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Núcleo Universitário Cristão
ENSINO DO MÉTODO
CLÍNICO & SEMIOLOGIA
3º Período Medicina UFG
Sumário
EXAME FÍSICO GERAL .............................................................................................................................. 6
FÁCIES ......................................................................................................................................................... 7
NÍVEL DE CONSCIÊNCIA............................................................................................................................. 20
BIOTIPO .................................................................................................................................................... 22
AVALIAÇÃO DE MUCOSAS......................................................................................................................... 26
AVALIAÇÃO DA MUSCULATURA................................................................................................................ 32
CABELOS ................................................................................................................................................. 47
PELOS ..................................................................................................................................................... 47
UNHAS ................................................................................................................................................... 48
PULSO RADIAL........................................................................................................................................... 57
Parâmetros de avaliação .................................................................................................................. 57
Tipos de onda pulsátil ....................................................................................................................... 59
PULSO CAPILAR ......................................................................................................................................... 60
PULSO CAROTÍDEO ..................................................................................................................................... 60
PULSO JUGULAR E PULSO VENOSO .................................................................................................................. 60
SÍNDROME FEBRIL..................................................................................................................................... 72
SÍNDROME ANÊMICA................................................................................................................................ 86
SÍNDROME HIPOGLICÊMICA...................................................................................................................... 93
SÍNDROME TROMBOEMBÓLICA................................................................................................................ 94
SÍNDROME NEFRÍTICA............................................................................................................................... 95
DISPNEIA................................................................................................................................................. 125
EXAME
FÍSICO GERAL
Fácies
Fácies: é o conjunto de dados exibidos na face do paciente. É resultante dos traços
anatômicos mais a expressão fisionômica. Não apenas os elementos estáticos, mas,
e principalmente, a expressão do olhar, os movimentos das asas do nariz e a
posição da boca.
o Certas doenças imprimem na face traços característicos, e, algumas vezes,
o diagnóstico nasce da simples observação do rosto do paciente.
Fácies normal e fácies atípica: para distinguir uma da outra, é preciso “ensinar o
olho a ver”. Mesmo quando não há traços anatômicos ou expressão fisionômica
para caracterizar uma fácies atípica, é importante identificar, no rosto do paciente,
sinais indicativos de tristeza, ansiedade, medo, indiferença e apreensão.
Fácies hipocrática: indica doença grave e quase nunca falta nos estados agônicos
das afecções que evoluem de modo mais ou menos lento.
o Olhos fundos, parados e inexpressivos;
o Nariz afila-se e observa-se “batimentos das asas do nariz”;
o Lábios se tornam adelgaçados e observa-se cianose labial discreta;
o Rosto coberto de suor;
o Palidez cutânea.
Fácies renal: observada nas doenças difusas dos rins (síndrome nefrótica,
glomerulonefrite difusa aguda).
o Elemento característico: edema ao redor dos olhos;
o Palidez cutânea.
Fácies leonina: produzida pelas lesões da hanseníase.
o Pele espessa, com grande número de lepromas, em maior número na fronte;
o Queda de supercílios;
o Nariz se espessa e se alarga;
o Lábios tornam-se grossos e proeminentes;
o Bochechas e queixo se deformam pelo aparecimento de nódulos;
o Barba escasseia ou desaparece.
Fácies adenoidiana: aparece nos portadores de hipertrofia das adenoides, que
dificultam a respiração pelo nariz ao obstruírem os orifícios posteriores das fossas
nasais.
o Nariz pequeno e afilado;
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o Voz pastosa;
o Sorriso meio indefinido.
Fácies esclerodérmica (ou fácies de múmia): indicativa uma doença autoimune
chamada esclerodermia.
o Característica fundamental: quase completa imobilidade facial (fisionomia
inexpressiva, parada, imutável);
o Pele apergaminhada, endurecida e aderente aos planos profundos;
o Repuxamento dos lábios;
o Afinamento do nariz;
o Imobilização das pálpebras.
Estado geral
Avaliação do estado geral: é uma avaliação subjetiva com base no conjunto de
dados exibidos pelo paciente e interpretados de acordo com a experiência de cada
um. Ou seja, é o que aparente o paciente, visto em sua totalidade. A nomenclatura
de descrição da impressão estado geral é:
o Estado geral bom;
o Estado geral regular;
o Estado geral ruim.
Utilidade prática da avaliação do estado geral:
o Fazer possível compreender até que ponto a doença atingiu o organismo
visto como um todo;
o Servir de alerta para o médico nos casos com escassos sinais ou sintomas
indicativos de uma determinada enfermidade, obrigando-o a aprofundar sua
investigação diagnóstica na busca de uma afecção que justifique a
deterioração do estado geral;
o A manutenção de um estado geral bom, na presença de uma doença
sabidamente grave, indica uma boa capacidade de reação do organismo que
tem, inclusive, valor prognóstico.
Decúbito no leito
Atitude (ou decúbito preferido): posição adotada pelo paciente no leito ou fora
dele, por comodidade, hábito ou com o objetivo de conseguir alívio para algum
padecimento.
o Algumas posições são conscientemente procuradas pelo paciente (atitudes
voluntárias), enquanto outras independem de sua vontade ou são
resultantes de estímulos cerebrais (atitudes involuntárias).
A primeira preocupação do médico deve ser distinguir essas duas
condições, só tendo valor diagnóstico as atitudes involuntárias ou as
que proporcionam alívio para algum sintoma.
Se nada for observado, pode-se dizer que o paciente não tem uma
atitude específica ou que ela é indiferente.
o Posição antálgica: posição adotada pelo paciente para aliviar sua dor.
Atitudes voluntárias
Atitude ortopneica: o paciente a adota para aliviar a falta de ar decorrente de
insuficiência cardíaca, asma brônquica e ascites volumosas.
o Permanecer sentado à beira do leito com os pés no chão ou em uma
banqueta;
o Mãos apoiadas no colchão para melhorar um pouco a respiração;
o Respiração dificultosa;
o Estado grave: permanecer deitado com os pés estendidos ao longo da cama,
mas recostado com a ajuda de dois ou mais travesseiros, na tentativa de
colocar o tórax o mais ereto possível.
Atitude genupeitoral (ou atitude de “prece maometana”): essa posição facilita o
enchimento do coração nos casos de derrame pericárdico.
o Posiciona-se de joelhos com o tronco fletido sobre as coxas, enquanto a face
anterior do tórax põe-se em contato com o solo ou colchão;
o O rosto descansa sobre as mãos, que também ficam apoiadas no solo ou
colchão.
Posição de cócoras (ou squatting): observada em crianças com cardiopatia
congênita cianótica. Os pacientes descobrem, instintivamente, que ela proporciona
algum alívio da hipoxia generalizada, que acompanha essas cardiopatias, em
decorrência da diminuição do retorno venoso para o coração.
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Atitudes involuntárias
Atitude passiva: observada em pacientes inconscientes ou comatosos.
o O paciente fica na posição em que é colocado no leito, sem que haja
contratura muscular.
Ortótono (orthos = reto; tonus = tensão): todo o tronco e os membros ficam
rígidos, sem se curvarem.
Opistótono (opisthen = para trás): é observada nos casos de tétano e meningite,
decorrente de contratura da musculara lombar.
o O corpo passa a se apoiar na cabeça e nos calcanhares, emborcando-se
como um arco.
Emprostótono (emprosthen = para diante): é observado no tétano, na meningite e
na raiva, sendo o contrário do opistótono.
o O corpo do paciente forma uma concavidade voltada para diante.
Pleurostótono (pleurothen = de lado): é observado no tétano, na meningite e na
raiva, mas é raro.
o O corpo se curva lateralmente.
Posição em gatilho: encontrada na irritação meníngea, mais comum em crianças.
o Hiperextensão da cabeça;
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Movimentos involuntários
Tremores: movimentos alternantes, mais ou menos rápidos e regulares, de pequena
ou média amplitude, que afetam principalmente as partes distais dos membros.
o Utilizam-se duas manobras para a pesquisa dos tremores:
Solicitar ao paciente que estenda as mãos com as palmas voltadas
para baixo e com os dedos separados. Permite verificar a amplitude
dos movimentos.
Solicitar ao paciente que leve um copo, em uma das mãos, da mesa à
boca; ou que toque o próprio nariz com a ponta do indicador.
Permite caracterizar tremores de repouso e de ação.
o Tremor de repouso: surge durante o repouso e desaparece om
movimentação e sono. Ocorre no parkinsonismo. É um tremor oscilatório,
em regra mais evidente nas mãos, simulando o gesto de “enrolar cigarro”.
o Tremor de atitude (ou tremor de postura): surge quando o membro é
colocado em uma determinada posição. Ocorre no pré-coma hepático
(sendo designado como flapping ou asterix) e na doença de Wilson.
Tremor familiar: tremor de atitude mais frequente. É regular, não
muito grosseiro, acentuado pelas emoções e acomete vários
membros de uma família.
Asterix (flapping): são movimentos rápidos, de amplitude variável,
que ocorrem nos segmentos distais e apresentam certa semelhança
com o bater de asas das aves. São melhor notados com os braços
estendidos e as mãos superestendidas de modo a formar um ângulo
reto com o antebraço, e então o médico força para trás as mãos do
paciente. É frequente na insuficiência hepática, e aparece no coma
urêmico.
o Tremor de ação: surge ou se agrava quando um movimento é executado.
Aparece nas doenças cerebelares.
o Tremor vibratório: é fino e rápido como se fosse uma vibração. Pode
surgir no hipertireoidismo, no alcoolismo, na neurossífilis ou ser de origem
emocional.
Nível de consciência
Avaliação do nível de consciência e do estado mental: são dois aspectos da
avaliação neurológica e psiquiátrica.
Estados de consciência
Estado de vigília: estado de percepção consciente do mundo exterior e de si
mesmo. Este estado é resultante da atividade de diversas áreas cerebrais
coordenadas pelo sistema reticulotalâmico.
Obnubilação: quando o paciente apresenta apenas distúrbios de ideação e certa
confusão mental. A consciência é comprometida de modo pouco intenso, mas seu
estado de alerta é moderadamente comprometido.
Sonolência: o paciente é facilmente despertado, responde mais ou menos
apropriadamente e volta logo a dormir.
Confusão mental: perda de atenção, o pensamento não é claro, as respostas são
lentas e não há percepção normal do ponto de vista temporoespacial, podendo
surgir alucinações, ilusão e agitação.
Torpor (ou estupor): alteração de consciência mais pronunciada, mas o paciente
ainda é despertado por estímulos mais fortes, tem movimentos espontâneos e não
abre os olhos.
Coma grau I (ou coma leve, ou coma vígil): comprometimento leve da
consciência. O paciente:
o Atende a ordens simples (abrir e fechar os olhos, levantar os braços) e
responde a perguntas pessoais;
o Reage bem e de modo apropriado à estimulação dolorosa;
o Deglutição normal.
Coma grau II (ou coma de grau médio): perda quase total da consciência, com
perceptividade bastante reduzida. O paciente:
o Responde apenas a estimulação dolorosa enérgica, e o faz
desapropriadamente.
o Deglutição feita com dificuldade;
o Preservados reflexos tendinosos, cutâneos e pupilar.
