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2012

[SUPORTE BÁSICO DE VIDA]


Segundo as Recomendações 2010 da AHA – American Heart Association
suporte básico de vida 2012

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 3

2. CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA 4

3. SUPORTE BÁSICO DE VIDA 6

4. POSIÇÃO LATERAL DE SEGURANÇA 15

5. OBSTRUÇÃO DA VIA AÉREA 18

6. VENTILAÇÃO COM ADJUVANTES DA VIA AÉREA 22

7. RISCOS PARA O REANIMADOR 25

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1. INTRODUÇÃO
A Medicina actual tem recursos que permitem recuperar para a vida activa vítimas de paragem cardíaca e
respiratória (PCR).
Desde que sejam assegurados os procedimentos adequados e em tempo oportuno, mesmo um cidadão
cujo coração e respiração pararam, pode recuperar para uma relação sociável comparável á que tinha
antes da ocorrência dessa fatalidade. Este conceito é extensivo a situações em, que apesar de não ter
ocorrido paragem cardíaca, o compromisso das funções essenciais para a manutenção da vida é de tal
forma grave que há risco de morte eminente.
Sabendo que a maioria destas situações ocorre em consequência de doença cardíaca súbita, traumatismos
graves, afogamentos, facilmente se compreende que qualquer cidadão é vítima potencial de uma dessas
ocorrências.

Quando surge uma paragem cardíaca e respiratória as hipóteses de sobrevivência para a vítima variam em
função do tempo de intervenção. A medicina actual tem recursos que permitem recuperar para a vida
activa vítimas de paragem cardíaca e respiratória desde que sejam assegurados os procedimentos
adequados e em tempo oportuno. Se o episódio ocorrer num estabelecimento de saúde, em princípio
serão iniciadas de imediato manobras de suporte básico e avançado de vida, pelo que existe uma maior
probabilidade de sucesso.

No entanto, a grande maioria das paragens cardio-respiratórias ocorre fora de qualquer estabelecimento
de saúde. No mercado, no café, em casa, no centro comercial ou no meio de uma estrada, na sequência de
um acidente ou de uma doença súbita. A probabilidade de sobrevivência e recuperação nestas situações,
depende da capacidade de quem presencia o acontecimento saber como pedir ajuda e iniciar de imediato
Suporte Básico de Vida (SBV).

A chegada de meios de socorro ao local, ainda que muito rápida pode demorar tanto como 6 minutos! As
hipóteses de sobrevivência da vítima terão caído de 98% para 11% se os elementos que presenciaram a
situação não souberem actuar em conformidade, pois se nada for feito a probabilidade de salvar uma
vítima de PCR diminui 7 a 10% por cada minuto que passa sem a vítima ser ajudada.

“O direito a ser reanimado conquista-se pelo dever de saber reanimar”

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2. CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA

À luz do conhecimento actual considera-se que há três atitudes que modificam os resultados no socorro às
vítimas de paragem cardio-respiratória:

a) Pedir ajuda accionando de imediato o sistema de emergência médica;


b) Iniciar de imediato manobras de SBV;

c) Aceder à desfibrilhação tão precocemente quanto possível, quando indicado.

Estes procedimentos sucedem-se de uma forma encadeada e constituem uma cadeia de atitudes em que
cada elo articula o procedimento anterior com o seguinte. Surge assim o conceito de cadeia de
sobrevivência composta por cinco elos, ou acções, em que o funcionamento adequado de cada elo e a
articulação eficaz entre os vários elos é vital para que o resultado final possa ser uma vida salva.

Os cinco elos da cadeia de sobrevivência são:

 Acesso precoce ao sistema de emergência médica (112)

 Início precoce de SBV

 Desfibrilhação precoce

 SAV precoce

 Cuidados Pós-reanimação

A cadeia de sobrevivência representa simbolicamente o conjunto de procedimentos que permitem salvar


vítimas de paragem cardio-respiratória. Para que o resultado final possa ser, efectivamente, uma vida salva,
cada um dos elos da cadeia é vital e todos devem ter a mesma força. Todos os elos da cadeia são
igualmente importantes: de nada serve ter o melhor SAV se quem presencia não sabe ligar 112.

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Quando sujeitas a situações de pressão as cadeias partem pelo elo mais fraco. A paragem cardíaca é a mais
emergente das situações com que nos podemos confrontar, o acontecimento é geralmente inesperado e o
sucesso do tratamento exige rapidez e coordenação. Nesta situação a cadeia de sobrevivência, como todas
as cadeias, partirá pelo seu elo mais fraco (Fig.1).

