório.
trato. Sob condições de repouso, as ondas lentas ondulam entre -70 e -80mV e não
causam contrações.
Figura 91: Esquema que indica as ondas lentas em fase com as contrações, e os potenciais de ação/picos
das ondas lentas. Algumas células se contraem fracamente somente com as ondas lentas. Outras se
contraem mais vigorosamente com os picos nas ondas lentas.
o Algumas células musculares lisas, raras e muito pequenas, entretanto, são
capazes de se contrair somente com essas ondas, sem que seja necessário
terem um potencial de ação. Por possuem um tamanho muito diminuto, um
leve aumento do influxo de Na+ é capaz de abrir canais de diidropiridina,
levando à contração. Imediatamente depois, entretanto, ocorre o efluxo de
K+, a células relaxa e o potencial se restabelece. A força da contração
resultante deste tipo de processo, entretanto, é reduzida e pouco
significativa para o TGI como um todo.
o A maioria das células musculares lisas do TGI, por sua vez, necessitam de
sofrerem uma despolarização adicional pela atividade nervosa ou
hormonal para se contraírem. Com essa despolarização adicional, a
amplitude das ondas lentas aumenta, e quando seus valores ultrapassam o
limiar de -40mV, as células geram um ou mais potenciais de ação (ou
picos).
Figura 92: Ondas lentas no músculo liso sofrendo picos e gerando o tônus muscular correspondente.
Figura 93: Movimentos de mistura. As contrações constritivas locais geram diferentes padrões de
movimentos.
Ingestão e mastigação
• Ingestão do alimento e mastigação: é feita principalmente pelos dentes e
dependente da contração dos músculos da mastigação (masseter, pterigóideos
medial e lateral, e temporal).
• Funções da ingestão e mastigação:
o Lubrificação do alimento;
o Aumento da área de ação das enzimas;
o Evitar lesões do trato gastrointestinal.
• Reflexo da mastigação: é um reflexo muito secundário, se for considerado o
movimento voluntário da mastigação. As aferências deste reflexo são os
mecanorreceptores do glossofaríngeo e do vago.
Deglutição
• A deglutição possui três fases: oral, faríngea e esofágica.
• Fase oral da deglutição: é uma fase voluntária, na qual o bolo de alimento é
movido para a parte traseira da boca, para dentro da região faríngea, estimulando
mecanorreceptores que levarão ao início da fase faríngea, que é o início do reflexo
da deglutição (involuntário).
Figura 96: Dinâmica pressórica das diferentes partes do esôfago durante o repouso e a deglutição.
Armazenamento
• Armazenamento: é a entrada de alimento no estômago. Depende de que o
estômago esteja em relaxamento receptivo, condição promovida pelo reflexo
vagovagal. Uma vez nesta condição, o estômago aumenta de tamanho, permitindo a
acomodação do alimento.
Mistura e propulsão
• Mistura e propulsão: à medida que o estômago é preenchido, a distensão e o
conteúdo químico estimulam as contrações, as quais ajudam a misturar o alimento
às secreções gástricas, formando o quimo. Essas contrações geram movimentos de
mistura e de propulsão que envolvem ondas peristálticas que se iniciam como um
“anel”, que se propaga ora para a direção proximal (retropropulsão), ora para a
direção distal (propulsão em direção ao piloro) do TGI.
• A sequência da motilidade gástrica é a que se segue:
Figura 97: O estômago está sendo preenchido. Uma onda peristáltica branda (A) iniciou0se no antro e
está passando pelo piloro. O conteúdo gástrico é agitado e fortemente empurrado de volta ao corpo do
estômago.
Figura 98: A onda (A) diminui de intensidade à medida que o piloro não abre. Uma onda mais forte
(B) inicia-se na incisura e novamente espreme o conteúdo gástrico em ambas as direções.
o As ondas (A) e (B) vão se repetindo continuamente, promovendo um
turbilhonamento que efetivamente mistura o conteúdo estomacal. Graças a
esses movimentos, as enzimas produzidas pelas glândulas do estômago, isto
é, o suco gástrico, são misturadas ao alimento, promovendo a quebra de
certas macromoléculas.
• O tempo de trânsito do alimento ao longo do estômago depende da quantidade e
tipo de alimento ingerido. Refeições pequenas e facilmente digeríveis (com alta
quantidade de carboidratos como massas e açúcares) se movem através do
estômago rapidamente, enquanto refeições com alimentos mais sólidos (carnes) e
com alto conteúdo de gorduras (alimentos fritos) requerem um tempo muito mais
longo para saírem do estômago.
Esvaziamento gástrico
• Esvaziamento gástrico: o esvaziamento gástrico se processa quando o piloro se
abre, permitindo a passagem do conteúdo gástrico para o duodeno.
• Na maioria das vezes, o tônus pilórico é alto, e, desta forma, conforme o estômago
é preenchido e as contrações se iniciam, a maioria do quimo ácido que se move em
direção ao antro sofre retropropulsão para longe do esfíncter.
• À medida em que as ondas de contração progridem em direção ao antro, o ciclo
antral ocorre, com relaxamento do esfíncter e ejeção de uma parte do quimo para
dentro do bulbo duodenal.
o Este ciclo (ejeção para dentro do duodeno) está sob rígido controle, e à
medida que o quimo entra no antro e no duodeno, a liberação de hormônios
reduz o esvaziamento gástrico através da contração do esfíncter.
Figura 99: O piloro se abre à medida que a onda (B) se aproxima dele. O bulbo duodenal é preenchido,
e algum conteúdo passa para a segunda porção do duodeno. Uma onda (C) inicia-se logo acima da
incisura.