Coma grau III (ou coma profundo, ou coma carus): perda de consciência
completa, com perceptividade zero. O paciente:
o Não responde às solicitações externas, por mais intensas que sejam.
o Não deglute água;
o Nenhum estímulo doloroso desperta reação;
o Arreflexia tendinosa, cutânea e pupilar;
o Relaxamento completo da musculatura;
o Incontinência esfinctérica.
Coma grau IV (ou coma depassé): coma grau III combinado com
comprometimento das funções vitais. É quase sempre um estado irreversível. O
paciente:
o Parada respiratória (apneia), precisando a ventilação ser mantida totalmente
à custa de respiradores artificiais;
o O eletroencefalograma revela silêncio elétrico cerebral.
Biotipo
Biotipo (ou tipo morfológico): conjunto de características morfológicas
apresentadas pelo indivíduo, e não pode ser confundido com altura, apesar de certa
correlação.
o Utilidade prática da determinação do biotipo: correta interpretação das
variações anatômicas que acompanham cada tipo morfológico, pois há
relação entre forma exterior do corpo e posição do corpo, por exemplo, na
forma do coração, na localização do ictus cordis, e na forma do estômago.
Temperatura corporal
Temperatura corporal: a temperatura do interior do corpo permanece quase
constante, em uma variação de no máximo 0,6°C, mesmo quando exposto a
extremos de frio ou calor, graças ao aparelho termorregulador. Já a temperatura da
parte externa do corpo, ao contrário, está sujeita às variações das condições
ambientais.
Variações na temperatura normal: são observadas:
o Entre pessoas diferentes;
o Em uma mesma pessoa, em diferentes partes de seu corpo;
o Aumento de temperatura em condições fisiológicas como refeições,
exercícios físicos intensos, gravidez e ovulação.
Aparelho termorregulador
Tecido adiposo: O calor gerado no interior do corpo atinge a superfície corporal
por meio dos vasos sanguíneos que formam o plexo vascular subcutâneo, mas
pouco calor se difunde para a superfície, graças ao efeito isolante da camada do
tecido adiposo.
Fluxo sanguíneo: um elevado fluxo sanguíneo faz com que o calor seja conduzido
da parte interna para a superfície corporal com grande eficiência; uma redução do
fluxo sanguíneo provoca efeito contrário.
o Vasoconstrição: o controle do valor do fluxo sanguíneo é feito pelo grau de
constrição das arteríolas e das anastomoses arteriovenosas. Por sua vez, a
vasoconstrição é regulada pelo sistema nervoso autônomo simpático.
Perda de calor para o ambiente: ao chegar à superfície corporal, o calor é
transferido do sangue para o meio externo através de irradiação, condução e
evaporação.
o Irradiação: ocorre quando a temperatura corporal é mais alta que a do meio
ambiente.
o Condução: ocorre quando o corpo encosta em um material de temperatura
menor que a dele. Neste caso, o corpo cede calor até que a temperatura de
ambos se iguale.
Convecção: a mesma lógica do mecanismo de condução ocorre
entre o corpo e o ar próximo que o envolve, mas esta interação é
Aferição da temperatura
Termômetro: a temperatura corporal é verificada por meio do termômetro clínico,
que no Brasil é graduado em graus Celsius (°C). Os termômetros clínicos registram
temperaturas entre 35 e 42°C, e os eletrônicos, entre 32 e 43°C.
Avaliação de mucosas
Mucosas examináveis: as mucosas facilmente examináveis a olho nu e sem auxílio
de qualquer aparelho são:
o Conjuntivas oculares;
o Mucosas da cavidade bucal: labiobucal, lingual e gengival.
Inspeção das mucosas: o método de exame das mucosas é a inspeção, coadjuvado
por manobras singelas que exponham as mucosas à visão do examinador. Assim,
no caso das mucosas bucais, solicita-se ao paciente que abra a boca e ponha a
língua para fora. Devem ser analisadas a coloração e a umidade das mucosas.
o Iluminação: para a inspeção das mucosas, é indispensável uma boa
iluminação, de preferência com luz natural complementada por uma
pequena lanterna.
Coloração das mucosas:
o Mucosas normocoradas: a coloração normal das mucosas é róseo-
avermelhada, decorrente de sua rica rede vascular. A esse aspecto normal
dá-se o nome de mucosas normocoradas.
o Mucosas descoradas (ou palidez das mucosas): é a diminuição ou perda
da cor róseo-avermelhada, devido à ausência de perfusão sanguínea
adequada na mucosa.
Procura-se fazer uma avaliação quantitativa, usando-se a escala de
1 a 4 cruzes (+, ++, +++ e ++++). 1 cruz significa leve diminuição
da cor normal, enquanto 4 cruzes indicam o desaparecimento da
coloração rósea, tornando-se as mucosas brancas como folha de
papel. As situações intermediárias (2 e 3 cruzes) são reconhecidas à
medida que se ganha experiência.
A grande indicação de mucosas descoradas é anemia. Apesar dos
vários tipos de anemia, o fator comum entre elas é a diminuição de
hemácias e hemoglobina do sangue, causando o descoramento das.
A síndrome anêmica se caracteriza ainda por palidez da pele,
fadiga, astenia e palpitações. Dependendo do tipo de anemia, pode-
se ainda observar sintomas como icterícia (anemia hemolítica) e
distúrbios nervosos localizados nos membros inferiores (anemias
Avaliação da musculatura
Avaliação da musculatura: todos os grupos musculares devem ser examinados,
uma vez que existem doenças que comprometem a musculatura de modo
generalizado e doenças que acometem apenas grupos musculares ou músculos
isolados.
Métodos de avaliação da musculatura:
o Inspeção: é preciso olhar atentamente a superfície corporal do paciente em
repouso, observando o relevo das massas musculares mais volumosas.
o Palpação: é feita com as polpas digitais colocadas em forma de pinça, com
o polegar em oponência aos demais dedos da mão. De início, palpa-se o
músculo/grupo muscular em estado de repouso e depois em uma leve
contração do segmento em exame.
Parâmetros para avaliação da musculatura:
o Troficidade: corresponde à massa do próprio músculo.
Musculatura normal;
Musculatura hipertrófica: aumento da massa muscular.
Musculatura hipotrófica: diminuição da massa muscular.
o Tonicidade: é o estado de semicontração própria do músculo normal.
Tônus normal;
Hipertonicidade, espasticidade, musculatura espástica ou
rigidez: nota-se um estado de contração ou semicontração do
músculo, mesmo em repouso, evidenciado pelo relevo muscular e
aumento da consistência à palpação;
Hipotonicidade ou flacidez: significa que o tônus está diminuído ou
ausente, com perda do contorno da massa muscular e diminuição da
consistência.
Causas de alteração:
o Poliomielite: são percebidos grupos musculares hipotróficos e flácidos,
decorrentes de lesões do neurônio motor inferior;
o Hemiplegias: encontra-se espasticidade da musculatura correspondente;
o Lesões extrapiramidais: é típico o aumento da tonicidade sem alterações
da troficidade;
Avaliação da pele
Avaliação da pele: as condições básicas para o exame da pele são iluminação
adequada, desnudamento das partes a serem examinadas, conhecimento prévio dos
procedimentos semiotécnicos.
Parâmetros da avaliação de pele:
o Coloração
o Continuidade ou integridade
o Umidade
o Textura
o Espessura
o Temperatura
o Elasticidade
o Mobilidade
o Turgor
o Sensibilidade
o Lesões elementares
Pele senil: na pele do paciente idoso, observa-se diminuição da elasticidade, do
turgor, da espessura, das glândulas sudoríparas e sebáceas, decorrente de alterações
do próprio envelhecimento e da ação ambiental, principalmente dos raios
ultravioleta, estimuladores de hipopigmentação e hiperpigmentação e de
hiperqueratinização. São frequentes, também, telangiectasias, equimoses e
melanoses.
Coloração da pele
Coloração de pele normal: nos indivíduos de cor branca e nos pardos-claros,
observa-se a coloração levemente rosada, que é o aspecto normal em condições de
higidez. Este róseo-claro ocorre em virtude da circulação sanguínea pela rede
capilar cutânea, e pode sofrer variações fisiológicas (exposição ao frio ou sol, após
emoções).
o Avaliação clínica do fluxo sanguíneo: pressionar a polpa do polegar de
encontro ao esterno durante alguns segundos, expulsando o sangue que flui
naquela área; retirar o dedo rapidamente e observar o local comprimido.
Condições normais de fluxo: o tempo para que seja recuperada a
cor rósea é inferior a um segundo.
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Continuidade ou integridade
Perda de continuidade/integridade da pele: ocorre na erosão/exulceração,
ulceração, fissura ou rágade.
Umidade
Umidade normal: geralmente a pele tem certo grau de umidade que pode ser
percebido ao se examinarem indivíduos hígidos, tanto por inspeção quanto por
palpação.
Pele seca: pele com umidade reduzida que confere ao tato uma sensação especial.
Ex.: pessoas idosas, algumas dermopatias crônicas (esclerodermia, ictiose),
mixedema, avitaminose A, intoxicação por atropina, insuficiência renal crônica,
desidratação.
Umidade aumentada ou pele sudorenta: pode ser fisiológica ou patológica. Ex.:
febre, ansiedade, hipertireoidismo, doenças neoplásicas, sudorese por ondas de
calor da menopausa.
Textura
Textura normal: desperta uma sensação própria proporcionada pela experiência de
se deslizar as polpas digitais sobre a superfície cutânea em condições normais.
Pele lisa/fina: Ex.: pessoas idosas, hipertireoidismo, áreas recentemente
edemaciadas.
Pele áspera: Ex.: exposição a intempéries, prática de atividades rudes (lavradores,
pescadores, garis, foguistas), mixedema, dermopatias crônicas.
Pele enrugada: Ex.: pessoas idosas, emagrecimento rápido, após eliminação de
edema.
Espessura
Pele de espessura normal: observada em indivíduos hígidos quando se faz o
pinçamento de uma dobra cutânea, usando o polegar e o indicador, sem alcançar o
tecido celular subcutâneo (apenas epiderme e derme), nas regiões do antebraço,
tórax e abdome.
Pele atrófica: tem alguma translucidez que possibilita a visualização da rede
venosa superficial. Ex.: pessoas idosas, recém-nascidos prematuros, algumas
dermatoses.
Pele hipertrófica/espessa: Ex.: exposição ao sol, esclerodermia.
Temperatura
Temperatura cutânea normal: a temperatura normal da pele (diferente de
temperatura corporal) é avaliada usando-se a palpação com a face dorsal das mãos
ou dos dedos, comparando-se com o lado homólogo cada segmento examinado.
o Alterações fisiológicas de temperatura cutânea: Ex.: temperatura do
meio ambiente, emoção, ingestão de alimentos, sono.
Alterações patológicas de temperatura cutânea: são relevantes aquelas que
mostrarem discrepâncias de até 2°C em regiões homólogas, detectadas por
palpação. Indicam transtornos da irrigação sanguínea.
o Temperatura cutânea aumentada: pode ser universal/generalizada
(febre/hipertermia) ou restrito/sementar (processos inflamatórios). No
segundo caso, pode estar associada com dor provocada.
o Temperatura cutânea diminuída: pode ser universal/generalizada
(hipotermia) ou localizada/segmentar (redução do fluxo sanguíneo,
isquemia). No segundo caso, está associada com palidez. Pode ser causada
por transtornos de ansiedade (frialdade nas extremidades com sudorese).