Fig.1 Cadeia de Sobrevivência

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3. SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Conceito
Nos países ocidentais uma das principais causas de morte é a doença cardiovascular. A maioria destas
mortes (cerca de 2/3) ocorre fora do ambiente hospitalar. Não obstante o desenvolvimento tecnológico
nos últimos anos, o aperfeiçoamento das técnicas de reanimação cardio-respiratória (RCR), a formação em
suporte básico e avançado de vida e a criação de sistemas organizados de emergência médica, morrem
anualmente em todo o mundo milhões de pessoas por ausência, atraso ou insucesso das manobras de RCR.
O objectivo da RCR é recuperar vítimas de paragem cardio-pulmonar, para uma vida comparável à que
tinham previamente ao acontecimento. O sucesso das manobras de RCR está condicionado pelo tempo,
pelo que quanto mais precocemente se iniciar o SBV maior é a probabilidade de sucesso. Se a falência
circulatória durar mais de 3-4 minutos implica lesões cerebrais, que poderão ser irreversíveis. Qualquer
atraso no início de SBV reduz as hipóteses de sucesso.

O Suporte Básico de Vida, é um conjunto de procedimentos bem definidos e com metodologias


padronizadas, que tem como objectivo reconhecer as situações de perigo de vida iminente, saber como e
quando pedir ajuda e saber iniciar de imediato, sem recurso a qualquer utensílio, manobras que
contribuam para a preservação da ventilação e da circulação de modo a manter a vítima viável até que
possa ser instituído o tratamento médico adequado e, eventualmente, se restabeleça o normal
funcionamento respiratório e cardíaco.

As manobras de SBV não são, por si só, suficientes para recuperar a maior parte das vítimas de paragem
cardio-respiratória. O SBV destina-se a ganhar tempo, mantendo parte das funções vitais até à chegada do
Suporte Avançado de Vida. No entanto, em algumas situações em que a falência respiratória foi a causa
primária da paragem cardio-respiratória, o SBV poderá reverter a causa e conseguir uma recuperação
total.
O Suporte Avançado de Vida (SAV) implica a utilização de fármacos, monitorização cardíaca e proteção da
via aérea com entubação endotraqueal.

Etapas e procedimentos

O SBV inclui os seguintes elementos:

 Avaliação inicial;
 Manutenção de via aérea permeável;

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 Compressões torácicas.
 Ventilação com ar expirado;

Posicionamento da vítima e do reanimador

As manobras de SBV devem ser executadas com a vítima em decúbito dorsal, no chão ou num plano duro.
Se a vítima se encontrar, por exemplo, numa cama, as manobras de SBV, nomeadamente as compressões
torácicas, não serão eficazes uma vez que a força exercida será absorvida pelas molas ou espuma do
próprio colchão. Se a vítima se encontrar em decúbito ventral deve ser rodada em bloco, isto é, mantendo
o alinhamento da cabeça pescoço e tronco. O reanimador deve posicionar-se junto da vítima de forma a
que, se for necessário, possa fazer ventilações e compressões sem ter que fazer grandes deslocações.

Os três elementos do SBV, após a avaliação inicial, são designados por “CAB”
C – “Compressions” – Compressões
A – “Airway” - Via Aérea
B – “Breathing” - Ventilação

Sequência de acções

A avaliação inicial consiste em:

1. Avaliar as condições de segurança no local;


2. Avaliar se a vítima responde;

Depois de assegurar que estão garantidas as condições de segurança, aproxime-se da vítima e pergunte
em voz alta "Está bem? Sente-se bem?", enquanto a estimula batendo suavemente nos ombros;

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3. Se a vítima responder, deixe-a na posição em que a encontrou (desde que isso não represente
perigo acrescido), pergunte o que se passou, se tem alguma queixa, alguma dor, procure ver se
existem sinais de ferimentos e se necessário vá pedir ajuda;
4. Se a vítima não responder verificar se apresenta sinais de respiração eficaz, olhando para o tórax e
verificando se há movimento;

Algumas vítimas podem apresentar movimentos respiratórios ineficazes conhecidos por "gasping" ou
"respiração agónica" os quais não devem ser confundidos com respiração normal. Estes movimentos não
causam uma expansão torácica normal, correspondem a uma fase transitória que pode preceder a ausência
total de movimentos respiratórios e tendem a cessar rapidamente. Na ausência de respiração ou na
presença de respiração ineficaz é necessário reanimar a vítima.