Figura 100: O piloro é novamente fechado. Uma onda (C) falha em evacuar o conteúdo. Uma onda (D)
inicia-se mais acima no corpo do estômago. O bulbo duodenal pode contrair-se ou permanecer
preenchido à medida que uma onda peristáltica, originando-se logo abaixo dele, esvazia a segunda
porção.
Figura 101: Ondas peristálticas agora estão originando-se mais acima no corpo do estômago. O
conteúdo gástrico é evacuado intermitentemente. O conteúdo do bulbo duodenal é empurrado
passivamente para a segunda porção, à medida que surge mais conteúdo gástrico.
Figura 102: Entre 3 e 4 horas depois, o estômago está quase vazio. Uma onda peristáltica pequena
esvazia o bulbo duodenal com algum refluxo para o estômago. O peristaltismo reverso e anterógrado
ocorre no duodeno.
Reflexo do vômito
• Reflexo do vômito: o vômito é uma ação reflexa que está sob regulação central
pelo centro do vômito no bulbo. Os estímulos para o vômito também iniciam a
salivação, e normalmente a ânsia precede o vômito, pois a área das ânsias é
mutuamente estimulada. Durante a ânsia, os conteúdos intestinais e gástricos são
levados ao esôfago, mas não para dentro da boca, devido ao esfíncter esofágico
superior estar fechado. O vômito ocorre quando ele se abre e o conteúdo é expelido.
Reflexo de defecação
• Reflexo da defecação: também chamado de reflexo retoesfinctérico, envolve a
dinâmica de componentes nervosos voluntários e involuntários para que se processe
a expulsão das fezes pelo corpo.
Figura 104: Vias aferentes e eferentes do mecanismo parassimpático para o reflexo da defecação.
novamente, e o esfíncter anal externo pode ser relaxado, até que outro movimento
empurre as fezes para dentro do reto e o reflexo retorne.
• Possibilidade de defecar: no momento apropriado para a defecação, o esfíncter
anal externo relaxa voluntariamente, a pressão intra-abdominal aumenta, e a
defecação ocorre.
Local de pH Secreção
Ação
produção ótimo exócrina
Sais e água Solubilização do alimento
6,0 – Muco Lubrificação e adesão do alimento
Boca
7,0 Amilase
Digestão de polissacarídeos
salivar
Esôfago - Muco Lubrificação
Ácido
Ativação do pepsinogênio; bactericida
clorídrico
Pepsinogênio/ Precursor da pepsina/
1,0 –
Estômago Pepsina digestão de proteínas
3,5
Muco Lubrificação, adesão, proteção da mucosa
Fator
Absorção de vitamina B12
intrínseco
Enzimas Digestão de polissacarídeos, proteínas, ácidos
8,0-
Pâncreas pancreáticas nucleicos e lipídeos
8,3
Bicarbonato Neutralização do pH do quimo
Fígado 7,8 Bile Emulsificar lipídeos
Sais e água Solubilização do quimo
Enzimas
Intestino 7,5 – Digestão final de peptídeos e dissacarídeos
entéricas
delgado 8,0
Muco e
Lubrificação, adesão, proteção da mucosa
bicarbonato
Intestino 7,5 – Muco e Lubrificação e adesão da massa fecal; proteção da
grosso 8,0 bicarbonato mucosa
Figura 105: Características funcionais típicas de uma célula glandular para formação e secreção de
enzimas e outras substâncias.
o Os substratos para a composição das secreções chegam até as células
glandulares por meio da circulação.
o No interior das células, as organelas retículo endoplasmático rugoso e
complexo de Golgi são as principais responsáveis por sintetizar as enzimas
que comporão as secreções, a partir dos substratos fornecidos.
o O sinal para a liberação das secreções é, principalmente, o influxo de íons
Ca2+ para o interior das células.
• Secreção de água e eletrólitos: está, na maioria dos casos, associada a canais
transientes de Cl- e de Na+. Isso ocorre porque os íons Na+ são íons que elevam a
pressão osmótica quando se concentram em um certo meio, portanto eles
conseguem levar água consigo.
o Na membrana basal das células, existem canais de Cl- que fazem influxo
deste íon a partir da circulação.
o Canais de Cl- na membrana apical (ou luminal) então fazem o efluxo deste
íon para o lúmen, que fica, portanto, cheio de cargas negativas.
o Com o lúmen negativo, facilita-se o efluxo de íons Na+ para este meio,
aumentando sua pressão osmótica.
o Com a pressão osmótica luminal aumentada, moléculas de água, por
osmose, são transportadas para o lúmen a partir das células.
• Secreção de muco: o muco tem propriedades anfotéricas e é secretado em
praticamente toda a extensão do trato gastrointestinal, pois possui funções
importantes para todos os seus segmentos:
o Promove a adesão do bolo alimentar;
o Promove o deslizamento das partículas;
o Facilita a formação do bolo fecal;
o Protege as mucosas contra as enzimas gastrointestinais.
Secreção de saliva
• Secreção salivar: as secreções salivares facilitam a ingestão (e digestão) dos
alimentos por meio da lubrificação, resfriamento e adição de enzimas digestivas. A
saliva é sempre hipotônica em relação ao plasma, devido à reabsorção de íons que
sofre ao ser conduzida pelos ductos salivares, mas é relativamente rica em íons K +,
pois estes são secretados pelos mesmo ductos. Diariamente, são secretados
aproximadamente 1,5 litro de saliva, sendo que a maioria ocorre durante a
alimentação, fator que estimula a salivação.