Elasticidade
Elasticidade normal: a elasticidade é a propriedade de o tegmento cutâneo se
estender quando tracionado. Para avaliá-la, pinça-se a prega cutânea com o polegar
e o indicador, fazendo em seguida certa tração, ao fim da qual se solta a pele. Em
pessoas normais, a prega cutânea se desfaz prontamente.
Aumento da elasticidade (ou pele hiperelástica): características semelhantes às
da borracha. Ao se efetuar uma leve tração, a pele se distende duas a três vezes
mais que a pele normal. Ex.: síndrome de Ehlers-Danlos.
Diminuição da elasticidade (ou hipoelasticidade): a pele, ao ser tracionada, volta
vagarosamente à posição primitiva (a prega cutânea se desfaz lentamente). Ex.:
pessoas idosas, pacientes desnutridos, abdome de multíparas, desidratação.
Mobilidade
Mobilidade normal: a mobilidade é a capacidade da pele de se movimentar sobre
os planos profundos subjacentes. Para pesquisá-la, pousa-se firmemente a palma da
mão sobre a superfície que se quer examinar e movimenta-se a mão para todos os
lados, fazendo-a deslizar sobre as estruturas subjacentes (ossos, articulações,
tendões, glândula mamária).
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Turgor
Turgor normal: o turgor é avaliado pinçando com o polegar e o indicador uma
prega de pele que abranja o tecido subcutâneo. O turgor normal dá a sensação de
pele suculenta em que, ao ser solta, a prega se desfaz rapidamente, indicando
conteúdo normal de água (pele hidratada).
Turgor diminuído: sensação de pele murcha e observação de lento desfazimento
de prega. Ex.: desidratação.
Sensibilidade
Sensibilidade dolorosa: é pesquisada tocando-se a pele com a ponta de uma
agulha. Pode estar diminuída ou aumentada.
o Hipoalgesia (ou analgesia): ausência de dor ao contato com algo aquecido
ou ao se ferir. Ex.: hanseníase.
o Hiperestesia: até os toques mais leves e suaves despertam nítida dor. Ex.:
abdome agudo, síndrome isquêmica das extremidades inferiores,
neuropatias periféricas.
Sensibilidade tátil: é pesquisada friccionando-se levemente o local com uma
mecha de algodão.
o Anestesia (ou hipoestesia): perda ou diminuição da sensibilidade tátil.
Sensibilidade térmica: é pesquisada com dois tubos de ensaio, um com água
quente e outro com água fria.
Lesões elementares
Avaliação das lesões elementares: é feita por inspeção (que pode ser auxiliada
pelo uso de uma lupa) e pela palpação.
Alterações de cor
Mancha (ou mácula): nome dado às lesões elementares por alteração de cor,
correspondendo à área circunscrita de coloração diferente da pele normal, no
Elevações edematosas
Elevações edematosas: causadas por edema na derme ou hipoderme. Ex.: urticária.
o Lesão urticada: formações sólidas, uniformes, de formato variável
(arredondados, ovalares, irregulares), em geral eritematosas, e quase sempre
pruriginosas, resultando de um edema dérmico circunscrito.
Formações sólidas
Pápulas: elevações sólidas da pele, de pequeno tamanho (até 1 cm de diâmetro),
superficiais, bem delimitadas, com bordas facilmente percebidas quando se desliza
a polpa digital sobre a lesão. Podem ser puntiformes, um pouco maiores ou
lenticuladas, planas ou acuminadas, isoladas ou coalescentes, da cor da pele normal
ou de cor rósea, castanha ou arroxeada. Ex.: picada de inseto, leishmaniose,
blastomicose, verruga, erupções medicamentosas, acne, hanseníase.
Tubérculos: elevações sólidas, circunscritas, de diâmetro maior que 1 cm, situadas
na derme. A consistência pode ser mole ou firme. A pele circunjacente tem cor
normal ou pode estar eritematosa, acastanhada ou amarelada; geralmente
desenvolve cicatriz. Ex.: sífilis, tuberculose, hanseníase, esporotricose, sarcoidose.
Formações sólidas na hipoderme: são mais perceptíveis pela palpação do que
pela inspeção. Essas lesões têm limites imprecisos, a consistência pode ser firme,
elástica ou mole, podem estar isolados ou agrupadas ou coalescentes, podem ser
dolorosas ou não, a pele circundante pode ser normal, eritematosa ou arroxeada.
o Nódulos: são de pequeno tamanho (grão de ervilha). Nodosidades são mais
volumosas. Ex.: furúnculo, eritema nodoso, hanseníase, cistos, epiteliomas,
sífilis, bouba, cisticercose.
o Gomas: são nodosidades que tendem ao amolecimento e ulceração com
eliminação de substância semissólida. Ex.: sífilis, tuberculose, micoses
profundas.
Coleções líquidas
Vesícula: elevação circunscrita da pele que contém líquido em seu interior, com
diâmetro limitado a 1 cm. A diferença fundamental entre pápula e vesícula é que
aquela é uma lesão sólida, e esta é constituída por uma coleção líquida. Para dirimir
a dúvida, punciona-se a lesão, e o encontro de substância líquida caracteriza a
vesícula. Ex.: varicela, herpes-zoster, queimaduras, eczema, pênfigo foliáceo.
Bolha: elevação da pele contendo substância líquida com diâmetro superior a 1 cm.
Podem ter conteúdo claro, turvo amarelado (bolha purulenta) ou vermelho-escuro
(bolha hemorrágica). Ex.: queimaduras, pênfigo foliáceo, algumas piodermites,
alergias medicamentosas.
Pústula: vesícula de conteúdo purulento. Ex.: herpes-zoster, queimaduras,
piodermites, acne pustulosa.
Abscessos: coleções purulentas, mais ou menos proeminentes e circunscritas, de
proporções variáveis, flutuantes, de localização dermo-hipodérmica, ou subcutânea.
Ex.: furunculose, hidradenite, blastomicose, abscesso tuberculoso.
o Abscessos quentes: há sinais inflamatórios.
o Abscessos frios: ausência de sinais flogísticos.
Hematomas: formações circunscritas, de tamanhos variados, decorrentes de
derrame de sangue na pele ou nos tecidos subjacentes.
Alterações da espessura
Queratose: modificação circunscrita ou difusa da espessura da pele, que se torna
mais consistente, dura e inelástica, em consequência de espessamento da camada
córnea. Ex.: queratose senil, queratodermia, palmoplantar, ictiose.
o Calo: queratose palmar (nas palmas das mãos) e plantar (nas plantas dos
pés).
Pelos
Progressão etária dos pelos:
o Pré-púberes: os pelos são finos, escassos e de cor castanho-claro ou mesmo
amarelados.
o Puberdade: por ação dos hormônios sexuais, os pelos adquirem as
características e a distribuição do adulto, próprias de cada sexo, havendo
grandes variações raciais e individuais.
o Homem adulto: aparecem barba, pelos nos troncos; os pelos pubianos
formam um losango.
Unhas
Unha normal: forma um ângulo menor que 160°, apresenta apenas uma curva
lateral nítida, a superfície é lisa, brilhante, tem cor róseo-avermelhada, a espessura
e a consistência são firmes.
o Leuconíquias: manchas brancas nas unhas, comuns em pessoas sadias.
Alterações nas unhas: as unhas podem ficar pálidas (anêmicas) ou azuladas
(cianóticas). A superfície pode tornar-se irregular, a espessura aumentar ou
diminuir, o brilho pode desaparecer, a consistência pode diminuir.
Avaliação da circulação
Avaliação da circulação colateral
Desenho venoso: em pessoas de cor branca e de pele clara e delgada (crianças,
idosos, pacientes emagrecidos), pode-se ver com certa facilidade uma rede venosa
desenhada no tronco ou nos membros.
Circulação colateral: presença de circuito venoso anormal visível ao exame da
pele. A rede venosa visível está na topografia normal, simétrica, não é intensa, e as
veias não são sinuosas.
Etiologia da circulação colateral: dificuldade ou impedimento do fluxo venoso
através dos troncos venosos principais (cava inferior, cava superior, tronco venoso
braquiocefálico, ilíacas primitivas). Por causa desse obstáculo, o sangue se desvia
para as colaterais previamente existentes, tornando-se um caminho vicariante capaz
de contornar o local ocluído, parcial ou totalmente.
Localização da circulação colateral: tórax, abdome, raiz dos membros superiores
e segmento cefálico são as regiões em que se pode encontrar circulação colateral.
Direção do fluxo sanguíneo na circulação colateral: é determinada com a
seguinte técnica: comprime-se com as polpas digitais dos dois indicadores,
colocados rentes um ao outro, um segmento da veia a ser analisada; em seguida, os
dedos vão se afastando lentamente, mantida constante a pressão, de modo a
deslocar a coluna sanguínea daquele segmento venoso. Quando os indicadores
estão separados cerca de 5 a 10 cm, são imobilizados e se assegura se realmente
aquele trecho da veia está exangue. Se está, executa-se a outra parte da manobra,
que consiste em retirar um dos dedos, permanecendo comprimida apenas uma
extremidade. Feito isso, procura-se observar o reenchimento daquele segmento
venoso. Se ocorre o enchimento imediato da veia, significa que o sangue está
fluindo no sentido do dedo que permanece fazendo a compressão. Permanecendo
colapsado o segmento venoso, repete-se a manobra, agora descomprimindo-se a
outra extremidade e verificando se houve enchimento do vaso. Assim, o fluxo é
registrado usando-se as seguintes expressões:
o Fluxo venoso abdome-tórax
o Fluxo venoso ombro-tórax
o Fluxo venoso pelve-abdome
Avaliação do edema
Edema: é o excesso de líquido acumulado no espaço intersticial ou no interior das
próprias células. Pode ocorrer em qualquer sítio do organismo, mas, do ponto de
vista semiológico, interessa apenas o edema cutâneo, ou seja, a infiltração de
líquido no espaço intersticial dos tecidos que constituem a pele e a tela celular
subcutânea.
Fisiopatologia do edema
Diminuição da pressão osmótica das proteínas: a pressão osmótica é uma
pressão que faz com que o líquido intersticial tenda a se difundir para o interior dos
vasos venosos. Uma redução dessa pressão, portanto, faz com que o líquido se
acumule.
Etiologia do edema
Edema renal:
Edema cardíaco:
Edema hepático:
Edema da desnutrição proteica:
Edema alérgico:
Edema medicamentoso:
Edema gravídico:
Edema pré-menstrual:
Edema varicoso:
Edema da trombose venosa:
Edema da flebite:
Edema postural:
Linfedema:
Mixedema:
Enfisema subcutâneo
Enfisema subcutâneo: existência de bolhas de ar debaixo da pele. É reconhecido
por meio da palpação, em que se desliza a mão sobre a região suspeita. Essas
bolhas de ar proporcionarão ao examinador uma sensação de crepitação muito
característica.
Etiologia do enfisema subcutâneo: o ar pode ser procedente:
o Do tórax, em decorrência de um pneumotórax;
o De um processo local por ação de bactérias produtoras de gás, como ocorre
nas gangrenas gasosas.
Pulso radial
Palpação da artéria radial: a artéria radial situa-se entre o processo estiloide do
rádio e o tendão dos flexores. Para palpá-la, a mão do paciente deve repousar no
leito ou na mesa de exame em completa supinação; então, empregam-se as polpas
dos dedos indicador e médio, variando a força de compressão até que seja obtido
impulso máximo. O polegar se fixa delicadamente no dorso do punho do paciente.
o Utiliza-se a mão direita para examinar o pulso esquerdo do paciente, e vice-
versa.