5. Se a vítima não respira deve ser ativado de imediato o sistema de emergência médica ligando 112;

 Se estiver sozinho, após verificar que a vítima não respira, deve abandoná-la de imediato para
ligar 112. Ao ligar 112 deve informar que se encontra com uma vítima inconsciente que não
respira e fornecer o local exato onde se encontra. Regressar o mais rápido possível para junto
da vítima e iniciar imediatamente as compressões torácicas.

 Se estiver alguém junto de si deve pedir a essa pessoa que vá ligar 112, dizendo-lhe, se
necessário, como deverá proceder, isto é, que deve dizer que a vítima está inconsciente e não
respira e fornecer o local exato onde se encontra.

Esta ativação precoce do sistema de emergência médica é extremamente importante para que a vítima
possa ter acesso aos restantes elos da cadeia de sobrevivência o mais rápido possível já que é improvável
que a vítima recupere apenas com manobras de SBV. Como foi referido anteriormente a causa mais
frequente de PCR num adulto é de origem cardíaca, habitualmente devido a uma perturbação do ritmo
cardíaco – fibrilhação ventricular, cujo único tratamento é a desfibrilhação.

6. Se a vítima respira normalmente deverá ser colocada em posição lateral de segurança;

7. Se a vítima não respira normalmente e se for Profissional de Saúde deverá pesquisar a presença de
pulso. Esta deve ser feita num pulso central, habitualmente o carotídeo. Se a vitima não respira e
tem pulso devem ser feitas 10-12 ventilações/min e reavaliado pulso ao fim de 2 minutos;

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8. Leigos não devem pesquisar pulso;

9. Se a vítima não respira normalmente e não tem pulso deve iniciar imediatamente as compressões
torácicas - C

A vítima deve estar em decúbito dorsal sobre uma superfície rígida com a cabeça no mesmo plano
do resto do corpo.

 Ajoelhe-se junto à vítima;


 Coloque a base de uma mão no centro do tórax;
 Coloque a base da outra mão sobre a primeira;
 Entrelace os dedos e levante-os, de forma a não exercer qualquer pressão sobre as costelas, apenas
a base de uma mão deve ficar em contacto com o esterno;
 Mantenha os braços esticados e sem flectir os cotovelos, posicione-se de forma a que os seus
ombros fiquem perpendiculares ao esterno da vítima;
 Pressione verticalmente sobre o esterno, de modo a que este baixe no mínimo 5 cm, sendo 6cm o
limite máximo;
 Alivie a pressão, de forma que o tórax possa descomprimir totalmente, mas sem perder o contacto
da mão com o esterno;
 Repita o movimento de compressão e descompressão de forma a obter uma frequência mínima de
100/min, sendo 120 o limite máximo;
 O gesto de compressão deve ser firme, controlado e executado na vertical;
 Os períodos de compressão e descompressão devem ter a mesma duração;

 Sincronize as compressões com ventilações:

Ao fim de 30 compressões permeabilize a via aérea (extensão da cabeça e elevação da mandíbula) e faça 2
insuflações eficazes;
 Reposicione as mãos no local correcto para efectuar compressões;
 Faça de novo 30 compressões;
 Mantenha compressões e ventilações na relação de 30:2 (30 compressões: 2
ventilações).

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10. De seguida é fundamental proceder à permeabilização da via aérea para se poder efetuar a
ventilação - A e B

Pelo facto da vítima se encontrar inconsciente, os músculos da língua perdem o seu tónus habitual (isto é,
relaxam) e a queda da língua para trás (na vítima em decúbito dorsal) pode causar obstrução da via aérea.
Este mecanismo é a causa mais frequente de obstrução da via aérea num adulto inconsciente. Outros
fatores podem, também, condicionar obstrução da via aérea como sejam o vómito, sangue, dentes partidos
ou próteses dentárias soltas. Já não se recomenda a pesquisa rotineira de corpos estranhos na via aérea.

 Coloque a palma de uma mão na testa da vítima e os dedos indicador e médio da outra
mão no bordo do maxilar inferior;
 Efetue simultaneamente a extensão da cabeça (inclinação da cabeça para trás) e
elevação do maxilar inferior (queixo).

Ao efetuar a elevação do maxilar inferior não deve comprimir as partes moles do queixo, coloque os dedos
apenas na parte óssea.