• Glândulas salivares: podem ser tanto as três glândulas salivares maiores (descritas
abaixo) quanto as glândulas salivares menores difusamente distribuídas na boca.
o Glândula sublingual: secreção de muco principalmente, portanto
considerada glândula mucosa. Responde pela menor parte (5%) da saliva
produzida.
o Glândula submandibular: secreção tanto de muco quanto de enzimas,
portanto considerada glândula exócrina mista (serosa e mucosa). Responde
pela maior parte (70%) da saliva produzida.
o Glândula parótida: secreção de enzimas muito importantes, portanto
considerada glândula serosa. O fluido é aquoso e pobre em mucinas.
Responde por 25% da saliva produzida.
• Componentes da saliva:
o Mucina (glicoproteínas), com ação antimicrobiana;
o Íons K+ e HCO3-, sendo que Na+ e Cl- são reabsorvidos;
o Amilase salivar (ou α-amilase, ou ptialina), cujo pH ótimo é de 7,4;
o Lipase lingual, secretada pelas glândulas de von Ebner;
o Proteínas ricas em prolina, que formam o esmalte dental;
o Ribonuclease, que digere RNA e é secretada por ductos salivares;
o Calicreína, que digere proteínas e é secretada por ductos salivares;
o Substâncias de defesa:
▪ lactoperoxidase e lactoferrina, secretadas por células acinares;
▪ lisozima, receptor para IgA, IgA e fatores de crescimento,
secretados por células dos ductos salivares.
Produção da saliva
• As glândulas salivares são glândulas exócrinas, cujas secreções são drenadas por
meio de ductos salivares. A secreção primária é produzida nos fundos cegos dos
ductos, os ácinos salivares.
o As glândulas são altamente vascularizadas, tanto que a regulação do fluxo
sanguíneo é a principal forma de controle da secreção salivar pelo
parassimpático: quanto maior o fluxo sanguíneo para as glândulas, maior a
secreção salivar;
• O mecanismo básico da produção de saliva é o seguinte:
Figura 107: Secreção de água na saliva pelo mecanismo do canal de Na +, Cl- e K+.
o Na membrana basolateral (em contato com os capilares) das células
acinares, existem:
▪ (2) Bomba contratransporte de K+ (influxo do sangue) e Na+ (efluxo
para sangue).
▪ (1) Canal cotransportador de K+, Cl-, Na+ (influxo do sangue) que é
um transporte ativo secundário que utiliza a energia gerada por (2).
▪ (3) difusão facilitada de K+ (efluxo para sangue) que entrou na
célula através de (1) e (2).
o Na membrana luminal (em contato com o lúmen, também chamada de
membrana apical) das células acinares, existe:
▪ (4) difusão facilitada de Cl- (efluxo para saliva) que entrou na célula
através de (1).
o (5) Ocorre passagem transcelular de Na+ (efluxo para a saliva) através das
junções intercelulares entre as células acinares. Esta passagem ocorre
porque o Na+ foi atraído pelo Cl- transportado para a saliva em (4).
o (6) Ocorre passagem de água (efluxo para a saliva) através da célula por
meio de aquaporinas na membrana luminal. Essa água vai para a saliva
devido à pressão osmótica criada pelo Na+ neste meio, devido a (5).
• Mecanismo trocador H+ e Cl- : importante para a secreção de água na saliva e para
a manutenção do pH do citoplasma da célula acinar.
Figura 108: Secreção de água na saliva e regulação da acidez da célula acinar pelo mecanismo do
trocador de H+ e Cl-.
o No interior da célula acinar, ocorre:
▪ (2) anidrase carbônica faz com que o CO2 advindo de (1) reaja com
H2O e forme HCO3- e H+.
o Na membrana basolateral da célula acinar, existem:
▪ (1) difusão simples de CO2 (influxo do sangue).
▪ (3) contratransporte/trocador de H+ advindo de (2) (efluxo para
sangue) e Cl- (influxo do sangue).
▪ (4) bomba de Na+ (efluxo para sangue) e K+ (influxo do sangue).
▪ (5) cotransporte de H+ advindo de (2) (efluxo para sangue) e Na+
(efluxo para o sangue).
▪ (6) difusão facilitada de K+ advindo de (4) (efluxo para sangue).
Figura 109: Secreção de água e de tampão para a saliva pelo mecanismo do gás carbônico.
o No interior da célula acinar, ocorre:
▪ (2) anidrase carbônica faz com que o CO2 advindo de (1) reaja com
H2O e forme HCO3- e H+.
o Na membrana basolateral da célula acinar, existem:
▪ (1) difusão simples de CO2 (influxo do sangue).
▪ (3) contratransporte/trocador de H+ advindo de (2) (efluxo para
sangue) e Na+ (influxo do sangue).
▪ (4) bomba de Na+ advindo de (3) (efluxo para sangue) e K+ (influxo
do sangue).
▪ (6) difusão facilitada de K+ advindo de (4) (efluxo para sangue).
o Na membrana apical da célula acinar, existe:
Secreção esofágica
• Glândulas esofágicas: as glândulas esofágicas são, essencialmente, glândulas
mucosas compostas, localizadas principalmente no esôfago proximal e na
extremidade gástrica do esôfago.
• Composição da secreção esofágica: a secreção esofágica é principalmente
mucosa.
• Funções da secreção esofágica:
o Lubrificar o esôfago e o alimento para que ocorra a deglutição;
o Proteger a parede do esôfago contra o atrito do próprio alimento e contra o
refluxo gastresofágico.
• Estimulação da secreção esofágica: a partir da sensibilização de
mecanorreceptores da faringe, que sofrem estiramento quando a faringe recebe o
alimento durante a deglutição, ocorre um reflexo vagovagal que libera acetilcolina
para o plexo submucoso, estimulando o esôfago a liberar suas secreções.