Manobra de Osler: é feita palpando-se a artéria radial após insuflação do
manguito acima da pressão sistólica. É positiva quando a artéria permanece
palpável, mas sem pulsações. Ex.: pessoas idosas; pseudo-hipertensão arterial.
Parâmetros de avaliação
Estado da parede arterial: em condições normais, a parede do vaso não apresenta
tortuosidades e é facilmente depressível.
o Parede arterial alterada: a parede pode estar endurecida, irregular e
tortuosa (vaso em “traqueia de passarinho”). Ex.: vasculopatia
genericamente chamada de arteriosclerose (maioria dos vasos);
mediosclerose de Mönckeberg (artéria radial).
Frequência do pulso: é necessário contar sempre o número de pulsações durante
um minuto inteiro, comparando-se este valor com o número de batimentos
cardíacos. A frequência do pulso varia com a idade e em diversas outras condições
fisiológicas, mas, para adultos saudáveis, é normal a frequência de 60 a 100 bpm.
o Taquisfigmia: acima de 100 pulsações por minuto. Ex.: exercício, emoção,
gravidez, estados febris, hipertireoidismo, insuficiência cardíaca,
taquicardia paroxística, miocardite, colapso periférico e hipovolemia.
o Bradisfigmia: menos de 100 pulsações por minuto. Ex.: febre tifoide,
viroses, hipertensão intracraniana e icterícia (causas extracardíacas); lesões
do sistema excitocondutor – comprometimento do nó sinoatrial ou
transtorno na condução do estímulo (causas cardíacas); atletas.
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Pulso capilar
Pulso capilar: é o rubor intermitente e sincrônico com o pulso radial que se
observa em certas regiões, particularmente nas unhas.
Semiotécnica do pulso capilar: faz-se uma leve compressão sobre a borda de uma
unha até que seja identificada uma zona pulsátil que marca a transição da cor rósea
para a pálida. Observando com boa iluminação e atenção, pode-se ver nítida
pulsação nos casos de aumento da pressão diferencial. Em condições normais, a
zona pulsátil é muito discreta, às vezes imperceptível. Ex.: insuficiência aórtica,
fístula arteriovenosa, hipertireoidismo, anemia intensa.
Pulso carotídeo
Pulsações das artérias carótidas: Ex.: exercício, emoções, hipertensão arterial;
o “Dança arterial”: pulsações carotídeas muito evidentes. Ex.: doenças de
aumento de pressão arterial diferencial: insuficiência aórtica,
hipertireoidismo.
Semiotécnica do pulso carotídeo: as artérias carótidas são palpadas e auscultadas
desde a fossa supraclavicular até o ângulo da mandíbula, de cada lado da traqueia,
comparando-se entre si. Os parâmetros pesquisados são:
o Estado da parede arterial: endurecimento, dilatação, tortuosidade;
o Amplitude do pulso: há valor diagnóstico a diferença entre uma carótida e
outra. Ex.: estenose ou oclusão do vaso;
o Presença de frêmitos: Ex.: estenose ou oclusão do vaso (origem na própria
carótida); frêmito irradiado de uma lesão estenótica da valva aórtica.
o Presença de sopros: perceptível com a ausculta das carótidas. Ex.: sopro da
estenose aórtica.
Aferição clínica da PA
Precisão da mensuração clínica da PA: comparando-se os resultados obtidos na
mensuração convencional da PA e na mensuração intra-arterial, foi demonstrado
que, na mensuração clínica, é razoável admitir uma margem de erro de mais ou
menos 8 mmHg para as pressões sistólica e diastólica.
Esfigmomanômetro (ou aparelho de pressão): instrumento para aferição da PA,
formado por um manguito, que se fixa no braço ou na coxa do paciente e contém
uma câmara de borracha, a qual se comunica com uma pera ligada a um dispositivo
valvular e ao manômetro. O tamanho adequado do manguito é de 2/3 do
comprimento do braço.
Tipos de manômetro:
o Coluna de mercúrio: padrão ouro para o registro indireto da pressão, sendo
os demais métodos aferidos a partir dele, devido a sua grande precisão. Não
requer calibração posterior e é de fácil manutenção. Entretanto, é de
tamanho grande, as peças de vidro são frágeis e deve ser mantido em
posição vertical durante o uso.
o Aneroide: é de fácil transporte, mas precisa ser calibrado frequentemente.
o Eletrônico: fornece medidas em um marcador digital, utilizando método
auscultatório ou oscilométrico. Seu grande inconveniente é a perda
frequente da calibração e a dificuldade para se recuperar a precisão.
Monitoramento ambulatorial da PA (MAPA): utiliza método não invasivo de
avaliação para trazer uma série de informações sobre os valores pressóricos ao
longo do dia e durante as atividades do paciente.
o Indicações para o MAPA: hipertensão de consultório (hipertensão do
avental branco), hipertensão lábil, hipertensão episódica, hipertensão
resistente a medicamentos, hipotensão ortostática, disfunção autonômica,
eficácia terapêutica e síncope.
Monitoramento “residencial” da PA
Métodos para medir a PA:
o Método direto: fornece a pressão direta ou intra-arterial. É um
procedimento invasivo e exige equipamento sofisticado, reservado para
pesquisa.
o Método indireto: utiliza-se a técnica auscultatória com estetoscópio. É
relativamente impreciso, mas muito mais largamente utilizado. Mede
pressão diastólica menor que pelo método direto.
Semiotécnica:
o Paciente: deve ter repouso mínimo de 3 min e estar em local tranquilo e
sem ruídos que possam interferir com a ausculta. Durante a aferição, pode
estar sentado, deitado ou em pé (a posição deve ser anotada), desde que com
a artéria braquial no nível do coração. O braço fica ligeiramente flexionado,
apoiado sobre superfície firme, com a palma da mão voltada para cima.
Dependendo da condição do paciente, a medida deve ser feita em várias
posições (idosos, controle de terapêutica, suspeita de hipotensão postural),
ou não deve ser feita em algumas posições (gestantes em decúbito lateral
direito).
o Aparelho: calibrado, com manômetro em plano perpendicular ao plano
visual. O diafragma deve ser colocado exatamente sobre a artéria braquial.
o Observador: pessoa com treinamento, em posição confortável.
Procedimento: realizado pelo método auscultatório. Caso os ruídos estejam sendo
percebidos com dificuldade, aumente o ângulo entre o braço e o tórax, retificando a
artéria.
1. Localizar pulsações da artéria braquial;
2. Colocar o manguito 2 cm acima da fossa cubital;
3. Palpar o pulso radial;
4. Inflar o manguito até o desaparecimento do pulso radial;
5. Desinflar o manguito lentamente, até reaparecer o pulso, quando se anota o
valor da pressão sistólica;
Figure 2: Esquema mostrando a escala de Korotkoff normal (A) e quando ocorre o hiato auscultatório
(B).
Valores de PA
Classificação Pressão sistólica Pressão diastólica
Ótima < 120 mmHg < 80 mmHg
Normal < 130 mmHg < 85 mmHg
Limítrofe 130 a 139 mmHg 85 a 89 mmHg
Estágio 1 140 a 159 mmHg 90 a 99 mmHg
Estágio 2 160 a 179 mmHg 100 a 109 mmHg
Hipertensão
Estágio 3 > 180 mmHg > 110 mmHg
Sistólica, isolada ≥ 140 mmHg < 90 mmHg
Pressão arterial média (PAM): a PAM é obtida por medida direta da PA por
intermédio de cateteres intra-arteriais. Reflete a perfusão tecidual e seu valor
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Idade:
o PA em crianças: deve-se ter como cuidados a adequação do tamanho do
manguito, a diminuição dos movimentos da criança e evitar que a criança
chore. No recém-nascido, em crianças e adolescentes, os níveis tensionais
são inferiores aos encontrados nos adultos.
o PA em idosos: deve-se ter como cuidados a aferição da pressão nas
posições deitada/sentada e em pé (devido à frequência da hipotensão
postural) e a possibilidade de endurecimento arterial (sinal de Osler) que faz
registrar PA maior que a real.
PA em gestantes: a partir do 3º trimestre, a posição da mulher pode afetar a PA,
por isso, as medidas devem ser feitas com a mulher em decúbito lateral esquerdo,
com o braço no nível do coração.
Pressão diferencial: é a distinção entre as pressões sistólica e diastólica. Na
maioria das vezes, os valores da pressão diferencial estão entre 30 e 60 mmHg.
o Decréscimo de pressão diferencial: determina pressão convergente. Ex.:
hipotensão arterial aguda, estenose aórtica, derrame pericárdico, pericardite
constritiva, insuficiência cardíaca grave.
o Aumento da pressão diferencial: determina pressão divergente. Ex.:
síndromes hipercinéticas (hipertireoidismo, fístula arteriovenosa,
insuficiência aórtica) e fibrose senil dos grandes vasos.
Variações de PA:
o A PA medida pelo médico é frequentemente mais elevada do que quando
aferida por outro profissional de saúde.
o Índices pressóricos aferidos no final de uma consulta costumam ser
inferiores aos do início da mesma consulta, por isso, deve-se repetir a
aferição em vários momentos durante a consulta.
o Após refeições, há elevação transitória da PA.
o Durante as emoções e os exercícios, há aumento da PA.
o Durante o sono, há queda da PA.
o Nas primeiras horas da manhã, há elevação da PA.
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ESTUDO DAS
SÍNDROMES
Síndrome febril
Síndrome febril: a febre é a temperatura corporal acima da faixa de normalidade
causada por substâncias que realizam um reajuste no centro termorregulador.
Entretanto, a febre não é apenas um sinal. Na verdade, ela constitui parte de uma
síndrome, na qual, além de elevação da temperatura, ocorrem vários outros sintomas
e sinais, cujo aparecimento e intensidade variam em relação direta com a magnitude
da hipertermia, destacando-se:
o Astenia: sensação anormal de fraqueza, de falta ou de perda de força.
o Inapetência: perda ou falta de apetite.
o Cefaleia: cefaleia.
o Taquicardia: frequência cardíaca anormalmente alta, geralmente
considerada acima de 100 batimentos por minuto em um adulto.
o Taquipneia: frequência respiratória anormalmente alta, geralmente
considerada acima de 20 incursões respiratórias por minuto.
o Taquisfigmia: pulsação periférica anormalmente alta, geralmente
considerada acima de 100 pulsações por minuto.
o Oligúria: diurese anormalmente baixa, geralmente considerada inferior a 400
mililitros por dia.
o Dor no corpo;
o Calafrios: sensação momentânea de frio com ereção de pelos e arrepiamento
da pele.
o Sudorese: eliminação abundante de suor. Pode ser generalizada ou
predominante nas mãos e pés.
o Náuseas: correspondem a uma sensação de mal-estar, tanto na região
epigástrica como na faríngea. Quase sempre precedem os vômitos.
o Vômitos: expulsão involuntária e forçada do conteúdo estomacal pela boca.
o Delírio: redução aguda ou subaguda da capacidade intelectual, em geral
acompanhada de incapacidade de manter a atenção e com flutuações do nível
de consciência, intercalando períodos de sonolência com momentos de
agitação.
o Confusão mental;
o Convulsões: movimentos musculares súbitos e incoordenados, involuntários
e paroxísticos, que ocorrem de maneira generalizada ou apenas em segmentos
Figura 1: Curva térmica na malária. À esquerda, febre terçã benigna (P. vivax ou P. ovale), com
acessos cotidianos no início e ritmo regular, dia sim dia não, depois. No gráfico à direita, ritmo quartão
produzido por P. malariae, com acessos espaçados de 72 horas.