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11. Para executar a ventilação com ar expirado:

 Assegure que a cabeça da vítima permanece em extensão e o queixo levantado, mantendo a


palma de uma mão na testa da vítima e os dedos indicador e médio da outra mão no bordo do
maxilar inferior;

 Tape o nariz da vítima pinçando-o entre os dedos polegar e o indicador da mão que está na
testa;
 Mantenha a extensão da cabeça e a elevação do queixo, sem fechar a boca da vítima;

 Inspire profundamente, isto é, encha bem o peito com ar (*)

Nota (*): A quantidade de oxigénio no ar atmosférico é de 21%. O ar que expiramos contém apenas cerca
de 16% de oxigénio, pelo que sempre que possível deve ser enriquecido o seu conteúdo em oxigénio.
Durante a ventilação boca-a-boca é fundamental inspirar profundamente antes de cada insuflação para
melhorar a quantidade de oxigénio com que vamos ventilar a vítima.

 Coloque os lábios à volta da boca da vítima, certificando-se que não há fuga de ar;
 Sopre lentamente para o interior da boca da vítima, observando simultaneamente a expansão
do tórax;
 Afaste a sua boca da boca da vítima, mantendo o posicionamento da cabeça da vítima, para
permitir a saída do ar;
 Espere cerca de 1 segundo (de forma a que o tórax relaxe completamente - esta fase
corresponde à expiração que é passiva) e repita o procedimento de insuflação de ar.

A insuflação de ar deve ser lenta, isto é efectuada ao longo de cerca de 1 segundo, e não deverá sentir
grande resistência à insuflação. Se a insuflação for efectuada de forma rápida, a resistência que os pulmões
oferecem à insuflação aumenta e o volume de ar que efectivamente entrará nos pulmões será menor.

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Neste caso o ar insuflado irá para o estômago causando regurgitação do conteúdo gástrico o qual poderá
entrar nos pulmões e impedir por completo qualquer possibilidade de recuperação da vítima.
Para que possa avaliar se a insuflação é eficaz deve confirmar em cada insuflação se o tórax se eleva como
numa respiração normal.

Se não conseguir insuflar o ar deve:


 Verificar novamente se não existem corpos estranhos visíveis na boca e remove-los;
 Confirmar a correcta permeabilização da via aérea reposicionando a cabeça se necessário;
 Tentar insuflar de novo;
 Fazer 2 tentativas para conseguir duas insuflações eficazes;

Estas manobras uma vez iniciadas devem ser continuadas sem interrupção até que:

 Chegue ajuda diferenciada que o substitua;


 A vítima recupere (**);

 O reanimador esteja exausto.

 Nota (**): Só deve interromper as manobras de SBV, para reavaliação da vítima, caso a vítima faça
algum movimento indicador da presença de circulação.

12. Se estiverem presentes 2 reanimadores, um fará compressões e o outro ventilações. Devem trcar de
posição cada 2 minutos, ou seja, 5 ciclos de 30:2.

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Problemas associados ao SBV

O SBV quando executado correctamente, permite manter a vítima viável até à chegada do SAV. Podem no
entanto ocorrer alguns problemas.

Problemas com a ventilação

O principal problema que pode ocorrer com a ventilação é a insuflação de ar para o estômago, que pode
ter graves consequências.
A entrada de ar para o estômago provoca a saída do conteúdo do mesmo para a via aérea. Também
acontece que a presença de ar no estômago provoca elevação do diafragma a qual restringe os
movimentos respiratórios tornando a ventilação menos eficaz. Fazer insuflações com grande quantidade
de ar, com grande velocidade e durante um curto período de tempo facilita a ocorrência de insuflação
gástrica.
Se detectar a presença de insuflação gástrica NÃO DEVE tentar resolver o problema comprimindo o
estômago dado que apenas estará a causar regurgitação do conteúdo do mesmo.
No caso de vítimas desconhecidas e na ausência de algum mecanismo de barreira para efectuar a
ventilação, poderá haver alguma relutância em efectuar ventilação boca-a-boca. Neste caso é preferível
efectuar apenas compressões torácicas que não efectuar nenhum SBV.

Problemas com as compressões


As compressões torácicas mesmo quando correctamente executadas conseguem apenas gerar
aproximadamente 1/4 do débito cardíaco normal.

Efectuar compressões obliquamente em relação ao tórax da vítima faz com a vítima possa rolar e diminui a
eficácia das compressões.
É importante permitir que o tórax descomprima totalmente durante a realização de compressões para
permitir o retorno de sangue ao coração antes da próxima compressão e optimizar assim o débito cardíaco
que se consegue.
As compressões torácicas podem causar fractura de articulações condro-costais (articulação das costelas
com o esterno) e consequentemente causar lesões de órgãos internos como: rotura do pulmão, do coração
ou mesmo do fígado. Este risco é minimizado, mas não totalmente abolido, pela correcta execução das
compressões.
A preocupação com as potenciais complicações do SBV não deve impedir o reanimador de iniciar
prontamente as manobras de SBV dado que, no caso de uma vítima em paragem cardio-respiratória, a

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alternativa ao SBV é a morte.

Reavaliações e suspensão de manobras de SBV


As hipóteses de uma vítima de paragem cardio-respiratória recuperar actividade cardíaca espontânea sem
suporte avançado de vida são muito reduzidas pelo que não faz qualquer sentido reavaliar a existência de
sinais de circulação, excepto se a vítima fizer qualquer movimento. Caso contrário não deve interromper as
manobras de SBV até à chegada de SAV. A decisão de terminar os esforços de reanimação é uma decisão
médica, mesmo que lhe possa parecer infrutífero não deve suspender as manobras de SBV sem indicação
médica.

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4. POSIÇÃO LATERAL DE SEGURANÇA

Tal como foi referido anteriormente, se a vítima respira mas está inconsciente, deve ser colocada em
posição lateral de segurança (PLS).
Quando uma vítima se encontra inconsciente em decúbito dorsal, mesmo que respire espontaneamente,
pode desenvolver um quadro de obstrução da via aérea e deixar de respirar, devido ao relaxamento dos
músculos da língua e consequente queda desta para trás. A via aérea pode também ficar obstruída por
regurgitação do conteúdo gástrico, secreções ou sangue.
Neste caso a vítima deve ser colocada numa posição que mantenha a permeabilidade da via aérea,
garantindo a não obstrução por queda da língua e que permita a livre drenagem de qualquer líquido da
cavidade oral, evitando a entrada do mesmo nas vias respiratórias, nomeadamente no caso de a vítima
vomitar.

A posição lateral de segurança deve respeitar os seguintes princípios:


 Ser uma posição o mais "lateral" possível e de forma a que a cabeça fique numa posição em que
a drenagem da cavidade oral se faça livremente;
 Deve ser uma posição estável;

 Não deve causar pressão no tórax que impeça a respiração normal;


 Deve possibilitar a observação e acesso fácil à via aérea;
 Deve ser possível voltar a vítima em decúbito dorsal de forma fácil e rápida;

 Não deve causar nenhuma lesão à vítima.

É particularmente importante não causar nenhuma lesão adicional à vítima com a colocação em PLS. Por
este motivo no caso de existir suspeita de traumatismo da coluna cervical não está indicada a colocação da
vítima em PLS. Se há suspeita de trauma a vítima só deve ser mobilizada se de todo for impossível manter a
permeabilidade da via aérea de outro modo e neste caso deve ser sempre respeitado simultaneamente o
alinhamento da coluna cervical

Como deve proceder para colocar uma vítima em PLS:

1. Ajoelhar ao lado da vítima e estender-lhe as duas pernas;


2. Retirar os óculos, objectos volumosos dos bolsos (chaves, telefones, canetas, etc.) que
possam magoar a vítima;
3. Permeabilizar a via aérea, fazendo a extensão da cabeça e elevação do queixo. Colocar o
braço mais próximo do reanimador dobrado a nível do cotovelo, de forma a fazer um

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ângulo recto com o corpo da vítima, ao nível do ombro e com a palma da mão virada para
cima;
4. Dobrar o outro braço sobre o tórax de forma a encostar a face dorsal da mão da vítima à
bochecha da mesma, do lado do reanimador;
5. Manter a mão da vítima encostada à bochecha com a palma da mão do reanimador, de
forma a controlar o movimento da cabeça;
6. Com a outra mão, segure a coxa mais afastada, imediatamente acima do joelho e levante-a,
mantendo o pé no chão, de forma a dobrar a perna da vítima;
7. Mantendo a mão a apoiar a cabeça, puxar a perna, a nível do joelho, rolando o corpo da
vítima para o lado do reanimador. O movimento de rotação deve ser suave, de forma a não
causar nenhuma lesão adicional à vítima;
8. Quando a vítima estiver de lado, ajustar a perna que fica por cima, de forma a que a anca e
o joelho dobrem em ângulo recto;
9. Assegure-se que a cabeça da vítima permanece inclinada, mantendo permeável a via aérea;

10. Se necessário, ajustar a mão sob a face da vítima, de modo a manter a cabeça em extensão,
confirmando se a vítima respira bem, isto é sem fazer ruído.

Se a vítima fizer ruído a respirar significa que a permeabilidade da via aérea não está totalmente garantida.
Reposicione a cabeça efectuando a extensão da mesma até que a vítima respire sem fazer ruído. Deixe a
vítima nesta posição e vá então ligar 112. Regresse para junto da vítima e vigie regularmente se a vítima
continua a respirar.

No caso de uma vítima ter de permanecer mais de 30 minutos em PLS deve ser colocada sobre o lado
oposto.

Como voltar a colocar a vítima em decúbito dorsal

1. Ajoelhar por trás da vítima;

2. Estender a perna que está por cima, alinhando-a com a outra;


3. Retirar a mão que se encontra sob a face da vítima e colocar o braço sobre o tórax;
4. Colocar uma mão na anca da vítima e a outra a apoiar a cabeça;
5. Com um movimento seguro e firme puxar ao nível da coxa, rolando a vítima sobre as coxas
do reanimador, mantendo simultaneamente outra mão a apoiar a cabeça;

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6. Afastar-se progressivamente de forma a acompanhar o movimento da vítima até esta estar


em decúbito dorsal;

7. Estender o outro braço ao longo do corpo.

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5.OBSTRUÇÃO DA VIA AÉREA

A obstrução da via aérea é uma emergência absoluta que se não for reconhecida e resolvida, leva à morte
em minutos.

A causa mais comum de obstrução da via aérea em vítima adulta é a obstrução causada pela queda da
língua quando a vítima está inconsciente – obstrução anatómica.

Pode também ocorrer obstrução da via aérea por edema dos tecidos da via aérea como por exemplo no
caso de uma reacção anafilática (alergia), uma neoplasia (cancro) ou urna inflamação da epiglote
(epiglotite) sendo esta última mais frequente nas crianças – obstrução patológica.

Outra forma frequente de obstrução da via aérea é a resultante de uma causa "extrínseca à via aérea –
alimentos, sangue ou vómito. Qualquer objecto sólido, pode funcionar como corpo estranho e causar
obstrução da via aérea – obstrução mecânica.

A água não actua como corpo estranho pelo que não estão indicadas manobras de desobstrução da via
aérea em vítimas de afogamento ou pré-afogamento pois podem causar complicações e apenas atrasam o
início de SBV.

Causas

A obstrução da via aérea deve ser considerada numa vítima que faz paragem respiratória súbita, fica
cianosada e inconsciente sem motivo aparente.
A obstrução da via aérea, por corpo estranho, nos adultos ocorre habitualmente durante as refeições, com
os alimentos, e está frequentemente associada a alcoolismo ou tentativa de engolir pedaços de comida
grandes e mal mastigados. Os doentes idosos com problemas de deglutição estão também em risco de
obstrução da via aérea por corpo estranho e devem ser aconselhados a comer de forma cuidadosa.

Reconhecimento

A obstrução da via aérea, sobretudo quando ocorre num local público, como um restaurante, é
frequentemente confundida com um ataque cardíaco. É importante distinguir a obstrução da via aérea de
outras situações dado que a abordagem é diferente. Na obstrução mecânica da via aérea existem várias
manobras que podem ser efectuadas com o objectivo de resolver a obstrução e que caso sejam bem

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sucedidas podem evitar a paragem respiratória.

Classificação e algoritmo de actuação na obstrução mecânica

A obstrução da via aérea por corpo estranho pode ser total ou parcial. Na obstrução parcial a vítima
começa por tossir, ainda consegue falar e pode fazer algum ruído ao respirar. Enquanto a vítima respira e
conseguir tossir de forma eficaz o reanimador não deve interferir, devendo apenas encorajar a tosse e
vigiar se a obstrução é ou não resolvida e se a tosse continua a ser eficaz.
A vítima com obstrução parcial da via aérea pode, logo à partida, apresentar uma tosse ineficaz, estridor
(ruído agudo durante a fase da inspiração), dificuldade respiratória marcada e cianose, ou estes sinais
podem surgir progressivamente se a situação não for resolvida. Nesta situação é necessário actuar
rapidamente como se de uma obstrução total se tratasse.

Na obstrução total da via aérea a vítima não consegue falar, tossir ou respirar. Poderá demonstrar grande
aflição e ansiedade e agarrar o pescoço com as duas mãos. Não há qualquer ruído respiratório (apesar das
tentativas de respiração) dado que não há entrada nem saída de ar. É necessário actuar rapidamente, se a
obstrução não for resolvida a vítima poderá rapidamente ficar inconsciente e morrer.

Várias manobras têm sido descritas para resolver a obstrução total da via aérea, considerando-se,
actualmente, que se deve optar por aquela com maior potencial de eficácia, ou seja, compressões
abdominais ou manobra de Heimlich.

Vitima com obstrução mecânica da via aérea consciente

Se uma vítima consciente com obstrução da via aérea se apresenta com tosse ineficaz, incapaz de falar ou
de respirar proceda de imediato à aplicação de compressões abdominais – Manobra de Heimlich

Esta manobra causa uma elevação do diafragma e aumento da pressão nas vias aéreas, com a qual se
consegue uma espécie de "tosse artificial", forçando a saída do corpo estranho. A manobra de Heimlich
não é isenta de complicações pelo que apenas deverá ser executada se absolutamente necessária.
Com a execução da manobra de Heimlich poderão ocorrer complicações como rotura ou laceração de
órgãos, torácicos ou abdominais, ou ainda regurgitação do conteúdo gástrico e consequente aspiração.
A ocorrência de complicações pode ser minimizada pela correcta execução da manobra, isto é, nunca
comprimir sobre o apêndice xifóide ou na margem inferior da grelha costal, mas sim na linha média
abdominal um pouco acima do umbigo.

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Técnica para execução da manobra de Heimlich

1. Colocar-se por trás da vítima;


2. Colocar os braços à volta da vítima ao nível da cintura;
3. Fechar uma das mãos em punho, e colocar a mão com o polegar encostado ao abdómen da
vítima, na linha média um pouco acima do umbigo e bem afastada do apêndice xifóide;
4. Com a outra mão agarrar o punho da mão colocada anteriormente e puxar, com um
movimento rápido e vigoroso, para dentro e para cima na direcção do reanimador;
5. Cada compressão deve ser um movimento claramente separado do anterior e efectuado
com a intenção de resolver a obstrução;
6. Repetir as compressões abdominais até 5 vezes, vigiando sempre se ocorre ou não
resolução da obstrução e o estado de consciência da vítima.

Repetir compressões abdominais até à desobstrução ou até a vítima ficar inconsciente.

A manobra de Heimlich também pode ser executada pela própria vítima de obstrução da via aérea, no
caso de se encontrar sozinha. Para tal deverá colocar uma mão em punho um pouco acima do umbigo e
com a outra mão em cima da primeira comprimir para cima e para dentro com um movimento rápido. No
caso de não obter sucesso poderá comprimir a porção superior do abdómen contra uma superfície rija
como por exemplo, as costas de uma cadeira ou um varão de escadas.

A manobra de Heimlich só deve ser aplicada a vítimas de obstrução da via aérea conscientes. Existem, no
entanto, duas excepções às quais não deve ser aplicada a manobra de Heimlich: as grávidas no final da
gravidez e as vítimas francamente obesas.

Nestas duas situações aplica-se a técnica de compressões torácicas.

1. Colocar-se por trás da vítima;


2. Colocar os braços à volta do tórax da vítima imediatamente abaixo das axilas;
3. Colocar uma mão fechada, em punho, com o polegar encostado à porção média do tórax,
evitando o apêndice xifóide e a margem inferior da grelha costal;
4. Agarrar o punho com a outra mão;
5. Puxar para trás na direcção do reanimador com um movimento vigoroso.

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Se não for possível rodear, com os braços, uma vítima (por exemplo por ser extremamente obesa) podem
executar-se as compressões torácicas com a vítima deitada no chão.

1. Colocar a vítima em decúbito dorsal;


2. Ajoelhar ao lado da vítima;
3. Colocar as mãos exactamente na mesma posição utilizada para efectuar compressões no SBV;
4. Comprimir o tórax tal como descrito para o SBV.

Vitima com obstrução mecânica da via aérea inconsciente

Apesar de tudo, o número de mortes resultantes de obstrução da via aérea é pequeno pelo que a
probabilidade de um reanimado encontrar uma vítima inconsciente em consequência de uma obstrução da
via aérea é também pequena. A paragem cardio-respiratória causada por fibrilhação ventricular é muito
mais frequente que a paragem cardio-respiratória causada por obstrução da via aérea.
As compressões torácicas podem ser mais eficazes na desobstrução da via aérea que as compressões
abdominais, criando uma pressão intratorácica superior à conseguida com as compressões abdominais.

No caso de uma vítima de obstrução da via aérea ficar inconsciente durante a tentativa de desobstrução da
via aérea o reanimador deve:

1. Amparar a vítima até ao chão para que esta não se magoe;


2. Ligar 112;
3. Iniciar compressões torácicas, seguindo o algoritmo de SBV;
4. Pesquisar a cavidade oral antes de efectuar as insuflações.

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6.VENTILAÇÃO COM ADJUVANTES DE VIA AÉREA

A ventilação com ar expirado pode ser iniciada em qualquer local sem recursos a qualquer equipamento,
no entanto, proporciona apenas cerca de 16% de oxigénio.
Há situações em que esta técnica não é exequível como no caso da presença de sangue ou vómito na boca
ou pelo risco de infecções ou intoxicações.
Existem dispositivos que permitem interpor uma barreira entre o reanimador e a vítima e, por vezes,
administrar simultaneamente oxigénio de forma a aumentar a concentração de oxigénio no ar expirado.
São designadas por máscaras de bolso.

Ventilação com ar expirado com máscara de bolso

A máscara de bolso é um dispositivo composto por uma máscara, semelhante às utilizadas em anestesia,
com uma válvula unidireccional. A válvula unidireccional permite ao reanimador soprar para o interior da
boca da vítima e que o ar expirado pela vítima não reflua para o reanimador, sendo eliminado por um
orifício de escape. Fica, assim, isolada a via aérea da vítima da do reanimador. São habitualmente
transparentes para permitir detectar a presença de sangue ou vómito que possa surgir. Algumas têm uma
conexão para ligação de oxigénio suplementar.

Existem duas técnicas para efectuar a ventilação boca-máscara:

 Posição cefálica: o reanimador coloca-se acima da cabeça da vítima.


 Posição lateral: o reanimador coloca-se ao lado da vítima.

A posição cefálica é adequada no caso de SBV a dois reanimadores. Permite boa observação da expansão
torácica. A posição lateral implica a permeabilização da via aérea por extensão da cabeça e elevação do
maxilar inferior é a adequada para a situação de SBV a 1 reanimador quando a vítima se encontra em PCR,
dado que com esta técnica o reanimador está posicionado de forma a poder efectuar compressões e
ventilações.

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suporte básico de vida 2012

Procedimento - Posição cefálica

1. Coloque-se acima da cabeça da vítima;

2. Aplique a máscara na face da vítima, colocando o bordo mais estreito da máscara no sulco
entre o queixo e o lábio inferior e o vértice da mesma acima do nariz;
3. Coloque os polegares e a base de ambas as mãos ao longo dos bordos maiores da máscara e
os indicadores e os restantes dedos de ambas as mãos debaixo do ângulo da mandíbula;
4. Pressione a máscara contra a face da vítima com os polegares e base da mão ao mesmo
tempo que efectua a elevação da mandíbula com os indicadores, de forma a não existirem
fugas de ar;
5. Se a situação da vítima o permitir faça simultaneamente a extensão da cabeça;
6. Faça insuflações como descrito no capítulo de SBV, soprando na válvula unidireccional,
observando simultaneamente a expansão do tórax.

Uma forma alternativa de fixar a máscara nesta técnica é colocar os polegares e indicadores em círculo ao
longo dos bordos da máscara e usar os restantes dedos de ambas as mãos para fazer a elevação do maxilar
inferior e a extensão da cabeça.

Procedimento - Posição lateral

1. Coloque-se ao lado da vítima de forma a que possa efectuar ventilações e compressões;


2. Aplique a máscara na face da vítima tal como descrito anteriormente;
3. Pressione a máscara contra a face da vítima com o polegar e indicador (da mão mais próxima da
cabeça) sobre o vértice da máscara e o polegar da outra mão no bordo da máscara, junto ao
queixo;
4. Coloque os restantes dedos ao longo do bordo da mandíbula de forma a fazer a elevação do
maxilar inferior;

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5. Faça simultaneamente a extensão da cabeça;


6. Comprimir apenas na margem da máscara de forma a que não existam fugas de ar;
7. Faça insuflações como descrito anteriormente.

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7. RISCOS PARA O REANIMADOR

Por vezes o desejo de ajudar alguém que nos parece estar em perigo de vida pode levar-nos a ignorar os
riscos que podemos correr. Se não forem garantidas as condições de segurança antes de abordar uma
vítima poderá, em casos extremos, ocorrer a morte da vítima e do reanimador.

Existe uma regra básica que nunca deve ser esquecida: o reanimador não deve expor-se a si ou a terceiros
a maior risco do que o que corre a própria vítima.

Antes de se aproximar de alguém que possa eventualmente estar em perigo de vida o


reanimador deve assegurar primeiro que não irá correr nenhum risco:

 Ambiental – choque eléctrico, derrocadas, explosão, tráfego;


 Intoxicação – exposição a gás, fumo ou tóxicos;
 Infeccioso – tuberculose, hepatite, HIV etc.

Na maioria das vezes uma avaliação adequada e um mínimo de cuidado são suficientes para garantir as
condições de segurança necessárias.

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