Secreção gástrica
• Glândulas gástricas:
o Glândulas mucosas: localizadas principalmente na cárdia. Secretam muco.
o Glândulas oxínticas: localizadas principalmente no corpo e no fundo do
estômago. Secretam HCl, muco, pepsinogênio e fator intrínseco. Possuem
as seguintes células:
▪ Células cervicais mucosas: secretam muco.
▪ Células oxínticas/parietais: secretam HCl e fator intrínseco.
▪ Células pépticas/principais: secretam pepsinogênio.
Figura 111: Secreção de H+ e Cl- para formar HCl, pela célula oxíntica das glândulas oxínticas.
o (1) na membrana basolateral, mesmo em condições de repouso, existe a
bomba de Na+ (efluxo para sangue) e K+ (influxo do sangue). Ela fica mais
ativa quando a célula é estimulada.
o (2) quando a célula oxíntica é estimulada, o seu metabolismo aumenta,
ocorrendo maior produção de CO2 no citoplasma, que pela anidrase
carbônica é então convertido em HCO3- e H+.
o Quando a célula oxíntica é estimulada, há a migração, para a membrana
basolateral, das seguintes proteínas transportadoras:
▪ (3) difusão facilitada de K+ advindo de (1) e de (5) (efluxo para o
sangue)
▪ (4) contratransporte de HCO3- advindo de (2) (efluxo para o sangue)
e de Cl- (influxo do sangue)
o Quando a célula oxíntica é estimulada, há a migração, para a membrana
luminal, das seguintes proteínas transportadoras:
▪ (5) contratransporte de H+ advindo de (2) (efluxo para suco gástrico)
e de K+ (influxo do suco gástrico), ou seja, é uma bomba de
prótons.
▪ (6) difusão facilitada de Cl- advindo de (4) (efluxo para o suco
gástrico)
Secreção pancreática
• Secreção pancreática exócrina: a porção exócrina do pâncreas, isto é, os ácinos
pancreáticos e seus ductos, são responsáveis pela produção da secreção pancreática.
Ela é enviada até o duodeno.
o Células acinares pancreáticas: secretam enzimas para a digestão de
proteínas, lipídeos e carboidratos. As enzimas presentes são:
▪ Amilase: digere amido e glicogênio.
▪ Lipase: digere gorduras.
Figura 115: Mecanismo de secreção de bicarbonato nas células epiteliais dos ductos pancreáticos.
o (1) no interior da célula epitelial dos ductos pancreáticos, ocorre a ação da
anidrase carbônica, que converte o CO2 transportado por (2) em H+ e HCO3-
o Na membrana basolateral das células epiteliais dos ductos pancreáticos (em
contato com os capilares), existe:
▪ (2) difusão simples de CO2 (influxo do sangue)
▪ (3) contratransporte de Na+ (influxo do sangue) e H+ advindo de (1)
(efluxo para sangue)
o Na membrana luminal das células epiteliais dos ductos pancreáticos (em
contato com a luz do ducto), existe:
▪ (4) cotransporte de Na+ advindo de (3) (efluxo para secreção
pancreática) e de HCO3- advindo de (1) (efluxo para secreção
pancreática)
o (5) ocorre passagem de água pela célula epitelial, atraída pela alta pressão
osmótica criada pelo Na+ levado para a secreção pancreática por (4).
• Fase gástrica:
o Envolve a ativação de reflexo vagal longo, mediante aferências da atividade
gástrica.
o Estimula a produção de secreção pancreática rica em enzimas.
o A fase gástrica responde por 5 a 10% do total de secreção.
• Fase entérica:
o Envolve a produção de secretina, liberada mediante a chegada do quimo no
intestino delgado.
o Por ser um hormônio, o efeito excitatório é amplificado, havendo grande
volume de secreção pancreática como um todo (água, eletrólitos, enzimas).
o O grande efeito da secretina faz com que essa fase responda por 70 a 75%
do total de secreção.
Secreção hepática
• Bile: a bile é a secreção exócrina do fígado.
o Componentes da bile:
▪ Ácidos biliares (ou sais biliares)
▪ Colesterol
▪ Bilirrubina
o Funções da bile:
▪ Emulsificação de gorduras para que possam ser digeridas e
absorvidas.
▪ Excreção de produtos de degradação do sangue.
Secreção da bile
Vesícula biliar
• Funções da vesícula biliar: a vesícula biliar é um órgão em formato de saco que
está ligada ao ducto hepático comum pelo ducto cístico, formando com ele o ducto
colédoco. Suas funções são:
o Armazenamento da bile: uma vez que a secreção exócrina hepática se
processa de forma tônica (contínua), sendo apenas estimulada quando
necessário, é necessário que haja um mecanismo de preservação dos sais
biliares para que eles só sejam liberados quando necessário no duodeno.
o Concentração da bile: o epitélio da vesícula biliar é capaz de tornar a bile
mais concentrada, pois ele reabsorve água e íons. Assim, a secreção enviada
pelo fígado é mais diluída e volumosa; a secreção enviada pela vesícula
biliar é mais concentrada e menos volumosa.
Secreção entérica
• Glândulas do intestino delgado: as secreções destas glândulas não circulam no
lúmen intestinal, mas ficam acopladas à borda em escova da mucosa.
o Glândulas de Brunner (ou glândulas duodenais): estão localizadas no
duodeno e secretam um muco alcalino espesso, que ajuda a proteger a
porção inicial da mucosa do intestino delgado contra o quimo ácido que
deixa o estômago.
Digestão e absorção
• Digestão: definida como a degradação química dos alimentos ingeridos em
moléculas absorvíveis. A digestão se processa desde a boca até o intestino delgado.
o O principal mecanismo bioquímico da digestão é a hidrólise dos substratos.