Ciclo malárico: finda a crise, o intervalo apirético do paciente dura até que se
complete um ciclo esquizogônico nas hemácias. A irregularidade da febre, no início
da doença, seria devida ao assincronismo das esquizogonias. Com o decorrer do
tempo, uma tendência à sincronização vai fazer com que os acessos venham a
intervalos regulares.
o Febre terçã: o acesso malárico repete-se no terceiro dia, ou seja, dia sim, dia
não. É o caso da infecção por Plasmodium vivax ou por Plasmodium ovale.
Febre cotidiana: na febre terçã benigna, observa-se algumas vezes
ritmo cotidiano. As crises sobrevêm a cada 24 horas, o que indica a
existência de dois ciclos eritrocíticos independentes e alternados no
tempo: um que se completa nos dias ímpares, e outro nos dias pares.
o Febre quartã: o acesso malárico repete-se a cada 72 horas. É o caso da
infecção por Plasmodium malariae.
o Febre irregular: o ciclo de Plasmodium falciparum é menos sincronizado
que os demais, visto que as esquizogonias se realizam com intervalos
variáveis de 36 a 48 horas. Por essa razão, a febre é com frequência irregular,
e os paroxismos, mais demorados que nos outros casos.
Arboviroses
Arboviroses: os vírus da dengue (DENV), chikungunya (CHIKV) e Zika (ZIKV),
atualmente prevalentes e co-circulantes em vários países ao redor do mundo, são
arboviroses responsáveis por epidemias significativas nos últimos anos. O quadro
clínico de cada uma é distinto, no qual a febre está inclusa, sendo as doenças referidas
muitas vezes com esta palavra associada (“febre chikungunya”, “febre Zika”).
Síndrome infecciosa
Síndrome infecciosa: conjunto de sinais e sintomas que se manifestam durante a
infecção do organismo por um patógeno viral, bacteriano, fúngico ou parasitário. A
infecção pode acometer uma variedade de órgãos causando diferentes sintomas
típicos de cada doença, mas, de maneira geral, reconhece-se uma infecção por:
o Febre;
o Calafrios;
o Mialgia;
o Fotofobia;
o Fatiga/Astenia;
o Prostração;
o Tosse;
o Oligúria;
o Taquisfigmia;
o Taquipneia;
o Náuseas e vômitos;
o Diarreia;
o Lesões de pele.
Síndrome consumptiva
Síndrome consumptiva: quadro caracterizado principalmente por perda não
intencional de peso, mas podendo ser referida uma série de sintomas adicionais.
o Emagrecimento patológico: perda de mais de 10% de peso em 6 meses sem
que o paciente tenha tentado perdê-lo. Outros autores definem como perda
acima de 5% de peso em 6 meses. O paciente fica com aspecto emagrecido,
com perda de tecido gorduroso.
Uma perda de peso maior que 10% no mesmo período indica
desnutrição associada à deficiência humoral e celular mediada.
o Dispneia;
o Astenia;
o Indisposição;
o Sintomas associados à etiologia: dispepsia, dor abdominal, diarreia,
obstipação (etiologia gastrointestinal), febre (etiologia infecciosas,
neoplásica), sintomas pulmonares (etiologia pulmonar).
Formas:
o Caquexia: emagrecimento patológico devido à perda de massa muscular
esquelética.
o Sarcopenia: processo fisiológico de perda de massa muscular esquelética.
Fisiopatologia: a base fisiopatológica da perda de peso é dividida em três categorias:
o Diminuição da ingestão de alimentos, bem como a diminuição da absorção
e da motilidade intestinal;
o Metabolismo acelerado;
o Aumento da perda de energia, por sintomas como vômito e diarreias.
Etiologias:
o Neoplasias: principalmente neoplasias de pulmões, mama, cólon, estômago,
pâncreas, próstata e colo uterino. O médico deve procurar as causas não
neoplásicas da síndrome consumptiva, para considerar a hipótese de
neoplasia quando elas forem descartadas. Uma vez realizada a investigação
inicial e excluídas etiologias não neoplásicas pertinentes para o quadro
clínico, procura-se os tumores que são prevalentes para aquela faixa etária e
sexo.
o Doenças endócrinas: principalmente diabetes mellitus e hipertireoidismo.
Síndrome anêmica
Síndrome anêmica: do ponto de vista hematológico, o termo anemia significa
redução da taxa de hemoglobina abaixo de 13 g/dL para homens e 12 g/dL para
mulheres, para um indivíduo ao nível do mar e com volume sanguíneo normal.
Tipicamente, ela é caracterizada por diminuição de massa eritrocitária total e redução
da capacidade de transporte de oxigênio.
Sinais e sintomas principais: pacientes com anemia podem ser ou não sintomáticos.
Fatores-chave incluem o grau de anemia e o quão rapidamente ela se desenvolve. Em
geral, os sintomas aparecem a um nível de hemoglobina de 8,0 a 9,0 g/dL, quando a
anemia se desenvolve por horas a alguns dias. Um processo de evolução mais lento
permitirá ao paciente compensar-se hemodinamicamente, então pacientes com
valores de hemoglobina abaixo de 7,0 g/dL podem ter poucos sintomas. Todos os
pacientes terão sintomas a um nível de hemoglobina de 5,0 a 6,0 g/dL.
o Sintomas comuns incluem palidez, fadiga, astenia, dispneia, e palpitações.
Febre: algumas anemias hemolíticas são associadas à febre,
especialmente as de causa imunológica, e as crises de hemólise na
anemia falciforme.
Exames complementares: A diminuição do número de eritrócito (oligocitemia) não
serve, por si só, para definir o estado anêmico, embora, com frequência, esteja
presente. O exame mais preciso, assim, é o hemograma.
o Hemograma (ou eritrograma): analisa quantidade de hemácias,
hemoglobina, hematócrito, volume global médio (VGM), hemoglobina
global média (HGM), concentração de hemoglobina globular média (CHGM)
e amplitude de distribuição de eritrócitos (RDW).
o Dosagem de nutrientes: diversas substâncias são essenciais tanto para a
função adequada das hemácias quanto para o seu desenvolvimento, como as
vitaminas B9 e B12, o ferro, e a eritropoetina.
Classificação: certos parâmetros são utilizados para se classificar uma anemia.
o Tamanho das hemácias: classifica a anemia em normocítica (tamanho
normal), microcítica (tamanho reduzido) ou macrocítica (tamanho
aumentado).
Etiologia da anemia
Anemia aplásica
Anemia aplásica: doença caracterizada por pancitopenia no sangue periférico e
diminuição da celularidade da medula óssea. Também conhecida como aplasia de
medula óssea adquirida. Pode ser de origem constitucional ou adquirida.
Sintomas: cefaleia, palidez acentuada, fadiga, fraqueza, dispneia de esforço,
palpitações aos esforços, equimoses e petéquias, gengivorragia, epistaxe, melena,
metrorragia, hemorragias retinianas em “chama de vela”, febre (infecção
superveniente), ausência de esplenomegalia e adenomegalia.
Anemia falciforme
Anemia falciforme: hemoglobinopatia crônica de transmissão hereditária,
caracterizada por anemia hemolítica, com episódios de “crises dolorosas” e maior
suscetibilidade a infecção.
Epidemiologia: a anemia falciforme é uma doença autossômica recessiva mais
frequente em negros e afrodescendentes. Ocorre em todas as idades e em ambos os
sexos. A condição heterozigota (Hb A/S) denomina-se traço falciforme, que é uma
condição assintomática e sem anemia.
Fisiopatologia: a hemoglobina S (Hb S), produzida pela substituição de valina por
ácido glutâmico na posição 6 da cadeia β da molécula de hemoglobina, quando
desoxigenada, apresenta uma mudança de sua forma, expondo sítios hidrofóbicos, o
que ocasiona sua polimerização, causa da formação de microtúbulos no interior dos
eritrócitos, que se deformam, passando de bicôncavos a falciformes.
o Alteração das hemácias:
As hemácias falciformes são mais rígidas, com tendência a ficarem
estagnadas em órgãos onde a circulação é mais lenta, causando
oclusão das pequenas arteríolas e capilares, cuja consequência é a
isquemia tecidual. Os episódios vasoclusivos ocorrem com frequência
Talassemia
Talassemia: anemia caracterizada, a nível molecular, pela presença de centenas de
anormalidades da globina que levam ou a baixa produção de cadeias α (α-talassemia)
ou de cadeias β (β-talassemia). O fenótipo de ambas é similar.
Epidemiologia: essa doença é uma causa comum de anemia em certas áreas do
mundo, incluindo o Mediterrâneo, Índia, sudeste asiático, e África. Uma alta
prevalência também foi observada em países ocidentais em indivíduos que
descendem dessas regiões onde a talassemia é comum.
Fisiopatologia: a baixa produção de cadeias α ou β resulta em hemácias microcíticas.
Há também hemólise, porque o desequilíbrio resulta em um excesso de cadeias de
globina, que são oxidadas e precipitam na superfície da hemácia, resultando na
remoção prematura de hemácias no baço. A medula óssea compensa esse quadro
parcialmente, aumentando a quantidade de reticulócitos.
Anemia ferropriva
Anemia ferropriva: anemia decorrente da redução dos depósitos de ferro do
organismo (deficiência de ferro), prejudicando a produção de hemoglobina.
Raramente se deve a déficit alimentar; na maioria das vezes, a causa é a perda crônica
de sangue.
Epidemiologia: a carência de ferro é a deficiência de micronutrientes mais
prevalente no mundo (OMS). O impacto social dessa carência pode ser visto no:
baixo rendimento escolar, atraso no desenvolvimento cognitivo, redução da
capacidade de trabalho e produtividade.
Investigação clínica: esse tipo de anemia é comum e deve ser considerado em
qualquer paciente que se apresente com anemia microcítica e uma contagem de
reticulócitos baixa ou normal. Como adultos possuem vários gramas de ferro nos
eritrócitos circulantes, e outro grama em ferro armazenado, o diagnóstico de
deficiência de ferro requer a busca por uma fonte de hemorragia. A sequência de
achados na anemia ferropriva é a perda de ferro armazenado, seguida de
desenvolvimento de anemia, e finalmente pelo desenvolvimento de microcitose.
Sintomas: pode ser assintomática em função da adaptação do organismo à instalação
lenta da anemia. Quando sintomática, inclui diversos sintomas: fraqueza, fadiga, dor
nas pernas, sonolência, dispneia aos esforços, palpitações, tonturas, zumbidos,
parestesia nas extremidades, perversão do apetite (condição chamada de pica, que
trata-se de uma vontade incontrolável de comer gelo, arroz cru, terra), déficit de
aprendizado em crianças, suscetibilidade a infecções, cefaleia podendo mimetizar
hipertensão intracraniana (raro), palidez cutânea, mucosas descoradas, unhas em
forma de colher e quebradiças, queilite angular, glossite atrófica (“língua careca”),
sopro cardíaco, taquicardia aos grandes esforços, sinais e sintomas relacionados com
a causa da deficiência de ferro, esplenomegalia leve, e queda de cabelo.