• Absorção: definida como o movimento dos nutrientes, água e eletrólitos da luz
intestinal para o sangue. A absorção se processa nos intestinos.
o A absorção por ocorrer por vias transcelulares/paracelulares (sem passar
pela célula que se interpõe entre a luz intestinal e o sangue) ou por vias
intracelulares.
o A absorção é intensificada quando a superfície absortiva aumenta. Por
isso, nas regiões especializadas em digestão, há estruturas especiais que
aumentam em cerca de 600 vezes a superfície absortiva do intestino. É o
caso das vilosidades (a nível tecidual) e das microvilosidades (a nível
celular).
o O sistema digestório reabsorve cerca de 9 litros de conteúdo intestinal por
dia. Já a capacidade máxima de absorção (pois ela pode ser estimulada)
chega a 20 litros por dia.
Eletrólitos e água
• Absorção de Na+: o principal íon que participa dos mecanismos de digestão e
absorção é o Na+, pois é o principal íon osmoticamente ativo dos líquidos corporais.
Assim, seu movimento ao longo dos compartimentos corporais é determinante
também para o movimento das moléculas de água. Por dia, cerca de 5g de Na+ são
ingeridos, e outros 25g são secretados na luz gastrointestinal pela parede do TGI.
Por isso, é necessário que ocorra reabsorção de 25 a 35g de Na+ para evitar sua
perda excessiva.
o Mecanismo básico ao longo do intestino delgado:
Figura 118: Mecanismo básico de absorção de Na+ e H2O ao longo do intestino delgado.
Carboidratos
• Digestão de carboidratos: cada tipo de carboidrato geralmente possui uma enzima
digestiva específica para convertê-lo em moléculas também específicas:
Proteínas
• Digestão de proteínas: é processada tanto no estômago quanto no intestino
delgado.
Gorduras
• Emulsificação de gorduras: a bile é uma secreção que contém sais biliares,
compostos capazes de reduzir grandes gotas de gordura em gotículas de lipídicas
(micelas). Com isso, aumenta-se exponencialmente área superficial sobre a qual
agem as lipases.
FISIOLOGIA
RENAL
Rins
• Funções dos rins: a função básica do rim é a manutenção da homeostase de água e
eletrólitos do organismo. Para este objetivo, o rim possui as seguintes capacidades:
o Regulação do volume plasmático e do equilíbrio hídrico (isso também
permite que o rim controle a pressão sanguínea);
o Regulação da osmolaridade sanguínea. Normalmente a osmolaridade é
medida como sendo a concentração do íon osmoticamente ativo (o Na +) em
termos de volume de solvente (a osmolaridade normal do plasma é de
290mOsmol/L);
o Manutenção do equilíbrio eletrolítico (os principais íons são Na+, K+, Cl-,
Ca2+, Mg2+, SO42-, PO43-).
o Garantia de que a ingestão seja igual à excreção, mantendo, assim, as
quantidades de íons e de água constantes no organismo;
o Regulação do equilíbrio acidobásico, ou seja, do pH sanguíneo,
principalmente por excreção dos ácidos fixos resultantes do metabolismo
(por isso, deficiências renais levam principalmente à acidose sanguínea);
o Excreção de metabólitos como ureia, ácido úrico e creatinina, que são
lesivas aos tecidos.
• Funções renais secundárias: o rim possui funções bioquímicas essenciais para o
metabolismo:
o Hormônios:
▪ Eritropoietina: estimula a produção de eritrócitos pela medula
óssea;
▪ Renina: enzima que catalisa a conversão de angiotensina I em
angiotensina II;
▪ Calcitriol: hormônio que é a forma biologicamente ativa da
vitamina D;
o Síntese de:
▪ Substâncias bioativas, principalmente vasoativos para a artéria
renal, como prostaglandinas, adenosina, endotelina, óxido nítrico e
bradicinina;
▪ Angiotensinogênio;
▪ Amônia;
▪ Glicose e glicogênio;
o Metabolização da insulina.
• Néfrons: Os néfrons são as unidades básicas dos rins, participando de sua função
principal que é a filtração: filtram componentes do plasma sanguíneo advindo da
artéria renal, formam a urina, e então a conduzem até ser excretada.
Figura 130: Esquematização dos dois tipos de néfrons bem como da circulação renal.
Figura 132: Estrutura celular e transportes primários da alça de Henle descendente fina.
o Ramo fino ascendente da alça de Henle: terceira porção tubular do néfron,
logo após o ramo fino descendente da alça. Sua parede é composta também
por células achatadas com poucas organelas. Entretanto, elas são
impermeáveis a água (exceto na presença de ADH) permeáveis à ureia, que
precisa ser captada do interstício para a urina.
o Ramo contorcido ascendente de alça de Henle: quarta porção tubular do
néfron, logo após o ramo fino ascendente da alça. Sua parede é composta de
Figura 133: Estrutura celular e transportes primários da alça de Henle ascendente espessa.
o Túbulo contorcido distal: quinta porção tubular do néfron, logo após o
ramo contorcido ascendente da alça. Sua parede é composta de células altas
com muitas mitocôndrias, também impermeáveis à água.
▪ Célula principal: célula do túbulo distal que faz a secreção do
potássio, sendo o local de atuação da aldosterona.
▪ Célula intercalada: célula do túbulo distal que possui a bomba de
hidrogênio e potássio, permitindo a secreção de hidrogênio e a
reabsorção de potássio.
▪ Mácula densa: células do túbulo distal que são capazes de captar
concentrações de sódio para o controle da secreção de renina pelas
células granulares.
• Inervação renal: o rim possui apenas inervação simpática, que promove efeitos
como a vasoconstrição localizada.
Filtração
• Quanto ao sangue que chega ao rim para ser filtrado:
o Fluxo sanguíneo renal (FSR): volume total de sangue que chega ao rim.
Em média, chega 25% do débito cardíaco ao leito renal.
o Fluxo plasmático renal (FPR): volume de plasma que chega pela artéria
aferente para ser filtrado, por unidade de tempo. Chegam de 600 a 700ml de
plasma a cada minuto.
▪ O FSR pode ser definido como o FPR dividido por (1 – Ht), em que
Ht é o hematócrito, isto é, a porção do volume sanguíneo
correspondente às células.
• Propriedades importantes da filtração do capilar glomerular na cápsula de Bowman:
o A filtração é indiferente e inespecífica: filtra sempre cerca de 20% do
volume plasmático com e 20% dos solutos filtráveis. O volume filtrado no
capilar glomerular por unidade de tempo é chamado de ritmo de filtração
glomerular (RFG).
▪ O volume plasmático e o soluto filtrável não filtrados, bem como os
solutos não filtráveis, passam para a arteríola eferente.
▪ Assim, dos 600ml/min que chegam pela artéria aferente, são
filtrados cerca de 120ml/min na cápsula, e, portanto, 480ml/min
seguem pela artéria eferente.
o Membrana de filtração glomerular: para que o rim filtre todos os
componentes filtráveis do plasma sanguíneo, e deixe passar os não filtráveis
como as proteínas, deve estar presente a membrana de filtração glomerular,
que filtra os componentes sanguíneos baseando-se em seu tamanho e em
sua carga elétrica.
▪ Pelo fato de que as moléculas devem passar por muitas barreiras
para se mover do lúmen dos capilares para o espaço de Bowman
(epitélio fenestrado → membrana basal → entre os podócitos →
fenda de filtração → espaço de Bowman), existem limitações de
tamanho. As pequenas moléculas como a da água, glicose, sacarose,
creatinina e a ureia são filtradas livremente. Conforme as moléculas
Reabsorção e secreção
• Reabsorção tubular: refere-se ao movimento de substâncias do lúmen do néfron
para o sangue. É um processo altamente seletivo e fundamental para algumas
substâncias, como íons, glicose, aminoácidos, água, entre outros componentes
plasmáticos que não podem ser perdidos em excesso na urina.
• Secreção tubular: refere-se ao movimento de substâncias do sangue para o lúmen
do néfron. É um processo também altamente seletivo, e fundamental para a
algumas substâncias, como H+, K+ e NH4+, que não podem ser mantidos em
elevadas concentrações no sangue.
• Com isso, sabe-se que a excreção resulta da filtração somada à secreção e
diminuída da reabsorção.
o Tanto a reabsorção quanto a secreção são processos dependentes de
proteínas carreadoras (ou proteínas transportadoras) que movimentam as
substâncias circulantes no néfron e no sangue entre estes compartimentos.
▪ Como qualquer proteína, elas possuem um valor máximo de
atividade, acima do qual não é possível aumentar nem a reabsorção
(mesmo com o aumento da filtração) nem a secreção (mesmo com a
diminuição da filtração).
• Cálculo de FPR: toma-se como referência uma substância que seja totalmente
secretada no néfron. Isso significa que a quantidade dessa substância na artéria
renal e na urina é a mesma, e também que ela está ausente na veia renal. Exemplos
de substâncias com essas propriedades são o ácido paraminohipúrico (PAH) e o
diodrast.
o É possível coletar a urina do indivíduo para medir o fluxo urinário (FU, que
é o volume de urina) e fazer sua dosagem para medir a concentração de
Clearance renal
• Clearance renal (ou depuração plasmática renal): é o parâmetro que mede o
resultado da manipulação renal de substâncias em termos do volume inicial de
plasma. Ou seja, o clearance traduz o volume de plasma que ficou totalmente
depurado de certa substância por unidade de tempo.
Função tubular
• As células dos túbulos renais possuem dois polos, distinguindo-se duas
membranas:
o Membrana luminal, ou membrana apical, voltada para a luz dos túbulos do
néfron.
o Membrana basolateral, voltada para o endotélio capilar.
Figura 136: Mecanismos celulares da reabsorção do Na+ na porção inicial do túbulo proximal.
Figura 138: Mecanismo de transporte para reabsorção de NaCl no segmento espesso ascendente da
alça de Henle.
movimento paracelular de cátions (Ca2+, Mg2+, Na+, K+) para fora do lúmen
tubular.
o Em adição aos cotransportadores Na+/K+/2Cl-, existem os
contratransportadores Na+/H+, que reabsorvem Na+ e secretam H+ para o
túbulo.
Figura 140: Mecanismo de reabsorção de Na+ nas células intercaladas do túbulo distal, e nos ductos
coletores
o Células intercaladas: células localizadas na porção final do túbulo distal, e
que possuem canais de influxo de Na+ (e canais de efluxo de K+) que são
aumentados em número pela aldosterona, resultando em maior reabsorção
de Na+ e água. Estes canais epiteliais de sódio sensíveis à aldosterona são
bloqueados pela amilorida, que é um diurético poupador de potássio. A
Hormônios que
Porcentagem
Mecanismo de reabsorção de regulam a
Segmento do filtrado
água permeabilidade da
reabsorvido
água
Túbulo
67% Passivo Nenhum
proximal
(ocorre somente na porção final
Alça de
15% do túbulo distal) Nenhum
Henle
Passivo
Túbulo distal 0 Não há reabsorção de água Nenhum
Túbulo distal
ADH
final e ducto ~8-17% Passivo
PNA
coletor
Controle hormonal da reabsorção de sódio e água
• As influências hormonais sobre a reabsorção de sódio e água estão listadas abaixo.