Anemia perniciosa
Anemia perniciosa: condição clínica causada por deficiência de vitamina B12
(cobalamina), com alteração na síntese de DNA, que é acompanhada de eritropoese
ineficaz, resultando no aparecimento de anemia ou pancitopenia e déficit da
mielinização dos axônios. Também é conhecida como anemia megaloblástica por
deficiência de vitamina B12.
o A doença pode aparecer isoladamente ou associada a outras condições
autoimunes (lúpus, vitiligo, anemia hemolítica, tireoidite de Hashimoto,
doença de Addison, retocolite ulcerativa).
Fisiologia da via do folato: a via metabólica do folato é responsável pela síntese de
timidina. A timidina é então incorporada no DNA. A vitamina B12 é um cofator
nessa via. Vegetais e frutas são ricos em folatos, mas a vitamina B12 é encontrada
apenas em alimentos de origem animal. A absorção de folato ocorre em uma via
direta no jejuno. Já a absorção de vitamina B12 é mais complexa, necessitando da
produção de fator intrínseco no estômago, secreção pancreática, e então passagem
através da mucosa do íleo terminal.
Fisiopatologia: como o amadurecimento nuclear fica detido, as hemácias são
macrocíticas. Os reticulócitos são baixos ou normais. A via do folato-vitamina B12
também está presente em neutrófilos e plaquetas, então deficiências podem resultar
em reduções em todas as três linhagem celulares. Os neutrófilos são frequentemente
hiperssegmentados.
Sintomas: assintomática na fase inicial, depois causando palidez cutânea, mucosas
descoradas, púrpura, icterícia discreta, cabelos grisalhos prematuramente,
emagrecimento, anorexia, dor ou ardor na língua, queilose angular, perda de paladar,
dispneia de esforço, diarreia, sonolência.
o Sintomas neurológicos: a deficiência de vitamina B12 também pode causar
danos neurológicos como consequência da desmielinização, que se
manifestam como confusão, demência, depressão, alucinações, alterações
sensoriais do tato, paladar e visão (por atrofia óptica), e propriocepção
diminuída. Essas anormalidades podem preceder as alterações hematológicas
Síndrome hiperglicêmica
Síndrome hipoglicêmica
Síndrome tromboembólica
Síndrome nefrítica
Glomerulonefrite (GN): é um termo geral usado para indicar inflamação
glomerular, que pode ocorrer secundariamente a muitos processo patológicos. O
padrão específico de inflamação, como ditado pelo processo subjacente, geralmente
determina os principais sinais e sintomas, que podem incluir hematúria micro ou
macroscópica, hipertensão, proteinúria, edema, e/ou insuficiência renal (aumento
de creatinina sérica).
Apresentação: a glomerulonefrite pode se apresentar como qualquer um dos
sintomas clínicos:
o Hematúria assintomática com ou sem proteinúria: adultos com
nefropatia tipo IgA frequentemente apresentam essa forma. Suas
anormalidades urinárias são comumente descobertas em no exame físico de
rotina e tiras de teste de urina.
o Hematúria macroscópica recorrente: crianças com nefropatia tipo IgA
frequentemente apresentam essa forma, desenvolvendo hematúria
macroscópica vários dias após uma infecção de trato respiratório superior.
o GN aguda: pacientes têm “síndrome nefrítica”, que inclui níveis variáveis
de insuficiência renal; oligúria; hipertensão; edema; proteinúria; e hematúria
micro ou macroscópica. GN pós-estreptocócica, GN
membranoproliferativa, e nefrítica lúpica frequentemente se apresentam
dessa forma.
o GN rapidamente progressiva (RPGN): pacientes experimentam uma
rápida deterioração da função renal ao longo de dias, semanas ou meses que
invariavelmente progridem para doença renal terminal (ESRD) se não
tratada. Qualquer forma de glomerulonefrite pode causar RPGN, embora a
glomerulonefrite da vasculite e a doença antimembrana basal glomerular
frequentemente causam esse fenótipo severo.
o GN crônica: pacientes possuem sintomas mínimos e frequentemente se
descobre que possuem hipertensão, disfunção renal, e proteinúria no exame
físico de rotina e na avaliação laboratorial. A nefropatia de IgA
frequentemente se apresenta dessa maneira após anos de
proteinúria/hematúria assintomática precedente, que pode passar
despercebida.
Nefropatia IgA
Nefropatia IgA (IgAN, ou doença de Berger): é a doença glomerular primária
mais comum no mundo. IgAN pode ocorrer como um fenômeno renal primário ou
secundário a várias condições extrarrenais, incluindo doença hepática crônica
(especialmente cirrose alcoólica), doença celíaca, HIV, doença intestinal
inflamatória, entre outras. Além disso, uma doença renal idêntica pode ocorrer
como parte da vasculite sistêmica vista na púrpura de Henoch-Schölein.
Epidemiologia: a frequência de IgAN em séries de biópsia renal varia de 5 a 10%
nos EUA para 35% em países asiáticos. A IgAN pode ocorrer em qualquer idade,
mas é geralmente diagnosticada em jovens adultos, com uma razão
masculino/feminino de pelo menos 2:1.
Manifestações clínicas: são diversas e podem incluir hematúria assintomática e
proteinúria, hematúria macroscópica, síndrome nefrótica e lesão renal aguda. Em
até um terço dos pacientes, o IgAN irá progredir para doença renal terminal.
Síndrome nefrótica
Síndrome nefrótica: engloba uma constelação de achados clínicos e laboratoriais
relacionados à perda de grandes quantidades de proteína na urina. O principal
sintoma é o edema, e os achados laboratoriais incluem: (1) proteinúria de “alcance
nefrótico”, definido em adultos como 3,5 g de excreção de proteínas por 24 horas;
(2) hipoalbunemia; (3) hiperlipidemia. O limite para proteinúria nefrótica em
crianças é menor e depende do peso corporal.
Fisiopatologia: a “síndrome nefrótica” é um diagnóstico não-específico que sugere
uma doença glomerular subjacente. O glomérulo normal e não inflamado forma
uma barreira rígida a proteínas, como albumina, largamente por causa dos
diafragmas de fenda que conectam os processos pediculados dos podócitos (células
epiteliais viscerais) à superfície externa da membrana de filtração glomerular.
o Na síndrome nefrótica, a inflamação gera distúrbios na estrutura normal dos
diafragmas de fenda, permitindo a passagem de quantidades potencialmente
grandes de proteínas para a urina. Na maioria dos casos, os processos
pediculados parecem “fundidos” ou “obliterados”, significando que a
camada contínua do citoplasma dos podócitos é vista ao longo dos capilares
glomerulares, em vez dos processos discretos e individuais vistos no estado
normal. Essa obliteração reflete o alargamento, diminuição e retração dos
processos pediculados. Embora a inflamação glomerular seja tipicamente
não severa o bastante para causar um declínio agudo na filtração geral, a
cicatrização e perda da função renal pode ocorrer ao longo do tempo.
o A perda contínua de albumina na urina causa hipoalbuminemia. O declínio
da concentração da albumina sérica, entretanto, é frequentemente
desproporcional ao grau de proteinúria. Uma possível explicação é que o
catabolismo no túbulo proximal de albumina é acelerado por causa do
aumento do volume de filtração.
o Em resposta às baixas concentrações séricas de albumina, o fígado aumenta
sua produção de numerosas proteínas, incluindo lipoproteínas, levado à
hiperlipidemia.
o O edema ocorre por pelo menos duas razões:
A primeira, conhecida como “hipótese do subenchimento”,
argumenta que baixas concentrações de albumina sérica levam a
EXAME FÍSICO
CARDIOVASCULAR
Inspeção e palpação
Pesquisa de abaulamento
Métodos: para facilitar o reconhecimento do abaulamento, a observação da região
precordial deve ser feita em 2 incidências: tangencial, com o examinador de pé do
lado direito do paciente, e frontal, o examinador fica junto aos pés do paciente, que
permanece ditado.
Achados:
o Abaulamento em adultos: abaulamento da região precordial pode indicar a
ocorrência de aneurisma da aorta, cardiomegalia, derrame pericárdico e
alterações da própria caixa torácica. As cardiopatias congênitas e as lesões
valvares reumáticas são as causas mais frequentes de abaulamento precordial.
o Abaulamento em crianças: nas crianças, cuja parede é mais flexível, a
dilatação e a hipertrofia cardíacas, principalmente do ventrículo direito,
deformam com facilidade o precórdio.
Diferenciais: deve-se diferenciar os abaulamentos por alterações da estrutura
osteomuscular daqueles causados por crescimento do ventrículo direito. O elemento
que os distingue é a ocorrência de impulsão do precórdio no segundo caso.
Análise de batimentos
Métodos: além do ictus cordis, podem ser encontrados no precórdio e áreas vizinhas
outros batimentos visíveis ou palpáveis.
Achados:
o Retração sistólica: a retração sistólica apical aparece em casos de hipertrofia
direita. Durante a sístole, em vez de um impulso, o que se percebe é uma
retração.
o Levantamento em massa do precórdio (ou impulsão sistólica): ocorre na
hipertrofia do ventrículo direito e é percebido como um impulso sistólico que
movimenta uma área relativamente grande da parede torácica nas
proximidades do esterno.
o Choques valvares: quando as bulhas cardíacas se tornam hiperfonéticas,
podem ser sentidas pela mão como um choque de curta duração. A este
fenômeno, denomina-se choque valvar.
o Cliques: cliques de maior intensidade são semelhantes aos choques valvares,
que chegam a ser palpáveis.
o Pulsação epigástrica: são vistas e palpadas em muitas pessoas e nada mais
são do que a transmissão à parede abdominal das pulsações da aorta. Todavia,
podem denunciar hipertrofia ventricular direita. Neste caso, as pulsações são
Pesquisa de
Alteração Pesquisa de ictus cordis Análise de batimentos
abaulamento
Levantamento em massa da
região precordial (impulsão
sistólica), mais nítido nas
Ventrículo Abaulamento proximidades do esterno
direito da região Ictus cordis propulsivo
dilatado precordial Retração sistólica no nível
da ponta
Pulsações epigástricas
Ictus cordis difuso
Ausculta cardíaca
Focos de ausculta cardíaca
Foco mitral: situa-se no 5º espaço intercostal esquerdo na linha hemiclavicular e
corresponde ao ictus cordis. Portanto, antes de começar a ausculta do coração, é
indispensável localizar o ictus cordis.
o Possíveis achados: nesta área, serão melhor percebidos os fenômenos
estetoacústicos – alterações de bulhas, estalidos, sopros – originados em uma
valva mitral estenótica e/ou insuficiente.
Foco pulmonar: situa-se no 2º espaço intercostal esquerdo, junto ao esterno.
o Possíveis achados: é neste foco em que se têm as condições ideais para a
análise dos desdobramentos – fisiológico ou patológico – da 2ª bulha
pulmonar. Os fenômenos acústicos originados nas valvas pulmonares,
normais ou lesadas.
Foco aórtico: situa-se no 2º espaço intercostal direito, junto ao esterno.
Foco aórtico acessório: muitas vezes o melhor local para perceber os fenômenos
acústicos de origem aórtica. É a área compreendida entre o 3º e o 4º espaço intercostal
esquerdo, nas proximidades do esterno.