Secreção de íons
▪ Contratransporte PAH/ânion.
▪ Difusão facilitada de PAH.
o A característica mais importante desse transporte é que permite que o PAH
seja uma substância totalmente secretada pelo rim, até um limite que é a
atividade máxima das proteínas transportadoras.
o O mecanismo de transporte do PAH é compartilhado com várias outras
substâncias, como os ânions orgânicos (sais biliares, prostaglandinas,
urato, cAMP) e as drogas (penicilina, salicilato, enalapril, furosemida,
clorotiazida).
▪ Entretanto, os mecanismos não ocorrem de maneira independente,
pois as proteínas transportadoras são as mesmas. Ou seja, as
quantidades dessas substâncias são limitantes entre si: se houver
muita secreção de PAH, haverá pouca secreção das outras
substâncias.
o Uma vez captados os cátions orgânicos, eles são enviados ao lúmen tubular
por um contratransportador cátion/H+, o que acaba removendo H+ do
fluido tubular.
Diuréticos
• Diuréticos: são drogas que agem no néfron inibindo a reabsorção de sódio,
aumentando sua excreção na urina. Em consequência, o volume urinário
aumenta, pois, uma menor reabsorção de sódio determina uma menor reabsorção
de água, e uma maior concentração de sódio na urina aumenta a pressão osmótica
deste fluido, provocando a retenção da água.
Figura 144: Esquematização das trocas entre os fluidos dos compartimentos corporais.
o Água: a água é capaz de passar por osmose de qualquer compartimento para
outro, em um processo conhecido como osmose. A osmose é dependente da
osmolaridade dos compartimentos corporais, sendo que a maior
osmolaridade de um lado fornece pressão osmótica que “puxa” a água para
dentro de outro compartimento.
o Íons Na+: como regra geral, a membrana plasmática é impermeável a íons
sódio. Dessa forma, ele não é trocado entre os compartimentos, agindo
como o principal íon osmoticamente ativo, determinando as variações de
osmolaridade entre os compartimentos corporais.
Figura 149: Expansão do volume de LIC e LEC após ganho de água pura.
Figura 150: Contração de volume de LIC e LEC após perda de água pura.
• A perda de água pura pelo LEC reduz o volume do LEC e também aumenta a
osmolaridade do LEC.
o O organismo então age para igualar as osmolaridades de LEC e LIC,
promovendo a osmose para o LEC, aumentando um pouco o volume do
LEC, mas que ao final continua menor do que o volume inicial. Assim, os
volumes do LEC e do LIC ficam reduzidos.
o O valor da osmolaridade, idêntico para LIC e LEC, fica maior do que o
valor inicial.
• Esta condição pode ocorrer pela não ingestão de água (para repor o volume de
água que é excretado diariamente), pelo diabetes insipidus nefrogênico (doença
em que grandes volumes de água hipotônica são excretados, por não expressão de
receptores para o ADH).
• Correção: a correção é feita pelo estímulo para a liberação do ADH, pois houve
redução do volume plasmático e aumento de osmolaridade. O ADH evita a perda
progressiva de volume do LEC, e também estimula o centro da sede para que haja a
ingesta de água pura, que por sua vez aumenta o volume plasmático e reduz a
osmolaridade.
Figura 151: Expansão do volume do LEC e contração do volume do LIC após o ganho de sódio pelo
LEC.
Figura 152: Contração de volume do LEC e expansão do volume do LIC após perda de sódio pelo
LEC.
Volume
Tipo Condição Volume LIC Osmolaridade
LEC
Diarreia
Perda
Hemorragia Reduz Inalterado Inalterado
isosmótica Sudorese básica
Perda
Insuficiência adrenal Reduz Aumenta Reduz
hiperosmótica
Sudorese intensa
Perda
Febre Reduz Reduz Aumenta
hiposmótica Diabetes insipidus
Ganho Infusão de soro
Aumenta Inalterado Inalterado
isosmótico isotônico
Ganho Aumento da ingestão
de sal
Aumenta Reduz Aumenta
hiperosmótico
Ganho Secreção inadequada
de ADH
Aumenta Aumenta Reduz
hiposmótico
Tipos de desidratação
• Tipos de desidratação (não cai na prova): são definidos de acordo com a variação
da concentração de sódio após a concentração de volume extracelular.
o Isotônica/isonatrêmica: há perda de água e de sódio. Causas: falta de
aldosterona, insuficiência renal (deixa de reabsorver água e sódio), uso
abusivo de diuréticos. Manifestações clínicas: sede intensa, queda de
pressão arterial na posição ereta, taquicardia, cefaleia, fraqueza.
o Hipotônica/hiponatrêmica (lembrar que nem sempre uma hiponatremia está
associada à hipotonicidade): há perda de água do volume extracelular,
ficando o sódio mantido. Normalmente é uma evolução da desidratação
isotônica, pois ela ativa o centro da sede, a pessoa bebe mais água, mas essa
água é deslocada para o volume intracelular para igualar as osmolaridades.
Nesse caso, os sintomas ficam intensificados, havendo também distúrbios
neuropsiquiátricas. Outras causas são nefrites crônicas e exercícios intensos.
o Hipertônica/hipernatrêmica: há aumento de osmolaridade do volume
extracelular, provocando saída de água do volume intracelular para igualar
as osmolaridades, que agora ficarão maiores. Causa: diabetes insipido, falta
de ingestão de água. Manifestações clínicas: ressecamento da pele,
irritabilidade, sonolência, confusão mental.