Foco tricúspide: corresponde à base do apêndice xifoide, ligeiramente para a
esquerda.
o Possíveis achados: os fenômenos acústicos originados na valva tricúspide –
principalmente o sopro sistólico indicativo de insuficiência desta valva –
costumam ser mais percebidos nas proximidades do foco tricúspide.
Bulhas cardíacas
Primeira bulha (B1): o principal elemento na formação da 1ª bulha cardíaca é o
fechamento das valvas mitral e tricúspide, o componente mitral (M) antecedendo o
tricúspide (T), pelas razões analisadas ao se estudar o ciclo cardíaco. É de timbre
mais grave e seu tempo de duração é um pouco maior que o da 2ª bulha, por isso,
para representá-la, usamos a expressão onomatopaica “TUM”.
o Características semiológicas: a B1 coincide com ictus cordis e com o pulso
carotídeo. É de timbre mais grave e seu tempo de duração é um pouco maior
que o da 2ª bulha. Em condições normais, B1 tem maior intensidade no foco
mitral, no qual costuma ser mais forte que a 2ª bulha.
Segunda bulha (B2): a 2ª bulha cardíaca é constituída de 4 grupos de vibrações;
somente são audíveis, entretanto, aquelas originadas pelo fechamento das valvas
aórtica e pulmonar. Vem depois do pequeno silêncio, e seu timbre é mais agudo, soa
de maneira mais seca, por isso, para representá-la, usamos a expressão onomatopaica
“TA”.
o Características semiológicas: ouve-se o componente aórtico em toda a
região precordial, enquanto o ruído originado na pulmonar é auscultado em
uma área limitada, correspondente ao foco pulmonar e à borda esternal
Sopros
Sopros: os sopros são produzidos por vibrações decorrentes de alterações do fluxo
sanguíneo. Em condições normais, o sangue flui como corrente laminar, com
velocidade um pouco mais rápida na porção central, tal como as águas de um rio sem
obstáculos em seu leito. Fato fundamental é que flui sem formar turbilhões, pois,
quando isso acontece, o fluxo deixa de ser laminar e surgem vibrações que originam
os ruídos denominados sopros.
Etiologia: os sopros aparecem na dependência de alterações do próprio sangue, da
parede do vaso ou das câmaras cardíacas, principalmente nos aparelhos valvares,
incluindo os seguintes mecanismos:
o Aumento da velocidade da corrente sanguínea: pode provocar a formação
de turbulência capaz de dar origem a sopros. Este é o mecanismo dos sopros
que surgem após exercício físico, na anemia, no hipertireoidismo e na
síndrome febril.
o Diminuição da viscosidade sanguínea: a viscosidade sanguínea exerce
efeito amortecedor sobre a turbulência do sangue. Os sopros que se auscultam
nos portadores de anemia (sopros anêmicos) decorrem, em parte, da
diminuição da viscosidade sanguínea que acompanha esta afecção.
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Sopro inocente
Regurgitação
Sopro holossistólico
mitral aguda
Regurgitação
Sopro sistólico com B3 mitral crônica;
e B4 Cardiomiopatia
dilatada
Defeito de septo
Sopro holossistólico
interventricular
(ou sopro pansistólico,
ou insuficiência
ou sopro diastólico de
mitral ou
regurgitação)
tricúspide
Sopro telessistólico
após clique Prolapso mitral
mesossistólico
Sopro de ejeção
sistólica pulmonar,
ultrapassando a
duração da sístole
Estenose
ventricular esquerda e
pulmonar grave
terminando antes do
fechamento tardio e
diminuído da valva
pulmonar
Ducto arterioso
Sopro contínuo
patente
Insuficiência
Sopro diastólico
aórtica ou
imediato
pulmonar
Amplitude (/++++)
Pulso periférico
Direito Esquerdo
Temporal ++++ ++++
Carotídeo ++++ ++++
Axilar ++++ ++++
Braquial ++++ ++++
Radial ++++ ++++
Ulnar ++++ ++++
Femoral ++++ ++++
Ilíaco ++++ ++++
Poplíteo ++++ ++++
Tibial posterior ++++ ++++
Pedioso ++++ ++++
Pulso capilar: dentro do limite da normalidade.
Artérias carótidas: simétricas, ausência de pulsações visíveis, ausência de sopros e
frêmitos, parede arterial dentro do limite da normalidade, amplitude ++++/++++.
Veias jugulares: simétricas, ausência de ingurgitamento, ausência de pulsações
visíveis, ausência de sopros e frêmitos.
Avaliação do coração
Exame do precórdio: tórax atípico, ausência de abaulamentos e depressões, ictus
cordis invisível e impalpável, ausência de batimentos visíveis ou palpáveis, ausência
de frêmito cardiovascular.
Ausculta cardíaca: ritmo cardíaco binário regular, bulhas normofonéticas sem
sopros e ruídos nos focos aórtico, pulmonar, tricúspide, mitral e aórtico acessório.
Frequência cardíaca = 80 bpm.
Angina
Dor torácica: determinar se uma dor torácica é resultante de uma causa cardíaca é,
frequentemente, um desafio. A causa mais comum de dor torácica é isquemia
miocárdica, que produz angina pectoris. Muitas causas de angina existem, e o
diagnóstico diferencial para dor torácica é extenso:
Angina instável: a angina que ocorre no repouso, ou com mínimo esforço, pode
denotar uma patofisiologia diferente, que envolve agregação plaquetária e é chamada
clinicamente de “angina instável” ou “síndrome coronariana aguda”.
Ausência de angina: os pacientes com cardiopatias não necessariamente se
apresentam com dor torácica. Equivalentes da angina incluem dispneia durante o
esforço, desconforto abdominal, fadiga, ou tolerância diminuída ao esforço. Os
clínicos devem estar alertas a esses sintomas e perguntar especificamente por eles.
o Frequentemente, um cônjuge ou membro da família do paciente nota
mudanças sutis na resistência do paciente ou que ele não mais realiza funções
que requerem esforço físico substancial.
o Algumas vezes, os pacientes podem ser incapazes de se exercitar devido a
comorbidades. Por exemplo, os sintomas da isquemia miocárdica podem
estar ausentes em pacientes com doença vascular periférica severa, que
possuem claudicação limitante.
o Também deve-se estar atento para sintomas sutis ou ausentes em indivíduos
com diabetes melito (incluindo os tipos 1 e 2 de diabetes), um “equivalente
de risco coronariano”, conforme definido pela Calculadora de Risco de
Framingham.
Sexo (masculino).
o Embora uma tentativa tenha sido feita para hierarquizar esses fatores de risco,
todos são importantes, com um histórico de diabetes melito talvez sendo o
único fator mais importante.
o Subsequentemente, uma lista muito mais longa de potenciais preditores de
risco cardíaco foi feita:
pacientes com angina instável, da mesma forma que uma ausência de dor torácica
não exclui DC significativa.
o Importância da distinção: a importante distinção entre síndromes
coronariana estáveis e instáveis assenta-se sobre a questão de o início ser
novo ou recente e/ou progressivo (ex.: ocorre mais frequentemente ou com
menos esforço). A apresentação inicial da angina é, por definição, angina
instável; embora para um elevada porcentagem de indivíduos isso pode
meramente representar o primeiro episódio reconhecível de angina. Para
aqueles com angina instável, o risco de IM no futuro próximo é
marcadamente aumentado. De maneira semelhante, quando o paciente
experimenta angina em resposta a níveis diminuídos de esforço ou quando a
angina de esforço começa a acontecer no repouso, tem-se circunstâncias
urgentes que requerem terapia imediata.
Classificação: a Classificação Funcional de Angina Pectoris da Sociedade
Cardiovascular Canadense é um guia útil para o manejo dos pacientes no dia-a-dia.
A categorização de pacientes de acordo com sua classe de sintomas é rápida e precisa
e pode ser utilizada no acompanhamento. A Classe IV descreve o típico paciente com
síndrome coronariana aguda.
Dispneia
Dispneia e angina: a dispneia pode acompanhar a angina pectoris ou pode ser um
equivalente anginoso. A dispneia também pode refletir insuficiência cardíaca
congestiva (ICC) ou ocorre por causas não-cardíacas. A chave para entender a
etiologia da dispneia é uma história clínica clara, que seja então confirmada por um
exame físico específico.
Dispneia e esforço: a dispneia durante esforços que se resolve com o repouso ou
com o uso de nitroglicerina pode ser um resultado de isquemia miocárdica. É
importante estabelecer a quantidade de atividade necessária para provocar dispneia,
a reprodutibilidade desses sintomas, e a duração da recuperação. Tal qual a angina,
a dispneia como um equivalente anginoso ou um sintoma acompanhante tende a
ocorrer em um dado nível de carga de esforço ou estresse; a dispneia que ocorre em
um dia a baixos níveis de esforço, mas não é desencadeada por esforço vigoroso em
outro dia é menos provável de ser um equivalente anginoso.
Dispneia e ICC: em pacientes com ICC, a dispneia geralmente reflete pressões de
enchimento do ventrículo esquerdo (VE) aumentadas. Embora, mais comumente, a
disfunção sistólica VE seja a causa da dispneia, ela também pode ocorrer em
indivíduos com função sistólica VE preservada e com disfunção diastólica severa.
Essas duas entidades, entretanto, se apresentam diferentemente, e o exame físico
pode distingui-las.
o Dispneia e disfunção sistólica VE: com a disfunção sistólica VE, a dispneia
tende a piorar gradualmente, e sua exacerbação é mais variável do que aquela
da dispneia de esforços resultante de isquemia miocárdica, embora ambas se
devam a flutuações no volume arterial pulmonar e nas pressões de
enchimento do átrio esquerdo (AE). Tipicamente, pacientes com disfunção
sistólica VE não se recuperam imediatamente após a cessação do esforço ou
uso de nitroglicerina sublingual, e a dispneia pode tardar por períodos mais
longos. A ortopneia, a ocorrência de dispneia quando em decúbito, ou a
dispneia paroxística noturna, fornecem mais apoio para um diagnóstico
presumido de disfunção sistólica VE.
o Dispneia e disfunção diastólica VE: pacientes com disfunção diastólica VE
tendem a se apresentar abruptamente com dispneia severa que se resolve mais
Palpitações
Palpitações: embora seja normal estar consciente da sensação do coração batendo,
particularmente durante ou imediatamente após esforços ou estresse emocional, o
sintoma de palpitações se refere a uma sensação aumentada do coração batendo.
Pacientes usam muitas descrições diferentes, incluindo “coração acelerado”, a
sensação de que seu coração está “pulando” ou “esmagando” no peito, a sensação de
que o coração “pula batidas” ou “acelera”, ou outras inúmeras descrições.
Palpitações e doenças cardiovasculares: um história de palpitações que tiveram
início durante ou imediatamente após o esforço, e não em outros momentos, aumenta
a preocupação de que essas sensações reflitam ectopia ventricular associada com
isquemia miocárdica. É mais difícil avaliar a significância das palpitações que
ocorrem em outros momentos. Ectopias supraventriculares e ventriculares podem
ocorrer em qualquer momento e podem ser benignas ou mórbidas. A ectopia
ventricular é preocupante em pacientes com histórico de IM ou cardiomiopatia. Sem
essa informação, os clínicos devem se preocupar muito se tonturas ou pré-síncope
acompanham as palpitações.
Síncope
Síncope e doenças cardiovasculares: a síncope geralmente indica um risco
aumentado para morte cardíaca súbita e é geralmente um resultado de doença
cardiovascular e arritmias. Se um episódio sincopal for uma queixa apresentada, o
paciente deve ser internado para avaliação posterior. Em aproximadamente 85% dos
pacientes, a causa da síncope é cardiovascular. Em pacientes com síncope, deve-se
avaliar DC, cardiomiopatia, e cardiopatias congênitas ou valvares.
Investigação da síncope: é crítico determinar se a síncope realmente ocorreu. Uma
testemunha do episódio e documentação do que ocorreu após ele são muito úteis.
Adicionalmente, com a síncope verdadeira, lesões relacionadas com a perda súbita
de consciência são comuns. Entretanto, um indivíduo que relate síncope recorrente
(testemunhada ou não) mas nunca se machucou pode não estar experimentando
síncope. Isso não deve diminuir a preocupação de que uma condição médica séria
subjacente exista, mas, em vez disso, deve reafirmar que os sintomas ficam aquém
de síncope, com sua necessidade de avaliação imediata.
Diagnósticos diferenciais: causas neurocardiogênicas representam uma etiologia
relativamente comum e importante para a síncope.
Síndrome hipertensiva
Hipertensão: a hipertensão é um fator de risco principal para doença cardiovascular
aterosclerótica.
Classificação em adultos
Categoria Pressão sistólica (mmHg) Pressão diastólica (mmHg)
Hipotensão < 90 <60
90-119 60-79
Normal
90-129 60-84
Pré-hipertensão (normal alta, 120-129 60-79
elevada) 130-139 85-89
130-139 80-89
Estágio 1
140-159 90-99
Hipertensão
>140 >90
Estágio 2
160-179 100-109
Crise hipertensiva > 180 > 120
Hipertensão sistólica isolada > 160 < 90-110
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Etiologia e patogênese
Fisiopatologia: a hipertensão é uma disfunção da regulação da PA que resulta de um
aumento no débito cardíaco ou, mais comumente, um aumento na resistência
vascular periférica total.
Débito cardíaco: o débito cardíaco é geralmente normal na hipertensão essencial,
embora um débito cardíaco elevado desempenhe um papel etiológico. O fenômeno
de autorregulação explica que um aumento no débito cardíaco causa resistência
vascular periférica persistentemente elevada, com um resultante retorno do débito
cardíaco ao normal.
Apresentação clínica
Apresentação clínica: a maioria dos pacientes com hipertensão precoce não
possuem sintomas atribuíveis à PA elevada. Entretanto, elevação da PA de longo
prazo frequentemente leva a doença cardíaca hipertensiva, aterosclerose da aorta e
vasos periféricos, doença cerebrovascular, e doença renal crônica.
Hipertrofia ventricular esquerda (HVE): é a principal manifestação cardíaca da
hipertensão. Um massa ventricular esquerda (VE) aumentada pode ser identificada
por ecocardiografia em cerca de 30% de adultos hipertensos não-selecionados e na
maioria dos pacientes com hipertensão prolongada e severa. A HVE é mais
prevalente em homens e mais comum em indivíduos negros do que indivíduos
brancos com valores de PA similares. Idade avançada, obesidade, ingesta dietética
elevada de sódio, e diabetes também estão associados com hipertrofia cardíaca.
Pós-carga ventricular aumentada: quando resultante de resistência vascular
periférica elevada e enrijecimento arterial, é considerada o principal determinante de
hipertrofia miocárdica em pacientes hipertensos. A pós-carga hemodinâmica
estimula aumentos no tamanho dos miócitos e síntese de elemento contráteis.
Proliferação fibroblástica e deposição de colágeno extracelular acompanham essas
mudanças celulares e contribuem para o espessamento ventricular e isquemia
miocárdica. Evidências crescentes sugerem que a angiotensina II e aldosterona,
independentemente da pós-carga pressórica, estimulam essa fibrose intersticial.
Complicações
Consequências clínicas: as consequências clínicas da doença cardíaca hipertensiva
incluem insuficiência cardíaca e doença coronariana (DC). Mais de 90% dos
Caracterização da hipertensão
Hipertensão arterial sistólica isolada: ocorre quando o paciente apresenta níveis de
pressão diastólica abaixo de 90 mmHg e pressão sistólica igual ou superior a 140
mmHg.
Hipertensão arterial lábil: em determinadas pessoas, os níveis pressóricos sofrem
grandes variações, para mais ou para menos, em curto intervalo de tempo, às vezes
alcançando cifras acima dos valores normais. Impactos emocionais podem ser
responsáveis, mas, em muitas ocasiões, isso ocorre sem que haja qualquer fator
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Aterosclerose coronária
Epidemiologia: doenças cardiovasculares (DCVs) – doença arterial coronariana
(DAC), hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva e acidente vascular cerebral
(AVC) – são a maior causa de morte e incapacitação em indivíduos idosos no mundo
Ocidental. Embora a prevalência de doença aterosclerótica continue a aumentar em
países desenvolvidos, as taxas de mortalidade das DCVs nos EUA diminuíram em
mais de um terço nas últimas 2 décadas. Este efeito é devido a estratégias de
prevenção primárias e secundárias e a melhorias no cuidado e reabilitação de
pacientes com doenças ateroscleróticas.
Perspectivas: apesar das notícias encorajadoras, as doenças ateroscleróticas
permanecem um enorme desafio para o clínico, por vários motivos. Muitas
estratégias preventivas envolvem mudanças de estilo de vida que testam a adesão até
mesmo dos mais dedicados pacientes.
o A doença em si progride silenciosamente por décadas antes que os sintomas
se desenvolvam, e a apresentação clínica inicial da doença aterosclerótica é
frequentemente um evento catastrófico, como infarto miocárdico (IM), AVC,
ou morte súbita cardíaca (MSC).
o O diagnóstico da doença aterosclerótica, particularmente através de métodos
não-invasivos, é imperfeito, e manifestações clínicas das doenças
ateroscleróticas são frequentemente sutis e facilmente confundidos por
causas que são mais benignas.
o Dessa forma, embora o diagnóstico e o tratamento das doenças
ateroscleróticas permaneça de vital importância, a promessa de avanços
futuros repousa em um entendimento mais detalhado da aterosclerose,
levando a diagnósticos e prevenção mais precoces, que são mais efetivos em
última análise.
Etiologia e patogênese
Placa aterosclerótica: as placas ateroscleróticas levam a eventos clínicos (angina,
IM) por dois mecanismos:
o Isquemia: com o gradual aumento de tamanho das placas, elas podem
obstruir o fluxo sanguíneo dentro dos vasos epicárdicos, resultando em
isquemia do tecido miocárdico dependente do suprimento sanguíneo do vaso
afetado.
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Lesão endotelial
Lesão endotelial: o conceito de que a lesão endotelial é o evento iniciador da
aterosclerose é comum à maioria das teorias sobre sua patogênese. A lesão endotelial
é um componente das primeiras fases da aterosclerose: a formação de lesões que
podem ser detectadas somente na autópsia, a estria gordurosa.
o Fatores de risco: a maioria dos fatores de risco bem-caracterizados para a
aterosclerose – hipertensão, diabetes melito, tabagismo, hiperlipidemia, idade
avançada, concentrações plasmáticas de homocisteína elevadas – lesionam o
endotélio, iniciando uma cadeia de eventos, todos eles atributos da
aterosclerose: proliferação de células musculares lisas (leiomiócitos),
recrutamento de células inflamatórias, e deposição de lipídios dentro do vaso
sanguíneo.
Embora ainda em desenvolvimento precoce, potenciais abordagens
diagnósticas e/ou terapêuticas baseadas nas vias de sinalização
inflamatórias agora sabidas como importantes na aterogênese são
promissoras.
Evolução da lesão endotelial: a lesão endotelial e os eventos subsequentes que
ocorrem na parede do vaso sanguíneo iniciam a progressão de placas ateroscleróticas
estáveis para instáveis, levando ao final ao rompimento de placas instáveis, trombose
do vaso, e, em muitos casos. IM. O desenvolvimento de lesões nos vasos cerebrais
pequenos e médios leva ao AVC, e na vasculatura renal e mesentérica, contribui para
complicações diabéticas.
Figura 6: Placas fibrosas maiores que as estrias gordurosas ocupam mais do lúmen arterial. A capa
espessada é sintetizada por células musculares lisas modificadas. O centro consiste em colesterol
extracelular. Células espumosas rodeando o centro derivam primariamente de células musculares
lisas. Estrias gordurosas podem continuar a se formar na periferia da placa.
Figura 7: A oclusão total ou parcial da artéria coronária devido ao rompimento da placa e trombose
podem causar angina ou infarto miocárdico diretamente. As placas que tendem a romper são
chamadas de instáveis. O rompimento geralmente ocorre nas margens periféricas ricas em lipídios e
células espumosas e pode resultar em trombose e oclusão arterial.
Inflamação
Papel da inflamação: evidências abundantes sugerem que lesões ateroscleróticas,
pelo menos em parte, resultam de resposta inflamatória excessiva.
LDL-C: embora o colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) elevado
seja um fator de risco para a aterosclerose prematura, o LDL-C deve passar por
modificação oxidativa para causar danos à parede arterial.
Outros mediadores inflamatórios: citocinas, fatores de crescimento, e estresse
oxidativo podem também contribuir para a aterosclerose por mecanismos que são
independentes da oxidação do LDL-C. Qualquer um desses mediadores pode reagir
rapidamente com óxido nítrico e inativá-lo, intensificando mecanismos pró-
aterogênicos como a adesão leucocitária ao endotélio, inibição da vasodilatação, e
agregação plaquetária.
Apresentação clínica
Apresentação com angina pectoris: trata-se da característica dor torácica induzida
por isquemia. A dor torácica da angina é tipicamente retroesternal, com irradiação
para braços e pescoço, e é frequentemente acompanhada por dispneia. A angina pode
ocorrer previsivelmente com o esforço (angina estável) ou, mais preocupantemente,
no repouso ou em um padrão acelerador (angina instável). Se não tratada
apropriadamente, a angina instável pode ser um precursor do IM, a segunda
apresentação clássica da aterosclerose.
o Os sintomas da angina estável são frequentemente sutis e difíceis de
distinguir de outras causas de dor torácica. Isso é particularmente verdade em
mulheres, nas quais os sintomas típicos aqui descritos são menos comumente
presentes.
Apresentação clínica com infarto miocárdico: pacientes com IM frequentemente,
mas não exclusivamente, se apresentam com dor torácica; entretanto, diferentemente
da dor anginosa, a dor do IM é tipicamente incessante e mais severa e pode ser
acompanhada por sintomas autonômicos, como náuseas e vômitos.
o Arritmias podem acontecer a partir da instabilidade elétrica induzida pela
isquemia do miocárdio.
o Em casos severos, sintomas de insuficiência cardíaca por causa de disfunção
ventricular aguda direita ou esquerda podem também estarem presentes. A
disfunção ventricular é um sinal preocupante em pacientes com IM e merece
pronta atenção.
Apresentação com morte súbita cardíaca: a terceira apresentação da aterosclerose
é a MSC devido à fibrilação ventricular, que é a primeira manifestação clínica de
aterosclerose coronariana em cerca de 25% dos pacientes com a doença. A única
esperança de sobrevivência para pacientes que apresentam com MSC é pronta
administração de ressuscitação cardiopulmonar e desfibrilação ventricular.