Sistema renina-angiotensina-aldosterona
• Estímulos para a ativação do SRAA: o SRAA pode ser estimulado por vários
fatores, os quais sensibilizam o aparelho justaglomerular, que é também o
responsável pela ativação do SRAA.
o Baixa pressão sanguínea: o aumento de pressão sanguínea na arteríola
aferente inibe a liberação de renina pelas células justaglomerulares;
portanto, a pressão sanguínea menor promove a liberação de renina.
o Estimulação simpática β1: os nervos β1 adrenérgicos estimulam a
liberação de renina.
o Baixo fluxo tubular e baixa concentração de sódio tubular (resultantes
de baixo volume extracelular): o maior fluxo de NaCl no néfron distal
inibe a liberação de renina; o menor fluxo promove a liberação de renina.
o Baixo PNA: o PNA tem a ação de inibir a ativação do SRAA, portanto os
baixos níveis de PNA permitem a ativação deste sistema.
o Hipercalemia: o aumento da concentração plasmática de potássio estimula
a liberação de aldosterona.
o Hipocalcemia: estimula a liberação de renina.
o Aumento de prostaglandinas: estimula a liberação de renina.
• Cascata de ativação: a ativação do SRAA envolve os seguintes processos:
o As células justaglomerulares produzem a enzima proteolítica renina e a
secretam nas arteríolas aferentes;
o A renina cliva o angiotensinogênio (uma proteína plasmática secretada
pelo fígado) formando a angiotensina I;
o A angiotensina I é convertida pela enzima conversora de angiotensina
(ECA), produzida pelos pulmões, em angiotensina II, sua forma ativa;
o Para efeitos de longo prazo, a angiotensina II estimula a zona glomerulosa
do córtex da glândula adrenal a produzir aldosterona.
o A angiotensina II também faz feedback negativo sobre a liberação de
renina.
• Efeitos do SRAA:
o Efeitos da angiotensina II:
▪ Estimula a adrenal a produzir aldosterona;
▪ Estimula o hipotálamo/neuro-hipófise a produzir ADH;
▪ Estimula diretamente a reabsorção de sódio (e, assim, de água) nos
túbulos proximais;
▪ Provoca vasoconstrição das arteríolas aferentes e eferentes, o que
resulta em um menor RFG e em retenção de sódio pelo sangue;
▪ Estimula o centro da sede, estimulando a ingesta de água para
aumentar o volume plasmático.
o Efeitos da aldosterona: a aldosterona é um mineralocorticoide que se liga
aos seus receptores citoplasmáticos na porção final dos túbulos distais e
túbulos coletores.
▪ Estimula a reabsorção de Na+ e água (por aumentar os canais de
influxo de Na+, os cotransportadores de Na+/H+, e a Na+/K+ ATPase
basolateral), o que limita as perdas urinárias;
▪ Estimula a secreção de K+, combatendo a hipercalemia.
Homeostase de potássio
• Normalmente o potássio está em baixa concentração no plasma. A maior parte está
dentro das células. Assim, qualquer alteração de potássio por mínima que seja
aumenta essa concentração plasmática.
• Quando o potássio é ingerido, a concentração dele no plasma aumenta, precisando a
célula captá-lo pela bomba de sódio e potássio, que é ativada por aldosterona,
insulina e epinefrina.
• Condições:
o Hipocalemia: reduz o potencial de membrana das células. Dificulta a
despolarização das células. Sintoma: astenia.
o Hipercalemia: aumenta o potencial de membrana das células. Facilita
demais a despolarização das células. É assintomática. Pode levar a
fibrilação ventricular.
OBS
• A membrana luminal possui:
o Cotransportador de sódio e glicose para a célula
o Cotransportador de sódio e aminoácidos para a célula
o Cotransportador de sódio e fosfato, lactato e citrato para a célula
o contratransportador de sódio (influxo) e hidrogênio (efluxo)
▪ O hidrogênio advém do gás carbônico captado pela célula. Uma vez
dentro dela, o gás carbônico é convertido em hidrogênio e
bicarbonato pela anidrase carbônica. Assim, o hidrogênio é
excretado na urina
▪ Se houver inibição da anidrase carbônica, haverá menos reabsorção
de sódio, portanto. Então, alguns diuréticos agem inibindo a anidrase
carbônica
▪ Outros diuréticos possuem uma ação de aumentar a osmolaridade da
urina, dificultando a reabsorção de água.
o A membrana basolateral possui:
▪ Bomba de sódio e potássio
Figura 154: Mecanismo celular para reabsorção de HCO3- filtrado pelas células do túbulo proximal.
o A reabsorção de bicarbonato ocorre principalmente quando há a passagem
de CO2 da urina (a partir da conversão de H2CO3 da urina em H2O e CO2
pela anidrase carbônica) para a célula tubular. No interior dessa célula, esse
CO2 reage com a água, catalisado pela anidrase carbônica, e forma o
bicarbonato.
o O mecanismo de passagem do bicarbonato para o sangue ocorre juntamente
com a passagem de sódio para o sangue também. Esse sódio, por sua vez,
está sendo reabsorvido da urina ao mesmo tempo em que hidrogênio está
sendo secretado.
▪ Por isso, pessoas com contração de volume sanguíneo possuem uma
alcalose sanguínea: na contração de volume, a quantidade de sódio
reabsorvido será maior (para reabsorver mais água e assim evitar a
perda o volume sanguíneo), portanto a quantidade de hidrogênio
secretado será maior. Assim, associada à alcalose sanguínea, haverá
uma acidose urinária.
• Ação das células intercalares: tanto secretam H+ quanto bicarbonato.
o O mecanismo de secreção de H+ é pela: