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NFPSS PARTE II | MPMG

Ciclos Método

SUMÁRIO

DIREITO PENAL...............................................................................................................................................5

DIREITO PROCESSUAL PENAL ......................................................................................................................138

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Olá, meus queridos, a 2ª parte do seu NFPSS chegou!!!

No NFPSS, selecionamos alguns temas que, após estudo da banca, acreditamos que tenham mais
chances de ser cobrados em nossa prova. Aqui vale fazer um combinado, caso vocês não consigam ler todo
nosso NFPSS, procure pelas #APOSTACICLOS E #OEXAMINADORAMA, assim verão os temas que têm maior
incidência de cair na sua prova objetiva.

Agora, se alonga, prepara o café, lava esse rosto e simbora!

VAMOS JUNTOS!

BLOCO II – Direito Penal e Criminologia e Direito Processual Penal.

DIREITO PENAL1

1. Abolicionismo e direito penal mínimo. 2. Fundamentos e limitações do direito de punir. 3. Princípios penais
fundamentais. 4. Escolas Penais. 5. Teoria da Norma. 6. Interpretação e integração da lei penal. 7. Âmbito
de validez temporal e espacial de lei penal. 8. Aplicação da lei penal. 9. Conflito aparente de normas.

ABOLICIONISMO E DIREITO PENAL MÍNIMO

Já iniciamos com uma #APOSTACICLOS, pois todos os 03 examinadores do grupo II possuem relação com esses
temas, que, a rigor, vieram de maneira expressa no edital.
Vamos diferenciar? Isso pede uma tabela!

NEO-REALISMO DE ESQUERDA TEORIA DO DIREITO PENAL ABOLICIONISMO PENAL


(LAW AND ORDER) MÍNIMO
A ideia continua a ser socialista, O Direito Penal Mínimo, prega um Se baseia na justificativa de que o
mas realista. Defendem uma Direito Penal racional, e que deve Direito Penal não cumpre
nova relação entre a polícia e a ser utilizado em última nenhuma de suas funções e, só
sociedade, com a finalidade de circunstância, ultima ratio. serve para legitimar um discurso
contribuir para uma luta comum Para o Direito Penal Mínimo, de poder, reforçar a desigualdade
contra o delito. qualquer aplicação radical da pena social, aplicar a lei penal dura e
pode produzir resultados mais crua no pobre, no negro e nos
Sugerem, de outra parte, uma gravosos que o próprio ato menos favorecidos.
linha reducionista na política criminoso.
criminal, descriminalizando certos
comportamentos e criminalizando Deve-se deixar de atribuir relevo A existência do Direito Penal para
outros. aos pensamentos tradicionais da o Abolicionismo não é viável. Para
criminalidade de massa de rua os abolicionistas, O Direito Penal
Os crimes graves merecem uma (roubo, furto) para pensar uma para é um “Sistema Anômico”
resposta enfática da sociedade. criminalidade dos oprimidos (expressão que pode cair em
Aceitam a ideia do cárcere, em (racismo, crimes do colarinho- prova), ou seja, um sistema que
situações extremas. branco, etc.). não cumpre a sua função. Ele é

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Por Jéssica Neves

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▪ O direito deve ser utilizado para seletivo, discriminador,


a defesa do mais fraco perante estigmatizante.
uma eventual reação mais forte
que a pena institucional por
parte do ofendido e em prevenção Contribuições da Criminologia
ao cometimento ou ameaça de Crítica no ordenamento jurídico
novo delito. no Brasil:
▪ Contração do sistema penal em ▪ campanha pela criminalização da
certas áreas para expansão de ofensa a bem jurídico difuso. (Ex:
outras. lei de crimes ambientais, lei de
▪ Caráter fragmentário do direito organizações criminosas,
penal, intervenção punitiva como alterações da lei de lavagem de
última ratio e reafirmação da capitais, crimes contra a ordem
natureza acessória do direito tributária);
penal. ▪ discussão por uma maximização
da punição dos crimes de
Posteriormente, após analisarmos colarinho branco;
o Abolicionismo Penal, poderemos ▪ descriminalização de algumas
ver nitidamente que o Direito condutas praticadas por classes
Penal Mínimo, acaba por ser um menos desfavorecidas;
meio termo entre o Neorrealismo
de Esquerda e o Abolicionismo
Penal.

2. FUNDAMENTOS E LIMITAÇÕES DO DIREITO DE PUNIR; 3. PRINCÍPIOS PENAIS FUNDAMENTAIS.

Princípios Penais é aquele tema introdutório, e , doutrinário, que a gente já viu mil vezes. Então, se você já tem
uma boa bagagem nesse tema, pula para o próximo ponto.

PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM A MISSÃO FUNDAMENTAL DO DIREITO PENAL


PRINCÍPIO DA
A criação de tipos penais deve ser pautada pela proibição de comportamentos que
EXCLUSIVA
de alguma forma exponham a perigo ou lesionem valores concretos essenciais para
PROTEÇÃO DE BENS
o ser humano, estabelecidos na figura do bem jurídico.
JURÍDICOS
O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, de modo que
PRINCÍPIO DA
a sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle
INTERVENÇÃO
(caráter subsidiário), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo de
MÍNIMA
lesão ao bem juridicamente tutelado (caráter fragmentário).

• Princípio da insignificância ou bagatela: o Direito Penal não deve se ocupar de condutas insignificantes,
incapazes de lesar ou pelo menos de colocar em perigo o bem jurídico protegido pela lei penal.
Requisitos consagrados pelo STF (M I R A):
a) mínima ofensividade da conduta do agente; b) ausência de periculosidade social da ação; c)reduzido grau
de reprovabilidade do comportamento do agente; d) inexpressividade da lesão jurídica causada.

#SELIGA - Pode ser reconhecido mesmo após o trânsito em julgado da sentença condenatória.

#NÃOCONFUNDA #SELIGANATABELA:

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INFRAÇÃO BAGATELAR PRÓPRIA INFRAÇÃO BAGATELAR IMPRÓPRIA


= PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA = PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA PENAL DO FATO
A situação nasce penalmente relevante. O fato é
típico do ponto vista formal e material.
A situação já nasce atípica. O fato é atípico por
Em virtude de circunstâncias envolvendo o fato e o
atipicidade material.
seu autor, consta-se que a pena se tornou
desnecessária.
O agente tem que ser processado (a ação penal deve
O agente não deveria nem mesmo ser processado já ser iniciada) e somente após a análise das
que o fato é atípico. peculiaridades do caso concreto, o juiz poderia
reconhecer a desnecessidade da pena.
Não tem previsão legal no direito brasileiro. Está previsto no art. 59 do CP.

#SURRADEJURIS
Princípio da insignificância e descaminho: Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e
de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais),
a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130,
ambas do Ministério da Fazenda. STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
28/02/2018 (recurso repetitivo).STF. 2ª Turma. HC 155347/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 17/4/2018 (Info
898).
Tributos federais: Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos crimes
tributários estaduais o parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002,
devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo. STJ. 5ª Turma. AgRg-
HC 549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020
Princípio da insignificância e contrabando: O princípio da insignificância não é aplicável ao delito de
contrabando, tipificado no art. 334-A do Código Penal, em face da natureza proibida da mercadoria importada
ou exportada. Este crime não tem natureza tributária.
Em regra, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça não admite a incidência do princípio da insignificância
aos delitos de contrabando de medicamentos. Em hipóteses excepcionais, contudo, a orientação desta Casa
permite o reconhecimento da infração bagatelar se a quantidade apreendida é pequena e destinada ao consumo
próprio, como considerou o acórdão recorrido. Isso ocorre tendo em vista a falta de lesão ou perigo de lesão ao
bem juridicamente tutelado pela norma penal incriminadora, sob o ponto de vista da tipicidade material. STJ.
6ª Turma. AgRg-REsp 1.724.405/RS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 18/10/2018
Princípio da insignificância e furto:
Furto simples: É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o furto de um
carrinho de mão avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo), mesmo ele possuindo antecedentes criminais
por crimes patrimoniais. STF. 1ª Turma. RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio,red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 11/2/2020 (Info 966).
Furto noturno: É possível a aplicação do princípio da insignificância em face de réu reincidente e realizado no
período noturno. Na espécie, trata-se de furto de R$ 4,15 em moedas, uma garrafa pequena de refrigerante,
duas garrafas de 600 ml de cerveja e uma de 1 litro de pinga, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª Turma. HC
181389/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/04/2020 (Info 973)
Furto qualificado: Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado, salvo quando
presentes circunstâncias excepcionais que recomendam a medida A despeito da presença de qualificadora no
crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise
conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a
aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. HC 553.872 - SP, Rel. Min.Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 11/02/2020 (Info 665)
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PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, REINCIDÊNCIA E MAUS ANTECEDENTES:


▪ A habitualidade delitiva constitui motivação idônea a afastar a aplicação do princípio da insignificância, desde
que, sopesada com juízo conglobante à luz dos elementos do caso concreto, resulte em maior reprovabilidade
da conduta. STF. 2ª Turma. HC 159435 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/06/2019.
▪ É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o furto de um carrinho de mão
avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo), mesmo ele possuindo antecedentes criminais por crimes
patrimoniais. STF. 1ª Turma. RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 11/2/2020 (Info 966).
Na situação acima exposta, a 1ª Turma do STF entendeu que, mesmo o réu sendo portador de maus
antecedentes, as circunstâncias do caso concreto permitiam a aplicação do princípio da insignificância.

 Conclusão: Em regra, o STF e o STJ afastam a aplicação do princípio da insignificância aos acusados
reincidentes ou de habitualidade delitiva comprovada.
▪ Vale ressaltar, no entanto, que a reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto (STF. Plenário. HC 123108/MG, HC
123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 3/8/2015; STJ. 5ª Turma EDcl-AgRg-AREsp
1.631.639- SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 19/05/2020)
Assim, de acordo com o caso concreto, é possível sim aplicar a insignificância mesmo para réus reincidentes.
INSIGNIFICÂNCIA X PROPORCIONALIDADE
▪ A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz
dos elementos do caso concreto.
No entanto, com base no caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição com base nesse princípio é penal
ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas utiliza a circunstância de o bem
furtado ser insignificante para fins de fixar o regime inicial aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas
utiliza a insignificância para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base no
princípio da proporcionalidade STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).
▪ Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a absolvição do réu pela atipicidade material.
Em outras palavras, o agente não responde por nada. Em um caso concreto, contudo, o STF reconheceu a
insignificância do bem subtraído, mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em vez de absolvê-lo,
o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos. Em razão da reincidência, o STF entendeu que não era o caso de absolver o condenado,
mas, em compensação, determinou que a pena privativa de liberdade fosse substituída por restritiva de direitos.
STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
28/8/2018 (Info 913).
Princípio da insignificância e transmissão clandestina de internet: Súmula 606-STJ: Não se aplica o princípio da
insignificância a casos de transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência, que caracteriza o fato
típico previsto no art. 183 da Lei n. 9.472/1997.
Princípio da insignificância e crimes contra administração pública: Súmula 599-STJ: O princípio da
insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.
Princípio da insignificância e apropriação indébita Não se aplica o princípio da insignificância para o crime de
apropriação indébita previdenciária. Não é possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes de
apropriação indébita previdenciária e de sonegação de contribuição previdenciária, independentemente do
valor do ilícito, pois esses tipos penais protegem a própria subsistência da Previdência Social, de modo que é
elevado o grau de reprovabilidade da conduta do agente que atenta contra este bem jurídico supraindividual.
1ª Turma. HC 102550, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/09/2011. STF. 2ª Turma. RHC 132706 AgR, Rel. Min.

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Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2016. STJ. 3ª Seção. AgRg na RvCr 4.881/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado
em 22/05/2019.
Princípio da insignificância e Violência doméstica: Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância
nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.
Princípio da insignificância e Crimes contra a fé pública: Ainda que seja apenas uma nota e de pequeno valor,
não se aplica o princípio por tratar-se de delito contra a fé pública, havendo interesse estatal na sua repressão.
O bem violado é a fé pública, a qual é um bem intangível e que corresponde à confiança que a
população deposita em sua moeda, não se tratando, assim, da simples análise do valor material por ela
representado. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 558.790/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
15/10/2015.
Não se aplica o princípio da insignificância para crimes contra a fé pública, como é o caso do delito de falsificação
de documento público. STF. 2ª Turma. HC 117638, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/03/2014.
Posse ou porte de munição de arma de fogo: A apreensão da munição desacompanhada de arma de fogo é, em
princípio, conduta típica, que preenche não apenas a tipicidade formal mas também a material, uma vez que o
tipo penal visa à proteção da incolumidade pública, não sendo suficiente a mera proteção à incolumidade
pessoal.
Assim, a posse de munição, mesmo desacompanhada de arma apta a deflagrá-la, continua a preencher a
tipicidade penal, não podendo ser considerada atípica a conduta.
No entanto, a jurisprudência passou a admitir a incidência do princípio da insignificância quando se tratar de
posse de pequena quantidade de munição, desacompanhada de armamento capaz de deflagrá-la, uma vez que
ambas as circunstâncias conjugadas denotam a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Vale ressaltar, contudo, que a possibilidade de incidência do princípio da insignificância não pode levar à
situação de proteção deficiente ao bem jurídico tutelado. Portanto, não se deve abrir muito o espectro de sua
incidência, que deve se dar apenas quando efetivamente mínima a quantidade de munição apreendida, em
conjunto com as circunstâncias do caso concreto, a denotar a inexpressividade da lesão.
STJ. 5ª Turma. HC 484.121/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 16/05/2019.

- Continuação Princípios
PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O FATO DO AGENTE
Previsto no art. 5.º, XXXIX, da Constituição Federal, no art. 1º do Código Penal e no
art. 9º da Convenção Americana de Direitos Humanos.

Não há crime, contravenção penal, pena ou medida de segurança sem:

LEI ESTRITA (princípio da reserva legal): A infração penal só pode ser criada por lei
em sentido estrito, ou seja, lei ordinária ou complementar. Proíbe-se a utilização da
analogia para criar tipo incriminador.
PRINCÍPIO DA
Princípio da reserva legal: Em regra, é vedada a edição de medidas provisórias sobre
LEGALIDADE
matéria relativa a Direito Penal (CF, art. 62, § l.°, I, alínea b), seja ela prejudicial ou
mesmo favorável ao réu.
#SELIGA - o Supremo Tribunal Federal historicamente firmou jurisprudência no
sentido de que as medidas provisórias podem ser utilizadas na esfera penal, desde
que benéficas ao agente.

LEI ANTERIOR/PRÉVIA (princípio da anterioridade): A criação de tipos e a cominação


de sanções exige lei anterior, vedando-se a retroatividade maléfica. Princípio da
anterioridade: A lei penal produz efeitos a partir da data em que entra em vigor. Daí
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deriva a sua irretroatividade: não se aplica a comportamentos pretéritos, salvo se


beneficiar o réu (CF, art. 5°, XL).
▪ É proibida a aplicação da lei penal inclusive aos fatos praticados durante seu
período de vacatio. Embora já publicada e formalmente válida, a lei ainda não estará
em vigor e não alcançará as condutas praticadas em tal período.

LEI ESCRITA: Só a lei escrita pode criar crime e cominar sanções. Em outras palavras,
é proibido o costume incriminador. #SELIGANOSINÔNIMO: os costumes contrários
às leis são chamados de DESUETUDO.

LEI CERTA (princípio da taxatividade/princípio da determinação): É proibida a criação


de tipos penais vagos e indeterminados pelo legislador. Aqui reside a crítica às
normas penais incompletas (dependem de complemento normativo e/ou
valorativo).

LEI NECESSÁRIA: Desdobramento lógico do princípio da intervenção mínima, não se


admite a criação de tipo penal sem necessidade, em especial quando a conduta
indesejada pelo meio social pode perfeitamente ser inibida pelos outros ramos do
direito.

#OLHAOGANCHO: O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento conjunto


da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão n.° 26/DF e do Mandado de
Injunção 4.733/DF, decidiu pela aplicabilidade das disposições contidas na Lei
7.716/1989 - Crimes de Preconceito e Discriminação aos delitos envolvendo
homofobia e transfobia. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional
destinada a implementar os mandados de criminalização definidos nos incisos XLI e
XLII do art 5.° da Constituição da República, as condutas homofóbicas e transfóbicas,
reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade
de gênero de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em
sua dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação
típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na Lei n° 7.716, de
08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância
que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2.°, I, “in fine”);
PRINCÍPIO DA
O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, isto é, fatos (e nunca
EXTERIORIZAÇÃO OU
condições internas ou existenciais). Em outras palavras, está consagrado o direito
MATERIALIZAÇÃO DO
penal do fato, vedando-se o direito penal do autor.
FATO
PRINCÍPIO DA Exige que do fato praticado decorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico. Com
OFENSIVIDADE OU base nesse princípio, questiona-se a constitucionalidade dos crimes de perigo
DA LESIVIDADE abstrato.

PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O AGENTE DO FATO


Proíbe o castigo penal pelo fato de outrem. São desdobramentos desse princípio:
PRINCÍPIO DA
OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA ACUSAÇÃO: é vedada a denúncia
RESPONSABILIDADE
genérica. No âmbito do processo penal, a denúncia deve imputar de forma específica
PESSOAL
a conduta tida como criminosa.

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OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA: na aplicação da pena, deve-


se considerar a gravidade do fato e as condições do autor do delito.
PRINCÍPIO DA
A responsabilidade penal é condicionada à existência de voluntariedade (dolo ou
RESPONSABILIDADE
culpa).
SUBJETIVA
O Estado só pode impor sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz), com
PRINCÍPIO DA potencial consciência de ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito de seu
CULPABILIDADE comportamento), quando dele exigível conduta diversa (podendo agir de outra
forma).
Previsto no art. 5º, caput, da CF. O princípio da igualdade pressupõe não somente a
PRINCÍPIO DA igualdade formal, mas também a igualdade material/substancial, ou seja, para todos
ISONOMIA os indivíduos com as mesmas características devem prever-se, através da lei, iguais
situações ou resultados jurídicos.
Consiste no direito de não ser declarado culpado senão após trânsito em julgado de
sentença penal condenatória, ao término do devido processo legal, em que o
acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova pertinentes para sua defesa
(ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas pela
acusação (contraditório).

- Dimensões do princípio da presunção da inocência:

a) Dimensão interna ao processo: da qual decorrem duas regras de aplicação.

 Regra Probatória (In dubio pro reo): recai sobre a acusação o ônus de
PRINCÍPIO DA comprovar a culpabilidade do acusado, além de qualquer dúvida razoável, e
PRESUNÇÃO DE não deste de provar sua inocência.
INOCÊNCIA  Regra de tratamento: a privação cautelar da liberdade de locomoção,
sempre qualificada pela nota da excepcionalidade, somente se justifica em
hipóteses estritas. Em outras palavras, a regra é que o acusado permaneça
em liberdade durante o processo; a imposição de medidas cautelares
pessoais (v.g., prisão preventiva ou cautelares diversas da prisão) é a
exceção.

b) Dimensão externa ao processo: O princípio da presunção da inocência e as


garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade demandam uma
proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado, funcionando
como limites democrático à abusiva exploração midiática em torno do fato
criminoso e do próprio processo judicial.

PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM A PENA


PRINCÍPIO DA
A ninguém pode ser imposta pena ofensiva à dignidade da pessoa humana,
DIGNIDADE DA
vedando-se reprimenda indigna, cruel, desumana ou degradante.
PESSOA HUMANA
Previsto no art. 5º, XLVI, CF. A individualização da resposta estatal ao autor de um
PRINCÍPIO DA fato punível deve ser observada em três momentos: a) na definição, pelo legislador,
INDIVIDUALIZAÇÃO do crime e sua pena; b) na imposição da pena pelo juiz; c) na fase de execução da
DA PENA pena, momento em que os condenados serão classificados, segundo os seus
antecedentes e personalidade.
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PRINCÍPIO DA Para que a sanção penal cumpra a sua função, deve se ajustar à relevância do bem
PROPORCIONALIDADE jurídico tutelado, sem desconsiderar as condições pessoais do agente.
Previsto no art. 5º XLV, da CF, segundo o qual “nenhuma pena passará da pessoa do
PRINCÍPIO DA
condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento
PESSOALIDADE/
de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
INTRANSCENDÊNCIA
até o limite do valor do patrimônio transferido”.
Possui três significados:

 PROCESSUAL: Ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo crime.
 MATERIAL: Ninguém pode ser condenado pela segunda vez em razão do
mesmo fato.
 EXECUCIONAL: Ninguém pode ser executado duas vezes por condenações
PRINCÍPIO DA
relacionadas ao mesmo fato.
VEDAÇÃO DO BIS IN
IDEM
#SELIGA: Os Tribunais Superiores ampliam a aplicação do princípio, de modo que
uma mesma circunstância não pode ser valorada negativamente, mais de uma vez,
em desfavor do réu.

Súmula 241-STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância
agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.

 GARANTISMO: #APOSTACICLOS

GARANTISMO PENAL
Luigi Ferrajoli, jurista e professor italiano, foi o grande responsável pela criação da teoria. Na obra “Teoria do
Garantismo Penal” (1989), o autor, a partir de heranças do Movimento iluminista, levantou um vasto e
durável debate sobre a importância da proteção das garantias do cidadão e utilizou o campo penal para
demonstrar a tensão existente entre liberdades e poder.

O garantismo pode ser entendido, segundo a teoria de Ferrajoli, como uma corrente jurídica que prega o
respeito máximo aos direitos fundamentais e às garantias processuais, a fim de coibir arbitrariedades
judiciais e assim, proteger os indivíduos e os réus. A teoria representa um instrumento de proteção dos
direitos fundamentais e contra penas arbitrárias, e que busca, ao mesmo tempo, minimizar a violência na
sociedade.
GARANTISMO NEGATIVO GARANTISMO POSITIVO
Visa frear o poder punitivo do Estado, ou seja, refere- Visa fomentar a eficiente intervenção estatal, ou seja,
se à proibição de excesso. Trata-se de um modelo refere-se à proibição da intervenção estatal
normativo que obedece à estrita legalidade voltado a insuficiente (deficiente), bem como evitar a
minimizar a violência e maximizar a liberdade, impunidade. Assegura a proteção aos bens jurídicos
impondo limites à função punitiva do Estado. de alta relevância social.

#SELIGA: O garantismo penal integral ou proporcional é aquele que assegura os direitos do acusado, não
permitindo violações arbitrárias, desnecessárias ou desproporcionais, e, por outro lado, assegura a tutela de
outros bens jurídicos relevantes para a sociedade, em consonância com as duas vertentes do princípio da
proporcionalidade, incluindo a proibição do excesso (übermassverbot) e a proibição da proteção deficiente
(proibição da ineficiência, proibição da proteção insuficiente e untermassverbot).

6. Interpretação e integração da lei penal. 9. Conflito aparente de normas.


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Eu sei que você já tá querendo pular todos esses assuntos (rsrsrs). Mas calma aí, vamos revisar? Porque eles são
#APOSTACICLOS
#NÃOCONFUNDA
Intepretação extensiva Interpretação Analógica Analogia

Forma de interpretação Forma de interpretação Forma de integração

Existe norma para o caso Existe norma para o caso Não existe norma para o caso
concreto concreto concreto

Amplia-se o alcance da palavra Exemplos seguidos de Cria-se nova norma a partir de outra
encerramento genérico apenas quando favorável ao réu.

Por se tratar de mera atividade Ex.: Art. 121, §2º, I e III: mediante Analogia in malam partem (aplica-se
interpretativa, buscando o paga ou promessa de ao caso omisso uma lei maléfica ao
efetivo alcance da lei, é possível recompensa (exemplos), ou por réu) - não é admitida no Direito
a sua utilização até mesmo em outro motivo torpe (fórmula Penal, em homenagem ao princípio
relação àquelas de natureza genérica de encerramento) da reserva legal.2
incriminadora. Exemplo: o art.
159 do Código Penal, legalmente Analogia in bonam partem (aplica ao
definido como extorsão mediante caso omisso uma lei favorável ao réu)
sequestro, que também abrange - é possível no Direito Penal, exceto
a extorsão mediante cárcere às leis excepcionais, que não
privado. admitem analogia, por seu caráter
extraordinário.

▪ Três são os princípios fundamentais válidos para resolver o conflito aparente de normas: (I) especialidade;
(II) subsidiariedade e (III) consunção.

PRINCÍPIOS PARA SOLUÇÃO DO CONFLITO APARENTE DE NORMAS


Especialidade Subsidiariedade Consunção ou Alternatividade
Absorção
A norma especial A norma primária predomina O crime-fim absorve o crime- Aplica-se a tipos
prevalece sobre a geral sobre a subsidiária meio mistos alternativos
Aplica-se sempre que um Aplica-se quando as normas O princípio da consunção se Alternatividade
tipo possuir todas as descreverem diferentes graus concretiza em quatro situações: própria: ocorre nos
elementares de outro, de violação ao mesmo bem crime progressivo, progressão chamados tipos
acrescidas de algumas jurídico. criminosa, "Antefactum" mistos alternativos,
que o especializam. impunível e "Postfactum" nos crimes de ação
impunível. múltipla, ou de
Na relação de A relação entre as normas (a) Crime progressivo: se dá conteúdo variado,
especialidade é indiferente (subsidiária e principal) é de quando o agente para alcançar sendo aquele em que
se a norma especial é mais maior ou menor gravidade (e um resultado/crime mais grave o tipo penal contém
ou menos grave. não de espécie e gênero, como passa, necessariamente, por dois ou mais núcleos.
na especialidade). um crime menos grave. E a prática de dois ou

2
STF declarou a atipicidade da conduta do agente que furta sinal de TV a cabo, asseverando ser impossível a analogia (in
malam partem) com o crime de furto de energia elétrica.

11
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Exemplo: no homicídio, o mais deles contra o


agente tem que passar pela mesmo objeto
lesão corporal, um mero crime material, caracteriza
de passagem para matar um único crime. Ex.:
alguém. tráfico de drogas. O
Exemplo: O homicídio Divide-se em expressa e b) Progressão criminosa: Há art. 33, caput da Lei
culposo de trânsito (CTB, tácita. dois fatos e o agente primeiro de Drogas contém 18
art. 302) é especial em É expressa quando a lei prevê quer o menor, mas depois núcleos. Se fossem
relação ao homicídio a subsidiariedade decide praticar um crime maior vários objetos
culposo do Código Penal explicitamente, anunciando a que também o concretiza, materiais, seriam
(art. 121, § 3º), já que não aplicação da norma havendo, portanto substituição vários crimes.
aquele exige que a menos grave quando do dolo ˣ. Exemplo: agente que Alternatividade
conduta seja praticada presente a mais grave. inicialmente pretende lesionar,
imprópria: ocorre
“na direção de veículo porém, após consumar os
automotor”. Há subsidiariedade tácita ferimentos, decide matar a quando duas ou mais
quando um delito de menor vítima. Somente incidirá a normas penais
gravidade cede diante da norma referente ao crime de disciplinam
presença de um delito de homicídio, artigo 121 do Código exatamente o mesmo
maior gravidade, integrando Penal, ficando absorvido o delito fato. Na
aquele a descrição típica de lesões corporais.
alternatividade
deste.
Exemplo – expressa: art. 132 C) "Antefactum" impunível: são imprópria, não há
do CP, que define como crime fatos anteriores que estão na conflito aparente de
o ato de expor a vida ou a linha de desdobramento da normas penais, o que
saúde de outrem a perigo ofensa mais grave. Exemplo: É o ocorre é um conflito
direto e iminente, punindo-o caso da violação de domicílio de leis no tempo. Se
com detenção, de três meses a para praticar o furto. Aqui, o há duas leis tratando
um ano, se o fato não constitui delito antecedente (antefato
do mesmo fato, a
crime mais grave. Exemplo – impunível) não é passagem
tácita: se uma pessoa dirige necessária para o crime fim posterior revogou a
imprudentemente seu veículo (distinguindo-se do crime anterior, é uma
e atropela outra, ferindo-a progressivo). Também não há revogação tácita.
gravemente, e, em seguida, substituição do dolo (diferente
deixa de lhe prestar socorro, da progressão criminosa).
não comete dois crimes: lesão (D) "Postfactum" impunível:
culposa agravada pela omissão pode ser considerado um
de socorro (art. 303, § 1º, do exaurimento do crime principal
CTB) e omissão de socorro no praticado pelo agente, que,
trânsito (art. 304 do CTB), mas portanto, por ele não pode ser
somente o primeiro, o qual punido. Exemplo: O sujeito que
constitui norma primária, furta um automóvel e depois
dada a relação de o danifica não praticará dois
subsidiariedade entre eles. crimes (furto + dano), mas
somente o crime de furto, sendo
a destruição fato posterior
impunível.

ˣ #LINKMENTAL - Denomina-se dolo cumulativo: quando o agente pretende alcançar inicialmente apenas um resultado, e,
ao fazê-lo, passa a agir para provocar outro resultado em sequência (caso de progressão criminosa – substituição do dolo).

#OLHAOGANCHO - Fatos anteriores e posteriores impuníveis e o crime conexo


Define-se o crime conexo como aquele ligado a outro delito. Na conexão, a prática do crime-meio e do
crime-fim não é o que normalmente acontece na vida cotidiana, ao passo que no ante factum e no post factum
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impuníveis o crime principal e os demais são consequências naturais, no sentido de que o desrespeito de uma
lei tem por resultado normal a posterior violação da outra.
Nesses termos, o agente que mata alguém e depois destrói o cadáver deve suportar a responsabilização
do crime de homicídio em concurso com o de destruição de cadáver, tipificado no art. 211 do Código Penal.
Cuida-se de conexão consequencial, e não de post factum impunível, haja vista não ser a violação do
mencionado tipo penal consequência normal da prática do crime contra a vida.
Por seu turno, o sujeito que falsifica documento público e depois dele faz uso somente responde pelo
crime de falso material, pois o delito tipificado no art. 304 do Código Penal é corolário lógico do previsto no art.
297 do citado diploma legal.
Não se deve, portanto, equiparar as situações. A forma de interpretação é bastante diversa, justificando
a distinção no tocante ao tratamento penal dispensado.

Súmula nº 17 do STJ: quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade de lesiva, é por este
absorvido.

#DEOLHONAJURIS #APOSTACICLOS: Se o sujeito armazena (art. 241-B) arquivos digitais contendo cena de sexo
explícito e pornográfica envolvendo crianças e adolescentes e depois disponibiliza (art. 241-A), pela internet,
esses arquivos para outra pessoa, esse indivíduo terá praticado dois crimes ou haverá consunção e ele
responderá por apenas um dos delitos? Em regra, não há automática consunção quando ocorrem
armazenamento e compartilhamento de material pornográfico infanto-juvenil. Isso porque o cometimento de
um dos crimes não perpassa, necessariamente, pela prática do outro. No entanto, é possível a absorção a
depender das peculiaridades de cada caso, quando as duas condutas guardem, entre si, uma relação de meio e
fim estreitamente vinculadas. O princípio da consunção exige um nexo de dependência entre a sucessão de
fatos. Se evidenciado pelo caderno probatório que um dos crimes é absolutamente autônomo, sem relação de
subordinação com o outro, o réu deverá responder por ambos, em concurso material. A distinção se dá em cada
caso, de acordo com suas especificidades. STJ. 6ª Turma. REsp 1.579.578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 04/02/2020 (Info 666).

10. Evolução histórica da teoria do crime. 11.Conceito de crime. 12. Os principais sistemas da teoria do delito:
sistemas causais e finalista; teoria social da ação; funcionalismos teleológico e sistêmico. 13. Teoria da
conduta: Ação e Omissão.

#APOSTACICLOS – Concentração máxima, guerreir@s! Chegamos naquele ponto que é parada obrigatória. A
parte da teoria do crime, como um todo, é assunto queridinho nas provas do MPMG, sem contar que
encontramos várias afinidades dos examinadores por aqui.
Só vem!!!

11.CONCEITO DE CRIME

CONCEITO CLÁSSICO DE DELITO (POSITIVISMO JURÍDICO)


Para a teoria causalista, o conceito analítico de crime é composto por três partes: fato típico, antijuridicidade e
culpabilidade. É, portanto, tripartite.

SISTEMA CLÁSSICO
FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE

13
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▪ Conduta: movimento corporal


▪ Imputabilidade
voluntário;
▪ Relação de contrariedade entre ▪ Dolo (normativo) ou culpa -
▪ Resultado naturalístico;
o fato e o direito inclui a consciência atual da
▪ Relação de causalidade;
ilicitude
▪ Tipicidade.

CAUSALISMO
CRIME É ato voluntário contrário ao direito, culpável e sancionado com uma pena
ESTRUTURA DO
Fato típico + Antijuridicidade + Culpabilidade
CRIME
A ação integra o fato típico e é definida como movimento corporal voluntário que causa
FATO TÍPICO modificação no mundo exterior. É elemento objetivo, não admitindo qualquer
valoração
Elemento objetivo. É a conduta típica sobre a qual não incide nenhuma causa de
ANTIJURIDICIDADE
justificação (valoração objetiva de um fato natural)
Elemento subjetivo. Constituída por dolo e culpa (suas espécies), além da
CULPABILIDADE
imputabilidade (culpabilidade psicológica – valoração psicológica do autor do fato)
A teoria clássica não distingue a conduta dolosa da conduta culposa, pois ambas são
analisadas objetivamente, uma vez que não se faz nenhuma indagação sobre a relação
psíquica do agente para com o resultado.
Da mesma forma, não explica de modo idôneo os crimes omissivos próprios, nem os
CRÍTICAS
formais, nem os de mera conduta.
Ainda, não convence no que diz respeito aos crimes tentados, pois em todos eles não
há resultado naturalístico apto a possibilitar a fotografia do delito.
Existia a figura do dolus malus, que compreendia a vontade e a consciência do ilícito.

CONCEITO NEOCLÁSSICO (NEOKANTISTA)


▪ Tendo como maior expoente Edmund Mezger, fundamenta-se numa visão neoclássica marcada pela
superação do positivismo (o que não significa a sua negação) através da introdução da racionalização no
método.
▪ O crime, em seu aspecto analítico, era o injusto culpável. O termo injusto, de carga valorativa, representava a
somatória do fato típico com a antijuridicidade. CRIME = INJUSTO (fato típico + antijuridicidade) + CULPÁVEL.
▪ O fato típico continha os mesmos elementos da teoria causalista, isto é, conduta (ação ou omissão) + tipicidade.
Dolo e culpa ainda são elementos da culpabilidade no sistema neoclássico.

SISTEMA NEOCLÁSSICO/ NEOKANTISMO


FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE
▪ Imputabilidade
▪ Conduta (teoria causalista); ▪ Relação de contrariedade entre
▪ Dolo/culpa (inclui a
▪ Resultado naturalístico; o fato e o direito (aspecto
consciência atual da ilicitude)
▪ Relação de causalidade; material: danosidade social)
▪ Exigibilidade de conduta
▪ Tipicidade.
diversa

NEOKANTISMO
CRIME Adota o conceito de delito do naturalismo, agregando ao tipo dados valorativos.
ESTRUTURA DO
Fato típico + antijuridicidade + culpabilidade
CRIME

14
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Ao invés de ação, prefere-se comportamento (abrangendo omissão), não mais neutra,


FATO TÍPICO
expressando uma valoração negativa da lei.
ANTIJURIDICIDADE Deixa de ser puramente formal, exigindo danosidade social (antijuridicidade material)
Deixa de ser psicológica e passa a ser psicológica-normativa (dela faz parte a
exigibilidade de conduta adversa) - Teoria normativa da culpabilidade (ou psicológico-
CULPABILIDADE
normativa).
Passa a ser também juízo de censura.
Partindo de conceitos naturalistas, ficou contraditória quando reconheceu elementos
CRÍTICAS
normativos e subjetivos no tipo.

#ALERTA #LINKMENTAL – Segundo Rogério Sanchez (2020, p. 241)3 o dolo, na teoria causalista, é puramente
psicológico, composto por consciência e vontade, pois a consciência da ilicitude ainda não o integra. É somente
na teoria neokantista que o dolo normativo se consolida por meio da inserção da consciência atual da
ilicitude (elemento normativo do dolo).

CONCEITO FINALISTA DE DELITO (WELZEL)


Criada por Hans Welzel em meados do século XX (1930-1960), a teoria finalista concebe a conduta como
comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim.

SISTEMA FINALISTA
FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE
▪ Conduta - dolo e culpa (o
dolo é natural, pois não ▪ Imputabilidade
contém a consciência da ▪ Relação de contrariedade ▪ Potencial consciência da
ilicitude); entre o fato e o direito ilicitude
▪ Resultado naturalístico; ▪ Exigibilidade de conduta
▪ Relação de causalidade; diversa
▪ Tipicidade.

#OLHAOGANCHO – DOLO
▪ Ao se destacar da consciência da ilicitude, alotada como elemento próprio na culpabilidade, o dolo perde o
seu elemento normativo. Por este motivo é que, no finalismo, o dolo é natural (despido de valoração), é o dolos
bonus. Tal dolo, livre da consciência da ilicitude, é chamado de dolo natural, incolor ou avalorado.
▪ Já o dolo, revestido da consciência da ilicitude do fato, era chamado de dolo normativo, também conhecido
como dolo colorido ou valorado.
Em síntese, o dolo normativo está umbilicalmente ligado ao sistema penal clássico, ao passo que o dolo
natural se vincula ao sistema finalista.

FINALISMO
É o comportamento humano voluntário dirigido a uma finalidade, antijurídico e
CRIME
reprovável.
ESTRUTURA DO
Fato típico + antijuridicidade + culpabilidade
CRIME

3
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361). 11. ed. Salvador: JusPodivm, 2020.

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A ação deixa de ser concebida como mero processo causal (mero movimento corporal,
FATO TÍPICO cego) para ser enfocada como exercício de uma atividade finalista (exercício vidente).
O dolo e a culpa migram da culpabilidade para o fato típico.
Contrariedade do fato a todo o ordenamento jurídico (desvalor da conduta – análise
ANTIJURIDICIDADE
subjetiva)
Passa a ser normativa pura (a culpabilidade é considerada vazia, pois foi esvaziada em
relação aos elementos psicológicos - dolo e culpa - sendo integrada apenas por
CULPABILIDADE
substratos normativos) - Teoria normativa pura da culpabilidade.
Acrescida de potencial consciência da ilicitude
A finalidade não explica os crimes culposos (sendo frágil também nos crimes omissivos);
CRÍTICAS
a teoria se centralizou no desvalor da conduta, ignorando o desvalor do resultado.

TEORIA SOCIAL DA AÇÃO


TEORIA SOCIAL DA AÇÃO
É o comportamento humano voluntário dirigido a uma finalidade socialmente
CRIME
reprovável, antijurídico e reprovável
ESTRUTURA DO
Fato típico + antijuridicidade + culpabilidade
CRIME
Adota-se a estrutura do finalismo, mas acrescenta-se a noção da relevância social da
FATO TÍPICO
ação
Contrariedade do fato a todo o ordenamento jurídico (desvalor da conduta – análise
ANTIJURIDICIDADE
subjetiva)
CULPABILIDADE Se identifica com a estrutura do finalismo, mas inclui nova análise do dolo e culpa
CRÍTICAS Vagueza do conceito de “relevância social”

FUNCIONALISMO
FUNCIONALISMO
Conduta aparece como comportamento humano voluntário, causador de relevante e
MODERADO
intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal
(ROXIN)
FUNCIONALISMO Conduta é comportamento humano voluntário causador de um resultado evitável,
RADICAL (JAKOBS) violador do sistema, frustrando as expectativas normativas

#APROFUNDAPROFA - Consoante síntese de Luiz Régis Prado, duas teorias da ação foram desenvolvidas à luz
do funcionalismo: a teoria personalista da ação (“ação é exteriorização da personalidade humana”) e a
teoria da evitabilidade individual (“ação é realização de resultado individualmente evitável”).

FUNCIONALISMO
▪ Também chamado pós-finalismo.
▪ Pretendia-se abandonar o tecnicismo jurídico no enfoque da adequação típica, possibilitando ao tipo
penal desempenhar sua efetiva função de mantenedor da paz social e aplicador da política criminal.
▪ O funcionalismo penal questiona a validade do conceito de conduta desenvolvido pelos sistemas
clássico e finalista. E, ao conceber o Direito como regulador da sociedade, delimita o âmbito das
expectativas normativas de conduta, vinculando-se à teoria da imputação objetiva.
▪ Busca-se o desempenho pelo Direito Penal de sua tarefa primordial, qual seja, possibilitar o adequado
funcionamento da sociedade. Isso é mais importante do que seguir à risca a letra fria da lei, sem
desconsiderá-la totalmente, sob pena de autorizar o arbítrio da atuação jurisdicional. No entanto, essa
mitigação do texto legal encontra limites e, neste ponto, o funcionalismo apresenta duas concepções:

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FUNCIONALISMO MODERADO, DUALISTA OU DE FUNCIONALISMO RADICAL, MONISTA OU


POLÍTICA CRIMINAL (CLAUS ROXIN) SISTÊMICO (GÜNTHER JAKOBS)
Desenvolveu novas posições sobre a teoria da pena O Direito Penal está determinado pela função que
e a sua concepção preventiva geral positiva cumpre no sistema social, e inclusive o próprio
(prevenção de integração), e, especialmente, acerca Direito Penal é considerado um sistema autônomo,
do âmbito da relação entre o fato e o seu autor, autorreferente e autopoiético, dentro do sistema
como ao reintroduzir o conceito de imputação mais amplo da sociedade. Tem suas regras próprias
objetiva no campo da tipicidade. Na seara da e a elas se submete. Os dois pilares básicos de sua
autoria, sistematizou e desenvolveu a teoria do perspectiva normativista estão constituídos pela
domínio do fato. função preventiva geral positiva atribuída à pena e
pelas normas jurídico-penais como objeto de
a) Para a tipicidade se realiza uma das mais proteção.
significativas contribuições da tendência doutrinária
liderada por Roxin, que se reflete no → Em resposta a esse comportamento, e buscando
redescobrimento e dotação funcional da teoria da fazer valer a sua Teoria Funcionalista, Jakobs propõe
imputação objetiva no marco da tipicidade. Com a sistematização de normas penais e processuais
efeito, enquanto para as doutrinas clássica, penais diversas a serem aplicadas no julgamento do
neoclássica e finalista os problemas de relação nos inimigo. É dizer: há um Direito Penal do Cidadão e
delitos de resultado entre este e a ação se um Direito Penal do Inimigo.
reduziriam, na maioria dos casos, a uma questão de
relação de causalidade, a nova tendência utiliza  As premissas sobre as quais se funda o
como critério decisivo de imputação do resultado no Funcionalismo Sistêmico, Radical ou Monista,
tipo objetivo a regra em virtude da qual se examina deram ensejo à exumação da TEORIA DO DIREITO
a criação, por meio da ação, de um risco não PENAL DO INIMIGO (OU BÉLICO), representando a
permitido dentro do fim de proteção da norma. construção de um sistema próprio para o
tratamento do indivíduo infiel ao sistema. Tem-se,
b) Para a ilicitude se assinala o âmbito de soluções como um dos efeitos da aplicação do Direito Penal
sociais dos conflitos. Roxin concebe a ilicitude como do Inimigo, segundo Jakobs, a antecipação da
uma espécie de elemento negativo do tipo. punibilidade para a fase dos atos preparatórios, de
modo a se evitar um dano maior advindo do
c) Para a culpabilidade associa-se a necessidade de comportamento do inimigo. A partir dessa premissa,
pena com uma finalidade predominantemente fortes críticas são feitas à Lei do Terrorismo (Lei
preventiva. A reprovabilidade engloba a 13.260/2016), que admite a punição de atos
culpabilidade e necessidade da pena. preparatórios.

Por essa razão, é um Direito Penal do autor, que


vai estereotipar determinadas pessoas como
indesejáveis para o convívio social.

Em matéria de teoria do crime, o funcionalismo contém dois componentes nucleares:


■ A teoria da imputação ao tipo objetivo (ou teoria da imputação objetiva), que condiciona a imputação de um
resultado à criação de um perigo não permitido dentro do alcance do tipo.

■ Teoria funcionalista da culpabilidade, a qual propõe uma expansão do conceito de culpabilidade para uma
ideia de responsabilidade; resultando daí que aquela, como condição indispensável para imposição da pena,
deve aliar-se a necessidades preventivas da sanção penal (a culpabilidade e as exigências de prevenção limitam-
se reciprocamente, e alguém só será penalmente responsável se ambas concorrerem simultaneamente).

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Esse conceito funcional de culpabilidade já foi aplicado em nossa jurisprudência, com a denominação de
“bagatela imprópria”. Veja-se este exemplo: “Tratando-se de crimes cujas consequências foram ínfimas,
praticados por agente impelido pelo vício em álcool/entorpecentes, hoje recuperado, aplica-se o princípio da
‘bagatela imprópria’, sendo desnecessária a imposição da pena, mormente por se tratar de réu primário e a
única vítima, sua atual companheira, não desejar a condenação dele. A situação atual do casal em questão
sobrepõe-se à necessidade de apenamento do acusado supostamente reinserido no seio social. Impingir a ele
reprimenda corporal seria contrariar a função social da pena” (TJMS, 2ª Turma Criminal, Rel. Des. Romero Osme
Dias Lopes, julgado em 20.07.2009

TEORIAS DA TIPICIDADE:

 INDEPENDÊNCIA (BELING): não há ligação do fato típico com a ilicitude e com a culpabilidade. O tipo
descreve apenas o acontecimento objetivo, sem qualquer valoração. TIPO AVALORADO, ACROMÁTICO
– tipo sem juízo de valor, independente da ilicitude;
 CARÁTER INDICIÁRIO/"RATIO COGNOSCENDI" (MAYER): ocorrendo o fato típico há um indício de
ilicitude, que poderá ser afastada se ocorrer alguma de suas excludentes (legítima defesa, estado de
necessidade etc.) É a concepção adotada pelo nosso Código Penal. Introdução de elementos valorativos
no tipo. Causa inversão do ônus da prova quanto às causas de excludente da ilicitude.
 ESSÊNCIA/"RATIO ESSENDI"/IDENTIDADE (MEZGER): todas as condutas típicas são ilícitas. Tipicidade e
ilicitude não são institutos distintos. Tipo penal é transformado em tipo injusto.
 Teoria dos elementos negativos do tipo (ilicitude sem autonomia): tipo total do injusto - partindo da
mesma premissa da teoria da "ratio essendi"', todas as condutas típicas são ilícitas. No entanto, para
essa teoria, as causas de exclusão da ilicitude integram a tipicidade. Assim, para um fato ser típico, não
deve estar presente nenhuma causa de exclusão da ilicitude. Ex.: se o agente mata alguém em legítima
defesa não haveria sequer a tipicidade. Crime é tipo total do injusto + culpabilidade.
 Teoria da tipicidade conglobante (Zaffaroni): tipicidade legal + antinormatividade.

#SELIGANOSTERMOS: O tipo normal é constituído apenas por elementos de ordem objetiva. O tipo anormal,
por sua vez, é constituído por elementos subjetivos e/ou normativos. Tipo penal incompleto: o instituto da
tentativa também é conhecido como crime imperfeito, conatus, tipo manco, truncado, carente ou imperfeito.
O tipo será congruente ou simétrico quando apresentar simetria entre os elementos objetivos e subjetivos;
Tipo incongruente: os tipos penais que descrevem crimes formais são chamados de incongruentes, “uma vez
que neles há um descompasso entre a finalidade pretendida pelo agente (quer receber o resgate) e a exigência
típica (o tipo se contenta com a mera realização do sequestro com essa finalidade).”
São hipóteses de tipo incongruente o crime formal, o crime tentado e o crime preterdoloso.

 CONDUTA
• Omissão penalmente relevante – O Código Penal (13, § 2°) adotou a TEORIA NORMATIVA, segundo a qual, a
omissão é um indiferente penal, pois o nada não produz efeitos jurídicos. Contudo, aceita a responsabilização
do omitente pela produção do resultado, desde que seja a ele atribuído, por uma norma, o dever jurídico de
agir. Não é suficiente o dever de agir. É necessário que tenha se omitido quando devia e podia agir de forma a
impedir o resultado.

CRIME OMISSIVO PRÓPRIO CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO


Dever de agir Dever de agir para evitar o resultado

Dever de agir genérico Dever de agir jurídico

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Dever de agir decorre do próprio tipo legal. Dever de agir (e evitar resultado) decorre de
Basta a não realização da conduta valiosa. cláusula geral (art. 13, §2º, CP).

O tipo descreve uma omissão. O tipo descreve uma ação.


São crimes de mera conduta. São crimes materiais.
Não admitem tentativa. Admitem tentativa.
São sempre dolosos. Podem ser culposos ou dolosos.

 RESULTADO
▪ O resultado naturalístico ou material consiste na modificação no mundo exterior provocada pela conduta.
Trata-se de um evento que só se faz necessário em crimes materiais, ou seja, naqueles cujo tipo penal descreva
a conduta e a modificação no mundo externo, exigindo ambas para efeito de consumação.

▪ O resultado jurídico ou normativo reside na lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pela
norma penal. Todas as infrações devem conter, expressa ou implicitamente, algum resultado, pois não há
delito sem que ocorra lesão ou perigo (concreto ou abstrato) a algum bem penalmente protegido.
 A doutrina moderna dá preferência ao exame do resultado jurídico. Este constitui elemento implícito de
todo fato penalmente típico, pois se encontra ínsito na noção de tipicidade material.

1ª Corrente 2ª Corrente
Entende que o resultado Naturalístico Normativo
que integra o fato típico é o
É necessário separar os elementos do Influenciada pelo funcionalismo,
Consequências fato típico para os crimes materiais e essa corrente, mais moderna,
não materiais: entende que:
(A) Crimes (B) Crimes não- (A) Para a (B) Todavia, no
materiais: o fato materiais: o fato tipicidade momento de se
típico tem 4 típico tem só 2 formal analisar a
elementos: elementos: interessa o tipicidade
resultado material,
▪ conduta; ▪ conduta; e naturalístico. observa-se o
▪ resultado; ▪ tipicidade. resultado
▪ nexo causal; e (os crimes formais normativo.
▪ tipicidade. e mera conduta O fato típico será sempre
dispensam o composto de: conduta, nexo,
resultado tipicidade e resultado (todo crime
naturalístico). sempre tem resultado normativo).

#REVISAQUEPASSA #OLHAOGANCHO
A tipicidade, elemento do fato típico, divide-se em formal e material.
▪ Tipicidade formal é o juízo de subsunção entre a conduta praticada pelo agente no mundo real e o modelo
descrito pelo tipo penal (“adequação ao catálogo”).
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É a operação pela qual se analisa se o fato praticado pelo agente encontra correspondência em uma conduta
prevista em lei como crime ou contravenção penal.
▪ De seu turno, tipicidade material (ou substancial) é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico penalmente
tutelado em razão da prática da conduta legalmente descrita.
A tipicidade material relaciona-se intimamente com o princípio da ofensividade (ou lesividade) do Direito Penal,
pois nem todas as condutas que se encaixam nos modelos abstratos e sintéticos de crimes (tipicidade formal)
acarretam dano ou perigo ao bem jurídico. É o que se dá, a título ilustrativo, nas hipóteses de incidência do
princípio da insignificância, nas quais, nada obstante a tipicidade formal, não se verifica a tipicidade material.

14. Teoria do tipo Penal. 15. Tipos dolosos e tipos culposos. 16. Relação de causalidade. Teorias da relevância
e da adequação. Teoria da condição INUS. 17. Teoria da imputação objetiva. Teorias da elevação do risco e
do fim de proteção da norma. 18. Ilicitude e causas de exclusão. 19. Culpabilidade e suas dirimentes.

RESPIRA FUNDO, GALERA!!! Quem viu o Quebrando a banca ou acompanhou os materiais, sabe que esse ponto
aqui é #APOSTACICLOS na certa!
Então vamos juntos revisar!
(Obs.: Se você acabou de ver o QB, ou se ainda não viu e quiser dar um pulinho lá, segue para o próximo ponto).

 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
• Regra - O art. 13 do Código Penal acolheu como regra a teoria da equivalência das condições, ou da
conditio sine qua non, sendo considerada causa a condição sem a qual o resultado não teria ocorrido, o que
limita a amplitude do conceito de causa com a superveniência de causa independente.

- Causa, pois, é todo o comportamento humano, comissivo ou omissivo, que de qualquer modo concorreu para
a produção do resultado naturalístico. Pouco importa o grau de contribuição. Basta que tenha contribuído para
o resultado material, na forma e quando ocorreu.
- Não há diferença entre causa, condição (fator que autoriza à causa a produção de seu efeito) ou ocasião
(circunstância acidental que estimula favoravelmente a produção da causa).

• Excepcionalmente, o Código Penal adota, no § l.° do art. 13, a teoria da causalidade adequada.
Considera causa a pessoa, fato ou circunstância que, além de praticar um antecedente indispensável à produção
do resultado, realize uma atividade adequada à sua concretização.

TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS Origem: Foi criada por Glaser,13 e posteriormente desenvolvida por Von
ANTECEDENTES Buri e Stuart Mill, em 1873.
(teoria da equivalência das
condições, teoria da condição ▪ Para essa teoria, causa é todo fato humano sem o qual o resultado não
simples, teoria da condição teria ocorrido, quando ocorreu e como ocorreu.
generalizadora, teoria da conditio ▪ Sabendo que antecedendo um resultado temos inúmeros fatos,
sine qua non) como saber quais são ou não causas do evento? Deve-se somar à teoria
da conditio sine qua non o método ou teoria da eliminação hipotética
dos antecedentes causais. Idealizado pelo professor sueco Thyrén, em
1894, este método é empregado no campo mental da suposição ou da
cogitação: causa é todo fato que, suprimido mentalmente, faria com que
o resultado não ocorresse como ocorreu ou no momento em que
ocorreu.

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▪ Conjugando as duas teorias, chega-se à denominada causalidade


objetiva ou efetiva do resultado.
TEORIA DA CAUSALIDADE Origem: originou-se dos estudos de Von Kries, um fisiólogo, e não jurista.
ADEQUADA
(teoria da condição qualificada, ▪ Causa, nesse contexto, é o antecedente, não só necessário, mas
ou teoria individualizadora,) adequado à produção do resultado. Para que se possa atribuir um
resultado à determinada pessoa, é necessário que ela, além de praticar
um antecedente indispensável, realize uma atividade adequada à sua
concretização.
Considera-se a conduta adequada quando é idônea a gerar o efeito. A
idoneidade baseia-se na regularidade estatística. Descarte, conclui-se
que a conduta adequada (humana e concreta) funda-se no antecedente
adequado à produção do resultado, segundo uma regularidade
estatística, excluindo os acontecimentos extraordinários, fortuitos,
excepcionais, anormais. Não são levadas em conta todas as
circunstâncias necessárias, mas somente aquelas que, além de
indispensáveis, sejam idôneas à produção do resultado.
Portanto, a causa adequada é aferida de acordo com o juízo do homem
médio e com a experiência comum.
▪ Não basta contribuir de qualquer modo para o resultado: a
contribuição deve ser eficaz.

Conclusão: a causalidade objetiva não é suficiente para se chegar à imputação do crime, de modo que,
dentro da perspectiva do finalismo, é indispensável perquirir a causalidade psíquica, indagando-se se o
agente agiu com dolo ou culpa para a produção do resultado delituoso.

Concausas
Assim, identificados quais antecedentes podem figurar como causa dentro de uma linha de eventos que se
sucedem, nota-se que, no caso concreto, é possível que haja mais de uma causa concorrendo para o resultado
(concausas). Em outras palavras, concausa é a convergência de uma causa externa à vontade do autor da
conduta e que influi na produção do resultado naturalístico por ele desejado.

▪ São duas espécies de concausas:


(A) concausas absolutamente independentes; e
(B) concausas relativamente independentes

Concausas absolutamente independentes


Nessa espécie, a causa efetiva do resultado não se origina, direta ou indiretamente, do comportamento
concorrente. Constituem a chamada “causalidade antecipadora”.
Preexistente EFEITOS

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É aquela que existe anteriormente à prática da Em todas as modalidades


conduta. O resultado naturalístico teria ocorrido (preexistentes, concomitantes
da mesma forma, mesmo sem o comportamento e supervenientes), o resultado
ilícito do agente. naturalístico ocorre
Exemplo: “A" atira em "B", que antes já havia independentemente da
sido envenenado por "C", morrendo em razão conduta do agente, produzem
do envenenamento. por si sós o resultado material.
Concomitante É a que incide simultaneamente à prática da
conduta. ▪ Rompe-se o nexo causal:
Exemplo: “A” efetua disparos de arma de fogo devem ser imputados ao
contra “B” no momento em que o teto da casa agente somente os atos
deste último desaba sobre sua cabeça. praticados, e não o resultado
Superveniente É a que se concretiza posteriormente à conduta naturalístico, em face da
praticada pelo agente. quebra da relação de
Exemplo: “A” subministra dose letal de veneno a causalidade.
“B”, mas, antes que se produzisse o efeito
almejado, surge “C”, antigo desafeto de “B”, que ▪ Teoria da equivalência dos
nele efetua inúmeros disparos de arma de fogo antecedentes ou conditio sine
por todo o corpo, matando-o. qua non.
Causas relativamente independentes
Originam-se da própria conduta efetuada pelo agente. Daí serem relativas, pois não existiriam sem a
atuação criminosa. Isoladamente consideradas, não seriam capazes de ocasionar o resultado.
Preexistente Existe previamente à prática da conduta do EFEITOS
agente. Antes de seu agir ela já estava presente. Nas causas preexistentes e
Exemplo: “A”, com ânimo homicida, efetua concomitantes relativamente
disparos de arma de fogo contra "B” atingindo-a independentes, suprimindo-se
de raspão. Os ferimentos, contudo, são mentalmente a sua conduta, o
agravados pela diabete da vítima, que vem a resultado material, morte da
falecer. (exemplos: hemofilia e diabete) vítima (vide exemplos), não
Concomitante É a que ocorre simultaneamente à prática da teria ocorrido quando e como
conduta. ocorreu.
Exemplo: “A” aponta uma arma de fogo contra
"B”, o qual, assustado, corre em direção a ▪ Não rompe o nexo causal: o
movimentada via pública. No momento em que agente responde pelo resultado
é alvejado pelos disparos, é atropelado por um naturalístico.
caminhão, morrendo.
▪ Teoria da equivalência dos
antecedentes ou conditio sine
qua non.

Causas relativamente independentes SUPERVENIENTE


“não por si só produziu o resultado” “por si só produziu o resultado”
A causa efetiva superveniente está na linha de A causa efetiva superveniente não está na linha de
desdobramento causal normal na conduta desdobramento causal normal da conduta
concorrente concorrente.
Teoria da equivalência das condições Teoria da causalidade adequada

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A causa efetiva é um evento previsível, ainda que A causa adequada é aferida de acordo com o juízo do
não previsto (não sai da linha da normalidade). homem médio e com a experiência comum.
Pouco importa o grau de contribuição. Basta que Não basta contribuir de qualquer modo para resultado:
tenha contribuído para o resultado material, na a contribuição deve ser eficaz.
forma e quando ocorreu.
Ex.: “A” atira para matar “B”, que é socorrido, mas (1) pessoa atingida por disparos de arma de fogo que,
morre em razão de erro médico. “A” responde por internada em um hospital, falece não em razão dos
crime consumado. ferimentos, e sim queimada por um incêndio que
destrói toda a área dos enfermos;
(2) ferido que morre durante o trajeto para o hospital,
em face de acidente de tráfego que atinge a ambulância
que o transportava.

 EXCLUDENTES DE ILICITUDE

• ESTADO DE NECESSIDADE – Requisitos: (A) Perigo atual: O estado de necessidade, quanto a existência
do perigo, é classificado em: real, quando asituaçâo de perigo efetivamente existe (exclui a ilicitude);
putativo, quando o sujeito atua em face de perigo imaginário (não exclui a ilicitude -descriminastes
putativas); (B) Que a situação de perigo não tenha sido causada voluntariamente pelo agente; (C)
Salvar direito próprio ou alheio; (D) Inexistência de dever legal de enfrentar o perigo; (E) Inevitabilidade
do comportamento lesivo: É preciso que o único meio para salvar o direito próprio ou de terceiro seja
o cometimento do fato lesivo, sacrificando-se bem jurídico alheio. Quanto ao terceiro que sofre a
ofensa, o estado de necessidade classifica-se em: defensivo, quando o agente, ao agir em estado de
necessidade, sacrifica bem jurídico do próprio causador do perigo; e agressivo, quando o bem sacrificado
é de terceiro que não criou ou participou da situação de perigo. (F) Inexigibilidade de sacrificio do
interesse ameaçado (G) Conhecimento da situação de fato justificante.

• No estudo do fato necessitado, impõe-se a análise da ponderação de bens, leia-se, a proporcionalidade


entre o bem protegido e o bem sacrificado. O Código Penal adotou a TEORIA UNITÁRIA, que só permite
o estado de necessidade justificante, quando o bem jurídico sacrificado apresenta valor igual ou
inferior ao bem jurídico preservado.

 Ao contrário, a Teoria diferenciadora, afirma que, se o bem salvo for mais importante que sacrificado
(ex.: salvar a vida e danificar patrimônio alheio), exclui-se a ilicitude (“estado de necessidade
justificante”), ao passo que, se os bens em conflito forem equivalentes (ex.: salvar a própria vida em
detrimento da vida alheia), afasta-se a culpabilidade (“estado de necessidade exculpante”);
• Estado de necessidade justificante X estado de necessidade exculpante – o primeiro exclui a
ilicitude; o segundo, a culpabilidade.
• O estado de necessidade exculpante é compatível apenas com a teoria diferenciadora, que não foi
adotada pelo Código Penal, mas encontra amparo no art. 39 do Código Penal Militar.

• LEGÍTIMA DEFESA – requisitos: a) agressão injusta (pode emanar de um inimputável; pode ser dolosa
ou culposa); b) atual ou iminente; c) uso moderado dos meios necessários; d) salvar direito próprio ou
alheio; e e) conhecimento das circunstância da situação de fato justificante de sua atuação.
e) Elemento subjetivo - conhecimento da situação justificante - Constitui requisito fundamental para
a existência da excludente. O agente deve ter total conhecimento da existência da situação justificante

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para que seja por ela beneficiado. A legítima defesa deve ser objetivamente necessária e subjetivamente
orientada pela vontade de defender-se.
#NOVIDADELEGISLATIVA #PACOTEANTICRIME: A Lei 13.964/2019, também conhecida como “Pacote Anticrime”,
acrescentou o parágrafo único no art. 25 do Código Penal, com a seguinte redação:
Art.25, Parágrafo único: “Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em
legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém
durante a prática de crimes”.

(Como "agente de segurança pública”, destinatário desta norma, incluem-se os agentes públicos indicados no
art. 144 da Constituição Federal.)

#NÃOCONFUNDA:
• É perfeitamente admissível estado de necessidade recíproco, que ocorre quando duas ou mais pessoas
estejam, simultaneamente, em estado de necessidade, umas contra as outras. Ex.: Dois náufragos disputam
uma tábua, que só servirá a um deles.
• Não é cabível Legítima defesa real recíproca (legítima defesa real contra legítima defesa real), pois o
pressuposto da legítima defesa é a existência de uma agressão injusta. E, se a agressão de um dos envolvidos
é injusta, automaticamente a reação do outro será justa.
• O que não se confunde com Legítima defesa sucessiva, quando alguém reage contra o excesso de legítima
defesa. É possível essa espécie legítima defesa, pois o excesso sempre representa uma agressão injusta.

Para o exercício da legítima defesa de terceiro é necessário o seu consentimento para ser protegido de uma
agressão injusta?
A resposta pode ser negativa ou positiva, dependendo da natureza do bem jurídico atacado.

 Em se tratando de bem jurídico indisponível, será prescindível o consentimento do ofendido. Exemplo:


um homem agride cruelmente sua esposa, com o propósito de matá-la. Aquele que presenciar o ataque
poderá, sem a anuência da mulher, protegê-la, ainda que para isso tenha que lesionar ou mesmo
eliminar a vida do covarde marido.
 Diversa será a conclusão quando tratar-se de bem jurídico disponível. Nessa hipótese, impõe-se o
consentimento do ofendido, se for possível a sua obtenção. Exemplo: um homem ofende com
impropérios a honra de sua mulher. Por mais inconformado que um terceiro possa ficar com a situação,
não poderá protegê-la sem o seu assentimento. Não se olvide, porém, que mesmo no caso de bem
jurídico disponível, estará caracterizada a legítima defesa putativa quando o terceiro atuar sem o
consentimento do ofendido.

 CONSENTIMENTO DO OFENDIDO - Inicialmente, deve ser esclarecido que a sua relevância depende se
o dissentimento é ou não elementar do crime:
▪ se elementar, o consentimento exclui a tipicidade;
▪ não sendo elementar, pode servir como causa supralegal de exclusão da ilicitude.
- Na violação de domicílio (art. 150 do CP), por exemplo, o crime está estruturado precisamente no
dissentimento do proprietário ou do possuidor direto (elemento do tipo) pelo que a sua falta faz
desaparecer a própria tipicidade.
- Já no furto (art. 155 do CP), não há referência ao não consentimento do proprietário, cuidando-se de
circunstância exterior ao tipo legal. O consentimento do ofendido, renunciando a proteção legal, pode
justificar a conduta típica.

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 São requisitos para que o consentimento do ofendido atue como causa supralegal de exclusão da
ilicitude: (A) O dissentimento (não consentimento) não pode integrar o tipo penal (elementar do tipo);
(B) O ofendido deve ser capaz; (C) O consentimento deve ser livre e válido; (D) O bem deve ser
DISPONÍVEL; (E) O bem deve ser próprio; (F) O consentimento deve ser prévio ou simultâneo à lesão ao
bem jurídico (A anuência posterior à consumação do crime não afasta a ilicitude); (G) O consentimento
deve ser expresso; (H) Ciência da situarão de fato que autoriza a justificante;

Vamos finalizar ilicitude com duas tabelinhas?

 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL:

O agente público, no desempenho de suas atividades, é obrigado, por lei (em sentido
CONCEITO
amplo), a violar um bem jurídico, sendo amparado por excludente de ilicitude.
REQUISITO O agente deve ter conhecimento de que está praticando a conduta em face do dever
SUBJETIVO imposto por lei.
- Estrito cumprimento: Somente os atos rigorosamente necessários justificam o
comportamento permitido;
- De dever legal: É indispensável que o dever seja legal, isto é, decorra de lei, não o
caracterizando obrigações de natureza social, moral ou religiosa. A norma da qual emana
o dever tem de ser jurídica, e de caráter geral: lei, decreto, regulamento, etc. Se a norma
tiver caráter particular, de cunho administrativo, poderá configurar a obediência
REQUISITOS hierárquica (art. 22, 2ª parte, do CP), mas não o dever legal.
OBJETIVOS Obs.: trata-se de descriminante penal em branco, pois o conteúdo da norma permissiva
(dever atribuído ao agente) precisa ser complementado por outra norma jurídica.
#OBS: Não se aplica a crimes culposos, pois a lei não pode exigir que o agente atue com
negligência, imprudência ou imperícia. O caso pode se enquadrar como estado de
necessidade.
#OBS: Comunicabilidade da excludente: estende-se aos demais envolvidos. Coautores e
partícipes
O PARTICULAR
→ Corrente 1 (Mirabete): essa descriminante é exclusiva de agentes públicos,
PODE ALEGAR
abrangendo o particular somente quando no exercício da função pública. Ex.: mesário.
QUE AGIU EM
→ Corrente 2 (Flávio Monteiro de Barros): entende que particular também pode invocar
ESTRITO
essa descriminante. Ex.: advogado que se recusa a depor em juízo em virtude do sigilo
CUMPRIMENTO
profissional. Nada impede que possa ser aplicada ao cidadão comum, quando atuar sob a
DE DEVER
imposição de um dever legal.
LEGAL?
Tipicidade conglobante = tipicidade legal + antinormatividade.
TIPICIDADE Para existir tipicidade não basta violar a norma, é preciso violar o ordenamento jurídico
CONGLOBANTE como um todo. Sendo assim, o estrito cumprimento do dever legal não serve como causa
excludente da ilicitude, mas da própria tipicidade.

 EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO:

Compreende condutas do cidadão comum autorizadas pela existência de direito definido


CONCEITO
em lei e condicionadas à regularidade do exercício desse direito.
REQUISITO
O agente deve saber que atua amparado por excludente de ilicitude.
SUBJETIVO

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Não existe dispositivo legal elencando os requisitos objetivos dessa excludente.


REQUISITOS
Obs.: trata-se de uma espécie de descriminante penal em branco, pois o conteúdo da
OBJETIVOS
norma permissiva precisa ser complementado por outra norma jurídica.

ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO


“os agentes públicos” “o cidadão comum”
Compulsoriedade - dever Facultatividade - direito
Obs.: a maioria ensina que o particular
também pode invocar essa descriminante.

 CULPABILIDADE:

Teoria psicológica da Culpabilidade: Base positivista e concebida a partir do sistema causal-naturalista de


Liszt e Beling. A ação é um movimento corporal voluntário que causa alteração no mundo exterior. A
culpabilidade é o vínculo psicológico entre autor do fato e um resultado típico e ilícito, ou seja, uma mera
imputação (cunho subjetivo: análise do dolo e culpa). É formada pela imputabilidade e dolo
normativo/culpa. A tipicidade e a antijuridicidade (injusto penal) denotam a dimensão objetiva do conceito
de crime.

#SELIGANOSINÔNIMO: Dolo normativo é também chamado de dolo colorido, aquele que engloba a consciência
da ilicitude.

Teoria psicológico-normativa da Culpabilidade: Base neokantista e fundamentada na doutrina causal-


valorativa de Frank e Mezger. A ação é concebida de forma social, valorativa e genérica, como um
comportamento humano provocador de um resultado socialmente relevante. A culpabilidade é vista como
um juízo de valor que necessita de uma avaliação simultânea do vínculo psicológico do autor (dolo ou culpa)
e da reprovação social, o que a torna psicológico-normativa. O novo elemento da culpabilidade é de
natureza normativa (exigibilidade de conduta diversa). É formada pela imputabilidade, dolo
normativo/culpa E INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA.

Teoria normativa pura da Culpabilidade: Doutrina finalista de Welzel. A ação como um movimento humano
dirigido a uma determinada finalidade. Elementos volitivos são analisados na tipicidade (dolo e culpa), o que
impede uma conduta típica sem sua configuração. O dolo deixa de ser normativo e passa a ser natural. A
culpabilidade deixa de analisar elementos subjetivos, tornando-se exclusivamente normativa, formada pela
inimputabilidade, inexigibilidade de conduta diversa e potencial consciência de ilicitude. É o exercício
inadequado do livre-arbítrio. Foi a teoria adotada pelo CP. A teoria normativa pura da culpabilidade divide-
se em:

Teoria normativa extremada: para essa vertente, todas as discriminantes putativas configuram erro de
proibição indireto. Chamada também de TEORIA UNITÁRIA DO ERRO.

Teoria normativa limitada: o erro sobre as hipóteses e os limites das discriminantes putativas configuram
erro de proibição indireto, ao passo que o erro relacionado aos pressupostos fáticos que autorizam a
discriminante putativa, caracteriza-se como erro de tipo indireto ou permissivo.

A culpabilidade formal é aquela definida em abstrato, que serve ao legislador na edição da lei para cominar os
limites máximos e mínimos de pena atribuída a determinada
infração penal.
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A culpabilidade material é estabelecida no caso concreto, dirigida a um agente culpável que cometeu um fato
típico e ilícito, para a fixação da pena pelo juiz. Este viés da culpabilidade está positivado no artigo 59, caput, do
Código Penal, que permite considerar "graus de culpabilidade" do agente, análise que influenciará na pena
concretamente aplicada.

Causas legais de exclusão da culpabilidade

Elementos da Dirimentes
culpabilidade
Imputabilidade Doença mental
Menoridade
Desenvolvimento mental retardado
Desenvolvimento mental incompleto
Embriaguez acidental completa
Potencial consciência da ilicitude Erro de proibição inevitável (ou escusável)
Exigibilidade conduta diversa Coação moral irresistível
obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal

▪ Excludentes da potencial consciência de ilicitude: o erro de proibição inevitável, escusável ou invencível (art.
21, caput, CP). Isenta o agente de pena.

Analisa-se pela valoração paralela na esfera do profano. O que deve ser avaliado é se o agente possuía o
conhecimento do profano, diga-se, do homem leigo na sociedade (sua compreensão).

#DICA: Existe uma regra que irá ajudar no estudo de toda a teoria do crime. O estudo do crime se divide em três
grandes grupos: fato típico, ilicitude e culpabilidade. O fato é típico e ilícito. O agente é culpável. Em outras
palavras, a tipicidade e a ilicitude pertencem ao fato, e a culpabilidade, ao agente. Logo, sempre que estudarmos
o fato típico e a ilicitude, levaremos em conta a figura do homem médio, um paradigma utilizado para análise
do caso concreto (PREVISIBILIDADE OBJETIVA). Por outro lado, quando se estuda a culpabilidade, leva-se em
conta o perfil subjetivo do agente, a sua compreensão (PREVISIBILIDADE SUBJETIVA).

▪ Hipóteses de inexigibilidade de conduta diversa: coação moral irresistível (lembrem-se que a coação física
exclui a conduta em si, não havendo crime) e obediência hierárquica (ordem não manifestamente ilegal). Em
ambos, a consequência é a isenção de pena, por ausência de culpabilidade.

#ATENÇÃO! Causas supralegais de inexigibilidade de conduta diversa: cláusula de consciência (caso das
testemunhas de Jeová. Não pode ser garante, senão praticará crime: será chamado autor por convicção),
desobediência civil, conflito de deveres, excesso intensivo exculpante, legítima defesa preordenada diante de
uma ameaça factível (também chamada de legítima defesa potencial, mas na verdade não é legítima defesa,
pois a agressão é futura), estado de necessidade exculpante (não é adotada no ordenamento pátrio).

COCULPABILIDADE: Para Zaffaroni, pessoas com baixo nível educacional, social, cultural e econômico e
aquisitivo devem receber amenização da pena ao cometerem crimes, uma vez que o Estado teria uma parcela
de responsabilidade em vista desse indivíduo, porquanto não propiciou situação diversa. O resultado prático é
que o indivíduo, nesse caso, deve ter a pena atenuada (atenuante inominada, para parte da doutrina).

#SELIGANOTERMO: COCULPABILIDADE ÀS AVESSAS - É dividida em duas perspectivas.

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1ª. É o abrandamento da aplicação da pena nos crimes praticados por pessoas de alto poder socioeconômico,
como é o caso da extinção da punibilidade pelo pagamento da dívida nos crimes contra a ordem tributária,
previstos na Lei 8.137/1990, quando na verdade, essas mesmas pessoas deveriam sofrer um maior rigor na
aplicação da pena, porquanto tiveram maiores oportunidades perante a sociedade.
2ª. É a criação pelo Estado de leis que incriminem as condutas passíveis de estarem sujeitas somente as pessoas
de menor capacidade socioeconômica, como é caso da vadiagem e mendicância.

▪ IMPUTABILIDADE PENAL
É um dos elementos da culpabilidade, juntamente com a inexigibilidade de conduta diversa e a potencial
consciência de ilicitude.

CAUSAS DE INIMPUTABILIDADE
O Código Penal apresenta como causas de inimputabilidade:
▪ menoridade (art. 27);
▪ doença mental (art. 26, caput);
▪ desenvolvimento mental incompleto (arts. 26, caput, e 27);
▪ desenvolvimento mental retardado (art. 26, caput); e
▪ embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, § l.°).

Critério biológico - Em relação à menoridade (menores de 18 anos de idade) adotou-se o sistema biológico para
a constatação da inimputabilidade.
Critério biopsicológico - sob a perspectiva biopsicológica, considera-se inimputável aquele que, em razão de
sua condição mental (por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado), era, ao tempo
da conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. Conclusão: não basta ser portador de anomalia psíquica para ser inimputável

Embriaguez acidental (caso fortuito ou força maior): Aqui, a embriaguez decorre de caso fortuito (o sujeito
desconhece o efeito inebriante da substância que ingere) ou força maior (o sujeito é obrigado a ingerir a
substância inebriante).
Quando completa, isenta o agente de pena (art. 28, §1º , do CP);
se incompleta, não exclui a culpabilidade, mas diminui a pena (art. 28, §2º , do CP).

Note que a embriaguez, para gerar a inimputabilidade do ébrio, pressupõe os seguintes requisitos: causal
(proveniente de caso fortuito ou força maior), quantitativo (completa), cronológico (ao tempo da ação ou
omissão) e consequencial (inteira incapacidade intelectiva ou volitiva).

Embriaguez culposa: Seguindo a orientação do nosso Código Penal, a embriaguez culposa jamais exclui a
imputabilidade (art. 28, II), seja ela completa ou incompleta.

#RESUMINDO ESTADOS DE EMBRIAGUEZ:


Embriaguez Voluntária (art. 28, II) IMPUTABILIDADE
Embriaguez Culposa (art. 28, II) IMPUTABILIDADE
Embriaguez Involuntária Completa (caso fortuito ou
INIMPUTABILIDADE
força maior) (art.28, §1º)
Embriaguez Involuntária Incompleta (caso fortuito ou
SEMI-IMPUTABILIDADE
força maior) (art. 28 §2º)

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IMPUTABILIDADE +
Embriaguez Pré-Ordenada (ART. 28, II) AGRAVANTE DE PENA
(art. 61, II, l CP)

Teoria da actio libera in causae: O Código Penal dispõe, em seu art. 28, II, que a embriaguez, voluntária ou
culposa, não exclui a imputabilidade penal. Já em relação à embriaguez preordenada, estatui em seu art. 61, II,
"l” ser essa circunstância uma agravante genérica.
Fundamenta-se no princípio segundo o qual “a causa da causa também é a causa do que foi causado´, isto é,
para aferir-se a imputabilidade penal no caso da embriaguez, despreza-se o tempo em que o crime foi praticado.
Invoca-se essa teoria, portanto, para justificar a punição do sujeito que, ao tempo da conduta, encontrava-se
em estado de inconsciência. Para evitar a responsabilidade objetiva, o agente só responderá pelo crime
praticado durante o estado de embriaguez completa se, no momento da ingestão da substância (estado anterior
de capacidade de culpabilidade), era esse crime: a) previsto e perseguido pelo agente (dolo direto); b) previsto
e o agente tenha assumido o risco de produzi-lo (dolo eventual); c) previsto, mas o agente esperava
levianamente que não iria ocorrer ou que poderia evitá-lo (culpa consciente); d) previsível (culpa inconsciente).

Inimputáveis: recebem uma sentença absolutória imprópria para cumprir medida de segurança.

Espécies de medida de segurança: a) internação (penas de reclusão); b) tratamento ambulatorial (penas de


detenção).

DETENTIVA (INTERNAÇÃO) RESTRITIVA (TRATAMENTO AMBULATORIAL)


Consiste na internação do agente em um hospital
de custódia e tratamento psiquiátrico.
Consiste na determinação de que o agente se
Obs.: se não houver hospital de custódia, a
sujeite a tratamento ambulatorial.
internação deverá ocorrer em outro
estabelecimento adequado.
O agente permanece livre, mas tem uma restrição
É chamada de detentiva porque representa uma
em seu direito, qual seja, a obrigação de se
forma de privação da liberdade do agente.
submeter a tratamento ambulatorial.

Duração: prazo mínimo de 1 a 3 anos. Em relação ao prazo máximo, há divergência entre os tribunais:

Posição do STF: Posição do STJ: máximo da pena abstratamente


40 anos* cominada ao delito praticado

O STF possui julgados afirmando que a medida de Súmula 527-STJ: O tempo de duração da medida de
segurança deverá obedecer a um prazo máximo de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da
40 anos*, estabelecendo uma analogia ao art. 75 do pena abstratamente cominada ao delito praticado.
CP, e considerando que a CF/88 veda as penas de
caráter perpétuo. Ex.: João, inimputável, pratica fato previsto como furto
simples (art. 155, caput, do CP); o juiz aplica a ele
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas medida de segurança de internação; após 4 anos
privativas de liberdade não pode ser superior a 40 cumprindo medida de segurança, o magistrado deverá
(quarenta) anos. (redação dada pela Lei determinar a desinternação de João, considerando que
13.964/2019) foi atingido o máximo da pena abstratamente
§ 1º Quando o agente for condenado a penas cominada para o furto (“reclusão, de um a quatro anos,
privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40 e multa”).
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(quarenta) anos, devem elas ser unificadas para


atender ao limite máximo deste artigo. (redação A conclusão do STJ é baseada nos princípios da
dada pela Lei 13.964/2019) isonomia e proporcionalidade (proibição de excesso).
Não se pode tratar de forma mais gravosa o infrator
(...) Esta Corte já firmou entendimento no sentido inimputável quando comparado ao imputável. Ora, se
de que o prazo máximo de duração da medida de o imputável somente poderia ficar cumprindo a pena
segurança é o previsto no art. 75 do CP (...) (STF. 1ª até o máximo previsto na lei para aquele tipo penal, é
Turma. HC 107432, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, justo que essa mesma regra seja aplicada àquele que
julgado em 24/05/2011) recebeu medida de segurança.

* o art. 75 do CP previa o prazo máximo de 30 anos de cumprimento de pena. Este dispositivo foi, contudo,
alterado pela Lei nº 13.964/2019, de sorte que o prazo passou a ser de 40 anos:

CÓDIGO PENAL
Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas
privativas de liberdade não pode ser superior a 30 de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta)
(trinta) anos. anos.
§ 1º - Quando o agente for condenado a penas § 1º Quando o agente for condenado a penas privativas
privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 de liberdade cuja soma seja superior a 40 (quarenta)
(trinta) anos, devem elas ser unificadas para anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite
atender ao limite máximo deste artigo. máximo deste artigo.

Semi-imputáveis: adota-se o sistema vicariante ou unitário (ou aplica uma pena reduzida ou uma medida de
segurança, nunca os dois). Contrapõe-se ao sistema do duplo binário.

Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços), se o agente, em virtude de perturbação
de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar--se de acordo com esse entendimento.

A imputabilidade diminuída (ou semi-imputabilidade) constitui-se em causa obrigatória de diminuição da pena.


Demonstrado pericialmente nos autos que o réu é fronteiriço, isto é, limítrofe entre a imputabilidade e a
inimputabilidade, o magistrado, na terceira fase de aplicação da pena, deve obrigatoriamente reduzi-la, de 1
(um) a 2/3 (dois terços).

Cuidado: a sentença endereçada ao semi-imputável responsável pela prática de um fato típico e ilícito sempre
é condenatória. A operação é realizada em três etapas:
1) juiz condena;
2) em seguida, diminui a pena de 1 (um) a 2/3 (dois terços); e
3) finalmente, se o réu necessitar de especial tratamento curativo, o magistrado substitui a pena diminuída por
medida de segurança.

DOLO #OEXAMINADORAMA

▪ Teorias acerca do dolo

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Teoria da vontade Dolo é a vontade dirigida ao resultado (Carrara). Age dolosamente a pessoa
(Adotada pelo CP para o dolo que, tendo consciência do resultado, pratica sua conduta com a intenção
direto) de produzi-lo.
Teoria da representação Haverá dolo quando o sujeito realizar sua ação ou omissão prevendo o
resultado como certo ou provável (ainda que não o deseje) (Von Liszt e
Frank). Por essa teoria, não haveria distinção entre dolo eventual e culpa
consciente
Teoria do consentimento ou Consentir na produção do resultado é o mesmo que desejá-lo. Aquele que,
do assentimento prevendo o resultado, assume o risco de produzi-lo, age dolosamente.
(Adotada pelo CP para o dolo
eventual)

▪ Espécies de dolo:
DOLO DIRETO ou Dá-se quando o sujeito quer produzir o resultado
(imediato, determinado, Subdivide-se em dolo de primeiro e segundo grau:
Intencional, incondicionado) ▪ dolo de primeiro grau é o dolo direto, hipótese em que o agente, com
consciência e vontade, persegue determinado resultado (fim desejado).

▪ dolo de segundo grau, ou de consequências necessárias, o agente não


deseja imediatamente os efeitos colaterais, mas tem por certa a sua
superveniência, caso se concretize o resultado pretendido. A vontade do
agente dirigida a determinado resultado, efetivamente desejado, em que
a utilização dos meios para alcançá-lo inclui, obrigatoriamente, efeitos
colaterais de verificação praticamente certa.4
DOLO INDIRETO OU É aquele em que o agente não tem a vontade dirigida a um resultado
(indeterminado, mediato) determinado.
Subdivide-se em eventual e alternativo:
▪ Dolo alternativo - ocorre quando o agente prevê uma pluralidade de
resultados, dirigindo sua conduta para perfazer qualquer deles com a
mesma intensidade de vontade (ex.: quero ferir ou matar, tanto faz).
Nesse caso, o agente deve responder pelo crime mais grave, pois sua
intenção projetou-se também para esse sentido.5

▪ Dolo eventual - é a modalidade em que o agente não quer o resultado,


por ele previsto, mas assume o risco de produzi-lo. O agente também
prevê pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta para realizar um
determinado evento, mas assumindo o risco de provocar outro (ex: quero
ferir, mas aceito matar). O agente não quer o resultado mais grave,
mas assume o risco de produzi-lo. O dolo eventual só é possível em razão
da consagração da teoria do consentimento.

4
Cita-se o exemplo do assassino que, desejando eliminar a vida de determinada pessoa que se encontra em lugar público,
instala ali uma bomba, a qual, quando detonada, certamente matará outras pessoas ao seu redor. Mesmo que não
queira atingir essas outras vítimas, tem por evidente o resultado se a bomba explodir como planejado.
5
Tem mais: O dolo alternativo será objetivo quando a vontade indeterminada estiver relacionada como resultado, sendo a
vítima certa (atiro contra a vítima para ferir ou matar, tanto faz); será subjetivo, quando a vontade indeterminada
envolver as vítimas, mas com resultado certo (atiro contra um grupo de pessoas para matar qualquer delas).
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O dolo eventual não tem, por si só, reprovabilidade inferior ao dolo direto.
O Código Penal os colocou em idêntica posição jurídica. A pena-base será
fixada levando-se em conta as circunstâncias judiciais previstas no art. 59,
não se incluindo nesse rol a modalidade do dolo.
Dolo geral, por erro sucessivo É o erro no tocante ao meio de execução do crime, relativamente à forma
ou dolus generalis pela qual se produz o resultado inicialmente desejado pelo agente.
Ocorre quando o sujeito, acreditando já ter alcançado o resultado
almejado, pratica uma nova conduta com finalidade diversa, e ao final, se
constata que foi esta última que produziu o que se buscava desde o início.
Esse erro é irrelevante no Direito Penal, de natureza acidental, pois o que
importa é que o agente queria um resultado e o alcançou.
O dolo é geral e envolve todo o desenrolar da ação típica, do início da
execução até a consumação do delito.6

- Prevalece a corrente de que o dolo eventual é compatível como a tentativa. A 6ª turma do STJ já reconheceu
a compatibilidade entre o dolo eventual e a tentativa de homicídio em caso de acidente de trânsito.

Outras espécies:
▪ Dolo abandonado - Verifica-se o dolo abandonado nas situações de desistência voluntária e arrependimento
eficaz, em que o agente, afastando-se de seu propósito inicial, desiste de prosseguir na execução de
determinado delito ou atua para impedir que o resultado se concretize.
▪ Dolo global ou unitário - É o dolo existente na continuidade delitiva, na qual, segundo parcela da doutrina —
que tem sido encampada pelos tribunais superiores —, o agente deve atuar baseado num plano previamente
elaborado que envolva toda a cadeia de crimes. Caso esse elemento subjetivo não esteja presente,
descaracteriza-se a continuidade, que cede lugar à habitualidade delitiva.

CRIME CULPOSO – ELEMENTOS: 1. Conduta humana voluntária; 2. Violação de um dever de cuidado


objetivo (negligência, imprudência ou imperícia); 3. Resultado naturalístico involuntário; 4. Nexo entre conduta
e resultado; 5. Resultado involuntário previsível; e 6. Tipicidade.

São espécies de culpa:


(A) Culpa consciente, com previsão ou ex lascívia: o agente prevê o resultado, mas espera que ele não
ocorra, supondo poder evitá-lo com a sua habilidade (mais que previsibilidade, existe previsão).
(B) Culpa inconsciente, sem previsão ou ex ignorantia: o agente não prevê o resultado, que, entretanto, era
previsível. Neste caso, qualquer outra pessoa, naquelas circunstâncias, poderia prever a ocorrência daquele
resultado.
(C) Culpa própria ou culpa propriamente dita: é aquela em que o agente não quer e não assume o risco de
produzir o resultado, mas acaba lhe dando causa por negligência, imprudência ou imperícia.
(D) Culpa imprópria ou culpa por equiparação, por assimilação, ou por extensão: é aquela em que o agente,
por erro evitável, imagina certa situação de fato que, se presente, excluiria a ilicitude do seu comportamento
(descriminante putativa). Provoca intencionalmente determinado resultado típico, mas responde por culpa
por razões de política criminal. Anuncia o art. 20, g 1°, do CP:

6
Exemplo: A” encontra seu desafeto “B” em uma ponte, oferece-lhe uma bebida, misturada com veneno. “B” ingere o
líquido e em seguida, cai ao solo, e o autor acredita estar ele morto. Com o propósito de ocultar o cadáver, “A” coloca
o corpo de “B” em um saco plástico e o lança ao mar. Encontrado o cadáver, descobre-se por exame necroscópico, que
a morte ocorreu por força de asfixia provocada por afogamento.

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#Quais as diferenças entre a culpa consciente e o dolo eventual? A culpa consciente não pode ser confundida
com o dolo eventual. Com efeito, se na culpa consciente o agente prevê o resultado e o afasta, no dolo eventual
o agente prevê o resultado e assume o risco da sua ocorrência, agindo com evidente descaso com o bem jurídico.
O atirador de elite, que prevê a possibilidade de atingir a vítima do sequestro, mas afasta a ocorrência desse
resultado por conta de sua técnica apurada, gerando o evento indesejado, responde por culpa consciente e
não dolo eventual.

20. Consumação e tentativa. 21. Desistência voluntária e arrependimento eficaz. 22. Crime impossível. 23.
Agravação pelo resultado. 24. Erro de tipo e erro de proibição. 25. Concurso de pessoas.

 TEORIA DO ERRO:

#APOSTACICLOS – Teoria do erro é tema que o #OEXAMINADORAMA


Além do mais, é um daqueles assuntos que a gente precisar estar revisitando sempre, pois vez ou outra causa
confusão. Então, só tem um jeito: é revisar! E você está no lugar certo!

#DICA: Para saber se um erro é essencial ou acidental, recomendo o seguinte raciocínio: se o agente fosse
avisado sobre aquele erro, ele agiria ilicitamente mesmo assim? Se sim, o erro é acidental. Por exemplo, se você
avisar ao agente que ele irá atirar, por erro, no irmão gêmeo do seu desafeto, ele corrigirá o erro e atirará no
alvo correto (agiria ilicitamente da mesma forma). Por outro lado, se não, o erro é essencial. Por exemplo, se
você avisar ao agente que ele, com a chave do seu próprio carro, está, por erro, subtraindo o carro de outrem,
ele corrigirá e irá para o seu carro, não cometendo ilícito.

ERRO DE TIPO ERRO DE PROIBIÇÃO

Inevitável: exclui dolo e culpa Inevitável: isenta o agente de pena


Evitável: exclui dolo, mas pune a culpa, se prevista Evitável: diminui a pena (1/6 a 1/3)
em lei
O agente NÃO SABE o que faz. O agente SABE o que faz, mas pensa que sua
conduta é lícita
Erro sobre os elementos objetivos do tipo Erro quanto à ilicitude da conduta
Má interpretação sobre os FATOS Afasta a POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE.
Não há erro sobre a situação fática, mas não há a
exata compreensão sobre os LIMITES JURÍDICOS
DA LICITUDE da conduta

Exclui CRIME Exclui PENA

▪ O erro de tipo ESSENCIAL SEMPRE EXCLUI O DOLO – recai sobre elementos constitutivos do tipo penal.
Se ESCUSÁVEL: Exclui dolo e culpa.
Se INESCUSÁVEL: Exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo.

▪ Erro de tipo ACIDENTAL – o erro recai sobre elementos subsidiários da figura penal (objeto, pessoa, nexo
causal, resultado, execução), não excluindo o crime.

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Erro sobre a pessoa Erro na execução


Erro na representação da vítima pretendida Representação correta da vítima pretendida
A execução do crime é correta: não há falha A execução do crime é errada: há falha operacional.
operacional.
A pessoa visada não corre perigo, pois foi A pessoa visada corre perigo.
confundida
Em ambos os casos o agente responde pelo crime considerando as qualidades da vítima virtual (teoria da
equivalência).

 Aberratio ictus: erro acidental na execução. Art. 73, CP. Exemplo: Concorrente do sicrano decide matar
seu pai, para isso compra uma arma e espera este passar. Quando o vê, mira seu genitor, porém, por
falta de habilidade no manuseio do referido instrumento, acaba atirando em outra direção, atingindo
outra pessoa que passava na rua. O agente, apesar do erro, atinge o mesmo bem jurídico pretendido.

- Erro na execução com unidade complexa, com resultado duplo: é a situação descrita pelo art. 73, in fine, do
Código Penal, na qual o sujeito, além de atingir a pessoa inicialmente desejada, ofende também pessoa ou
pessoas diversas.

 Aberratio criminis: resultado diverso do pretendido. Art. 74, CP. Exemplo: sicrano joga uma pedra na
vidraça de seu rival, mas acaba atingindo pedestre que passava naquele momento. O agente, em razão
do erro, acaba por atingir bem jurídico diverso. O agente responde por culpa, se o fato é previsto como
crime culposo. Assim, será imputado apenas o crime de lesão corporal culposa.

ABERRATIO ICTUS (ART. 73, CP). ABERRATIO CRIMINIS (ART. 74, CP).
Espécie de erro na execução. Espécie de erro na execução.
O agente, apesar do erro, atinge o mesmo bem O agente em razão do erro atinge bem jurídico
jurídico, mas de pessoa diversa. diverso.

O resultado pretendido (vida) coincide com o O resultado produzido (vida) diverge do pretendido
resultado produzido (vida). (patrimônio).

Relação pessoa x pessoa Relação pessoa x coisa

#ATENÇÃO: se o resultado previsto como crime culposo for menos grave ou se o crime não tiver modalidade
culposa, deve-se desprezar a regra delineada no art. 74 do Código Penal. Exemplificativamente, se “A” efetua
disparos de arma de fogo contra “B” para matá-lo, mas não o acerta e quebra uma vidraça, a sistemática do
resultado diverso do pretendido implicaria a absorção da tentativa branca ou incruenta de homicídio pelo dano
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culposo. Como o dano não admite a modalidade culposa, a conduta seria atípica. E, ainda que o legislador tivesse
incriminado o dano culposo, tal delito não seria capaz de absorver o homicídio tentado. Deve ser imputado ao
agente, pois, o crime de tentativa de homicídio doloso.

 Aberratio causae: erro sobre o nexo causal.

a) Erro sobre nexo causal em sentido estrito: mediante um só ato o agente provoca o resultado pretendido,
porém com nexo diferente. Exemplo: Concorrente do sicrano atira Fulano de um penhasco, para que este morra
afogado, porém, durante a queda Fulano tem a cabeça explodida por uma rocha e morre instantaneamente.
b) Dolo geral, aberratio causae ou erro sucessivo: através da pluralidade de atos, o agente provoca o resultado
pretendido, também com nexo diferente. Exemplo: Concorrente do sicrano atira em Fulano, e supondo que este
já estava morto, resolve jogá-lo em um rio, causando a sua morte por afogamento.

DESCRIMINANTES PUTATIVAS

É um gênero, que se subdivide em duas espécies:

-Erro de tipo permissivo (descriminante putativa fática): o agente erra quanto aos pressupostos fáticos da causa
de exclusão da ilicitude. Isso significa que, assim como no erro de tipo essencial, não há uma correspondência
entre a realidade e o que o agente representa e o tratamento dado é o mesmo: isenção de pena (erro invencível)
ou exclusão do dolo, punindo como crime culposo por culpa imprópria, caso previsto (erro vencível).
Disciplinado pelo art. 20, § 1º, CP.

-Erro de proibição indireto: o agente erra quanto à existência ou limites da causa de exclusão da ilicitude. Assim,
o agente faz a correta representação da realidade, mas tem um equivocado entendimento acerca do direito e
recebe o mesmo tratamento dado ao erro de proibição direto: pode ser tratado como excludente da
culpabilidade (erro invencível) ou causa de diminuição de pena (erro vencível). Disciplinado pelo art. 21, CP.

#NÃOCONFUNDA

ERRO SOBRE OS PRESSUPOSTOS DE FATO DE UMA ERRO SOBRE A EXISTÊNCIA OU LIMITES DE UMA
DESCRIMINANTE DESCRIMINANTE
O agente comete o crime por ter uma falsa O agente tem plena consciência da realidade, mas se
percepção da realidade (supõe estar diante de uma equivoca quanto à existência ou aos limites de uma
agressão ou de um perigo inexistente). excludente de ilicitude e comete um crime.
De acordo com a teoria limitada da culpabilidade O erro relativo à existência ou aos limites de uma
(prevalece), o erro relativo aos pressupostos de fato descriminante é um ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO
de uma descriminante é um ERRO DE TIPO (ou descriminante putativa por erro de proibição).
PERMISSIVO.
Art. 20, § 1º, CP. É isento de pena quem, por erro Art. 21, CP. O desconhecimento da lei é inescusável. O
plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de
situação de fato que, se existisse, tornaria a ação pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um
legítima. Não há isenção de pena quando o erro terço.
deriva de culpa e o fato é punível como crime Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o
culposo. agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude
do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter
ou atingir essa consciência.

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Escusável → isenta de pena (art. 20, §1º, primeira Escusável → exclui a culpabilidade (“isenta de pena”,
parte). embora subsistam o dolo e a culpa).
Inescusável → exclui o dolo, mas permite a punição Inescusável → responde pelo crime doloso, com
por culpa (art. 20, §1º, segunda parte). redução de pena, de 1/6 a 1/3.

#RESUMINDO
Descriminante putativa Teoria limitada Teoria normativa pura
da culpabilidade da culpabilidade
Erro relativo aos pressupostos de Erro de tipo Erro de proibição
fato de uma causa de exclusão da (teoria unitária do erro)
ilicitude
Erro relativo à existência de uma Erro de proibição Erro de proibição
causa de exclusão da ilicitude

Erro relativo aos limites de uma Erro de proibição Erro de proibição


causa de exclusão da ilicitude

• O erro relativo à existência de uma causa de exclusão da ilicitude7 e erro relativo aos limites de uma causa de
exclusão da ilicitude8 é pacífico o entendimento de que se trata de uma modalidade de erro de proibição.
Cuida-se do denominado ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO.

• Para o erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa de exclusão da ilicitude9 a natureza jurídica da
descriminante putativa depende da teoria da culpabilidade adotada.
- Para a teoria normativa pura, em sua vertente limitada, constitui-se em erro de tipo permissivo. Surgem então
as descriminantes putativas por erro de tipo.
- De outro lado, para a teoria normativa pura, em sua variante extremada, extrema ou estrita, trata-se também
de hipótese de erro de proibição. Logo, constitui descriminante putativa por erro de proibição, com todos os
seus efeitos.

#FICADEOLHO
▪ Erro de subsunção: Sem previsão legal, o erro de subsunção ocorre quando o agente decifra
equivocadamente o sentido jurídico do seu comportamento. Não se confunde com erro de tipo, pois não há
falsa percepção da realidade. Também não se confunde com erro de proibição, vez que o agente sabe da
ilicitude do seu comportamento.

7
Imagine-se o sujeito que, depois de encontrar sua mulher com o amante, em flagrante adultério, mata a ambos, por crer
que assim possa agir acobertado pela legítima defesa da honra. Nessa situação, o agente errou quanto à existência
desta descriminante, não acolhida pelo ordenamento jurídico em vigor;

8
Temos como exemplo o fazendeiro que reputa adequado matar todo e qualquer posseiro que invada a sua propriedade.
Cuida-se da figura do excesso, pois a defesa da propriedade não permite esse tipo de reação desproporcional.

9
É o caso daquele que, ao encontrar seu desafeto, e notando que tal pessoa coloca a mão no bolso, saca seu revólver e o
mata. Descobre, depois, que a vítima fora acometida por cegueira, por ele desconhecida, e não poderia sequer ter
visto o seu agressor. Ausente, portanto, um dos requisitos da legítima defesa, qual seja a “agressão injusta”;

36
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São exemplos de erro de subsunção: (A) o agente "A" pratica a falsificação de um cheque. Ao ser interrogado,
alega que ignorava que o cheque é documento equiparado a documento público; (B) o jurado solicita vantagem
indevida ignorando a sua condição de funcionário público.
Esta espécie de erro, como alertado, não exclui dolo, tampouco a culpa do agente. Também não o isenta de
pena. Embora não haja isenção da pena, conforme a situação pode incidir a atenuante genérica do artigo
do Código Penal. Assim, nos exemplos anteriormente reproduzidos, o agente "A" responderá por falsificação de
documento público (art. 297, CP) e o jurado responderá pelo crime de corrupção passiva (art. 317, CP), com
atenuante de pena.

▪ Erro de validade: consiste em modalidade rara de erro de proibição, em que uma pessoa sabe da existência
da norma de conduta violada, mas acredita que ela se funda em lei nula ou inconstitucional. Suponha-se que
um indivíduo, informado por meio de noticiário que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a não recepção dos
dispositivos legais definidores dos crimes contra a honra na Lei de Imprensa(como de fato ocorreu), acredite ser
lícito o ataque ao bom nome alheio por meio de um jornal, desconhecendo que a conduta ainda é punida
criminalmente, mas com base no Código Penal (arts. 138 a 140); em razão dessa má compreensão do
julgamento, ofende moralmente alguém, em artigo escrito num determinado periódico. Pode-se cogitar
de erro de validade nesse caso. Advirta-se, todavia, que “deve-se ser cuidadoso no momento de se admitir
tal erro in concreto. Pois a situação jurídica raramente se encontrará tão clara a ponto de alguém estar
suficientemente seguro da nulidade (ou inconstitucionalidade) de uma lei”.

 ITER CRIMINIS:

FASES DO CRIME:

1) Fase interna: Cogitação – o agente apenas imagina. A simples cogitação não é punida, pois não há ofensa ao
bem jurídico (DIREITO À PERVERSÃO #SELIGANOSINÔNIMO). Punir a cogitação significaria vulneração ao
princípio da lesividade e ao princípio da alteridade.

2) Fase externa:
 Preparação: o agente pratica atos imprescindíveis à execução do crime, mas ainda não se iniciou a
agressão ao bem jurídico. Também são impuníveis. Exceção: Legislador tipifica atos preparatórios
como crimes autônomos. Ex: Petrechos para falsificação de moeda.
 Execução: o bem jurídico começa a ser atacado: nessa fase o agente inicia a realização do núcleo do
tipo. O fato somente passa a ser punido com o início da execução. Isto porque, se iniciada a execução,
pode ocorrer: consumação (art. 14, I); uma tentativa de crime, caso não haja consumação por
circunstâncias alheias à vontade do agente (art. 14, II); a desistência voluntária ou o arrependimento
eficaz, caso não ocorra a consumação por ato voluntário do agente (art. 15).
 Consumação: todos os elementos que se encontram descritos no tipo penal foram realizados.

TENTATIVA: #APOSTACICLOS
• Norma de extensão temporal (amplia a proibição para alcançar fatos humanos realizados de forma
incompleta);
• Causa obrigatória de diminuição da pena - 1/3 A 2/3 (incide na terceira fase de aplicação da pena privativa de
liberdade, e sempre a reduz).
• Prevalece no Brasil o entendimento favorável ao cabimento da tentativa nos crimes cometidos com dolo
eventual;
• Em geral, os crimes dolosos são compatíveis com a tentativa, pouco importando sejam materiais, formais ou
de mera conduta.

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• A admissibilidade ou não da tentativa tem a ver com o caráter plurissubsistente do delito, isto é, com a
composição da conduta em diversos atos executórios, podendo, consequentemente, ser fracionada.
• Crimes formais e de mera conduta comportam o conatus, desde que sejam plurissubsistentes.

TEORIAS DA TENTATIVA:
 Subjetiva, voluntarista ou monista: não diferencia o crime tentado do consumado, já que leva em conta
a intenção do agente. Adotada como exceção nos crimes de atentado ou de empreendimento.
 Sintomática: Concentra-se na análise da periculosidade. Não se aplica (direito penal do autor).
 Objetiva, realística ou dualista: diferencia a tentativa do crime consumado. Em regra, é a adotada no
Brasil. Na teoria objetiva, a tentativa possui pena reduzida!
 Subjetivo-objetiva (TEORIA DA IMPRESSÃO): o fundamento da punição e representado pela junção da
avaliação da vontade criminosa com um princípio de risco ao bem jurídico protegido

#SELIGANOSTERMOS: Crime falho: é a tentativa perfeita (cai em prova!). Tentativa inidônea: é o crime
impossível. Tentativa fracassada: quando o agente desiste de prosseguir na execução, não porque
voluntariamente quer que a consumação não ocorra, mas por supor que não conseguirá a consumação com os
meios que tem a sua disposição. Tentativa abandonada ou qualificada: consiste na desistência voluntaria e
arrependimento eficaz.

#VAICAIR: não cabe tentativa nos crimes (CHOUP REI): Culposos, Habituais, Omissivos próprios (lembrando que
nos impróprios cabe), Unissubsistentes, Preterdolosos, de Resultado condicionado, Empreendimento (aqui o
legislador pune com a mesma pena consumado e tentado), Impossível. Nas contravenções, apesar de
faticamente ser possível tentativa, ela não é punida. OBS: NA CULPA IMPRÓPRIA ADMITE-SE TENTATIVA (CAI
MUITO).

INFRAÇÕES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA (#MACETE: CHOUP CULPOSO)


CONTRAVENÇÃO  Não se admite a tentativa por expressa previsão legal (art. 4º, LCP). Não é
PENAL que faticamente não exista, mas que juridicamente não interessa.
 O crime habitual não admite a tentativa porque, ou existe a reiteração de
CRIME HABITUAL
atos e o delito está consumado, ou há um só ato e o fato é atípico.
 A tentativa é incompatível com o crime omissivo próprio porque basta a
CRIMES OMISSIVOS
omissão para a configuração do crime, não havendo espaço para a tentativa.
PRÓPRIOS
O tipo penal não exige resultado naturalístico.
 Nos crimes unisubsistentes, a execução não admite fracionamento.
CRIME Exemplos: I) delito omissivo puro; e II) delito de mera conduta (cuidado, pois
UNISSUBSISTENTE a violação de domicílio, na modalidade “entrar”, é um crime de mera
conduta que admite a tentativa, por sua execução poder ser fracionada).
 Não há dolo de consumação em relação ao subsequente culposo, mas o dolo
existe no antecedente (que é doloso). Ex. lesão corporal seguida de morte. O
CRIME PRETERDOLOSO
dolo de consumação era para a lesão corporal, pois a morte não foi
visualizada como certa.
 O crime se consuma porque o agente não observou o dever objetivo de
cuidado e não porque havia dolo de consumação.
CRIME CULPOSO
#EXCEÇÃO: culpa imprópria (o agente quer um resultado certo, ainda que sob
descriminante putativa).

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, ARREPENDIMENTO EFICAZ E ARREPENDIMENTO POSTERIOR

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• A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são incompatíveis com os crimes culposos, salvo na culpa
imprópria.
• São causas de exclusão da tipicidade.
• Prevalece o entendimento de que a desistência voluntária e o arrependimento eficaz são comunicáveis ao
partícipe, pois a sua conduta é acessória, não podendo ser punido se não houve crime.
• O art. 15 do Código Penal revela ser o arrependimento eficaz possível somente no tocante aos crimes
materiais, pela análise da expressão “impede que o resultado se produza”.

• Já o arrependimento posterior configura-se como causa de diminuição de pena e ocorre nos crimes
cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, em que o agente, voluntariamente, repara o dano ou restitui
até o RECEBIMENTO da denúncia ou queixa.
• Comunica-se aos partícipes
#ATENÇÃO: Em caso de violência culposa, é cabível o arrependimento posterior.

#FOCANATABELINHA
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA
ARREPENDIMENTO POSTERIOR
E ARREPENDIMENTO EFICAZ
- ART. 16, CP -
- ART. 15, CP -
PONTE DE OURO PONTE DE PRATA
O agente retoma a situação de licitude e desiste
Aqui o agente não retoma a situação de licitude, não
de dar continuidade ao que se propôs, por
sendo beneficiado pela excludente da tipicidade,
circunstâncias inerentes à sua vontade (diferente
mas terá sua pena reduzida.
da tentativa).
NÃO HOUVE CONSUMAÇÃO HOUVE CONSUMAÇÃO
Desistência voluntária: O agente desiste, mas ainda REQUISITOS:
tem meios executórios disponíveis 1- Crime sem violência ou grave ameaça à pessoa10;
Arrependimento eficaz: o agente desiste após 2- Reparação do dano ou restituição da coisa11;
esgotar todos os meios executórios disponíveis 3- Até o recebimento da denúncia ou queixa12.
CAUSA EXCLUDENTE DA TIPICIDADE (prevalece) CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA13

#APROFUNDAPROF: doutrinadores mais modernos estão chamando de PONTE DE DIAMANTE os benefícios


concedidos em sede de colaboração premiada, que inclui a possibilidade de perdão judicial.

#NÃOCONFUNDA: Arrependimento Posterior:


Também chamado ponte de prata. Prevalece tratar-se de uma circunstância objetiva comunicável. Quanto mais
rápida for a reparação do dano (sempre antes do recebimento da denúncia), maior será a redução da pena. OBS:
Se depois do recebimento e antes do julgamento, configura atenuante.

10 A violência contra a coisa ou a violência culposa não excluem o benefício.

11 Essa atitude deve ser voluntária (sem coação física ou moral e não precisa ser espontânea), pessoal (salvo em comprovada
impossibilidade. Ex. agente preso) e integral (STF já tem julgado entendendo pela possibilidade de reparação parcial do dano quando
analisadas outras circunstâncias fáticas). Ademais, independe da vontade da vítima (em aceitar ou não).

12 Se ocorrer após esse momento, mas antes do julgamento, aplica-se a atenuante genérica do CP, art. 65, III, "b", in fine, CP.

13 Tem aplicação na 3ª fase de aplicação da pena privativa de liberdade.

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#OLHAOGANCHO - No peculato culposo (art. 312, § 3.°), a reparação do dano, se anterior à sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade, e, se lhe for posterior, reduz de metade a pena imposta.

TEORIAS SOBRE O CRIME IMPOSSÍVEL:

 Subjetiva: analisa a intenção para restar configurada a tentativa. Equipara o crime impossível ao crime
tentado.
 Sintomática: a tentativa é aferida com base na periculosidade do agente. Seria direito penal do autor.
 Objetiva: é necessário que o bem jurídico tenha sido posto em risco. A teoria objetiva subdivide-se em:
a) Teoria objetiva pura: a ausência, absoluta ou relativa, de risco ao bem jurídico impede a punição; b)
Teoria objetiva temperada ou intermediária: a inidoneidade relativa configura crime tentado, enquanto
a absoluta configura o crime impossível. É a teoria adotada no Brasil.

#OLHAATABELINHA:
CRIME IMPOSSÍVEL CRIME PUTATIVO
 O agente, embora acredite estar realizando um
fato típico, pratica um indiferente penal (crime
 O erro do agente recai sobre a idoneidade do
putativo por erro de proibição, crime putativo
meio ou do objeto material.
por erro de tipo e crime putativo por obra do
agente provocador).

 CONCURSO DE PESSOAS:

Pluralidade de agentes culpáveis

Relevância causal das condutas

Requisitos do
concurso de Liame subjetivo (consciência de que estão
pessoas reunidos – é diferente de acordo prévio);

Identidade de infração para todos os agentes

Existência de fato punível

• #ATENÇÃO: Faltando o liame subjetivo, desaparece o concurso de pessoas, podendo configurar AUTORIA
COLATERAL ou INCERTA.

CONCURSO DE AGENTES AUTORIA COLATERAL OU INCERTA


Pluralidade de agentes e de conduta Pluralidade de agentes e de conduta
Relevância causal das condutas Relevância causal das condutas
Liame subjetivo entre os agentes NÃO há liame subjetivo entre os agentes

• Estabelece o art. 29, caput, do Código Penal:


“Quem, de qualquer modo, concorre para o crime, incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade”
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Para a caracterização do concurso de pessoas, adotou-se, como regra, a teoria unitária, monística ou monista:
quem concorre para um crime, por ele responde. Todos os coautores e partícipes se sujeitam a um único tipo
penal: há um único crime com diversos agentes.

• Excepcionalmente, contudo, o Código Penal abre espaço para a teoria pluralista, pluralística, da cumplicidade
do crime distinto ou autonomia da cumplicidade, pela qual se separam as condutas, com a criação de tipos
penais diversos para os agentes que buscam um mesmo resultado. É o que se dá, por exemplo, nos seguintes
crimes:
a) aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante: ao terceiro executor imputa-se o crime
tipificado no art. 126, enquanto para a gestante incide o crime previsto no art. 124, in fine;
b) bigamia: quem já é casado pratica a conduta narrada no art. 235, caput, ao passo que aquele que, não sendo
casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, incide na figura típica prevista
no § 1,° do citado dispositivo legal;
c) corrupção passiva e ativa: o funcionário público pratica corrupção passiva (art. 317), e o particular, corrupção
ativa (art. 333); e
d) falso testemunho ou falsa perícia: testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete que faz afirmação
falsa, nega ou cala a verdade em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitrai
pratica o crime delineado pelo art. 342, caput, e quem dá, oferece ou promete dinheiro ou qualquer outra
vantagem a tais pessoas, almejando aquela finalidade, incide no art. 343, caput.

• Para o conceito de autor, o Código Penal adotou a teoria restritiva sob o prisma objetivo-formal: Autor é
aquele que realiza o núcleo do tipo; Partícipe é quem de qualquer modo concorre para o crime.

#DEOLHONATABELA:
TEORIAS SOBRE AUTORIA
Teoria
Não distingue autor e partícipe, mas permite o estabelecimento de graus diversos de autoria.
extensiva
Teoria Autor é quem contribui de forma mais efetiva para a concorrência do resultado.
objetivo- Partícipe é quem concorre de forma menos relevante.
material Para a teoria, não importa quem realizou o núcleo do tipo penal.
Teoria Autor é quem realiza o núcleo do tipo penal.
objetivo- Partícipe é quem concorre para o crime sem realizar o núcleo do tipo penal.
formal Embora seja controverso, é a teoria adotada pela maioria da doutrina.
Autor é quem controla finalisticamente o fato, ou seja, quem decide a sua forma de
execução, seu início, cessação e demais condições.
A teoria do domínio do fato amplia o conceito de autor, definindo-o como aquele que tem o
controle final do fato, ainda que não realize o núcleo do tipo penal. Por corolário, o conceito
de autor compreende:
a) o autor propriamente dito: é aquele que pratica o núcleo do tipo penal;
Teoria do b) o autor intelectual: é aquele que planeja mentalmente a empreitada criminosa. É autor, e
domínio do não partícipe, pois tem poderes para controlar a prática do fato punível. Exemplo: o líder de
fato uma organização criminosa pode, do interior de um presídio, determinar a prática de um
crime por seus seguidores. Se, e quando quiser, pode interromper a execução do delito, e
retomá-la quando melhor lhe aprouver;
c) o autor mediato: é aquele que se vale de um inculpável ou de pessoa que atua sem dolo
ou culpa para cometer a conduta criminosa; e
d) os coautores: a coautoria ocorre nas hipóteses em que o núcleo do tipo penal é realizado
por dois ou mais agentes. Coautor, portanto, é aquele que age em colaboração recíproca e

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voluntária com o outro (ou os outros) para a realização da conduta principal (o verbo do tipo
penal).

Por essa corrente, criada por Hans Welzel, o mandante e o mentor intelectual, por
controlarem os comparsas, são também autores do crime, ainda que não realizem
pessoalmente atos executórios.

Partícipe - Essa teoria também admite a figura do partícipe. Partícipe será aquele que,
embora colabore dolosamente para o alcance do resultado, não exerce domínio sobre a ação.
A teoria do domínio do fato só se aplica aos crimes dolosos e comissivos.
#SELIGA: Essa teoria serve para diferenciar autor e partícipe, não para imputar
responsabilidade penal.

#DEOLHONAJURIS - A teoria do domínio do fato não permite, isoladamente, que se faça uma acusação pela
prática de qualquer crime, eis que a imputação deve ser acompanhada da devida descrição, no plano fático, do
nexo de causalidade entre a conduta e o resultado delituoso. A teoria do domínio do fato funciona como uma
ratio, a qual é insuficiente, por si só, para aferir a existência do nexo de causalidade entre o crime e o agente. É
equivocado afirmar que um indivíduo é autor porque detém o domínio do fato se, no plano intermediário ligado
à realidade, não há nenhuma circunstância que estabeleça o nexo entre sua conduta e o resultado lesivo. Não
há como considerar, com base na teoria do domínio do fato, que a posição de gestor, diretor ou sócio
administrador de uma empresa implica a presunção de que houve a participação no delito, se não houver, no
plano fático-probatório, alguma circunstância que o vincule à prática delitiva. Em decorrência disso, também
não é correto, no âmbito da imputação da responsabilidade penal, partir da premissa ligada à forma societária,
ao número de sócios ou ao porte apresentado pela empresa para se presumir a autoria, sobretudo porque nem
sempre as decisões tomadas por gestor de uma sociedade empresária ou pelo empresário individual, - seja ela
qual for e de que forma esteja constituída - implicam o absoluto conhecimento e aquiescência com os trâmites
burocráticos subjacentes, os quais, não raro, são delegados a terceiros. STJ. 6ª Turma. REsp 1854893-SP, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 08/09/2020 (Info 681).

Teoria adotada pelo código penal - O art. 29, caput, do Código Penal, acolheu a teoria restritiva, no prisma
objetivo-formal. Em verdade, diferencia autor e partícipe. Aquele é quem realiza o núcleo do tipo penal; este é
quem de qualquer modo concorre para o crime, sem executar a conduta criminosa. A teoria deve, todavia, ser
complementada pela teoria da autoria mediata.

A teoria do domínio do fato, possui relevância e, por consequência, aplicação concreta, para que possa
ser tratado como “autor” de um crime o denominado “autor mediato”, que, apesar de não realizar a conduta
típica, pode ser assim denominado porque manipula terceiro, que não possui capacidade de discernimento,
para que este realize a conduta típica, de modo que essa pessoa serve como instrumento para a efetivação
do delito.

- Em conclusão, a teoria adotada quanto ao concurso de agentes é a restritiva, que diferencia autores e
partícipes, sendo autores aqueles que realizam a conduta descrita no tipo penal. No que diz respeito à
autoria mediata, contudo, aplica-se a teoria do domínio do fato.

Autoria mediata: o autor indireto ou mediato é aquele que, sem realizar diretamente a conduta típica, comete
o crime por ato de interposta pessoa, utilizada como seu instrumento. Hipóteses:
 O terceiro não tem culpabilidade (inimputabilidade, coação moral irresistível ou obediência
hierárquica);

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 O terceiro não tem dolo ou culpa (coação física irresistível, estados de inconsciência);
 Erro determinado por terceiro.

#ATENÇÃO No caso de autoria mediata, não há concursos de agentes, porque não há vínculo subjetivo. Apenas
o autor mediato será responsabilizado. Segundo doutrina majoritária, NÃO existe autoria mediata nos crimes
culposos.

Coautoria – há mais de um autor praticando o núcleo do tipo penal.


#SELIGA: Crimes de mão própria NÃO admitem coautoria (exceção: falsa perícia – art. 342, CP).

Autoria colateral – Duas ou mais pessoas, desconhecendo a intenção uma da outra, praticam determinada
conduta visando ao mesmo resultado. NÃO HÁ concurso de pessoas, já que ausente o vínculo subjetivo.

Autoria incerta – Quando, na autoria colateral, não se sabe qual dos dois autores causou o resultado. Aplica-se
o in dubio pro reo (incidirá na pena por tentativa).

Autoria ignorada – Se dá quando não é possível saber quem praticou a conduta.

Partícipe: consiste na contribuição para a conduta criminosa do autor, mas sem praticar o verbo do tipo penal.
O partícipe não tem o domínio do fato, mas induz, instiga ou auxilia o autor.

Prevalece a aplicação da Teoria da acessoriedade limitada, segundo a qual a participação é punida quando o
autor realiza uma conduta típica e ilícita.
#SELIGA: É hipótese de adequação típica mediata.

Em regra, a participação ocorre antes da consumação do crime. Contudo, em alguns casos é possível que o
agente induza/instigue o autor após a consumação.

-Participação negativa (conivência) – NÃO há punição. Se dá quando a pessoa não tem dever jurídico de agir
para evitar o resultado (mesmo que possa, não está obrigada a agir).

#OBS: Em caso de arrependimento do partícipe que induz/instiga (auxilio moral), só não haverá punição se ele
conseguir impedir o autor de praticar o crime.

#ATENÇÃO: é POSSÍVEL a participação em crimes omissivos (o partícipe instiga ou induz o autor a deixar de agir).

Cooperação dolosamente distinta (art. 29, §2º) – um dos agentes quis participar de crime menos grave, mas
acabou concorrendo para um crime mais grave. No caso de não ser previsível o resultado mais grave, o
concorrente que não quis participar responde apenas pelo crime menos grave. Se era previsível, responde pelo
crime menos grave, mas com a pena elevada até a metade.

Comunicabilidade de elementares e circunstâncias (art. 30, CP)– elementares (são elementos constitutivos do
crime) são sempre comunicáveis; circunstâncias (são dados acessórios ao crime) objetivas são sempre
comunicáveis, mas as subjetivas são incomunicáveis (salvo se elementares do crime ou de conhecimento do
outro agente).

 CONCURSO DE CRIMES:

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Dá-se o concurso de crimes quando o agente com uma ou várias condutas, realiza pluralidade de crimes.

CONCURSO MATERIAL (ART. 69, CP)


a) Pluralidade de condutas;
Requisitos:
b) Pluralidade de crimes.
a) Homogêneo: pluralidade de crimes da mesma espécie. Exemplo: vários furtos
Espécies: praticados sem elo de continuidade.
b) Heterogêneo: crimes de espécies distintas. Exemplo: agente pratica estupro + roubo.
Regras de
Sistema do cúmulo material. O juiz primeiro individualiza as penas de cada um dos crimes
fixação da
(critério trifásico – art. 68 CP), somando todas ao final.
pena:
1º) No caso de duas penas, sendo uma de reclusão e outra de detenção, executa-se
primeiro a reclusão; após, a de detenção.
2º) Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de
liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição
Observações: de que trata o art. 44 deste Código. Ou seja, se à pena do crime “X" não puder ser aplicado
o benefício do “sursis”, a pena do crime “Y” não poderá ser substituída por restritiva de
direitos.
3º) Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá
simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.

CONCURSO FORMAL (ART. 70, CP)


a) Unidade de conduta;
Requisitos:
b) Pluralidade de crimes.
a) Concurso formal homogêneo: os crimes decorrentes da conduta única são da mesma
espécie.
b) Concurso formal heterogêneo: os crimes são de espécies distintas.
c) Concurso formal próprio / perfeito / normal: o agente, apesar de provocar dois ou mais
Espécies:
resultados, não tem intenção independente em relação a cada crime (não há desígnios
autônomos).
d) Concurso formal impróprio / imperfeito / anormal: o agente age com desígnios
autônomos em relação a cada crime.
a) No concurso formal próprio: o juiz aplica a pena mais grave dentre as cominadas para
os vários crimes cometidos pelo agente (ou a mesma pena, se os crimes forem idênticos).
Em seguida, majora essa pena de um “quantum” anunciado em lei (SISTEMA DA
Regras de
EXASPERAÇÃO).
fixação da pena:
b) no concurso formal impróprio: o agente atua com desígnios autônomos. Aplica-se o
SISTEMA DO CÚMULO MATERIAL: o juiz individualiza e soma as penas dos vários crimes
praticados pelo agente.
1º) Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código
(concurso material).
2º) Segundo o STJ, praticado o crime de roubo mediante uma só ação contra vítimas
Observações:
distintas, no mesmo contexto fático, resta configurado o concurso formal próprio, e não
a hipótese de crime único, visto que violados patrimônios distintos. (5ª Turma. HC
455.975/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 02/08/2018).

CRIME CONTINUADO (ART. 71, CP)


CRIME CONTINUADO GENÉRICO / COMUM CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO
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(art. 71, “caput”, CP) (art. 71, p. único CP)


Requisitos:
a) Pluralidade de condutas;
b) Pluralidade de crimes da mesma espécie: crimes
previstos no mesmo tipo, protegendo igual bem
Requisitos:
jurídico.
a) Pluralidade de condutas;
c) Elo de continuidade:
b) Pluralidade de crimes da mesma espécie;
• Mesmas condições de TEMPO: em regra, a
c) Elo de continuidade;
jurisprudência entende que não pode decorrer prazo
d) Crimes dolosos;
superior a 30 dias.
e) Contra vítimas diferentes;
• Mesmas condições de LUGAR: os crimes parcelares
f) Cometidos com violência ou grave ameaça.
devem ser praticados na mesma comarca ou em
comarcas vizinhas.
• Mesma maneira de EXECUÇÃO: mesmo “modus
operandi”.
• Outras CIRCUNSTÂNCIAS SEMELHANTES.
Regras de fixação da pena:
Aplica-se o SISTEMA DA EXASPERAÇÃO (aumento
Regras de fixação da pena:
de 1/6 a 3x).
Aplica-se o SISTEMA DA EXASPERAÇÃO (aumento de
#CUIDADO: O legislador determina a observância
1/6 a 2/3). Quanto mais crimes, mais o aumento se
do cúmulo material benéfico, ou seja, o sistema da
aproxima de 2/3, e vice-versa.
exasperação não pode ser mais rigoroso que o
cúmulo material.
Observações:
1º) Não há continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, ainda que praticados em conjunto. Isso
porque, os referidos crimes, apesar de serem da mesma natureza, são de espécies diversas (STJ. 5ª Turma.
HC 435.792/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/05/2018).
2º) De acordo com a Teoria Mista, adotada pelo Código Penal, mostra-se imprescindível, para a aplicação da
regra do crime continuado, o preenchimento de requisitos não apenas de ordem objetiva — mesmas
condições de tempo, lugar e forma de execução — como também de ordem subjetiva — unidade de
desígnios ou vínculo subjetivo entre os eventos (STJ. 6ª Turma. HC 245156/ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 15/10/2015).
3º) Súmula 723 STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da
pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.
4º) Súmula 711-STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Crime continuado do caput do art. 71 do CP: o critério para se determinar o quantum da majoração (entre 1/6
a 2/3) é apenas a quantidade de delitos cometidos. Assim, quanto mais infrações, maior deve ser o aumento. •
Crime continuado específico (art. 71, parágrafo único, do CP): a fração de aumento será determinada pela
quantidade de crimes praticados e também pela análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal.
STJ. 5ª Turma. REsp 1718212/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/04/2018.

26. Penas e medidas de segurança. 27. Aplicação da pena e regimes de cumprimento. 28.Limitedas penas.
29. Concurso de crimes. 30. Aberratio ictus. 31.Suspensão condicional da pena. 32. Livramento condicional.
33. Efeitos da Condenação. 34.Reabilitação. 35. Teoria da ação penal. 36. Extinção da punibilidade.

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Sanção penal – gênero do qual são espécies a pena e a medida de segurança.

PENA é espécie de sanção penal, consistente na privação de determinados bem jurídicos, cujo pressuposto é a
culpabilidade do agente.

A MEDIDA DE SEGURANÇA também é espécie de sanção penal, mas possui como pressuposto a periculosidade
(aplica-se aos inimputáveis e aos semi-imputáveis).

#OBS: Antes da reforma do Código Penal, feita pela Lei nº 7.209/84, o sistema adotado era o do duplo binário,
pelo qual o semi-imputável cumpria a pena, e, depois, se ainda necessitasse de especial tratamento curativo,
era submetido à medida de segurança. Isso mudou!!! Atualmente, o semi-imputável cumpre pena diminuída OU
medida de segurança. Logo, percebe-se que o CP adotou o SISTEMA VICARIANTE (ou unitário), pelo qual o réu
somente cumpre uma das sanções penais, as quais, repita-se, não são cumuláveis. Assim, ao semi-imputável,
uma vez condenado, se aplica a redução da pena de 1/3 a 2/3 (causa obrigatória de diminuição de pena),
podendo o juiz converter a pena em medida de segurança se entender que essa conversão é benéfica ao réu
(art. 98 do CP).

Regimes de cumprimento da PPL:


O art. 33, § l.°, do Código Penal elenca três regimes
a) fechado: a pena privativa de liberdade é executada em estabelecimento de segurança máxima ou média;1
b) semiaberto: a pena privativa de liberdade é executada em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento
similar; e
c) aberto: a pena privativa de liberdade é executada em casa de albergado ou estabelecimento adequado.

▪ Crimes apenados com RECLUSÃO


O art. 33, caput, do Código Penal estabelece que nos crimes apenados com reclusão, o regime inicial
poderá ser o aberto, o semiaberto ou o fechado, dependendo das variáveis mencionadas no item anterior
(art. 33, § 2º).

Crimes apenados com reclusão


Pena acima Pena superior a 4 e não Pena igual ou inferior a 4
de 8 anos superior a 8 anos anos
REINCIDENTE Fechado Fechado Fechado ou
semiaberto (se favoráveis
as circunstâncias)
PRIMÁRIO Fechado Semiaberto Aberto

Observações importantes:
• Mesmo sendo o réu primário, o juiz pode fixar regime inicial mais gravoso do que indica o montante
da pena, se as circunstâncias judiciais do art. 59 forem desfavoráveis (art. 33, § 3º, do CP), porém: a) a
opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a
imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada (Súmula n. 718 do STF);

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b) a imposição de regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação
idônea (Súmula n. 719 do STF).

• Súmula 269-STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena
igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.

• Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais
gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.
STF: Se todas as circunstâncias judiciais são favoráveis, de forma que a pena-base foi fixada no mínimo legal,
então, neste caso, não cabe a imposição de regime inicial mais gravoso. STF. 2ª Turma. RHC 131133/SP, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 10/10/2017 (Info 881).

• Em se tratando de condenação por crime hediondo, tráfico de drogas, terrorismo ou tortura, o art. 2º, § 1º,
da Lei n. 8.072/90 diz que o regime inicial é sempre o fechado, ainda que a pena seja inferior a 8 anos e o réu
primário (art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90); todavia, o Plenário do STF, ao julgar o HC 111.840/ES, declarou a
inconstitucionalidade de tal dispositivo.

#OLHAOGANHO #DEOLHONAJURIS - A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto.
No entanto, com base no caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição com base nesse princípio é penal
ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas utiliza a circunstância de o bem
furtado ser insignificante para fins de fixar o regime inicial aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas
utiliza a insignificância para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base no
princípio da proporcionalidade.
STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
23/4/2019 (Info 938).

▪ Crimes apenados com DETENÇÃO


O art. 33, caput, do Código Penal dispõe que, nos crimes apenados com detenção, o regime inicial só pode ser
o aberto ou o semiaberto, de acordo com as regras do art. 33, § 2º.

Crimes apenados com detenção


Pena acima Pena superior a 4 e não Pena igual ou inferior a 4
de 8 anos superior a 8 anos anos
REINCIDENTE Semiaberto Semiaberto Semiaberto
PRIMÁRIO Semiaberto Semiaberto Aberto

Observações importantes:
• O condenado reincidente inicia o cumprimento da pena privativa de liberdade no regime semiaberto, seja qual
for a quantidade da pena aplicada;
• Não se admite o início de cumprimento da pena privativa de liberdade no regime fechado, ao condenado por
crime apenado com detenção. Somente por meio de regressão de regime, durante a execução da pena, é
que pode ser imposto regime fechado ao condenado por crime apenado com detenção.

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#SUPERGANCHO – Interceptação telefônica: A regra veiculada pelo art. 2.°, Ill, da Lei 9.296/1996, autoriza a
interceptação de comunicações telefônicas de qualquer natureza como meio de prova somente nos crimes
punidos com reclusão.
#DEOLHONAJURIS - Descobertos novos crimes durante a interceptação, a autoridade deve apurá-los, ainda
que sejam punidos com detenção. O que a Lei nº 9.296/96 veda é o deferimento da quebra do sigilo telefônico
para apurar delito que não seja apenado com reclusão, não proibindo, todavia, que o referido meio de prova
seja utilizado quando há, durante a implementação da medida, a descoberta fortuita de eventuais ilícitos que
não atendem a tal requisito. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 114973/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
19/05/2020.
- Pena de prisão simples
- A pena de prisão simples, cabível unicamente para as contravenções penais, deve ser cumprida, sem rigor
penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semiaberto ou
aberto;
- Não há regime fechado, seja inicialmente, seja em decorrência de regressão.
- Além disso, o trabalho é facultativo, se a pena aplicada não excede a 15 (quinze) dias, nos termos do art. 6.°, §
2.°, do Decreto-lei 3.688/1941 - Lei das Contravenções Penais.
 APLICAÇÃO DA PENA:
• O art. 68, caput, do Código Penal filiou-se ao critério trifásico. De fato, “a pena-base será fixada
atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes
e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento”.
• Entretanto, para a pena de multa adotou-se o sistema bifásico (CP, art. 49, caput e § l.°). Fixa-se
inicialmente o número de dias-multa e, após, calcula-se o valor de cada dia-multa.
• Pena privativa de liberdade: Critério trifásico;
• Pena de multa: Critério bifásico
Cálculo da pena
Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão
consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento.

1ª fase Circunstâncias judiciais O juiz não pode elevar a


(fixação da pena-base) pena acima do máximo-
previsto no tipo penal,
DOSIMETRIA nem diminuí-la abaixo do
DA PENA 2ª fase Atenuantes e agravantes mínimo legal.
(critério trifásico)
O juiz pode elevar ou
3ª fase Causas de diminuição e diminuir a pena além dos
de aumento da pena limites previstos no tipo
penal

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Determinação do regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade.

Análise sobre a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ou multa

Não sendo cabível a substituição, a análise sobre a concessão ou não da suspensão condicional da pena
(sursis), se presentes os requisitos legais.

NÃO configuram maus-antecedentes:


• Inquéritos policiais e ações penais em curso
Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.

Esse é também o entendimento do STF: A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em
julgado não podem ser considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena. STF. Plenário.
RE 591054/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2014 (repercussão geral) (Info 772).

• Atos infracionais
Atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base, tampouco
podem ser utilizados para caracterizar personalidade voltada para a prática de crimes ou má conduta social. Há
impropriedade na majoração da pena-base pela consideração negativa da personalidade do agente em razão da
prévia prática de atos infracionais, pois é incompossível exacerbar a reprimenda criminal com base em
passagens pela Vara da Infância. STJ. 5ª Turma. HC 499987/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 30/05/2019.

#COLANARETINA #DEOLHONOGANCHO

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#Atenção #Divergência: Atualmente há uma divergência nas turmas do STF. Para a 2ª Turma: A prática anterior
de atos infracionais pelo paciente não configura fundamentação idônea a afastar a minorante do § 4º do art.
33 da Lei 11.343/2006. Constata-se que a prática de atos infracionais não é suficiente para afastar a minorante,
visto que adolescente não comete crime nem lhe é imputada pena. Nos termos do Estatuto da Criança e do
Adolescente, as medidas aplicadas são socioeducativas e objetivam a proteção do adolescente que cometeu
infração. Assim, a menção a atos infracionais praticados pelo paciente não configura fundamentação idônea
para afastar a minorante. STF. 2ª Turma. HC 191992, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 08/04/2021.

• Transação penal e ANPP


1) Transação penal
(Lei 9.099/1995, art. 76, § 6.° - A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão
de antecedentes criminais);

2) Celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal


(CPP, art. 28-A, §12 A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de
certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo.)

Além das previsões legais de que não caracterizam maus antecedentes, em tais situações não há condenação
penal com trânsito em julgado.

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• Da mesma forma, não podem ser considerados maus antecedentes os inquéritos já arquivados e as ações
penais nas quais o réu tenha sido absolvido.

DEOLHONATABELA #MUDANÇADEENTENDIMENTO
STJ e STF
REINCIDÊNCIA Adota-se o sistema da TEMPORARIEDADE.

MAUS ANTECEDENTES Acolhe-se o sistema da PERPETUIDADE.

#SAINDODOFORNO #DEOLHONAJURIS - Vale ressaltar, contudo, que o STJ possui o entendimento no sentido
de que, quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de
sua análise desfavorável, em aplicação à teoria do direito ao esquecimento:
Quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, como no presente caso, admite-se o
afastamento de sua análise desfavorável, em aplicação à teoria do direito ao esquecimento.
Não se pode tornar perpétua a valoração negativa dos antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso
para fins de aplicação da reprimenda, pois a transitoriedade é consectário natural da ordem das coisas. Se o
transcurso do tempo impede que condenações anteriores configurem reincidência, esse mesmo fundamento -
o lapso temporal - deve ser sopesado na análise das condenações geradoras, em tese, de maus antecedentes.
STJ. 6ª Turma. HC 452.570/PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.

1ª FASE DA DOSIMETRIA: de acordo com o STJ, os elementos inerentes ao próprio tipo penal não podem ser
considerados para a exasperação da pena-base. A primeira fase da dosimetria é o momento em que o julgador
efetivamente individualiza a pena pelas circunstâncias ali analisadas. Porém, o julgador não pode agir com livre
arbítrio; deve motivar as razões que foram seguidas e demonstrá-las concretamente (Info 502).

FIXAÇÃO DA PENA BASE


É o maior ou menor grau de reprovabilidade da conduta do agente. Não confundir com
a culpabilidade como terceiro substrato do crime.
#DEOLHONAJURIS: Segundo o STJ, o fato de o agente ter se aproveitado, para a prática
Culpabilidade
do crime, da situação de vulnerabilidade emocional e psicológica da vítima decorrente
da morte de seu filho em razão de erro médico pode constituir motivo idôneo para a
valoração negativa de sua culpabilidade (Info 579).
São maus antecedentes as condenações anteriores transitadas em julgado que, por
alguma razão, não podem ser enquadradas no conceito de reincidência (agravante
genérica).
#DEOLHONASÚMULA:
Antecedentes
Súmula 444 do STJ: "É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso
para agravar a pena-base"
Súmula n. 636 do STJ: A folha de antecedentes criminais é documento suficiente a
comprovar os maus antecedentes e a reincidência.
Representa o comportamento do agente no meio familiar, no ambiente de trabalho e
no relacionamento com outros indivíduos.
#ATENÇÃO Segundo o STF, os antecedentes sociais do réu não se confundem com os
Conduta social
seus antecedentes criminais. Assim, não se mostra correto o magistrado utilizar as
condenações anteriores transitadas em julgado como "conduta social desfavorável"
(Info 825).

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A valoração negativa da personalidade, embora possa prescindir de laudos técnicos de


Personalidade do
especialistas da área de saúde, exige uma análise mais ampla da índole do réu, do seu
agente
comportamento e do seu modo de vida.
Motivos do crime Análise dos fatos que motivaram o agente a praticar o crime.
Circunstâncias do
São os aspectos objetivos e subjetivos de natureza acidental que envolvem o delito.
crime
A análise das consequências do crime envolve a verificação da intensidade da lesão
causada pela conduta. Se anormal, além do que ordinariamente prevê o próprio tipo
penal, essa circunstância judicial deve ser valorada negativamente.

#APOSTACICLOS #DEOLHONAJURIS - A tenra idade da vítima é fundamento idôneo


para a majoração da pena-base do crime de homicídio pela valoração negativa das
CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. O homicídio perpetrado conta a vítima jovem ceifa uma
vida repleta de possibilidades e perspectivas, que não guardam identidade ou
semelhança com aquelas verificadas na vida adulta. Há que se sopesar, ainda, as
consequências do homicídio contra vítima de tenra idade no núcleo familiar respectivo:
pais e demais familiares enlutados por um crime que subverte a ordem natural da vida.
Não se pode olvidar, ademais, o aumento crescente do número de homicídios
perpetrados contra adolescentes no Brasil, o que reclama uma resposta estatal. Assim,
deve prevalecer a orientação no sentido de que a tenra idade da vítima (menor de 18
anos de idade) é elemento concreto e transborda aqueles inerentes ao crime de
homicídio, sendo apto, pois, a justificar o agravamento da pena-base, mediante
valoração negativa das consequências do crime, ressalvada, para evitar bis in idem, a
Consequências do
hipótese em que aplicada a causa de aumento prevista no art. 121, § 4º (parte final), do
crime
Código Penal. STJ. 3ª Seção. AgRg no REsp 1.851.435-PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 12/08/2020 (Info 679).

#APOSTACICLOS #DEOLHONAJURIS - É possível o aumento de pena-base fundado nos


abalos psicológicos causados à vítima sobrevivente.
No caso concreto, a pena-base foi exasperada em razão do abalo psicológico causado à
ofendida que precisou vender sua residência por valor muito inferior ao de mercado,
pois não conseguia conviver com as lembranças que o local lhe trazia e precisou adquirir
com urgência outro imóvel para morar.
A presença de sequelas psicológicas decorrentes do crime tem sido considerado
fundamento idôneo para justificar o afastamento da pena-base do piso legal, pois
demonstra que a conduta do agente extrapolou os limites ordinários do tipo penal
violado, merecendo, portanto, maior repreensão. Para tanto, a exasperação da pena-
base deve estar fundamentada em dados concretos extraídos da conduta imputada ao
acusado, os quais devem desbordar dos elementos próprios do tipo penal. STJ. 5ª
Turma. HC 624.350/SC, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
09/12/2020.
Se o comportamento da vítima em nada contribuiu para o delito, isso significa que essa
Comportamento
circunstância judicial é neutra, de forma que não pode ser utilizada para aumentar a
da vítima
pena imposta ao réu.

-2ª FASE DA DOSIMETRIA: analisa-se a presença de agravantes (arts. 61 e 62) e atenuantes (arts. 65 e 66)
genéricas, ou seja, aquelas previstas na parte geral do Código Penal.

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#SELIGANASÚMULA
Súmula 231, STJ: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do
mínimo legal.

AGRAVANTES ATENUANTES
O rol de atenuantes é exemplificativo por força da
atenuante inominada do art. 66, do CP.
O rol de agravantes (arts. 61 e 62) é taxativo.
Art. 66, CP. A pena poderá ser ainda atenuada em razão
Vedação da analogia in malam partem.
de circunstância relevante, anterior ou posterior ao
crime, embora não prevista expressamente em lei.

#DEOLHONAJURIS É possível, a depender do caso concreto, que o juiz reconheça a teoria da coculpabilidade
como sendo uma atenuante genérica prevista no art. 66 do Código Penal. STJ. 5ª Turma. HC 411.243/PE, Rel.
Min. Jorge Mussi, julgado em 07/12/2017.
#DEOLHONOGANHO #APOSTACICLOS - O juiz poderá reconhecer as agravantes de ofício, não havendo, neste
caso, violação ao princípio da correlação. Assim, não ofende o princípio da congruência a condenação por
agravantes não descritas na denúncia. Isso é autorizado pelo art. 385, do CPP, que foi recepcionado pela CF/88.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1612551/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 02/02/2017. STJ.
6ª Turma. HC 381590/SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 06/06/2017.

#OBS: O art. 66 do CP prevê a atenuante inominada. Autoriza, portanto, o juiz a atenuar a pena em razão de
circunstância relevante não prevista expressamente na lei. Ex: coculpabilidade.

• Reincidência (art. 61, I, CP):


Art. 63. - Verifica-se a reincidência quando o agente comete NOVO CRIME, depois de transitar em julgado a
sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por CRIME ANTERIOR”

Se a pessoa é condenada E depois da condenação definitiva


Qual será a consequência?
definitivamente por pratica novo(a)
CRIME
CRIME REINCIDÊNCIA
(no Brasil ou exterior)
CRIME CONTRAVENÇÃO
REINCIDÊNCIA
(no Brasil ou exterior) (no Brasil)
CONTRAVENÇÃO CONTRAVENÇÃO
REINCIDÊNCIA
(no Brasil) (no Brasil)
NÃO HÁ reincidência.
CONTRAVENÇÃO
CRIME Foi uma falha da lei.
(no Brasil)
Mas gera maus antecedentes.
NÃO HÁ reincidência.
CONTRAVENÇÃO
CRIME ou CONTRAVENÇÃO Contravenção no estrangeiro
(no estrangeiro)
não influi aqui.

#NÃOESQUEÇA – A reincidência é a única agravante genérica aplicável aos crimes culposos. É a posição
majoritária na doutrina e jurisprudência.
#DEOLHONAJURIS - As circunstâncias agravantes genéricas não se aplicam aos crimes culposos, com exceção
da reincidência. STF. 1ª Turma. HC 120165/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2014 (Info 735).

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#DEOLHONASÚMULA:
Súmula 241, STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e,
simultaneamente, como circunstância judicial.

#ATENÇÃO: Em tema de reincidência, o Código Penal adota o sistema da temporariedade. Dessa forma, os
efeitos deletérios da reincidência perduram pelo prazo máximo de cinco anos, contados da data do
cumprimento ou da extinção da pena. Após esse período, ocorre a caducidade da condenação anterior para fins
de reincidência.

#OLHAOGANCHO:
A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a cinco anos, contado da extinção da pena,
poderá ser considerada como maus antecedentes. Após o período depurador, ainda será possível considerar a
condenação como maus antecedentes? SIM. As condenações atingidas pelo período depurador quinquenal do
art. 64, inciso I, do CP, embora afastem os efeitos da reincidência, não impedem a
configuração de maus antecedentes, na primeira etapa da dosimetria da pena. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC
558.745/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/09/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC
471.346/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 21/05/2019.
#SAINDODOFORNO #DEOLHONAJURIS - Vale ressaltar, contudo, que o STJ possui o entendimento no sentido
de que, quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de
sua análise desfavorável, em aplicação à teoria do direito ao esquecimento:
Quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, como no presente caso, admite-se o
afastamento de sua análise desfavorável, em aplicação à teoria do direito ao esquecimento.
Não se pode tornar perpétua a valoração negativa dos antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso
para fins de aplicação da reprimenda, pois a transitoriedade é consectário natural da ordem das coisas. Se o
transcurso do tempo impede que condenações anteriores configurem reincidência, esse mesmo fundamento -
o lapso temporal - deve ser sopesado na análise das condenações geradoras, em tese, de maus antecedentes.
STJ. 6ª Turma. HC 452.570/PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.
#SAINDODOFORNO #APOSTACICLOS - A multirreincidência revela maior necessidade de repressão e rigor penal,
a prevalecer sobre a atenuante da confissão, sendo vedada a compensação integral.
Assim, em caso de multirreincidência, prevalecerá a agravante e haverá apenas a compensação
parcial/proporcional (mas não integral).
STJ. 5ª Turma. HC 620640, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 02/02/2021.
#DEOLHONAJURIS A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da
conduta, à luz dos elementos do caso concreto. No entanto, com base no caso concreto, o juiz pode entender
que a absolvição com base nesse princípio é penal ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado
condena o réu, mas utiliza a circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o regime inicial
aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância para criar uma exceção jurisprudencial
à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base no princípio da proporcionalidade STF. 1ª Turma. HC 135164/MT,
Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).

Confissão espontânea (art. 65, III, “d”, CP):


Requisitos:
(i) A confissão deve ser espontânea (não basta ser voluntária).
(ii) A confissão deve referir-se à autoria do delito (autoria ou participação) e ser prestada perante autoridade
pública (delegado, juiz ou membro do MP).

#SELIGANASSÚMULAS

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Súmula 545, STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus
à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.
Súmula 630 do STJ – A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de
entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou
propriedade para uso próprio.

#DEOLHONAJURIS - É possível compensar a atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, "d", do CP) com a
agravante da promessa de recompensa (art. 62, IV). Esse raciocínio, mutatis mutandis, assemelha-se à presente
hipótese, por se tratar da possibilidade de compensação entre circunstâncias igualmente preponderantes, a
saber, a agravante de crime cometido mediante paga com a atenuante da confissão espontânea. STJ. 5ª Turma.
HC 318594-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/2/2016 (Info 577).

-3ª FASE DA DOSIMETRIA: causas de aumento e diminuição de pena

#OBS1: As causas de aumento podem superar o máximo da pena abstrata e as causas de diminuição podem
reduzir a pena abaixo do mínimo previsto.
#OBS2: No concurso de majorantes e minorantes previstas na parte geral do CP, o juiz deverá aplicar todas elas.
Por outro lado, se o concurso for entre majorantes e minorantes da parte especial do CP, o juiz pode se limitar
a um só aumento ou uma só diminuição, prevalecendo a causa que mais aumente ou diminua.

Súmula n° 442, STJ: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.
Súmula n° 443, STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige
fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de
majorantes.

ESPÉCIES DE PENA
 Penas privativas de liberdade;
 Penas restritivas de direitos;
 Multa.

PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE

#PACOTEANTICRIME: “Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior
a 40 anos. § 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40
anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.”

São divididas em reclusão, detenção e prisão simples (esta última é reservada às contravenções penais).

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em
regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.

#CUIDADOPARANÃOCONFUNDIR: O juiz nunca poderá aplicar o regime fechado como regime inicial em
condenações à pena de detenção, independentemente da quantidade de pena aplicada. Contudo, isso não quer
dizer que a pena de detenção nunca será cumprida em regime fechado, já que no decorrer do cumprimento da
pena, o juiz poderá, motivadamente, impor o regime fechado.

Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta)

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anos. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)


§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40 (quarenta)
anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)

FECHADO: se a pena é superior a 8 anos.


SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 e menor ou igual a 8 anos.
Se o condenado for reincidente, o regime inicial,
para esse quantum de pena, é o fechado.
ABERTO: se a pena foi de até 4 anos.
RECLUSÃO Se o condenado for reincidente, o regime inicial,
O regime inicial para esse quantum de pena, será o semiaberto ou o fechado.
pode ser: O que irá definir isso vão ser as circunstâncias judiciais:
· se desfavoráveis, vai para o fechado;
· se favoráveis, vai para o semiaberto.

Súmula 269-STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes


condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.

FECHADO: nunca
DETENÇÃO
SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 anos.
O regime inicial
ABERTO: se a pena foi de até 4 anos.
pode ser:
Se o condenado for reincidente, o regime inicial é o semiaberto.

FECHADO SEMIABERTO ABERTO


A pena é cumprida na Casa de
Albergado ou estabelecimento
adequado (art. 33, § 1º, "c", CP).
A Casa do Albergado deverá estar
A pena é cumprida em colônia localizada em centro urbano,
A pena é cumprida na agrícola, industrial ou separado dos demais
Penitenciária. estabelecimento similar (art. 33, estabelecimentos prisionais, e
§ 1º, "b", CP). caracteriza-se pela ausência de
obstáculos físicos contra a fuga. Isso
porque o regime aberto baseia-se na
autodisciplina e senso de
responsabilidade.
Durante o dia, o condenado trabalha,
O condenado fica sujeito a frequenta cursos ou realiza outras
trabalho, dentro da própria O condenado fica sujeito a atividades autorizadas, fora do
Penitenciária, no período diurno, trabalho, dentro da colônia, estabelecimento e sem vigilância.
e a isolamento durante o repouso durante o período diurno. Durante o período noturno e nos dias
noturno. de folga, permanece recolhido na
Casa do Albergado.

Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige
motivação idônea.
Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais
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gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.
Súmula 269-STJ: É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes condenados a pena
igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.
Súmula vinculante 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado
em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE
641.320/RS.

SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA (SURSIS)


Natureza da pena: a pena deve ser privativa de liberdade.
Quantidade da pena aplicada: a pena aplicada concretamente na sentença não pode ser
REQUISITOS
superior a 2 anos.
OBJETIVOS
Que não tenha sido a pena privativa de liberdade substituída pela restritiva de direitos (art. 77,
III, CP).
Réu não reincidente em crime doloso, salvo se a condenação anterior foi exclusivamente de
REQUISITOS pena de multa (art. 77, I e §1º, CP).
SUBJETIVOS Que a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como
os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício (art. 77, II, CP).

Espécies de Sursis:
 Sursis simples (art. 78, §1º, CP): aplicável quando o condenado não houver reparado o dano,
injustificadamente e/ou as circunstâncias do art. 59, CP não lhe forem inteiramente favoráveis. No
primeiro ano do período de prova o condenado deverá prestar serviços à comunidade ou submeter-se
à limitação de fim de semana, cabendo a escolha ao magistrado;
 Sursis especial (art. 78, §2º, CP): aplicável quando o condenado tiver reparado o dano, salvo
impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 deste Código lhe forem inteiramente
favoráveis. Nessa modalidade, o condenado, em regra, não presta serviços à comunidade, nem se
submete à limitação de fim de semana, pois o juiz pode substituir tal exigência por outras condições
cumulativas (previstas nas alíneas do art. 78, §2º, CP).

Período de Prova:
1 A 3 ANOS Contravenções Penais (art. 11, DL 3.688/41)
Sursis comum (art. 77, “caput”, CP).
2 A 4 ANOS
Lei dos crimes ambientais (art. 16, Lei nº 9.605/98).
4 A 6 ANOS Sursis etário ou humanitário (art. 77, §2º, CP).

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS


São penas ALTERNATIVAS, ou seja, substituem a pena privativa de liberdade. Além disso, são aplicáveis
independentemente de cominação na parte especial.

Após a fixação da pena privativa de liberdade pelo juiz na sentença, ele poderá substituí-la por pena restritiva
de direitos, se preenchidos os requisitos legais.

Espécies: art. 43 do CP

 Prestação pecuniária - § 1o A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus


dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz,
não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O

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valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se
coincidentes os beneficiários

#OBS1: Fixada entre 1 e 360 salários mínimos. Além disso, é destinada à vítima, seus dependentes ou entidade
pública/privada com destinação social. Tem por finalidade a REPARAÇÃO DO DANO e seu valor pode ser
deduzido do montante fixado em eventual reparação civil.
#OBS2: PODE SER SUBSTITUÍDA por prestação de outra natureza, desde que haja aceitação do beneficiário.

 Perda de bens e valores: § 3o A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á,
ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto
– o que for maior – o montante do prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro,
em consequência da prática do crime

#OBS1: Fixada em favor do FUNPEN (e NÃO DA VÍTIMA). #CUIDADO para não confundir com a prestação
pecuniária.

 Prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas (art. 46) - consiste na atribuição de tarefas
gratuitas ao condenado.

#OBS1: aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade.


#OBS2: As tarefas devem ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo
a não prejudicar a jornada normal de trabalho. EXCEÇÃO: se a pena substituída for superior a um ano, é
facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena
privativa de liberdade fixada.

 Interdição temporária de direitos – Se subdivide em (art. 47):

a) Proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo;
#NÃOCONFUNDA a interdição temporária de direitos com o efeito penal da sentença penal condenatória
previsto no art. 92, I, do CP, que prevê a perda permanente do cargo, função pública ou mandato eletivo.
b) Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou
autorização do poder público;
c) Suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo;
d) Proibição de frequentar determinados lugares;
e) Proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.

 Limitação de fim de semana (obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas
diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado).

 DURAÇÃO das penas restritivas de direitos:

I) Terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída: a) prestação de serviços à


comunidade; b) interdição temporária de direitos; c) limitação de fim de semana.
#SELIGA: É possível o cumprimento da pena substituída em menor tempo, desde que esta seja superior a 1 ano
e o seu cumprimento nunca seja inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada.
II) As penas de prestação pecuniária e perda de bens e valores não estão sujeitas ao tempo da pena
privativa de liberdade.

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Não é possível a execução da pena restritiva de direitos antes do trânsito em julgado da condenação. STJ. 3ª
Seção. EREsp 1.619.087-SC, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 14/6/2017 (Info 609). O
cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. É proibida a chamada
execução provisória da pena. STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF, ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgados em 07/11/2019.

 REQUISITOS:

Crime doloso: Pena privativa de liberdade não superior a 4 anos + crime cometido sem
Requisitos para violência ou grave ameaça à pessoa
conversão da Crime culposo: qualquer que seja a pena aplicada
PPL em PRD Não reincidente em crime doloso **
(cumulativos) Circunstâncias judiciais favoráveis

** Nos termos do art. 44, § 3.°, do Código Penal, o reincidente em crime doloso pode ser beneficiado pela
substituição quando estiverem presentes dois requisitos cumulativos:
1. A medida seja socialmente recomendável: cuida-se de análise subjetiva, a ser minuciosamente
desenvolvida pelo magistrado, levando em conta as condições do caso concreto, tais como as
circunstâncias do delito e, principalmente, os dados pessoais do condenado.
2. Não se tratar de reincidente específico: a lei foi clara ao definir a reincidência específica como a
repetição do mesmo crime, ou seja, da conduta apresentada pelo mesmo tipo penal.

E quanto à APLICAÇÃO das penas restritivas de direitos? É tranquilo entender, vejam:

a) Se a condenação for igual ou inferior a 1 ano = substitui por multa OU 1 pena restritiva de direitos.

#ATENÇÃO: A PPL só pode ser substituída por pena de multa se a condenação for até 6 meses. Por outro lado,
tratando-se de condenação superior a 6 meses (até 1 ano), necessariamente deverá ser substituída por 1 pena
restritiva de direitos.

b) Se a condenação for superior a 1 ano = substitui por 1 pena restritiva de direitos + multa OU 2 penas restritivas
de direitos.

#OBS: § 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal
decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva
anterior. Nesse caso, a conversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade só será
obrigatória se não for possível cumprir simultaneamente a PRD e a nova pena imposta.

#OLHAOGANCHO
Súmula n° 588 do STJ: a prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça
no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

PENA DE MULTA
Consiste no pagamento ao Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN) de certa quantia em dinheiro. Pode ser fixada
em no mínimo 10 e, no máximo, 360 dias-multa.

#NÃOCONFUNDA:
a) Multa abstrata: NÃO É pena restritiva de direitos (não substitui a PPL). Trata-se de pena cominada no próprio
tipo penal.
59
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b) Multa substitutiva: É a pena restritiva de direitos. Mesmo que o tipo penal não tenha previsto a pena de multa
(multa abstrata), pode o juiz aplicá-la (em substituição à pena privativa de liberdade não superior a 6 meses
imposta na sentença).

#SELIGA: Via de REGRA, é possível cumular a multa abstrata e a multa substitutiva, EXCETO nos crimes previstos
em lei especial.
Súmula n° 171 do STJ: Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativa de liberdade e pecuniária,
é defeso a substituição da prisão por multa.

#VAICAIR – Atribuição e competência para execução da pena de multa:

Quem executa a pena de multa?


Antes do advento da Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime) esse era o cenário:
• Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de execução penal, aplicando-se a LEP.
• Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias após ser devidamente intimado: a Fazenda Pública irá
executar, na vara de execuções fiscais, aplicando-se a Lei nº 6.830/80.

#PACOTEANTICRIME: O art. 51 do Código Penal foi alterado para deixar expressa essa competência:
CÓDIGO PENAL
Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE
Art. 51. Transitada em julgado a sentença Art. 51. Transitada em julgado a sentença
condenatória, a multa será considerada dívida de condenatória, a multa será executada perante o juiz da
valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação execução penal e será considerada dívida de valor,
relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda
no que concerne às causas interruptivas e Pública, inclusive no que concerne às causas
suspensivas da prescrição. interruptivas e suspensivas da prescrição.
#SELIGA - De acordo com a nova redação conferida ao caput do art. 51, a Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime)
pôs fim a controvérsia que girava em torno da legitimidade e competência para execução da pena de multa.
A execução deverá ser promovida exclusivamente pelo Ministério Público, perante o juízo da execução penal.
O art. 51 do Código Penal não abre espaço à legitimidade subsidiária da Fazenda Pública. Com efeito, não há
como retirar do Parquet a atribuição para execução da multa penal, em face do teor do art. 129,1, da
Constituição Federal, o qual estabelece ser função institucional do Ministério Público promover, privativamente,
a ação penal pública, na forma da lei.
Ora, promover a ação penal consiste em guiá-la durante todo o processo de conhecimento e também de
execução, é dizer, assegurar a condenação e implementar sua concretização.
Além disso, o procedimento a ser observado é o disciplinado pelos arts. 164 a 170 da Lei 7.210/1984 - Lei de
Execução Penal.

 MEDIDAS DE SEGURANÇA

- Fato típico + ilícito + periculosidade do agente.

- Aplica-se aos inimputáveis (art. 26 – absolvição imprópria).


#SELIGA: semi-imputáveis, via de regra, não são isentos de pena. Incidirá uma causa de diminuição da pena (1/3
a 2/3). Contudo, admite-se que a pena privativa de liberdade seja substituída pela internação ou tratamento
ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 a 3 anos. NÃO HÁ CUMULAÇÃO (Sistema vicariante).

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#OBS: Se durante a execução da pena, o condenado passe a sofrer de doença mental, o juiz pode substituir a
pena por medida de segurança.

- Prazo máximo: CP = prazo indeterminado; STF = 40 anos (tempo máximo de cumprimento da pena privativa
de liberdade); STJ = prazo máximo da pena abstratamente cominada ao delito (súmula n° 527).

Segundo o art. 97 do CP: Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se,
todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento
ambulatorial. Assim, se fosse adotada a redação literal do art. 97 teríamos o seguinte cenário: • Se o agente
praticou fato punido com RECLUSÃO, ele receberá, obrigatoriamente, a medida de internação. • Por outro lado,
se o agente praticou fato punido com DETENÇÃO, o juiz, com base na periculosidade do agente, poderá
submetê-lo à medida de internação ou tratamento ambulatorial. O STJ, contudo, abrandou a regra legal e
construiu a tese de que o art. 97 do CP não deve ser aplicado de forma isolada, devendo analisar também qual
é a medida de segurança que melhor se ajusta à natureza do tratamento de que necessita o inimputável. Em
outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: mesmo que o inimputável tenha praticado um fato previsto como
crime punível com reclusão, ainda assim será possível submetê-lo a tratamento ambulatorial (não precisando
ser internação), desde que fique demonstrado que essa é a medida de segurança que melhor se ajusta ao caso
concreto. À luz dos princípios da adequação, da razoabilidade e da proporcionalidade, na fixação da espécie
de medida de segurança a ser aplicada não deve ser considerada a natureza da pena privativa de liberdade
aplicável, mas sim a periculosidade do agente, cabendo ao julgador a faculdade de optar pelo tratamento que
melhor se adapte ao inimputável. Desse modo, mesmo em se tratando de delito punível com reclusão, é
facultado ao magistrado a escolha do tratamento mais adequado ao inimputável. STJ. 3ª Seção. EREsp 998128-
MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 27/11/2019 (Info 662).

EFEITOS DA CONDENAÇÃO
PRINCIPAIS O efeito principal (primário) da condenação é impor ao condenado uma sanção
penal.
(PRIMÁRIOS)
Efeito principal (primário) = sanção penal.
A sanção penal divide-se em: a) pena; b) medida de segurança.
SECUNDÁRIOS PENAIS:
Alguns exemplos: reincidência (art. 63), causa de revogação do sursis (art. 77, I e §
1º), causa de revogação do livramento condicional (art. 86), causa de conversão da
pena restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 44, § 5º), impossibilita a
transação penal e concessão de suspensão condicional do processo (arts. 76 e 89 da
Lei nº 9.099/95) etc.
SECUNDÁRIOS EXTRAPENAIS:
a) Genéricos (art.91, CP): Decorrem de qualquer condenação e dispensam expressa
motivação:
• tornar certa a obrigação de reparar o dano causado pelo crime (a sentença penal
condenatória transitada em julgado é título executivo no cível, ainda que extinta a
punibilidade, art. 91,I, do CP);
• confisco pela União dos instrumentos do crime, desde que seu uso, porte,
detenção, alienação, ou fabrico constituam fato ilícito (art. 91,II, A, do CP); .

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• confisco pela União do produto e dó proveito do crime (art 91, II. b. do CP);
• suspensão dos direitos políticos enquanto durar a execução da pena (art. 15, II, da
CF).
b) Específicos (art. 92 do CP): Decorrem da natureza do crime pelo qual ó agente foi
condenado e exigem expressa motivação:
• perda do cargo, função pública ou mandato eletivo para os crimes: a) praticados
com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública (crimes
funcionais): cuja pena aplicada seja igual ou superior a um ano (art. 92, I, a, do CP);
b) de qualquer natureza cuja pena aplicada seja superior a quatro anos (art 92,1, b,
do CP);
• incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela nos crimes
dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra filho, tutelado ou curatelado
(art 92, II, do CP);
• inabilitação para dirigir veículo desde que o crime seja doloso e que o veículo tenha
sido utilizado como instrumento do crime (art. 92, III, do CP; se for culposo, sujeita-
se ao CTB).

 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Trata-se da perda do direito de punir do Estado com aplicação em todos os tipos de ação penal. Há alguns crimes
que o ordenamento jurídico considera como imprescritíveis, em razão do importante bem jurídico violado e
necessariamente tutelado pelo Estado (art. 5º, XLII e XLIV, CF). São eles: Crime de racismo (Lei nº 7.716/89);
crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático
(Lei nº 12.850/13).

Formas de extinção da punibilidade: (art. 107, CP) morte do agente, anistia, graça e indulto, abolitio criminis,
decadência, perempção14 (somente se aplica na ação privada), renúncia (decorre do princípio da oportunidade
da ação penal privada), perdão do ofendido (ato bilateral decorrente do princípio da disponibilidade da ação
penal privada), retratação (exemplo: calúnia, difamação e falso testemunho/falsa perícia) e perdão judicial
(independe de aceitação).

Extinção da punibilidade em caso de concurso de crimes: no caso de concurso de crimes, a extinção da


punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente (art. 119, CP).

Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge
os efeitos secundários, penais ou extrapenais.

#Não confundir:
ANISTIA GRAÇA E INDULTO ABOLITIO CRIMINIS

14
Art. 60, CPP: leiam as hipóteses.

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Extingue o efeito primário da Extingue o efeito primário da Extingue o efeito primário da


condenação (pretensão condenação (pretensão condenação (pretensão
executória). executória). executória).
Extingue também os efeitos NÃO extingue os efeitos Extingue também os efeitos
secundários penais da secundários penais da secundários penais da
condenação (ex: reincidência) – condenação. condenação (ex:
não gera reincidência. reincidência) - não gera
reincidência.
Efeitos secundários extrapenais: NÃO são extintos seja pela anistia, graça, indulto ou abolitio criminis.
(Ex.: tornar certa a obrigação de indenizar, perda da função pública).
Os efeitos de natureza civil permanecem íntegros

#DEOLHONALEI:
Art. 120. A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência.
(Súmula 18-STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não
subsistindo qualquer efeito condenatório.)

Art. 108. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a
agravação da pena resultante da conexão.

#IMPORTANTE #MUDANÇADEENTENDIMENTO

• Antes: A extinção da punibilidade independe do pagamento da pena de multa STJ. 3ª Seção. REsp 1.519.777-
SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/8/2015 (recurso repetitivo) (Info 568) - SUPERADO.
• Entendimento atual (STF e STJ): O inadimplemento da pena de multa obsta a extinção da punibilidade do
apenado. O STF, ao julgar a ADI 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito estabelecido pelo art. 5º, XLVI, da
Constituição Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições – perda de bens,
prestação social alternativa e suspensão ou interdição de direitos –, é espécie de pena aplicável em
retribuição e em prevenção à prática de crimes, não perdendo ela sua natureza de sanção penal.
Diante da eficácia erga omnes e do vinculante dessa decisão, não se pode mais declarar a extinção da
punibilidade pelo cumprimento integral da pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da
multa criminal. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1850903-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
28/04/2020 (Info 671).

 PRESCRIÇÃO

PRESCRIÇÃO PENAL
PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO Ocorre antes de haver sentença condenatória transitada em julgado para a acusação
PUNITIVA e, por isso, usa como parâmetro para a aferição do lapso prescricional o máximo da
PROPRIAMENTE pena privativa de liberdade abstratamente cominada ao crime, segundo a tabela
DITA OU EM do art. 109 do Código Penal.
ABSTRATO
PRESCRIÇÃO DA Leva em consideração a pena cominada em concreto e nos obriga a percorrer
PRETENSÃO novamente apenas o percurso entre a data do recebimento da denúncia ou queixa
PUNITIVA até a sentença penal condenatória recorrível.
RETROATIVA

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#SELIGA: A Lei nº 12.234/2010 eliminou a prescrição retroativa no intervalo entre a


consumação do crime e recebimento da denúncia. Todavia, tal alteração só vale
para os crimes praticados após 5 de maio de 2010.
PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO
Leva em consideração a pena cominada em concreto e conta-se a prescrição da
PUNITIVA
publicação da sentença condenatória até a data do trânsito julgado final (para
SUPERVENIENTE
ambas as partes).
OU
INTERCORRENTE
Corresponde à perda do direito do Estado de executar a condenação e somente se
opera após o trânsito em julgado desta.

#SELIGANADIVERGÊNCIA: Se o Ministério Público não recorreu contra a sentença


condenatória, tendo havido apenas recurso da defesa, qual deverá ser o termo
inicial da prescrição da pretensão executiva? O início do prazo da prescrição
executória deve ser o momento em que ocorre o trânsito em julgado para o MP? Ou
o início do prazo deverá ser o instante em que se dá o trânsito em julgado para
ambas as partes, ou seja, tanto para a acusação como para a defesa?

• Posicionamento pacífico do STJ: o termo inicial da prescrição da pretensão


executória é a data do trânsito em julgado da sentença condenatória para a
acusação, ainda que a defesa tenha recorrido e que se esteja aguardando o
julgamento desse recurso. Aplica-se a interpretação literal do art. 112, I, do CP,
considerando que ela é mais benéfica ao condenado. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC
555.043/SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/05/2020.
PRESCRIÇÃO DA
• Entendimento da 1ª Turma do STF: o início da contagem do prazo de prescrição
PRETENSÃO
somente se dá quando a pretensão executória pode ser exercida. Se o Estado não
EXECUTÓRIA
pode executar a pena, não se pode dizer que o prazo prescricional já está correndo.
Assim, mesmo que tenha havido trânsito em julgado para a acusação, se o Estado
ainda não pode executar a pena (ex: está pendente uma apelação da defesa), não
teve ainda início a contagem do prazo para a prescrição executória. É preciso fazer
uma interpretação sistemática do art. 112, I, do CP. STF. 1ª Turma. RE 696533/SC,
Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/2/2018 (Info
890).

Obs: a posição majoritária é a que adota a redação literal do art. 112, I, do CP. No
entanto, o tema será definitivamente julgado pelo STF no ARE 848107 RG, admitido
para ser decidido pelo Plenário da Corte sob a sistemática da repercussão geral.

#CUIDADO #NÃOCONFUNDA: O prazo da prescrição executória inicia-se com o


trânsito em julgado para a acusação (art. 112, I, do CP), mas a efetiva prescrição
executória só irá acontecer se quando esgotar o prazo já tiver ocorrido o trânsito em
julgado para ambas as partes. STJ. 5ª Turma. REsp 1255240-DF, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 19/9/2013 (Info 532).
PRESCRIÇÃO Ocorre quando o juiz, verificando que já se passaram muitos anos desde o dia em
VIRTUAL que o prazo prescricional começou ou voltou a correr, entende que mesmo que o

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inquérito ou processo continue, ele não terá utilidade porque muito provavelmente
haverá a prescrição pela pena em concreto.
Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse
condenado e, a partir daí, examina se, entre os marcos interruptivos presentes no
processo, já se passaram mais anos do que o permitido pela lei. A prescrição virtual
é também chamada de prescrição “em perspectiva”, “por prognose”, “projetada” ou
“antecipada”.
O STF e o STJ afirmam que é inadmissível a prescrição virtual por dois motivos
principais: a) em virtude da ausência de previsão legal; b) porque representaria uma
afronta ao princípio da presunção de não-culpabilidade. O STJ tem, inclusive, um
enunciado proibindo expressamente a prática (Súmula 438-STJ).

O prazo prescricional deve ser computado entre os marcos interruptivos previstos no art. 117 do
Código Penal:

PROCEDIMENTO
COMUM

PPE (Não se esqueça da


PPP propriamente dita divergência quanto ao
•Data do fato •Publicação da termo inicial!)
criminoso sentença ou acórdão
•Recebimento da condenatório •Trânsito em julgado
inicial recorríveis para ambas as
partes

PPP propriamente dita PPP superveniente

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#DEOLHONAJURIS: Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre
interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou
aumentando a pena anteriormente imposta. A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva
ou da pretensão executória pela inércia do próprio Estado. No art. 117 do Código Penal, que deve ser
interpretado de forma sistemática, todas as causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que
o Estado não está inerte. Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre
acórdão condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente,
justificativa para tratamentos díspares. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1668298-SP, Rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 12/05/2020 (Info 672). STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
27/04/2020. STF. 1ª Turma. RE 1195122 AgR-segundo, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 30/11/2020.

 Causas impeditivas/suspensivas da prescrição:

CÓDIGO PENAL
Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE
Art. 116. Antes de passar em julgado a sentença final,
Art. 116. (...)
a prescrição não corre:
II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro. II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;
III - na pendência de embargos de declaração ou de
Não havia inciso III do art. 116. recursos aos Tribunais Superiores, quando
inadmissíveis; e
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o
Não havia inciso IV do art. 116.
acordo de não persecução penal.

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37. Crimes contra pessoa. 38. Crimes contra o patrimônio. 39. Crimes contra a dignidade sexual. 40. Crimes
contra a incolumidade pública. 41. Crimes contra a paz pública. 42. Crimes contra a fé pública. 43. Crimes
contra a administração pública.

HOMICÍDIO

Homicídio qualificado-privilegiado – apesar de sua posição topográfica, é perfeitamente possível a coexistência


das circunstâncias privilegiadoras (de natureza subjetiva), com as qualificadoras de natureza objetiva.

• Ademais, o homicídio qualificado-privilegiado NÃO É CRIME HEDIONDO.

Qualificadoras de natureza Qualificadoras de natureza


SUBJETIVA OBJETIVA
Paga ou promessa de recompensa, ou outro motivo Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
torpe e motivo fútil; tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que
possa resultar perigo comum;
Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade Traição, de emboscada, ou mediante dissimulação
ou vantagem de outro crime; ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
defesa do ofendido;
Feminicídio;

Homicídio contra policiais ou integrantes das Forças


Armadas ou seus familiares.

#NÃOCONFUNDA:
• A qualificadora do meio cruel é compatível com o dolo eventual. (STJ. 6ª Turma. REsp 1.829.601-PR, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 04/02/2020 (Info 665).
• O dolo eventual NÃO é compatível com qualificadora de traição, emboscada, dissimulação.

Homicídio Privilegiado:

PRIVILÉGIO
Causa de
• Injusta provocação diminuição
• Motivo de relevante da Vítima; de pena
valor social; • Domínio de violenta 1/6 a 1/3
emoção do agente;
• Motivo de relevante • Ato homicida logo
valor moral em seguida ao ato
provocador

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• A redução da pena decorrente do privilégio — se reconhecido pelos jurados — é direito subjetivo do


réu. Ao juiz cabe apenas escolher o índice de diminuição entre um sexto e um terço.

#OLHAOGANCHO #CONCURSO DE AGENTES: Todas as figuras de privilégio são de caráter subjetivo, porque
ligadas à motivação do agente (relevante valor social ou moral) ou à motivação somada à violenta emoção,
sendo assim em caso de concurso de agentes as causas privilegiadas não se comunicam, uma vez que são
circunstâncias subjetivas do crime (e não elementares).

• Todo homicídio qualificado é hediondo. #ATENÇÃO – O homicídio simples só será considerado hediondo se
for fato típico de grupo de extermínio. São considerados hediondos: HOMICÍDIO (art. 121), quando praticado
em atividade típica de GRUPO DE EXTERMÍNIO, ainda que cometido por um só agente, e HOMICÍDIO
QUALIFICADO (art. 121, § 2º, incisos I, II, III,IV, V, VI, VI.)

Aumento de pena:
Art.121, § 4º - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância
de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze)
ou maior de 60 (sessenta) anos.

• Essas causas de aumento aplicam-se a todas as figuras do homicídio doloso: simples, privilegiado e
qualificado. Não se aplicam, entretanto, ao feminicídio, que possui causas de aumento de pena próprias
descritas no art. 121, § 7º, do Código — dentre elas o fato de a vítima ser menor de 14 anos ou maior de
60.
FEMINICÍDIO

O que é feminicídio?
Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino”, ou seja,
desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas
do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino.
O Código Penal prevê o feminicídio como uma qualificadora do crime de homicídio. Confira:
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(...)
§ 2º Se o homicídio é cometido:
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
(...)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

O feminicídio foi incluído no Código Penal pela Lei nº 13.104/2015.

Feminicídio X femicídio
Existe diferença entre feminicídio e femicídio?
• Femicídio significa praticar homicídio contra mulher (matar mulher);
• Feminicídio significa praticar homicídio contra mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por razões
de gênero).
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O art. 121, § 2º, VI, do CP, trata sobre FEMINICÍDIO, ou seja, pune mais gravemente aquele que mata mulher
por “razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero). Não basta a vítima ser mulher.

Como era a punição do feminicídio antes da Lei nº 13.104/2015?


Antes da Lei nº 13.104/2015, não havia nenhuma punição especial pelo fato de o homicídio ser praticado contra
a mulher por razões da condição de sexo feminino. Em outras palavras, o feminicídio era punido, de forma
genérica, como sendo homicídio (art. 121 do CP).
A depender do caso concreto, o feminicídio (mesmo sem ter ainda este nome) poderia ser enquadrado como
sendo homicídio qualificado por motivo torpe (inciso I do § 2º do art. 121) ou fútil (inciso II) ou, ainda, em virtude
de dificuldade da vítima de se defender (inciso IV). No entanto, o certo é que não existia a previsão de uma pena
maior para o fato de o crime ser cometido contra a mulher por razões de gênero.
A Lei nº 13.104/2015 veio alterar esse panorama e previu, expressamente, que o feminicídio, deve agora ser
punido como homicídio qualificado.

Sujeito ativo
O feminicídio pode ser praticado por qualquer pessoa (trata-se de crime comum).
O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher.

Sujeito passivo
Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde que do sexo feminino).
• Mulher que mata sua companheira homoafetiva: pode haver feminicídio se o crime foi por razões da condição
de sexo feminino.
• Homem que mata seu companheiro homoafetivo: não haverá feminicídio porque a vítima deve ser do sexo
feminino. Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio.

Razões de condição de sexo feminino


O que são “razões de condição de sexo feminino”?
O legislador previu, no § 2º-A do art. 121, uma norma penal interpretativa, ou seja, um dispositivo para
esclarecer o significado dessa expressão.
§ 2º-A Considera-se que há “razões de condição de sexo feminino” quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Tentado ou consumado
O feminicídio pode ser tentado ou consumado.

Tipo subjetivo
O feminicídio pode ser praticado com dolo direto ou eventual.

Causas de aumento de pena no feminicídio


Art. 121 [...]
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de
doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação
dada pela Lei nº 13.771, de 2018)

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III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771,
de 2018)
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da
Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018)

Natureza da qualificadora
Para o STJ, a qualificadora do feminicídio é de natureza OBJETIVA.
A justificativa apresentada para isso está no fato de que tal qualificadora “incide nos crimes praticados contra a
mulher por razão do seu gênero feminino e/ou sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e
familiar propriamente dita, assim o animus do agente não é objeto de análise.” (Min. Felix Fischer, no REsp
1.707.113/MG, julgado em 29/11/2017).

#DEOLHONAJURIS: Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e
de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar.
Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora de ordem OBJETIVA - vai incidir sempre que o crime estiver
atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita, enquanto que a torpeza é de cunho subjetivo, ou
seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar o delito. STJ. 6ª Turma. HC
433898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625). Não há dúvidas acerca da natureza
subjetiva da qualificadora do motivo torpe, ao passo que a natureza do feminicídio, por se ligar à condição
especial da vítima, é objetiva, não havendo, assim, qualquer óbice à sua imputação simultânea. É inviável o
afastamento da qualificadora do feminicídio mediante a análise de aspectos subjetivos da motivação do crime,
dada a natureza objetiva da referida qualificadora, ligada à condição de sexo feminino. STJ. 5ª Turma. REsp
1739704/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 18/09/2018.

Crimes contra a honra


• A RETRATAÇÃO é possível na CALÚNIA E NA DIFAMAÇÃO, desde que ANTES DA SENTENÇA.

•A EXCEÇÃO DA VERDADE é admitida no crime de CALÚNIA, salvo: I - se, constituindo o fato imputado crime de
ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II - se o fato é imputado a qualquer das
pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido
por sentença irrecorrível.
• Na DIFAMAÇÃO, a exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é
relativa ao exercício de suas funções.
• Na INJÚRIA não se admite exceção da verdade.

#DEOLHONASÚMULA: Súmula 714 STF - É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do


ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de suas funções.

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

FURTO (ART. 155, CP)

Consumação do Furto: consuma-se o crime de furto com a inversão da posse do bem, ainda que por breve
tempo, seguida de perseguição imediata do agente ou recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a
posse mansa e pacífica ou desvigiada (STF e STJ). TEORIA DA AMOTIO ou APPREHENSIO.

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Para a configuração da circunstância majorante do § 1º do art. 155 do Código Penal, basta que a conduta delitiva
tenha sido praticada durante o repouso noturno, dada a maior precariedade da vigilância e a defesa do
patrimônio durante tal período e, por consectário, a maior probabilidade de êxito na empreitada criminosa,
sendo irrelevante o fato das vítimas não estarem dormindo no momento do crime, ou, ainda, que tenha ocorrido
em estabelecimento comercial ou em via pública, dado que a lei não faz referência ao local do crime. STJ. 5ª
Turma. AgRg-AREsp 1.746.597-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 17/11/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg nos
EDcl no REsp 1849490/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha, julgado em 15/09/2020

No caso de furto de energia elétrica mediante fraude, o adimplemento do débito antes do recebimento da
denúncia não extingue a punibilidade. STJ. 3ª Seção. RHC 101.299-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 13/03/2019 (Info 645).

#NÃOCONFUNDA

POSSE VIGIADA FURTO

POSSE DESVIGIADA APROPRIAÇÃO INDÉBITA

OBJETO MATERIAL:
Apenas a coisa móvel pode ser objeto de furto porque somente ela pode ser transportada e, assim, tirada da
esfera de vigilância da vítima.

NÃO podem ser objeto de furto:


• Os seres humanos podem ser transportados, porém, não se enquadram no conceito de coisa, de modo que
não podem ser objeto material de furto, mas apenas de crimes específicos como sequestro (art. 148), extorsão
mediante sequestro (art. 159) e subtração de incapaz (art. 249).
• Da mesma forma, a subtração de parte de ser humano, enquanto o integra, constitui crime de lesão corporal
ou contravenção de vias de fato (conforme o entendimento adotado), ainda que haja interesse econômico
envolvido, como no caso do corte não autorizado de cabelo para venda a empresas de confecção de perucas ou
a cabeleireiros que as utilizarão em apliques capilares.
• Por sua vez, a extração não autorizada (subtração) de órgão ou tecido humano, para fim de transplante,
constitui crime específico previsto na Lei n. 9.434/97 (art. 14).

Os animais domésticos ou domesticados, quando tiverem dono, e os semoventes (bois, porcos, cabras)
podem ser objeto de furto.
#DEOLHONANOMENCLATURA - O furto de gado possui denominação própria: ABIGEATO. Semoventes
constituem espécie do gênero coisa móvel. A subtração de semovente domesticável de produção caracteriza
modalidade qualificada do delito de furto (art. 155, § 6º).

§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de


produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de
2016)

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CLÁUSULA DE EQUIPARAÇÃO - O legislador acrescentou o §3º, considerando furto a subtração de energia


elétrica ou qualquer outra energia dotada de valor econômico (ex. eólica, térmica, radioativa, genética -
sêmens de garanhão – cavalo de raça).
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico 15

Captação de sinal telefônico: é crime, participa da consumação do furto consistente na subtração de


energia elétrica aquele que se utiliza de telefone clandestino ligado àquela energia elétrica e à linha de outro
aparelho, acarretando prejuízo a seu proprietário.
Ligação clandestina de sinal de TV a cabo: “gatonet” - NÃO é crime. De acordo com o STF, trata-se de
figura atípica. Sinal de TV a cabo não é considerado energia, sendo inadmissível analogia in malam partem no
Direito Penal. (STF HC 97.261)

#ATENÇÃO #OLHAOGANCHO #NÃOCONFUNDIR


Não confundir furto de energia elétrica com estelionato para ocultar consumo.
“Gato” Alteração do sistema de medição
O agente desvia a energia elétrica de sua fonte O agente altera o sistema de medição, mediante
natural por meio de ligação clandestina, sem passar fraude, para que aponte resultado menor do que o
pelo medidor. real consumo.
Trata-se de FURTO. Trata-se de ESTELIONATO.
No furto, a fraude tem por objetivo diminuir a A fraude tem por finalidade fazer com que a vítima
vigilância da vítima e possibilitar a subtração da coisa incida em erro e, voluntariamente, entregue o objeto
(inversão da posse). ao agente criminoso, baseada em uma falsa
O bem é retirado sem que a vítima perceba que está percepção da realidade.
sendo despojada de sua posse. A concessionária sabe que está fornecendo energia
A concessionária não sabe que está fornecendo elétrica para aquele consumidor, mas a fraude faz
energia elétrica para aquele indivíduo. Ele está com que ela não perceba que ele está pagando
desviando (subtraindo) a energia da rede. menos do que deveria.

#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: A dívida de corrida táxi não pode ser considerada coisa alheia móvel
para fins de configuração da tipicidade dos delitos patrimoniais. Ex: João pegou um táxi. Ao final da corrida, ele
saiu do carro e disse que não iria pagar a corrida. O motorista também saiu do veículo e foi tentar segurá-lo para
que ele não fugisse sem quitar o débito. João puxou, então, uma faca e desferiu um golpe no taxista, que morreu
no local. O agente não praticou roubo com resultado morte (art. 157, § 3º, II, do CP). Isso porque não houve, no
contexto delitivo, nenhuma subtração ou tentativa de subtração de coisa alheia móvel, o que afasta a conduta
de roubo qualificado pelo resultado, composto pelo verbo “subtrair” e pelo complemento “coisa alheia móvel”.
O agente se negou a efetuar o pagamento da corrida de táxi e desferiu um golpe de faca no motorista, sem
(tentar) subtrair objeto algum, de modo a excluir o animus furandi. Não se pode equiparar “dívida de transporte”
com a “coisa alheia móvel” prevista no tipo do art. 157 do Código Penal, sob pena de violação dos princípios da
tipicidade e da legalidade estrita, que regem a aplicação da lei penal. STJ. 6ª Turma. REsp 1.757.543-RS, Rel. Min.
Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 24/09/2019 (Info 658).

15
#olhaogancho: Na subtração de energia elétrica o furto será crime permanente.

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• Sistema de vigilância - Em se tratando de tentativa, a doutrina e jurisprudência são praticamente unânimes


no sentido de que há crime de tentativa de furto, em virtude da idoneidade relativa do meio, quando sistemas
de segurança ou vigilância eletrônica (câmera) impedem a consumação do furto, não havendo que se falar em
crime impossível.
#DEOLHONAJURIS A existência de sistema de vigilância em estabelecimento comercial não constitui óbice para
a tipificação do crime de furto. STF. 1ª Turma.HC 111278/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Luiz Roberto Barroso, julgado em 10/4/2018 (Info 897). STF. 1ª Turma. HC HC 183.570, Rel.. Min. Marco Aurélio,
julgado em 10/11/2020.
Súmula 567-STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança
no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.

FURTO PRIVILEGIADO
• Trata-se de causa especial de diminuição de pena.

• Direito subjetivo do réu e não mera faculdade do juiz.


#DEOLHONAJURIS Em relação à figura do furto privilegiado, o art. 155, § 2º, do Código Penal impõe a aplicação
do benefício penal na hipótese de adimplemento dos requisitos legais da primariedade e do pequeno valor do
bem furtado, assim considerado aquele inferior ao salário mínimo ao tempo do fato. Trata-se, em verdade, de
direito subjetivo do réu, não configurando mera faculdade do julgador a sua concessão, embora o dispositivo
legal empregue o verbo "poder". STJ, HC 583.023/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado
em 04/08/2020, DJe 10/08/2020.

#DEOLHONASSÚMULAS
Súmula 511-STJ (furto privilegiado-qualificado ou furto híbrido): É possível o reconhecimento do privilégio
previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade
do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.

#SELIGANATABELA
REQUISITOS DO FURTO PRIVILEGIADO
Primariedade do agente Pequeno valor da coisa furtada
Segundo a jurisprudência, para os fins do § 2º do art.
O agente deve ser primário.
155, coisa de pequeno valor é aquela cujo preço, no
Primário é o indivíduo que não é reincidente, nos
momento do crime, não seja superior a 1 salário-
termos do art. 63 do CP.
mínimo.

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Pequeno valor
do bem furtado
REQUISITOS
Primariedade do
agente

PRIVILÉGIO a) Substituição a pena de


reclusão por detenção;

b) Diminuição da pena
CONSEQUÊNCIAS privativa de liberdade
de um a dois terços

c) Aplicação somente da
pena de multa

Furto Privilegiado X Pequeno Valor: o STJ consolidou entendimento no tocante ao conceito de pequeno valor,
a saber, quando não suplantar 1 salário mínimo. Vale lembrar quer o juiz não fica radicalmente adstrito a esse
patamar, caso consiga justificar no caso concreto outro valor. De acordo com o STJ, não se trata de um teto
máximo e intransponível.

Furto Privilegiado X Pequeno Valor X De Crime Continuado: nos casos de continuidade delitiva, o valor a ser
considerado para fins de concessão do privilégio (artigo 155, § 2º do CP) ou do reconhecimento da insignificância
é a soma dos bens subtraídos.

#NÃOCONFUNDIR Para efeito da aplicação do princípio da bagatela, é imprescindível a distinção entre valor
insignificante e pequeno valor, uma vez que o primeiro exclui o crime e o segundo pode caracterizar o furto
privilegiado.

Pequeno valor do bem subtraído (art. 155, § 2º) Valor insignificante do bem subtraído
FURTO PRIVILEGIADO FURTO INSIGNIFICANTE
Até um salário mínimo Não há um parâmetro objetivo, mas, deve ser
menor que um salário mínimo.
Se a coisa furtada é de pequeno valor e o CAUSA DE EXCLUSÃO DA TIPICIDADE MATERIAL: Se
condenado é primário, o juiz pode substituir a pena o valor da coisa furtada é insignificante, o juiz irá
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a absolver o réu por falta de tipicidade material.
2/3, ou aplicar somente a pena de multa.
Ex: furto de um relógio que custa 500 reais. Ex: furto de um relógio que custa 90 reais.

FURTO QUALIFICADO: as qualificadoras do art. 155, §4º, CP dizem respeito ao modo de execução do agente.

• Observações gerais:
Em todas as qualificadoras o furto é crime de elevado potencial ofensivo – não admite os benefícios da lei
9.099/95 (suspensão condicional do processo, transação penal).
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Todas as qualificadoras são de natureza objetiva, logo, elas se comunicam aos demais agentes no concurso de
pessoas.
Com exceção da qualificadora do abuso de confiança – natureza subjetiva – não se comunica.
É plenamente comum que o juiz reconheça duas ou mais qualificadoras do parágrafo § 4º, e se isso ocorrer, a
primeira servirá para qualificar o crime e as demais servirão como circunstância judicial para fixação da pena -
base acima do mínimo.
#VAICAIR #DEOLHONAJURIS #STJ Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado,
salvo quando presentes circunstâncias excepcionais que recomendam a medida. A despeito da presença de
qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da
conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado,
recomendando a aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. HC 553.872-SP, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

- Destruição: comportamento que faz desaparecer. Ex.: explosivos em caixas


eletrônicos.
- Rompimento: é o ato de deteriorar. Ex.: abrir um cofre com barra de ferro.

Exigência de perícia - #DEOLHONAJURIS - O reconhecimento da qualificadora de


Com destruição ou
rompimento de obstáculo exige a realização de exame pericial, o qual somente pode
rompimento de
ser substituído por outros meios probatórios quando inexistirem vestígios, o corpo de
obstáculo à
delito houver desaparecido ou as circunstâncias do crime não permitirem a confecção
subtração da coisa
do laudo. Ainda que a presença da circunstância qualificadora esteja em consonância
com a prova testemunhal colhida nos autos, mostra-se imprescindível a realização de
exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do CPP.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1814051/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
07/11/2019.
- Abuso de confiança: tem que ter relação de confiança (ex.: empregado que já
trabalha há anos com a vítima). Não basta a mera alegação de que o agente trabalhava
na empresa. É preciso se provar que a vítima depositou confiança no agente.
- Mediante fraude: furto qualificado pela fraude (#NÃOCONFUNDIR com o
estelionato!).
FURTO MEDIANTE FRAUDE ESTELIONATO
Emprega a fraude para facilitar a Emprega a fraude para fazer com
Com abuso de subtração da coisa. que a vítima lhe entregue a coisa
confiança, ou espontaneamente.
mediante fraude, Finalidade: a fraude visa diminuir a Finalidade: a fraude é usada para
escalada ou destreza vigilância da vítima sobre a coisa. induzimento da vítima ao erro.
O bem é retirado sem que a vítima O bem é entregue
perceba que está sendo espontaneamente ao agente.
despojada.
A vontade de alterar a posse é A vontade de alterar a posse é
UNILATERAL (apenas o agente BILATERAL (o agente e a vítima
quer) querem – a vítima enganada
entrega uma posse DESVIGIADA.)

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- Mediante destreza: presença de uma habilidade excepcional, desde que não seja
descoberto no ato da conduta delitiva. Assim, o magistrado apenas poderá acatar o
furto qualificado pela destreza quando o agente tenha excepcional habilidade em
retirar o bem da vítima sem que ela se aperceba (punguista) – STJ (INFO 554).
- O conceito de chave falsa abrange todo o instrumento, com ou sem forma de
Com emprego de
chave, utilizado como dispositivo para abrir fechadura, incluindo mixas (STJ, HC n.
chave falsa
101.495/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe 25/8/2008).
Mediante concurso
de duas ou mais - Partícipes são computados, inclusive o inimputável.
pessoas

Há outras qualificadoras previstas, com intervalos maiores de pena cominada, muitas delas adicionadas
recentemente:

Reclusão de 4 a 10 anos e Se cometido com emprego de explosivo ou artefato análogo que cause perigo
multa comum (incluído em 2018).
Subtração de veículo automotor que venha a ser destinado a outro Estado ou ao
Reclusão de 3 a 8 anos
exterior (incluído em 1996).
Subtração de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou
Reclusão de 2 a 5 anos
dividido em partes no local da subtração (incluído em 2016).
Subtração de substância explosiva ou de acessórios que, conjunta ou
Reclusão de 4 a 10 anos e
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego (incluído em
multa
2018).

DEMAIS QUALIFICADORAS
Emprego de explosivo • Inserida no Código Penal pela Lei n. 13.654, de 23 de abril de 2018;
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 • CRIME HEDIONDO - Essa modalidade de furto qualificado foi
(quatro) a 10 (dez) anos e multa, se transformada em crime hediondo pela Lei n. 13.964/2019 (Pacote
houver emprego de explosivo ou de Anticrime). A hipótese passou a constar do art. 1º, IX, da Lei n.
artefato análogo que cause perigo 8.072/90.
comum.
• A configuração dessa modalidade qualificada no crime de furto
impede o reconhecimento concomitante do crime de explosão (art. 51
do CP);
• A qualificadora pressupõe que a explosão provoque perigo comum,
ou seja, que provoque perigo a número elevado e indeterminado de
pessoas.
• Note-se que o furto no qual se utiliza um artefato explosivo traz em
si, necessariamente o rompimento de obstáculo, bem como é comum
que seja cometido mediante o concurso de pessoas. Nesses casos, em
que concorrem duas ou mais qualificadoras, o juiz deve aplicar a
qualificadora mais grave (emprego de artefato explosivo - § 4º-A) e
considerar o rompimento de obstáculo ou eventual concurso de
pessoas como circunstância judicial do art. 59 do Código Penal na
fixação da pena-base.

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Furto de veículo automotor • A qualificadora tem como objeto qualquer veículo automotor —
automóvel, motocicleta, van, caminhão, trator, ônibus, aeronave,
§ 5º - A pena é de reclusão de três a
lancha etc.
oito anos, se a subtração for de
veículo automotor que venha a ser • Para a configuração da qualificadora, é necessário que exista, já no
transportado para outro Estado ou momento da subtração, intenção de transportar o veículo para um dos
para o exterior. locais que a lei menciona; contudo, de acordo com o próprio texto
legal, pode-se concluir que a qualificadora só se aperfeiçoa se o agente
efetivamente transpõe a divisa com outro Estado ou a fronteira com
outro país. É que o dispositivo diz que a pena será maior se o veículo
vier a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
• Se o agente conseguiu subtrair o veículo e já estava em uma estrada
dirigindo-se para outro Estado, mas é parado em uma blitz e os policiais
acabam apreendendo o veículo, não se pode cogitar de tentativa de
furto qualificado. Primeiro porque o furto se consumou, visto que o
agente já estava na posse do bem há algum tempo. Segundo porque a
qualificadora do § 5º pressupõe que a divisa com o outro Estado seja
transposta, o que não aconteceu.
• Se o agente, estando próximo da divisa, subtrair um veículo e for
imediatamente perseguido, vindo a cruzar o marco divisório entre os
Estados, mas acabar preso, responderá por crime consumado de
acordo com o atual entendimento dos tribunais superiores no sentido
de que o furto não exige, para sua consumação, a posse tranquila do
bem.
Furto de substância explosiva ou • Essa forma qualificada foi incluída no Código Penal pela Lei n.
acessório 13.654/2018.

§ 7º — A pena é de reclusão de 4 a • Trata-se de punir com mais gravidade a subtração do próprio


10 anos, e multa, se a subtração for explosivo, independentemente de sua utilização.
de substâncias explosivas ou de
acessórios que, conjunta ou • Se, em um contexto fático, furtadores subtraem explosivos e,
isoladamente, possibilitem sua posteriormente, utilizam-no para explodir um caixa eletrônico e
fabricação, montagem ou emprego. subtrair o dinheiro de seu interior, eles devem responder por dois
crimes de furto qualificados. O primeiro é qualificado na figura deste §
7º, e o segundo qualificado na modalidade do § 4º-A. Como são duas
condutas distintas e com formas de execução diversas, a hipótese é de
concurso material.

#NÃOCONFUNDA: O Pacote Anticrime tornou hediondo o furto


qualificado pelo emprego de explosivo (§4º-A), mas não o furto de
substância explosiva.

• Repouso Noturno: a causa de aumento de pena do repouso noturno pode ser aplicada tanto para o furto
simples como para o furto qualificado.

Art. 155, § 1º — A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

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Esse instituto tem natureza jurídica de causa de aumento de pena (majorante).


#ATENÇÃO #DEOLHONAJURIS Para a configuração da circunstância majorante do § 1º do art. 155 do Código
Penal, basta que a conduta delitiva tenha sido praticada durante o repouso noturno, dada a maior
precariedade da vigilância e a defesa do patrimônio durante tal período e, por consectário, a maior
probabilidade de êxito na empreitada criminosa, sendo irrelevante o fato das vítimas não estarem dormindo
no momento do crime, ou, ainda, que tenha ocorrido em estabelecimento comercial ou em via pública, dado
que a lei não faz referência ao local do crime. STJ. 5ª Turma. AgRg-AREsp 1.746.597-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 17/11/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1849490/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha, julgado
em 15/09/2020.
#DEOLHONAJURIS Incide a causa de aumento de pena referente à prática do crime de furto durante o repouso
noturno ainda que o local dos fatos seja estabelecimento comercial ou residência desabitada, tendo em vista
a maior vulnerabilidade do patrimônio. Precedentes (AgRg no REsp 1.582.497/MG, Rel. Min. Antonio Saldanha
Palheiro, 6ª Turma, julgado em 15-8-2017, DJe 28-8-2017)

Causa de aumento: a pena aumenta-se de 1/3 de o crime é praticado durante o repouso noturno.
#NÃOCONFUNDA!

#PEGADINHA Para o crime de furto a ação penal é sempre pública incondicionada? Não!!! Cuidado com a
pegadinha dos arts. 182 e 183 do CP e no furto de coisa comum cuja Ação Penal será condicionada à
representação.

ROUBO (ART. 157, CP)

ROUBO PRÓPRIO ROUBO IMPRÓPRIO


ART. 157, “caput”, CP ART. 157, §1º, CP
A grave ameaça ou a violência é empregada antes ou A grave ameaça ou a violência é empregada após a
durante a subtração a fim de que o agente possa subtração a fim de assegurar impunidade do crime
alcançar a subtração do bem. ou a detenção da coisa.

Súmula 582-STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem, mediante emprego de violência
ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida a perseguição imediata ao agente e recuperação da
coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

• Não aplicabilidade do princípio da insignificância - #DEOLHONAJURIS - Não se aplica ao crime de roubo


porque se trata de delito complexo que envolve patrimônio, grave ameaça e a integridade física e psicológica
da vítima, havendo, portanto, interesse estatal na sua repressão. Assim, tal conduta não pode ser considerado
como de mínima ofensividade, desprovido de periculosidade social, de reduzido grau de reprovabilidade e de
inexpressividade. STJ. 6ª Turma. RHC 56431/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
18/06/2015.

ROUBO MAJORADO

• Art.127, § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:

CAUSAS DE AUMENTO
II — se há concurso de duas ou • Aplicam-se aqui as regras estudadas em relação ao crime de furto
mais pessoas. qualificado pelo concurso de agentes (art. 155, § 4º, IV, do CP),

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lembrando-se de que, no roubo, todavia, referido concurso constitui


causa de aumento de pena.

• O aumento incide tanto para coautores como para partícipes, mas existe
divergência em torno da hipótese em que uma só pessoa pratica ato de
execução.

• A absolvição de um dos agentes, não afasta o aumento da pena do


concurso de pessoas.

• Se o roubo for cometido na companhia de pessoa menor de idade,


o agente deve responder pelo roubo majorado e também pelo crime
de corrupção de menores do art. 244-B da Lei n. 8.069/90 (Estatuto
da Criança e do Adolescente).
#DEOLHONAJURIS “Não configura bis in idem a aplicação da majorante
relativa ao concurso de pessoas no roubo e a condenação do agente por
corrupção de menores, tendo em vista serem condutas autônomas que
atingem bens jurídicos distintos. Precedentes” (STJ — AgRg no REsp
1.806.593/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em 26-5-
2020, DJe 4-6-2020)

• A hipótese é de concurso formal entre os crimes de roubo e


corrupção de menores.
#DEOLHONAJURIS “O crime de corrupção de menor foi cometido no
mesmo contexto fático e momento da prática do crime de roubo, razão
pela qual se mostra mais correto o reconhecimento do concurso
formal de crimes, uma vez que não restou demonstrada, de forma
concreta, a autonomia das condutas ou a precedência de uma em
relação à outra. Infere-se no caso que, mediante uma única ação, o
paciente praticou ambos os delitos, tendo a corrupção de menores se
dado em razão da prática do delito patrimonial. Sendo assim, de rigor o
reconhecimento do concurso formal” (STJ — AgRg no HC 532.029/SP, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, 5ª Turma, julgado em 4-2-2020, DJe 13-2-2020);

#OLHAOGANCHO - O deslocamento da majorante sobejante para outra


fase da dosimetria, além de não contrariar o sistema trifásico, é a que
melhor se coaduna com o princípio da individualização da pena. Exemplo:
Camila foi condenada pela prática do crime de roubo circunstanciado com
o reconhecimento de três causas de aumento de pena (art. 157, § 2º, II, V
e VII). O juiz pode empregar a majorante do inciso II (concurso de
agentes) na terceira fase da dosimetria e utilizar as outras na primeira
fase como circunstâncias judiciais negativas. STJ. 3ª Seção. HC 463434-
MT, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/11/2020 (Info
684).

( Vide comentários do art. 155, § 4º, IV, do CP)

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III — se a vítima está em • O presente dispositivo tem por finalidade conferir proteção aos que
serviço de transporte de trabalham com transporte de valores, assim como àqueles que necessitam
valores e o agente conhece tal desse tipo de serviço para deslocar seus bens ou valores de um local
circunstância. para outro (bancos, joalherias, empresas em geral etc.).

• Só incide quando a vítima transporta valores de terceiros e não valores


próprios.

• De acordo com o texto legal, é necessário, ainda, que o agente tenha


plena ciência de que está roubando alguém que está em serviço de
transporte de valores, sendo, portanto, incabível o dolo eventual quanto
a este aspecto.

#DEOLHONAJURIS - O inciso III do § 2º do art. 157 do Código Penal prevê


que a pena do delito de roubo é majorada se a vítima estava em serviço
de transporte de valores e o agente conhecia essa circunstância. Quando
o dispositivo fala em “transporte de valores” não se restringe a dinheiro
em espécie, abrangendo outros bens e produtos que possuam expressão
econômica. No caso concreto, o STJ reconheceu que incide a majorante
prevista no inciso III do § 2º do art. 157 do CP na hipótese em que o autor
praticou o roubo ciente de que as vítimas, funcionários dos Correios,
transportavam grande quantidade de produtos cosméticos de expressivo
valor econômico e liquidez. STJ. 5ª Turma. REsp 1309966-RJ, Min. Rel.
Laurita Vaz, julgado em 26/8/2014 (Info 548).
IV — se a subtração for de • São dois os requisitos:
veículo automotor que venha a) O objeto material deve ser um veículo automotor. O conceito de veículo
a ser transportado para outro automotor está contido no Anexo I, do CTB, que inclui além do automóvel,
Estado ou para o exterior. as motos, jet-skis, etc. Tem que ser transportado em seu todo, não incide
sobre as peças.
b)Transporte para outro Estado ou para o exterior:

• Tal como ocorre com a qualificadora do furto, essa causa de


aumento só se aperfeiçoa quando o agente cruza a divisa com outro
Estado ou a fronteira com outro país.
(vide comentários ao art. 155, § 5º, do CP).

V — se o agente mantém a • Essa modalidade de roubo majorado foi inserida no rol dos CRIMES
vítima em seu poder, HEDIONDOS pela Lei n. 13.964/2019 (art. 1º, II, “a”, da Lei n. 8.072/90).
restringindo sua liberdade.
• O dispositivo em análise refere-se à restrição de liberdade, que não
se confunde com privação de liberdade — elementar do crime de
sequestro ou cárcere privado (art. 148 do CP).
RESTRIÇÃO (Art. 157 §2º V) na restrição da liberdade, por sua vez, a vítima
é mantida em poder do roubador apenas por alguns minutos, ocorre por
tempo suficiente para garantir a ação do agente. (Ex. roubo de veículo, em
que a vítima é colocada no porta malas, até o agente chegar numa rodovia
para larga-la em uma estrada e fugir com o carro).

80
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PRIVAÇÃO (art. 148 do CP) é mais duradoura, exige que a vítima seja
mantida em poder do sequestrador por tempo juridicamente relevante.
(Ex.:Rouba a vítima coloca uma pessoa no porta malas e pratica-se
inúmeros roubos.)

VI – se a subtração for de • Essa forma majorada foi incluída no Código Penal pela Lei n.
substâncias explosivas ou de 13.654/2018.
acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem • O que torna a pena mais grave é o objeto material do delito. O agente,
sua fabricação, montagem ou mediante violência ou grave ameaça, subtrai substância explosiva ou
emprego. acessório que, conjunta ou isoladamente, possibilite a sua fabricação,
montagem ou emprego. Ex: sujeito que, mediante violência ou grave
ameaça, subtrai uma banana de dinamite do quartel do Exército.
VII — se a violência ou grave • #PACOTEANTICRIME - Esse dispositivo foi inserido no Código Penal
ameaça é exercida com pela Lei n. 13.964/2019.
emprego de arma branca.
#TABELACOMPARATIVA #COLANARETINA
ROUBO MEDIANTE EMPREGO DE ARMA

Depois da Lei Depois da Lei


Antes da Lei
13.654/2018 até a Lei 13.964/2019
13.654/2018
13.964/2019 (atualmente)

Tanto a arma de fogo Apenas o emprego de Tanto a arma de


como a arma branca arma de fogo é causa fogo como a arma
eram causas de de aumento de pena. branca são causas
aumento de pena. O emprego de arma de aumento de
branca deixou de ser pena.
causa de aumento de
pena
(apenas servindo para
configurar o crime de
roubo simples).

O emprego de arma O emprego de arma de O emprego de arma


(seja de fogo, seja fogo é punido com branca é punido com
branca) era punido aumento de 2/3 da aumento de 1/3 até
com aumento de 1/3 a pena. 1/2 (metade).
1/2 da pena. O emprego de arma
de fogo é punido
com aumento de 2/3
da pena.

• Assim, a Lei nº 13.654/2018 deixou de punir com mais rigor o agente que
praticava o roubo com arma branca. Pode-se, portanto, dizer que a Lei nº
13.654/2018, neste ponto, foi mais benéfica. Isso significa que ela, neste
tema, retroagiu para atingir todos os roubos praticados mediante arma
branca.
81
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• Nos casos em que se aplica a Lei nº 13.654/2018, é possível a valoração


do emprego de arma branca, no crime de roubo, como circunstância
judicial desabonadora.
#DEOLHONAJURIS #IMPORTANTE – A Lei nº 13.654/2018 entrou em vigor
no dia 24/04/2018. Antes dessa Lei, o emprego de arma branca era
considerado causa e aumento de pena no roubo. Essa Lei, contudo, deixou
de prever a arma branca como majorante. Suponhamos que, no dia
25/04/2018, João, usando um canivete, ameaçou a vítima, subtraindo dela
o telefone celular. O juiz, ao condenar o réu, não poderá, na 3ª fase da
dosimetria da pena, utilizar a “arma branca” como causa de aumento de
pena. Diante disso, nada impede que o magistrado utilize esse fato
(emprego de arma branca) como uma circunstância judicial negativa,
aumentando a pena-base na 1ª fase da dosimetria da pena.
Assim, no período de aplicação da Lei nº 13.654/2018, o juiz está proibido
de utilizar essa circunstância (emprego de arma branca) como causa de
aumento de pena, mas nada impede que considere isso como
circunstância judicial negativa, na fase do art. 59 do CP. STJ. 5ª Turma. HC
556629-RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/03/2020 (Info 668).
§ 2º-A, II — A pena aumenta- • Essa modalidade de roubo majorado foi inserida no rol dos CRIMES
se de dois terços se há HEDIONDOS pela Lei n. 13.964/2019 (art. 1º, II, “a”, da Lei n. 8.072/90).
destruição ou rompimento de
obstáculo mediante o • Para a configuração dessa majorante é necessário que tenha havido
emprego de explosivo ou de emprego de violência contra pessoa ou grave ameaça (premissa para
artefato análogo que cause o crime de roubo) e que também tenha havido destruição ou
perigo comum. rompimento de obstáculo com emprego de explosivo. Ex.: roubadores
apontam uma arma para seguranças de um estabelecimento bancário a
fim de subjugá-los e, posteriormente, explodem a porta do cofre para
subtrair os valores. Se não houver emprego de violência contra pessoa
ou grave ameaça o crime é o de furto qualificado.

• EMPREGO DE ARMA DE FOGO:

Art. 157, § 2º-A, I — A pena aumenta-se de dois terços se a violência ou ameaça é exercida com emprego de
arma de fogo.
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

• #NÃOESQUEÇA: CRIME HEDIONDO. A Lei n. 13.964/2019 inseriu o crime de roubo cometido com
emprego de arma de fogo no rol dos crimes hediondos (art. 1º, II, “b”, da Lei n. 8.072/90).

• Como visto, antes da aprovação da Lei n. 13.964/2019, o emprego de qualquer tipo de arma de
fogo para a prática de roubo era enquadrado nesse dispositivo.
• Ocorre que referida lei inseriu no § 2º-B do art. 157, a previsão de que a pena do roubo será aplicada
em dobro se houver emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito.

Assim, há de ser feita a seguinte distinção:

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a) se o agente comete o roubo com arma de fogo de uso permitido (§ 2º-A, I), a pena será aumentada em
2/3;
b) se faz uso de arma de fogo de uso proibido ou restrito (§ 2º-B), a pena será aplicada em dobro.16
• Se o roubo for praticado por duas pessoas e só uma utilizar a arma de fogo, o aumento valerá para
ambas.
• Se forem usadas duas ou mais armas e houver enquadramento em dois desses dispositivos, será
aplicado apenas o aumento maior.

EMPREGO DE ARMA DE FOGO - SITUAÇÕES ESPECIAIS

• Simulação de porte de arma;


• Uso de arma de brinquedo;
• Uso de arma desmuniciada;
• Uso de arma com defeito;
Nesses 4(quatro) casos estará caracterizado o crime de roubo pela grave ameaça, visto que existe o poder
intimidatório . Todavia, quanto a incidência ou não da causa de aumento do §2º, I, veremos a seguir.

Desnecessidade de apreensão e perícia - O reconhecimento da referida causa de aumento prescinde


(dispensa) da apreensão e da realização de perícia na arma, desde que o seu uso no roubo seja provado por
outros meios de prova, tais como a palavra da vítima ou mesmo de testemunhas. STF. 1ª Turma. HC
108034/MG, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 05/06/2012. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 449102/MS, Rel. Min.
Nefi Cordeiro, julgado em 09/10/2018.
• Simulação de arma
Pacificou-se na doutrina e jurisprudência que o fato de o agente mentir que está armado, quer verbalmente,
quer por meio de gesto (encostando um de seus dedos nas costas da vítima, ou colocando sua mão sob a
blusa, por exemplo), não constitui emprego de arma de fogo, pois o agente, evidentemente, não manuseou
qualquer arma.
#DEOLHONAURIS - “A simulação de arma de fogo não pode ser utilizada para majorar a pena-base, sob pena
de incorrer em indevido bis in idem, pois tal circunstância já foi valorada para a tipificação da conduta como
crime de roubo, caracterizando a elementar da grave ameaça. Precedentes” (STJ — HC 575.728/SP, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, 5ª Turma, julgado em 23- 6-2020, DJe 26-6-2020).
• Arma de brinquedo

16
Armas de fogo de uso restrito, nos termos do art. 2º, II, do Decreto n. 9.847/2019, são: as armas de fogo
automáticas e as semiautomáticas ou de repetição que sejam: a) não portáteis; b) de porte, cujo calibre nominal,
com a utilização de munição comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas
libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules; ou c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de
munição comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil
seiscentos e vinte joules. A relação específica de armas de fogo, cujo calibre nominal, com a utilização de
munição comum, atingem, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil seiscentos e vinte joules, encontra-
se na Portaria n. 1.222/2019 do Comando do Exército.
Armas de uso proibido são aquelas para as quais há vedação total ao uso. De acordo com o art. 2º, III, do Decreto
n. 9.847/2019, são armas de fogo de uso proibido: a) as armas de fogo classificadas como de uso proibido em
acordos e tratados internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja signatária; ou b) as armas de
fogo dissimuladas, com aparência de objetos inofensivos.

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Até 2002, a grande maioria dos julgados era no sentido de reconhecer o aumento no uso da arma de brinquedo.
Havia até a Súmula 174 do STJ afirmando isso. Contudo, essa súmula foi cancelada, de modo que, atualmente,
no crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo não autoriza o aumento da pena.
• Arma desmuniciada
STJ: NÃO. O emprego de arma de fogo desmuniciada tem o condão de configurar a grave ameaça e tipificar o
crime de roubo, no entanto NÃO É suficiente para caracterizar a majorante do emprego de arma, pela ausência
de potencialidade lesiva no momento da prática do crime (STJ. 5ª Turma. HC 449.697/SP, Rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 21/06/2018).

STF: SIM. É irrelevante o fato de estar ou não municiada para que se configure a majorante do roubo (STF. 2ª
Turma. RHC 115077, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 06/08/2013).
• Arma com defeito
Como visto, não se mostra necessária a apreensão e perícia da arma de fogo empregada no roubo para
comprovar o seu potencial lesivo. No entanto, se a arma é apreendida e periciada, sendo constatada a sua
inaptidão para a produção de disparos, neste caso, não se aplica a majorante do art. 157, § 2º, I, do CP, sendo
considerado roubo simples (art. 157, caput, do CP). STJ. 5ª Turma. HC 331338/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 13/10/2015.

- Se o defeito faz com que o instrumento utilizado pelo agente seja absolutamente ineficaz, não incide a
majorante. Ex: revólver que não possui mecanismo necessário para efetuar disparos. Nesse caso, o revólver
defeituoso servirá apenas como meio para causar a grave ameaça à vítima, conforme exige o caput do art. 157,
sendo o crime o de roubo simples;

- Se o defeito faz com que o instrumento utilizado pelo agente seja relativamente ineficaz, INCIDE a majorante.
Ex: revólver que algumas vezes trava e não dispara. Nesse caso, o revólver, mesmo defeituoso, continua tendo
potencialidade lesiva, de sorte que poderá causar danos à integridade física, sendo, portanto, o crime o de roubo
circunstanciado.
• Causa de aumento e crime de porte ilegal de arma de fogo
Geralmente, o crime de porte ilegal de arma de fogo é absorvido pelo crime de roubo circunstanciado. Aplica-
se o princípio da consunção, considerando que o porte ilegal de arma de fogo funciona como crime meio para a
prática do roubo (crime fim), sendo por este absorvido.
A conduta de portar arma ilegalmente é absorvida pelo crime de roubo, quando, ao longo da instrução criminal,
restar evidenciado o nexo de dependência ou de subordinação entre as duas condutas e que os delitos foram
praticados em um mesmo contexto fático, incidindo, assim, o princípio da consunção (STJ HC 178.561/DF).
No entanto, poderá haver condenação pelo crime de porte em concurso material com o roubo se ficar provado
nos autos que o agente portava ilegalmente a arma de fogo em outras oportunidades antes ou depois do crime
de roubo e que ele não se utilizou da arma tão somente para cometer o crime patrimonial. Ex: “Tício”, às 13h,
mediante emprego de um revólver, praticou roubo contra “Caio”, que estava na parada de ônibus (art. 157, §
2º-A, I, CP). No mesmo dia, por volta das 14h 30min, em uma blitz de rotina da polícia (sem que os policiais
soubessem do roubo ocorrido), “Ticio” foi preso com os pertences da vítima e com o revólver empregado no
assalto. Em um caso semelhante a esse, a 5ª Turma do STJ reconheceu o concurso material entre o roubo e o
delito do art. 14, da Lei nº 10.826/2003, afastando o princípio da consunção.
STJ. 5ª Turma. HC 199031/RJ, Rel. Ministro Jorge Mussi, 5ª Turma, julgado em 21/06/2011.
STF. 1ª Turma. RHC 106067, Rel. Min. Rosa Weber, 1ª Turma, julgado em 26/06/2012.

ROUBO QUALIFICADO PELO RESULTADO

Art. 157, § 3º — Se da violência resulta:


I — lesão corporal grave, a pena é de reclusão de sete a dezoito anos, e multa;
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II — morte, a pena é de reclusão de vinte a trinta anos, e multa.

- LESÃO GRAVE:

• As lesões graves que qualificam o roubo são aquelas descritas no art. 129, §§ 1º e 2º, do Código Penal.
A provocação de lesão leve em decorrência da violência empregada fica absorvida pelo crime de roubo, na
medida em que o texto legal não a menciona como forma qualificada tampouco ressalva a sua autonomia, tal
como ocorre em outros delitos.

• Se a subtração fica na esfera da tentativa, mas o agente efetivamente provoca lesões graves na vítima,
responde pelo crime qualificado consumado.
#DEOLHONAJURIS “O tipo penal concernente ao roubo qualificado pelo resultado lesão corporal grave
(CP, art. 157, § 3º, primeira parte) realiza-se em todos os seus elementos estruturais (‘essentialia delicti’),
dando ensejo ao reconhecimento da consumação desse delito, sempre que o agente, procedendo com a
intenção de executar a subtração patrimonial (embora frustrada em sua efetivação), comete violência
física de que resultem lesões corporais de natureza grave (HC n. 71.069, Ministro Celso de Mello). 2. Recurso
especial provido” (STJ — REsp 1.582.657/MG — Rel. Min. Sebastião Reis Junior — 6ª Turma — julgado em
24-5-2016 — DJe 13-6-2016).

• A pena máxima para essa modalidade qualificada pelo resultado era de 15 anos, mas foi
aumentada para 18 anos por ocasião da aprovação da Lei n. 13.654/2018.

-- MORTE (LATROCÍNIO):

• O latrocínio se verifica quando a violência física empregada pelo agente, durante e em razão do
roubo, provoca a morte da vítima.
• Nem todo roubo qualificado é latrocínio. Latrocínio é somente o roubo qualificado pela morte.
LATROCÍNIO (REQUISITOS)
Que a morte seja Que a violência causadora da Que haja nexo causal entre a
decorrente da violência morte tenha sido violência provocadora da
empregada empregada durante o contexto morte e o roubo em andamento
pelo agente (violência seja fático do roubo (violência empregada em
intencional) razão do roubo).

• CONSUMAÇÃO: Súmula 610-STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
não realize o agente a subtração de bens da vítima.

#SELIGANATABELA
SUBTRAÇÃO MORTE RESULTADO
SUBTRAÇÃO CONSUMADA MORTE CONSUMADA LATROCÍNIO CONSUMADO
LATROCÍNIO TENTADO ou roubo
SUBTRAÇÃO CONSUMADA MORTE TENTADA com lesão corporal grave. Depende
do dolo.

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SUBTRAÇÃO TENTADA MORTE TENTADA LATROCÍNIO TENTADO

SUBTRAÇÃO TENTADA MORTE CONSUMADA LATROCÍNIO CONSUMADO

• COMPETÊNCIA: Súmula n. 603 do STF “a competência para o processo e julgamento de latrocínio


é do juiz singular e não do Tribunal do Júri”

• STJ: ocorrendo uma única subtração, porém com duas ou mais mortes, haverá concurso formal impróprio de
latrocínios.
• STF: sendo atingido um único patrimônio, haverá apenas um crime de latrocínio, independentemente do
número de pessoas mortas. O número de vítimas deve ser levado em consideração na fixação da pena-base (art.
59 do CP). É a posição também da doutrina majoritária.

EXTORSÃO (ART. 158, CP)


EXTORSÃO ROUBO
O agente faz com que a vítima entregue a coisa. O agente subtrai a coisa pretendida. Subtrair.
Constranger #OLHEOVERBO. #OLHEOVERBO.
A colaboração da vítima é indispensável. A colaboração da vítima é dispensável.
A vantagem buscada pelo agente é
contemporânea ao constrangimento ou posterior A vantagem buscada é para agora.
a ele.
Vantagem econômica indevida: bem móvel ou
Vantagem econômica indevida: somente bem móvel.
imóvel.

Consumação: o crime de extorsão se consuma com o constrangimento, desde que a vítima faça ou deixe de
fazer o que o réu exigiu (do contrário há mera tentativa – há posicionamento do STJ nesse sentido),
independentemente da obtenção da vantagem indevida. O recebimento da vantagem indevida é mero
exaurimento do crime. É crime formal.

Súmula 96 STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida.

Extorsão seguida de morte: trata-se de crime preterdoloso que constitui crime hediondo.

Extorsão indireta: exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que
pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro (art. 160, CP).

AÇÃO PENAL NO CRIME DE ESTELIONATO (ART. 171, § 5º, DO CP)


QUAL É A AÇÃO PENAL NO CASO DO CRIME DE ESTELIONATO?
Antes Depois da Lei nº 13.964/2019
Ação penal pública Em regra, é crime de ação penal pública condicionada à representação.
incondicionada Exceções:
Será de ação penal incondicionada quando a vítima for:
a) a Administração Pública, direta ou indireta;
b) criança ou adolescente;
c) pessoa com deficiência mental; ou
d) maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

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#APOSTACICLOS #DEOLHONAJURIS: A exigência de representação da vítima no crime de estelionato não


retroage aos processos cuja denúncia já foi oferecida. STJ. 3ª Seção. HC 610201/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 24/03/2021 (Info 691).

#NOVIDADELEGISLATIVA #AJUDAMARCINHO: Alterações produzidas pela Lei 14.155/2021:

I – VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO (ART. 154-A DO CP)


O art. 154-A do Código Penal quatro o crime de invasão de dispositivo informático. O delito foi inserido no Código
Penal pela Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012, chamada pela imprensa de “Lei Carolina Dieckmann”,
tendo em vista que a atriz havia sido vítima dessa conduta poucos meses antes (em maio de 2012), quando
ainda não havia uma figura típica específica.
A Lei nº 14.155/2021 promoveu quatro alterações no crime do art. 154-A:
1) modificou a redação do caput, ampliando a incidência do tipo penal;
2) majorou a pena do crime na sua forma básica (caput do art. 154-A);
3) majorou os limites da causa de aumento de pena do § 2º;
4) majorou a pena da qualificadora do § 3º.

CÓDIGO PENAL
ANTES da Lei 14.155/2021 DEPOIS da Lei 14.155/2021
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, Art. 154-A. Invadir dispositivo informático de uso
conectado ou não à rede de computadores, mediante alheio, conectado ou não à rede de computadores,
violação indevida de mecanismo de segurança e com o com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do
informações sem autorização expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar
titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa. multa.

Bem jurídico protegido


O bem jurídico protegido neste crime é a privacidade, gênero do qual são espécies a intimidade e a vida privada.
Desse modo, esse novo tipo penal tutela valores protegidos constitucionalmente (art. 5º, X, da CF/88).
“O direito à privacidade, em sentido mais estrito, conduz à pretensão do indivíduo de não ser foco da observação
por terceiros, de não ter os seus assuntos, informações pessoais e características particulares expostas a
terceiros ou ao público em geral.” (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo
Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 1ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 370).

Sujeito ativo
Pode ser qualquer pessoa (crime comum).
Obviamente que não será sujeito ativo desse crime a pessoa que tenha autorização para acessar os dados
constantes do dispositivo.

Sujeito passivo
A vítima pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica.

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Alterações da Lei nº 14.155/2021


· Antes: o tipo penal falava em invadir dispositivo informático alheio;
· Agora: o crime é invadir dispositivo informático de uso alheio.

· Antes: o tipo falava que era crime invadir sem autorização expressa ou tácita do TITULAR do dispositivo.
· Agora: o crime é invadir sem autorização expressa ou tácita do USUÁRIO do dispositivo.

A mudança teve por objetivo deixar claro que o sujeito passivo do delito não precisa ser necessariamente o
proprietário do dispositivo, podendo a invasão ocorrer em um dispositivo que esteja sendo utilizado por alguém
– que não é seu dono – mas que teve a sua privacidade violada.
Assim, na maioria dos casos, a vítima é o proprietário do dispositivo informático.
No entanto, é possível identificar, em algumas situações, como sujeito passivo, o indivíduo que, mesmo sem ser
o dono do computador, celular etc., é a pessoa que efetivamente utiliza o dispositivo para armazenar seus dados
ou informações que foram acessados indevidamente. É o caso, por exemplo, de um computador utilizado por
vários membros de uma casa ou no trabalho, onde cada um tem perfil e senha próprios.

Análise das elementares do tipo


Invadir:
Ingressar, sem autorização, em determinado local. A invasão de que trata o artigo é “virtual”, ou seja, no sistema
ou na memória do dispositivo informático.

Dispositivo informático:
Em informática, dispositivo é o equipamento físico (hardware) que pode ser utilizado para rodar programas
(softwares) ou ainda para ser conectado a outros equipamentos, fornecendo uma funcionalidade. Exemplos:
computador, tablet, smartphone, memória externa (HD externo), entre outros.

De uso alheio:
O dispositivo no qual o agente ingressa deve ser de uso de terceiro.

Conectado ou não à rede de computadores:


Apesar do modo mais comum de invasão em dispositivos ocorrer por meio da internet, a Lei admite a
possibilidade de ocorrer o crime mesmo que o dispositivo não esteja conectado à rede de computadores. É o
caso, por exemplo, do indivíduo que, na hora do almoço, aproveita para acessar, sem autorização, o computador
do colega de trabalho.

Mecanismo de segurança. Alteração da Lei nº 14.155/2021


· Antes: o tipo penal exigia que a invasão no dispositivo informático alheio ocorresse “mediante violação
indevida de mecanismo de segurança”. Exemplos de mecanismos de segurança: firewall (existente na maioria
dos sistemas operacionais), antivírus, anti-malware, antispyware, senha para acesso.
· Agora: essa exigência foi abolida.

Veja o seguinte exemplo prático para entendermos a alteração:


Determinado indivíduo, na hora do almoço, aproveita para acessar, sem autorização, o computador do colega
de trabalho, tendo acesso a dados privativos. Vale ressaltar que esse computador não é protegido por senha ou
qualquer outro mecanismo de segurança.
Pela literalidade da redação anterior, não haveria crime, considerando que não houve violação de mecanismo
de segurança. Pela redação atual, será sim crime.

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Outro exemplo: imagine que um funcionário encontrou o pen drive (não protegido por senha) de seu colega de
trabalho e decidiu vasculhar os documentos e fotos ali armazenados. Pela redação anterior, não haveria crime.
Pela redação atual, o delito restará configurado.
Houve, portanto, a correção de uma falha da Lei. Isso porque, mesmo sem a violação de mecanismo de
segurança, a privacidade estava sendo violada e, portanto, merecia reprimenda penal.

Com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do
dispositivo.
Ex: cracker que ingressa no computador de uma atriz para obter suas fotos lá armazenadas.
Atenção: se houver autorização expressa ou tácita do usuário do dispositivo, não haverá crime. Ex: determinado
banco contrata uma empresa especializada em segurança digital para que faça testes e tente invadir seus
servidores.

Ou com o fim de instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.


É o caso, por exemplo, do indivíduo que invade o computador e instala programa espião que revela as senhas
digitadas pela pessoa ao acessar sites de bancos.

Pena. Alteração da Lei nº 14.155/2021


Houve um aumento da pena imposta:
· Antes: detenção, de 3 meses a 1 ano.
· Agora: reclusão, de 1 a 4 anos.

Com a mudança, o art. 154-A do CP deixa de ser crime de menor potencial ofensivo, não estando mais sujeito à
competência do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei nº 9.099/95).
Por outro lado, continua sendo cabível suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95) e acordo
de não-persecução penal (art. 28-A do CPP).

Figura equiparada
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de
computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.

É o caso, por exemplo, do indivíduo que desenvolve um programa do tipo “cavalo de troia” (trojan horse), ou
seja, um malware (software malicioso) que, depois de instalado no computador, libera uma porta para que seja
possível a invasão da máquina.

Se a invasão gerou prejuízo econômico (causa de aumento)


Alteração da Lei nº 14.155/2021
· Antes: aumentava a pena de 1/6 a 1/3.
· Agora: aumenta a pena de 1/3 a 2/3.
CÓDIGO PENAL
ANTES da Lei 14.155/2021 DEPOIS da Lei 14.155/2021
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da § 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3
invasão resulta prejuízo econômico. (dois terços) se da invasão resulta prejuízo
econômico.

Invasão qualificada pelo resultado (qualificadora)


O § 3º do art. 154-A prevê uma qualificadora nos seguintes termos:
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§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais


ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo
invadido:
(...)

Assim, haverá a qualificadora prevista neste § 3º se, com a invasão, o agente conseguir obter o conteúdo de:
a) Comunicações eletrônicas privadas (e-mails, SMS, diálogos em programas de troca de mensagens etc);
b) Segredos comerciais ou industriais;
c) Informações sigilosas (o sigilo que qualifica o crime é aquele assim definido em lei).

Incidirá também a qualificadora no caso do invasor conseguir obter o controle remoto do dispositivo invadido.

Alteração da Lei nº 14.155/2021


· Antes: a pena para essa qualificadora era de 6 meses a 2 anos.
· Agora: a pena passou a ser de 2 a 5 anos.
CÓDIGO PENAL
ANTES da Lei 14.155/2021 DEPOIS da Lei 14.155/2021
Art. 154 (...) Art. 154 (...)
§ 3º (...) § 3º (...)
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
multa, se a conduta não constitui crime mais grave.

II – ALTERAÇÕES NO CRIME DE FURTO


A Lei nº 14.155/2021 também promoveu duas alterações no art. 155, que trata sobre furto:
· inseriu o § 4º-B, prevendo a qualificadora de furto mediante fraude cometido por meio de dispositivo
eletrônico ou informático;
· acrescentou o § 4º-C, com duas causas de aumento de pena relacionadas com o § 4º-B.
Vamos entender essas mudanças. Inicio a explicação com uma pergunta:

Se o agente invade o computador da vítima, lá instala um malware (programa malicioso), descobre sua senha
e subtrai valores de sua conta bancária, comete qual delito?
· Antes da Lei nº 14.155/2021: essa conduta se amoldava ao crime de furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II,
do CP). Confira a redação:
Art. 155 (...)
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
(...)
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

· Depois da Lei nº 14.155/2021: passou a existir um tipo penal específico para tratar sobre essa hipótese. Trata-
se do art. 155, § 4º-B, do CP:

Furto mediante fraude cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático


Art. 155. (...)
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por
meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a
violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo.
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Causa de aumento de pena


Art. 155 (...)
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso:
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor
mantido fora do território nacional;
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável.

Inciso I
A pena é aumentada em razão do fato representar, de algum modo, uma ameaça à soberania nacional. Além
disso, essa circunstância acarreta uma maior dificuldade na identificação e eventual responsabilização penal dos
envolvidos, justificando uma maior reprimenda.

Inciso II
· Idoso: o conceito de idoso no Brasil é dado pelo art. 1º da Lei nº 10.741/2003. Assim, idoso é a pessoa com
idade igual ou superior a 60 anos.
· Vulnerável: como não foi dado um conceito específico, deve-se utilizar a definição do art. 217-A, caput e § 1º,
do CP. Desse modo, podem ser considerados vulneráveis:
a) a pessoa menor de 14 anos;
b) a pessoa que, em razão de enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática de determinados atos.

Critério para definir qual fração será aplicada


O juiz, no momento da dosimetria, deverá definir qual é a fração de aumento que será imposta (1/3, 1/2, 2/3
etc.). Essa escolha deverá ser fundamentada e levará em consideração a “relevância do resultado gravoso”.
Assim, por exemplo, se o idoso teve um prejuízo patrimonial muito elevado, o magistrado poderá utilizar essa
circunstância para impor um aumento no patamar de 2/3.

Elemento subjetivo
Para que o autor responda pelas causas de aumento de pena é indispensável que exista dolo (consciência e
vontade), ou seja, é necessário que o agente saiba que, no caso concreto, está sendo utilizado um servidor
mantido no exterior ou que a vítima seja idosa ou vulnerável.
Rogério Sanches foi quem alertou para essa exigência:
“Note-se, por fim, que a majoração da pena pressupõe a ciência das circunstâncias referidas no § 4º-C. O autor
da subtração deve ter conhecimento de que sua conduta se vale de conexão internacional. Ou deve saber que
a vítima é idosa ou vulnerável, o que nem sempre ocorrerá, em razão das circunstâncias dos crimes cibernéticos,
nos quais muitas vezes o criminoso não tem nenhum contato – nem mesmo remoto – com sua vítima.” (CUNHA,
Rogério Sanches. Lei 14.155/21 e os crimes de fraude digital: primeiras impressões e reflexos no CP e no CPP.
Disponível em https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2021/05/28/lei-14-15521-e-os-crimes-de-
fraude-digital-primeiras-impressoes-e-reflexos-no-cp-e-no-cpp/)

III – ALTERAÇÕES NO CRIME DE ESTELIONATO


A Lei nº 14.155/2021 realizou três alterações no art. 171, que trata sobre estelionato:
· inseriu o § 2º-A, prevendo a qualificadora do estelionato mediante fraude eletrônica;
· acrescentou o § 2º-B, com uma causa de aumento de pena relacionada com o § 2º-A;
· modificou a redação da causa de aumento de pena do § 4º.
Veja a nova qualificadora:

Fraude eletrônica
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Art. 171 (...)


§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de
informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos
telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.

Em que consiste o crime:


O agente obtém vantagem ilícita por meio de informações da vítima que ele obteve da própria vítima ou de um
terceiro que foram induzidos em erro.
O grande diferencial aqui é que a atuação do agente foi por meio eletrônico, ou seja, a vítima ou o terceiro foram
induzidos a erro por meio de:
· redes sociais (ex: Facebook, Instagram);
· contatos telefônicos (ex: simulando que se trata de ligação da operadora de cartão de crédito);
· envio de correio eletrônico fraudulento (ex: e-mail que imita correspondência da loja, banco etc.);
· ou qualquer outro meio fraudulento análogo.

Cuidado para não confundir:


Furto mediante fraude por dispositivo eletrônico Estelionato mediante fraude eletrônica
ou informático (art. 155, § 4º-B) (art. 171, § 2º-A)
O agente subtrai coisa alheia móvel por meio de O agente obtém vantagem ilícita com a utilização de
dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou informações fornecidas pela vítima ou por terceiro
não à rede de computadores, com ou sem a induzido a erro por meio de redes sociais, contatos
violação de mecanismo de segurança ou a utilização telefônicos ou e-mail fraudulento, ou por qualquer
de programa malicioso, ou por qualquer outro meio outro meio fraudulento análogo.
fraudulento análogo.
Pena: 4 a 8 anos. Pena: 4 a 8 anos.
Exemplo de Rogério Sanches: Exemplo de Rogério Sanches:
“Aproveitando a vulnerabilidade de pessoas que “Pretendendo adquirir um televisor, um indivíduo faz
utilizam uma rede pública de internet, um hacker uma pesquisa na internet e encontra a página de uma
intercepta a conexão e obtém dados de acesso a conhecida rede varejista na qual o produto está sendo
contas bancárias. Com esses dados à disposição, anunciado por um preço muito abaixo das
acessa as contas e transfere quantias em dinheiro concorrentes. Insere seus dados pessoais e bancários
para outra conta da qual efetua saques. É um caso sem saber que, na verdade, se trata de uma página
típico de furto mediante fraude, no qual a manobra clonada, que apenas copia os caracteres da famosa
ardilosa (interceptar os dados transmitidos entre o rede varejista, para induzir as pessoas em erro.
usuário e o ponto de conexão) é utilizada para que Efetuado o pagamento, o dinheiro é creditado ao autor
as vítimas sejam despojadas de seus bens sem que da fraude, que evidentemente não pretende entregar
nada percebam.” (CUNHA, Rogério Sanches. Lei o produto anunciado. Nesse exemplo, ao contrário do
14.155/21 e os crimes de fraude digital: primeiras anterior, a vítima tem participação direta, pois,
impressões e reflexos no CP e no CPP. Disponível em induzida por um anúncio enganoso, fornece os dados
https://meusitejuridico. para que o autor da fraude possa obter a vantagem.
editorajuspodivm.com.br/2021/05/28/lei-14- Trata-se, portanto, de estelionato.”
15521-e-os-crimes-de-fraude-digital-primeiras-
impressoes-e-reflexos-no-cp-e-no-cpp/)

Causa de aumento de pena


Art. 171 (...)

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§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se de
1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
território nacional.

Mudança na causa de aumento de pena do § 4º do art. 171


CÓDIGO PENAL
ANTES da Lei 14.155/2021 DEPOIS da Lei 14.155/2021
Estelionato contra idoso Estelionato contra idoso ou vulnerável
§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for § 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se
cometido contra idoso. o crime é cometido contra idoso ou vulnerável,
considerada a relevância do resultado gravoso.

Percebam que, neste caso, houve uma novatio legis in mellius porque, antes, a pena deveria ser sempre
dobrada. Agora, ela pode ser aumentada de 1/3 até o dobro.

IV – COMPETÊNCIA PARA JULGAR ESTELIONATO NO CASO EM QUE O PREJUÍZO OCORREU EM LOCAL


DIFERENTE DA OBTENÇÃO DA VANTAGEM
O estelionato, previsto no art. 171, do CP, é um crime por meio do qual o agente, utilizando um meio
fraudulento, engana a vítima, fazendo com que ela entregue espontaneamente uma vantagem, causando
prejuízo à vítima.
Algumas vezes pode acontecer de a vantagem ilícita ocorrer em um local e o prejuízo em outro. Tais situações
poderão gerar algumas dúvidas relacionadas com a competência territorial para processar e julgar esse crime.
A Lei nº 14.155/2021 inseriu o § 4º ao art. 70 do CPP tratando sobre o tema.
A alteração é muito bem-vinda porque anteriormente havia uma imensa insegurança jurídica diante da
existência de regras distintas para situações muito parecidas, além da uma intensa oscilação jurisprudencial.
Veja o § 4º do art. 70 que foi inserido no CPP pela Lei nº 14.155/2021:
Art. 70. (...)
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), quando
praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo
local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Vamos analisar três casos envolvendo estelionato para identificarmos as mudanças operadas pela novidade
legislativa.

1) Estelionato praticado por meio de cheque falso (art. 171, caput, do CP)
Imagine a seguinte situação hipotética:
João, domiciliado no Rio de Janeiro (RJ), achou um cheque em branco. Ele foi, então, até Juiz de Fora (MG) e lá
comprou inúmeras roupas de marca em uma loja da cidade. As mercadorias foram pagas com o cheque que ele
encontrou, tendo João falsificado a assinatura.
Trata-se do crime de estelionato, na figura do caput do art. 171 do CP.

De quem será a competência territorial para julgar o delito?


Do juízo da comarca de Juiz de Fora (MG), local da obtenção da vantagem indevida.
Existe até uma súmula tratando sobre o tema:
Súmula 48-STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
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Aplica-se aqui o § 4º do art. 70 do CPP?


NÃO. Se você ler o § 4º verá que ele não trata da hipótese de estelionato praticado por meio de cheque falso.
Logo, esse dispositivo não incide no presente caso.
A regra a ser aplicada, portanto, é a do caput do art. 70:
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

O estelionato se consumou no momento em que João comprou as mercadorias da loja, pagando com o cheque
falsificado. Nesse instante houve a obtenção da vantagem ilícita e o dano patrimonial à loja.
Logo, nesta primeira hipótese, nenhuma mudança operada pela Lei nº 14.155/2021. Vale ressaltar que a Súmula
48 do STJ manteve-se válida com a novidade legislativa.

2) Estelionato praticado por meio de cheque sem fundo (art. 171, § 2º, VI)
Imagine a seguinte situação hipotética:
Pedro, domiciliado no Rio de Janeiro (RJ), foi passar o fim de semana em Juiz de Fora (MG).
Aproveitando que estava ali, ele foi até uma loja da cidade e comprou inúmeras roupas de marca, que
totalizaram R$ 4 mil. As mercadorias foram pagas com um cheque de titularidade de Pedro.
Vale ressaltar, no entanto, que Pedro sabia que em sua bancária havia apenas R$ 200,00, ou seja, que não havia
fundos suficientes disponíveis. Ele agiu assim porque supôs que não teriam como responsabilizá-lo já que não
morava ali.

Qual foi o crime cometido por Pedro?


Estelionato, no entanto, na figura equiparada do art. 171, § 2º, VI, do CP:
Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
(...)
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.

O cheque emitido por Pedro estava vinculado a uma agência bancária que se situa no Rio de Janeiro (RJ). Tendo
isso em consideração, indaga-se: de quem será a competência territorial para julgar o delito?
Aqui houve uma grande alteração promovida pela Lei nº 14.155/2021:
· Antes da Lei: a competência para julgar seria do juízo do Rio de Janeiro (RJ), local onde se situa a agência
bancária que recusou o pagamento. Na teoria, o “dinheiro” que iria pagar a loja sairia da agência bancária na
qual Pedro tinha conta, ou seja, no Rio de Janeiro. Quando a loja foi tentar sacar o cheque, lá em Juiz de Fora
(MG), na teoria, a agência bancária localizada no RJ recusou o pagamento porque informou que ali não havia
saldo suficiente. Nessas situações, a jurisprudência afirmava que a competência territorial era do local onde se
situava a agência que recusou o pagamento:
Súmula 244-STJ: Compete ao foro do local da RECUSA processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque
sem provisão de FUNDOS.

Súmula 521-STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade
da emissão dolosa de cheque sem provisão de FUNDOS, é o do local onde se deu a RECUSA do pagamento pelo
sacado.

· Depois da Lei: a competência passou a ser do local do domicílio da vítima, ou seja, do juízo de Juiz de Fora
(MG). É o que prevê o novo § 4º do art. 70:
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Art. 70. (...)


§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando praticados (...) mediante emissão de cheques
sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado (...) a competência será definida pelo local do domicílio
da vítima (...)

Isso significa que a Súmula 244 do STJ e a Súmula 521 do STF estão superadas.

O que é o cheque com pagamento frustrado mencionado no § 4º do art. 70 do CPP?


Ocorre quando o agente que emitiu o cheque tinha fundos disponíveis, no entanto, depois de emitir o cheque,
ele saca o dinheiro que tinha no banco ou, então, simplesmente emite uma contraordem à instituição financeira
afirmando que não é para ela pagar aquele cheque.
Em nosso exemplo, imagine que, depois de emitir a cártula em favor da loja, Pedro entra em contato com a
instituição financeira e susta o cheque.
No que tange à competência, a regra é a mesma do cheque sem fundos.

3) Estelionato mediante depósito ou transferência de valores


Imagine a seguinte situação hipotética:
Carlos, morador de Goiânia (GO), viu um anúncio na internet que oferecia empréstimo “rápido e fácil”. Ele
entrou em contato com a pessoa, que se identificou como Henrique.
Carlos combinou de receber um empréstimo de R$ 70 mil, no entanto, para isso, ele precisaria depositar uma
parcela de R$ 1 mil a título de “custas” para a conta bancária de Henrique, vinculada a uma agência bancária
localizada em São Paulo (SP).
Carlos efetuou o depósito e, então, percebeu que se tratava de uma fraude porque nunca recebeu o dinheiro
do suposto empréstimo.

Quem será competente para processar e julgar este crime de estelionato: o juízo da comarca de Goiânia (onde
foi feito o depósito) ou o juízo da comarca de São Paulo (local onde o dinheiro foi recebido)?
Aqui houve outra grande alteração promovida pela Lei nº 14.155/2021:
· Antes da Lei: o juízo competente seria, neste exemplo, o da comarca de São Paulo. Nesse sentido:
No caso em que a vítima, induzida em erro, efetuou depósito em dinheiro e/ou transferência bancária para a
conta de terceiro (estelionatário), a obtenção da vantagem ilícita ocorreu quando o estelionatário se apossou
do dinheiro, ou seja, no momento em a quantia foi depositada em sua conta.
STJ. 3ª Seção. CC 167.025/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/08/2019.
STJ. 3ª Seção. CC 169.053/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/12/2019.

O fundamento era o caput do art. 70 do CPP:


Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

Segundo decidiu o STJ, o estelionato consuma-se no momento e no local em que é auferida a vantagem ilícita.
O prejuízo alheio, apesar de fazer parte do tipo penal, está relacionado à consequência do crime de estelionato
e não à conduta propriamente.
O núcleo do tipo penal é obter vantagem ilícita, razão pela qual a consumação se dá no momento em que os
valores entram na esfera de disponibilidade do autor do crime, o que somente ocorre quando o dinheiro ingressa
efetivamente em sua conta corrente.

Resumindo

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Estelionato que ocorre quando a vítima, induzida em erro, se dispõe a fazer depósitos ou transferências
bancárias para a conta de terceiro (estelionatário): a competência era do local onde o estelionatário possuía a
conta bancária.

· Depois da Lei: a competência passou a ser do local do domicílio da vítima, ou seja, em nosso exemplo, do juízo
de Goiânia (GO). É o que prevê o novo § 4º do art. 70:
Art. 70. (...)
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando praticados mediante depósito (...) ou
mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima (...)

E se houver mais de uma vítima, com domicílios em locais diferentes?


Utilizando novamente o terceiro exemplo acima mencionado. Suponhamos que Henrique aplicou o mesmo
“golpe” do empréstimo não apenas em Carlos, mas também em Luísa (domiciliada em Curitiba/PR), em Ricardo
(Rio Branco/AC), em Vitor (Fortaleza/CE) e em outras inúmeras vítimas.
De quem será a competência para julgar todas essas condutas?
A competência será definida por prevenção, ou seja, será competente para julgar todos as condutas o juízo do
domicílio da vítima que tiver praticado o primeiro ato do processo ou medida relativa a este, nos termos do art.
83 do CPP:
Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente
competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do
processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70,
§ 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c).

É o que preconiza a parte final do § 4º do art. 70:


Art. 70. (...)
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), quando
praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo
local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Esse novo § 4º do art. 70 do CPP aplica-se aos processos penais que estavam em curso quando entrou em
vigor a Lei nº 14.155/2021? O juízo que estava processando o crime deverá remeter o feito para o juízo do
domicílio da vítima?
NÃO. Vigora aqui o princípio da “perpetuatio jurisdictionis” (perpetuação da jurisdição), previsto no art. 43 do
CPC/2015 e que pode ser aplicado ao processo penal por força do art. 3º do CPP.
Segundo esse princípio, uma vez iniciado o processo penal perante determinado juízo, nele deve prosseguir até
seu julgamento. Assim, depois que o processo se iniciou perante um juízo, as modificações que ocorrerem serão
consideradas, em regra, irrelevantes para fins de competência.

Exceções ao princípio da perpetuatio jurisdictionis:


Existem duas mudanças que irão influenciar na competência, ou seja, duas situações em que o juízo que
começou a ação penal deixará de ser competente para continuar o processo por força de fatos supervenientes.
Veja:
a) Supressão do órgão judiciário: a lei (ou a CF) extingue o órgão judiciário (juízo) que era competente para
aquele processo.
Ex: a EC 45/2004 extinguiu os Tribunais de Alçada e todos os recursos ali existentes foram redistribuídos.

b) Alteração da competência absoluta: pode acontecer de determinadas modificações do estado de fato ou de


direito alterarem as regras de competência absoluta para julgar aquele crime.
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Ex1: imaginemos que viesse uma EC retirando da Justiça Federal a competência para julgar delitos contra
servidores públicos federais no exercício de suas funções;
Ex2: o crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil, ainda que cometido em serviço, deixou de
ser considerado crime militar e passou a ser crime comum por força da Lei nº 9.299/96, que alterou o art. 9º,
parágrafo único, do CPM (atual § 1º, por força da Lei nº 13.491/2017).
A regra e as exceções estão previstas no art. 43 do CPC/2015 que, como vimos, aplica-se ao processo penal em
virtude do art. 3º do CPP:
Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo
irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem
órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

39. Crimes contra a dignidade sexual. 40. Crimes contra a incolumidade pública. 41. Crimes contra a paz pública.
42. Crimes contra a fé pública. 43. Crimes contra a administração pública.

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

- EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA: Os crimes funcionais cometidos no estrangeiro ficam sujeitos à


lei brasileira, não importando se os respectivos funcionários públicos lá foram absolvidos ou punidos (art. 7º, I,
“c”, CP);

- REPARAÇÃO DO DANO: #NÃOESQUECER: O condenado por crime contra a administração pública terá a
progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução
do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais (art. 33, §4º, CP). Trata-se do dever de reparação do
dano.

#SELIGANADIFERENÇA:
Faltando a condição de servidor público, o fato deixa de ser
crime.
CRIME FUNCIONAL PRÓPRIO ATIPICIDADE ABSOLUTA.
Ex.: Empresa que comete ato equivalente ao delito de
prevaricação com seus funcionários não comete crime.
Faltando a condição de servidor público o fato deixa de ser crime
funcional, mas permanece criminoso, ajustando-se a outro tipo
CRIMES FUNCIONAL IMPRÓPRIO incriminador.
ATIPICIDADE RELATIVA.
Ex.: se não for peculato poderá ser furto.

#CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO:


Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,
CONCEITO LEGAL embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública (art. 327, CP).
Quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal
(Ex.: Empresa Pública);
FUNCIONÁRIO PÚBLICO POR
Quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada
EQUIPARAÇÃO
ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública (Ex.: médico do SUS).

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 Ocupantes de cargos em comissão;


 Ocupantes de função de direção ou assessoramento.
 Órgãos da AP direta
 SEM
 EP
CAUSA DE AUMENTO DA PENA  Fundação instituída pelo Poder Público
#AUTARQUIAS: As autarquias não foram expressamente
previstas, de maneira que não podemos incluir sua
previsibilidade a fim de não fazermos interpretação in malam
partem.

#PERDA DO CARGO #ART. 92, CP:


PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE igual ou superior 1 ANO
- crimes praticados com abuso de poder
- crimes praticados com violação de dever para com a
PERDA DO CARGO, FUNÇÃO PÚBLICA
Administração Pública: aqui se encaixa a conduta do policial
OU MANDATO ELETIVO
militar.
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE > 4 ANOS
- nos demais casos

- O simples fato de o réu exercer mandato eletivo não é suficiente para a causa de aumento do art. 327, § 2º,
do CP. (Info 816 - STF). É necessário que ele ocupe uma posição de superior hierárquico (o STF chamou de
"imposição hierárquica").

PECULATO: ART. 312 e 313, CP


#ESPÉCIES DE PECULATO:
PECULATO APROPRIAÇÃO17 Art. 312, 1ª parte, CP
PECULATO DESVIO Art. 312, 2ª parte, CP
PECULATO FURTO18 Art. 312, §1º, CP
PECULATO CULPOSO Art. 312, §2º, CP
PECULATO ESTELIONATO Art. 313, CP
PECULATO ELETRÔNICO Art. 313-A e art. 313-B, CP

#DICA: para saber se se trata de crime de inserção de dados falsos em sistema de informações (art. 313-A, CP)
ou crime de modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (art. 313-B, CP) veja se o
funcionário público é AUTORIZADO a promover as alterações no sistema.

FUNCIONÁRIO AUTORIZADO ART. 313-A, CP

QUALQUER FUNCIONÁRIO ART. 313-B, CP

17 Peculato Apropriação e Peculato Desvio são espécies de peculato próprio, no qual o agente tem a posse (ou mesmo a detenção)
sobre o dinheiro, valor ou qualquer outro bem, em virtude do cargo.
18 Peculato Furto é espécie de Peculato Impróprio.
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PECULATO-APROPRIAÇÃO PECULATO-DESVIO PECULATO-FURTO


O funcionário público não tem a
O funcionário público se apropria posse do objeto material e o
O funcionário público aplica ao
do dinheiro, valor ou qualquer subtrai, ou concorre para que
objeto material destino diverso
outro bem móvel, público ou outro o subtraia, em proveito
que lhe foi determinado em
particular de que tem o agente a próprio ou alheio, por causa da
benefício próprio ou de outrem.
posse em razão do cargo19. facilidade proporcionada pela
qualidade de funcionário.

#PECULATOCULPOSO #REPARAÇÃODODANO:
A REPARAÇÃO DO DANO ANTES DA
CAUSA DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
SENTENÇA IRRECORRÍVEL20

A REPARAÇÃO DO DANO POSTERIOR À CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA


SENTENÇA IRRECORRÍVEL (minorante)

#PECULATO DOLOSO #REPARAÇÃO DO DANO:


REPARAÇÃO DO DANO
ARREPENDIMENTO POSTERIOR
ATÉ O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA
REPARAÇÃO DO DANO
APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA ATENUANTE GENÉRICA
E ANTES DO JULGAMENTO

O STF considerou atípica a conduta de “peculato de uso” de um veículo para a realização de deslocamentos por
interesse particular.

CONCUSSÃO: ART. 316, CP

 CONSUMAÇÃO21: trata-se de crime formal. O delito de concussão se consuma quando o agente exige,
para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida. Assim, caso venha a, efetivamente, receber a vantagem indevida, tal
fato será considerado mero exaurimento do crime, que se consumou no momento da sua exigência.

19 Isso significa que o sujeito tinha uma liberdade desvigiada sobre a coisa em virtude do cargo por ele ocupado.
20 #PEDRADETOQUE: para saber se o funcionário público será beneficiado pela extinção da punibilidade ou pela aplicação da
minorante, o marco crucial será visualizar a recorribilidade da sentença condenatória. Isso porque se irrecorrível somente poderemos
falar em causa de diminuição da pena.
21 #AJUDAMARCINHO: No crime de concussão, a situação de flagrante delito configura-se no momento da exigência da vantagem
indevida (e não no instante da entrega). Isso porque a concussão é crime FORMAL, que se consuma com a exigência da vantagem
indevida. Assim, a entrega da vantagem indevida representa mero exaurimento do crime que já se consumou anteriormente. Ex:
funcionário público exige, em razão de sua função, vantagem indevida da vítima; dois dias depois, quando a vítima entrega a quantia
exigida, não há mais situação de flagrância considerando que o crime se consumou no momento da exigência, ou seja, dois dias
antes. STJ. 5ª Turma. HC 266.460-ES, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/6/2015 (Info 564).

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 CONCUSSÃO E CORRUPÇÃO ATIVA: Segundo a jurisprudência, são incompossíveis esses crimes, isto é,
não é possível a existência concomitante de ambos. É que a vítima, ao entregar o dinheiro exigido no
crime de concussão, não pode ser considerada sujeito ativo do delito de corrupção ativa, pelo simples
fato de que a corrupção ativa pressupõe que o particular livremente ofereça ou prometa a vantagem, o
que não ocorre quando há primeiramente a prática do delito de concussão, pois o particular é
constrangido a entregar a vantagem.

CORRUPÇÃO PASSIVA: ART. 317, CP

#SELIGANADIFERENÇA #NÃOERRAMAIS:
CONCUSSÃO  O funcionário público exige vantagem indevida
CORRUPÇÃO PASSIVA  Funcionário público solicita, recebe ou aceita vantagem indevida.
#CONSUMAÇÃO:
 Quando o agente, efetivamente, solicita, para si ou para outrem, direta ou
MODALIDADE
indiretamente, vantagem indevida, que, se vier a ser entregue, deverá ser
“SOLICITAR”
considerada mero exaurimento do crime.
MODALIDADE  Ocorrerá a consumação quando o agente, sem que tenha feito qualquer solicitação,
“RECEBER” receber vantagem indevida.
MODALIDADE
 O agente tão somente aceita promessa de tal vantagem.
“ACEITAR”

AUMENTO DE PENA: art. 317, §1º, CP (se o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o
pratica infringindo dever funcional).

#OLHAOGANCHO: CORRUPÇÃO PASSIVA PRATICADA POR JURADOS: O art. 445 do CPP diz que o jurado, no
exercício da função ou a pretexto de exercê-la, será responsável criminalmente nos mesmos termos em que são
os juízes togados, a exemplo do que ocorre com o crime de corrupção passiva. #CUIDADO!

PREVARICAÇÃO: ART. 319, CP

#CONSUMAÇÃO:
O delito se consuma quando o funcionário público, indevidamente, retarda a
MODALIDADE
prática do ato de ofício, ou seja, deixa de praticá-lo no tempo previsto,
“RETARDAR”
atrasando-o.
MODALIDADE O delito se consuma quando o agente, efetivamente, não pratica o ato a que
“REALIZAR” estava obrigado.
MODALIDADE O delito se consuma quando o sujeito pratica o ato contra disposição expressa de
“PRATICAR” lei.
EM TODAS AS MODALIDADES:
O agente deve atuar com a finalidade de satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA: nome dado pela doutrina à hipótese do art. 319-A, CP.
NÃO CONFUNDA PREVARICAÇÃO COM CORRUPÇÃO PRIVILEGIADA: na corrupção privilegiada há um pedido de
outrem para que o funcionário retarde ou deixe de praticar ato, ainda que sem obtenção de uma vantagem
indevida. Na prevaricação, por seu turno, o retardamento ou a pratica de ato contra lei é feita para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal (não há pedido de outrem).

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DESACATO: ART. 331, CP

#DEOLHONAJURIS: A norma do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato, foi recepcionada pela
Constituição de 1988. Trata-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental em que se questiona
a conformidade com a Convenção Americana de Direitos Humanos, bem como a recepção pela Constituição de
1988, do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato. De acordo com a jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal, a liberdade de expressão não é um direito
absoluto e, em casos de grave abuso, é legítima a utilização do direito penal para a proteção de outros interesses
e direitos relevantes. A diversidade de regime jurídico – inclusive penal – existente entre agentes públicos e
particulares é uma via de mão dupla: as consequências previstas para as condutas típicas são diversas não
somente quando os agentes públicos são autores dos delitos, mas, de igual modo, quando deles são vítimas. A
criminalização do desacato não configura tratamento privilegiado ao agente estatal, mas proteção da função
pública por ele exercida. Vale ressaltar, no entanto, que, considerando que os agentes públicos em geral estão
mais expostos ao escrutínio e à crítica dos cidadãos, deles se exige maior tolerância à reprovação e à insatisfação,
limitando-se o crime de desacato a casos graves e evidentes de menosprezo à função pública. STF. Plenário.
ADPF 496, Rel. Roberto Barroso, julgado em 22/06/2020 (Info 992 – clipping).

CORRUPÇÃO ATIVA: ART. 333, CP


CORRUPÇÃO ATIVA X CORRUPÇÃO PASSIVA: #NÃOESQUEÇAMAIS

QUEM SOLICITA, RECEBE OU ACEITA É


CORRUPÇÃO PASSIVA
FUNCIONÁRIO PÚBLICO
QUEM OFERECE OU PROMETE É PARTICULAR CORRUPÇÃO ATIVA

#CORRUPÇÃO ATIVA X PASSIVA


CORRUPÇÃO PASSIVA CORRUPÇÃO ATIVA
Não há verbo correspondente, de modo que, aquele que entrega
SOLICITAR vantagem indevida em razão da solicitação de funcionário público não
comete qualquer crime.
RECEBER Oferecer
ACEITAR PROMESSA Prometer

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

IMPORTUNAÇÃO SEXUAL ATO OBSCENO


Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua Art. 233. Praticar ato obsceno em lugar público, ou
anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer aberto ou exposto ao público:
a própria lascívia ou a de terceiro: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato
não constitui crime mais grave.
O sujeito passivo é determinado (uma pessoa Sujeito passivo é a coletividade (crime vago).
determinada ou um grupo de pessoas determinado).
Exige-se um elemento subjetivo especial. O agente O elemento subjetivo é o dolo, não se exigindo do
pratica a conduta “com o objetivo de satisfazer a sujeito nenhuma finalidade específica.
própria lascívia ou a de terceiro”.

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A conduta não precisa ter sido praticada em lugar Para que o crime se configure, é indispensável que o
público, ou aberto ou exposto a público. Ex: pode ser ato obsceno tenha sido praticado em lugar público,
praticado no interior de uma casa. ou aberto ou exposto ao público.
Para que o crime se configure, é indispensável que o Não importa se houve ou não anuência das pessoas
ato libidinoso tenha sido praticado contra alguém que estavam presentes. Se o ato obsceno foi
que não concordou com isso. A análise da anuência praticado em lugar público, ou aberto ou exposto ao
ou não da pessoa atingida é fundamental. público, haverá o crime.
Infração de médio potencial ofensivo. Infração de menor potencial ofensivo.

O estupro de vulnerável se consuma com a prática de qualquer ato de libidinagem ofensivo à dignidade sexual
da vítima. Para que se configure ato libidinoso, não se exige contato físico entre ofensor e vítima. Assim, doutrina
e jurisprudência sustentam a prescindibilidade do contato físico direto do réu com a vítima, a fim de priorizar o
nexo causal entre o ato praticado pelo acusado, destinado à satisfação da sua lascívia, e o efetivo dano à
dignidade sexual sofrido pela ofendida. STJ. 6ª Turma. HC 478310, Rel. Min. Rogério Schietti, julgado em
09/02/2021 (Info 685)

NOVO CRIME: DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE


SEXO OU DE PORNOGRAFIA
1ª parte do art. 218-C 2ª parte do art. 218-C
O agente divulga uma fotografia ou vídeo que contém Aqui não tem nada a ver com estupro.
uma cena de estupro (relação sexual sem O agente divulga uma fotografia ou vídeo que contém
consentimento) ou uma cena que faça apologia ou uma cena de sexo (consensual), nudez ou
induza a prática de estupro. pornografia.
A divulgação é feita sem o consentimento da pessoa
que aparece na fotografia ou vídeo.
Ex: agente divulga na deep web vídeo no qual um Ex: Isabela e Ricardo são namorados e costumam
homem mantém relação sexual com uma mulher filmar alguns atos sexuais que praticam. Isabela
que, por estar completamente embriagada, não tinha termina o relacionamento e Ricardo, como forma de
o necessário discernimento para a prática do ato nem vingança, divulga os vídeos em um site pornográfico
podia oferecer resistência. na internet.

Diferença entre o art. 218-C do CP e os arts. 241 e 241-A do ECA


• Se a cena de sexo explícito ou pornográfica envolver criança ou adolescente: a situação se enquadrará nos
arts. 241 e 241-A do ECA.
• Se a cena de sexo explícito ou pornográfica envolver adulto: o crime será o do art. 218-C do CP.

Causas de aumento de pena do § 1º do art. 218-C do CP


1) Se o agente que praticou o crime mantém ou tinha 2) Se o agente praticou o crime com o objetivo de se
mantido relação íntima de afeto com a vítima. vingar da vítima ou de humilhá-la.
Esta primeira situação é objetiva no sentido de que Esta segunda situação é subjetiva, aqui entendida
não envolve a intenção do agente. Se o sujeito como algo que envolve a intenção do agente.
mantém ou manteve relação íntima de afeto com a Na prática, esta segunda hipótese servirá para punir
vítima, ele já receberá o aumento da pena mesmo os casos de sujeitos que não mantinham relação
que não haja provas que revelem qual foi a sua íntima de afeto com a vítima.
intenção ao divulgar o vídeo ou a fotografia. Agiu bem Ex: Pedro trabalha com Lúcia na mesma empresa.
o legislador ao prever assim porque evita uma difícil Ambos disputaram uma promoção. Pedro divulga na
discussão sobre a intenção do agente. lista de e-mail do trabalho fotografias de Lúcia nua

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Ex: ex-namorado que divulga fotografias eróticas de como forma de vingança por ter perdido a promoção
sua ex-namorada. para ela.

III – ALTERAÇÃO NO CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL


Quem é vulnerável para os fins do art. 217-A do CP?
1) Pessoa menor de 14 anos;
2) Pessoa que, por apresentar alguma enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato;
3) Pessoa que, por qualquer causa, não pode oferecer resistência. Ex: em estado de coma.

Toda pessoa com enfermidade ou deficiência mental será considerada vulnerável, para os fins do art. 217-A
do CP?
NÃO. Pela leitura do § 1º do art. 217-A do CP, pode-se concluir que a pessoa com enfermidade ou deficiência
mental somente será considerada vulnerável para fins de estupro de vulnerável se ela não tiver “o necessário
discernimento para a prática do ato”.

Súmula 593-STJ: O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato,
sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.

Consentimento e pessoas com deficiência


Se você observar a Súmula 593 do STJ verá que ela tratou apenas de uma das hipóteses de pessoa vulnerável,
qual seja, a pessoa menor de 14 anos.
O novo § 5º, por sua vez, levou o entendimento exposto na súmula para as outras duas situações de
vulnerabilidade previstas no § 1º do art. 217-A:
• Pessoa que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do
ato;
• Pessoa que, por qualquer causa, não pode oferecer resistência.

Deve-se ter muito cuidado com a aplicação deste § 5º para as pessoas com deficiência. Isso porque em regra, a
pessoa com deficiência possui os mesmos direitos de que dispõe uma pessoa sem deficiência.

NOVA CAUSA DE AUMENTO DE PENA PARA OS ESTUPROS COLETIVO E CORRETIVO (ART. 226 DO CP)
O estupro coletivo (inciso IV, “a”) é cometido necessariamente com o concurso de 2 pessoas. Como
compatibilizá-lo com o inciso I do art. 226? Quando se aplica um ou o outro?
• Inciso IV, “a”: aplicado apenas para os casos de estupro (arts. 213 e 217-A do CP). Isso porque o nomen iuris
da causa de aumento fala em “estupro coletivo” e “estupro corretivo”.
• Inciso I: aplicado para os casos demais crimes contra a dignidade sexual.

NOVAS CAUSAS DE AUMENTO DE PENA PARA OS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL (ART. 234-A DO CP)
Antes da Lei nº 13.718/2018 Depois da Lei nº 13.718/2018 (atualmente)
Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título (crimes Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título (crimes
contra a dignidade sexual) a pena é aumentada: contra a dignidade sexual) a pena é aumentada:
(...) (...)
III - de metade, se do crime resultar gravidez; e III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta
IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite gravidez;
à vítima doença sexualmente transmissível de que IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente
sabe ou deveria saber ser portador. transmite à vítima doença sexualmente

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transmissível de que sabe ou deveria saber ser


portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com
deficiência.

AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


A ação penal nos crimes sexuais deve ser analisada em três momentos históricos:
AÇÃO PENAL NOS CRIMES SEXUAIS
Regra: ação penal privada.
Exceções:
a) se a vítima ou seus pais não tivessem dinheiro para o processo: ação pública
REDAÇÃO condicionada à representação.
ORIGINÁRIA b) se o crime era cometido com abuso do poder familiar, ou da qualidade de padrasto,
DO CP tutor ou curador: ação pública incondicionada.
c) se da violência resultasse lesão grave ou morte da vítima: ação pública incondicionada.
d) se o crime de estupro fosse praticado mediante o emprego de violência real: ação
pública incondicionada.
Regra: ação penal pública condicionada à representação.
Exceções:
a) Vítima menor de 18 anos: incondicionada.
REDAÇÃO DA
b) Vítima vulnerável: incondicionada.
LEI 12.015/09
c) Se foi praticado mediante violência real: incondicionada (Súm. 608-STF).
d) Se resultou lesão corporal grave ou morte: polêmica, mas prevalecia que deveria ser
aplicado o mesmo raciocínio da Súmula 608-STF.
REDAÇÃO DA Ação pública incondicionada (sempre).
LEI 13.718/18 Todos os crimes contra a dignidade sexual são de ação pública incondicionada. Não há
(QUADRO exceções!
ATUAL)

44. Aspectos penais dos seguintes textos normativos, atualizados até a data da publicação do edital: Constituição
da república federativa do Brasil; Leis: 4737/1965; 4898/1965; 7210/1984; 7716/1989; 8069/1990; 8072/1990;
8078/1990; 8137/1990; 8176/1991; 9099/1995;

DEMAIS ASPECTOS PRINCIPAIS DA EXECUÇÃO PENAL E LEI DE EXECUÇÕES PENAIS (Lei n° 7.210/84)

EXECUÇÃO DA PENA RESTRITIVA DE DIREITOS

Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz da execução, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando
necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares.

As penas restritivas de direitos caracterizam-se por seu caráter substitutivo em relação às penas
privativas de liberdade (PPL), permitindo que o juiz, desde que preenchidos os requisitos elencados no Código
Penal, no momento em que profere a sentença condenatória, substitua a PPL por uma ou mais penas restritivas
de direitos:

REQUISITOS DA SUBSTITUIÇÃO DA PPL POR PRD – art. 44 do Código Penal


PPL não superior a quatro anos + crime sem violência ou grave ameaça à pessoa
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OU
Crime culposo (qualquer que seja a pena aplicada)
Réu não reincidente em crime DOLOSO
A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os
motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente

#SELIGA: Presentes os requisitos legais, é OBRIGATÓRIA a substituição da PPL por PRD.

#ATENÇÃO! Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de
condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em
virtude da prática do mesmo crime.

A substituição dependerá do quantum da PPL aplicada na sentença condenatória:

CONDENAÇÃO IGUAL OU INFERIOR A UM ANO CONDENAÇÃO SUPERIOR A UM ANO


MULTA UMA PRD + MULTA
ou ou
UMA PRD DUAS PRD

Nos termos do art. 55 do Código Penal, o tempo de cumprimento da pena restritiva de direitos será,
em regra, igual àquele previsto para a PPL. EXCEÇÃO: Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado
ao condenado cumprir a pena de prestação de serviços à comunidade em menor tempo, nunca inferior à
metade da pena privativa de liberdade fixada (art. 46, §2º, do CP).

ESPÉCIES DE PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS


A LEP não trata da prestação pecuniária, modalidade de PRD regulada pelo art. 45, §§1º
e 2º, do CP, com caráter reparatório, que não se confunde com a pena de multa. A
medida consiste em pagamento em dinheiro – ou prestação de outra natureza, se houver
PRESTAÇÃO concordância do beneficiário – à vítima, seus dependentes ou entidade pública ou
PECUNIÁRIA privada com destinação social. A importância paga, fixada pelo juiz em valor não inferior
a 1 (um) salário-mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários-mínimos, será
deduzida do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se
coincidentes os beneficiários.
A LEP também não trata da perda de bens e valores, prevista no art. 45, §3º, do CP.
PERDA DE
Trata-se da destinação de “bens e valores” do condenado ao Fundo Penitenciário
BENS E
Nacional (salvo legislação especial), nos limites do prejuízo causado ou dos benefícios
VALORES
obtidos pelo agente, ou por terceiro, com a prática do crime.
Aplicável às condenações SUPERIORES a seis meses de privação da liberdade;

PRESTAÇÃO Consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado, a serem prestadas em


DE SERVIÇOS entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos
À congêneres, em programas comunitários ou estatais;
COMUNIDADE
OU A As tarefas devem ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação,
ENTIDADES fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho;
PÚBLICAS
De acordo com a LEP, caberá ao Juiz da execução designar a entidade ou programa
comunitário ou estatal, devidamente credenciado ou convencionado, junto ao qual o
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condenado deverá trabalhar gratuitamente, de acordo com as suas aptidões; determinar


a intimação do condenado, cientificando-o da entidade, dias e horário em que deverá
cumprir a pena; e alterar a forma de execução, a fim de ajustá-la às modificações
ocorridas na jornada de trabalho;

A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento;

O trabalho terá a duração de 8 (oito) horas semanais e será realizado aos sábados,
domingos e feriados, ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a jornada normal de
trabalho, nos horários estabelecidos pelo Juiz;

A entidade beneficiada com a prestação de serviços encaminhará mensalmente, ao Juiz


da execução, relatório circunstanciado das atividades do condenado, bem como, a
qualquer tempo, comunicação sobre ausência ou falta disciplinar.
Consistem em:

 proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de


mandato eletivo;
 proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de
habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;
 suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo;
 proibição de frequentar determinados lugares;
 proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.

Caberá ao Juiz da execução comunicar à autoridade competente a pena aplicada,


INTERDIÇÃO determinada a intimação do condenado.
TEMPORÁRIA
DE DIREITOS Na hipótese de pena de interdição do artigo 47, inciso I, do Código Penal (proibição do
exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo), a
autoridade deverá, em 24 (vinte e quatro) horas, contadas do recebimento do ofício,
baixar ato, a partir do qual a execução terá seu início.

Nas hipóteses do artigo 47, incisos II e III, do Código Penal (proibição do exercício de
profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou
autorização do poder público e suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir
veículo), o Juízo da execução determinará a apreensão dos documentos, que autorizam o
exercício do direito interditado.

A autoridade deverá (ou qualquer prejudicado poderá) comunicar imediatamente ao


Juiz da execução o descumprimento da pena.
Consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas
diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado;
LIMITAÇÃO
DE FIM DE
Durante a permanência poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou
SEMANA
atribuídas atividades educativas.

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Segundo a LEP, caberá ao Juiz da execução determinar a intimação do condenado,


cientificando-o do local, dias e horário em que deverá cumprir a pena;

A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento;

Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o


comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação;

O estabelecimento designado encaminhará, mensalmente, ao Juiz da execução, relatório,


bem assim comunicará, a qualquer tempo, a ausência ou falta disciplinar do condenado.

Art. 148. Em qualquer fase da execução, poderá o Juiz, motivadamente, alterar, a forma de cumprimento das
penas de prestação de serviços à comunidade e de limitação de fim de semana, ajustando-as às condições
pessoais do condenado e às características do estabelecimento, da entidade ou do programa comunitário ou
estatal.

Esse dispositivo se destina a evitar que a PRD seja (re)convertida em PPL, permitindo ao juiz que,
fundamentadamente, adeque a forma de cumprimento das penas de prestação de serviços à comunidade ou
de limitação de fim de semana às condições pessoais do condenado e/ou às demandas da entidade ou programa
na qual ele cumpre a pena.

#AJUDAMARCINHO: Súmula 643-STJ: A execução da pena restritiva de direitos depende do trânsito em julgado
da condenação.

É possível executar provisoriamente a condenação enquanto se aguarda o julgamento do recurso


extraordinário? É possível que o réu condenado em 2ª instância seja obrigado a iniciar o cumprimento da
pena restritiva de direitos mesmo sem ter havido ainda o trânsito em julgado?
NÃO. Não é possível a execução da pena restritiva de direitos antes do trânsito em julgado da condenação.

O cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. É proibida a chamada
execução provisória da pena. STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF, ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados
em 07/11/2019.

O entendimento manifestado pelo STF na ADC 43/DF, acima mencionada, vale tanto para penas privativas de
liberdade como penas restritivas de direito. Isso porque a execução provisória da pena é incompatível com o
princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88:

Art. 5º (...)
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

Mesmo antes de o STF resolver o tema no julgamento da ADC 43/DF, a 3ª Seção do STJ já tinha posição pacificado
no sentido de que não é possível execução provisória de penas restritivas de direitos. Vale ressaltar, inclusive,
que existe expressa previsão na Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84) exigindo o prévio trânsito em julgado
para a execução da pena restritiva de direitos. Confira:

Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz da execução, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando
necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares.
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O entendimento sumulado do STJ também é o mesmo adotado pelo STF:

(...) I – O art. 147 da Lei de Execuções Penais determina que a pena restritiva de direitos será aplicada somente
após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
II – O Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou procedente as Ações Diretas de Constitucionalidade 43/DF e
44/DF, ambas de relatoria do Ministro Marco Aurélio, para assentar a constitucionalidade do art. 283 do Código
de Processo Penal. (...)
STF. 2ª Turma. ARE 1235057 AgR, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 27/03/2020.

EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA

Multa é uma espécie de pena por meio da qual o condenado fica obrigado a pagar uma quantia em dinheiro que
será revertida em favor do Fundo Penitenciário.

Pagamento da multa
A pena de multa é fixada na própria sentença condenatória. Depois que a sentença transitar em julgado, o
condenado terá um prazo máximo de 10 dias para pagar a multa imposta (art. 50 do CP).

O Código prevê a possibilidade de o condenado requerer o parcelamento da multa em prestações mensais,


iguais e sucessivas, podendo o juiz autorizar, desde que as circunstâncias justifiquem (ex: réu muito pobre, multa
elevadíssima etc.). O parcelamento deverá ser feito antes de esgotado o prazo de 10 dias.

O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a real situação econômica do condenado e,
ouvido o Ministério Público, fixará o número de prestações (art. 169, § 1º da LEP).

Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o Juiz, de ofício ou a requerimento do


Ministério Público, poderá revogar o benefício (art. 169, § 2º da LEP).

O que acontece caso o condenado não pague nem parcele a multa no prazo de 10 dias?
Se a multa não for paga, ela será considerada dívida de valor e deverá ser exigida por meio de execução.

#PISANOFREIO #DEOLHONAJURIS: O STF, ao julgar a ADI 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito estabelecido
pelo art. 5º, XLVI, da Constituição Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições –
perda de bens, prestação social alternativa e suspensão ou interdição de direitos –, é espécie de pena aplicável
em retribuição e em prevenção à prática de crimes, não perdendo ela sua natureza de sanção penal. Diante da
eficácia erga omnes e do vinculante dessa decisão, não se pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo
cumprimento integral da pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da multa criminal. STJ. 5ª
Turma. AgRg no REsp 1850903-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

Em adequação ao entendimento do STF, o inadimplemento da pena de multa obsta a extinção da punibilidade


do apenado. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.850.903-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
28/04/2020 (Info 671).

Prescrição da pena de multa


A prescrição da pena de multa ocorrerá em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada, ou
no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou
cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.

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Suspensão da pena de multa


É suspensa a execução da pena de multa, se sobrevém ao condenado doença mental.

Quem executa a pena de multa?


STF:
STJ: FAZENDA PÚBLICA PRIORITARIAMENTE: O MINISTÉRIO PÚBLICO.
SUBSIDIARIAMENTE: A FAZENDA PÚBLICA
A Lei nº 9.268/96, ao considerar a multa penal como
dívida de valor, não retirou dela o caráter de sanção
criminal.
Diante de tal constatação, não há como retirar do MP
O STJ sempre sustentou que, como se trata de dívida a competência para a execução da multa penal,
de valor, a pena de multa deveria ser executada pela considerado o teor do art. 129 da CF/88, segundo o
Fazenda Pública por meio de execução fiscal que qual é função institucional do MP promover
tramita na vara de execuções fiscais. privativamente a ação penal pública, na forma da lei.
O rito a ser aplicado seria o da Lei nº 6.830/80. Promover a ação penal significa conduzi-la ao longo
A execução da pena de multa ocorreria como se do processo de conhecimento e de execução, ou seja,
estivesse sendo cobrada uma multa tributária. buscar a condenação e, uma vez obtida esta, executá-
Não se aplica a Lei nº 7.210/84 (LEP). la. Caso contrário, haveria uma interrupção na função
do titular da ação penal.
Esse era o entendimento pacífico do STJ, tanto que Ademais, o art. 164 da LEP é expresso ao reconhecer
foi editada uma súmula nesse sentido. essa competência do MP. Esse dispositivo não foi
revogado expressamente pela Lei nº 9.268/96.
Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal Vale ressaltar, entretanto que, se o titular da ação
de multa pendente de pagamento imposta em penal, mesmo intimado, não propuser a execução da
sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria multa no prazo de 90 dias, o juiz da execução criminal
da Fazenda Pública. deverá dar ciência do feito ao órgão competente da
Fazenda Pública (federal ou estadual, conforme o
caso) para a respectiva cobrança na própria vara de
execução fiscal, com a observância do rito da Lei
6.830/80.
Quem executa:
• Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de
Quem executa: Fazenda Pública. execução penal, aplicando-se a LEP.
Juízo: vara de execuções fiscais. • Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias
Legislação: Lei nº 6.830/80. após ser devidamente intimada: a Fazenda Pública irá
executar, na vara de execuções fiscais, aplicando-se a
Lei nº 6.830/80.

Sobre a atual situação da legitimidade para execução da pena de multa, é importante conhecer o entendimento
da doutrina:

#UMPOUCODEDOUTRINA
• LIMA, Renato Brasileiro de. Pacote Anticrime: comentários à Lei13.964/19: artigo por artigo. Salvador:
Editora JusPodivm, 2020.
“Eis que surge, então, o Pacote Anticrime, sepultando de vez toda a controvérsia em torno da legitimidade e
competência para a execução da pena de multa. Isso porque, consoante disposto na nova redação conferida ao

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caput do art. 51 · do Código Penal, “transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada
perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa
da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição".
Do simples cotejo entre a redação antiga (dada pela Lei n. 9.268/96) e a nova (conferida ·pela Lei n. 13.964/19),
denota-se que, doravante, a execução da pena de multa deverá ser promovida exclusivamente pelo Ministério
Público, e tão somente perante o Juízo da Execução Penal. O Pacote Anticrime encerra, assim, a dubiedade na
interpretação do órgão legitimado e do juízo competente para a execução da pena de· multa, consagrando,
enfim, a legitimidade privativa do Ministério Público para tanto, conclusão que decorre da simples
impossibilidade de a Fazenda Pública atuar na vara de execução penal. Encontra-se fulminada, portanto, a
súmula n. 521 do STJ. Também não há mais que se falar em legitimidade subsidiária da Fazenda Pública e
competência residual da vara das execuções fiscais, tal qual decidido pelo Supremo Tribunal Federal por ocasião
do julgamento da ADI n. 3.150”. (2020, p. 28)

• Masson, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) - v. 1 /Cleber Masson. - 14. ed. - Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020.
“A polêmica chegou ao fim com a atual sistemática do art. 51 do Código Penal. O inadimplemento da sanção
pecuniária não autoriza sua conversão em detenção, pois a pena de multa será considerada dívida de valor.
A execução deverá ser promovida exclusivamente pelo Ministério Público, perante o juízo da execução penal.
O art. 51 do Código Penal não abre espaço à legitimidade subsidiária da Fazenda Pública. Com efeito, não há
como retirar do Parquet a atribuição para execução da multa penal, em face do teor do art. 129,1, da
Constituição Federal, o qual estabelece ser função institucional do Ministério Público promover, privativamente,
a ação penal pública, na forma da lei.
Ora, promover a ação penal consiste em guiá-la durante todo o processo de conhecimento e também de
execução, é dizer, assegurar a condenação e implementar sua concretização.” (2020, p.647)

Onde tramita essa execução?


No juízo da execução penal. O art. 51 do Código Penal foi alterado para deixar expressa essa competência:

CÓDIGO PENAL
Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE
Art. 51. Transitada em julgado a sentença Art. 51. Transitada em julgado a sentença
condenatória, a multa será considerada dívida de condenatória, a multa será executada perante o juiz
valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação da execução penal e será considerada dívida de
relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da
que concerne às causas interruptivas e suspensivas Fazenda Pública, inclusive no que concerne às
da prescrição. causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

 EXECUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

• A execução das PPL, se o réu estiver ou vier a ser preso, dependerá da expedição de guia de recolhimento
(documento que atesta a imposição de uma pena – não se confunde com a sentença condenatória):

Art. 107. Ninguém será recolhido, para cumprimento de pena privativa de liberdade, sem a guia expedida pela
autoridade judiciária.

O juiz sentenciante deve estabelecer o regime no qual o condenado iniciará o cumprimento da PPL,
observado o art. 33 do Código Penal:

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PENA SUPERIOR A 8 ANOS


REGIME FECHADO OU
CONDENADO REINCIDENTE
REGIME CONDENADO NÃO-REINCIDENTE + PENA SUPERIOR A 4 ANOS E NÃO EXCEDENTE
SEMIABERTO A 8 ANOS

REGIME ABERTO CONDENADO NÃO REINCIDENTE + PENA IGUAL OU INFERIOR A 4 ANOS

#DEOLHONAJURIS:

A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos
elementos do caso concreto. No entanto, com base no caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição
com base nesse princípio é penal ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas
utiliza a circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o regime inicial aberto. Desse modo,
o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, §
2º, “c”, do CP, com base no princípio da proporcionalidade STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco
Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).
João, reincidente, foi condenado a uma pena de 1 ano e 4 meses de reclusão, em regime inicial fechado, pela
prática do crime de furto simples (art. 155, caput, do CP). A defesa postulou a aplicação do regime aberto com
base no princípio da insignificância, considerado o objeto furtado ter sido apenas uma garrafa de licor. O STF
decidiu impor o regime semiaberto. Entendeu-se que, de um lado, o regime fechado deve ser afastado. Por
outro, não se pode conferir o regime aberto para um condenado reincidente, uma vez que isso poderia se tornar
um incentivo à criminalidade, ainda mais em cidades menores, onde o furto é, via de regra, perpetrado no
mesmo estabelecimento.
A reincidência delitiva do paciente, que praticou o quinto furto em pequeno município, eleva a gravidade
subjetiva de sua conduta. STF. 1ª Turma. HC 136385/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 7/8/2018 (Info 910).
Se todas as circunstâncias judiciais são favoráveis, de forma que a pena-base foi fixada no mínimo legal, então,
neste caso, não cabe a imposição de regime inicial mais gravoso. STF. 2ª Turma. RHC 131133/SP, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 10/10/2017 (Info 881).
Na hipótese de o juiz da causa considerar penal ou socialmente indesejável a aplicação do princípio da
insignificância por furto, em situações em que tal enquadramento seja cogitável, eventual sanção privativa de
liberdade deverá ser fixada, como regra geral, em regime inicial aberto, paralisando-se a incidência do art. 33, §
2º, c, do CP no caso concreto, com base no princípio da proporcionalidade. STF. Plenário. HC 123108/MG, HC
123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 3/8/2015 (Info 793).
Exige-se que o juiz aponte circunstâncias que demonstrem que o fato criminoso, concretamente, foi grave. Se
as circunstâncias judiciais do art. 59 forem desfavoráveis, é possível que o juiz se fundamente nesses dados para
impor ao condenado regime inicial mais gravoso que o previsto para a quantidade de pena aplicada. Se as penas-
base de ambos os crimes são fixadas acima do mínimo legal em face da valoração negativa das circunstâncias
do art. 59 do Código Penal, não há ilegalidade na imposição de regime inicial mais gravoso do que o
abstratamente previsto de acordo com a quantidade de pena aplicada. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1471969/RN, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 20/11/2014.

Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais
gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.
Súmula 718-STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea
para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.

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Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige
motivação idônea.

Segundo a LEP (art. 111), havendo condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em
processos distintos, a determinação do regime de cumprimento de pena será feito pelo resultado da soma ou
unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou a remição.

Ainda, nos termos do parágrafo único do art. 111 da LEP, sobrevindo condenação no curso da
execução, somar-se-á a pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime.

#IMPORTANTE! A unificação de penas não enseja a alteração da data-base para concessão de novos benefícios
executórios. STJ. 3ª Seção. ProAfR no REsp 1753509-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/12/2018
(recurso repetitivo) (Info 644).

A superveniência de nova condenação não enseja alteração da data-base por ausência de previsão legal nesse
sentido:

- Sendo a nova condenação relativa a crime praticado antes do início da execução, a data-base continua a ser
a data do início do cumprimento da pena originária.

- Sendo a nova condenação relativa a crime praticado após o início da execução, a data-base é a prática do novo
crime (falta grave).

O local de cumprimento da PPL (estabelecimentos penais) dependerá do regime ao qual o executado


foi condenado:

CASA DO ALBERGADO

A Casa do Albergado deverá estar localizada em centro urbano, separado dos


demais estabelecimentos prisionais, e caracteriza-se pela ausência de obstáculos
físicos contra a fuga. Isso porque o regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso
REGIME ABERTO de responsabilidade.

Durante o dia, o condenado trabalha, frequenta cursos ou realiza outras atividades


autorizadas, fora do estabelecimento e sem vigilância.
Durante o período noturno e nos dias de folga, permanece recolhido na Casa do
Albergado.
COLÔNIA AGRÍCOLA, INDUSTRIAL OU SIMILAR
REGIME
SEMIABERTO
O condenado fica sujeito a trabalho, dentro da colônia, durante o período diurno.
PENITENCIÁRIA

Obs.: apesar de, na prática, isso ser desvirtuado, a chamada Cadeia Pública destina-
REGIME FECHADO se apenas ao recolhimento de presos provisórios (art. 102 da LEP), considerando
que as pessoas presas provisoriamente devem ficar separadas das que já tiverem
sido definitivamente condenadas (art. 300 do CPP).

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O condenado fica sujeito a trabalho, dentro da própria Penitenciária, no período


diurno, e a isolamento durante o repouso noturno.

#IMPORTANTEDEMAIS!
a) A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional
mais gravoso;
b) Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e
aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se
qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou estabelecimento
adequado” (regime aberto) (art. 33, §1º, alíneas “b” e “c”, do CP);
c) Havendo déficit de vagas, deverá determinar-se:
(i) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas;
(ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão
domiciliar por falta de vagas;
(iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto;
d) Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao
sentenciado.
STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2016 (repercussão geral) (Info 825).

Súmula vinculante 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado
em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE
641.320/RS.

Agora, vamos passar para a análise de questões específicas em relação à execução da PPL:

REMIÇÃO DE PENA

A remição consiste na compensação, como pena cumprida, do trabalho ou do estudo realizado durante
a execução da pena:

REMIÇÃO PELO TRABALHO REMIÇÃO PELO ESTUDO

A cada 3 dias de trabalho, diminui 1 dia de pena. A cada 12 horas de estudo, diminui 1 dia de
pena.
Obs: somente poderá ser considerado para fins de
remição, os dias em que o condenado cumprir a Obs: as 12 horas de estudo deverão ser
jornada normal de trabalho, que não pode ser inferior divididas em, no mínimo, 3 dias.
a 6h nem superior a 8h (art. 33).

SOMENTE é aplicada se o condenado cumpre pena Pode ser aplicada ao condenado que cumpra
em regime fechado ou semiaberto. pena em regime fechado, semiaberto, aberto
ou, ainda, que esteja em livramento
Obs: não se aplica se o condenado estiver cumprindo condicional.
pena no regime aberto ou se estiver em livramento
condicional.

No regime aberto, a remição somente é conferida


se há frequência em curso de ensino regular ou de

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educação profissional, sendo inviável o benefício pelo


trabalho.

De acordo com o art. 126 da LEP, a remição pelo trabalho só é possível para os presos que cumprem
pena em regime fechado ou semiaberto. Logo, por falta de previsão legal, não seria possível a remição por
trabalho aos presos do regime aberto.

Considerando também que a LEP não exige que o trabalho realizado seja contínuo, duradouro ou
organizado, deve ser admitida a remição mesmo pela prestação de trabalho esporádico ou ocasional, ainda que
voluntário ou não remunerado. De fato, a lei não faz restrições quanto à forma, natureza ou a duração da
prestação laborativa, não podendo o intérprete limitá-la em desfavor do indivíduo. Lembremos que são
assegurados ao condenado todos os direitos não atingidos pela lei (art. 3º da LEP).

#DEOLHONAJURIS:
Ficando comprovado que o reeducando efetivamente exerceu o trabalho artesanal, ele tem direito à remição.
A alegação do Ministério Público no sentido de que é impossível controlar as horas trabalhadas com artesanato
não é um argumento válido. Cabe ao Estado administrar o cumprimento do trabalho no âmbito carcerário, não
sendo razoável imputar ao sentenciado qualquer tipo de desídia na fiscalização ou controle desse meio. Caso
concreto: o apenado trabalhou na confecção de tapetes por 98 dias, tendo direito à remição de 32 dias de pena.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1720785/RO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/05/2018.
O reeducando tem direito à remição de sua pena pela atividade musical realizada em coral. STJ. 6ª Turma.REsp
1666637-ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/09/2017 (Info 613).
Segundo o art. 33 da LEP, a jornada diária de trabalho do apenado deve ser de, no mínimo, 6 horas e, no máximo,
8 horas. Apesar disso, se um condenado, por determinação da direção do presídio, trabalha 4 horas diárias
(menos do que prevê a Lei), este período deverá ser computado para fins de remição de pena. Como esse
trabalho do preso foi feito por orientação ou estipulação da direção do presídio, isso gerou uma legítima
expectativa de que ele fosse aproveitado, não sendo possível que seja desprezado, sob pena de ofensa aos
princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança. Vale ressaltar, mais uma vez, o trabalho era
cumprido com essa jornada por conta da determinação do presídio e não por um ato de insubmissão ou de
indisciplina do preso. STF. 2ª Turma. RHC 136509/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/4/2017 (Info 860).
Se o preso, ainda que sem autorização do juízo ou da direção do estabelecimento prisional, efetivamente
trabalhar nos domingos e feriados, esses dias deverão ser considerados no cálculo da remição da pena. STJ. 5ª
Turma. HC 346948-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/6/2016 (Info 586).

A remição da pena pelo estudo é possível ao condenado que cumpre pena em regime fechado,
semiaberto ou aberto, bem como àquele que esteja em liberdade condicional (art. 126, caput e §6º, da LEP). Há
remição da pena tanto no estudo presencial quanto no estudo à distância, devendo os cursos frequentados
obter certificação das autoridades educacionais competentes. Não é relevante se o dia de frequência escola era
útil ou não útil.

Remição é o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente de reduzir o tempo de
cumprimento da pena mediante o abatimento de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou de 1 dia de pena
a cada 3 dias de trabalho. É possível computar a remição pelo estudo ainda que as aulas ocorram durante finais
de semana e dias não-úteis? SIM. A remição da pena pelo estudo deve ocorrer independentemente de a
atividade estudantil ser desenvolvida em dia não útil. O art. 126 da Lei 7.210/84 dispõe que a contagem de
tempo para remição da pena pelo estudo deve ocorrer à razão de 1 dia de pena para cada 12 horas de frequência
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escolar, não havendo qualquer ressalva sobre a consideração apenas dos dias úteis para realização da referida
contagem, sendo, inclusive, expressamente mencionada a possibilidade de ensino à distância. STJ. 6ª Turma.
AgRg no REsp 1487218-DF, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em
5/2/2015 (Info 556).

Os Tribunais realizam interpretação extensiva da LEP de modo a permitir a remição da pena não só
pelo estudo formal, mas também por atividades complementares, como a leitura e resenha de livros:

O fato de o estabelecimento penal onde se encontra o detento assegurar acesso a atividades laborais e à
educação formal, não impede que ele obtenha também a remição pela leitura, que é atividade complementar,
mas não subsidiária, podendo ocorrer concomitantemente, havendo compatibilidade de horários. STJ. 5ª
Turma. HC 353689-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 14/6/2016 (Info 587).
É possível computar a remição pelo simples fato de o apenado ficar lendo livros (sem fazer um curso formal)?
SIM. A atividade de leitura pode ser considerada para fins de remição de parte do tempo de execução da pena.
STJ. 6ª Turma. HC 312486-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 9/6/2015 (Info 564).

Recentemente, o STJ entendeu que o tempo excedido, na frequência escolar, ao limite legal de 12
horas a cada 3 dias deve ser considerado para fins de remição da pena:

O art. 126 da Lei de Execuções Penais prevê duas hipóteses de remição da pena: por trabalho ou por estudo.
Para fins de remição da pena pelo trabalho, a jornada não pode ser superior a 8 horas. O STJ, contudo, entende
que eventuais horas extras devem ser computadas quando excederem a oitava hora diária, hipótese em que se
admite o cômputo do excedente para fins de remição de pena. No caso da remição pelo estudo, o reeducando
poderá remir 1 dia de pena a cada 12 horas de atividade, divididas, no mínimo, em 3 dias. O STJ entende que,
se o reeducando estudar mais que 12 horas, isso deverá ser considerado para fins de remição da pena. STJ. 5ª
Turma. AgRg no AREsp 1720688/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 06/10/2020. STJ. 6ª
Turma. HC 461047-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 04/08/2020 (Info 677).

Como incentivo à persistência nos estudos, a LEP prevê a possibilidade de acréscimo de 1/3 do tempo
a remir nos casos de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena,
desde que certificada pelo órgão competente do sistema de educação (art. 126, §3º).

O preso provisório também tem direito à remição de pena, seja por trabalho ou por estudo (art. 126,
§7º). Neste caso, a remição será posteriormente considerada na detração no caso de condenação.

Os Tribunais Superiores admitem, ainda, a remição da pena pelo trabalho realizado no período em que
o condenado cumpre pena em prisão domiciliar:

É possível a remição de pena com base no trabalho exercido durante o período em que o apenado esteve preso
em sua residência (prisão domiciliar). A fim de evitar uma interpretação restritiva da norma, impõe-se o
reconhecimento dos dias trabalhados, ainda que em prisão domiciliar. Em se tratando de remição da pena é
possível fazer uma interpretação extensiva em prol do preso e da sociedade. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1689353/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 06/02/2018.

Apesar de vista na prática como prêmio concedido ao apenado em razão do tempo trabalhado ou
estudado, gerando mera expectativa de direito, a remição deve ser encarada como autêntico direito do
executado e dever do Estado.

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#OLHAOGANCHO: É possível a remição ficta da pena? Remição ficta é aquela em que, apesar de não
haver, efetivamente, a concretização do trabalho ou do estudo, há a declaração dos dias remidos. Existe uma
hipótese de remição ficta assegurada pela própria LEP:

Art. 126, § 4o O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a
beneficiar-se com a remição.

A remição ficta da pena não é aceita pelos Tribunais Superiores:

#DEOLHONAJURIS: Não se admite a remição ficta da pena. Embora o Estado tenha o dever de prover trabalho
aos internos que desejem laborar, reconhecer a remição ficta da pena, nesse caso, faria com que todas as
pessoas do sistema prisional obtivessem o benefício, fato que causaria substancial mudança na política pública
do sistema carcerário, além de invadir a esfera do Poder Executivo. O instituto da remição exige,
necessariamente, a prática de atividade laboral ou educacional. Trata-se de reconhecimento pelo Estado do
direito à diminuição da pena em virtude de trabalho efetuado pelo detento. Não sendo realizado trabalho,
estudo ou leitura, não há que se falar em direito à remição. STF. 1ª Turma. HC 124520/RO, rel. Min. Marco
Aurélio, red. p/ ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/5/2018 (Info 904). STJ. 5ª Turma. HC 421425/MG, Rel.
Min. Felix Fischer, julgado em 27/02/2018. STJ. 6ª Turma. HC 425155/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
06/03/2018.

Nos termos do art. 127 da LEP, em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do
tempo remido, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar. De acordo com o STJ, se trata
de verdadeiro poder-dever:

Uma das punições impostas em caso de falta grave é a perda de parte dos dias remidos, conforme previsto no
art. 127 da LEP: Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido,
observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar. Quando o art.
127 fala que o juiz poderá revogar até 1/3 do tempo remido, isso significa que o magistrado tem a possibilidade
de, mesmo tendo sido praticada uma falta grave, deixar de revogar o tempo remido? NÃO. A prática de falta
grave impõe a decretação da perda de até 1/3 dos dias remidos, devendo a expressão “poderá”, contida no
art. 127 da LEP, ser interpretada como verdadeiro PODER-DEVER do magistrado, ficando no juízo de
discricionariedade do julgador apenas a fração da perda, que terá como limite máximo 1/3 dos dias remidos.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1430097-PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 19/3/2015 (Info 559).

De todo modo, a perda dos dias remidos em sua fração máxima requer decisão fundamentada:

Reconhecida falta grave no decorrer da execução penal, não pode ser determinada a perda dos dias remidos na
fração máxima de 1/3 sem que haja fundamentação concreta para justificá-la. STJ. 6ª Turma. HC 282265-RS,
Rel. Min. Rogerio Shietti Cruz, julgado em 22/4/2014 (Info 539).

#SELIGA: A gravidade em abstrato da falta disciplinar não é apta a justificar uma maior perda dos dias remidos.
Se a gravidade abstrata não pode ser usada para a dosimetria e a fixação de regime prisional em casos de crimes,
com maior razão não deve influir negativamente na dosimetria da perda da remição, sob pena de ofensa aos
princípios da individualização da pena, fundamentação decisória, culpabilidade e proporcionalidade entre
delitos e faltas disciplinares.

PROGRESSÃO DE REGIME

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A execução da pena em nosso país funda-se no sistema progressivo, com a flexibilização da


possibilidade de transferência entre regimes. A progressão de regime constitui direito público subjetivo,
portanto exigível do Estado sempre que preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos à sua concessão.

Com o advento do Pacote Anticrime houve mudança substancial em relação ao requisito objetivo da
progressão de regime:

ANTES DO PACOTE ANTICRIME DEPOIS DO PACOTE ANTICRIME


RÉU PRIMÁRIO + CRIME SEM VIOLÊNCIA OU GRAVE
AMEAÇA: cumprimento de 16% da pena.

RÉU REINCIDENTE + CRIME SEM VIOLÊNCIA OU


GRAVE AMEAÇA: cumprimento de 20% da pena.

RÉU PRIMÁRIO + CRIME COM VIOLÊNCIA OU GRAVE


AMEAÇA: cumprimento de 25% da pena.

RÉU REINCIDENTE + CRIME COM VIOLÊNCIA OU


CRIMES COMUNS: Ter cumprido 1/6 da pena no GRAVE AMEAÇA: cumprimento de 30% da pena.
regime anterior + bom comportamento carcerário,
comprovado pelo diretor do estabelecimento. RÉU PRIMÁRIO + CRIME HEDIONDO OU
EQUIPARADO: cumprimento de 40% da pena.
CRIMES HEDIONDOS: Ter cumprido 2/5 da pena no
regime anterior, se for primário, ou 3/5 da pena no CRIME HEDIONDO + RESULTADO MORTE:
regime anterior, se for reincidente. cumprimento de 50% da pena. #SELIGA: aqui é
vedado o livramento condicional.
GESTANTE OU QUE FOR MÃE OU RESPONSÁVEL POR
CRIANÇAS OU PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: Ter RÉU CONDENADO POR EXERCER O COMANDO,
cumprido 1/8 da pena no regime anterior + Não ter INDIVIDUAL OU COLETIVO, DE ORGANIZAÇÃO
cometido crime com violência ou grave ameaça a CRIMINOSA ESTRUTURADA PARA A PRÁTICA DE
pessoa + Não ter cometido o crime contra seu filho CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO: cumprimento
ou dependente + Ser primária e ter bom de 50% da pena.
comportamento carcerário, comprovado pelo diretor
do estabelecimento + Não ter integrado organização CRIME DE CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA:
criminosa. #ATENÇÃO: Neste caso, o cometimento de cumprimento de 50% da pena.
novo crime doloso ou falta grave implicará a
revogação do benefício previsto. RÉU REINCIDENTE NA PRÁTICA DE CRIME
HEDIONDO OU EQUIPARADO: cumprimento de 60%
da pena (#SELIGA: a reincidência aqui é específica).

RÉU REINCIDENTE NA PRÁTICA DE CRIME


HEDIONDO OU EQUIPARADO COM RESULTADO
MORTE: cumprimento de 70% da pena (#SELIGA: a
reincidência aqui é específica).

#ATENÇÃO! Em todos os casos, o apenado só terá


direito à progressão de regime se ostentar boa

117
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conduta carcerária, comprovada pelo diretor do


estabelecimento.

#SELIGA: Os §§3º e 4º do art. 112 da LEP, que


estabelecem a progressão de regime para mulher
gestante ou que for mãe ou responsável por crianças
ou pessoas com deficiência, NÃO FORAM
ALTERADOS!

Caso concreto: João está cumprindo pena por homicídio qualificado (crime hediondo), cometido em 2019. Vale
ressaltar que João é reincidente genérico (não é reincidente específico; ele havia sido condenado anteriormente
por receptação, que não é crime hediondo). Diante disso, a previsão era a de que João tivesse direito à
progressão de regime com 3/5 da pena (art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90). Ocorre que entrou em vigor a Lei nº
13.964/2019, que revogou o referido art. 2º, § 2º e instituiu novas regras de progressão no art. 112 da LEP. Em
qual inciso do art. 112 se enquadra o réu condenado por crime hediondo, com resultado morte, reincidente não
específico (reincidente genérico)? Essa situação não foi contemplada na lei. Os incisos VII e VIII do art. 112
exigem a reincidência específica. Diante da ausência de previsão legal, deve-se fazer analogia in bonam partem
e a ele deverá ser aplicada a mesma fração do condenado primário, ou seja, a regra do inciso VI, “a”, do art. 112
(50%): Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para
regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: VI - 50%
(cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado,
com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; Resumindo: • art. 2º, § 2º, da Lei nº
8.072/90: a fração mais grave deveria ser aplicada tanto ao reincidente específico como genérico. A Lei de
Crimes Hediondos não fazia distinção entre a reincidência genérica e a específica para estabelecer o
cumprimento de 3/5 da pena para fins de progressão de regime • incisos VII e VIII do art. 112 da LEP: a fração
mais grave só se aplica para o reincidente específico. O condenado pela prática de crime hediondo, com
resultado morte, mas reincidente em crime comum irá progredir como se fosse primário. No exemplo dado, a
Lei nº 13.964/2019 foi mais favorável porque o réu progredia com 3/5 (= 60%) e agora a fração é de 50% (art.
112, VI, “a”, da LEP). Logo, ela se aplica, neste ponto, aos fatos ocorridos antes da sua vigência. STJ. 6ª Turma.
HC 581315-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 06/10/2020 (Info 681).

O não pagamento voluntário da pena de multa impede a progressão no regime prisional?

O Plenário do STF decidiu o seguinte:


• Regra: o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao sentenciado impede a
progressão no regime prisional.
• Exceção: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se ficar comprovada a absoluta
impossibilidade econômica do apenado em quitar a multa, ainda que parceladamente.
STF. Plenário. EP 12 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/4/2015 (Info 780).

LIVRAMENTO CONDICIONAL

#SELIGA: Para que o condenado tenha direito ao livramento condicional, deverá atender aos seguintes
requisitos:

O condenado deve ter:


Requisitos
1) sido sentenciado a uma pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos;
OBJETIVOS
2) reparado o dano causado com o crime, salvo se for impossível fazê-lo;

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3) cumprido parte da pena, quantidade que irá variar conforme ele seja reincidente ou não:
• condenado não reincidente em crime doloso e com bons antecedentes: basta cumprir mais
de 1/3 (um terço) da pena. É chamado de livramento condicional SIMPLES;
• condenado reincidente em crime doloso: deve cumprir mais de 1/2 (metade) da pena para
ter direito ao benefício. É o livramento condicional QUALIFICADO;
• condenado por crime hediondo ou equiparado, se não for reincidente específico em crimes
dessa natureza: deve cumprir mais de 2/3 (dois terços) da pena. É o livramento condicional
ESPECÍFICO;
• condenado por crime hediondo ou equiparado, se for reincidente específico em crimes dessa
natureza: não terá direito a livramento condicional.
• condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte: não terá
direito a livramento condicional.
O condenado deve ter:
a) bom comportamento durante a execução da pena;
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 meses;
Requisitos c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
SUBJETIVOS d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;
e) para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a
concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais
que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.

#NÃOSABOTESÚMULAS: Súmula 441-STJ: A falta grave não interrompe o prazo para obtenção do livramento
condicional.

Qual é o fundamento desta súmula? Por que a falta grave não interrompe o prazo para obtenção do
livramento condicional?
Porque em nenhum momento a lei previu isso. Assim, a falta grave não interfere no livramento condicional por
ausência de previsão legal, ou seja, porque a LEP não determinou essa consequência (STJ. 5ª Turma. HC
263.361/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/05/2013).

Pacote anticrime
A Lei nº 13.964/2019 alterou o inciso III do art. 83 do Código Penal, que trata sobre os requisitos para a
concessão do livramento condicional. Veja:

CÓDIGO PENAL
Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE
Art. 83. O juiz poderá conceder livramento Art. 83. O juiz poderá conceder livramento condicional
condicional ao condenado a pena privativa de ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou
liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde superior a 2 (dois) anos, desde que:
que: (...)
(...)
III - comprovado comportamento satisfatório III - comprovado:
durante a execução da pena, bom desempenho no a) bom comportamento durante a execução da pena;
trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze)
prover à própria subsistência mediante trabalho meses;
honesto; c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante
trabalho honesto;
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Com essa alteração operada pela Lei nº 13.964/2019, a falta grave passou a interromper o prazo para
obtenção do livramento condicional? A Lei nº 13.964/2019 fez com que o entendimento da súmula 441 do STJ
fique superado?

NÃO. A súmula 441 do STJ continua válida. Praticada a falta grave, o apenado terá que aguardar 12 meses para
poder gozar do livramento condicional. O prazo do art. 83, I, do CP, contudo, não é interrompido (não é
“zerado”). Essa é a lição de Rogério Sanches:

“A falta grave interrompe o prazo para o livramento? Não. Embora o cometimento de falta grave interrompa o
prazo para a progressão de regime (Súmula 534 STJ), não o faz para fins de concessão de livramento condicional,
pois não há previsão legal a esse respeito. Nesse sentido é a súmula nº 441 do STJ, cujo conteúdo não é
incompatível com a regra imposta pela Lei 13.964/19. Embora o condenado não possa obter o livramento se
houver cometido falta grave nos doze meses anteriores à sua pretensão, o prazo do benefício não volta a correr
do começo quando cometida a infração. Praticada a falta grave, nos 12 meses seguintes o reeducando não pode
ser beneficiado com a liberdade antecipada, mesmo que cumpra seu requisito temporal. O prazo de 12 meses,
aliás, coincide com o prazo da reabilitação da falta grave, hoje previsto na maioria dos regimentos internos das
unidades prisionais dos vários estados brasileiros.” (Pacote anticrime. Lei 13.964/2019. Salvador: Juspodivm,
2020, p. 32).

Enunciado 2 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ: O requisito previsto no art. 83, III, b, do
Código Penal, consistente em o agente não ter cometido falta grave nos últimos 12 (doze) meses, poderá ser
valorado, com base no caso concreto, para fins de concessão de livramento condicional quanto a fatos ocorridos
antes da entrada em vigor da Lei 13.964/2019, sendo interpretado como comportamento insatisfatório durante
a execução da pena.

#DEOLHONAJURIS:

Súmula 617-STJ: A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período
de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena.

A prática de crime no curso do livramento condicional não pode ser considerada como falta grave e não gera,
por isso, a perda de 1/3 dos dias remidos (art. 127 da LEP). O cometimento de novo delito durante a vigência do
livramento condicional já traz graves consequências que são previstas no art. 88 do Código Penal. Esse
dispositivo não menciona a perda dos dias remidos. Desse modo, não há a possibilidade de imposição de faltas
disciplinares ao beneficiado com o livramento condicional. STJ. 6ª Turma. HC 271907-SP, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 27/3/2014 (Info 539).

O art. 83 do CP prevê que o condenado por crime hediondo ou equiparado que não for reincidente específico
poderá obter livramento condicional após cumprir 2/3 da pena. Os condenados por crimes não hediondos ou
equiparados terão direito ao benefício se cumprirem mais de 1/3 da pena (não sendo reincidentes em crimes
dolosos) ou se cumprirem mais de 1/2 da pena (se forem reincidentes em crimes dolosos). O crime de associação
para o tráfico de drogas, previsto no art. 35 da Lei 11.343/2006, não é hediondo nem equiparado. No entanto,
mesmo assim, o prazo para se obter o livramento condicional é de 2/3 porque este requisito é exigido pelo
parágrafo único do art. 44 da Lei de Drogas. Dessa forma, aplica-se ao crime do art. 35 da LD o requisito objetivo
de 2/3 não por força do art. 83, V, do CP, mas sim em razão do art. 44, parágrafo único, da LD. Vale ressaltar
que, no caso do crime de associação para o tráfico, o art. 44, parágrafo único, da LD prevalece em detrimento
da regra do art. 83, V, do CP em virtude de ser dispositivo específico para os crimes relacionados com drogas

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(critério da especialidade), além de ser norma posterior (critério cronológico). Uma última observação: se o réu
estiver cumprindo pena pela prática do crime de associação para o tráfico (art. 35), o requisito objetivo para que
ele possa obter progressão de regime será de 1/6 da pena (quantidade de tempo exigida para os "crimes
comuns"). Os condenados por crimes hediondos ou equiparados só têm direito de progredir depois de
cumpridos 2/5 (se primário) ou 3/5 (se reincidente). STJ. 5ª Turma. HC 311656-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado
em 25/8/2015 (Info 568).

PERMISSÃO DE SAÍDA E SAÍDA TEMPORÁRIA

SAÍDA TEMPORÁRIA PERMISSÃO DE SAÍDA


Saída temporária é uma autorização concedida pelo A permissão de saída tem como beneficiários os
juiz da execução penal aos condenados que presos definitivos (em regime FECHADO OU
cumprem pena em regime SEMIABERTO por meio SEMIABERTO) e PROVISÓRIOS (temporária ou
da qual ganham o direito de saírem preventiva).
temporariamente do estabelecimento prisional SEM
VIGILÂNCIA DIRETA (sem guardas Ela se dá MEDIANTE ESCOLTA.
acompanhando/sem escolta) com o intuito de:
a) visitarem a família; As situações que a autorizam são:
b) frequentarem curso supletivo profissionalizante, a) falecimento ou doença grave do cônjuge,
de ensino médio ou superior; ou companheira, ascendente, descendente ou irmão;
c) participarem de outras atividades que ajudem b) necessidade de tratamento médico (abrangendo
para o seu retorno ao convívio social. o odontológico de urgência).

Obs: o juiz pode determinar que, durante a saída A permissão de saída será concedida pelo DIRETOR
temporária, o condenado fique utilizando um DO ESTABELECIMENTO onde se encontra o preso.
equipamento de monitoração eletrônica
(tornozeleira eletrônica). A permanência do preso fora do estabelecimento
Obs2: os presos provisórios que já foram terá a duração necessária à finalidade da saída.
condenados (ainda sem trânsito em julgado) e estão
cumprindo a pena no regime semiaberto podem ter
direito ao benefício da saída temporária, desde que
preencham os requisitos legais que veremos abaixo.
Obs3: Com o advento do Pacote Anticrime, a LEP
passou a proibir a saída temporária ao condenado
que cumpre pena por praticar crime hediondo com
resultado morte.

Requisitos
A concessão da saída temporária dependerá da
satisfação dos seguintes requisitos (art. 123 da LEP):
I - comportamento adequado do reeducando;
É chamado de requisito subjetivo. Normalmente isso
é provado por meio da certidão carcerária fornecida
pela administração penitenciária.

II - cumprimento mínimo de 1/6 da pena (se for


primário) e 1/4 (se reincidente).

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Trata-se do requisito objetivo. Deve-se lembrar que


o apenado só terá direito à saída temporária se
estiver no regime semiaberto. No entanto, a
jurisprudência permite que, se ele começou a
cumprir a pena no regime fechado e depois
progrediu para o semiaberto, aproveite o tempo que
esteve no regime fechado para preencher esse
requisito de 1/6 ou 1/4. Em outras palavras, ele não
precisa ter 1/6 ou 1/4 da pena no regime
semiaberto. Poderá se valer do tempo que cumpriu
no regime fechado para preencher o requisito
objetivo. Com outras palavras, foi isso o que o STJ
quis dizer ao editar a Súmula 40: “Para obtenção dos
benefícios de saída temporária e trabalho externo,
considera-se o tempo de cumprimento da pena no
regime fechado.”

III - compatibilidade do benefício com os objetivos


da pena.
Ressalte-se que o simples fato de o condenado que
cumpria pena no regime fechado ter ido para o
regime semiaberto não significa que,
automaticamente, ele terá direito ao benefício da
saída temporária. Isso porque o juiz deverá analisar
se ele preenche os demais requisitos do art. 123 da
LEP (STJ. 6ª Turma. RHC 49.812/BA, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 06/11/2014).

Quantidade de saídas temporárias por ano e tempo de duração:

Regras gerais:
 Cada preso terá o máximo de 5 saídas temporárias por ano (1 mais 4 renovações).
 Cada saída temporária tem duração máxima de 7 dias. Em outras palavras, o preso receberá a
autorização para ficar 7 dias fora do estabelecimento prisional.

#ATENÇÃO! Respeitado o limite anual de 35 dias, estabelecido pelo art. 124 da LEP, é cabível a concessão de
maior número de autorizações de curta duração. STJ. 3ª Seção. REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 14/9/2016 (recurso repetitivo) (Info 590).

Peculiaridade: no caso da saída temporária para estudo, o prazo será igual ao que for necessário para o exercício
das atividades discentes (ex: pode ser autorizada a saída temporária todos os dias).

Existe algum prazo mínimo que deverá ser observada entre uma saída temporária e outra. Ex: o apenado
recebeu saída temporária hoje, ele terá que esperar algum tempo para ter direito novamente ao benefício?

1) Se a saída temporária tiver como objetivo permitir que o apenado estude: NÃO.

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No caso da saída temporária para estudo, o prazo será igual ao que for necessário para o exercício das atividades
discentes. Assim, poderá ser autorizada a saída temporária todos os dias, por exemplo. É o que prevê o § 2º do
art. 124 da LEP:

Art. 124. (...)


§ 2º Quando se tratar de frequência a curso profissionalizante, de instrução de ensino médio ou superior, o tempo
de saída será o necessário para o cumprimento das atividades discentes.

2) Se a saída temporária tiver como objetivo permitir que o preso visite a família ou participe de atividades
que o ajudem a retornar ao convívio social: SIM.
Neste caso, a LEP prevê um prazo mínimo de 45 dias entre uma saída e outra. Veja:

Art. 124 (...)


§ 3º Nos demais casos, as autorizações de saída somente poderão ser concedidas com prazo mínimo de 45
(quarenta e cinco) dias de intervalo entre uma e outra.

#ATENÇÃO! As autorizações de saída temporária para visita à família e para participação em atividades que
concorram para o retorno ao convívio social, se limitadas a cinco vezes durante o ano, deverão observar o prazo
mínimo de 45 dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de maior número de saídas temporárias de curta
duração, já intercaladas durante os doze meses do ano e muitas vezes sem pernoite, não se exige o intervalo
previsto no art. 124, § 3º, da LEP. STJ. 3ª Seção. REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
14/9/2016 (recurso repetitivo) (Info 590).

O juiz pode, no entanto, autorizar mais que 5


Como regra, o juiz autoriza que o apenado tenha
saídas por ano, desde que o total fique em 35 dias
direito a 5 saídas de 7 dias (total = 35 dias).
(ex: 35 saídas de 1 dia).
Se o juiz autorizar apenas as 5 saídas, o intervalo Se o juiz autorizar mais que 5 saídas por ano, o
mínimo entre uma saída e outra deverá ser de 45 intervalo entre uma saída e outra poderá ser
dias. menor que 45 dias.
Neste caso, aplica-se o § 3º do art. 124. Neste caso, não se aplica o § 3º do art. 124.

Condições

Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes condições legais (obrigatórias):
I – o condenado deverá fornecer o endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado
durante o gozo do benefício;
II – o condenado deverá se comprometer a ficar recolhido na residência visitada, no período noturno;
III – o condenado não poderá frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.

Além dessas, o juiz pode fixar outras condições que entender compatíveis com as circunstâncias do caso e a
situação pessoal do condenado. Nesse caso, chamamos de condições judiciais (ou facultativas).

Revogação

O benefício da saída temporária será automaticamente revogado quando o condenado:


1. praticar fato definido como crime doloso (não se exige condenação; basta a notícia);
2. for punido por falta grave (aqui se exige que o condenado tenha recebido punição disciplinar);
3. desatender as condições impostas na autorização; ou

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4. revelar baixo grau de aproveitamento do curso.

Recuperação do direito após ter sido revogado:

Se o benefício for revogado por uma das causas acima listadas, o condenado só poderá recuperar o direito à
saída temporária se:
a) for absolvido no processo penal (hipótese 1);
b) for cancelada a punição disciplinar imposta (hipótese 2); ou
c) se ficar demonstrado seu merecimento a novo benefício (hipóteses 3 e 4).

Em que consiste o calendário de saídas temporárias (saídas temporárias automatizadas)?

Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve ser formulado um pedido ao juiz que,
então, ouve o MP e a administração penitenciária, e, após, decide. Em algumas partes do Brasil, no entanto,
como é o caso do RJ, os juízes da execução penal adotaram um procedimento para simplificar a concessão dessas
saídas temporárias. Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz ouve o MP e o
diretor do Presídio, e, se estiverem preenchidos os requisitos, concede o benefício (segue, portanto, todo o rito
previsto na LEP). No entanto, nesta primeira decisão o juiz já fixa um calendário de saídas temporárias.

O que entendem os Tribunais Superiores? O calendário de saídas temporárias é permitido? A prática da saída
temporária automatizada é válida?

Posição do STF: SIM


O STF, contudo, ao apreciar o tema, discordou do STJ e decidiu que é legítima a decisão judicial que estabelece
calendário anual de saídas temporárias para visita à família do preso.
Para o STF, um único ato judicial que analisa o histórico do sentenciado e estabelece um calendário de saídas
temporárias, com a expressa ressalva de que as autorizações poderão ser revistas em caso de cometimento de
infração disciplinar, mostra-se suficiente para fundamentar a autorização de saída temporária.
O Min. Gilmar Mendes apontou que, em regra, os requisitos das saídas temporárias são os mesmos,
independentemente do momento do ano em que ocorrem. “A saída do Natal não tem requisitos mais brandos
do que a saída da Páscoa, por exemplo. Não há razão funcional para afirmar que uma única decisão que a ambas
contemple é deficiente de fundamentação”.
Além disso, essa prática não exclui a participação do MP, que poderá se manifestar sobre seu cabimento e, caso
alterada a situação fática, pedir sua revisão.
A exigência feita pelo STJ no sentido de que haja uma decisão motivada para cada saída temporária coloca em
risco o direito do sentenciado ao benefício, em razão do grande volume de processos nas varas de execuções
penais.
STF. 1ª Turma. HC 130502/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/6/2016 (Info 831).
STF. 2ª Turma. HC 128763, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/08/2015.

Atual posição do STJ:


Depois que o STF decidiu que o calendário anual de saídas temporárias é válido, o STJ teve que, na prática, rever
o seu entendimento.
Assim, ao reapreciar o tema em sede de recurso repetitivo o STJ firmou as seguintes conclusões:
- Como regra, antes de cada saída temporária do preso deverá haver uma decisão judicial motivada. Isso é o
ideal, o recomendável.
- Excepcionalmente, será permitido que o juiz, por meio de uma única decisão, fixe um calendário anual de
saídas temporárias definindo todas as datas em que o apenado terá direito ao benefício durante o ano. O
calendário anual de saídas temporárias somente deverá ser fixado quando ficar demonstrado que há uma
124
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deficiência do aparato estatal (ex: muitos processos para poucas varas de execuções penais) e que, por causa
disso, se os pedidos fossem analisados individualmente, haveria risco de não dar tempo de o apenado receber
o benefício mesmo tendo direito. Essa deficiência do aparelho estatal é a realidade que se observa na maioria
dos Estados do Brasil, de forma que a exigência de decisão isolada para cada saída temporária tem causado
inúmeros prejuízos aos apenados.
- Vale ressaltar, no entanto, que, se for adotada a sistemática da saída temporária automatizada, quem deverá,
obrigatoriamente, fixar o calendário é o juiz das execuções penais, não podendo ele delegar esta atividade para
o diretor do presídio. Assim, é o juiz quem define as datas específicas nas quais o apenado irá usufruir os
benefícios ao longo do ano.
- Importante destacar também que o benefício será revogado se ocorrer algumas das hipóteses de revogação
automática revogação automática da saída temporária, previstas no art. 125 da LEP.

Para fins de recurso repetitivo, o STJ firmou duas teses que sintetizam o raciocínio acima exposto:

#DEOLHONAJURIS:
Primeira tese: É recomendável que cada autorização de saída temporária do preso seja precedida de decisão
judicial motivada. Entretanto, se a apreciação individual do pedido estiver, por deficiência exclusiva do aparato
estatal, a interferir no direito subjetivo do apenado e no escopo ressocializador da pena, deve ser reconhecida,
excepcionalmente, a possibilidade de fixação de calendário anual de saídas temporárias por ato judicial único,
observadas as hipóteses de revogação automática do art. 125 da LEP.
Segunda tese: O calendário prévio das saídas temporárias deverá ser fixado, obrigatoriamente, pelo Juízo das
Execuções, não se lhe permitindo delegar à autoridade prisional a escolha das datas específicas nas quais o
apenado irá usufruir os benefícios.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/9/2016 (recurso repetitivo) (Info
590).

 FALTA GRAVE
EXECUÇÃO PENAL
Consequências decorrentes da prática de FALTA GRAVE:
ATRAPALHA NÃO INTERFERE

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• PROGRESSÃO DE REGIME: interrompe o prazo • INDULTO E COMUTAÇÃO DE PENA: a prática de


falta grave não interrompe o prazo para fim de
para a progressão de regime.
comutação de pena ou indulto (Súmula 535-STJ).
• REGRESSÃO: acarreta a regressão de regime. A concessão de comutação de pena ou indulto
deverá observar o cumprimento dos requisitos
• SAÍDAS: revoga a saída temporária.
previstos no decreto presidencial
• TRABALHO EXTERNO: revogação do trabalho .
• SAÍDA TEMPORÁRIA E TRABALHO EXTERNO
externo.
(requisito objetivo): a prática de falta grave
• REMIÇÃO: revoga até 1/3 do tempo remido. durante o cumprimento da pena não acarreta a
alteração da data-base para fins de saída
• RDD: pode sujeitar o condenado ao RDD.
temporária e trabalho externo.
• DIREITOS: suspensão ou restrição de direitos.
• ISOLAMENTO: na própria cela ou em local
adequado.
LIVRAMENTO CONDICIONAL:
• Para ter direito ao benefício o réu não pode ter cometido falta grave nos últimos 12 meses.
• Por outro lado, a falta grave não interrompe o prazo para obtenção do livramento condicional (Súmula
441-STJ).22

#PACOTEANTICRIME - Muita atenção para o § 8º do art. 9º-A:


§ 8º Constitui falta grave a recusa do condenado em submeter-se ao procedimento de identificação do perfil
genético.

# Não confundir:
• Apenado que descumpre o perímetro (zona) estabelecido para tornozeleira eletrônica: configura a prática de
falta grave.
• Apenado que, durante saída temporária, descumpre o perímetro estabelecido para tornozeleira eletrônica:
não configura a prática de falta grave (há um julgado da 6ª Turma do STJ que afirma que, neste caso, não há
previsão no rol do art. 50 da LEP).
• Apenado que rompe a tornozeleira eletrônica ou mantém a bateria sem carga suficiente: configura falta grave
(art. 50, VI, da LEP).

22 “A falta grave interrompe o prazo para o livramento? Não. Embora o cometimento de falta grave interrompa o prazo
para a progressão de regime (Súmula 534 STJ), não o faz para fins de concessão de livramento condicional, pois não há
previsão legal a esse respeito. Nesse sentido é a súmula nº 441 do STJ, cujo conteúdo não é incompatível com a regra
imposta pela Lei 13.964/19. Embora o condenado não possa obter o livramento se houver cometido falta grave nos
doze meses anteriores à sua pretensão, o prazo do benefício não volta a correr do começo quando cometida a
infração. Praticada a falta grave, nos 12 meses seguintes o reeducando não pode ser beneficiado com a liberdade
antecipada, mesmo que cumpra seu requisito temporal. O prazo de 12 meses, aliás, coincide com o prazo da
reabilitação da falta grave, hoje previsto na maioria dos regimentos internos das unidades prisionais dos vários
estados brasileiros.” (Pacote anticrime. Lei 13.964/2019. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 32).

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• A prática de falta grave durante o cumprimento da pena não acarreta a alteração da data-base para fins de
saída temporária e trabalho externo. Dito de outro modo: a prática de falta grave no curso da execução não
interrompe o prazo para a concessão da saída temporária e trabalho externo. Não interrompe o requisito
objetivo do lapso temporal para obtenção dos benefícios de trabalho externo e de saída temporária.Isso porque
os requisitos para tais benefícios estão expressamente previstos nos arts. 36, 37 e 123 da LEP e neles não se
menciona a necessidade de reinício da contagem do prazo em caso de prática de falta grave.STJ. 5ª Turma. AgRg
no REsp 1755701/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/11/2018.STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp
985.011/RS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 27/02/2018.

#NÃOCONFUNDA - A prática de falta grave:


• revoga os benefícios da saída temporária e do trabalho externo.
• mas não interrompe o prazo para a concessão de saída temporária e para o trabalho externo.
• O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no curso da
execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal no juízo do conhecimento, desde que a
apuração do ilícito disciplinar ocorra com observância do devido processo legal, do contraditório e da ampla
defesa, podendo a instrução em sede executiva ser suprida por sentença criminal condenatória que verse sobre
a materialidade, a autoria e as circunstâncias do crime correspondente à falta grave. STF. Plenário. RE 776823,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 758) (Info 1001)
• Recusar-se em a adentrar à cela consiste em falta grave, pois é ato lesivo e grave em descumprimento de
ordem legítima e com base no art. 50, inciso VI, c/c art. 39, incisos II e V, ambos da Lei de Execuções Penais –
LEP, observando-se, inclusive, o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa no processo administrativo
disciplinar. STJ. 6ª Turma, AgRg no HC 618.666, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 02/03/2021.
• A posse de drogas no interior de estabelecimentos prisionais, ainda que para uso próprio, configura falta
disciplinar de natureza grave, nos moldes do art. 52 da Lei de Execução Penal. STJ. 5ª Turma. HC 590.178/SC,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 18/08/2020.
• A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação realizada na presença do
defensor e do Ministério Público, afasta a necessidade de prévio Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD),
assim como supre eventual ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para apurar a prática
de falta grave durante o cumprimento da pena. STF. Plenário. RE 972598, Rel. Roberto Barroso, julgado em
04/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 941) (Info 985 – clipping).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

LEI DE DROGAS

Em regra, compete à Justiça Estadual julgar habeas corpus preventivo destinado a permitir o cultivo e o porte
de maconha para fins medicinais. Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para
viabilizar, para fins medicinais, o cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como
porte em outra unidade da federação, quando não demonstrada a internacionalidade da conduta. STJ. 3ª Seção.
CC 171.206-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).

Inaplicabilidade do princípio da insignificância: Para o STJ, não se aplica o princípio da insignificância para o
crime de posse/porte de droga para consumo pessoal (Info 541). 27/10/2015. #ATENÇÃO: O STF possui um
precedente isolado, da 1ª Turma, aplicando o princípio: HC 110475, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 14/02/2012. Se esse
tema for cobrado em prova, você deverá responder que NÃO é possível a aplicação do princípio, uma vez que o
referido precedente da 1ª Turma do STF não formou jurisprudência

PORTE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL


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Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal,
drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes
penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa
de comparecimento a programa ou curso educativo.

Consumo imediato da droga: O ato de consumir, usar a droga, não constitui núcleo do tipo penal. Para o STF,
não caracteriza o crime de porte de drogas a conduta do agente que recebendo de terceiro a droga, para uso
próprio, a consome, incontinenti, pois a incriminação do porte de tóxicos para uso próprio só se pode explicar
como delito contra a saúde pública (HC 79189).

Cabe à acusação provar que a droga apreendida era destinada ao tráfico, e ao não usuário provar que a droga
encontrada consigo seria utilizada para consumo próprio. (info. 711 do STF).

Prescrição: Prescreve em 2 ANOS (prazo especial da lei de drogas), mas aplicam-se as causas de interrupção do
CP.

Afastou-se a pena privativa de liberdade. O STF (info. 456) considera que a conduta descrita nesse artigo
continua sendo crime, tendo ocorrido apenas uma “DESPENALIZAÇÃO” (não descriminalização). Para alguns
autores, a expressão correta deveria ser “descarcerização”, porque o tipo continua prevendo penas, só não mais
privativas de liberdade.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de
droga para uso próprio) NÃO configura reincidência. STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, julgado em 04/10/2018. STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 21/08/2018 (Info 632).

PENAS DO USUÁRIO (ARTS. 27 E 28)


As sanções podem ser APLICADAS ISOLADA OU CUMULATIVAMENTE, BEM COMO SUBSTITUÍDAS A
QUALQUER TEMPO, ouvidos o MP e o defensor
MEDIDA EDUCATIVA DE
ADVERTÊNCIA SOBRE OS EFEITOS PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À
COMPARECIMENTO A PROGRAMA
DAS DROGAS COMUNIDADE
OU CURSO EDUCATIVO
Prazo máximo: 5 meses Prazo máximo: 5 meses
Exaure-se em si mesma.
Se reincidente: 10 meses **Se reincidente: 10 meses
Em entidades que se ocupem, O programa não precisa ter como
É um esclarecimento que deve ser
preferencialmente, da prevenção tema exclusivo os malefícios
feito pelo juiz quanto às
do consumo ou da recuperação causados pelo uso de drogas, sob
consequências maléficas causadas
de usuários e dependentes de pena de se confundir com a pena
pelo uso de drogas.
drogas. de advertência.

É atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.624.564-
SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020 (Info 683). STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 11/9/2018 (Info 915).

TRÁFICO DE DROGAS (ART. 33) – crime equiparado à hediondo.


Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter
em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer
drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

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Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-
multa.

Figuras equiparadas: Também são consideradas tráfico e também são equiparadas a hediondo.
I - Importa, exporta, remete, produz,
fabrica, adquire, vende, expõe à
venda, oferece, fornece, tem em
Prevalece que as condutas listadas no §1º são subsidiárias, de
depósito, transporta, traz consigo ou
forma que o agente só pode por elas ser punido se sua conduta
guarda, ainda que gratuitamente,
não se enquadrar no caput. Assim, ainda que praticadas no mesmo
sem autorização ou em desacordo
contexto, não há concurso material entre os crimes do caput e do
com determinação legal ou
§1º. Há apenas um crime (progressão criminosa).
regulamentar, matéria-prima,
insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas;
Abrange não apenas substâncias destinadas exclusivamente à
II - Semeia, cultiva ou faz a colheita, preparação da droga, mas também aquelas que, eventualmente,
sem autorização ou em desacordo se prestem a essa finalidade. É necessário o exame pericial para
com determinação legal ou atestar essa condição.
regulamentar, de plantas que se Diferença para o art. 28, §1º: além de o art. 28 exigir elemento
constituam em matéria-prima para a especial “para consumo próprio”, prevê também que a plantação
preparação de drogas; seja para preparação de pequena quantidade. Logo, se for para
média ou grande quantidade, aplicar-se-á esse inciso.
O sujeito ativo é o proprietário, possuidor, administrador ou VIGIA
III - Utiliza local ou bem de qualquer (crime próprio).
natureza de que tem a propriedade, Abrange apenas locais abertos ao público e privados. Não estão
posse, administração, guarda ou abrangidos os locais públicos de uso comum. A conduta (III) só
vigilância, ou consente que outrem estará tipificada se o local for utilizado ou cedido para o tráfico de
dele se utilize, ainda que drogas (não se relaciona à utilização do local para o consumo de
gratuitamente, sem autorização ou droga. Houve abolitio criminis dessa conduta, que era prevista na
em desacordo com determinação lei anterior). Se o agente que permite que outrem utilize de seu
legal ou regulamentar, para o tráfico imóvel para a prática do crime de associação para o tráfico (art.
ilícito de drogas. 35), sem que este local seja utilizado para a distribuição da droga,
não estará tipificado o inciso III.

Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019


“Art. 33.
Sem redação correspondente ...........................................................................................
§ 1º
..................................................................................................
........................................................................................................
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou
produto químico destinado à preparação de drogas, sem
autorização ou em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes
elementos probatórios razoáveis de conduta criminal
preexistente.
..............................................................................................” (NR)

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§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois
terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

É uma CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DA PENA (3ª fase da dosimetria). Direito subjetivo do réu: se ele
preencher os requisitos, deverá ter sua pena reduzida.

Redução: 1/6 a 2/3 -> 4 requisitos CUMULATIVOS: PRIMÁRIO; BONS ANTECEDENTES; NÃO SE DEDICAR A
ATIVIDADES CRIMINOSAS; NÃO INTEGRAR ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.

O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve
ser considerado crime equiparado a hediondo. STF. Plenário. HC 118533/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 23/6/2016 (Info 831).

O STJ concedeu a ordem para que os juízes das varas de execução penal: • concedam o regime aberto para os
presos condenados a 1 ano e 8 meses por tráfico privilegiado (pena mínima) e que estejam em regime fechado.
• reavaliem a situação dos presos condenados por tráfico privilegiado a penas maiores que 1 ano e 8 meses, no
entanto, menores do que 4 anos de reclusão. STJ. 6ª Turma. HC 596.603-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 08/09/2020 (Info 681).

É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no fato de o acusado ser
investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal que ainda não transitou em julgado?
• STJ: SIM. É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação da convicção
de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no art. 33, § 4º, da
Lei n.º 11.343/2006. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 14/12/2016 (Info
596). STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.666/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020.
• STF: NÃO. Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no art. 33,
§ 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a inquéritos policiais ou processos
criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio
da presunção de não culpabilidade). Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em condenações não alcançadas pela preclusão maior (coisa julgada).
STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967). STF. 1ª Turma. HC
166385/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973). STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 19/11/2018.

Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes
exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade
para uso próprio.

ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO


Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, REITERADAMENTE OU NÃO, qualquer dos
crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento
de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.

Exige-se que seja PERMANENTE E DURADOURA, TEM DE TER ESTABILIDADE. A associação eventual/efêmera
não tipifica o crime, configura concurso de agentes.

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Crime Autônomo: independe da concretização ou não do tráfico de drogas. NÃO É EQUIPARADO A CRIME
HEDIONDO (entendimento dos tribunais).

#ATENÇÃO #NÃOCONFUNDIR:
Financiar eventualmente o
Associação para o financiamento (p.ú Financiamento do tráfico
tráfico (art. 33, com causa de
do 35) (art. 36)
aumento do 40, VII)
Se financiar de forma efêmera,
Associarem-se 2 ou mais pessoas, com haverá crime de tráfico com
Exige-se reiteração,
estabilidade, para reiteradamente causa de aumento do inciso VII:
habitualidade.
praticarem o 36. VII - o agente financiar ou
custear a prática do crime

Se o agente financia ou custeia o tráfico, mas não pratica nenhum verbo do art. 33: responderá apenas pelo art.
36 da Lei de Drogas. Se o agente, além de financiar ou custear o tráfico, também pratica algum verbo do art. 33:
responderá apenas pelo art. 33 c/c o art. 40, VII da Lei de Drogas (não será condenado pelo art. 36). STJ (Info
534).

Informante: o “fogueteiro do tráfico” responde pelo art. 37. Trata-se de exceção à teoria monista.

Condução de embarcação ou aeronave sob a influência de drogas: crime do art. 39 da lei de drogas. Trata-se
de crime de perigo concreto (“expondo a dano potencial a incolumidade de outrem”).

Inconstitucionalidade do regime inicial fechado: o Pleno do STF declarou a inconstitucionalidade do art.2º, §1º
da Lei 8.072/90, que impunha o regime inicial fechado para crimes hediondos. Esta decisão foi tomada em
obediência ao princípio da individualização da pena.

Possibilidade de penas restritivas de direito: perfeitamente admissível a substituição da pena privativa de


liberdade por restritivas de direito, bem como a concessão de liberdade provisória.

Exigência de laudo definitivo para condenação: entendimento inédito da 1ª Turma do STF de que a
apresentação do laudo toxicológico definitivo mesmo após a condenação não causa nulidade, sendo necessário
demonstrar o prejuízo (RHC 110.429/MG, rel. Luiz Fux, j.6.3.2012).

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de UM SEXTO A DOIS TERÇOS, se (A
Intensidade do aumento é pelo GRAVIDADE E PLURALIDADE DE CAUSAS)

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem


a TRANSNACIONALIDADE do delito;
A transnacionalidade é causa de fixação da competência da Justiça Federal.

Súmula 607-STJ: A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei 11.343/06) se configura com
a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição de fronteiras

II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação,


poder familiar, guarda ou vigilância;

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III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou
hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de
locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de
serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou
em transportes públicos;

O art. 40, III, da Lei de Drogas prevê como causa de aumento de pena o fato de a infração ser cometida em
transportes públicos. Se o agente leva a droga em transporte público, mas não a comercializa dentro do meio
de transporte, incidirá essa majorante? NÃO. STJ. (Info 543).
A aplicação da causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006 se justifica quando constatada a
comercialização de drogas nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante
se o agente infrator visa ou não aos frequentadores daquele local. STF. (Info 858)
O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado pelo legislador no rol das
majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado com
esse fim tendo em vista que no Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam partem. STJ. 6ª
Turma. HC 528.851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo
de intimidação difusa ou coletiva;
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal (interestadual);

O art. 40, V, da Lei de Drogas prevê que a pena do tráfico e de outros delitos deverá ser aumentada se ficar
"caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal". Para que incida essa
causa de aumento não se exige a efetiva transposição da fronteira interestadual pelo agente, sendo suficiente
a comprovação de que a substância tinha como destino localidade em outro Estado da Federação. STF. (Info
808)

VI - sua prática ENVOLVER OU VISAR A ATINGIR CRIANÇA OU ADOLESCENTE ou a quem tenha, por qualquer
motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

LEI MARIA DA PENHA

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

Requisitos: a) Ação ou omissão; b) que cause violência física, sexual, psicológica, patrimonial ou moral; c)
praticada contra a mulher; d) por motivação de gênero; e) numa situação de vulnerabilidade; f) no âmbito da
unidade doméstica, familiar ou em qualquer relação íntima de afeto (art. 5º):

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.

#CUIDADO: As relações pessoais (caracterizadoras de violência doméstica e familiar contra a mulher)


independem de orientação sexual (art. 5º, parágrafo único).

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#SELIGANASÚMULA
Súmula 600-STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei nº
11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima.

Formas de violência contra a mulher: o art. 7º traz as formas de violência doméstica e familiar contra a mulher:
VIOLÊNCIA FÍSICA Homicídio (art. 121, CP), lesão corporal (art. 129, CP);
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA Ameaça (art. 147, CP), constrangimento ilegal (art. 146, CP);
VIOLÊNCIA SEXUAL Estupro (art. 213, CP);
VIOLÊNCIA PATRIMONIAL Furto (art. 155, CP);
VIOLÊNCIA MORAL Calúnia, difamação, injúria.

Natureza jurídica das medidas protetivas de urgência: são medidas cautelares.

Situações em que é possível a aplicação da lei: segundo o STJ é possível a aplicação da Lei Maria da Penha nas
seguintes situações:
 Filho contra mãe (porque a LMP se aplica também às relações de parentesco);
 Filha contra mãe (agressor também pode ser mulher);
 Pai contra filha;
 Irmão contra irmã (ainda que não morem sob o mesmo teto);
 Genro contra sogra;
 Nora contra a sogra (desde que estejam presentes os requisitos de relação íntima de afeto, motivação
de gênero e situação de vulnerabilidade);
 Padrasto contra enteada (relação íntima de afeto).

Princípio da insignificância:
Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados
contra a mulher no âmbito das relações domésticas.

Laudos ou prontuários médicos: serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos
fornecidos por hospitais e postos de saúde (art. 12, §3º).

Aplicação processual subsidiária: ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos
de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que
não conflitarem com o estabelecido nesta Lei (art. 13).

Atos processuais: os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas
de organização judiciária (art. 14, parágrafo único).

Competência: É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
I - do seu domicílio ou de sua residência;
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
III - do domicílio do agressor.

Possibilidade de retratação: aplica-se nos casos de ações penais públicas condicionadas à representação da
ofendida, a exemplo do crime de ameaça. Só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em
audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o
Ministério Público (art. 16).
133
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Cesta básica e substituição da pena: é vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que
implique o pagamento isolado de multa (art. 17).

Quem pode requerer medida protetiva? MP e Ofendida (Art. 19).

Possibilidade de o juiz conceder novas medidas protetivas ou rever as eventualmente concedidas: poderá o
juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de
urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de
seu patrimônio, ouvido o Ministério Público (art. 19, §3º).

De acordo com a Lei Maria da Penha: Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal,
caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou
mediante representação da autoridade policial.
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo
para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

#SELIGA: O juiz pode decretar prisão preventiva de ofício em casos de violência doméstica com o advento do
Pacote Anticrime?

1ª CORRENTE 2ª CORRENTE
NÃO.

A limitação introduzida no CPP tem incidência da Lei


SIM.
Maria da Penha, revogando tacitamente o art. 20 e
impossibilitando o juiz de decretar, de ofício, a prisão
O art. 20 da Lei Maria da Penha detém um significado
preventiva. Essa corrente prestigia o princípio
presuntivo e ideológico ao proteger a mulher em si,
acusatório, evitando que o juiz adote medidas de
conforme dispõe a norma material, podendo-se
cunho persecutório. Cumpre salientar que a vítima
afirmar que, se estará cumprida e superada a norma
ficará desamparada em determinado caso concreto,
processual penal, cabendo a Lei Maria da Penha ser
ao contrário, pois, ao ser provocado seja por parte do
aplicada em sua integralidade em decorrência do
Ministério Público ou mesmo mediante
princípio da especialidade.
representação do Delegado de Polícia, o juiz deverá
trazer em sua decisão o motivo da prisão preventiva
(art. 312 e seguintes do CPP).

Notificação da ofendida: a ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor,
especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado
constituído ou do defensor público (art. 21). #LEMBRAR A ofendida não poderá entregar intimação ou
notificação ao agressor (art. 21, parágrafo único).

Medidas protetivas que obrigam o agressor (art. 22): a) suspensão da posse ou restrição do porte de armas; b)
afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; c) proibição de determinadas condutas;
d) restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores; e) prestação de alimentos provisionais ou
provisórios.

134
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Medidas protetivas à ofendida (art. 24): a) restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à
ofendida; b) proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de
propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; c) suspensão das procurações conferidas pela
ofendida ao agressor; d) prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos
materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.

Não aplicação da lei nº 9.099/95: aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995 (art. 41).

Súmula 536, STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos
sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha;
Súmula 542, STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a
mulher é pública incondicionada.

Descumprimento de medida protetiva de urgência:

A conduta de descumprir medida protetiva de urgência prevista na Lei Maria da Penha configura crime?
Antes da Lei nº 13.641/2018: NÃO Depois da Lei nº 13.641/2018 (atualmente): SIM
Antes da alteração, o STJ entendia que o
Foi inserido novo tipo penal na Lei Maria da Penha
descumprimento de medida protetiva de urgência
prevendo como crime essa conduta:
prevista na Lei Maria da Penha (art. 22 da Lei
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere
11.340/2006) não configurava infração penal.
medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei:
O agente não respondia nem mesmo por crime de
Pena – detenção, de 3 meses a 2 anos.
desobediência (art. 330 do CP).

#SELIGA A Lei nº 13.641/2018 é uma lei posterior mais gravosa. Isso porque, antes da sua edição, entendia-se
que a conduta de descumprir medida protetiva de urgência não era considerada crime. Assim, se o agente
descumpriu a medida protetiva até o dia 03/04/2018, ele não cometeu delito. No entanto, se esse
descumprimento ocorreu no dia 04/04/2018 ou em data posterior, o sujeito incide no crime tipificado no art.
24-A da Lei Maria da Penha.

Em 2019 a LMP sofreu diversas alterações, vamos lembrá-las:

Assistência à mulher em situação de VD: atendimento pelo SUS e ressarcimento pelo agressor:

Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada
e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de
Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e
emergencialmente quando for o caso.
§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar no
cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal.
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade
física e psicológica:
I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta;
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses.
III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação
de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o
juízo competente. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

135
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§ 3º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios
decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência,
a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)
e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual.
§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica e dano moral ou
patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único
de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total
tratamento das vítimas em situação de violência doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim
arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os
serviços. (Incluído pela Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência)
§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e disponibilizados para o
monitoramento das vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas protetivas terão seus
custos ressarcidos pelo agressor. (Incluído pela Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência)
§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar ônus de qualquer natureza
ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes, nem configurar atenuante ou ensejar possibilidade de
substituição da pena aplicada. (Incluído pela Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência)
§ 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem prioridade para matricular seus dependentes
em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição,
mediante a apresentação dos documentos comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo
de violência doméstica e familiar em curso. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)
§ 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependentes matriculados ou transferidos conforme o
disposto no § 7º deste artigo, e o acesso às informações será reservado ao juiz, ao Ministério Público e aos
órgãos competentes do poder público. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019).

Providências da autoridade policial:

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá,
entre outras providências:
(...)
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis, inclusive os de
assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de separação judicial,
de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável. (Redação dada pela Lei nº 13.894,
de 2019)

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência,
deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos
no Código de Processo Penal:
(...)
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência,
juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão
do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do
Desarmamento); (Incluído pela Lei nº13.880, de 2019)
(...)
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:
(...)
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou
deficiência ou agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019).

136
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Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em
situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado
do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou (Incluído pela Lei nº 13.827, de
2019)
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da
denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de horas e
decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao
Ministério Público concomitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não
será concedida liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

Medidas protetivas de urgência:

Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 horas:
(...)
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso, inclusive
para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de
união estável perante o juízo competente; (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)
(...)
IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor. (Incluído pela Lei nº13.880, de
2019)

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
(...)
V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação básica mais próxima do
seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição, independentemente da existência de vaga.
(Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)

Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de urgência. (Incluído pela Lei nº
13.827, de 2019)
Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão registradas em banco de dados mantido e
regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria
Pública e dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das
medidas protetivas. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

É irrelevante o lapso temporal da dissolução do vínculo conjugal para se firmar a competência do Juizados
Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher nos casos em que a conduta imputada como
criminosa está vinculada à relação íntima de afeto que tiveram as partes. Assim, é necessário apenas que a
conduta delitiva imputada esteja vinculada à relação íntima de afeto mantida entre as partes. STJ. 5ª Turma. HC
542.828/AP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18/02/2020.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL23

1. Norma processual penal.


2. Fontes do direito processual penal.
3. Princípios constitucionais e infraconstitucionais.
4. Interpretação e integração.
5. A lei processual penal no tempo, no espaço e em relação às pessoas.
6. Teoria geral do processo penal e sistemas processuais.
7. Processo Penal Constitucional.

SISTEMAS PROCESSUAIS
INQUISITORIAL ACUSATÓRIO
Não há separação das funções de acusar, defender e Separação das funções de acusar, defender e julgar.
julgar, que estão concentradas em uma única pessoa, Por consequência, se caracteriza pela presença das
que assume as vestes de um juiz inquisidor. partes (actum trium personarum), contrapondo-se
acusação e defesa em igualdade de condições,
sobrepondo-se a ambas um juiz, de maneira
equidistante e imparcial.
Como se admite o princípio da verdade real, o O princípio da verdade real é substituído pelo
acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado princípio da busca da verdade, devendo a prova ser
como mero objeto do processo, daí porque se admite produzida em fiel observância ao contraditório e à
inclusive a tortura como meio de se obter a verdade ampla defesa.
absoluta.
Gestão da prova: o juiz inquisidor é dotado de ampla Gestão de prova: recai precipuamente sobre as
iniciativa acusatória e probatória, tendo liberdade partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir
para determinar de ofício a colheita de elementos quando provocado, e desde que haja necessidade de
informativos e de provas, seja no curso das investigação judicial. Durante a instrução processual,
investigações ou da instrução processual. ver tópico abaixo
A confissão do réu é considerada a rainha das provas Livre sistema de valoração de provas
Os julgadores não estão sujeitos à recusa Possibilidade de recusa do julgador
Procedimento é sigiloso Publicidade do procedimento

SISTEMA MISTO (Sistema Francês): Há uma primeira fase Inquisitiva presidida por um Juiz e uma segunda fase
Acusatória, respeitando-se o devido processo legal.

#ATENÇÃO #NOVIDADELEGISLATIVA
Art. 3º-A, CPP. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação
e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.
Diante dessa modificação, como fica a previsão do art. 156, I, CPP?
156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e
relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
Há entendimento de que ele foi tacitamente revogado pelo Pacote Anticrime, lei posterior que regulou
inteiramente a matéria.

23
Por Jéssica Neves

138
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PRINCÍPIOS
Princípio da - Na instrução processual, como presunção legal relativa de não culpabilidade,
Presunção de invertendo-se o ônus da prova;
inocência (art. - Na avaliação da prova, impondo-se seja valorada em favor do acusado quando houver
5, LVII da CRFB) dúvidas sobre a existência de responsabilidade pelo fato imputado;
- No curso do processo penal, como parâmetro de tratamento do acusado, em especial
no que concerne à análise quanto à necessidade ou não de sua segregação provisória.
Princípio do - Direito a informação.: a parte adversa deve estar ciente da existência da demanda ou
Contraditório dos argumentos da parte contrária;
- Direito de Participação: possibilidade de a parte oferecer reação, manifestação ou
contrariedade à pretensão da parte contrária.
- Direito e obrigatoriedade de assistência técnica de um defensor
Princípio da Inclui a defesa técnica (exercida por um profissional da advocacia, dotado de capacidade
Ampla Defesa postulatória, seja ele advogado constituído, nomeado ou defensor público) e autodefesa
(aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do processo).
Princípio do Ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. A Constituição Federal consagra
nemo tenetur uma das vertentes desse princípio que é o direito ao silencio. A não comunicação ao
se detegere acusado de seu direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo
reconhecimento depende de prova da comprovação do prejuízo.
Princípio da Busca-se a maior exatidão possível na reconstituição do fato controverso, entretanto sem
Busca da a pretensão de se chegar a uma verdade real, mas sim a uma aproximação da realidade.
Verdade
Princípio do Juiz Refere à existência de juízo adequado para o julgamento de determinada demanda,
Natural conforme as regras de competência pré-fixadas, e à proibição de juízos extraordinários ou
tribunais de exceção constituídos após os fatos.

#SELIGANAJURIS #AJUDAMARCINHO
A atuação de grupos especializados (GAECO) não ofende o princípio do promotor natural, uma vez que, nessa
hipótese, se amplia a capacidade de investigação, de modo a otimizar os procedimentos necessários à formação
da opinio delicti do Parquet. (STJ, RHC 109.031/SP)
Não viola o princípio do juiz natural o julgamento de apelação por órgão colegiado presidido por
desembargador, sendo os demais integrantes juízes convocados. STF. 1ª Turma. HC 101473/SP, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 16/2/2016 (Info 814)
Atualmente, de acordo com o entendimento do STF, não é possível a execução provisória da pena, porque:
• O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, prevê que “ninguém poderá ser preso senão
em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência
de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de
prisão temporária ou prisão preventiva.”. Esse artigo é plenamente compatível com a Constituição em vigor.
• O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória”, não deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de interpretação.
• É infundada a interpretação de que a defesa do princípio da presunção de inocência pode obstruir as atividades
investigatórias e persecutórias do Estado. A repressão a crimes não pode desrespeitar e transgredir a ordem
jurídica e os direitos e garantias fundamentais dos investigados.
• A Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos nem o Poder Judiciário embasar
suas decisões no clamor público.
Não é possível a execução provisória da pena mesmo em caso de condenações pelo Tribunal do Júri (HC
163814 ED, Segunda Turma, julgado em 19/11/2019, Mas #ATENÇÃO, o #PACOTEANTICRIME Incluiu a

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possibilidade de executar a pena provisória de réu condenado, pelo Tribunal do Júri, a uma pena superior a 15
anos de reclusão. (art. 292, I, e, CPP) #APOSTACICLOS
Súmula 643-STJ: A execução da pena restritiva de direitos depende do trânsito em julgado da condenação
#OLHAOGANCHO #MPLOVERS: O STF reconhece a existência do princípio do promotor natural, pelo qual veda
se a designação de membro do Ministério Público para atuar em caso específico, quando isso implicar abstração
das regras gerais de atribuições estabelecidas anteriormente à prática da infração penal. Nada impede, porém,
que seja designado Promotor de Justiça para o exercício de atribuições genéricas, ou seja, aquelas que podem
abranger, abstratamente, mais de uma hipótese concreta.

#OLHAOGANCHO2 #DEOLHONAJURIS: Lei Orgânica estadual do Ministério Público pode atribuir


privativamente ao Procurador-Geral de Justiça a competência para interpor recursos dirigidos ao STF e STJ. Não
há inconstitucionalidade formal nessa previsão. Isso porque a Lei federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público - LONMP) não pormenoriza a atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores
de Justiça em sede recursal e, por expressa dicção do caput de seu artigo 29, o rol de atribuições dos
Procuradores-Gerais de Justiça não é exaustivo, de forma que as leis orgânicas dos Ministérios Públicos
estaduais podem validamente ampliar tais atribuições. Além disso, não há ofensa aos princípios do promotor
natural e da independência funcional dos membros do Parquet, uma vez que: • se trata de mera divisão de
atribuições dentro do Ministério Público estadual, veiculada por meio de lei; • e não se possibilita a ingerência
do PGJ nas atividades dos Procuradores de Justiça, que conservam plena autonomia no exercício de seus
misteres legais. STF. Plenário. ADI 5505, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

- PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA: está previsto no art. 5º, LV, CRFB/88, e significa que aos litigantes em processo
administrativo e judicial serão garantidos o contraditório e a ampla defesa. A ampla defesa significa a
autodefesa e a defesa técnica.

 Caráter Irrenunciável da Defesa Técnica: O acusado não pode renunciar à defesa técnica.

 Direito de Escolha do Defensor pelo próprio Acusado24: O direito de escolha do defensor pertence ao
acusado.

#NÃOSABOTESÚMULAS:
Súmula 523 – STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o
anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Súmula 707 – STF: Constitui Nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso
interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.

Súmula 708 – STF: É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único
defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.

A Autodefesa é a defesa exercida pelo próprio acusado. Se o acusado for Advogado poderá exercer as
duas (Defesa Técnica e Autodefesa). A Autodefesa se desdobra em 3: Direito de Audiência, Direito de Presença
e Capacidade Postulatória Autônoma:

1. Direito de audiência: direito de apresentar ao juiz da causa a sua defesa, pessoalmente, que se
materializa através do interrogatório. Daí o entendimento majoritário hoje sobre a natureza jurídica do

24
art. 8º, 2, d do Pacto de São José da Costa Rica

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interrogatório, que é meio de defesa. Mas, por força do direito ao silêncio, não é obrigado a responder
qualquer indagação (Art. 5o, LXIII, CRFB).

2. Direito de presença: assegura-se a oportunidade de ao lado de seu defensor, acompanhar os atos de


instrução, auxiliando-o na realização da defesa. Daí a importância da obrigatória intimação do defensor
e do acusado para todos os atos processuais. Direito fundamental de presenciar e participar da instrução
processual, mas não é absoluto.

3. Direito a postular pessoalmente: em alguns momentos específicos do processo penal, defere-se ao


acusado capacidade postulatória autônoma, independentemente da presença de seu advogado. O
acusado tem capacidade postulatória para: HC, revisão criminal, recursos, pedidos relativos à execução
da pena.

- PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL: O Princípio do Juiz Natural representa o direito do cidadão a conhecer
antecipadamente a autoridade jurisdicional que irá processar e julgá-lo caso venha a praticar um delito. A ideia
básica é a Imparcialidade. Segundo a doutrina, o Princípio do Juiz Natural pode ser extraído de pelo menos dois
dispositivos constitucionais, quais sejam os incisos XXXVII e LIII, ambos do Art. 5º da CRFB/88:

Art. 5º (...)
(...)
XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;
(...)
LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

#SELIGA: Lei posterior pode alterar a competência? Aplica-se aos processos em andamento? Art. 2º do CPP – “A
lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei
anterior”. Observe que lei posterior que modifica a competência tem aplicação imediata aos processos em
andamento na primeira instância (art. 2º CPP), trabalhando-se com o brocardo “tempus regit actum”; porém,
caso já exista sentença de mérito, a causa prosseguirá na jurisdição em que foi prolatada, salvo se suprimido
o tribunal que deveria julgar o recurso.

- PRINCÍPIO DA INADMISSIBILIDADE DE PROVAS OBTIDAS POR MEIO ILÍCITO: o art. 157, “caput”, CPP proíbe a
utilização de provas obtidas por meios ilícitos, salvo quando oriunda de fonte independente ou quando não
guardarem nexo de causalidade entre si (art. 157, §1º, CPP).

- PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE: não está previsto expressamente na CRFB e pode ser visto por 3 viés:
 ADEQUAÇÃO: a medida restritiva deverá ser adequada para o fim proposto.
 NECESSIDADE: dentre as várias medidas restritivas, a escolhida deverá ser a menos gravosa.
 PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO: gravame imposto x bem jurídico a que se quer proteger

LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

- “TEMPUS REGIT ACTUM” ou PRINCÍPIO DA IMEDIATIDADE: enquanto no direito penal se aplica o princípio da
irretroatividade, no sentido de que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu, no direito processual
penal se aplica o princípio da aplicação imediata (tempus regit actum), no sentido de que as leis processuais
penais serão aplicadas desde logo, sem prejuízo da validade dos atos praticados na lei anterior (art. 2º, CPP).
Apesar de o art. 2º, CPP não trazer ressalvas, doutrina e jurisprudência fazem a seguinte subdivisão:

141
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#FOCANATABELA
 São aquelas que contêm uma parte de normas penais e outra de normas
processuais penais.
NORMAS PROCESSUAIS
 REGRA: vamos aplicar a regra das normas penais, ou seja, se for mais
MISTAS
benéfico, retroage; se for mais prejudicial, não retroage. Ex. art. 366, CPP e
art. 89, Lei 9099.
NORMAS
 São aplicadas imediatamente sem prejuízo dos atos praticados na vigência
GENUINAMENTE
de lei anterior. Ex. normas de citação e intimação.
PROCESSUAIS
 São normas processuais inseridas em diploma penal e vice-versa.
 REGRA: Há de se olhar a natureza da norma: se penal, não retroage, salvo
NORMAS PROCESSUAIS
para beneficiar o réu; se processual penal, tem aplicação imediata,
HETEROTÓPICAS
respeitando-se os atos praticados na vigência da lei anterior. Ex. o direito ao
silêncio está previsto no CPP (embora seja lei de cunho material).

Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento
dos princípios gerais de direito.

LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO.


- PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE: enquanto no CP vige o princípio da territorialidade mitigada
(territorialidade como regra [art. 5º, CP] e da extraterritorialidade incondicionada e condicionada [art. 7º, CP]),
o CPP adota o princípio da territorialidade ou da lex fori (art. 1º, CPP). Assim, como regra, todo e qualquer
processo penal que surgir no território nacional deve ser solucionado de acordo com as regras do CPP;

Exceções:
• Tratados, convenções e regras de direito internacional (Diplomata que comete crime no Brasil será
julgado na forma do CPP do seu país)
• Tribunal Penal Internacional
• Jurisdição Política (Crimes de Responsabilidade)
Jurisdição Especial

- POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO CPP FORA DOS LIMITES TERRITORIAIS: ex. quando se tratar de território
nullius.

Juiz de Garantias.
#APOSTACICLOS

JUIZ DAS GARANTIAS JUIZ DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO


É o responsável pelo controle da legalidade da Atuará no processo penal, durante a instrução e
investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos julgamento, para produzir provas e julgar o mérito da
individuais cuja franquia tenha sido reservada à acusação.
autorização prévia do Poder Judiciário
Terá competência até o recebimento da denúncia Não terá contato com os autos do inquérito policial
(início do processo) e ficará impedido de nele atuar. antes do recebimento da denúncia

Compete especialmente ao juiz das garantias, entre outras funções:


 Receber a comunicação imediata da prisão, bem como o auto da prisão em flagrante para o controle da
legalidade da prisão
142
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 Zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja conduzido à sua
presença, a qualquer tempo;
 Decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar, de interceptação
telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática ou de outras formas de
comunicação; de afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico; de c) busca e apreensão
domiciliar; de acesso a informações sigilosas;
 Decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não
repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral;
 Prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em vista das razões
apresentadas pela autoridade policial;
 Determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento razoável para sua
instauração ou prosseguimento
 Julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia
 Decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de colaboração premiada,
quando formalizados durante a investigação;
#SELIGA: Supremo Tribunal Federal suspendeu por tempo indeterminado a eficácia das regras do Pacote
Anticrime que instituem a figura do juiz das garantias.

INQUÉRITO POLICIAL

INQUÉRITO POLICIAL
Procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, que consiste
em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa objetivando a identificação das fontes de
prova e a colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de
possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.
Características Escrito; instrumental; dispensável; sigiloso; inquisitorial; informativo; indisponível;
discricionário.
Formas de De ofício: instaurado a partir de uma portaria.
Instauração Requisição do MP ou do Juiz: sendo a peça inaugural a própria requisição ou uma portaria.
Trata-se de uma ordem, estando o delegado obrigado a instaurar o IP.
Requerimento da vítima: tendo como peça inaugural o próprio requerimento ou uma
portaria. Trata-se de um pedido. Em caso de indeferimento cabe recurso inominado para o
Chefe de Polícia (Polícia Civil)/Superintendente Regional(Polícia Federal
Delação Identificada/ Delatio Criminis: noticia da ocorrência de um crime comunicada por
qualquer do povo.
Auto de Prisão em Flagrante: o próprio auto serve de peça inaugural do IP
Denúncia anônima/apócrifa: não autoriza a imediata instauração de IP, devendo antes ser
verificada a procedência das informações.
PRAZO DE CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL
NATUREZA PRESO SOLTO
Regra Geral (art. 10, CPP) 10 dias + 15* 30 dias
Justiça Federal (art. 66 Lei 5.010/66 e art. 10, CPP) 15 + 15 30 dias
Drogas (art. 51, Lei 11.343/06) 30 + 30 90 + 90
Crimes contra a Economia Popular (art. 10, Lei 1.521/51) 10 dias 10 dias
CPPM 20 dias 40 + 20 dias

NOTITIA CRIMINIS (conhecimento do crime pela polícia)


143
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ESPONTÂNEA Mediante atividade rotineira da polícia


PROVOCADA Quando, por exemplo, o ofendido noticia à polícia o cometimento do crime
DE COGNIÇÃO Com a prisão em flagrante
COERCITIVA
APÓCRIFA/ Denúncia anônima
INQUALIFICADA

▪ Os elementos colhidos na fase investigatória são chamados de elementos de informação, pois são colhidos
em um sistema acusatório, sem a participação das partes, ou seja, não há contraditório, nem ampla defesa.
Prestam-se à decretação de Medidas Cautelares e à Formação da Opinio Delicti e não podem, isoladamente, ser
usados para fundamentar uma condenação, de acordo com a inteligência do Art. 155 do CPP, ressalvadas as
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

#COLANARETINA
Elementos indiciários ou de informação Elementos de prova
São produzidos na fase do inquérito; Em regra, são produzidos na fase processual e,
excepcionalmente, de maneira extraprocessual;
São produzidos de maneira inquisitiva; São produzidos de maneira dialética, com respeito ao
contraditório e a ampla defesa, real (imediato) ou
diferido;

O juiz é provocado nas hipóteses de cláusula de As provas serão produzidas na presença do


reserva jurisdicional e funciona como órgão de magistrado (princípio da imediatidade ou
controle do procedimento, preservando as regras do judicialização da prova) e, além disso, o CPP adotou
jogo; expressamente o princípio da identidade física do juiz
(art. 399, §2º, do CPP), de forma que o juiz que preside
a instrução deverá, em regra, proferir a sentença;
ATENÇÃO! Presença do julgador direta (presença
física do juiz na audiência) ou remota (quando se
utiliza a videoconferência, Lei nº 11.900/09);

Finalidade (teleologia): fomentar a formação da Finalidade (teologia): objetiva contribuir no


opinião delitiva do titular da ação penal e contribuir convencimento do juiz para prolação do provimento
na adoção de medidas cautelares no transcorrer da jurisdicional adequado.
persecução.

 Elementos migratórios:
Desse modo, a interpretação a contrario sensu do art. 155 do CPP deixa entrever que é possível que o
juiz forme sua convicção exclusivamente com base em 3 (três) espécies de provas, ainda que produzidas na fase
investigatória.
Esta tríplice natureza de provas consubstancia o que a doutrina chama de elementos migratórios, pois
migram do inquérito policial para o processo, podendo servir de base para eventual decisão condenatória:

ELEMENTOS MIGRATÓRIOS NO CPP

144
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são as de iminente perecimento, que são colhidas durante o inquérito policial por
PROVAS
inviabilidade lógica da sua realização na fase processual: por exemplo, a constatação
IRREPETÍVEIS
da embriaguez para os efeitos do arti- go 306, CTB.
PROVAS é justificada pela necessidade e urgência, como a interceptação telefônica, por
CAUTELARES exemplo.
INCIDENTE DE instaurado perante o juiz, mesmo durante o trâmite do inquérito, já fixando a
PRODUÇÃO prevenção. Cabe ao juiz convocar as futuras partes do processo e promover o respeito
ANTECIPADA DE ao contraditório e ampla defesa. Exemplo: oitiva de uma testemunha que está prestes
PROVA a deixar o país ou prestes a morrer.

Ora, lícitas e legítimas estas provas, poderão elas ser usadas como fundamentos a embasar o juiz na
prolação de decisão condenatória, ainda que tenham sido produzidas em fase de investigação criminal e
sem as garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa.

#DEOLHONAJURIS - É cabível recurso em sentido estrito para impugnar decisão que indefere produção
antecipada de prova, nas hipóteses do art. 366 do CPP.
As hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito estão previstas no art. 581 do CPP, sendo esse um rol
taxativo (exaustivo). No entanto, apesar disso, é admitida a interpretação extensiva dessas hipóteses legais de
cabimento.
Se você observar as situações ali elencadas, verá que não existe a previsão de recurso em sentido estrito contra
a decisão que indefere o pedido de produção antecipada de provas.
Apesar disso, será possível a interposição de RESE contra essa decisão com base no inciso XVI do art. 581:
“Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: XVI - que ordenar a suspensão do
processo, em virtude de questão prejudicial;”
A decisão que indefere a produção antecipada de provas com base no art. 366 deve ser encarada, para fins de
recurso, como sendo uma decisão que “ordena a suspensão do processo” e, além disso, determina se haverá ou
não a produção das provas. Logo, enquadra-se no inciso XVI do art. 581 do CPP. STJ. 3ª Seção. EREsp 1630121-
RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca.

• Indiciamento: é ato privativo da autoridade policial, segundo sua análise técnico-jurídica do fato, não
podendo o juiz determinar que o Delegado de Polícia faça o indiciamento de alguém.
#OLHAOGANCHO Não podem ser indiciados: a) Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79); b) Membros
do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/73 e art. 40, parágrafo único, da Lei nº 8.625/93).
• O relatório é a peça na qual o delegado descreverá o que foi realizado no IP. O Delegado não expõe juízo de
valor no documento, apenas narra o que foi feito durante a investigação. Esse relatório é encaminhado ao
juiz, nos termos do art. 10 do CPP, para que ele determine que seja dada vista dos autos ao Ministério
Público.
- Atenção: em regra, no relatório final da autoridade policial, não há juízo de valor a respeito da
investigação. No entanto, atenção para a previsão do art. 52 da Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06). Nesse caso, o
Delegado relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que o levaram à classificação
do delito, indicando a quantidade e a natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições
em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os
antecedentes do agente.
• Arquivamento:

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#APOSTACICLOS #VAICAIR! A Lei Anticrime alterou todo procedimento para o arquivamento do IP. Porém, este
artigo está com a eficácia suspensa, em razão de concessão de medida cautelar nas ADI 6298, 6299, 6300 e
6305.
Redação antiga Após a Lei 13.964/2019
Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de
Art. 28. Se o órgão do Ministério quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do
Público, ao invés de apresentar a Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à
denúncia, requerer o arquivamento autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de
do inquérito policial ou de quaisquer revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei.
peças de informação, o juiz, no caso
de considerar improcedentes as § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o
razões invocadas, fará remessa do arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta)
inquérito ou peças de informação ao dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão
procurador-geral, e este oferecerá a da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a
denúncia, designará outro órgão do respectiva lei orgânica.
Ministério Público para oferecê-la, ou
insistirá no pedido de arquivamento, § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento
ao qual só então estará o juiz obrigado da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do
a atender. inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem
couber a sua representação judicial.

#SELIGANOSCONCEITOS
Não existe arquivamento implícito (quando o parquet não inclui na denúncia um indiciado, ou em se tratando
de mais de um crime, não inclui todos eles). O MP deve sempre determinar o arquivamento de forma explícita
e fundamentada.
Arquivamento indireto: quando o MP deixa de oferecer denúncia por entender que o juízo é incompetente para
a ação penal. Não é admitido.

#PACOTEANTICRIME Nos casos de instauração de inquéritos policiais em face de servidores vinculados aos
órgãos de segurança pública (CF, art. 144) para fins de investigação de fatos relacionados ao uso da força letal
praticados no exercício funcional, deve ser dada assistência jurídica (art.14 do CPP)
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a
denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia

#REVISAQUEPASSA #RESUMO:
MOTIVO DO ARQUIVAMENTO É POSSÍVEL DESARQUIVAR?
SIM
Insuficiência de provas
(Súmula 524/STF)
Ausência de pressuposto processual ou de
SIM
condição da ação penal
Falta de justa causa para a ação penal (não há
SIM
indícios de autoria ou prova da materialidade)
Atipicidade (fato narrado não é crime) NÃO
Existência manifesta de causa excludente de STJ: NÃO (REsp 791471/RJ)
ilicitude STF: SIM (HC 125101/SP)
Existência manifesta de causa excludente de NÃO
culpabilidade (posição da doutrina)

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NÃO
Existência manifesta de causa extintiva da (STJ HC 307.562/RS)
punibilidade (STF Pet 3943)
Exceção: certidão de óbito falsa

Termo Circunstanciado: substituto do inquérito policial, realizado pela polícia, nos casos de infrações de menor
potencial ofensivo, sem necessidade de investigações mais aprofundadas.
Investigação Criminal Defensiva: conjunto de atividades investigatórias desenvolvidas pelo defensor, em
qualquer fase da persecução penal, e que pode ser realizado com ou sem assistência de investigador particular,
objetivando a colheita de elementos informativos que possam ser utilizados para beneficiar o investigado em
contraponto à investigação criminal.
# APOSTACICLOS #AJUDAMARCINHO
O STF reconheceu, em sede de repercussão geral, a atribuição do Ministério Público para realizar diretamente
a investigação de crimes (Info 785).
A CF/88 não autoriza de forma expressa essa atuação. Adota-se aqui a teoria dos poderes implícitos: se a
Constituição outorga determinada atividade-fim a um órgão, significa dizer que também concede todos os meios
necessários para a realização dessa atribuição.
A CF/88 confere ao MP as funções de promover a ação penal pública (art. 129, I). Logo, ela atribui ao Parquet
também todos os meios necessários para o exercício da denúncia, dentre eles a possibilidade de reunir provas
para que fundamentem a acusação. Ademais, a CF/88 não conferiu à Polícia o monopólio da atribuição de
investigar crimes. Em outras palavras, a colheita de provas não é atividade exclusiva da Polícia.
Desse modo, é constitucional a investigação realizada diretamente pelo MP, desde que respeitados os seguintes
parâmetros:
 Respeito aos direitos e garantias fundamentais dos investigados.
 Documentação de todos os atos investigatórios.
 Respeito as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição.
 Respeito as prerrogativas dos advogados, inclusive o previsto na Súmula Vinculante nº 14.
 Razoável prazo de duração.
 Sujeição permanente dos atos praticados ao controle do Poder Judiciário.
#DEOLHONAJURIS #APOSTACICLOS - Possibilidade de auxílio da agência de inteligência ao MP estadual
É legal o auxílio da agência de inteligência ao Ministério Público Estadual durante procedimento criminal
instaurado para apurar graves crimes em contexto de organização criminosa. STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).
#DEOLHONAJURIS #APOSTACICLOS - O Ministério Público, no exercício do controle externo da atividade policial,
pode ter acesso a ordens de missão policial (OMP).
Ressalva: no que se refere às OMPs lançadas em face de atuação como polícia investigativa, decorrente de
cooperação internacional exclusiva da Polícia Federal, e sobre a qual haja acordo de sigilo, o acesso do Ministério
Público não será vedado, mas realizado a posteriori.
STJ. 1ª Turma. REsp 1439193-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/6/2016 (Info 587).
Súmula Vinculante nº 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos
de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
#SELIGA: Em regra, o Advogado não precisa de autorização judicial para acessar os autos do Inquérito Policial.
Mas, a Lei das Organizações Criminosas, em seu Art. 23, parágrafo único, determinou que nas investigações
envolvendo organizações criminosas, se faz NECESSÁRIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL para acessar os Autos do IP.
#OLHAOGANCHO

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A nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei n. 13869/19) tipificou, no art. 32 a conduta de: “Negar ao interessado,
seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao
inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim
como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que
indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível: Pena - detenção, de 6 (seis) meses
a 2 (dois) anos, e multa.”
Súmula 234-STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o
seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.

#SELIGANAJURIS
Terceiros que tenham sido mencionados pelos colaboradores podem obter acesso integral aos termos dos
colaboradores para viabilizar, de forma plena e adequada, sua defesa, invocando a SV 14? SIM, desde que
estejam presentes o Requisito positivo (o acesso deve abranger somente documentos em que o requerente é
de fato mencionado como tendo praticado crime e o Requisito negativo (o acesso não inclui atos investigativos
e diligências que ainda se encontram em andamento e não foram consubstanciados e relatados no inquérito ou
na ação penal em tramitação). STF. 2ª Turma. Pet 7494 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 19/5/2020 (Info 978).
É incabível a anulação de processo penal em razão de suposta irregularidade verificada em inquérito policial
STF. 2ª Turma. RHC 131450/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info 824).

AÇÃO PENAL

PRINCÍPIOS
AÇÃO PENAL PÚBLICA
Havendo indícios de autoria e prova da materialidade quanto à prática de um
fato típico e não se fazendo presentes causas extintivas da punibilidade, não
pode o MP deixar de ajuizar a ação penal. São exceções ao princípio da
Princípio da
obrigatoriedade (princípio da obrigatoriedade regrada/discricionariedade
Obrigatoriedade
regrada): (i) Transação penal (art. 76, Lei nº. 9.099/99); (ii) Termo de
ajustamento de conduta; (iii) Parcelamento do débito tributário (art. 83, §2º,
Lei 9.430/96); (iv) Acordo de não persecução penal (art. 28-A, CPP)
Uma vez ajuizada a ação penal pública, dela não pode o MP desistir.
Princípio da #SELIGANAEXCEÇÃO: Suspensão condicional do processo. Preenchidos os
Indisponibilidade (art. 42 e requisitos do art. 89 da Lei 9.099/95, o MP propõe ao agente que cumpra
art. 576 do CPP) algumas condições, que resultará na extinção da punibilidade, sem
antecedentes, reincidência ou condenação na ficha penal.
A ação penal pública incondicionada será deflagrada por iniciativa de órgão
Princípio da Oficialidade oficial, o Ministério Público, independentemente da manifestação de vontade
expressa ou tácita de qualquer pessoa.
Havendo mais de um autor do crime, nada impede que venha o Ministério
Princípio da Divisibilidade Público a ajuizar a ação penal apenas em relação a um ou alguns deles,
postergando a propositura quanto aos demais para outro momento.
AÇÃO PENAL PRIVADA
Princípio da Cabe ao ofendido ou ao seu representante legal decidir acerca do
oportunidade/conveniência oferecimento (ou não) da queixa-crime.
É possível ao ofendido oferecer a queixa-crime e, durante o trâmite
Princípio da disponibilidade
processual, desistir.
Princípio da indivisibilidade O processo criminal de um obriga ao processo de todos.

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ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL


Incondicionada: é a regra, a atuação do MP independe da vontade da vítima.
Ação Penal Titular é o Condicionada: a atuação do MP depende da implementação de uma das
Pública MP condições de procedibilidade
Personalíssima: a ofendido é a única pessoa que pode ingressar em juízo é a
vítima, não se permitindo a sucessão processual. Ex.: crime de induzimento a
erro essencial ou ocultação de impedimento (art. 236/CPP)
Exclusivamente Privada: admite a sucessão processual.
Titular é o Subsidiaria da Pública: cabível diante da inércia do MP. É uma forma de controle
Ação Penal ofendido. externo da atividade do MP, pois permite ao ofendido apresentar queixa contra
Privada o autor do delito, quando o MP se mantém inerte. Essa queixa deve ser
apresentada no prazo de 6 meses contados do último dia do prazo que o MP
dispunha para oferecer a denúncia. Se a queixa não foi feita nesse período, gera-
se uma decadência imprópria, visto que o ofendido perde o direito de ingressar
com a ação penal, mas não há a extinção da punibilidade, podendo o MP oferecer
denúncia enquanto não ocorrer a prescrição.
OUTRAS ESPÉCIES
Direito de qualquer pessoa do povo promover a ação penal. Prevalece que não existe essa
figura no ordenamento jurídico. Entretanto, se a ideia de ação penal popular for
compreendida como qualquer pedido de tutela jurisdicional feito a juízo criminal, há a figura
Ação Penal
do Habeas Corpus. Alguns doutrinadores apresentam como exemplo a denúncia por crime de
Popular
responsabilidade. Esse exemplo, porém, é bastante refutado, por não ser considerada uma
denúncia propriamente dita, mas apenas uma simples notitia criminis e pelo fato de se tratar
de uma infração político-administrativa e não de crime.
Ação de É a ação que se destina à aplicação da medida de segurança aos absolutamente inimputáveis
Prevenção (art. 26 do CP).
Penal
Ocorre na hipótese em que a lei estabelece uma espécie de ação penal para determinado
crime, porém, em virtude do surgimento de circunstâncias especiais, passa a prever,
Ação Penal secundariamente, uma nova espécie de ação penal para essa infração. Ex: nos crimes contra
Secundária a honra, em regra, a ação penal é de iniciativa privada (CP, art. 145, caput). No entanto, se
cometido o crime contra a honra de injúria racial (CP, art. 140, § 3º), a ação penal será pública
condicionada à representação (CP, art. 145, parágrafo único)

QUAL A FUNÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA AÇÃO PENAL PRIVADA?


• O Ministério Público exercerá função de fiscal da lei. A queixa, ainda que seja privativa do ofendido, poderá
ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo.
• O prazo será de três dias para o aditamento da peça inicial acusatória.

• Assim, caso a vítima tenha oferecido queixa contra um coautor, sem contemplar o outro, o Ministério
Público, zelando pela indivisibilidade da ação penal, proporá ao querelante que faça o aditamento (não
é o próprio Ministério Público que fará), sob pena de implicar em renúncia do direito de queixa contra
um deles, passível de ser aplicada aos demais.

• Não há cabimento no aditamento feito pelo Estado-acusação para incluir coautor, a pretexto de zelar pela
indivisibilidade, pois substituirá a vítima no interesse e na legitimidade de agir.
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#Atenção: Na ação privada subsidiária da pública , esses poderes são amplos e estão delineados no art. 29, CPP,
nessas ações o MP pode aditar para adicionar fatos e réus.

NA AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA, O MP PODE:


• Aditar a queixa para incluir novos autores, fatos e elementos
• Repudiar a queixa e oferecer denúncia substitutiva, ainda que não haja quaisquer vícios.
• Fornecer elementos de prova
• Interpor recurso
• Retomar a ação a qualquer tempo, em caso de negligencia do querelante

ADITAMENTO DA DENÚNCIA:
A distinção entre aditamento próprio e impróprio decorre dos princípios da obrigatoriedade e divisibilidade da
ação penal de iniciativa pública.
• O aditamento próprio consiste no acréscimo de fatos (aditamento próprio real) ou acusados (aditamento
próprio pessoal) cuja existência era desconhecida no momento de oferecimento da denúncia.
• Já no aditamento impróprio há uma retificação na denúncia sem que haja a inclusão de novos fatos ou
acusados, como por exemplo: alteração da data ou local do fato, complementação da qualificação do acusado.
• É possível o aditamento da denúncia a qualquer tempo antes da sentença final.

 AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO:


• O Ministério Público depende da representação do ofendido ou do seu representante legal para
promover a ação penal.
• A representação possui natureza jurídica de condição específica de procedibilidade (é a chamada
delatio criminis postulatória).
• O inquérito policial que apura crime de ação penal pública condicionada também só pode ser iniciado
depois do assentimento da vítima ou do seu representante legal (art. 5º, § 4º, do CPP).
• Tem forma livre, podendo ser de forma oral ou de forma escrita, dirigida ao juiz, ao órgão do
Ministério Público ou à autoridade policial, na forma do art. 39 do CPP.
• A representação poderá ser exercida por procurador com poderes especiais, com base no art. 39 do CPP.
• O prazo para representação é de seis meses, contados do conhecimento da autoria do delito.
• Passados os seis meses não havendo representação, incidirá decadência – causa de extinção da punibilidade.
• Retratação: Se a vítima representou nada impede que ela se retrate retirando a representação, desde que
o faça até o oferecimento da denúncia (art. 25, CPP). Art. 25. A representação será irretratável, depois de
oferecida a denúncia.

#OLHAOGANCHO - Violência doméstica: o art. 16 da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) autoriza que a
vítima se retrate (renuncie) a representação em audiência específica e com a presença obrigatória do juiz e do
Ministério Público. Além disso, o marco de retratação na violência doméstica passa a ser o recebimento da
denúncia.

• Eficácia objetiva: A representação goza de eficácia objetiva, ou seja, caso a vítima represente contra parte
dos infratores nada impede que o titular da ação denuncie outras pessoas (na privada não pode), afinal a
representação é uma autorização para o fato, para que providências sejam tomadas quanto ao fato (aspecto
objetivo).
• Não vinculação da representação: Em razão da independência funcional, o MP pode alterar os artigos de
lei sugeridos pela vítima ao representar, não pode, contudo, denunciar outros fatos que caracterizem novo
crime de ação pública condicionada, sem que a vítima tenha representado.

#NÃOCONFUNDA
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CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE CONDIÇÃO OBJETIVA DE PUNIBILIDADE


Direito Processual Direito Material
São condições necessárias ao regular exercício do Condição exigida pelo legislador para que o fato se
direito de ação, podendo ser: torne punível e que está fora do injusto culpável.
Genéricas: exigida Especificas: variam de Chama-se objetiva porque independe do dolo ou da
para toda ação: acordo com a natureza, o culpa do agente. A pretensão punitiva do Estado fica
- Legitimidade Ad procedimento ou a pessoa condicionada a implementação dessa condição.
Causam acusada. Ex.:
- Interesse de Agir - Representação da vítima
- Justa Causa - Requisição do Ministro
da Justiça

PRAZO PARA O OFERECIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA


Depende do tipo de delito e se o réu está preso ou solto.
Hipótese Preso Solto
Denúncia – Regra Geral 05 15
Queixa 05 6 meses
Lei de Drogas 10 10
Processo Militar 10+10 15+15+15
Crimes contra economia popular 02 02
Crime Eleitoral 10 10
Crimes de competência originária dos Tribunais 5 15

#SAIBADIFERENCIAR
DENÚNCIA GENÉRICA DENÚNCIA GERAL
É aquela que narra vários fatos típicos ou vários Quando se narra o fato criminoso com todas as
núcleos verbais do mesmo tipo e os imputa circunstâncias e o imputa indistintamente a todos os
genericamente aos acusados, sem que se possa saber acusados. Saber se todos os acusados cometeram o
quem agiu e de qual maneira crime é matéria de prova e não pressuposto para a
validade do processo
É inepta e deve ser rejeitada. STJ: RHC 24515 e HC É apta e deve ser recebida
117306

Venda de combustível adulterado: distribuidor, Denúncia narra que todos os sócios determinaram
transportador, varejista. (não soube identificar o que fossem cortadas árvores ilegalmente, em área de
momento correto da adulteração) preservação permanente. Saber se todos realmente
praticaram a conduta é questão de prova, mérito

#OLHAOGANCHO #APOSTACICLOS - A teoria do domínio do fato não permite, isoladamente, que se faça uma
acusação pela prática de qualquer crime, eis que a imputação deve ser acompanhada da devida descrição, no
plano fático, do nexo de causalidade entre a conduta e o resultado delituoso. STJ. 6ª Turma. REsp 1.854.893-SP,
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 08/09/2020 (Info 681).

 Requisitos da inicial acusatória:


Requisitos (art. 41 CPP – denúncia e Observações:
queixa)

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Exposição do fato criminoso com todas as Na narrativa deve constar as qualificadoras e as causas de
suas circunstâncias. aumento, não sendo preciso incluir as circunstâncias
agravantes, uma vez que elas podem ser reconhecidas de
ofício pelo magistrado, conforme art. 385 do CPP.

STJ: "o oferecimento de denúncia por delito tipificado em


norma penal em branco sem a respectiva indicação da norma
complementar constitui evidente inépcia, uma vez que
impossibilita a defesa adequada do acusado"

Denúncia em crimes societários:


· Não se exige descrição minuciosa e detalhada da conduta.
· Exige-se que haja o mínimo de individualização da conduta,
sob pena de inépcia. É necessário que o MP estabeleça o
vínculo entre o denunciado e a empreitada criminosa a ele
imputada.
· Não é possível imputar a alguém uma conduta penal tão
somente pelo fato de ocupar determinado cargo. Isso seria
adotar a responsabilização objetiva na esfera penal.
Qualificação do acusado. Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o
seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a
ação penal, quando certa a identidade física
Classificação do crime Em homenagem ao sistema acusatório, os vícios de
enquadramento de artigo não são corrigidos no momento da
admissibilidade da inicial e sim na prolação da sentença, por
meio do instituto da emendatio libelli.

Na emendatio, mantém-se os fatos narrados com todos as


circunstâncias, adequando-se apenas a capitulação, para
condenar aquele réu na capitulação correta, ainda que mais
grave, nos termos do art. 383 do CPP.
Rol de testemunhas A 5ª Turma do STJ concluiu que não há qualquer óbice à
intimação do Ministério Público para que proceda à juntada do
rol de testemunhas mesmo após o oferecimento da denúncia,
conquanto o faça antes da citação do acusado e apresentação
da resposta à acusação, sem que se possa objetar eventual
nulidade absoluta por violação ao sistema acusatório.
** Nome e assinatura: A peça acusatória deve conter o nome e a assinatura do autor da ação.
Segundo os Tribunais Superiores e posição doutrinária dominante, a ausência de assinatura na denúncia,
todavia, não ensejará a obrigatória rejeição da peça acusatória ou a nulidade ab initio do processo, caso não
haja dúvidas acerca da autenticidade da peça acusatória, ou quando for facilmente identificável aferir quem
a elaborou (STJ, HC 124.903/MG).

#VAICAIR #APOSTACICLOS – ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a
prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 anos, o Ministério
Público poderá propor ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL, desde que necessário e suficiente para

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reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:


(LEI 13964/19)
#FOCONATABELA
REQUISITOS CONDIÇÕES NÃO APLICAÇÃO DO ANPP

Não há motivos para o I - reparar o dano ou restituir a coisa I - se for cabível transação penal de
arquivamento da investigação; à vítima, exceto na impossibilidade competência dos Juizados Especiais
de fazê-lo; Criminais, nos termos da lei ;
O investigado confessou formal II - renunciar voluntariamente a II - se o investigado for reincidente
e circunstancialmente a prática bens e direitos indicados pelo ou se houver elementos
de infração penal; Ministério Público como probatórios que indiquem conduta
instrumentos, produto ou proveito criminal habitual, reiterada ou
do crime; profissional, exceto se
insignificantes as infrações penais
pretéritas;
A infração penal foi praticada III - prestar serviço à comunidade ou III - ter sido o agente beneficiado
sem violência ou grave ameaça; a entidades públicas por período nos 5 (cinco) anos anteriores ao
correspondente à pena mínima cometimento da infração, em
cominada ao delito diminuída de acordo de não persecução penal,
1/3 a 2/3, em local a ser indicado transação penal ou suspensão
pelo juízo da execução, na forma do condicional do processo;
art. 46 do CP;
A infração possui pena mínima IV - pagar prestação pecuniária, a IV - nos crimes praticados no
inferior a 4 anos (para aferição ser estipulada nos termos do art. 45 âmbito de violência doméstica ou
da pena mínima cominada ao do CP, a entidade pública ou de familiar, ou praticados contra a
delito, serão consideradas as interesse social, a ser indicada pelo mulher por razões da condição de
causas de aumento e juízo da execução, que tenha, sexo feminino, em favor do
diminuição aplicáveis ao caso preferencialmente, como função agressor.
concreto); proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente
lesados pelo delito;
O acordo é uma medida V - cumprir, por prazo determinado, I - se for cabível transação penal de
necessária e suficiente para a outra condição indicada pelo competência dos Juizados Especiais
reprovação e prevenção do Ministério Público, desde que Criminais, nos termos da lei;
crime. proporcional e compatível com a
infração penal imputada.
EFEITOS
CUMPRIMENTO DO ANPP DESCUMPRIMENTO DO ANPP
Cumprido integralmente, o juízo competente Descumpridas quaisquer das condições estipuladas, o
decretará a extinção de punibilidade; Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para
fins de sua rescisão e posterior oferecimento de
denúncia.
A celebração e o cumprimento do acordo de não O descumprimento também poderá ser utilizado pelo
persecução penal não constarão de certidão de Ministério Público como justificativa para o
antecedentes criminais, exceto para os fins eventual não oferecimento de suspensão
previstos no inciso III do § 2º deste artigo. condicional do processo.

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#APOSTACICLOS #SAINDODOFORNO - A Lei nº 13.964/2019, no ponto em que institui o ANPP, é considerada


lei penal de natureza híbrida (#olhaogancho), admitindo conformação entre a retroatividade penal benéfica e
o tempus regit actum.
O ANPP se esgota na etapa pré-processual, sobretudo porque a consequência da sua recusa, sua não
homologação ou seu descumprimento é inaugurar a fase de oferecimento e de recebimento da denúncia.
O recebimento da denúncia encerra a etapa pré-processual, devendo ser considerados válidos os atos praticados
em conformidade com a lei então vigente.
Dessa forma, a retroatividade penal benéfica incide para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos
anteriores à Lei nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia.
Assim, mostra-se impossível realizar o ANPP quando já recebida a denúncia em data anterior à entrada em vigor
da Lei nº 13.964/2019.
STJ. 5ª Turma. HC 607003-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683).
STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.

Enunciado 32 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ: A proposta de acordo de não persecução
penal representa um poder-dever do Ministério Público, com exclusividade, desde que cumpridos os requisitos
do art. 28-A do CPP, cuja recusa deve ser fundamentada, para propiciar o controle previsto no § 14 do mesmo
artigo.

#RAPIDINHAS ANPP
1. O investigado deseja que o MP ofereça o acordo, mas o Parquet se recusa a fazê-lo. O que é possível
fazer? No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o
investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior do Parquet, na forma do art. 28 do CPP.
2. Assinatura - O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo
membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor.
3. Homologação judicial - O acordo de não persecução penal precisará ser homologado pelo magistrado.
Para essa homologação, será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar:
• a sua voluntariedade (por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor) e
• a sua legalidade.
4. Devolução do acordo ao MP - Se o juiz considerar que as condições previstas no acordo são
inadequadas, insuficientes ou abusivas, ele devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada
a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor. Se o MP não adequar a proposta, o juiz
não homologará o acordo.
5. Homologação - Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos
ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal.
6. Recusa à homologação - O juiz poderá recusar a homologação do acordo quando: • a proposta não
atender aos requisitos legais; ou • o magistrado determinar ao MP que reformule a proposta e não for realizada
essa adequação.
7. O que acontece se for recusada a homologação? O juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a
análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia.
8. Cabe recurso contra a decisão do juiz que recusa homologação? SIM. Cabe recurso em sentido estrito:
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
(...) XXV - que recusar homologação à proposta de acordo de não persecução penal, previsto no art. 28-A desta
Lei. (Incluído pela Lei 13.964/2019)
9. Intimação da vítima - A vítima será intimada: • se houver homologação do acordo; • e também se
houver seu descumprimento.

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#ATENÇÃO #OLHAOGANCHO - A prescrição não é contada enquanto o ANPP não for cumprido ou rescindido,
nos termos do art. 116, III, do CP. Trata-se de nova CAUSA SUSPENSIVA OU IMPEDITIVA da prescrição trazida
pela Lei nº 13.964/2019.

Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

(...) IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)

- Ação Civil Ex Delicto:


#SELIGANADIFERENÇA:
Ação Civil Ex Delicto Ação de Execução Ex Delicto
A vítima não precisa aguardar a resolução do processo Caberá à vítima aguardar o trânsito em julgado da
criminal, propondo, imediatamente, ação ordinária de condenação penal para, depois, executá-la no cível.
indenização, para obtenção do título executivo cível. Fixado o valor indenizatório mínimo, é possível a
majoração na fase liquidatória no juízo cível.
Vantagens: possibilidade de ajuizamento da ação não Vantagem: desnecessidade de ajuizamento de ação
apenas contra quem é ou pode ser réu na ação penal, ordinária para discutir o dever de indenizar.
mas contra todos os civilmente responsáveis.
Desvantagens: possibilidade de que o magistrado da Desvantagens: possibilidade de, ao final do processo
vara cível suspenda a ação até o julgamento definitivo criminal, sobrevir sentença absolutória.
da ação penal.

#UMPOUCODELEISECA
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de
necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não
tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:
I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;
II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.

JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA.

ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA: a doutrina costuma fazer a seguinte divisão:


Leva em consideração a natureza da infração penal (art. 69, III, CPP). Ex. Justiça
RATIONE MATERIAE
Militar, Justiça Eleitoral, Tribunal do Júri.
Leva em consideração os casos de foro por prerrogativa de função. Ex.
deputados federais e senadores serão julgados pelo STF (art. 102, I, “b”, CF);
governadores e Desembargadores serão julgados perante o STJ (art. 105, I, “a”,
CF); juízes e promotores dos Estados serão julgados pelo respectivo Tribunal de
Justiça local, salvo no tocante a crimes eleitorais (art. 86, III, CF).
RATIONE FUNCIONAE
#SELIGA: Com a decisão proferida pelo STF, em 03/05/2018, na AP 937 QO/RJ,
todos os inquéritos e processos criminais que estavam tramitando no Supremo
envolvendo crimes não relacionados com o cargo ou com a função
desempenhada pela autoridade, foram remetidos para serem julgados em 1ª
instância. Isso porque o STF definiu, como 1ª tese, que “o foro por prerrogativa
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de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo


e relacionados às funções desempenhadas”. O entendimento acima não se
aplica caso a instrução já tenha se encerrado. Em outras palavras, se a instrução
processual já havia terminado, mantém-se a competência do STF para o
julgamento de detentores de foro por prerrogativa de função, ainda que o
processo apure um crime que não está relacionado com o cargo ou com a função
desempenhada. Isso porque o STF definiu, como 2ª tese, que “após o final da
instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para
apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações
penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro
cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.” STF. 1ª
Turma. AP 962/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgado em 16/10/2018 (Info 920).
Fixada seja pelo lugar da infração, seja pelo domicílio, seja pela residência do réu
RATIONE LOCI
(art. 69, I e II, CPP).
É a distribuição feita pela lei entre diversos juízes da mesma instância ou de
instâncias diversas para, em um mesmo processo, praticar determinados atos.
COMPETÊNCIA
Ex. No Tribunal do Júri compete ao juiz sumariante exercer a competência na 1ª
FUNCIONAL
fase (iudicium accusationis) e ao Juiz Presidente do Tribunal do Júri exercer a
competência na 2ª fase (iudicium causae).

- REGRA NA DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA: o art. 69, CPP, traz as regras de fixação da competência: a) o
lugar da infração; b) o domicílio ou residência do réu; c) a natureza da infração; d) a distribuição; e) a conexão
ou continência; f) a prevenção; g) a prerrogativa de função.

 Crime consumado: lugar em que se consumar a infração;


 Crime tentado: lugar em que for praticado o último ato de execução.
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar
REGRA
a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de
execução.
 TEORIA DO RESULTADO
Art. 70.
§ 1º Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora
dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no
Brasil, o último ato de execução.
ENVOLVENDO § 2º Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional,
MAIS DE UM PAÍS será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha
produzido ou devia produzir seu resultado.
§3º Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando
incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas
ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.
INFRAÇÃO
CONTINUADA ou Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em
CRIME território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.
PERMANENTE
NÃO SENDO Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo
CONHECIDO O domicílio ou residência do réu.

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NFPSS PARTE II | MPMG
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LUGAR DA § 1º Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela


INFRAÇÃO prevenção.
§ 2º Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será
competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato.
Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o FORO
AÇÃO PENAL
DE DOMICÍLIO OU DA RESIDÊNCIA DO RÉU, ainda quando conhecido o lugar da
PRIVADA
infração.
CRIMES
Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será
PRATICADOS
competente o juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o
FORA DO
acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil, será competente o juízo da Capital
TERRITÓRIO
da República.
BRASILEIRO
Justiça Estadual.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) IV - os crimes políticos
CONTRAVENÇÃO e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da
PENAL União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, EXCLUÍDAS AS
CONTRAVENÇÕES e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça
Eleitoral;

TIPO DE CRIME COMPETÊNCIA


CRIMES PLURILOCAIS COMUNS Teoria do resultado
CRIMES PLURILOCAIS DOLOSOS CONTRA A VIDA Teoria da atividade
JUIZADOS ESPECIAIS Teoria da atividade
ATOS INFRACIONAIS Teoria da atividade
CRIMES FALIMENTARES Local onde foi decretada a falência

#SELIGA No JECRIM aplica-se a teoria da atividade (a competência será do lugar da ação ou omissão). Por sua
vez, na ação penal privada, a competência será do lugar da infração ou do domicílio do réu (foros concorrentes).
Também há a exceção nos casos de crimes contra vida, em que a competência será determinada pela teoria
da ATIVIDADE. Assim, no caso de crimes contra a vida (dolosos ou culposos), se os atos de execução ocorreram
em um lugar e a consumação se deu em outro, a competência para julgar o fato será do local onde foi praticada
a conduta (local da execução).

ABSOLUTA RELATIVA
Interesse Público Interesse Preponderante das Partes
Previsto na CF Legislação infraconstitucional
Improrrogável pela vontade das partes Prorrogável
Sua inobservância gera nulidade absoluta do A nulidade é relativa, depende de comprovação do
processo penal prejuízo.
Pode ser arguida a qualquer tempo, não estando Deve ser arguida na primeira oportunidade que tiver para
sujeita a preclusão se manifestar, sob pena de preclusão.
O art. 567/CPP determina que a incompetência do juízo anula somente os atos decisórios.
Pode ser reconhecida de ofício até esgotar sua Pode ser declarada de ofício até o início da instrução
jurisdição probatória.
Não é modificada pela conexão ou continência Pode ser modificada
Exemplos: material e funcional. Exemplos: Territorial, prevenção, distribuição, conexão e
continência.

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CRITÉRIOS DE COMPETÊNCIA
Lugar da infração:
Domicílio ou residência do réu;
Natureza da infração;
Distribuição;
Conexão ou continência;
Prevenção;
Prerrogativa de função.
Lugar da infração:

No critério do lugar da infração, o CPP adota a teoria do resultado (o juízo do lugar onde a infração se consumou,
ou, sendo hipótese de tentativa, o local onde o último ato de execução foi praticado.), entretanto, em razão do
princípio do esboço do resultado, admite-se que a competência seja fixada pelo local da atividade como forma
de facilitar a produção de provas, como no caso de homicídio.

- Conexão e continência
São institutos que visam à alteração da competência e não à sua fixação inicial. O feito poderia ser julgado por
determinado juiz, entretanto, quando houver alguma das situações abaixo a lei permite a mudança.
 Conexão: trata-se de ligação do liame existente entre infrações, sendo recomendado a união dos
processos a fim de se obter uma perfeita visão do quadro probatório. Há conexão quando:
o Ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas (conexão intersubjetiva por simultaneidade ocasional), ou por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar (conexão intersubjetiva por concurso), ou por
várias pessoas, umas contra as outras (conexão intersubjetiva por reciprocidade);
o Houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir
impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas (conexão objetiva, lógica ou material);
o A prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de
outra infração (conexão instrumental, probatória ou processual).
 Continência: refere-se à hipótese de um fato criminoso conter outros, tornando todos uma unidade
indivisível. A competência será determinada pela continência quando:
o Duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
o No caso de concurso formal, erro na execução e resultado diverso do pretendido.

CONEXÃO
INTERSUBJETIVA POR SIMULTANEIDADE: ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido
praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas
CONCURSAL: ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas por
várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar
POR RECIPROCIDADE: ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas
por várias pessoas, umas contra as outras
OBJETIVA TELEOLÓGICA: no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar as
outras
CONSEQUENCIAL: no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para ocultar,
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas
INSTRUMENTAL Quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares
influir na prova de outra infração.
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Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes
regras:

SEPARAÇÃO FACULTATIVA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA


Quando as infrações tiverem sido praticadas em Concurso entre a jurisdição comum e a militar
circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes

Quando pelo excessivo número de acusados e para Concurso entre a jurisdição comum e o juízo de
não lhes prolongar a prisão provisória, ou por menores (ECA)
outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente Sobrevier doença mental em relação a um corréu
a separação.
Houver corréu foragido

Não houver número mínimo de jurados no tribunal do


júri (estouro de urna)

- Competência Material Em Razão Da Pessoa (Ratione Personae): foro por prerrogativa de função.
STF Infrações penais comuns:
- Presidente da República
- Vice-Presidente
- Membros do Congresso Nacional
- Seus próprios Ministros
- Procurador-Geral da República (art. 102, I, b, da CF).
Infrações penais comuns e de responsabilidade:
- Ministros de Estado
- Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I
(estabelecendo a competência do Senado Federal para julgar os comandantes das forças armadas em
crimes de responsabilidade conexos com os do Presidente da República e Vice)
- Membros dos Tribunais Superiores, do Tribunal de Contas da União
- Chefes de missão diplomática em caráter permanente (art. 102, I, c, da CF).
STJ Infrações penais comuns: Governadores dos Estados e do Distrito Federal (art. 105, I, a, da CF).
Infrações penais comuns e de responsabilidade:
- Desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal
- Membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, dos Tribunais Regionais Federais,
dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho
- Membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e do Ministério Público da União que
oficiem perante Tribunais.
TRF Infrações penais comuns e de responsabilidade:
- Juízes Federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho
- Membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral
- Prefeitos Municipais que praticarem crimes submetidos à Justiça Federal (Súmula 702 do STF).
TJ Infrações penais comuns e de responsabilidade:
- Juízes Estaduais e do Distrito Federal
- Membros do Ministério Público, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral (art. 96, III, da CF)
- Prefeitos Municipais que praticarem crimes submetidos à Justiça Estadual (art. 29, X, da CF).

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NÃO SABOTE AS SÚMULAS


Súmula Vinculante 45: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa
de função, estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Súmula 522-STF: Salvo ocorrência de tráfico com o exterior, quando, então, a competência será da Justiça
Federal, compete a justiça dos estados o processo e o julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
#APOSTACICLOS Súmula 704--STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo
legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.
Súmula 706-STF: É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção.
Súmula 38-STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades.
Súmula 104-STJ: Compete a justiça estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de
documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
Súmula 140-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como
autor ou vítima.
Súmula 208-STJ: Compete a justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a
prestação de contas perante órgão federal.
Súmula 209-STJ: Compete a justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
incorporada ao patrimônio municipal.
Súmula 235 STJ: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.

#MUITAATENÇÃO
O STJ tem as seguintes súmulas:
Súmula 528-STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via postal
processar e julgar o crime de tráfico internacional.
Súmula 151-STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-
se pela prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens.
Porém, o STJ já flexibilizou esse entendimento para admitir como juiz competente o do local de apreensão da
droga ou da mercadoria contrabandeada ou descaminhada. A última decisão nesse sentido é de 07 de junho
de 2021 (saindo do forno!) (3ª Turma do STJ, CC nº 177882). Essas decisões são fundamentadas na facilidade de
colheita de provas: “Embora, no local de apreensão da droga, já seja possível a realização da prova da
materialidade delitiva, o mesmo não acontece no que diz respeito à autoria, cuja apuração a distância é difícil e
muitas vezes inviável”. Na hora da prova, verifique se a questão está cobrando o enunciado de súmula ou se
exige do candidato o conhecimento sobre esses julgados específicos do STJ!!

#DEOLHONAJURIS
#APOSTACICLOS: As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de
função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido praticados
durante o exercício do cargo e em razão dele. Embora se viesse interpretando tais dispositivos de forma literal,
ou seja, abrangendo todos os crimes comuns, é possível e desejável atribuir à norma uma acepção mais
restritiva, com base na teleologia do instituto e nos demais elementos de interpretação constitucional. Trata-
se da chamada “redução teleológica” (Karl Larenz) ou, de forma mais geral, da aplicação da técnica da
“dissociação” (Riccardo Guastini), que consiste em reduzir o campo de aplicação de uma disposição normativa
a somente uma ou algumas das situações de fato previstas por ela segundo uma interpretação literal, que se dá
para adequá-la à finalidade da norma. Nessa operação, o intérprete identifica uma lacuna oculta (ou axiológica)
e a corrige mediante a inclusão de uma exceção não explícita no enunciado normativo, mas extraída de sua
própria teleologia. Como resultado, a norma passa a se aplicar apenas a parte dos fatos por ela regulados.

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No mesmo julgamento, o STF decidiu que:


Além disso, decidiu que:
Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de
alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o
agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. (STF.
Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.)
O STJ é incompetente para julgar crime praticado durante mandato anterior de Governador, ainda que
atualmente ocupe referido cargo por força de nova eleição. Ex: João praticou o crime em 2010, quando era
Governador; em 2011 foi eleito Senador; em 2019 assumiu novamente como Governador; esse crime praticado
em 2010 será julgado em 1ª instância (e não pelo STJ). Como o foro por prerrogativa de função exige
contemporaneidade e pertinência temática entre os fatos em apuração e o exercício da função pública, o
término de um determinado mandato acarreta, por si só, a cessação do foro por prerrogativa de função em
relação ao ato praticado nesse intervalo. STJ. Corte Especial. QO na APn 874-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 15/05/2019 (Info 649).
A jurisprudência do STJ tem os seguintes entendimentos sobre a competência para julgar o crime de estelionato
praticado em situações que envolvam:
 Depósito em favor de conta bancária de terceiro: juízo no qual se situa a conta favorecida. No caso em que
a vítima, induzida em erro, efetuou depósito em dinheiro e/ou transferência bancária para a conta de
terceiro, a obtenção da vantagem ilícita ocorreu quando o estelionatário se apossou do dinheiro, ou seja,
no momento em a quantia foi depositada em sua conta. (STJ. 3ª Seção. CC 169053-DF, 11/12/2019 (Info
663).
 Saque ou compensação de cheque clonado, adulterado ou falsificado: a competência é do local onde a
vítima possui a conta bancária. Isso porque, nesta hipótese, o local da obtenção da vantagem ilícita é aquele
em que se situa a agência bancária onde foi sacado o cheque adulterado, ou seja, onde a vítima possui
conta bancária. O STJ, inclusive, tem a súmula 48 sobre isso: compete ao juízo do local da obtenção da
vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.)
A Lei nº 14.155, de 27 de maio de 2021, contudo modificou essa situação ao incluir o §4º, no art. 70 do CPP
fixando a competência pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência
firmar-se-á pela prevenção, quando o estelionato for praticado mediante depósito, mediante emissão de
cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante
transferência de valores. Mas #ATENÇÃO, de acordo com o Edital nº 01/21, essa lei não pode ser objeto de
cobrança, pois promulgada após o edital de retomado do concurso, publicado em 22 de abril de 2021. Vale,
então, o entendimento jurisprudencial vigente até então.
Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para viabilizar, para fins medicinais, o
cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como porte em outra unidade da
federação, quando não demonstrada a internacionalidade da conduta. STJ. 3ª Seção. CC 171.206-SP, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).
Ausentes os elementos que revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em detrimento de
interesses da União, compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes relacionados a pirâmide financeira em
investimento de grupo em criptomoeda. (STJ. 3ª Seção. CC 170392-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
10/06/2020 (Info 673)

QUESTÕES E PROCEDIMENTOS INCIDENTES

QUESTÕES PREJUDICIAIS
São pontos fundamentais, vinculados ao direito material, penal ou extrapenal, que necessitam ser decididos
antes do mérito da causa, porque a este se liga.

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HOMOGÊNEAS/ Envolve uma questão essencialmente penal, que é analisada perante o mesmo juízo criminal.
COMUM/ Ex.: infração antecedente no crime de lavagem de dinheiro.
PERFEITA
Vinculam-se a outras áreas do direito, devendo ser decididas por outro juízo. É subdividida
HETEROGÊNEAS/ OBRIGATÓRIA FACULTATIVA
JURISDICIONAL/ Questões referentes ao estado civil das Todas as questões que não envolvem o estado
IMPERFEITA pessoas impõem a suspensão do das pessoas, podendo o juiz, de oficio ou a
processo criminal, enquanto se requerimento, suspender o processo criminal e a
aguarda a decisão pelo juízo cível. A prescrição até a resolução na esfera cível de
suspensão pode ser decretada de ofício acordo com a conveniência de cada caso. Para
ou a requerimento, cabendo RESE tanto deve ponderar dois aspectos: ação civil já
apenas da decisão que suspender. O esteja ajuizada e apresente debate de difícil
prazo da suspensão é indefinido, solução. Cabe RESE apenas da decisão que
aguardando-se a solução da suspender o processo. Caso o processo seja
controvérsia na esfera cível, com o suspenso, a lei impõe a inquirição das
trânsito em julgado da decisão. O juiz testemunhas e a realização de outras provas de
criminal, em caso de urgência, pode natureza urgente. O juiz determina o prazo da
determinar a produção de provas. suspensão, ao final do qual pode haver sua
Suspende-se também o prazo prorrogação ou retomada da ação criminal,
prescricional. O MP tem legitimidade julgando o mérito, de forma ampla. A decisão
para propor essa ação civil. Resolvida civil transitada em julgada também vincula o
no cível, a questão não poderá ser magistrado na esfera criminal. MP também tem
discutida no juízo criminal. legitimidade para propor a ação
PROCEDIMENTOS INCIDENTAIS
São apontados no CPP e são interpostos ao longo da causa principal, que demandam solução pelo próprio juiz
criminal e impedem que mérito seja apreciado. Tramitam de forma paralela ao procedimento principal para não
o tumultuar.
De: Suspeição, Incompetência do juízo, Litispendência, Ilegitimidade de parte e Coisa
Exceções julgada
Art. 96. A arguição de suspeição precederá a qualquer outra, salvo quando fundada em
motivo superveniente.
Art. 108. A exceção de incompetência do juízo poderá ser oposta, verbalmente ou por
escrito, no prazo de defesa.
Art. 111. As exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão, em
regra, o andamento da ação penal.
Incompatibilidades Art. 112. O juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou funcionários de justiça
e impedimentos e os peritos ou intérpretes abster-se-ão de servir no processo, quando houver
incompatibilidade ou impedimento legal, que declararão nos autos. Se não se der a
abstenção, a incompatibilidade ou impedimento poderá ser argüido pelas partes,
seguindo-se o processo estabelecido para a exceção de suspeição.
Conflitos de Art. 113. As questões atinentes à competência resolver-se-ão não só pela exceção
jurisdição própria, como também pelo conflito positivo ou negativo de jurisdição.
Art. 114. Haverá conflito de jurisdição:
I - quando duas ou mais autoridades judiciárias se considerarem competentes, ou
incompetentes, para conhecer do mesmo fato criminoso;
II - quando entre elas surgir controvérsia sobre unidade de juízo, junção ou separação de
processos.

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Restituição de Art. 118. Antes de transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não
coisas apreendidas poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo.
Art. 119. As coisas a que se referem os arts. 74 e 100 do Código Penal (produtos e
instrumentos do crime) não poderão ser restituídas, mesmo depois de transitar em
julgado a sentença final, salvo se pertencerem ao lesado ou a terceiro de boa-fé.
Art. 120. A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela autoridade policial ou
juiz, mediante termo nos autos, desde que não exista dúvida quanto ao direito do
reclamante.
§ 1o Se duvidoso esse direito, o pedido de restituição autuar-se-á em apartado,
assinando-se ao requerente o prazo de 5 (cinco) dias para a prova. Em tal caso, só o juiz
criminal poderá decidir o incidente.
§ 2o O incidente autuar-se-á também em apartado e só a autoridade judicial o resolverá,
se as coisas forem apreendidas em poder de terceiro de boa-fé, que será intimado para
alegar e provar o seu direito, em prazo igual e sucessivo ao do reclamante, tendo um e
outro dois dias para arrazoar.
§ 3o Sobre o pedido de restituição será sempre ouvido o Ministério Público.
§ 4o Em caso de dúvida sobre quem seja o verdadeiro dono, o juiz remeterá as partes
para o juízo cível, ordenando o depósito das coisas em mãos de depositário ou do próprio
terceiro que as detinha, se for pessoa idônea.
§ 5o Tratando-se de coisas facilmente deterioráveis, serão avaliadas e levadas a leilão
público, depositando-se o dinheiro apurado, ou entregues ao terceiro que as detinha, se
este for pessoa idônea e assinar termo de responsabilidade
Incidente de Art. 146. A arguição de falsidade, feita por procurador, exige poderes especiais.
falsidade Art. 147. O juiz poderá, de ofício, proceder à verificação da falsidade.
Art. 148. Qualquer que seja a decisão, não fará coisa julgada em prejuízo de ulterior
processo penal ou civil.
Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará,
Incidente de de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do
insanidade mental. ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame
médico-legal.
§ 1º O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação
da autoridade policial ao juiz competente.
MEDIDAS ASSECURATÓRIAS
Sequestro Hipoteca Legal Arresto
Recai sobre os instrumentos e Recai sobre os bens lícitos que serão usados na indenização e pagamento
proveitos do crime de custas
Medida cautelar que consiste na Medida cautelar destinada a Medida cautelar que consiste na
apreensão de bens imóveis ou especificar qual imóvel, de origem apreensão de bens móveis
móveis quando provenientes da lícita, do acusado tornar-se-á indeterminados e de origem lícita
prática de um crime. indisponível para assegurar a futura com o mesmo fim da hipoteca legal.
indenização da vítima ou o Poderá recair sobre bem imóvel a ser
pagamento de despesas ou multa ao submetido, posteriormente, à
Estado. É um direito real de garantia. hipoteca legal.

#APOSTACICLOS #PACOTEANTICRIME
Art. 133-A. O juiz poderá autorizar, constatado o interesse público, a utilização de bem sequestrado,
apreendido ou sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de segurança pública previstos no art.

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144 da Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da Força Nacional de Segurança
Pública e do Instituto Geral de Perícia, para o desempenho de suas atividades.
§ 1º O órgão de segurança pública participante das ações de investigação ou repressão da infração penal que
ensejou a constrição do bem terá prioridade na sua utilização.
§ 2º Fora das hipóteses anteriores, demonstrado o interesse público, o juiz poderá autorizar o uso do bem pelos
demais órgãos públicos.
§ 3º Se o bem a que se refere o caput deste artigo for veículo, embarcação ou aeronave, o juiz ordenará à
autoridade de trânsito ou ao órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e
licenciamento em favor do órgão público beneficiário, o qual estará isento do pagamento de multas, encargos
e tributos anteriores à disponibilização do bem para a sua utilização, que deverão ser cobrados de seu
responsável.
§ 4º Transitada em julgado a sentença penal condenatória com a decretação de perdimento dos bens,
ressalvado o direito do lesado ou terceiro de boa-fé, o juiz poderá determinar a transferência definitiva da
propriedade ao órgão público beneficiário ao qual foi custodiado o bem.

Recursos cabíveis nos incidentes processuais:


 Exceções: caberá RESE da decisão que reconhece a exceção, menos a de suspeição do juiz, já que esta,
quando dirigida a juiz singular e não reconhecida por ele, é julgado pelo Tribunal de Justiça
 Restituição de Coisas Apreendidas: caberá apelação, sendo possível ainda o oferecimento de mandado
de segurança.
 Incidente de Insanidade Mental:
o Contra decisão que ordena a realização do exame, não há previsão de recurso. Daquela que
indefere o pedido é cabível apelação.
o Após o exame, será elaborado um laudo sobre a imputabilidade do agente. Cabe ao juiz
homologar ou não essa decisão, não ficando vinculado às conclusões dos peritos. Da decisão
que homologa o laudo, caberá apelação.
 Incidente de Falsidade: é irrecorrível.
 Medidas assecuratórias: Apelação. Contra a decisão que concede ou nega a medida.

#DEOLHONAJURIS
#APOSTACICLOS Exame de insanidade mental além de servir como elemento probatório, é também meio de
defesa, logo, o réu não pode ser obrigado a se submeter a ele. (STF. 2ª Turma. HC 133.078/RJ, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 6/9/2016 (Info 838)

PROVAS

Se você conseguiu ver o FAD sobre Provas, ótimo!!! Para quem não pôde ver, fica aqui a nossa maior aposta!
Caso ainda queira mais, sugiro ir no FAD e procurar pelas #APOSTASCICLOS #OEXAMINADORAMA.
Seguimos!!!

#OLHAOGANCHO: ÔNUS DA PROVA NO PROCESSO PENAL:

Da regra probatória do in dubio pro reo decorrente do princípio da presunção de inocência, tem-se que o ônus
da prova recai precipuamente sobre o Ministério Público ou sobre o querelante. Todavia, nos termos do art. 156
do Código de Processo Penal, a prova da alegação incumbirá a quem a fizer.

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De acordo com a doutrina majoritária, o Código Penal brasileiro adotou a teoria da indiciariedade ou “ratio
cognoscendi”, segundo a qual provada a existência de fato típico, tem-se a presunção de ilicitude e
culpabilidade, cabendo ao acusado afastar tal presunção. Todavia, ainda que elidida tal presunção pela prova
de alguma excludente, o fato permanece típico.

Assim, prevalece o entendimento de que à acusação incumbe provar a autoria e a materialidade do delito, bem
como o elemento subjetivo da conduta, recaindo sobre a defesa a responsabilidade de provar eventuais
excludentes de ilicitude, de culpabilidade e causas obstativas ou extintivas da punibilidade.

#IMPORTANTE: Teoria temperada da indiciariedade: O inciso VI do art. 386 do CPP, após a alteração produzida
pela Lei nº 11.690/2008, autoriza sentença absolutória na seguinte hipótese “[...] existirem circunstâncias que
excluam o crime ou isentem de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e §1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo
se houver fundada dúvida sobre sua existência”. Ora, se a fundada dúvida acerca de uma excludente da ilicitude
ou da culpabilidade autoriza um decreto absolutório, pode-se concluir que não se exige da defesa uma prova
cabal acerca de tais teses, bastando a produção de um estado de dúvida para que o acusado possa ser absolvido.

BUSCA E APREENSÃO (ARTS. 240 A 250, CPP)

Conquanto a busca e apreensão esteja inserida no Código de Processo Penal como meio de prova (Capítulo XI
do Título VII), sua verdadeira natureza jurídica é de meio de obtenção de prova (ou de investigação da prova).
Isso porque consiste em um procedimento (em regra, extraprocessual) regulado por lei, com o objetivo de
conseguir provas materiais, e que pode ser realizado por outros funcionários que não o juiz (v.g., policiais).
A busca e a apreensão "são medidas de natureza mista", isto é, "tanto a busca, quanto a apreensão, podem ser
vistos, individualmente, como meios assecuratórios ou como meios de prova, ou ambos".

Momento para a realização


Tanto a busca como a apreensão ― domiciliar ou pessoal ― podem ser concre zadas antes da formal
instauração do procedimento investigatório (inquérito policial, termo circunstanciado de ocorrência ou outro
meio de investigação), no curso deste ou na fase judicial da persecução criminal.

Conforme art. 242 do CPP, a busca poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de qualquer das partes.
Em termos de legitimação, a busca domiciliar poderá ser ordenada pelo juiz a requerimento do Ministério
Público, do querelante, do assistente de acusação, do defensor e ainda por representação do delegado
(quanto a este último, a legitimidade para representar ocorre apenas na fase do inquérito). Tratando-se de busca
pessoal, além do juiz, poderá o próprio delegado de polícia ordená-la.
▪ A busca pessoal pode ser determinada pela autoridade policial ou pela autoridade judiciária, nos termos do
art. 6º, inciso II, do CPP;
▪ Já a busca domiciliar, está adstrita a cláusula de reserva de jurisdição, somente a autoridade judiciária é
competente poderá expedir o respectivo mandado.
(a Comissão Parlamentar de Inquérito não tem autoridade para, por força própria, isto é, sem autorização
judicial, determinar a busca domiciliar).

BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR


Trata-se da previsão do art. 5.º, XI, da CF, estabelecendo que a casa é asilo inviolável do indivíduo,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial .

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Fundamentos
Para o deferimento da ordem judicial de busca e apreensão domiciliar é necessária a existência de fundadas
razões que a autorizem e, nos termos do art. 240, §1º, terá as seguintes finalidades:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim
delituoso;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o
conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.

Inviolabilidade de domicílio
De acordo com o citado art. 5º, inciso XI, da CF/88, a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
Por sua vez, o art. 245, caput, primeira parte, do CPP, dispõe que as buscas domiciliares serão executadas de
dia, salvo se o morador consentir que se realizem à noite.
Nesse contexto, interpretando os dois dispositivos de forma sistemática, tem-se que, as buscas domiciliares,
para fins processuais penais, poderão ser feitas nas seguintes hipóteses:
a) havendo consentimento do morador, durante o dia ou à noite, a busca poderá ser realizada sem mandado
judicial. É dizer: sendo a necessidade de autorização judicial uma garantia ao morador, caso este abra mão de
seu direito, a busca poderá ser realizada nessas condições;
b) não havendo consentimento do morador, a busca domiciliar exigirá mandado judicial e deverá ser
realizada durante o dia; e
c) em caso de flagrante delito, com ou sem o consentimento do morador, a busca domiciliar poderá
ser realizada, pouco importando se é dia ou noite.

Necessidade de mandado judicial


O art. 241 do CPP dispõe que, quando a própria autoridade policial ou judiciária não a realizar pessoalmente, a
busca domiciliar deverá ser precedida da expedição de mandado.
Em relação à primeira parte do art. 241 do CPP ― busca realizada pela autoridade policial ― não há
discussão: tal dispositivo não foi recepcionado pela Constituição Federal. O delegado de polícia, sem
autorização judicial e sem o consentimento do morador, não poderá concretizar a busca domiciliar.
No que diz respeito à segunda parte do art. 241 do CPP ― busca realizada pelo próprio juiz ― a doutrina se
debate.

Conceito de casa

Considera-se como casa25 Não se considera como casa


▪ Qualquer compartimento habitado; ▪ Hospedaria;
▪ Aposento ocupado de habitação coletiva; ▪ Estalagem;

25
Não se exige, para a definição de “casa”, que ela esteja fixada ao solo, pois o conceito constitucional abrange as
residências sobre rodas (trailers residenciais), barcos-residência, a parte traseira do interior da boleia do caminhão, etc.

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▪ Compartimento não aberto ao público, onde ▪ Qualquer habitação coletiva, enquanto abertas;
alguém exerce profissão ou atividade (escritório de ▪ Tavernas, casas de jogo, boates, bingos, clubes,
advocacia26, o consultório médico, o quarto ocupado etc. (Todavia, se esses estabelecimentos estiverem
de hotel ou motel, o quarto de hospital, empresas e fechados ao público, passam a estar protegidos pela
lojas (do balcão para dentro), pátios, jardins, quintal, garantia da inviolabilidade do domicílio).
garagens, depósitos, etc.);

Conceito de dia
Não há uma unanimidade.
▪ Há os que defendem o critério físico-astronômico, ou seja, dia é o período de tempo que fica entre o crepúsculo
e a aurora.
▪ Outros sustentam um critério cronológico: dia vai das 6h às 18h. O mais seguro é só cumprir a determinação
judicial após as 6h e até as 18h.
▪ Existem, ainda, os que sustentam aplicar o parâmetro previsto no CPC, que fala que os atos processuais serão
realizados em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas.
▪ #NOVIDADELEGISLATIVA - A edição da Lei 13.869/2019, inserindo nova disciplina penal e processual aos
crimes de abuso de autoridade, foi estabelecida, como típica, a conduta de quem “cumpre mandado de
busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas)”, salvo “se o
ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso
em razão de situação de flagrante delito ou de desastre” (art. 22, § 1.º, III).
Dessa forma, também é preciso ter conhecimento da recente previsão legal.

Durante a noite, o ingresso na casa é permitido nas Durante o dia, o ingresso é permitido
seguintes hipóteses
Com o consentimento do morador Em todas as hipóteses que autorizam o ingresso à
noite
Em situação de flagrante Para cumprimento de mandado judicial
Em caso de desastre
Para prestar socorro

Formalidades do mandado
Nos termos do art. 243 do CPP, tanto o mandado judicial de busca e apreensão (domiciliar ou pessoal)
como o mandado de busca e apreensão pessoal expedido pela autoridade policial, deverão preencher os
seguintes requisitos:
I – indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo
proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que
a identifiquem;
II – mencionar o motivo e os fins da diligência;
III – ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir.
Ademais, se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do mandado de busca (CPP, art. 243, § 1º).

Execução do mandado

26
Portanto, mandado judicial de busca e apreensão em escritório de advocacia não pode ser expedido de modo genérico,
em aberto, sem objeto definido, mas sim de forma delimitada, restrita ou fechada, mesmo sendo o advogado
investigado.

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O morador ou a quem o
O mandado será cumprido por represente será intimado a
Os executores mostrarão e
no mínimo 2 pessoas abirir a porta; Em caso de
lerão o mandado ao morador
("executores" - policiais ou eventual resitência, a porta será
ou a quem o represente.
oficiais de justiça) arrombada, forçando-se a
entrada.

Os executores lavrarão o auto,


Em caso de recalcitrância do que é assinado, inclusive por 2
morador, será permitido o uso testemunhas presenciais
Encontrada a pessoa ou a coisa,
da força contra coisas
será posta sob custódia da (#RELEMBRE: são as
existentes no interior da casa,
autoridade ou de seus agentes. classificadas como
almejando o descobrimento do
que se procura . IMPRÓPRIAS,INSTRUMENTÁRI-
AS OU FEDERATÁRIAS)

Busca infrutífera
Caso a diligência reste infrutífera, isto é, não seja encontrada a pessoa ou coisa procurada, nos termos
do art. 247 do CPP, os motivos da diligência serão comunicados a quem tiver sofrido a busca, se o requerer.
Frise-se: somente haverá a comunicação dos motivos da diligência a quem tiver sofrido a busca, se esta
pessoa requerer. Caso não requeira, não estão os executores obrigados a declinar os motivos da diligência.

PROVAS X ACESSO CELULAR:


Em relação ao acesso dos órgãos da persecução criminal a mensagens de aplicativos telemáticos, como
o WhatsApp, por exemplo, três situações devem ser analisadas em separado:
I) PRISÃO EM FLAGRANTE: na prisão em flagrante, a apreensão do aparelho celular independe de
autorização judicial. É dizer: o próprio delegado de polícia, nos termos do art. 6º, incisos II e III, do
CPP, poderá apreender o aparelho celular. Contudo, para se ter acesso às mensagens telemáticas contidas
no aparelho, será necessária autorização do juiz competente; 27
II) ORDEM DE BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR PRÉVIA 28 : caso o celular tenha sido apreendido em
cumprimento a mandado de busca e apreensão domiciliar anteriormente expedido, ainda que não haja
autorização expressa, poderá haver o acesso às mensagens registradas no aparelho. É dizer: a ordem de busca
e apreensão determinada já é suficiente para permitir o acesso aos dados dos aparelhos celulares
apreendidos ; e
III) MORTE DA VÍTIMA29: caso a vítima tenha morrido e o celular tenha sido entregue à polícia pela pessoa que
ficou viúva, a autoridade policial, independentemente de ordem judicial, pode acessar às mensagens
contidas no aparelho que lhe fora entregue.

 JURIS EM RAPIDINHAS – BUSCA E APREENSÃO

27
STJ. 5ª Turma. RHC 67.379-RN, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2016 (Info 593). STJ. 6ª Turma. RHC 51.531-
RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016 (Info 583).
28
STJ. 5ª Turma. RHC 77.232/SC, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 03/10/2017;
29
STJ. 6ª Turma. RHC 86.076-MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em =
19/10/2017 (Info 617).
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Não existe exigência legal de que o mandado de busca e apreensão detalhe o tipo de documento a ser
apreendido, ainda que de natureza sigilosa.
STJ. 6ª Turma. RHC 141.737/PR, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em 27/04/2021 (Info 694).
#SAINDODOFORNO - O MP pode escolher quais elementos obtidos na busca e apreensão serão utilizados pela
acusação; no entanto, o material restante deve permanecer à livre consulta do acusado, para o exercício de suas
faculdades defensivas. Realizada a busca e apreensão, apesar de o relatório sobre o resultado da diligência
ficar adstrito aos elementos relacionados com os fatos sob apuração, deve ser assegurado à defesa acesso à
integra dos dados obtidos no cumprimento do mandado judicial. STJ. 6ª Turma. RHC 114683/RJ, Rel. Rogério
Schietti Cruz, julgado em 13/04/2021 (Info 692).
#APOSTACICLOS - Não há nulidade na busca e apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial,
em apartamento que não revela sinais de habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a
aparente ausência de residentes no local se alia à fundada suspeita de que o imóvel é utilizado para a prática de
crime permanente.
STJ. 5ª Turma. HC 588445-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/08/2020 (Info 678).
É ilegal a decisão judicial que autoriza busca e apreensão coletiva em residências, feita de forma genérica e
indiscriminada. Na decisão que autorizou a revista indiscriminada de residências nas áreas indicadas pela
polícia, a juíza responsável fez menção à forma desorganizada como as comunidades pobres ganham novas
casas constantemente, sem registro ou numeração que as individualize. Segundo ela, a revista coletiva seria
necessária para a própria segurança dos moradores da região e dos policiais que ali atuam. Para o STJ, a ausência
de individualização das medidas de busca e apreensão contraria diversos dispositivos legais, como os arts. 240,
242, 244, 245, 248 e 249 do CPP, bem como o art. 5º, XI, da CF/88, que traz como direito fundamental a
inviolabilidade do domicílio. É indispensável que o mandado de busca e apreensão tenha objetivo certo e pessoa
determinada, não se admitindo ordem judicial genérica. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 435.934/RJ, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/11/2019.
Denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas invasivas como interceptações telefônicas,
buscas e apreensões, e devem ser complementadas por diligências investigativas posteriores. Se há notícia
anônima de comércio de drogas ilícitas numa determinada casa, a polícia deve, antes de representar pela
expedição de mandado de busca e apreensão, proceder a diligências veladas no intuito de reunir e documentar
outras evidências que confirmem, indiciariamente, a notícia. Se confirmadas, com base nesses novos elementos
de informação o juiz deferirá o pedido. Se não confirmadas, não será possível violar o domicílio, sendo a
expedição do mandado desautorizada pela ausência de justa causa. O mandado de busca e apreensão expedido
exclusivamente com apoio em denúncia anônima é abusivo. STF. 2ª Turma. HC 180709/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 5/5/2020 (Info 976).
A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas somada à fuga do acusado ao avistar a
polícia, por si sós, não configuram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado sem
o seu consentimento ou sem determinação judicial. STJ. 5ª Turma. RHC 89853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 18/02/2020 (Info 666). STJ. 6ª Turma. RHC 83501-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/03/2018
(Info 623).
O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de flagrante delito, para que seja
válido, necessita que haja fundadas razões (justa causa) que sinalizem a ocorrência de crime no interior da
residência. A mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse autorizar
abordagem policial, em via pública, para averiguação, não configura, por si só, justa causa a autorizar o
ingresso em seu domicílio, sem o seu consentimento e sem determinação judicial. STJ. 6ª Turma. REsp
1574681-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 606).
A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada
em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”, que indiquem que dentro da casa ocorre situação
de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de
nulidade dos atos praticados. STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/11/2015
(repercussão geral) (Info 806).
169
NFPSS PARTE II | MPMG
Ciclos Método

A apreensão de documentos no interior de veículo automotor constitui uma espécie de "busca pessoal" e,
portanto, não necessita de autorização judicial quando houver fundada suspeita de que em seu interior estão
escondidos elementos necessários à elucidação dos fatos investigados. Exceção: será necessária autorização
judicial quando o veículo é destinado à habitação do indivíduo, como no caso de trailers, cabines de caminhão,
barcos, entre outros, quando, então, se inserem no conceito jurídico de domicílio. STF. 2ª Turma. RHC
117767/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 11/10/2016 (Info 843).

#ATENÇÃO: STJ DECIDE QUE POLÍCIA DEVE OBTER CONSENTIMENTO E FILMAR BUSCA SEM MANDADO JUDICIAL
EM RESIDÊNCIAS
A 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça fixou, por unanimidade, o prazo de um ano para que o Estado treine e
aparelhe policiais para que a entrada de agentes em uma residência seja registrada em vídeo. A medida servirá como
prova da legalidade da operação.
No caso concreto, o colegiado concedeu um habeas corpus para reconhecer a ilicitude de provas colhidas na casa de
um homem e o absolveu por invasão não autorizada na casa dele, onde foi encontrada maconha. A Corte estendeu a
decisão concluindo que toda diligência do tipo, deve obedecer aos seguintes critérios:
1. Na hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige-se, em termos de standard probatório para ingresso no
domicílio do suspeito sem mandado judicial, a existência de fundadas razões (justa causa), aferidas de modo objetivo
e devidamente justificadas, de maneira a indicar que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito.
2. O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime de natureza permanente, nem sempre
autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde supostamente se encontra a droga. Apenas será permitido o
ingresso em situações de urgência, quando se concluir que do atraso decorrente da obtenção de mandado judicial se
possa objetiva e concretamente inferir que a prova do crime (ou a própria droga) será destruída ou ocultada.
3. O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa e a busca e apreensão de
objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre de qualquer tipo de constrangimento ou coação.
4. A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do suspeito incumbe,
em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa que autorizou o ingresso
domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a operação deve ser registrada em
áudio-vídeo e preservada tal prova enquanto durar o processo.
Atualmente, as diligências policiais são registradas, em regra, apenas em meio escrito. O tema foi discutido no HC
598.051, impetrado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPSP). O relator é o ministro Rogerio Schietti
Cruz.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
Não há nulidade na busca e apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial, em apartamento
que não revela sinais de habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a aparente ausência de
residentes no local se alia à fundada suspeita de que o imóvel é utilizado para a prática de crime permanente.
STJ. 5ª Turma. HC 588445-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/08/2020 (Info 678).
Denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas invasivas como interceptações telefônicas,
buscas e apreensões, e devem ser complementadas por diligências investigativas posteriores. Se há notícia
anônima de comércio de drogas ilícitas numa determinada casa, a polícia deve, antes de representar pela
expedição de mandado de busca e apreensão, proceder a diligências veladas no intuito de reunir e documentar
outras evidências que confirmem, indiciariamente, a notícia. Se confirmadas, com base nesses novos elementos
de informação o juiz deferirá o pedido. Se não confirmadas, não será possível violar o domicílio, sendo a
expedição do mandado desautorizada pela ausência de justa causa. O mandado de busca e apreensão expedido
exclusivamente com apoio em denúncia anônima é abusivo. STF. 2ª Turma. HC 180709/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 5/5/2020 (Info 976).
O STJ concedeu habeas corpus) para anular decisão que autorizou busca e apreensão em domicílios nas
comunidades de Jacarezinho e no Conjunto Habitacional Morar Carioca, no Rio de Janeiro (RJ), sem identificar
o nome de investigados e os endereços a serem objeto da abordagem policial. A Defensoria Pública do Rio de

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Janeiro impetrou o habeas corpus coletivo em benefício dos moradores dessas comunidades pobres,
argumentando que, além de ofender a garantia constitucional que protege o domicílio, o ato representou a
legitimação de uma série de violações gravíssimas, sistemáticas e generalizadas de direitos humanos. A medida
foi tomada, em agosto de 2017, após a morte de um policial em operação das forças de segurança nas favelas
de Jacarezinho, Manguinhos, Mandela, Bandeira 2 e Morar Carioca, o que levou à concessão da ordem judicial
de busca e apreensão domiciliar generalizada na região. A ordem era para que a polícia tentasse encontrar
armas, documentos, celulares e outras provas contra facções criminosas. Na decisão que autorizou a revista
indiscriminada de residências nas áreas indicadas pela polícia, a juíza responsável fez menção à forma
desorganizada como as comunidades pobres ganham novas casas constantemente, sem registro ou numeração
que as individualize. Segundo ela, a revista coletiva seria necessária para a própria segurança dos moradores da
região e dos policiais que ali atuam. Para o STJ, a ausência de individualização das medidas de busca e
apreensão contraria diversos dispositivos legais, como os arts. 240, 242, 244, 245, 248 e 249 do CPP, bem
como o art. 5º, XI, da CF/88, que traz como direito fundamental a inviolabilidade do domicílio. É indispensável
que o mandado de busca e apreensão tenha objetivo certo e pessoa determinada, não se admitindo ordem
judicial genérica. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 435.934/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/11/2019.
A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas somada à fuga do acusado ao avistar a
polícia, por si sós, não configuram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado sem
o seu consentimento ou sem determinação judicial. STJ. 5ª Turma. RHC 89853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 18/02/2020 (Info 666). STJ. 6ª Turma. RHC 83501-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/03/2018
(Info 623).
O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de flagrante delito, para que seja
válido, necessita que haja fundadas razões (justa causa) que sinalizem a ocorrência de crime no interior da
residência. A mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse autorizar
abordagem policial, em via pública, para averiguação, não configura, por si só, justa causa a autorizar o
ingresso em seu domicílio, sem o seu consentimento e sem determinação judicial. STJ. 6ª Turma. REsp
1574681-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 606).
A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando
amparada em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”, que indiquem que dentro da casa
ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade, e de nulidade dos atos praticados. STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 4 e 5/11/2015 (repercussão geral) (Info 806).

#IMPORTANTE! A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do


suspeito incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa que
autorizou o ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a
operação deve ser registrada em áudio-vídeo e preservada a prova enquanto durar o processo.
Principais conclusões do STJ:
1) Na hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige-se, em termos de standard probatório para ingresso no
domicílio do suspeito sem mandado judicial, a existência de fundadas razões (justa causa), aferidas de modo
objetivo e devidamente justificadas, de maneira a indicar que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito.
2) O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime de natureza permanente, nem
sempre autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde supostamente se encontra a droga. Apenas será
permitido o ingresso em situações de urgência, quando se concluir que do atraso decorrente da obtenção de
mandado judicial se possa objetiva e concretamente inferir que a prova do crime (ou a própria droga) será
destruída ou ocultada.
3) O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa e a busca e apreensão
de objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre de qualquer tipo de constrangimento ou coação.

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4) A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do suspeito


incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa que autorizou o
ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a operação deve ser
registrada em áudio-vídeo e preservada tal prova enquanto durar o processo.
5) A violação a essas regras e condições legais e constitucionais para o ingresso no domicílio alheio resulta na
ilicitude das provas obtidas em decorrência da medida, bem como das demais provas que dela decorrerem em
relação de causalidade, sem prejuízo de eventual responsabilização penal do(s) agente(s) público(s) que
tenha(m) realizado a diligência.
STJ. 5ª Turma. HC 616.584/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 30/03/2021.
STJ. 6ª Turma. HC 598051/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 02/03/2021 (Info 687).

 SISTEMA ACUSATÓRIO E A GESTÃO DA PROVA NO PROCESSO PENAL:

O sistema acusatório se caracteriza pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e


defesa em igualdade de condições, e a ambas se contrapondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial.
Historicamente, tem como suas características a oralidade e a publicidade, nele se aplicando o princípio da
presunção de inocência.

Chama-se “acusatório” porque, à luz desse sistema, ninguém poderá ser chamado a juízo sem que haja
uma acusação, por meio da qual o fato imputado seja narrado com todas as suas circunstâncias.

A mera separação das funções de acusar e julgar não basta para a caracterização do sistema acusatório,
porquanto a imparcialidade do magistrado não estará resguardada enquanto o juiz não for estranho à atividade
investigatória e instrutória. Com efeito, de nada adianta a existência de pessoas diversas no exercício das
funções do magistrado e do órgão estatal de acusação se, na prática, há, por parte daquele, uma usurpação das
atribuições deste, explícita ou implicitamente, a exemplo do que ocorre quando o magistrado requisita a
instauração de um inquérito policial, dá início a um processo penal de ofício (processo judicialiforme), produz
provas, decreta prisões cautelares sem requerimento das partes, etc.

#SAIBADIFERENCIAR:
SISTEMA INQUISITORIAL SISTEMA ACUSATÓRIO
Separação das funções de acusar, defender e julgar.
Por consequência, caracteriza-se pela presença de
Não há separação das funções de acusar, defender e
partes distintas (actum trium personarum),
julgar, que estão concentradas em uma única pessoa,
contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de
que assume as vestes de um juiz inquisidor;
condições, sobrepondo-se a ambas um juiz, de
maneira equidistante e imparcial;
Como se admite o princípio da verdade real, o
O princípio da verdade real é substituído pelo
acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado
princípio da busca da verdade, devendo a prova ser
como mero objeto do processo, daí porque se admite
produzida com fiel observância ao contraditório e a
inclusive a tortura como meio de se obter a verdade
ampla defesa;
absoluta;
Gestão na prova: recai precipuamente sobre as
Gestão da prova: o juiz inquisidor é dotado de ampla
partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir
iniciativa acusatória e probatória, tendo liberdade
quando provocado, e desde que haja necessidade de
para determinar de ofício a colheita de elementos
intervenção judicial. Durante a instrução processual,
informativos e de provas, seja no curso das
prevalece o entendimento de que o juiz tem certa
investigações, seja no curso da instrução processual;
iniciativa probatória, podendo determinar a

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NFPSS PARTE II | MPMG
Ciclos Método

produção de provas de ofício, desde que o faça de


maneira subsidiária;
A separação das funções e a iniciativa probatória
A concentração de poderes na mão do juiz e a residual restrita à fase judicial preserva a
iniciativa acusatória dela decorrente é incompatível equidistância que o magistrado deve tomar quanto
com a garantia da imparcialidade (CADH, art. 8º, §1º) ao interesse das partes, sendo compatível com a
e com o princípio do devido processo legal. garantia da imparcialidade e com o princípio do
devido processo legal.

 CADEIA DE CUSTÓDIA DA PROVA:

O prosseguimento das etapas da cadeia de custódia da prova observa a seguinte ordem:

Reconhecimento – A atividade investigativa, ou mesmo a polícia ostensiva, que se depara com o fato deve tentar
analisar todas as circunstâncias geradoras e geradas pelo ato criminoso. Diante desse quadro, o reconhecimento
do vestígio é caracterizado pelo ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da
prova pericial. Muito embora o reconhecimento esteja caracterizado como uma das etapas da cadeia de
custódia, não é uma atividade intrínseca da mesma, mas uma análise extrínseca que indicará a importância do
consequente procedimento de obtenção da prova.
Isolamento – A segunda etapa da cadeia de custódia é caracterizada como ato intrínseco à mesma, na medida
em que tem como objetivo a preservação dos vestígios a serem coletados e processados pelos peritos e o local
dos fatos. Logo o isolamento é o ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo-se isolar e preservar o
ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime.
Fixação – Para que haja a coleta de forma regular, a investigação deve se preocupar com todos os elementos
que farão parte da prova técnica. Por isso, a fixação é caracterizada pelo ato de descrever, de forma detalhada,
os vestígios conforme se encontram no local do crime ou no corpo de delito, bem como sua posição na área de
exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no
laudo produzido pelo perito responsável pelo atendimento in loco.
Coleta – Talvez seja a principal etapa da cadeia de custódia, na medida em que limitará a atividade técnica, pois
do que não restou coletado não será possível o retorno imaculado do trâmite do procedimento, em decorrência
da própria quebra da cadeia de custódia. Logo, a coleta é o ato de recolher o vestígio que será submetido à
análise pericial, com respeito à sua natureza e características. Não havendo a coleta de todos os elementos,
chances ocorrerão da perda da prova técnica sobre alguns elementos relevantes para a comprovação do fato.
Acondicionamento – O cuidado com a cadeia de custódia deve ocorrer desde o início das etapas até a sua
valoração ou a prova da regularidade do procedimento. Por isso, acondicionamento regular resultará na
possibilidade de manipulação sem riscos de contaminação com elementos externos aos vestígios. Assim, o
acondicionamento se conceitua pelo procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de
forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior análise,
com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento. Na disposição do art. 158-
D do CPP, o recipiente de acondicionamento do vestígio dependerá da natureza do material. Há um
procedimento específico para o acondicionamento com o objetivo de garantir a inviolabilidade e a idoneidade
do vestígio coletado e transportado. Como cada vestígio deve ser acondicionado de forma individualizada, o
recipiente deverá preservar suas características, impedir contaminação e vazamento, e ter espaço próprio para
o registro das informações sobre o seu conteúdo. Como haverá manipulação dos vestígios pelos peritos, os
lacres específicos dos recipientes deverão ser rompidos para a análise daqueles. Para prevenir equívocos nessa
etapa da cadeia de custódia, após cada rompimento de lacre deve-se fazer constar na ficha de acompanhamento
de vestígio a qualificação do responsável, a data e local, e as informações referentes à substituição do lacre.

173
NFPSS PARTE II | MPMG
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Transporte – a descrição do dispositivo se mostra autoexplicativa. O transporte é o ato de transferir o vestígio


de um local para outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras),
de modo a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse. Nessa
etapa da cadeia de custódia, ideal que haja um número mínimo de pessoas em contato com os elementos
coletados, para que não haja contaminação dos vestígios.
Recebimento – ato formal de transferência da posse do vestígio. Conforme dispõe o art. 158-E do CPP, torna-se
imperiosa a presença de uma central de custódia em todos os Institutos de Criminalística. Consequentemente,
será na central de custódia o ato formal de recebimento, com serviços de protocolo para armazenamento do
material coletado e espaço seguro a apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do
vestígio.
Processamento – A atividade característica dos peritos através da realização do exame pericial. Esse exame
técnico consiste na manipulação do vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas características
biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, a ser formalizado, ao final, em laudo
específico realizado pelo perito.
Armazenamento – Com a alteração realizada pela Lei 13.964/19 e a imposição de criação de espaços específicos
para a permanência de todos os elementos importantes para a elucidação do caso, após a realização da perícia
o material deverá ser devolvido às centrais de custódia, devendo nela permanecer (art. 158-F do CPP). O
procedimento destinado à guarda do material a ser processado, em condições adequadas, destina-se à
possibilidade de nova manipulação ou mesmo, e especialmente, à eventual contraperícia, condizente com a
observância de um efetivo contraditório ou de proteção ao inocente. A imprescindibilidade dessa etapa, não
obstante parecer natural à realização das perícias em geral, não possuía observância normativa e muito menos
prática. Coube à alteração legislativa dizer o óbvio, para que não haja impossibilidade de contraperícias ou novas
perícias com o material coletado.
Descarte – Quando não se mostrar mais necessário o armazenamento do material colhido, será realizado o
procedimento referente à liberação do vestígio, sempre com respeito à legislação específica e, quando
necessário, ocorrerá o descarte mediante determinação judicial. Essa imposição não ocorre para todas as
hipóteses de armazenamento. Há normas que determinam o seu descarte quando não mais relevantes para o
caso penal (Lei de Drogas, por exemplo). Mas, há que se observar a possibilidade de contraprova com relação à
qualidade e quantidade do material coletado. Logo, o descarte deve ser aplicado de forma excepcional,
justamente para resguardar o contraditório e a proteção do inocente.

#OEXAMINADORAMA30

▪ PRINCÍPIO DA NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO (nemo tenetur se detegere)


De acordo com o art. 5º, inciso LXIII, da Constituição Federal, “o preso será informado de seus direitos,
entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”.
O direito ao silêncio, previsto na Carta Magna como direito de permanecer calado, apresenta-se apenas
como uma das várias decorrências do nemo tenetur se detegere, segundo o qual ninguém é obrigado a produzir
prova contra si mesmo.

 Desdobramentos: Em síntese, pode-se dizer que o direito de não produzir prova contra si mesmo,
que tem lugar na fase investigatória e no curso da instrução processual, abrange:

30
Olha a relação com examinador!
Publicações:
Capítulo de livro: 3.5.3. O direito de não produzir provas contra si mesmo. 3.5.4. Dignidade da pessoa humana.
Artigo: Direito à não autoincriminação em relação à identificação criminal.
174
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a) o direito ao silêncio ou direito de ficar calado: corresponde ao direito de não responder às perguntas
formuladas pela autoridade, funcionando como espécie de manifestação passiva da defesa. O exercício do
direito ao silêncio não é sinônimo de confissão ficta ou de falta de defesa; cuida-se de direito do acusado (CF,
art. 5º, LXIII), no exercício da autodefesa, podendo ser usado como estratégia defensiva;

#DEOLHONAJURIS #SAINDOFORNO - A CF/88 determina que as autoridades estatais informem os presos que
eles possuem o direito de permanecer em silêncio (art. 5º, LXIII).
Esse alerta sobre o direito ao silêncio deve ser feito não apenas pelo Delegado, durante o interrogatório formal,
mas também pelos policiais responsáveis pela voz de prisão em flagrante. Isso porque a todos os órgãos estatais
impõe-se o dever de zelar pelos direitos fundamentais.
A falta da advertência quanto ao direito ao silêncio torna ilícita a prova obtida a partir dessa confissão.
Não se admite condenação baseada exclusivamente em declarações informais prestadas a policiais no momento
da prisão em flagrante.
STF. 2ª Turma. RHC 170843 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/5/2021 (Info 1016).

b) direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal: de acordo com o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 14, § 3º) e com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(art. 8º, § 2º, “g”, e § 3º), o acusado não é obrigado a confessar a prática do delito. Portanto, por força do
princípio do nemo tenetur se detegere, ninguém pode ser constrangido a confessar a prática de uma infração
penal;
c) inexigibilidade de dizer a verdade: por não existir o crime de perjúrio no ordenamento pátrio, pode-
se dizer que o comportamento de dizer a verdade não é exigível do acusado, sendo a mentira tolerada, porque
dela não pode resultar nenhum prejuízo ao acusado. Logo, como o dever de dizer a verdade não é dotado de
coercibilidade, já que não há sanção contra a mentira no Brasil, quando o acusado inventa um álibi que não
condiz com a verdade, simplesmente para criar uma dúvida na convicção do órgão julgador, conclui-se que essa
mentira há de ser tolerada por força do nemo tenetur se detegere. A esse respeito, concluiu o Supremo Tribunal
Federal que, no direito ao silêncio, tutelado constitucionalmente, inclui-se a prerrogativa processual de o
acusado negar, ainda que falsamente, perante a autoridade policial ou judiciária, a prática da infração penal.

#NÃOCONFUNDA #UMPOUCODEDOUTRINA - NÃO É ADMISSÍVEL A “MENTIRA AGRESSIVA”


A mentira que incrimina terceiros é chamada pela doutrina de "mentira agressiva". Se a mentira defensiva é
tolerada, especial atenção deve ser dispensada às denominadas mentiras agressivas, quando o acusado imputa
falsamente a terceiro inocente a prática do delito. Nessa hipótese, dando causa à instauração de investigação
policial, processo judicial, investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa
contra alguém que o sabe inocente, o agente responderá normalmente pelo delito de denunciação caluniosa
(CP, art. 339), porque o direito de não produzir prova contra si mesmo esgota-se na proteção do réu, não
servindo de suporte para que possa cometer outros delitos.
Também é crime a conduta de acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem
(CP, art. 341, autoacusação falsa).
Na mesma linha, tem prevalecido o entendimento de que o direito ao silêncio não abrange o direito de falsear
a verdade quanto à identidade pessoal. Para o Supremo, tipifica o crime de falsa identidade o fato de o agente,
ao ser preso, identificar-se com nome falso, com o objetivo de esconder seus maus antecedentes.

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NFPSS PARTE II | MPMG
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A propósito, eis o teor da súmula nº 522 do STJ: “A conduta de atribuir-se falsa identidade perante
autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa”;

d) direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: sempre que a
produção da prova tiver como pressuposto uma ação por parte do acusado (v.g., acareação, reconstituição do
crime, exame grafotécnico, etc.), será indispensável seu consentimento. Além disso, a recusa do acusado em se
submeter a tais provas não configura o crime de desobediência nem o de desacato.

#DEOLHONAJURIS #APOSTACICLOS - É constitucional o tipo penal que prevê o crime de fuga do local do
acidente (art. 305 do CTB - Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade
penal ou civil que lhe possa ser atribuída).
A evasão do local do acidente não constitui exercício do direito ao silêncio ou do princípio do nemo tenetur se
detegere. Essas garantias apenas limitam o Estado de impor a colaboração ativa do condutor do veículo
envolvido no acidente para produção de provas que o prejudique. O tipo penal do art. 305 do CTB apenas obriga
a permanência do agente no local para garantir a identificação dos envolvidos no sinistro e o devido registro da
ocorrência pela autoridade competente. Assim, ele não viola o núcleo da garantia de não autoincriminação.
STF. Plenário. ADC 35/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 9/10/2020
(Info 994).

Algumas decisões do STF:


▪ o acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de
verificação de interlocutor;
▪ o acusado não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico: no exame para o
reconhecimento de escritos, por comparação de letra, pode ser necessário que a pessoa a quem se atribui o
escrito forneça material de seu punho subscritor para que sirva de parâmetro para a comparação;
▪ configura constrangimento ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da recusa
destes em participarem de reconstituição do crime;
▪ #SELIGA - Comprovação da embriaguez: é dominante o entendimento de que a recusa do condutor
em submeter-se ao bafômetro ou a um exame de sangue não configura crime de desobediência nem pode ser
interpretada em seu desfavor, pelo menos no âmbito criminal. Nessa linha, há precedentes do Supremo Tribunal
Federal no sentido de que não se pode presumir a embriaguez de quem não se submete a exame de dosagem
alcoólica.
#APROFUNDAPROF - Os laboratórios desenvolveram uma nova espécie de bafômetro, que não exige o uso de
bocal nem a participação ativa do usuário. Cuida-se do bafômetro (ou etilômetro) passivo, que é capaz de
“absorver” do ar ambiente a presença de álcool, a uma distância de 20 a 30 centímetros. A utilização da
referida espécie de bafômetro não pressupõe a prática de nenhum comportamento ativo por parte do suspeito
de embriaguez ao volante. Logo, não há falar em violação ao direito à não produção de prova contra si mesmo.
Na medida em que o suspeito é obrigado apenas a tolerar a realização do referido exame, exigindo-se
cooperação meramente passiva, admite-se sua execução coercitiva caso o suspeito não queira participar de
maneira voluntária;

e) direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva: nesse ponto, é importante entender
o que se entende por intervenções corporais, assim como o conceito de provas invasivas e não invasivas.

176
NFPSS PARTE II | MPMG
Ciclos Método

Intervenções corporais (investigação corporal ou ingerência humana) são medidas de investigação que
se realizam sobre o corpo das pessoas, sem a necessidade do consentimento destas, e por meio da coação
direta se for preciso, com a finalidade de descobrir circunstâncias fáticas que sejam importantes para o processo,
em relação às condições físicas ou psíquicas do sujeito que sofre as intervenções, ou objetos escondidos com
ele. São exemplos de intervenções corporais: exame de sangue, ginecológico, identificação dentária,
endoscopia, exame do reto, entre outras tantas perícias como o exame de matérias fecais, de urina, de saliva,
exames de DNA usando fios de cabelo, identificações datiloscópicas de impressões dos pés, unhas e palmar e
também a radiografia.

#PARATUDO #APOSTACICLOS #OEXAMINADORAMA


PROVAS INVASIVAS PROVAS NÃO INVASIVAS
Pressupõem penetração no organismo humano, por Não há penetração no corpo humano, nem implicam
instrumentos ou substâncias, em cavidades naturais a extração de parte dele
ou não, implicando na utilização (ou extração) de
alguma parte dele ou na invasão física do corpo
humano
Exemplo: exames de sangue, o exame ginecológico, a Exemplo: perícias de exames de materiais fecais, os
identificação dentária, a endoscopia, exame de raios exames de DNA realizados a partir de fios de cabelo
encontrados no chão
Em se tratando de prova invasiva ou que exija um Em se tratando de prova não invasiva (inspeções ou
comportamento ativo, por conta do princípio do verificações corporais), mesmo que o agente não
nemo tenetur se detegere, a jurisprudência tem concorde com a produção da prova, esta poderá ser
considerado que o suspeito, indiciado, preso ou realizada normalmente, desde que não implique
acusado, não é obrigado a se autoincriminar, colaboração ativa por parte do acusado.
podendo validamente recusar-se a colaborar com a
produção da prova.

As células bucais encontradas na saliva podem ser utilizadas para a realização de um exame de DNA.
A forma de sua coleta é que vai determinar se é prova invasiva ou não invasiva. Caso as células sejam colhidas
na cavidade bucal, haverá intervenção corporal invasiva. Agora, a saliva também pode ser colhida sem qualquer
intervenção corporal, possibilitando a realização do exame de DNA a partir de material encontrado no lixo, como
chicletes, pontas de cigarro, latas de cerveja e refrigerantes, que contêm resquícios da saliva que podem ser
examinados.
Assim quando se trata de material descartado pela pessoa investigada, é impertinente invocar o
princípio do nemo tenetur se detegere.
Nesse caso, é plenamente possível apreender o material descartado, seja orgânico (produzido pelo
próprio corpo, como saliva, suor, fios de cabelo), seja ele inorgânico (decorrentes do contato de objetos com o
corpo, tais como copos ou garrafas sujas de saliva, etc.) Exemplificando, se não é possível retirar à força um fio
de cabelo de um suspeito para realizar um exame de DNA, nada impede que um fio de cabelo desse indivíduo
seja apreendido em um salão de beleza.

#ATENÇÃO #PARATUDO #DOISEMUM

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NFPSS PARTE II | MPMG
Ciclos Método

Abaixo, segue decisão do STF envolvendo o princípio do nemo tenetur se deteger e o exame de DNA.
Nesse julgado, o STF citou trecho da obra do examinador WAGNER MARTELETO FILHO:

(III) O princípio nemotenetur se detegere, expressamente reconhecido também no Pacto de San José da Costa
Rica - promulgado pelo Decreto n. 678, de 1992 -, art. 8º, 2, g, serve para neutralizar os arbítrios contra a
dignidade da pessoa humana eventualmente perpetrados pela atividade estatal de persecução penal. Protege
os acusados ou suspeitos de possíveis violências físicas e morais empregadas pelo agente estatal na coação em
cooperar com a investigação criminal
(IV) não há que falar em violação à intimidade já que o investigado, no momento em que dispensou o copo e
a colher de plástico por ele utilizados em uma refeição, deixou de ter o controle sobre o que outrora lhe
pertencia (saliva que estava em seu corpo);
(IV) Também inexiste violação do direito à não autoincriminação, pois, embora o investigado, no primeiro
momento, tenha se recusado a ceder o material genético para análise, o exame do DNA foi realizado sem
violência moral ou física, utilizando-se de material descartado pelo paciente, o que afasta o apontado
constrangimento ilegal. Precedente do STF; e
(V) Não está em discussão sequer a aplicação ou constitucionalidade da Lei 12.037/09 ou da Lei 12.654/12, pois
não houve, in casu, colheita forçada de material genético (biológico) do paciente.
Não vislumbro ilegalidade na decisão proferida pelo STJ.
A propósito da temática, a doutrina e jurisprudência alienígenas, tais como a alemã, a estadunidense, a
portuguesa, a italiana, e a espanhola, vem sustentando, com fundamento nas respectivas legislações, a
admissibilidade de se compelir o acusado a cooperar, passivamente , com a coleta da prova, sem que haja
qualquer ofensa à garantia contra a autoincriminação. […]

Nesse sentido, legitimam-se, verbi gratia: as intervenções corporais coercitivas realizadas para a coleta de
material genético como sangue, tecido ou urina, para ulterior perícia; a exigência de que o acusado permaneça
em determinada posição, para fins de reconhecimento pessoal; as inspeções, buscas e registros pessoais,
dentre outras condutas que configuram um não fazer ou um mero suportar do sujeito passivo.
Essa coleta mencionada, inclusive, poderá ser feita sem a existência de intervenção corporal, quando o
material for disponibilizado voluntariamente pelo imputado ou descartado por ele em qualquer local. O autor,
ainda, opina que, diante de sua redação, a nova Lei não autorizou a intervenção corporal para a obtenção de
perfil genético no que toca ao acusado no curso de ação penal, com o escopo de realizar exame de DNA.
(In MARTELETO FILHO, Wagner. O direito à não autoincriminação no processo penal contemporâneo:
investigação genética, interceptações telefônicas e ambientais, agentes infiltrados e outros problemas. Ed.
Del Rey. Belo Horizonte. 2012. p. 86-87.)
(REsp 1677380/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/10/2017, DJe
16/10/2017);

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

A Constituição Federal estabelece que:

Art. 5º, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

Repare que a Constituição Federal submete a constitucionalidade da interceptação à cláusula de


reserva de jurisdição, devendo ser precedida de ordem judicial que a autorize.
178
NFPSS PARTE II | MPMG
Ciclos Método

Neste sentido, a Lei nº 9.296/96 dispõe que:

Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal
e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da
ação principal, sob segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática.

Assim, percebe-se que a regra é a inviolabilidade do sigilo. Sua mitigação só se justifica quando existem
razões de interesse público a demonstrarem a conveniência de sua violação.

A interceptação telefônica é fonte de prova (natureza jurídica). Já a gravação da interceptação é a


materialização da fonte de prova. Por fim, a transcrição das gravações funciona como meio de prova.

Considerando o desenvolvimento da informática, a expressão “comunicação telefônica” deve


abranger a transmissão, emissão ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou
informações de qualquer natureza, por meio de telefonia estática ou móvel (fax, modens, internet, e-mail).

Veja o que estabelece o art. 2 da Lei nº 9.296/96:

Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes
hipóteses:
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive
com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.

Com base no dispositivo supracitado, podemos elencar três requisitos para que a interceptação
telefônica seja válida:

a) Indícios razoáveis de autoria e materialidade do delito;


b) A interceptação telefônica é excepcional (ultima ratio), de modo que só deve ser utilizada caso seja o
único meio de prova disponível no caso concreto. Havendo meio menos gravoso à disposição das
autoridades, a interceptação telefônica não pode ser empregada;
c) Infração penal punida com reclusão.

Ausentes quaisquer dos requisitos, a prova deve ser considerada ilícita, bem como todas que dela
decorram, nos termos do art. 157 do Código de Processo Penal.

#SAIBADIFERENCIAR:
Captação da comunicação telefônica alheia POR TERCEIRO, SEM O CONHECIMENTO
INTERCEPTAÇÃO de
TELEFÔNICA nenhum dos comunicadores. Indispensável a autorização judicial (entendimento
pacífico).
ESCUTA Captação da comunicação telefônica POR TERCEIRO, COM O CONHECIMENTO de um
TELEFÔNICA dos comunicadores. Indispensável a autorização judicial (posição majoritária).

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Ciclos Método

COMUNICAÇÃO Conversa mantida entre duas pessoas, sem a utilização de telefone, em qualquer
AMBIENTAL recinto, público ou privado.
Ocorre quando um terceiro capta o diálogo ou as imagens envolvendo duas ou mais
INTERCEPTAÇÃO pessoas, sem que nenhum dos alvos saiba. Ex.: polícia, com autorização judicial,
AMBIENTAL instala um microfone e um gravador escondidos no gabinete de um servidor público
investigado por corrupção.
Ocorre quando um terceiro capta o diálogo ou as imagens envolvendo duas ou mais
ESCUTA pessoas, sendo que um dos alvos sabe que está sendo realizada a escuta. Ex: polícia
AMBIENTAL filma o momento em que determinado empresário (ciente da filmagem) entrega
quantia em dinheiro exigida por fiscal corrupto.
Ocorre quando o diálogo ou as imagens envolvendo duas ou mais pessoas é captado,
sendo que um dos alvos é o autor dos registros.
GRAVAÇÃO
Também é chamada de gravação ambiental clandestina (obs: a palavra “clandestina”
AMBIENTAL
está empregada não na acepção de “ilícito”, mas sim no sentido de “feito às
ocultas”). Ex: mulher instala uma câmera na casa e filma o momento em que o ex-
marido ameaça matá-la.

#RESUMINDOMAIS
INTERCEPTAÇÃO ambiental ESCUTA ambiental GRAVAÇÃO ambiental

Ocorre quando um terceiro capta Ocorre quando um terceiro Ocorre quando o diálogo
o diálogo telefônico travado capta o diálogo telefônico telefônico travado entre duas
entre duas pessoas, sem que travado entre duas pessoas, pessoas é gravado por um dos
nenhum dos interlocutores sendo que um dos próprios interlocutores, sem o
saiba. interlocutores sabe que está consentimento ou a ciência do
sendo realizada a escuta. outro.
Ex: polícia, com autorização Também é chamada de gravação
judicial, grampeia os telefones EX: polícia grava a conversa “clandestina” (obs: a palavra
dos membros de uma telefônica que o pai mantém “clandestina” está empregada
quadrilha e grava os diálogos com o seqüestrador de seu não na acepção de “ilícito”,
mantidos entre eles. filho. mas sim no sentido de “feito
às ocultas”).
• Para que a interceptação seja • Para que seja realizada é
válida é indispensável a indispensável a autorização Ex: mulher grava a conversa
autorização judicial judicial telefônica no qual o ex-marido
(entendimento pacífico). (posição majoritária). ameaça matá-la.

Art. 10-A (...) § 1º Não há crime


se a captação é realizada por
um dos interlocutores.

• A gravação telefônica é válida


mesmo que tenha sido
realizada SEM autorização
judicial.

180
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Ciclos Método

A única exceção em que haveria


ilicitude se dá no caso em que
a conversa era amparada por
sigilo (ex: advogados e
clientes, padres e fiéis).

#SELIGA - A Lei nº 13.964/2019 inseriu o art. 8º-A na Lei nº 9.296/96 exigindo, de forma genérica, a prévia
autorização judicial para a captação ambiental. Contudo, a gravação ambiental realizada por colaborador
premiado, um dos interlocutores da conversa, sem o consentimento dos outros, é lícita, ainda que obtida sem
autorização judicial, e pode ser validamente utilizada como meio de prova no processo penal.

#DEOLHONAJURIS - As inovações do Pacote Anticrime na Lei n. 9.296/1996 não alteraram o entendimento de


que é lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento
do outro. STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

#VAICAIR #APOSTACICLOS - SERENDIPIDADE - Se a autoridade policial, em decorrência de interceptações


telefônicas legalmente autorizadas, tem notícia do cometimento de novos ilícitos por parte daqueles cujas
conversas foram monitoradas ou mesmo de terceiros, é sua obrigação e dever funcional apurá-los, ainda que
não possuam liame algum com os delitos cuja suspeita originariamente ensejou a quebra do sigilo telefônico.
Tal entendimento é aplicável ainda que as infrações descobertas fortuitamente sejam punidas com detenção,
pois o que a Lei nº 9.296/96 veda é o deferimento da quebra do sigilo telefônico para apurar delito que não
seja apenado com reclusão, não proibindo, todavia, que o referido meio de prova seja utilizado quando há,
durante a implementação da medida, a descoberta fortuita de eventuais ilícitos que não atendem a tal
requisito. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 114973/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.

#PACOTEANTICRIME:
Antes da Lei nº 13.964/2019, para que houvesse a interceptação ou escuta ambiental era necessária
autorização judicial? Depende:
• Se as pessoas investigadas estiverem em um ambiente público ou de acesso público: prevalecia o
entendimento de que não havia necessidade de autorização judicial, considerando que não havia violação à
privacidade e muito menos à intimidade. É o caso, por exemplo, da filmagem de um crime que ocorre em plena
rua;
• Se a captação ocorresse um local de acesso restrito: era necessária a autorização judicial. É o caso da captação
ambiental realizada em um escritório ou em uma residência.

Neste sentido, confira-se os seguintes precedentes:


Conforme destacou o Ilustre Ministro Sepúlveda Pertence, ao proferir seu voto no julgamento do habeas corpus
n. 87.341-3/PR, "[...] não há nenhuma ilicitude na documentação cinematográfica da prática de um crime, a
salvo, é claro, se o agente se encontra numa situação de intimidade. Obviamente não é o caso de uma corrupção
passiva praticada em repartição pública. (STF, HC 87.341/PR, 1.ª Turma, Rel Min. EROS GRAU, DJ de 03/03/2006.)
(...)
STJ. 5ª Turma. HC 118860/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 02/12/2010.

(...) Não configura prova ilícita gravação feita em espaço público, no caso, rodovia federal, tendo em vista a
inexistência de "situação de intimidade" (HC n. 87341-3, Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Julgamento: 07.02.2006)
(...)
STJ. 3ª Seção. MS 12429/DF, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 23/05/2007.

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E a gravação ambiental?
Prevalecia o seguinte entendimento: em regra, a gravação ambiental, realizada por um dos interlocutores,
prescinde de autorização judicial:
É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do
outro.
(RE 583937 QO-RG, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 19/11/2009).

É válida a utilização da gravação ambiental realizada por um dos interlocutores do diálogo como meio de prova
no processo penal, independentemente de prévia autorização judicial.
STJ. 5ª Turma. RHC 102.808/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 06/08/2019.
STJ. 6ª Turma. RHC 59.542/PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe 14/11/2016.

A única exceção em que haveria ilicitude se dá no caso em que a conversa era amparada por sigilo (ex: advogados
e clientes, padres e fiéis).

E, agora, com a Lei nº 13.964/2019?


A Lei nº 13.964/2019 inseriu o art. 8º-A na Lei nº 9.296/96 exigindo, DE FORMA GENÉRICA, a prévia autorização
judicial para a captação ambiental:
Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz, a requerimento da autoridade
policial ou do Ministério Público, a captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, quando:
I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes; e
II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações criminais cujas penas
máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas.
§ 1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a forma de instalação do dispositivo de
captação ambiental. (Incluído pela Lei 13.964/2019)
§ 2º (VETADO).
§ 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias, renovável por decisão judicial por
iguais períodos, se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando presente atividade criminal
permanente, habitual ou continuada. (Incluído pela Lei 13.964/2019)
§ 4º (VETADO).
§ 5º Aplicam-se subsidiariamente à captação ambiental as regras previstas na legislação específica para a
interceptação telefônica e telemática.

Vale ressaltar, contudo, que continua sendo desnecessária a autorização judicial em caso de captação ambiental
realizada por um dos interlocutores. A Lei acolheu a interpretação da jurisprudência e foi inserido o art. 10-A, §
1º na Lei nº 9.296/96, com a seguinte redação:
Art. 10-A (...)
§ 1º Não há crime se a captação é realizada por um dos interlocutores.

#DEOLHONAJURIS:
Situação concreta: durante uma investigação para apurar tráfico de drogas, o juiz da vara criminal decretou a
interceptação telefônica dos suspeitos. Durante os diálogos, constatou-se a participação de um militar. O militar
foi, então, denunciado na Justiça Militar. Os diálogos interceptados foram juntados aos autos do processo penal
militar como prova emprestada, oriundos da vara criminal. Ocorre que o juiz da vara criminal não remeteu à
Justiça Militar a integralidade dos áudios, mas apenas os trechos em que se entendia que havia a participação
do militar. O STJ entendeu que esse procedimento não foi correto. Isso porque “quebra da cadeia de custódia
da prova”. A cadeia de custódia da prova consiste no caminho que deve ser percorrido pela prova até a sua

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análise pelo magistrado, sendo certo que qualquer interferência indevida durante esse trâmite processual pode
resultar na sua imprestabilidade (RHC 77.836/PA, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/02/2019). A defesa
deve ter acesso à integralidade das conversas advindas nos autos de forma emprestada, sendo inadmissível
que as autoridades de persecução façam a seleção dos trechos que ficarão no processo e daqueles que serão
extraídos. A apresentação de somente parcela dos áudios, cuja filtragem foi feita sem a presença do defensor,
acarreta ofensa ao princípio da paridade de armas e ao direito à prova, porquanto a pertinência do acervo
probatório não pode ser realizada apenas pela acusação, na medida em que gera vantagem desarrazoada em
detrimento da defesa. STJ. 6ª Turma. REsp 1.795.341-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 07/05/2019 (Info
648). Obs: vale ressaltar que o caso acima explicado trata sobre falta de acesso à integralidade da interceptação
telefônica e não sobre falta de transcrição ou degravação integral das conversas obtidas. O entendimento da
jurisprudência do STF e do STJ é o de que não é obrigatória a transcrição integral do conteúdo das interceptações
telefônicas. Isso não foi alterado pelo julgado acima, que trata sobre hipótese diferente.
“Denúncia anônima” e quebra de sigilo: Segundo a jurisprudência do STJ e do STF, não há ilegalidade em iniciar
investigações preliminares com base em "denúncia anônima" a fim de se verificar a plausibilidade das
alegações contidas no documento apócrifo. A Polícia, com base em diligências preliminares para atestar a
veracidade dessas “denúncias” e também lastreada em informações recebidas pelo Ministério da Justiça e pela
CGU, requereu ao juízo a decretação da interceptação telefônica do investigado. O STF entendeu que a decisão
do magistrado foi correta considerando que a decretação da interceptação telefônica não foi feita com base
unicamente na "denúncia anônima" e sim após a realização de diligências investigativas e também com base
nas informações recebidas dos órgãos públicos de fiscalização. Renovação das interceptações A Lei nº 9.296/96
prevê que a interceptação telefônica "não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo
uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova." (art. 5º). A interceptação telefônica não pode
exceder 15 dias. Contudo, pode ser renovada por igual período, não havendo restrição legal ao número de vezes
para tal renovação, se comprovada a sua necessidade. STF. 2ª Turma. RHC 132115/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli,
julgado em 6/2/2018 (Info 890).

#ATENÇÃO
É constitucional a Resolução 36/2009 do CNMP, que dispõe sobre o pedido e a utilização de interceptações
telefônicas, no âmbito do Ministério Público, nos termos da Lei nº 9.296/96. A norma foi editada no exercício
das atribuições previstas diretamente no art. 130-A, § 2º, I e II, da CF/88. A Resolução apenas regulamentou
questões administrativas e disciplinares relacionadas ao procedimento de interceptação telefônica, sem
adentrar em matéria de direito penal, processual ou relativa a nulidades. Não foram criados novos “requisitos
formais de validade” das interceptações. Tanto isso é verdade que a inobservância dos preceitos contidos na
resolução não constitui causa de nulidade, mas sim motivo para a instauração de procedimento administrativo
disciplinar contra o agente público infrator, pois consistem em regras ligadas aos deveres funcionais de sigilo na
atuação ministerial. A independência funcional do MP foi preservada. A resolução não impõe uma linha de
atuação ministerial, apenas promove a padronização formal mínima dos ritos adotados nos procedimentos
relacionados a interceptações telefônicas, em consonância com as regras previstas na Lei nº 9.296/96. STF.
Plenário. ADI 4263/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/4/2018 (Info 899)

Infiltração de Agentes
Lei de Drogas Lei de Organização Criminosa ECA
(art. 51, I) (arts. 10 a 14) (arts. 190-A a 190-E)

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 Não prevê prazo máximo  Prazo máximo de 6 meses,  Prazo de 90 dias, prorrogável até o
 Não disciplina podendo ser sucessivamente limite total de 720 dias.
procedimento a ser prorrogado.  Só poderá ser adotada se a prova não
adotado.  Só poderá ser adotada se a prova puder ser produzida de outra
não puder ser produzida de outra maneira.
maneira.  A infiltração dos agentes ocorre
apenas pela internet.

Em todos os casos, exige autorização judicial!

#ALTERAÇÃOLEGISLATIVA - O Pacote Anticrime incluiu na Lei de Organização Criminosa, a possibilidade de


infiltração de agentes também pela internet:
Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infiltrados virtuais, obedecidos os requisitos do caput do
art. 10, na internet, com o fim de investigar os crimes previstos nesta Lei e a eles conexos, praticados por
organizações criminosas, desde que demonstrada sua necessidade e indicados o alcance das tarefas dos
policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais
que permitam a identificação dessas pessoas. [...]
§ 4º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 meses, sem prejuízo de eventuais renovações, mediante
ordem judicial fundamentada e desde que o total não exceda a 720 dias e seja comprovada sua necessidade.
Ação Controlada
Consiste em retardar a interferência policial para um momento mais oportuno para a colheita de provas. Tem
previsão na lei de drogas, dependendo de autorização judicial, e na lei de organização criminosa, a qual exige
apenas uma comunicação.
Colaboração Premiada #APOSTACICLOS #VAICAIR
Trata-se de espécie do direito premial, em que se utiliza de técnica especial de investigação por
meio (meio extraordinário de obtenção de prova) da qual o coautor e/ou partícipe da infração penal , além
de confessar seu envolvimento no fato delituoso, fornece aos órgãos responsáveis pela persecução penal
informações objetivamente eficazes para a consecução de um dos objetivos previstos em lei, recebendo,
em contrapartida, determinado prêmio legal.

Uma importante manifestação desse modelo de JUSTIÇA PENAL NEGOCIADA, encontra-se no


instituto da colaboração premiada, na forma definida pelos arts. 3º -A e seguintes da Lei 12.850/2013 -
Lei do Crime Organizado. É um instituto previsto na Lei de Organização Criminosa por meio do qual um
investigado ou acusado da prática de infração penal decide confessar a prática do delito e, além disso, aceita
colaborar com a investigação ou com o processo, fornecendo informações que irão ajudar, de forma efetiva,
na obtenção de provas contra os demais autores dos delitos e contra a organização criminosa, na prevenção
de novos crimes, na recuperação do produto ou proveito dos crimes ou na localização da vítima com
integridade física preservada, recebendo o colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais.

#SELIGA: A colaboração premiada possui natureza jurídica de meio de obtenção de prova e não um meio de
prova propriamente dito, pois não prova nada (ela não é uma prova). É um meio, uma técnica, um instrumento
para se obter as provas. O próprio artigo 3º-A da lei das organizações criminosas, define o acordo de
colaboração premiada como NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL e MEIO DE OBTENÇÃO DE PROVA.

A colaboração deve ser voluntária, ou seja, o colaborador não pode ter sido coagido, mas não precisa ser
espontânea, isto é, que tenha partido do colaborador a ideia, a iniciativa. Basta que que ele aceite livremente.
Além disso, precisa ser efetiva: somente será concedido o benefício se, com as informações fornecidas pelo
colaborador, for obtido um dos resultados informados acima.
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#NÃOCONFUNDA:
• COLABORAÇÃO PREMIADA – espécie de meio de obtenção de prova (técnica especial de investigação);
• ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA – negócio jurídico processual personalíssimo celebrado entre o
Ministério Público e o colaborador.

#UMPOUCODEDOUTRINA #APRODUNDANDO - Verifica-se a partir do instituto da colaboração premiada, uma


forte influência do modelo plea bargain de Justiça Negociada - utilizado no modelo americano - principalmente
na peculiaridade da não participação do juiz no momento na formalização da proposta pela acusação, cabendo
ao magistrado apenas a homologação do acordo firmado pelo acusado.

Sendo assim, pode-se considerar que o instituto da colaboração premiada foi introduzido pela onda negocial da
justiça penal, mas respeitando as particularidades quanto ao sistema brasileiro da legalidade dos atos públicos.

Salienta-se que o modelo brasileiro de justiça negociada é um modelo regrado. Ou seja, as regras para que no
procedimento penal seja adotado o consenso estão devidamente estabelecidas, o que decorre, notadamente,
da adesão do sistema civil law pelo Brasil.

#ATUALIZAÇÃOLEGISLATIVA #PACOTEANTICRIME: Muita atenção para as alterações trazidas pela Lei


13.964/19 à Lei das Organizações Criminosas.
#COLANARETINA #TABELASALVANDOVIDAS
REQUISITOS (obtenção de um ou mais dos seguintes resultados)
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por
eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
• Além disso, a colaboração deve ser VOLUNTÁRIA, que nasce da livre vontade do agente, desprovida de
qualquer tipo de constrangimento. (não precisa ser espontânea)

LEGISLAÇÃO BENEFÍCIOS DA COLABORAÇÃO PREMIADA


APLICÁVEL
O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder:
LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA – Lei 12850/13 Perdão Judicial;
Redução da pena em até 2/3 (se a colaboração for
posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a

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NFPSS PARTE II | MPMG
Ciclos Método

metade ou será admitida a progressão de regime ainda


que ausentes os requisitos objetivos);
Substituição da PPL por PRD;
LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS – LEI 9613/98 Perdão Judicial
Redução da pena de 1/3 a 2/3
Substituição da PPL por PRD
LEI DE PROTEÇÃO À TESTEMUNHA – Lei 9807/99 Perdão judicial
Redução da pena de 1/3 a 2/3
LEI DE DROGAS - Lei 11343/06
CRIMES HEDIONDOS - Lei 8072/90
CRIMES CONTRA SFN - Lei 7492/86
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA – Lei Redução da pena de 1/3 a 2/3
8137/90
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO – art. 159, §4,
CP.

#IMPORTANTE - NÃO OFERECIMENTO DE DENÚNCIA (ACORDO DE IMUNIDADE)

Art. 4º § 4º Nas mesmas hipóteses do caput deste artigo, o Ministério Público poderá deixar de oferecer
denúncia se a proposta de acordo de colaboração referir-se a infração de cuja existência não tenha prévio
conhecimento e o colaborador: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - não for o líder da organização criminosa;
II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.

§ 4º-A. Considera-se existente o conhecimento prévio da infração quando o Ministério Público ou a autoridade
policial competente tenha instaurado inquérito ou procedimento investigatório para apuração dos fatos
apresentados pelo colaborado.

#OLHAOGANHO: Por constituir circunstância subjetiva de caráter pessoal, os prêmios legais decorrentes da
aplicação da colaboração premiada não se comunicam aos demais coautores e partícipes , nos exatos
termos do art . 30 do Código Penal.

#RAPIDINHAS
1. A proposta de acordo deverá ser instruída com procuração do interessado com poderes específicos, se
não firmada pessoalmente;
2. Nenhuma tratativa, confirmação ou execução da colaboração, deve ser realizada sem a presença de
advogado constituído ou defensor público;
3. O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes, nem interferirá nos termos da
proposta. São legitimados: a) Delegado (com posterior manifestação do MP); b) Investigado/acusado; c)
Advogado/Defensor; d) Ministério Público; #DEOLHONAJURIS - O delegado de polícia pode formalizar acordos

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Ciclos Método

de colaboração premiada, na fase de inquérito policial, respeitadas as prerrogativas do Ministério Público, o


qual deverá se manifestar, sem caráter vinculante, previamente à decisão judicial;
4. Ao juiz cabe apenas homologar o acordo verificando sua regularidade, legalidade e voluntariedade,
podendo recusar a homologação da proposta que não atender aos requisitos legais, oportunidade em que fará
sua devolução às partes para as adequações necessárias; #DIVERGÊNCIA #DEOLHONAJURIS - #STF Atualmente,
não existe previsão legal de recurso cabível em face de não homologação ou de homologação parcial de acordo.
Logo, deve ser possível a impetração de habeas corpus. (STF - Info 1004). #STJ - A apelação criminal é o recurso
adequado para impugnar a decisão que recusa a homologação do acordo de colaboração premiada, mas ante a
existência de dúvida objetiva é cabível a aplicação do princípio da fungibilidade (STJ - Info 683);
5. Retratação: As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas autoincriminatórias
produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor;
6. #nãoconfunda – Rescisão: O acordo homologado poderá ser rescindido em caso de omissão dolosa
sobre os fatos objeto da colaboração;
7. O acordo de colaboração premiada pressupõe que o colaborador cesse o envolvimento em conduta
ilícita relacionada ao objeto da colaboração, sob pena de rescisão;
8. O sigilo do acordo e dos depoimentos do colaborador serão mantidos desde o recebimento da proposta
até o recebimento da denúncia;
9. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao
silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade;
10. Não existe direito líquido e certo a compelir o Ministério Público à celebração do acordo de delação
premiada, diante das características desse tipo de acordo e considerando a necessidade de distanciamento que
o Estado-juiz deve manter durante o cenário investigado e a fase de negociação entre as partes.

O investigado (ou acusado), assistido por advogado, negocia o acordo de colaboração premiada com o Delegado
de Polícia ou com o Ministério Público. O STF entendeu pela constitucionalidade da possibilidade de o
Delegado de Polícia realizar o acordo de colaboração premiada, desde que ouvido o Ministério Público. Havia
corrente doutrinária contrária a essa possibilidade por entender que o Delegado de Polícia não teria capacidade
postulatória para peticionar em juízo pedindo a homologação, já que o titular da ação penal é o Ministério
Público.

Realizado o acordo, o investigado pode ser beneficiado com:


 Não oferecimento da denúncia: desde que o colaborador não seja o líder da organização criminosa e
tenha sido o primeiro a prestar efetiva colaboração.
 Perdão judicial: se a colaboração prestada for muito relevante.
 Redução da pena: se a colaboração ocorrer antes da sentença, a pena poderá ser reduzida em até 2/3.
Se a colaboração ocorrer após, a pena poderá ser reduzida em até metade.
 Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos: mesmo que não estejam
presentes os requisitos do art. 44 do CP.
 Progressão de regime: ainda que não tenha atingido o requisito objetivo.
O STF entende que, caso a colaboração seja efetiva e produza os resultados almejados, o colaborador tem direito
subjetivo à aplicação das sanções premiais estabelecidas no acordo, inclusive de natureza patrimonial.

As negociações do acordo ocorrem em âmbito extrajudicial, sendo vedada a participação do magistrado, a


quem cabe apenas homologar o acordo. Para tanto, deverá examinar os seguintes aspectos:
 Regularidade e Legalidade
 Adequação dos benefícios pactuados, sendo nulas as cláusulas que violem o critério de definição do
regime inicial de cumprimento de pena, as regras de cada um dos regimes e os requisitos de progressão
de regime não abrangidos pelos possíveis benefícios relatados acima.
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 Adequação dos resultados da colaboração aos resultados mínimos exigidos


 Voluntariedade da manifestação de vontade, especialmente nos casos em que o colaborador está ou
esteve sob efeito de medidas cautelares.
Além disso, o juiz ou o tribunal deve proceder à análise fundamentada do mérito da denúncia, do perdão judicial
e das primeiras etapas de aplicação da pena, antes de conceder os benefícios pactuados, exceto quando o
acordo prever o não oferecimento da denúncia ou já tiver sido proferida sentença.

No ato de homologação não cabe ao magistrado tecer juízo de valor sobre o conteúdo das cláusulas, exceto nos
casos de flagrante ofensa ao ordenamento jurídico vigente, nestes casos, deverá devolver o acordo às partes
para as adequações necessárias.

Não existe previsão normativa sobre o recurso cabível contra a decisão que não homologa a colaboração. O STJ
entende que é a apelação criminal, mas ante a existência de dúvida objetiva admite a aplicação do princípio da
fungibilidade para aceitar eventual interposição de correição parcial. (REsp 1834215/RS, Rel. Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 27/10/2020)). Há uma decisão mais recente do STF reconhecendo a
possibilidade de impetração de Habeas Corpus: Atualmente, não existe previsão legal de recurso cabível em
face de não homologação ou de homologação parcial de acordo. Logo, deve ser possível a impetração de habeas
corpus. A homologação do acordo de colaboração premiada é etapa fundamental da sistemática negocial
regulada pela Lei nº 12.850/2013, estando diretamente relacionada com o exercício do poder punitivo estatal,
considerando que nesse acordo estão regulados os benefícios concedidos ao imputado e os limites à persecução
penal. STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2021 (Info 1004)

#ALTERAÇÃO LEGISLATIVA: #APOSTACICLOS


O Pacote Anticrime introduziu diversas disposições sobre o assunto, entre eles:
 O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de obtenção de prova, que
pressupõe utilidade e interesse públicos.
 O recebimento da proposta para formalização de acordo de colaboração demarca o início das
negociações e constitui também marco de confidencialidade, configurando violação de sigilo e quebra
da confiança e da boa-fé a divulgação de tais tratativas iniciais ou de documento que as formalize, até o
levantamento de sigilo por decisão judicial.
 A proposta de acordo de colaboração premiada poderá ser sumariamente indeferida, com a devida
justificativa, cientificando-se o interessado.
 Caso não haja indeferimento sumário, as partes deverão firmar Termo de Confidencialidade para
prosseguimento das tratativas, o que vinculará os órgãos envolvidos na negociação e impedirá o
indeferimento posterior sem justa causa.
 Na hipótese de não ser celebrado o acordo por iniciativa do celebrante, esse não poderá se valer de
nenhuma das informações ou provas apresentadas pelo colaborador, de boa-fé, para qualquer outra
finalidade.
 Para que o MP deixe de oferecer denúncia é necessário que a colaboração se refira a infração de cuja
existência não tenha prévio conhecimento. Considera-se existente o conhecimento prévio da infração
quando o MP ou a autoridade policial tenha instaurado inquérito ou procedimento investigatório para
apuração dos fatos apresentados pelo colaborador.
 São nulas de pleno direito as previsões de renúncia ao direito de impugnar a decisão homologatória.
 Em todas as fases do processo, deve-se garantir ao réu delatado a oportunidade de manifestar-se após
o decurso do prazo concedido ao réu que o delatou.
 Nenhuma das seguintes medidas será decretada ou proferida com fundamento apenas nas
declarações do colaborador:
o Medidas cautelares reais ou pessoais;

188
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o Recebimento de denúncia ou queixa-crime;


o Sentença condenatória.
 O acordo homologado poderá ser rescindido em caso de omissão dolosa sobre os fatos objeto da
colaboração.
 O acordo de colaboração premiada pressupõe que o colaborador cesse o envolvimento em conduta
ilícita relacionada ao objeto da colaboração, sob pena de rescisão.
 O acordo e os depoimentos do colaborador serão mantidos em sigilo até o recebimento da
denúncia/queixa, sendo vedado ao magistrado decidir por sua publicidade em qualquer hipótese.

Continuação – PROVAS
#SELIGANANOMENCLATURA:
Prova típica: É aquele que procedimento está previsto na legislação.
Prova Anômala: É a prova típica utilizada para fim diverso que a legislação lhe traz, com características de outra
prova típica. Exemplo de Renato Brasileiro: Juiz não utiliza da carta precatória e pede para um oficial de justiça
entrar em contato com uma testemunha por telefone.
Prova Irritual: É a que não observa o procedimento legal (existe procedimento previsto em lei para a prova, mas
ele não é observado), o que a torna ilegítima
Prova Crítica: É sinônimo para a prova pericial.
Prova fora da terra: É aquela produzida perante juízo distinto daquele em que se processou o feito, como
acontece no caso de carta rogatória ou precatória.

#OLHAASÚMULA
Súmula Vinculante 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de
perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade
por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da
prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

#SURRADEJURIS
O interrogatório deve ser o último ato da fase instrutória, independentemente da previsão em legislação
especial para ser realizado em outro momento, sob pena de nulidade do feito. Ressalvou-se, contudo, a
incidência da nova compreensão aos processos nos quais a instrução não tenha se encerrado até a publicação
desse julgamento (10.03.2016). (STF. Plenário. HC 127900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2016 (Info
816))
Para que se reconheça a nulidade pela inobservância da regra do art. 400 do CPP (interrogatório como último
ato da instrução) é necessária a comprovação de prejuízo? #DIVERGÊNCIA
SIM. É o entendimento da 5ª Turma do STJ: é necessário que o inconformismo da Defesa tenha sido
manifestado tempestivamente, ou seja, na própria audiência em que realizado o ato, sob pena de preclusão, e
que seja comprovada a ocorrência de prejuízo que o réu teria sofrido com a citada inversão. STJ. 5ª Turma. AgRg
no AREsp 1573424/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/09/2020.
NÃO. Existe julgado da 6ª Turma do STJ nesse sentido: É desnecessária a comprovação de prejuízo para o
reconhecimento da nulidade decorrente da não observância do rito previsto no art. 400 do CPP, o qual
determina que o interrogatório do acusado seja o último ato a ser realizado. Embora, em regra, a decretação da
nulidade de determinado ato processual requeira a comprovação de prejuízo concreto para a parte - em razão
do princípio do pas de nullité sans grief -, o prejuízo à defesa é evidente e corolário da própria inobservância da
máxima efetividade das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa. STJ. 6ª Turma. REsp
1.808.389-AM, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/10/2020 (Info 683). Obs: penso que prevalece a
primeira corrente, havendo decisões da própria 6ª Turma do STJ também exigindo a comprovação do prejuízo
(STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1617950/MG, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 03/11/2020).

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Não há ilegalidade ou nulidade na decisão do juiz que opta por realizar o interrogatório do réu por meio de
videoconferência em razão da dificuldade de deslocamento do acusado até o local da audiência, bem como
pelo risco à segurança pública, haja vista a insuficiência de agentes para realizar a escolta. (STJ. 6ª Turma. AgRg
no RHC 125373/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 18/08/2020) A escassez de agentes penitenciários para
realizar a escolta de detentos é argumento válido para justificar a excepcionalidade da audiência por meio
remoto. (STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 587424/SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 06/10/2020).
O direito à produção de provas não é absoluto, haja vista que a própria lei processual penal, em seu artigo 400,
§ 1º, faculta ao julgador, desde que de forma fundamentada, indeferir as provas consideradas irrelevantes,
impertinentes ou protelatórias. STF. 2ª Turma. HC 191858, 628075, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
30/11/2020.
O art. 226 do CPP estabelece formalidades para o reconhecimento de pessoas (reconhecimento pessoal). O
descumprimento dessas formalidades enseja a nulidade do reconhecimento? #DIVERGÊNCIA
• NÃO. Posição pacífica da 5ª Turma. As disposições contidas no art. 226 do CPP configuram uma recomendação
legal, e não uma exigência absoluta. Assim, é válido o ato mesmo que realizado de forma diversa da prevista em
lei. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1665453/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 02/06/2020.
• SIM. Há recente julgado da 6ª Turma do STJ, que fixou as seguintes conclusões:
1) As formalidades do art. 226 do CPP constituem garantia mínima para quem se encontra na condição de
suspeito da prática de um crime; 2) À vista dos efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância
do procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e
não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o reconhecimento em juízo; 3) Pode
o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o devido procedimento
probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do exame de outras provas que não
guardem relação de causa e efeito com o ato viciado de reconhecimento; 4) O reconhecimento do suspeito por
simples exibição de fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever seguir o mesmo procedimento do
reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa antecedente a eventual reconhecimento pessoal e,
portanto, não pode servir como prova em ação penal, ainda que confirmado em juízo. STJ. 6ª Turma. HC
598886-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020 (Info 684).
Para o acesso a dados telemáticos não é necessário a delimitação temporal para fins de investigações
criminais, por se tratar de dados estáticos, constantes nas plataformas de dados. Apesar de o art. 22, III, da Lei
nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) determinar que a requisição judicial de registro deve conter o período
ao qual se referem, tal quesito só é necessário para o fluxo de comunicações, sendo inaplicável nos casos de
dados já armazenados que devem ser obtidos para fins de investigações criminais. STJ. 6ª Turma. HC 587732-RJ,
Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 20/10/2020 (Info 682).
A determinação judicial para identificação dos usuários que operaram em determinada área geográfica,
suficientemente fundamentada, não ofende a proteção à privacidade e à intimidade. A quebra do sigilo de
dados armazenados não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as pessoas que estão sendo
investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de proporcionar a identificação do
usuário do serviço ou do terminal utilizado. Logo, a ordem judicial para quebra do sigilo dos registros, delimitada
por parâmetros de pesquisa em determinada região e por período de tempo, não se mostra medida
desproporcional, porquanto, tendo como norte a apuração de gravíssimos crimes, não impõe risco desmedido
à privacidade e à intimidade dos usuários possivelmente atingidos por tal diligência. STJ. 3ª Seção. RMS 61302-
RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/08/2020 (Info 678).
Falta de mandado não invalida busca e apreensão em apartamento desabitado. Não há nulidade na busca e
apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial, em apartamento que não revela sinais de
habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a aparente ausência de residentes no local se alia à
fundada suspeita de que o imóvel é utilizado para a prática de crime permanente. STJ. 5ª Turma. HC 588445-SC,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/08/2020 (Info 678).
Não é lícita a prova obtida por meio de abertura de carta, telegrama ou qualquer encomenda postada nos
Correios, ante a inviolabilidade do sigilo das correspondências. Sem autorização judicial ou fora das hipóteses
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NFPSS PARTE II | MPMG
Ciclos Método

legais, é ilícita a prova obtida mediante abertura de carta, telegrama, pacote ou meio análogo. STF. Plenário. RE
1116949, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão
Geral – Tema 1041) (Info 993).
É ilícita a prova obtida em revista pessoal feita por agentes de segurança particular. STJ. 5ª Turma. HC
470.937/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 04/06/2019 (Info 651).
É nula a “entrevista” realizada pela autoridade policial com o investigado, durante a busca e apreensão em
sua residência, sem que tenha sido assegurado ao investigado o direito à prévia consulta a seu advogado e
sem que ele tenha sido comunicado sobre seu direito ao silêncio e de não produzir provas contra si mesmo.
Trata-se de um “interrogatório travestido de entrevista”, havendo violação do direito ao silêncio e à não
autoincriminação. STF. 2ª Turma. Rcl 33711/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/6/2019 (Info 944).
É ilícita a prova obtida mediante conduta da autoridade policial que atende, sem autorização, o telefone
móvel do acusado e se passa pela pessoa sob investigação. Não tendo a autoridade policial permissão do titular
da linha telefônica, ou mesmo da Justiça, para ler mensagens nem para atender ao telefone móvel da pessoa
sob investigação e travar conversa por meio do aparelho com qualquer interlocutor que seja se passando por
seu dono, a prova obtida dessa maneira arbitrária é ilícita. STJ. 6ª Turma. HC 511.484-RS, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 15/08/2019 (Info 655).
#APOSTACICLOS Os dados do contribuinte que a Receita Federal obteve das instituições bancárias mediante
requisição direta (sem intervenção do Poder Judiciário, com base nos arts. 5º e 6º da LC 105/2001), podem ser
compartilhados, também sem autorização judicial, com o Ministério Público, para serem utilizados como
prova emprestada no processo penal. STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
4/12/2019 (repercussão geral – Tema 990) (Info 962).
#APOSTACICLOS A condução coercitiva do investigado para interrogatório, prevista no art. 260 do CPP, não foi
recepcionado pela CF/88, por representa restrição à liberdade de locomoção e viola a presunção de não
culpabilidade. Houve a modulação dos efeitos dessa decisão, para considerar válida as conduções coercitivas já
realizadas. (STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, 13 e 14/6/2018 (Info 906.)
#APOSTACICLOS É ilícita a prova colhida mediante acesso aos dados armazenados no aparelho celular, relativos
a mensagens de texto, SMS, conversas por meio de aplicativos (WhatsApp), obtida diretamente pela polícia,
sem prévia autorização judicial. STJ. 6ª Turma. RHC 51.531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 19/4/2016 (Info 583).
#APOSTACICLOS É nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp para que a Polícia
acompanhe as conversas do suspeito, pois não existe autorização legal. (STJ. 6ª Turma. RHC 99735-SC, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 27/11/2018 (Info 640))
Não existe direito líquido e certo a compelir o MP à celebração do acordo de delação premiada, diante das
características desse tipo de acordo e considerando a necessidade de distanciamento que o Estado-juiz deve
manter durante o cenário investigado e a fase de negociação entre as partes do cenário investigativo. Porém,
mesmo sem ter realizado acordo, o acusado pode colaborar fornecendo as informações e provas que possuir.
Ao final, na sentença, o juiz irá analisar esse comportamento e poderá conceder benefício mesmo sem que tenha
havido a prévia celebração e homologação do acordo de colaboração premiada. (STF. 2ª Turma. MS 35693
AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/5/2019 (Info 942))
No âmbito do acordo de colaboração premiada, não é lícita a inclusão de cláusulas concernentes às medidas
cautelares de cunho pessoal, e, portanto, não é a partir dos termos do acordo que se cogitará da concessão ou
não de liberdade provisória ao acusado que, ao celebrá-lo, encontre-se preso preventivamente. Segundo a
dicção do art. 4º, da Lei 12850/2013, a extensão do acordo de colaboração limita-se a aspectos relacionados
com a imposição de pena futura, isto é, alude-se à matéria situada no campo do direito material, e não do
processo. (STJ - RHC 76026 / RS 2016/0244094-8)
O descumprimento de acordo de delação premiada ou a frustração na sua realização, isoladamente, não
autoriza a imposição da segregação cautelar.É necessário verificar, no caso concreto, a presença dos requisitos
da prisão preventiva, não podendo o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra do acordo. (STJ.
6ª Turma.HC 396658-SP, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, julgado em 27/6/2017 (Info 609))
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NFPSS PARTE II | MPMG
Ciclos Método

É desnecessária a realização de perícia para a identificação de voz captada nas interceptações telefônicas, salvo
quando houver dúvida plausível que justifique a medida. (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1233396/DF, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 18/06/2013.)
É válido e revestido de eficácia probatória o testemunho prestado por policiais envolvidos em ação investigativa
ou responsáveis por prisão em flagrante, quando estiver em harmonia com as demais provas dos autos e for
colhido sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. (STJ, Tese nº 6, sobre as provas no CPP – I (2ª parte))

14. Juiz: deveres judiciais em relação às partes. 15. Defesa Pública e particular. Defesa técnica e autodefesa.
16. O acusado. 17. Vítima. 18. Assistente de acusação.

IMPEDIMENTO SUSPEIÇÃO
Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o
em que: fizer, poderá ser recusado por qualquer das
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo partes:
ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de
inclusive, como defensor ou advogado, órgão do qualquer deles;
Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou
ou perito; descendente, estiver respondendo a processo
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso
funções ou servido como testemunha; haja controvérsia;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, III - se ele, seu cônjuge, ou parente,
pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão; consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau,
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo inclusive, sustentar demanda ou responder a
ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, processo que tenha de ser julgado por qualquer
inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito. das partes;
Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de
consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o qualquer das partes;
terceiro grau, inclusive. Vl - se for sócio, acionista ou administrador de
sociedade interessada no processo.
Cuidado para não confundir com as hipóteses do CPC!

Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes
for seu cônjuge, ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a
eles se estendem, no que Ihes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.

#PEGAADIGA:
 No CPP não existe 4º grau ou 2º grau de parentesco. Em todo o seu texto só existe o 3º grau.
 O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do
casamento que lhe tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o
casamento sem descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou
enteado de quem for parte no processo.

- Assistente de Acusação #APOSTACICLOS


Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido
ou seu representante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no Art. 31. (cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão.)

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Art. 269. O assistente será admitido enquanto não passar em julgado a sentença e receberá a causa no estado
em que se achar. (Logo, pode ingressar no segundo grau!)
Art. 270. O corréu no mesmo processo não poderá intervir como assistente do Ministério Público.
Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às testemunhas, aditar o
libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou
por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598. (impronúncia e apelação contra sentença se o MP não
recorrer)
§ 1o O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da realização das provas propostas pelo assistente.
§ 2o O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do assistente, quando este, intimado,
deixar de comparecer a qualquer dos atos da instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior
devidamente comprovado.
Art. 272. O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão do assistente.
Art. 273. Do despacho que admitir, ou não, o assistente, não caberá recurso, devendo, entretanto, constar dos
autos o pedido e a decisão.

#DEOLHONAJURIS
As hipóteses de impedimento são taxativas, não sendo viável interpretação extensiva e analógica, sob pena de
se criar nova causa prevista em lei, o que vulneraria a separação dos poderes e, por consequência, cercearia
inconstitucionalmente a atuação válida do magistrado ou mesmo do promotor. Já as de suspeição são
exemplificativas. (STJ, (AgRg no REsp 1721429/SP, julgado em 19/11/2019)
A participação no julgamento em segundo grau do magistrado que atuou na instância inicial só gera
impedimento se o julgador proferiu atos com natureza decisória. Despachos meramente ordinatórios, em que
o juiz não se vincula a qualquer tese minimamente influenciadora do resultado da causa, não possuem esse
condão. (STJ. 3ª Turma.REsp 1673327-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/9/2017 (Info 611)).
A assistência é apenas da acusação, não existindo a figura do assistente de defesa. Logo, a OAB não tem
legitimidade para atuar como assistente de defesa de advogado réu em ação penal. (STJ. Corte Especial. AgRg
no Inq 1.191/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/10/2020.)

PRISÕES

Prisão em Flagrante
ESPÉCIES
Flagrante próprio (302, I e II) O agente está cometendo a infração ou acaba de cometê-la;
Flagrante O agente é perseguido, logo após, em situação que faça presumir ser
impróprio/imperfeito/irreal/quase autor da infração
flagrante (302, III)
Flagrante ficto/presumido/feliz O agente é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos
encontro (302, IV) ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Flagrante esperado A autoridade policial toma conhecimento de que será praticada uma
infração penal e se desloca para o local onde o crime acontecerá. É
válido.
Flagrante preparado A autoridade instiga o infrator a cometer o crime, criando a situação
para que ele cometa o delito e seja preso em flagrante. Há crime
impossível.
Flagrante forjado O fato é simulado pela autoridade para incriminar falsamente alguém.
Ex.: policial coloca droga no bolso da vítima.

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Flagrante diferido/retardado A autoridade policial retarda a realização do flagrante, para obter


maiores informações ou capturar mais infratores. É a chamada ação
controlada.
Flagrante em crimes permanentes O flagrante pode ser realizado em qualquer momento durante a
execução do crime, logo após ou logo depois.
Flagrante fracionado É o que ocorre no caso de crimes continuados. Como existem várias
infrações independentes, cada uma constituindo um crime
isoladamente, torna-se possível a prisão em flagrante em casa um
deles.

PRISÃO EM FLAGRANTE:

 Natureza Jurídica:

- 1ª posição: o flagrante teria natureza cautelar (entendimento prevalente);

- 2ª Posição (Aury Lopes Júnior): a prisão em flagrante é precautelar, visto que as medidas cautelares objetivam
assegurar a utilidade do procedimento criminal principal. No caso do flagrante, ainda não existe nem inquérito
e nem processo, a persecução penal não iniciou. A tutela do flagrante é social e não procedimental. Quando o
flagrante acontece, o cenário é difuso, administrativo. A prisão só se cautelariza se o magistrado converte o
flagrante em prisão preventiva. Para Aury Lopes Júnior, o flagrante é uma medida precautelar, de viés,
nitidamente, administrativo e de proteção social.

 Espécies de Flagrante (Art. 302, CPP):

a) Flagrante próprio ou real: aquele em que o agente está cometendo a infração penal ou que acaba de cometê-
la;
b) Flagrante impróprio, irreal ou quase flagrante: aquele que o agente é perseguido, logo após, pela autoridade,
pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;
c) Flagrante presumido, ficto ou assimilado: aquele em que o agente é encontrado, logo depois, com
instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

 Criações doutrinárias e jurisprudenciais:

a) Flagrante preparado ou provocado: um agente provocador induz terceiro à prática do delito, adotando
precauções para que o crime não se consume. Também chamado de delito putativo por obra do agente
provocador ou crime de ensaio. Configura crime impossível (Súmula 145/STF: não há crime, quando a
preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação).
b) Flagrante retardado ou diferido: é considerado legal. Exemplo: ação controlada (retardamento da
intervenção policial, que deve se dar no momento mais oportuno sob o ponto de vista da colheita de provas);
c) Flagrante esperado: a autoridade policial limita-se a aguardar o momento da prática do delito. A diferença
entre o flagrante esperado e o preparado é que no preparado há o agente provocador. É considerado legal;
d) Flagrante forjado ou urdido: cria provas de um delito inexistente. É ilegal.
e) Flagrante fracionado: é o que ocorre nos casos de crime continuado, de acordo com o art. 71 do Código Penal.
Como existem várias infrações independentes, cada uma podendo constituir crime isoladamente, torna-se
possível a prisão em flagrante por cada uma delas, consubstanciando o que a doutrina denomina de crime
fracionado.

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 Flagrantes nas diversas modalidades de infração: O flagrante ordinariamente é admitido para todo tipo
de infração. Situações especiais:

a) Crimes permanentes: nesse caso, a prisão em flagrante é admitida a qualquer tempo enquanto perdurar a
permanência, admitindo-se, inclusive, a invasão domiciliar (art. 5º, XI, CF c/c art. 303, CPP).
b) Crimes de ação privada e de ação pública condicionada: nessas infrações o flagrante é admitido, mas a
lavratura do auto depende de manifestação de vontade do legítimo interessado. Para Polastri Lima (MPRJ) se a
vítima está impossibilitada de comparecer imediatamente na delegacia admite-se que ela o faça no prazo da
nota de culpa.
c) Crimes habituais: não se admite prisão em flagrante em crime habitual, pois no momento do flagrante a
autoridade estará apenas visualizando uma conduta isolada, não tendo condições de atestar a habitualidade do
fato e a própria tipicidade do crime. Crimes habituais são aqueles que revelam um modo de vida do agente e
para que exista tipicidade é necessário que a conduta seja reiterada (exemplo: exercício ilegal da medicina, art.
282, CP).
d) Crimes formais: o flagrante tem cabimento no momento da realização da conduta delituosa e não quando
do exaurimento do crime.
e) Infrações de menor potencial ofensivo: admite-se a captura e condução coercitiva, mas a lavratura do auto
foi substituída pela mera confecção do TCO (art. 69, Lei nº 9.099/95).

 Formalidades do flagrante:

a) comunicar à família, ao juiz e ao MP;


b) em 24h enviar os autos ao juiz, entregar a nota de culpa e encaminhar cópia do auto à Defensoria (caso não
tenha advogado).

#DEOLHONAJURIS: Depois da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), não é mais possível que o juiz, de ofício,
converta a prisão em flagrante em prisão preventiva (é indispensável requerimento). Não é possível a
decretação “ex officio” de prisão preventiva em qualquer situação (em juízo ou no curso de investigação penal),
inclusive no contexto de audiência de custódia, sem que haja, mesmo na hipótese da conversão a que se refere
o art. 310, II, do CPP, prévia, necessária e indispensável provocação do Ministério Público ou da autoridade
policial. A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, § 2º, e do art. 311,
ambos do CPP, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o prévio requerimento das
partes ou representação da autoridade policial. Logo, não é mais possível, com base no ordenamento jurídico
vigente, a atuação ‘ex officio’ do Juízo processante em tema de privação cautelar da liberdade. A interpretação
do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz do art. 282, § 2º e do art. 311, significando que se tornou inviável,
mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em flagrante de qualquer pessoa
em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal provocação do
Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante ou do assistente do MP. STJ. 5ª
Turma. HC 590039/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2020 (Info 682). STF. HC 188888/MG, Rel.
Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994). Em sentido contrário temos a posição minoritária da 6ª
Turma do STJ, que deve ser superada em breve: mesmo após as inovações trazidas pelo Pacote Anticrime (Lei
n. 13.964/2019), não há ilegalidade na conversão da prisão em flagrante em preventiva, de ofício, pelo
magistrado (STJ. 6ª Turma. HC 605.305-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Antonio Saldanha Palheiro,
julgado em 06/10/2020).

→ A audiência de custódia, no caso de mandado de prisão preventiva cumprido fora do âmbito territorial da
jurisdição do Juízo que a determinou, deve ser efetivada por meio da condução do preso à autoridade judicial
competente na localidade em que ocorreu a prisão. Não se admite, por ausência de previsão legal, a sua

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realização por meio de videoconferência, ainda que pelo Juízo que decretou a custódia cautelar. STJ. 3ª Seção.
CC 168522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/12/2019 (Info 663).
→ #COVID19 #IMPORTANTE #MUDANÇADEENTENDIMENTO - Considerando a pandemia mundial (Covid-19),
o CNJ aprovou a Resolução 357/2020, permitindo a audiência de custódia por videoconferência quando não
for possível a realização, em 24 horas, de forma presencial. Além disso, também prevê a possibilidade de o
Ministério Público propor acordo de não persecução penal (ANPP) nas hipóteses previstas no artigo 28-A do
Código de Processo Penal. No mesmo sentido, passou a decidir o STF.

A pandemia causada pelo novo coronavírus não afasta a imprescindibilidade da audiência de custódia, que
deve ser realizada, caso necessário, por meio de videoconferência, diante da ausência de lei em sentido formal
que proíba o uso dessa tecnologia.
A audiência por videoconferência, sob a presidência do Juiz, com a participação do autuado, de seu defensor
constituído ou de Defensor Público, e de membro do Ministério Público, permite equacionar as medidas
sanitárias de restrição decorrentes do contexto pandêmico com o direito subjetivo do preso de participar de
ato processual vocacionado a controlar a legalidade da prisão.
STF. 2ª Turma. HC 186421, Rel. Celso de Mello, Rel. p/ Acórdão Edson Fachin, julgado em 20/10/2020.

PRISÃO PREVENTIVA:

Nos termos do art. 312 do CPP, “A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de
liberdade do imputado”.

Deste modo, a decretação da prisão preventiva depende da comprovação do fumus comissi delicti
(prova da materialidade + indícios suficientes de autoria) e do periculum libertatis (perigo gerado pelo estado
de liberdade do imputado). Esse último requisito estará configurado nas seguintes hipóteses:

Garantia da
ordem
econômica

Garantia da Conveniência
ordem PRISÃO da instrução
pública PREVENTIVA criminal

Assegurar
aplicação
da lei penal

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 GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA: indícios concretos de que o agente voltará a delinquir, associados à
gravidade e à repercussão do delito. Não se confunde com o mero clamor público, que não justifica
isoladamente a prisão preventiva.
 GARANTIA DA ORDEM ECONÔMICA: É a aplicação da garantia da ordem pública especificamente no
campo da ordem econômica.
 POR CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL: Exemplos: réu que ameaça a testemunha, assaltante
solto que não comparece à audiência.
 PARA ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL: Possibilidade concreta de fuga.

Além disso, o caso deve se enquadrar em uma das hipóteses de admissibilidade do art. 313, I a III, do
CPP:

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro)
anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto
no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).
IV - (revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou
quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente
em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento
de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de
denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Infrações que comportam prisão preventiva


Regra geral I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 (quatro) anos

A quantidade de pena máxima será a) Reincidência em crime doloso


irrelevante: II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em
sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso
I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 - Código Penal
b) Descumprimento de medida protetiva na violência doméstica
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência;

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c) Ausência de identificação civil


§ 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não
fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o
preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida.
d) Descumprimento de medida cautelar do art. 319 e 320, CPP.
Art.282, § 4º No caso de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do
Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá
substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último
caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo
único do art. 312 deste Código.

Vedações à decretação da prisão a) Contravenções penais: isso porque a decretação da prisão


preventiva: preventiva depende de prova da existência do crime, excluindo
a hipótese de contravenção penal;
b) Excludentes de ilicitude: não será decretada a preventiva de
quem agiu sob a proteção de alguma excludente de ilicitude.
c) Excludentes de culpabilidade.

#DEOLHONAJURIS: A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo
para justificar a prisão preventiva do réu. O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação
da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente,
idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”. Assim,
a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há
previsão legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão
preventiva, nesta hipótese, representa ofensa ao princípio da legalidade estrita. STJ. 6ª Turma. HC 437535-SP,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

#AJUDAMARCINHO: Após a Lei nº 13.964/2019, o juiz pode conceder medidas cautelares de ofício?
NÃO. A Lei alterou a redação do § 2º do art. 282 do CPP e acabou com a possibilidade. Veja:

Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE


Art. 282. (...) Art. 282. (...)
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo § 2º As medidas cautelares serão decretadas
juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando pelo juiz a requerimento das partes ou, quando
no curso da investigação criminal, por representação da no curso da investigação criminal, por
autoridade policial ou mediante requerimento do representação da autoridade policial ou
Ministério Público. mediante requerimento do Ministério Público.

Foi fixado prazo de 5 dias para que a parte contrária se manifeste sobre o pedido de medida cautelar

Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE


Art. 282. (...) Art. 282. (...)

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§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de § 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo


ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido
medida cautelar, determinará a intimação da parte de medida cautelar, determinará a intimação da
contrária, acompanhada de cópia do requerimento e parte contrária, para se manifestar no prazo de 5
das peças necessárias, permanecendo os autos em (cinco) dias, acompanhada de cópia do
juízo. requerimento e das peças necessárias,
permanecendo os autos em juízo, e os casos de
urgência ou de perigo deverão ser justificados e
fundamentados em decisão que contenha
elementos do caso concreto que justifiquem essa
medida excepcional.

Juiz não pode mais, de ofício, substituir a medida cautelar ou decretar a prisão preventiva, mesmo em caso
de descumprimento das obrigações impostas

Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE


§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das § 4º No caso de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante obrigações impostas, o juiz, mediante
requerimento do Ministério Público, de seu requerimento do Ministério Público, de seu
assistente ou do querelante, poderá substituir a assistente ou do querelante, poderá substituir a
medida, impor outra em cumulação, ou, em último medida, impor outra em cumulação, ou, em último
caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do
único). parágrafo único do art. 312 deste Código.

Atenção! Juiz pode, de ofício, revogar a medida cautelar

Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE


§ 5º O juiz poderá revogar a medida cautelar ou § 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes,
substituí-la quando verificar a falta de motivo para revogar a medida cautelar ou substituí-la quando
que subsista, bem como voltar a decretá-la, se verificar a falta de motivo para que subsista, bem
sobrevierem razões que a justifiquem. como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que
a justifiquem.

#SELIGA: As medidas cautelares se submetem à cláusula rebus sic standibus. Isso significa que a sua manutenção
depende da persistência das circunstâncias que a justificaram. Assim, decretada a prisão preventiva, esta poderá
ser revogada de ofício pelo juiz, caso se verifique a falta de motivo para sua subsistência. Do mesmo modo,
revogada a prisão preventiva, nada impede que, sobrevindo razões que a justifiquem, possa o magistrado
decretá-la novamente, desde que seja provocado nesse sentido.

#OLHAOGANCHO: O Pacote Anticrime alterou o art. 310 do CPP, prevendo a indispensabilidade da


audiência de custódia. Toda pessoa que sofra prisão em flagrante — qualquer que tenha sido a motivação ou a
natureza do ato criminoso, mesmo que se trate de delito hediondo — deve ser obrigatoriamente conduzida,
“sem demora”, à presença da autoridade judiciária competente, para que esta, ouvido o custodiado “sobre as
circunstâncias em que se realizou sua prisão” e examinados os aspectos de legalidade formal e material do
auto de prisão em flagrante, possa:

(i) relaxar a prisão, se constatar a ilegalidade do flagrante,

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(ii) conceder liberdade provisória, se estiverem ausentes as situações referidas no art. 312 do CPP ou se
incidirem, na espécie, quaisquer das excludentes de ilicitude previstas no art. 23 do CP, ou, ainda,
(iii) converter o flagrante em prisão preventiva, se presentes os requisitos dos arts. 312 e 313 do CPP.

#DEOLHONAJURIS: A audiência de custódia (ou de apresentação) constitui direito público subjetivo de caráter
fundamental, assegurado por convenções internacionais de direitos humanos a que o Estado brasileiro aderiu,
já incorporadas ao direito positivo interno (Convenção Americana de Direitos Humanos e Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos). Traduz prerrogativa não suprimível assegurada a qualquer pessoa. Sua
imprescindibilidade tem o beneplácito do magistério jurisprudencial (ADPF 347 MC) e do ordenamento positivo
doméstico (Lei nº 13.964/2019 e Resolução 213/2015 do CNJ). STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello,
julgado em 6/10/2020 (Info 994).
A audiência de custódia, no caso de mandado de prisão preventiva cumprido fora do âmbito territorial da
jurisdição do Juízo que a determinou, deve ser efetivada por meio da condução do preso à autoridade judicial
competente na localidade em que ocorreu a prisão. Não se admite, por ausência de previsão legal, a sua
realização por meio de videoconferência, ainda que pelo Juízo que decretou a custódia cautelar. STJ. 3ª Seção.
CC 168522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/12/2019 (Info 663).
Obs1: após esse julgado, o CNJ aprovou resolução proibindo a realização de audiência de custódia por
videoconferência. Segundo o Min. Dias Toffoli, “audiência de custódia por videoconferência não é audiência de
custódia e não se equiparará ao padrão de apresentação imediata de um preso a um juiz, em momento
consecutivo a sua prisão, estandarte, por sinal, bem definido por esse próprio Conselho Nacional de Justiça
quando fez aplicar em todo o país as disposições do Pacto de São José da Costa Rica.”
Obs2: considerando a pandemia mundial (Covid-19), o CNJ aprovou a Resolução 357/2020, permitindo a
audiência de custódia por videoconferência quando não for possível a realização, em 24 horas, de forma
presencial. Além disso, também prevê a possibilidade de o Ministério Público propor acordo de não persecução
penal (ANPP) nas hipóteses previstas no artigo 28-A do Código de Processo Penal.
No mesmo sentido, confira esse julgado do STF:
A pandemia causada pelo novo coronavírus não afasta a imprescindibilidade da audiência de custódia, que
deve ser realizada, caso necessário, por meio de videoconferência, diante da ausência de lei em sentido formal
que proíba o uso dessa tecnologia. A audiência por videoconferência, sob a presidência do Juiz, com a
participação do autuado, de seu defensor constituído ou de Defensor Público, e de membro do Ministério
Público, permite equacionar as medidas sanitárias de restrição decorrentes do contexto pandêmico com o
direito subjetivo do preso de participar de ato processual vocacionado a controlar a legalidade da prisão. STF.
2ª Turma. HC 186421, Rel. Celso de Mello, Rel. p/ Acórdão Edson Fachin, julgado em 20/10/2020.

CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO:

As cautelares diversas da prisão serão sempre concedidas pelo juiz, salvo a fiança que pode ser
arbitrada pelo delegado quando a pena máxima do crime for de até 4 anos. Como se sabe, as cautelares no
processo penal se prestam a evitar prejuízos à efetividade do processo em razão do decurso do tempo. As
cautelares pessoais, por sua vez, são aquelas, como o próprio nome diz, que recaem sobre as pessoas, por
exemplo, uma prisão cautelar.

As cautelares pessoais, no Processo Penal brasileiro, durante anos, viveram um regime de estrita
BIPOLARIDADE, consistente na dicotomia: PRISÃO VERSUS LIBERDADE PROVISÓRIA. Tal dicotomia revelava-se
extremamente deletéria, pois vivia entre os extremos: total cerceamento da liberdade (com todos os seus
estigmas e problemas) ou plena liberdade (muitas vezes sem o necessário acompanhamento). Pois bem, em
2011, em uma das mais recentes reformas do Processo Penal, rompeu-se com o sistema da BIPOLARIDADE,
passando a adequar o ordenamento jurídico brasileiro às chamadas REGRAS DE TÓQUIO de 1990, que
estabelecem regras mínimas para a prisão cautelar, deixando-a como medida de última ratio. Assim sendo, o
200
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sistema brasileiro passou a adotar mais NOVE medidas cautelares PESSOAIS DIVERSAS DA PRISÃO no art. 319
do CPP.

PRISÃO DOMICILIAR:

É um tipo especial de prisão que substitui a preventiva quando estão presentes os requisitos dos arts.
312 e 313, mas, por alguma particularidade do acusado, ele não pode se submeter ao gravame do cárcere.

PRISÃO DOMICILIAR DO CPP PRISÃO DOMICILIAR DA LEP


Arts. 317, 318 e 318-A do CPP. Art. 117 da LEP.
A LEP, ao tratar da prisão domiciliar, está se
O CPP, ao tratar da prisão domiciliar, está se referindo à
referindo à possibilidade de a pessoa já
possibilidade de o réu, em vez de ficar em prisão
condenada cumprir a sua pena privativa de
preventiva, permanecer recolhido em sua residência.
liberdade na própria residência.
Trata-se de uma medida cautelar por meio da qual o
réu, em vez de ficar preso na unidade prisional,
Trata-se, portanto, da execução penal
permanece recolhido em sua própria residência.
(cumprimento da pena) na própria residência.
Continua tendo natureza de prisão, mas uma prisão
“em casa”.
Hipóteses (importante):
O juiz poderá substituir a prisão preventiva pela
domiciliar quando o agente for:
I — maior de 80 anos;
II — extremamente debilitado por motivo de doença
grave;
III — imprescindível aos cuidados especiais de pessoa
Hipóteses (importante):
menor de 6 anos de idade ou com deficiência;
O preso que estiver cumprindo pena no regime
IV — gestante;
aberto poderá ficar em prisão domiciliar
V — mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
quando se tratar de condenado(a):
incompletos;
I — maior de 70 anos;
VI — homem, caso seja o único responsável pelos
II — acometido de doença grave;
cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade
III — com filho menor ou deficiente físico ou
incompletos.
mental;
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher
IV — gestante.
gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência será substituída por prisão
domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave
ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou
dependente.

PRISÃO TEMPORÁRIA:

- A prisão temporária só pode ser decretada durante a fase pré-processual (art. 1º, I a 3, da Lei nº 7.960/89;
- A prisão temporária só é cabível em relação a um rol taxativo de delitos, listados no art. 1º, III da Lei nº
7.960/89, e para crimes hediondos ou equiparados (art. 2º da Lei nº 8.072/90);

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Ciclos Método

- A prisão temporária possui um prazo pré-determinado de 5 (cinco) dias, prorrogáveis por igual período em
caso de extrema e comprovada necessidade (art. 2º da Lei nº 7.960/89). O prazo será de 30 (trinta) dias,
prorrogáveis por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade, para crimes hediondos ou
equiparados.

EMENDATIO LIBELLI E MUTATIO LIBELLI

EMENDATIO LIBELLI MUTATIO LIBELLI


Quando ocorre:
Ocorre quando o juiz, ao condenar ou pronunciar o Quando ocorre:
réu, altera a definição jurídica (a capitulação do tipo Ocorre quando, no curso da instrução processual,
penal) do fato narrado na peça acusatória, sem, no surge prova de alguma elementar ou circunstância
entanto, acrescentar qualquer circunstância ou que não havia sido narrada expressamente na
elementar que já não esteja descrita na denúncia ou denúncia ou queixa.
queixa.
Requisitos: Requisitos:
1) Não é acrescentada nenhuma circunstância ou 1) É acrescentada alguma circunstância ou
elementar ao fato que já estava descrito na peça elementar que não estava descrita originalmente na
acusatória. peça acusatória e cuja prova surgiu durante a
instrução.
2) É modificada a tipificação penal. 2) É modificada a tipificação penal.
Exemplo: Exemplo:
O MP narrou, na denúncia, que o réu, valendo-se de O MP narrou, na denúncia, que o réu praticou furto
fraude eletrônica no sistema da internet banking, simples (art. 155, caput, do CP). Durante a instrução,
retirou dinheiro da conta bancária da vítima, os depoimentos revelaram que o acusado utilizou-se
imputando-lhe o crime de estelionato (art. 171 do de uma chave falsa para entrar na coisa furtada. Com
CP). O juiz, na sentença, afirma que, após a instrução, base nessa nova elementar, que surgiu em
ficou provado que os fatos ocorreram realmente na consequência de prova trazida durante a instrução,
forma como narrada pelo MP, mas que, em seu verifica-se que é cabível uma nova definição jurídica
entendimento, isso configura furto mediante fraude do fato, mudando o crime de furto simples para furto
(art. 155, § 4º, II, do CP). qualificado (art. 155, § 4º, III, do CP).
Previsão legal:
Prevista no art. 384 do CPP:
Previsão legal: Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se
Prevista nos arts. 383, caput, e 418 do CPP: entender cabível nova definição jurídica do fato, em
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato consequência de prova existente nos autos de
contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe elemento ou circunstância da infração penal não
definição jurídica diversa (leia-se: muda a capitulação contida na acusação, o Ministério Público deverá
penal), ainda que, em consequência, tenha de aplicar aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco)
pena mais grave. dias, se em virtude desta houver sido instaurado o
processo em crime de ação pública, reduzindo-se a
termo o aditamento, quando feito oralmente.
Procedimento:
Procedimento:
1) Se o MP entender ser o caso de mutatio libelli,
Se o juiz, na sentença, entender que é o caso de
ele deverá aditar a denúncia ou queixa no prazo
realizar a emendatio libelli, ele poderá decidir
máximo de 5 dias após o encerramento da instrução;
diretamente, não sendo necessário que ele abra vista
2) esse aditamento pode ser apresentado
às partes para se manifestar previamente sobre isso.
oralmente na audiência ou por escrito;

202
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Ciclos Método

Tal se justifica porque no processo penal o acusado se 3) no aditamento, o MP poderá arrolar até 3
defende dos fatos e como os fatos não mudaram, não testemunhas;
há qualquer prejuízo ao réu nem violação ao princípio 4) será ouvido o defensor do acusado no prazo de
da correlação entre acusação e sentença. 5 dias. Nessa resposta, além de refutar o aditamento,
a defesa poderá arrolar até 3 testemunhas;
5) o juiz decidirá se recebe ou rejeita o aditamento;
6) se o aditamento for aceito pelo juiz, será
designado dia e hora para continuação da audiência,
com inquirição de testemunhas, novo interrogatório
do acusado e realização de debates e julgamento.

Obs: se o órgão do MP, mesmo surgindo essa


elementar ou circunstância, entender que não é caso
de aditamento e o juiz não concordar com essa
postura, aplica-se o art. 28 do CPP.
Espécies de ação penal em que é cabível:
Espécies de ação penal em que é cabível:
· ação penal pública incondicionada;
· ação penal pública incondicionada;
· ação penal pública condicionada;
· ação penal pública condicionada;
· ação penal privada subsidiária da pública.
· ação penal privada.
Obs: somente o MP pode oferecer mutatio.
Emendatio libelli em 2º grau de jurisdição: Mutatio libelli em 2º grau de jurisdição:
É possível que o tribunal, no julgamento de um Não é possível, porque se o Tribunal, em grau de
recurso contra a sentença, faça emendatio libelli, recurso, apreciasse um fato não valorado pelo juiz,
desde que não ocorra reformatio in pejus (STJ HC haveria supressão de instância.
87984 / SC). Nesse sentido é a Súmula 453-STF.

RECURSOS
#APOSTACICLOS

CARACTERÍSTICAS
VOLUNTARIEDADE A existência de um recurso está condicionada à manifestação da vontade
da parte, que demonstra seu interesse de recorrer com a interposição do
recurso.
É dizer: o reexame necessário, também chamado de recurso de ofício, em
verdade, não tem natureza recursal, porquanto, como dito, o recurso é
gravado pela voluntariedade.
ANTERIORIOR À PRECLUSÃO O recurso é interposto antes da formação da preclusão ou da coisa julgada.
OU À COISA JULGADA

DESENVOLVIMENTO A interposição de um recurso não faz surgir uma nova relação jurídica
DENTRO DA MESMA processual.
RELAÇÃO JURÍDICA Na verdade, o que ocorre com a interposição de um recurso é o simples
PROCESSUAL desdobramento da relação anterior, em regra perante órgão jurisdicional
diverso e de hierarquia superior.
Por essa razão, é que as ações autônomas de impugnação, como habeas
corpus, revisão criminal e mandado de segurança, não se confundem com os
recursos, já que elas inauguram uma nova relação jurídica processual.

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Ciclos Método

PRINCÍPIOS RECURSAIS
DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO • Trata-se da possibilidade de um reexame integral (matéria de fato e de
direito) da decisão do juízo a quo, por órgão jurisdicional diverso do que
a proferiu e, em regra, de hierarquia superior na ordem judiciária.
• Mitigações:
a) Decisões interlocutórias simples: estas decisões, em regra, na esfera
penal, não comportam recurso (princípio da irrecorribilidade das
decisões interlocutórias simples). Vale lembrar que quando uma
interlocutória simples comporta recurso, ela deve estar enquadrada no
art. 581 do CPP (RESE). Nada impede, contudo, que a decisão seja
combatida por HC ou MS.
b) Mutatio libelli: Para o STF, na Súmula 453, o instituto da mutatio libelli
não será invocado na fase recursal, para que não ocorra supressão de
instância.
c) Autoridades com foro por prerrogativa de função.
TAXATIVIDADE DOS RECURSOS • De acordo com o princípio da taxatividade, "para que seja possível
o manejo de um recurso, é preciso que o ordenamento jurídico o
preveja expressamente: o rol não é exemplificativo, porém numerus
clausus", não se admitindo, no processo penal, "recurso inominado ou
recurso de improviso. A previsão legal é condição necessária para que a
decisão seja recorrível, e para que o recurso exista"
UNIRRECORRIBILIDADE DAS • De acordo com o princípio da unirrecorribilidade das decisões, também
DECISÕES conhecido como unicidade ou singularidade recursal, cada espécie de
decisão judicial, em regra, comporta um único recurso, sendo ônus da
parte escolher o recurso adequado para que haja seu reexame.
• Mitigações:
a) Recurso extraordinário e recurso especial: desde que presentes
fundamentos constitucionais e legais que autorizem as duas
impugnações, incumbe à parte interpor, simultaneamente, ambos os
recursos.
b)Embargos infringentes e de nulidade e recurso extraordinário e/ou
especial.
FUNGIBILIDADE • Não havendo erro manifesto ou má-fé na interposição de um
recurso equivocado, e atendido o prazo limite do recurso que seria
cabível, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso
por outro.
• Na visão da doutrina, a má-fé, que impede a aplicação do referido
princípio, é presumida quando:
a) Não for observado o prazo previsto em lei para o recurso
adequado: para o STF, a má-fé será presumida quando o recurso
apresentado goza de mais prazo do que o recurso correto, e o recorrente
se beneficiou do excesso.
b) Não houver erro grosseiro: o erro grosseiro, que impede a aplicação
do princípio da fungibilidade, é aquele que evidencia completa e
injustificável ignorância da parte, isto é, havendo nítida indicação na
lei quanto ao recurso cabível e nenhuma divergência doutrinária e

204
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jurisprudencial, torna-se absurdo o equívoco, justificando-se a sua


rejeição.
DISPONIBILIDADE • Assim como a parte é livre para recorrer ou não (voluntariedade),
também lhe é dado o direito de desistir do recurso que haja interposto.
• Quanto ao ponto, muita atenção deve ser dispensada ao art. 576 do
CPP, segundo o qual o Ministério Público não poderá desistir de
recurso que haja interposto, razão pela qual o princípio da
disponibilidade não se aplica ao Ministério Público. É dizer: o
Ministério Público não estava obrigado a recorrer (voluntariedade),
contudo, caso tenha interposto um recurso, não poderá dele desistir.
NON REFORMATIO IN PEJUS • Pelo princípio da vedação da "reformatio in pejus’', pode-se dizer
que, em sede processual penal, no caso de recurso exclusivo da
defesa ― ou em virtude de habeas corpus impetrado em favor do
acusado ―, não se admite a reforma do julgado impugnado para piorar
sua situação, quer do ponto de vista quantitativo, quer sob o ângulo
qualitativo, nem mesmo para corrigir eventual erro material.
• A vedação da reformatio in pejus não está restrita à quantidade
final de pena, porquanto não se trata de mero cálculo aritmético, mas
sim de efetiva valoração da conduta levada a efeito pelo
sentenciado". Exemplo: se, no acórdão, o Tribunal, ao analisar
recurso exclusivo da defesa, afasta uma qualificadora do furto e
reconhece uma causa de aumento, ainda que a pena final seja
diminuída, haverá reformatio in pejus
DIALETICIDADE • Por ele, o recurso deve conter os fundamentos de fato e de direito que
embasam o inconformismo do recorrente, pois somente assim poderá a
parte contrária apresentar suas contrarrazões.
#DEOLHONASÚMULA: Súmula n° 707, STF: Constitui nulidade a falta de
intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso
interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de
defensor dativo.

EFEITOS DOS RECURSOS


a) EFEITO DEVOLUTIVO - Pelo efeito devolutivo, como o nome sugere, a matéria é devolvida ao Poder Judiciário,
sendo postulada a reforma, invalidação, integração ou esclarecimento da decisão judicial combatida pelo
recurso interposto. Todo recurso é dotado de efeito devolutivo e, em regra, será apreciado por órgão
jurisdicional distinto do prolator da decisão impugnada.

#UMPOUCODEDOUTRINA #PLUS - Uma vez fixada a extensão (ou dimensão horizontal) do efeito
devolutivo, tem-se que, no que diz respeito à profundidade (ou dimensão vertical) do recurso, o juízo ad
quem poderá levar em consideração tudo que for relevante para a nova decisão. Inclusive, se entender
necessário, ao juízo ad quem é dado converter o julgamento em diligência e proceder a novo
interrogatório do acusado, reinquirir testemunhas ou determinar outras diligências, nos termos do art.
616 do CPP, que, apesar de somente fazer referência às apelações, é aplicável às demais espécies recursais

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b) EFEITO SUSPENSIVO - Pelo efeito suspensivo, que, no processo penal, é excepcional, a interposição do
recurso impede que a decisão guerreada produza, desde logo, os seus efeitos regulares.
Como dito, a regra é que os recursos não são dotados de efeito suspensivo, como ocorre, por exemplo,
com a apelação contra sentença absolutória, já que, nos termos do art. 596, caput, CPP, a apelação da sentença
absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente em liberdade. Noutro giro, a apelação contra
sentença condenatória possui efeito suspensivo, já que o início do cumprimento da pena imposta somente
poderá ocorrer após o trânsito em julgado daquela, nos termos do art. 597 do CPP
Outro exemplo bastante cobrado de recurso sem efeito suspensivo é o agravo em execução, nos termos
do art. 197 da LEP.

c) EFEITO TRANSLATIVO - Em decorrência do efeito translativo, que somente ocorre nos chamados recursos
de ofício, o juízo ad quem tem o poder de apreciar toda a matéria, pouco importando se beneficiará ou
prejudicará qualquer das partes. Por ele, o órgão ad quem pode conhecer matéria que não foi objeto da
pretensão recursal. Ex. nada impede que o Tribunal conheça de nulidades absolutas não suscitadas.
MITIGAÇÃO: O Tribunal não pode conhecer de ofício nulidades absolutas que prejudiquem a defesa e que não
foram suscitadas pela acusação, afastando-se assim a translatividade.

d) EFEITO REGRESSIVO, ITERATIVO OU DIFERIDO - Pelo efeito regressivo, permite-se que o órgão judiciário
que proferiu a decisão guerreada, com fulcro nas razões alegadas pela parte recorrente, reveja seu
posicionamento e altere o decisum inicialmente prolatado. Desse modo, pode-se concluir que o efeito regressivo
dá ensejo ao juízo de retratação ou confirmação da anterior decisão.
Hipóteses:
- RESE;
- Agravo em execução;
- Carta testemunhável;
- Agravo para destrancar REsp ou RE.

- QUAIS OS PRAZOS DOS RECURSOS NO PROCESSO PENAL?

RECURSO PRAZO
Interposição: 5 dias
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
Razões: 2 dias
CPP:
Interposição – 5 dias
APELAÇÃO Razões – 8 dias

JECRIM: 10 dias
EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE 10 dias
CPP: 2 dias
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
JECRIM: 5 dias
CARTA TESTEMUNHÁVEL 48 horas
Interposição: 5 dias
AGRAVO EM EXECUÇÃO
Razões: 2 dias
RESP E REXT 15 dias
AGRAVO EM RESP E REXT 15 dias
ROC 5 dias (interposição + razões)

206
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Ciclos Método

2 dias (contrarrazões)

#TEMQUESABER:
RECURSOS NA PRIMEIRA FASE DO TRIBUNAL DO JÚRI
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA DESCLASSIFICAÇÃO IMPRONÚNCIA PRONÚNCIA
APELAÇÃO RESE APELAÇÃO RESE

#SAIBADIFERENCIAR:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
CPP JUIZADO
Prazo de 2 dias Prazo de 5 dias
Hipóteses de cabimento:
Novo CPC: obscuridade ou contradição; omissão; erro
Hipóteses de cabimento: Obscuridade,
material.
Contradição, Omissão, Ambiguidade.
Antes do Novo CPC: obscuridade, contradição,
omissão e dúvida.
Agora: interrompe (art. 50 alterado pelo Novo CPC)
Interrupção do prazo recursal Antes: contra sentença, suspendia; contra acórdão,
interrompia.

#SELIGA: Nos Juizados Especiais, a oposição de embargos de declaração pode ser feita oralmente e
INTERROMPE o prazo recursal. O Novo CPC alterou a lei dos juizados especiais, que diziam que os embargos de
declaração suspendiam o prazo para outros recursos. Agora, não há mais diferença entre o regramento dos
juizados e do CPC – o prazo é interrompido em ambos.

O STF e o STJ consolidaram a orientação de que o modo de contagem continua sendo o disciplinado pelo art.
798, caput, do CPP, segundo o qual todos os prazos serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por
férias, domingo ou dia feriado.

Prazo recursal para a defesa em relação à sentença condenatória: O prazo flui a partir da intimação ou da prática
de ato que revele ciência inequívoca dos termos da sentença. Ex: carga dos autos.

- Réu: sua intimação deverá ser feita pessoalmente. Caso não seja localizado, deverá ser intimado por edital,
hipótese na qual o prazo recursal somente correrá após o término do fixado no edital. Contudo, a intimação
pessoal só é exigível para sentença de primeiro grau. No caso dos Tribunais, a intimação é feita pela publicação
da decisão pelo órgão oficial de imprensa.

Em matéria penal, o Ministério Público não goza da prerrogativa da contagem dos prazos recursais em dobro.
Logo, o prazo para interposição de agravo pelo Estado-acusador em processo criminal é de 5 dias. Mesmo em
matéria penal, são contados em dobro todos os prazos da Defensoria Pública. Logo, o prazo para a Defensoria
Pública interpor agravo regimental é de 10 dias. STF. 1ª Turma. HC 120275/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 15/5/2018 (Info 902).

#OLHAOGANCHO E quanto ao reexame necessário (recurso de ofício)?


Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de
ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;

207
NFPSS PARTE II | MPMG
Ciclos Método

II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente
o réu de pena, nos termos do art. 411. -> Doutrina diz que esse dispositivo foi revogado pela reforma de 2008,
pois o novo art. 415 não traz essa possibilidade.

Non reformatio in pejus (efeito PRODRÔMICO da sentença): Por ele, quando o Tribunal julga recurso defensivo,
a situação do réu não poderá ser piorada. Para a exasperação da situação do imputado é necessário que o
Tribunal dê provimento a recurso da acusação. Nem mesmo em se tratando de erro material (STF: HC 83.545/SP;
STJ: HC 163.851/RS).

Exemplo: Súmula 525, STF: A medida de segurança não será aplicada em segunda instância, quando só o réu
tenha recorrido.
Súmula n° 160 do STF: É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da
acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício

#SELIGA: Vedação à reformatio in pejus indireta – ocorre quando o tribunal ad quem, em sede de recurso
promovido exclusivamente pela defesa, anula a decisão anterior, remetendo os autos ao órgão a quo para
proferir novo julgado, que não pode piorar a situação do acusado.

#DEOLHONAJURIS: Caracteriza manifesta ilegalidade, por violação ao princípio da “non reformatio in pejus”, a
majoração da pena de multa por tribunal, na hipótese de recurso exclusivo da defesa. Isso porque, na apreciação
de recurso exclusivo da defesa, o tribunal não pode inovar na fundamentação da dosimetria da pena, contra o
condenado, ainda que a inovação não resulte em aumento da pena final. STF. 2ª Turma. RHC 194952 AgR/SP,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/4/2021 (Info 1013).

#ATENÇÃO #PACOTEANTICRIME:
*ANTES DA LEI Nº 13.964/2019 DEPOIS DA LEI Nº 13.964/2019
Sentença no tribunal do júri “Art. 492...
Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá I - ...
sentença que: e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á
I – no caso de condenação: à prisão em que se encontra, se presentes os
a) fixará a pena-base; requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de
b) considerará as circunstâncias agravantes ou condenação a uma pena igual ou superior a 15
atenuantes alegadas nos debates; (quinze) anos de reclusão, determinará a execução
c) imporá os aumentos ou diminuições da provisória das penas, com expedição do mandado de
pena, em atenção às causas admitidas pelo prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento
júri; de recursos que vierem a ser interpostos;
d) observará as demais disposições do art. ...
387 deste Código; § 3º O presidente poderá, excepcionalmente, deixar
e) mandará o acusado recolher-se ou de autorizar a execução provisória das penas de que
recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se trata a alínea e do inciso I do caput deste artigo, se
presentes os requisitos da prisão preventiva; houver questão substancial cuja resolução pelo
f) estabelecerá os efeitos genéricos e tribunal ao qual competir o julgamento possa
específicos da condenação; plausivelmente levar à revisão da condenação.
........................ § 4º A apelação interposta contra decisão
condenatória do Tribunal do Júri a uma pena igual ou
superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá
efeito suspensivo.

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§ 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir


efeito suspensivo à apelação de que trata o § 4º
deste artigo, quando verificado cumulativamente que
o recurso:

I - não tem propósito meramente protelatório; e

II - levanta questão substancial e que pode resultar


em absolvição, anulação da sentença, novo
julgamento ou redução da pena para patamar
inferior a 15 (quinze) anos de reclusão.
§ 6º O pedido de concessão de efeito suspensivo
poderá ser feito incidentemente na apelação ou por
meio de petição em separado dirigida diretamente
ao relator, instruída com cópias da sentença
condenatória, das razões da apelação e de prova da
tempestividade, das contrarrazões e das demais
peças necessárias à compreensão da controvérsia.”
(NR)

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO


-Rol taxativo das hipóteses de cabimento.

É certo que as hipóteses de cabimento do RESE previstas no art. 581 do CPP são taxativas. No entanto, tais
hipóteses admitem interpretação extensiva. Assim, apesar de não haver previsão expressa no citado artigo, o
STJ admitiu o cabimento de RESE contra decisão que revoga medida cautelar diversa da prisão, com base na
interpretação extensivo do inciso V do art. 581. Tal dispositivo permite a utilização do RESE contra a decisão do
juiz que revogar prisão preventiva, sendo tal decisão similar ao ato de revogar medida cautelar diversa da prisão.
(INF 596 do STJ)

-Possibilidade de juízo de retratação (efeito regressivo – após a interposição do recurso, o juiz terá o prazo de 2
dias para se retratar).

-Prazo: em regra, o RESE deverá ser interposto no prazo de 5 dias (art. 586 do CPP). Esse prazo, entretanto, é
excepcionado em duas situações: (i) Art. 581, XIV: Refere-se ao recurso da lista geral de jurados, que deverá ser
protocolado no prazo de 20 dias, contados da publicação da lista definitiva (art. 586, parágrafo único); (ii)
Recurso do assistente de acusação não previamente habilitado em relação à extinção da punibilidade do réu:
deverá ser interposto no prazo de 15 dias, contados a partir do final do prazo do Ministério Público (art. 584, §
1.º, c/c o art. 598, parágrafo único).

Hipóteses de cabimento:
a) Não recebimento da denúncia ou da queixa-crime;
b) Decisão que conclui pela incompetência do juízo;
c) Procedência das exceções, salvo a de suspeição;
d) Pronúncia;
e) Decisão que conceder, arbitrar, negar, cassar ou julgar inidônea a fiança;
f) Decisão que indefere requerimento ou revoga a prisão preventiva, relaxa a prisão em flagrante e concede

209
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liberdade provisória;
g) Decisão que julga quebrada a fiança ou perdido o seu valor;
i) Decisão que julga extinta a punibilidade pela prescrição ou outra causa: esse inciso tem aplicação residual,
sendo utilizável apenas na hipótese em que a extinção da punibilidade não tenha ocorrido na sentença
condenatória ou no âmbito da Vara de Execuções Criminais.
i) Decisão que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
j) Decisão que anular o processo, total ou parcialmente: no caso de nulidade total do processo ou de qualquer
ato nele praticado, o recurso adequado será o RESE. Vale lembrar que este é residual, sendo que a sua
interposição somente será possível se essa anulação não ocorrer em sede de sentença condenatória ou
absolutória.
k) da decisão que denegar a apelação ou a julgar deserta;
l) Suspensão do processo em virtude de questão prejudicial
É cabível recurso em sentido estrito para impugnar decisão que indefere produção antecipada de prova, nas
hipóteses do art. 366 do CPP. As hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito estão previstas no art.
581 do CPP, sendo esse um rol taxativo (exaustivo). No entanto, apesar disso, é admitida a interpretação
extensiva dessas hipóteses legais de cabimento. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.630.121-RN, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, julgado em 28/11/2018 (Info 640).
m) Que decidir o incidente de falsidade documental
n) que recusar homologação à proposta de acordo de não persecução penal, previsto no art. 28-A desta Lei:
trata-se de #NOVIDADELEGISLATIVA acrescentada pelo Pacote Anticrime.

#SELIGA: Os incisos XI, XII, XVII, XIX, XX, XXI, XXII, XXIII e XXIV do art. 581 foram revogados pelo art. 197 da LEP
(nessas hipóteses caberá agravo em execução).

#ATENÇÃO: Em face da decisão de rejeição da denúncia ou queixa caberá APELAÇÃO, no âmbito dos Juizados
Especiais Criminais. Como há previsão específica, não se aplica a regra geral do art. 581, I, CPP.

#ATENÇÃO: Do recebimento da denúncia ou queixa NÃO cabe recurso. É possível atacar essa decisão judicial
por meio de habeas corpus.

Súmula 709 do STF: Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a
rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.

A Lei n° 9.099/95 prevê que caberá apelação contra a decisão de rejeição da denúncia ou queixa (art. 82, caput),
que deve ser interposta no prazo de 10 (dez) dias.

Os pedidos de reconsideração carecem de qualquer respaldo no regramento processual vigente. Eles não
constituem recursos, em sentido estrito, nem mesmo meios de impugnação atípicos. Por isso, não suspendem
prazos e tampouco impedem a preclusão. STF. 2ª Turma. Rcl 43007 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 9/2/2021 (Info 1005).

APELAÇÃO: É o recurso ordinário por excelência, pois permite ao órgão ad quem a ampla possibilidade de
reanalisar todas as questões, fáticas e jurídicas, já apreciadas no curso do feito. Lembrando que, por força do
art. 593, §4º, não cabe RESE se já cabível apelação.

Art. 593. § 4º Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente
de parte da decisão se recorra

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a) Prazo: a apelação deve ser interposta, em regra, no prazo de 5 dias. Exceções: (i) Apelação do assistente de
acusação, quando não previamente habilitado, em relação à sentença condenatória ou absolutória: prazo de 15
dias, contados a partir do final do prazo do Ministério Público, nos termos do art. 598, parágrafo único, do CPP.
(ii) Apelação cabível no âmbito da Lei 9.099/1995: deve ser interposta já com as razões no prazo de 10 dias (art.
82).

Prazo comum: quando forem 2 ou mais os apelantes ou apelados, os prazos serão comuns (art. 600, §3º, CPP).

Hipóteses de cabimento:
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 dias:
I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no
Capítulo anterior;
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

Art. 593. § 1º Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados
aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação.
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

Art. 593. § 3º Se a apelação se fundar no nº III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a
decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a
novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.

Não cabe mandado de segurança contra decisão do juiz de 1ª instância que defere ou indefere o desbloqueio
de bens e valores; cabe apelação. Não é admissível a impetração de mandado de segurança contra ato
jurisdicional que defere o desbloqueio de bens e valores. Isso porque se trata de decisão definitiva que, apesar
de não julgar o mérito da ação, coloca fim ao procedimento incidente. STJ. 6ª Turma. REsp 1.787.449-SP, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/03/2020

A apelação criminal é o recurso adequado para impugnar a decisão que recusa a homologação do acordo de
colaboração premiada, mas ante a existência de dúvida objetiva é cabível a aplicação do princípio da
fungibilidade. Assim, mesmo sendo caso de apelação, se a parte ingressou com correição parcial no prazo de 5
dias, é possível conhecer da irresignação como apelação, aplicando-se o princípio da fungibilidade recursal (art.
579 do CPP). STJ. 6ª Turma. REsp 1.834.215-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020 (Info
683).

Princípio da unirrecorribilidade ou da unicidade ou da singularidade do recurso: a apelação é um recurso


residual (quando não couber RESE, caberá apelação) – art. 583, §4º, CPP.

Atuação subsidiária do ofendido ou do CADI: (art. 598, CPP) nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou
do juiz singular, se da sentença não for interposta apelação pelo MP no prazo legal, o ofendido ou qualquer das
pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação,
que não terá, porém, efeito suspensivo. Prazo: 15 dias e correrá do dia em que terminar o do MP (art. 598, p.u).

211
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Forma: Art. 603. A apelação subirá nos autos originais e, a não ser no Distrito Federal e nas comarcas que forem
sede de Tribunal de Apelação, ficará em cartório traslado dos termos essenciais do processo referidos no art.
564, III.

#SELIGA ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO


Quanto ao prazo para o assistente de acusação recorrer, depende:
• Já estava previamente habilitado nos autos: prazo de 05 dias;
• Não estava previamente habilitado nos autos: 15 dias.

EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE: podem ser opostos visando o reexame de acórdãos de 2ª instância
proferidos pelos Tribunais de Justiça e pelos Tribunais Regionais Federais, desde que não unânimes (decisão por
dois votos a um) e desfavoráveis ao réu.

Prazo: 10 dias, a contar da publicação do acórdão.

EMBARGOS INFRINGENTES – versam sobre o mérito (jus puniendi).



EMBARGOS DE NULIDADE – versam sobre vício processual (admissibilidade recursal).

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO: Os embargos devem ser opostos em 2 dias, contados da intimação da sentença
ou publicação do acórdão embargado. Interrompe o prazo.

CARTA TESTEMUNHÁVEL: é o recurso cabível contra a decisão que não receber o recurso interposto pela parte
ou que, após o recebimento, obstaculizar o seu seguimento à instância superior. Ex: Ao examinar agravo da
execução interposto pelo apenado, decide o juiz por não o receber sob o fundamento da intempestividade.

Tem caráter subsidiário ou residual: tem seu cabimento condicionado ao descabimento de qualquer outra
impugnação.

Seu cabimento é restrito às seguintes hipóteses: a) Não recebimento ou negativa de seguimento ao recurso
em sentido estrito; b) Não recebimento ou negativa de seguimento ao agravo da execução.

RE (art. 102, III, §3º, CF/88) REsp (art. 105, III, CF/88)
Interposto para o STF Interposto para o STJ
Manter a integridade da CF Manter a uniformidade da legislação federal.
Decisão judicial Decisão judicial de um tribunal
NÃO cabimento contra as decisões de turmas
recursais (não são tribunais).
Súmula 203 do STJ: Não cabe REsp contra decisão
proferida por órgão de segundo grau dos Juizados
Cabimento contra as decisões de turmas recursais Especiais(No âmbito dos JEF, cabe Pedido de
Uniformização de Jurisprudência que será julgado
pela TNU, conforme art. 14, Lei 10.259/01,
equivalendo ao REsp interposto pela divergência
jurisprudencial com base no art. 105, III, ‘c’, CF/88).
HIPÓTESES DE CABIMENTO
Decisão que contraria a CF Decisão que contraria um tratado
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Inconstitucionalidade de tratado Decisão que contraria uma lei federal


Inconstitucionalidade de lei federal Negação de vigência de tratado
Validade de lei local que contraria a CF Negação de vigência de lei federal
Validade de ato local que contraria a CF Validade de ato local que conflita com lei federal
Divergência jurisprudencial entre tribunais.
Validade de lei local em face de lei federal
REQUISITOS DE CABIMENTO
Existência de uma decisão judicial (decisão administrativa não permite a interposição)
Esgotamento das instâncias recursais ordinárias
Existência de uma questão jurídica
Existência de uma questão jurídica constitucional
infraconstitucional
Questão pré-questionada (PREQUESTIONAMENTO)
Não há repercussão geral
REPERCUSSÃO GERAL (art. 1.035, NCPC) (A PEC 209/2012 busca estender a necessidade de
se demonstrar o requisito da Repercussão Geral
também ao Recurso Especial)
Jamais se discute provas ou matérias fáticas (Súmula 7 do STJ e 279 do STF)
Têm efeito devolutivo e NÃO têm efeito suspensivo
PREQUESTIONAMENTO
STJ STF
Explícito: Tribunal a quo indica expressamente o
Explícito: Tribunal a quo indica expressamente o dispositivo constitucional violado ou se posiciona
dispositivo legal violado. ADMITE. expressamente sobre a matéria discutida, sem indicar
o dispositivo constitucional violado. ADMITE.
Implícito: Prequestionamento como ato da parte. É
suficiente que a parte alegue nas suas razões recursais
Implícito: o Tribunal a quo posiciona-se sobre o
o tema em contenda, para que se tenha como
mérito da controvérsia, sem indicar o dispositivo
prequestionada a questão, pouco importando se o
legal violado. ADMITE.
Tribunal a quo posiciona-se sobre o mérito da
controvérsia. NÃO ADMITE.
Ficto: Diante da omissão do Tribunal a quo em se
posicionar sobre o tema levantado nas razões Ficto: Diante da omissão do Tribunal a quo em se
recursais, parte deve manejar embargos posicionar sobre o tema levantado nas razões
declaratórios. Se o Tribunal a quo permanecer recursais, parte deve manejar embargos declaratórios.
omisso, considera-se satisfeito o requisito do Se o Tribunal a quo permanecer omisso, considera-se
prequestionamento com a mera oposição inicial satisfeito o requisito do prequestionamento com a
dos embargos declaratórios. STJ NÃO ADMITE mera oposição inicial dos embargos declaratórios. STF
(Deve a parte interpor REsp com fundamento na admite.
contrariedade ao art. 619, CPP).

O § 5º do art. 1.035 do CPC/2015 preconiza: § 5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo


Tribunal Federal determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais
ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional. O STF fixou as seguintes conclusões
a respeito desse dispositivo: a) a suspensão prevista nesse § 5º não é uma consequência automática e necessária
do reconhecimento da repercussão geral. Em outras palavras, ela não acontece sempre. O Ministro Relator do
recurso extraordinário paradigma tem discricionariedade para determiná-la ou modulá-la; b) a possibilidade de
sobrestamento se aplica aos processos de natureza penal. Isso significa que, reconhecida a repercussão geral
em um recurso extraordinário que trata sobre matéria penal, o Ministro Relator poderá determinar o
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sobrestamento de todos os processos criminais pendentes que versem sobre a matéria; c) se for determinado
o sobrestamento de processos de natureza penal, haverá, automaticamente, a suspensão da prescrição da
pretensão punitiva relativa aos crimes que forem objeto das ações penais sobrestadas. Isso com base em uma
interpretação conforme a Constituição do art. 116, I, do Código Penal; d) em nenhuma hipótese, o
sobrestamento de processos penais determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC abrangerá
inquéritos policiais ou procedimentos investigatórios conduzidos pelo Ministério Público; e) em nenhuma
hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC
abrangerá ações penais em que haja réu preso provisoriamente; f) em qualquer caso de sobrestamento de
ação penal determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC, poderá o juízo de piso, no curso da
suspensão, proceder, conforme a necessidade, à produção de provas de natureza urgente. STF. Plenário. RE
966177 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2017 (Info 868).

PROCEDIMENTO COMUM

Ordinário - Infrações com pena máxima igual ou superior a 4 anos.


- Apresentada a queixa/denúncia, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará
a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 dias.
- Apresentada a resposta à acusação, se não for caso de absolvição sumária, será designada
audiência de instrução e julgamento, no prazo máximo de 60 dias, para tomada de declarações
do ofendido, à inquirição das testemunhas de acusação e de defesa, nesta ordem, para os
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas,
interrogando-se, em seguida, o acusado.
- Máximo de testemunha: 8, não se computando as que não prestarem compromisso e as
referidas.
- Produzidas as provas, as partes poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de
circunstâncias ou fatos apurados na instrução.
- Após, serão oferecidas alegações finais orais por 20min, prorrogáveis por mais 10min,
proferindo o juiz, a seguir, sentença. As alegações finais orais podem ser substituídas por
memorais a serem apresentados no prazo de 5 dias.
Sumário - Infrações com pena máxima inferior a 4 anos.
- Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial criminal
encaminhar ao juízo comum, será adotado o procedimento sumário.
- Segue o trâmite do processo ordinário, com as seguintes alterações:
 Audiência de Instrução e Julgamento a ser realizada no prazo máximo de 90 dias.
 Máximo de testemunhas: 5
Sumaríssimo Aplicado aos crimes de menor potencial ofensivo, seguindo o rito da Lei 9.099/95, que será
abordado em tópico oportuno!
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Crimes - Apenas para crimes afiançáveis.
cometidos - O prazo para apresentação da defesa prévia é de 15 dias.
por - O STJ tem súmula no sentido de que é desnecessária a intimação prévia se a ação penal for
Funcionário instruída com inquérito policial. O STF, por sua vez, exige sempre a intimação prévia, exceto se o
Público agente não for mais funcionário público quando da denúncia.
Crimes de - Antes de receber a queixa, o juiz oferecerá às partes oportunidade para se reconciliarem,
Calúnia e fazendo-as comparecer em juízo e ouvindo-as, separadamente, sem a presença dos seus
Injúria advogados, não se lavrando termo.
- Se depois de ouvir as partes, o juiz achar provável a reconciliação, promoverá entendimento
entre eles, na sua presença.
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- Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade, o querelante poderá contesta-


la no prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa.
Crimes - No caso de o crime haver deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não for
contra a instruída com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito.
Propriedade - Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com fundamento em
Imaterial apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 dias, após a homologação do laudo. Se houver
prisão, o prazo será de 8 dias.
- Os titulares de direito de autor e os que lhe são conexos serão os fiéis depositários de todos os
bens apreendidos, devendo colocá-los à disposição do juiz quando do ajuizamento da ação.
- Ressalvada a possibilidade de se preservar o corpo de delito, o juiz poderá determinar, a
requerimento da vítima, a destruição da produção ou reprodução apreendida quando não
houver impugnação quanto à sua ilicitude ou quando a ação penal não puder ser iniciada por
falta de determinação de quem seja o autor do ilícito.
- As associações de titulares de direitos de autor e os que lhes são conexos poderão, em seu
próprio nome, funcionar como assistente da acusação.
Ação Penal - Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a notificação do acusado para oferecer
Originária do resposta no prazo de quinze dias.
STJ ou STF - A seguir, o relator pedirá dia para que o Tribunal delibere sobre o recebimento, a rejeição da
denúncia ou da queixa, ou a improcedência da acusação, se a decisão não depender de outras
provas, sendo facultada sustentação oral pelo prazo de quinze minutos.
- Para o recebimento, a rejeição da denúncia ou da queixa, ou a improcedência da acusação o
Tribunal poderá limitar a presença ao recinto apenas aos advogados, podendo impedir, inclusive,
a presença das partes, se o interesse público exigir.
- A instrução obedecerá, no que couber, ao procedimento comum do CPP, podendo o relator
delegar a realização dos atos da instrução ao juiz ou membro de tribunal com competência
territorial no local de cumprimento da carta de ordem.
- Realizadas as diligências, ou não sendo estas requeridas nem determinadas pelo relator, serão
intimadas a acusação e a defesa para, sucessivamente, apresentarem, no prazo de quinze dias,
alegações escritas.
- O relator poderá, após as alegações escritas, determinar de ofício a realização de provas
reputadas imprescindíveis para o julgamento da causa.
- Finda a instrução, o Tribunal procederá ao julgamento, na forma determinada pelo regimento
interno, observando-se o seguinte:
 A acusação e a defesa terão, sucessivamente, prazo de uma hora para sustentação oral,
assegurado ao assistente um quarto do tempo da acusação;
 Encerrados os debates, o Tribunal passará a proferir o julgamento, podendo o Presidente
limitar a presença no recinto às partes e seus advogados, ou somente a estes, se o
interesse público exigir.

#NÃO CONFUNDA:
Causas de Rejeição da Queixa Causas de Absolvição Sumária
 For manifestamente inepta;  Existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
 Faltar pressuposto processual ou condição  Existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do
para o exercício da ação penal; agente, salvo inimputabilidade;
 Faltar justa causa para o exercício da ação  O fato narrado evidentemente não constitui crime;
penal  Extinta a punibilidade do agente

#OLHAASÚMULA #APOSTA
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Súmula 714: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público, condicionada
à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do
exercício de suas funções.
Súmula 330-STJ: É desnecessária a resposta preliminar de que trata o art. 414 do CPP (crimes praticados por
funcionário público), na ação penal instruída por inquérito policial.

TRIBUNAL DO JÚRI

PROCEDIMENTO BIFÁSICO
1ª fase/sumário de culpa É realizada pelo juiz singular e tem a finalidade de formar o juízo de
ou judicium accusationis admissibilidade da acusação.
2ª fase/juízo da causa É realizada pelo juiz presidente e pelo conselho de sentença, formado por 7
ou judicium causae: jurados. Tem a finalidade de julgar o mérito do pedido

Finda essa primeira fase o juiz poderá proferir uma das seguintes decisões:
Pronúncia Se o juiz se convencer da existência do crime e de indícios suficientes de que o réu seja o
autor, deverá pronunciá-lo. A pronúncia consiste em decisão interlocutória mista não
terminativa, ou seja, não julga o mérito, nem põe fim ao processo e deverá conter o
dispositivo legal em que julgar ser o réu incurso, bem como especificar as circunstâncias
qualificadoras e as causas de aumento da pena. Preclusa a via impugnativa, a pronúncia não
poderá mais ser alterada, salvo se ocorrerem circunstâncias supervenientes que
modifiquem a classificação do delito. É causa interruptiva da prescrição. Impugnável RESE
Impronúncia Se o juiz não se convencer da existência do crime ou de indícios suficientes de autoria, será
proferida decisão de impronúncia, que também é uma decisão interlocutória mista
terminativa. Eventuais crimes conexos serão remetidos ao juízo competente. Enquanto não
ocorrer a extinção da punibilidade poderá ser formulada nova denúncia/queixa se houver
prova nova. Contra a decisão de impronúncia cabe apelação.
Desclassificação O juiz, convencendo-se de que não se trata de crime de competência do júri, deverá proferir
a sentença de desclassificação e remeterá os autos ao juízo competente para julgá-lo.
Impugnável por RESE.
Absolvição O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:
sumária -Provada a inexistência do fato;
- Provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
- O fato não constituir infração penal;
- Demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. A inimputabilidade, não
autoriza a absolvição sumária, salvo quando for a única tese defensiva.
Impugnável por Apelação

Preclusa a decisão de pronúncia, inicia-se a segunda fase:


#APOSTACICLOS: Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri
ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento das partes ou mediante representação do juiz
competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca da mesma região, onde
não existem aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas.
Também ser requerido em caso de comprovado excesso de serviço, quando o julgamento não puder ser
realizado dentro de seis meses contados do trânsito em julgado da decisão de pronúncia, sendo que, neste
caso, o juiz presidente e a parte contrária deverão ser ouvidos.
O pedido de desaforamento somente terá efeito suspensivo se os motivos forem consideravelmente relevantes,
devendo o relator fundamentar sua decisão.

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-Aberta a sessão serão sorteados sete jurados para compor o Conselho de Sentença, sendo que pode a defesa
e depois o MP recusarem imotivadamente três dos jurados.
- Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando serão tomadas, sucessiva e
diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquiridas as testemunhas arroladas. Tanto as partes
como os jurados poderão inquirir as testemunhas (este último por intermédio do juiz), e requerer acareações,
reconhecimento de pessoas e coisas. Feito isto, o acusado será interrogado, sendo que o MP, o assistente, o
querelante e o defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas a ele.
- Encerrada a instrução inicia-se os debates orais. O tempo concedido às partes é de uma hora e meia para
cada, e uma hora para réplica e outro tanto para a tréplica. Quando houver mais de um acusador o tempo
será dividido entre eles de comum acordo, ou pelo juiz. No caso de haver mais de um acusado, o tempo para
a defesa será acrescido de uma hora e elevado em dobro para a réplica e tréplica.
- Não é permitido que as partes façam menção à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem
ou prejudiquem o acusado; ou ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório, assim como não será
permitida a leitura de documento ou exibição de objeto que não tenham sido juntados aos autos com
antecedência de pelo menos três dias úteis.
- Finalizado o julgamento, o Conselho de Sentença se reunirá para responder alguns quesitos que serão redigidos
em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com
suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da
pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações
das partes.
- Quando houver mais de um acusado os quesitos serão formulados de forma distinta.
- Depois da votação, o juiz proferirá a sentença.

#NÃOSABOTEASSÚMULAS
Súmula 156-STF: É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, por falta de quesito obrigatório.
Súmula 167-STF: É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos da defesa não precedem
aos das circunstâncias agravante
Súmula 206-STF: É nulo o julgamento ulterior pelo júri com a participação de jurado que funcionou em
julgamento anterior do mesmo processo.
#APOSTACICLOS Súmula 712-STF: É nula a decisão que determina o desaforamento de processo da competência
do júri sem audiência da defesa.

#NÃOSABOTEASSÚMULAS
O prazo de 3 dias úteis a que se refere o art. 479 do CPP deve ser respeitado não apenas para a juntada de
documento ou objeto, mas também para a ciência da parte contrária a respeito de sua utilização no Tribunal
do Júri. (STJ. 6ª Turma. REsp 1637288-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis
Júnior, julgado em 8/8/2017 (Info 610))
A ausência de alegações finais na primeira fase não é causa de nulidade, pois a parte ainda pode apresentar
suas razões no plenário do Júri. (STJ, HC 143474/SP)
O excesso de linguagem na pronúncia causa nulidade absoluta e independe de demonstração de prejuízo
causado ao réu. Reconhecido esse excesso, não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário
anular a sentença e determinar que outra seja prolatada.( STF. 1ª Turma. RHC 127522/BA, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 18/8/2015 (Info 795))
Deve ser declarado nulo o júri em que membro do conselho de sentença afirma a existência de crime em plena
fala da acusação. (STJ. 6ª Turma. HC 436.241-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 19/06/2018 (Info
630))

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Na primeira fase do Tribunal do Júri, ao juiz togado cabe apreciar a existência de dolo eventual ou culpa
consciente do condutor do veículo que, após a ingestão de bebida alcoólica, ocasiona acidente de trânsito com
resultado morte.( STJ. 6ª Turma. REsp 1.689.173-SC, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, 21/11/2017 (Info 623).)
Apesar de existir entendimento em contrário, tem-se que o princípio da soberania dos veredictos não impede
que o tribunal competente, em sede de revisão criminal, desconstitua decisão do tribunal do júri, e,
reexaminando a causa, prolate provimento absolutório, ou seja, realize também o juízo rescisório, além do
rescindente. REsp 964.978/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel., Quinta Turma, DJe 30/08/2012).
É possível a exclusão das qualificadoras, na fase de pronúncia, desde que manifestamente improcedentes (STJ.
5ª Turma. HC 406.869/RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 19/09/2017)
Há discussão se cabe recurso da acusação com base no artigo 593, III "d" (decisão contrária à prova dos autos),
na hipótese de absolvição por clemência
 No STJ, em posição pacífica, tem-se entendido pela possibilidade de recurso pois, a absolvição do réu não
constitui decisão absoluta e irrevogável, podendo o Tribunal cassar tal decisão quando ficar demonstrada a
total dissociação da conclusão dos jurados com as provas apresentadas em plenário.
 Já no STF, a posição majoritária é no sentido de que não cabe apelação. A absolvição do réu, ante resposta a
quesito genérico de absolvição não depende de elementos probatórios ou de teses veiculadas pela defesa,
vigorando a livre convicção dos jurados. O tema foi submetido ao regime da repercussão geral, pendente de
julgamento
#APOSTACICLOS As decisões mais recentes do STJ são no sentido de que não é possível a pronúncia do acusado
baseada exclusivamente em elementos informativos obtidos na fase inquisitorial, pois haverá violação ao art.
155 do CPP. Muito embora a análise aprofundada da acusação seja feita somente pelo Júri, não se pode admitir,
em um Estado Democrático de Direito, a pronúncia sem qualquer lastro probatório colhido sob o contraditório
judicial, fundada exclusivamente em elementos informativos obtidos na fase inquisitorial. (STJ. 5ª Turma. HC
560.552/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/02/2021). Mas há decisões em sentido contrário: Na
pronúncia opera o princípio in dubio pro societate, porque é a favor da sociedade que se resolvem as dúvidas
quanto à prova, pelo Juízo natural da causa. Constitui a pronúncia, portanto, juízo fundado de suspeita, que
apenas e tão somente admite a acusação. Não profere juízo de certeza, necessário para a condenação, motivo
pelo qual a vedação expressa do art. 155 do CPP não se aplica à referida decisão. STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg
no AREsp 1702743/GO, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/12/2020.
#APOSTACICLOS Testemunho por ouvir dizer (hearsayrule), produzido somente na fase inquisitorial, não serve
como fundamento exclusivo da decisão de pronúncia, que submete o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri.
Testemunhas do ouvir dizer são aquelas que, de forma indireta, relatam aquilo que ouviram de um terceiro. Há
um risco enorme na valorização desses testemunhos, pois trata-se de prova muito frágil, havendo uma afronta
aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade submeter o acusado ao rito do Júri com base,
exclusivamente, em testemunha do ouvir dizer. STJ. 6ª Turma. REsp 1373356-BA, 20/4/2017 (Info 603)

#NÃOCONFUNDA: o Tribunal poderá modificar a decisão do juiz presidente, mas não o veredicto dos jurados.
Assim, é possível que o tribunal venha a modificar a pena do réu nos casos autorizados pela lei, isso porque é o
juiz presidente quem fixa a pena a ser imposta ao réu. Vejamos:

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:


(...)
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
(...)
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança
§ 1o Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos
quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação.

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§ 2o Interposta a apelação com fundamento no inciso III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der
provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança.

Assim, o princípio da soberania dos veredictos afirma que a decisão tomada pelo júri é soberana. No entanto,
afirmar que a decisão do júri é soberana não significa afirmar que ela é irrecorrível. É soberana, mas não é
irrecorrível. Mas, prof, como podemos admitir recurso sem ferir a ideia da soberania dos veredictos?

O recurso contra a decisão do Tribunal do Júri pode ter dois objetivos (um dos dois ou os dois ao mesmo tempo):
anular a decisão ou reformar a decisão. A anulação tem efeito de cassação, como vimos acima. Essa decisão vai
cassar a decisão anterior, ou seja, vamos ficar sem decisão alguma. Já quando obtemos a reforma, a decisão do
recurso terá efeito substitutivo. Ou seja, a decisão do recurso substituirá a decisão anterior.

Trazendo essa ideia para o Tribunal do Júri chegamos à seguinte conclusão: a decisão do júri é recorrível, não
com efeito de reforma (efeito substitutivo), mas com efeito de anulação (cassação). É perfeitamente possível
recorrer da decisão do júri, desde que seja para anulá-la, mantendo assim a soberania dos vereditos.

Regra geral, quando é possível anular uma decisão tomada pelo Tribunal do Júri?

 Quando houver um vício no processo ou;


 Quando a decisão tomada pelo júri é visivelmente contrária às provas existentes nos autos processuais.
Os jurados não são pessoas que têm formação técnica em direito. Então, é possível que o jurado, movido
por emoções, julgue de forma completamente incompatível com as provas existentes nos autos.

Mas como fica na hipótese de revisão criminal? Será que é possível haver revisão criminal de uma decisão
tomada pelo júri? Sim. Revisão criminal: a revisão da sentença condenatória criminal proferida no tribunal do
júri pode se submeter a 2 (duas) situações diversas. Vejamos:

a) Tribunal realiza o juízo rescisório e rescindente, ou seja, substitui a decisão antiga por uma nova decisão.
b) Tribunal realiza apenas o juízo rescisório e os jurados procedem com o juízo rescindente. É o que acontece
quando a revisão criminal tem como fundamento ofensa à coisa julgada.

#DEOLHONAJURIS: A condenação penal definitiva imposta pelo Júri também pode ser desconstituída mediante
revisão criminal, não lhe sendo oponível a cláusula constitucional da soberania do veredicto do Conselho de
Sentença. Se o Tribunal de Justiça, ao julgar uma revisão criminal, entender que a condenação do réu foi
proferida de forma contrária à evidência dos autos, ele poderá absolver diretamente o condenado, não sendo
necessário que outro júri seja realizado.
Havendo empate de votos no julgamento da revisão criminal, se o presidente do Tribunal, Câmara ou Turma,
não tiver votado ainda, deverá proferir o voto de desempate. Caso já tenha votado, prevalecerá a decisão mais
favorável ao réu.
STJ. 5ª Turma. HC 137.504-BA, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 28/8/2012.

COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI

- Julgamento dos crimes dolosos contra a vida.


- A CRFB/88 estabeleceu uma competência mínima para o Tribunal do Júri. Isso não impede a criação de novas
hipóteses, a exemplo da competência para julgar os delitos conexos aos crimes dolosos contra a vida,
estabelecida pelo legislador ordinário.

Não compete ao Tribunal do Júri julgar:


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a) Latrocínio
b) Atos infracionais;
c) Genocídio, salvo se envolver morte como consequência de sua prática;
d) Pessoas que possuem prerrogativa de foro na Constituição Federal;
e) Crime contra vida praticado por militar das Forças Armadas contra militar da ativa das Forças
Armadas (a competência será da Justiça Militar da União);
f) Crime contra a vida praticado por civil contra militar das Forças Armadas em local sujeito à
administração militar;
g) Crimes políticos de matar o Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados
ou do Supremo Tribunal Federal (competência do juiz singular federal).

#SELIGANASÚMULA: Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do tribunal do júri prevalece


sobre o foro por prerrogativa de função exclusivamente pela Constituição Estadual.

Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da


existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.
§ 1o A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios
suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o
acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena.
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a
segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do querelante ou
do acusado ou mediante representação do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento
para outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas.

Procedimento bifásico do Tribunal do Júri: O procedimento do Tribunal do Júri é chamado de bifásico (ou
escalonado) porque se divide em duas etapas:

1) Fase do sumário da culpa (iudiciumaccusationis): é a fase de acusação e instrução preliminar (formação


da culpa). Inicia-se com o oferecimento da denúncia (ou queixa) e termina com a preclusão da sentença de
pronúncia.
2) Fase de julgamento (iudicium causae).

Sentença que encerra o sumário da culpa: Ao final da 1ª fase do procedimento do júri (sumário da culpa), o juiz
irá proferir uma sentença, que poderá ser de quatro modos:
PRONÚNCIA IMPRONÚNCIA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA DESCLASSIFICAÇÃO
Ocorre quando o juiz se
O réu será impronunciado O réu será absolvido,
convencer de que o fato
quando o juiz não se desde logo, quando
O réu será pronunciado narrado não é um crime
convencer: estiver provado (a):
quando o juiz se doloso contra a vida,
• da materialidade do • a inexistência do fato;
convencer de que mas sim um outro delito,
fato; • que o réu não é autor
existem prova da devendo, então,
• da existência de indícios ou partícipe do fato;
materialidade do fato e remeter o processo para
suficientes de autoria ou • que o fato não
indícios suficientes de o juízo competente.
de participação. constitui crime;
autoria ou de Ex.: juiz entende que
• que existe uma causa
participação. não houve homicídio
Ex.: a única testemunha de isenção de pena ou
doloso, mas sim
que havia reconhecido o de exclusão do crime.
latrocínio.

220
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réu no IP não foi ouvida Ex.: todas as


em juízo. testemunhas ouvidas
afirmaram que o réu não
foi o autor dos disparos.

#ATUALIZAÇÃOLEGISLATIVA:
ANTES DO PACOTE ANTICRIME DEPOIS DO PACOTE ANTICRIME
Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença
que:
I – no caso de condenação:
[...]
e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-
á à prisão em que se encontra, se presentes os
Não havia disposição semelhante. requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de
condenação a uma pena igual ou superior a 15
(quinze) anos de reclusão, determinará a execução
provisória das penas, com expedição do mandado de
prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento
de recursos que vierem a ser interpostos; (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

#DEOLHONAJURIS: Não é possível a execução provisória da pena mesmo em caso de condenações pelo Tribunal
do Júri. STF. 2ª Turma.HC 163814 ED/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/11/2019 (Info 960). Obs:
existe decisão da 1ª Turma em sentido contrário, ou seja, afirmando que “a prisão de réu condenado por decisão
do Tribunal do Júri, ainda que sujeita a recurso, não viola o princípio constitucional da presunção de inocência
ou não-culpabilidade.” (STF. 1ª Turma. HC 118770, Relator p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
07/03/2017). Vale ressaltar, contudo, que essa decisão da 1ª Turma foi tomada antes do resultado das ADC
43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, julgadas em 7/11/2019.

INTERESSE DA ORDEM PÚBLICA


DÚVIDA SOBRE A IMPARCIALIDADE DO JÚRI
DESAFORAMENTO
SEGURANÇA PESSOAL DO ACUSADO
COMPROVADO EXCESSO DE SERVIÇO
se o julgamento não puder ser realizado no prazo de 6 meses, contado
do trânsito em julgado da decisão de pronúncia.
NÃO SE ADMITIRÁ Pendência de RESE contra pronúncia
PEDIDO DE DESAFORAMENTO Efetivado o julgamento, salvo quanto a fato ocorrido durante ou após a
realização de julgamento anulado.

JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

- COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA: Infrações penais de menor potencial ofensivo, as quais englobam as
contravenções penais e os crimes com pena máxima cominada de até 2 anos (art. 60).
#ATENÇÃO: Justiça Federal NÃO TEM competência para julgamento de contravenções penais.

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- COMPETÊNCIA TERRITORIAL: adota-se a teoria da atividade, ou seja, é competente o juízo do local em que for
praticada (ação ou omissão) a infração penal (DIFERENTE da regra prevista no CPP).

-Se a infração penal de menor potencial ofensivo for praticada em conexão ou continência com crime de
competência do juízo comum ou do tribunal do júri, a competência será deste último. No entanto, admite-se a
aplicação da composição civil os danos e da transação penal para a infração de menor potencial ofensivo (art.
60, §único).

Os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência relativa para julgamento das infrações penais de
menor potencial ofensivo, razão pela qual se permite que essas infrações sejam julgadas por outro juízo com
vis atractiva para o crime de maior gravidade, pela conexão ou continência, observados, quanto àqueles, os
institutos despenalizadores, quando cabíveis. STF. Plenário. ADI 5264/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
4/12/2020 (Info 1001).

-Termo circunstanciado de ocorrência (TCO): Substitui o inquérito policial nos crimes de menor potencial
ofensivo. É uma investigação simplificada. Cabe ao delegado tomar o compromisso do autuado de comparecer
ao juizado especial em dia e horário designados previamente e remeter o TCO ao JECrim.

-Acaso o autor do fato seja imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, NÃO se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.

-FASE PRELIMINAR: pré-processual (se desenvolve em audiência preliminar)


1) Composição civil dos danos (art. 74) – ajuste firmado entre autor da infração penal e o ofendido para que
haja reparação dos danos sofridos. Tal acordo depende de homologação judicial para gerar efeitos, que se dará
em sentença irrecorrível (título executivo judicial).
2) Não obtida a composição civil dos danos, é dada a palavra à vítima, que poderá exercer seu direito de
representação verbalmente (nada impede de que venha a fazê-lo no prazo decadencial previsto em lei, se não
apresenta de forma verbal).
3) Transação penal (art. 76) – Se dá quando o Ministério Público apresenta proposta de aplicação imediata de
pena restritiva de direitos ou multa, e esta é aceita pelo autor do delito. Exige-se indícios suficientes de autoria
e prova da materialidade. Além disso, depende de homologação judicial.
#SELIGA: é um poder-dever do MP apresentar a proposta de transação penal, se preenchidos os requisitos para
tanto. Se não o faz, o juiz pode invocar o art. 28 do CPP.

#OBS1: NÃO funciona como confissão de culpa. Portanto, não enseja maus antecedentes ou influencia para fins
de reincidência.
#OBS2: A homologação judicial da transação penal faz coisa julgada meramente formal.
Súmula vinculante n° 35: A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz
coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao
Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de
inquérito policial.
Da sentença que homologa a transação cabe APELAÇÃO.

-FASE PROCESSUAL
1) Denúncia ou queixa oral – apresentada na própria audiência preliminar e reduzida a termo. Pode, ainda, ser
lastreada no TCO.
#SELIGA: NÃO precisa estar acompanhada de exame de corpo de delito, ainda que a infração tenha deixado
vestígios. Contudo, o exame de corpo de delito será obrigatório para fins de condenação criminal, podendo ser
substituído por prova testemunhal, se os vestígios desapareceram.
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2) Citação, notificação e intimações – na própria audiência preliminar o réu será notificado para comparecer à
audiência de instrução e julgamento. Se não estiver presente, será citado e notificado pessoalmente, nos termos
do art. 66.
3) Audiência de instrução e julgamento – iniciada com nova tentativa de composição civil dos danos e transação
penal. Posteriormente, o réu deve apresentar sua resposta oral à acusação.

#OBS1: Sentença prolatada na própria audiência, dispensando relatório. Se apresentada por escrito não há
irregularidade.
#OBS2: Cabe apelação da sentença homologatória de transação penal, da decisão de rejeição da inicial
acusatória e da sentença final (prazo de 10 dias).
#OBS3: Previsão do recurso de embargos de declaração, no prazo de 5 dias, por escrito ou oralmente.
INTERROMPEM o prazo para o recurso próprio.

4) Suspensão condicional do processo (art. 89) – Aplicada aos casos de pena mínima cominada igual ou inferior
a 1 ano. O MP deve apresentar a proposta de suspensão condicional do processo quando do oferecimento da
denúncia. Aceita a proposta, o feito ficará suspenso pelo prazo de 2 a 4 anos, dentro do qual o agente ficará
submetido a certas condições legais (art. 89, §1°).
#OBS1: o prazo prescricional fica suspenso durante o período de suspensão do processo.
#OBS2: o juiz pode fixar outras condições (condições judiciais), além das previstas na lei.

Hipóteses de revogação da suspensão do processo:


a) OBRIGATÓRIA – se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar,
sem justo motivo, a reparação do dano.
b) FACULTATIVA – se vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir as condições
judiciais impostas.

#DEOLHONAJURIS
É possível a revogação do benefício de suspensão condicional do processo após o término do período de
prova, desde que os fatos ensejadores da revogação tenham ocorrido durante esse período.
A eventual aceitação de proposta de suspensão condicional do processo não prejudica a análise de habeas
corpus no qual se pleiteia o trancamento da ação penal. INFO 557, STJ.
É constitucional a norma do art. 89 da Lei nº 9.099/95, que estabelece os requisitos para a concessão do
benefício da suspensão condicional do processo, entre eles o de não responder o acusado por outros delitos.
Assim, a existência de ações penais em curso contra o denunciado impede a concessão do sursis processual
por força do art. 89 da Lei nº 9.099/95. STF. 1ª Turma. AP 968/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 22/5/2018
(Info 903). STF. 2ª Turma. RHC 133945 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2016.

Súmula n° 723 do STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da
pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.
Súmula n° 243 do STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada,
seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano
Súmula n° 337 do STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na
procedência parcial da pretensão punitiva.

Composição - Realizada a composição dos danos, o acordo será reduzido a escrito e homologado por
Civil dos sentença irrecorrível, que consubstanciará em título executivo judicial a ser executado no
Danos próprio Juizado Especial Cível, se não ultrapassar o teto.

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- A Lei somente menciona a composição dos danos civis para os crimes de ação penal privada
e de ação pública condicionada, a qual tem como consequência a renúncia ao direito de
queixa, acarretando a extinção da punibilidade. Todavia, a doutrina e jurisprudência
majoritárias entende ser possível a composição na ação penal pública incondicionada,
embora o acordo não acarrete a extinção da punibilidade, tendo como intuito apenas
antecipar a certeza acerca do valor da indenização.
- Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a
oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo
Transação Acordo pactuado entre o MP ou querelante nos crimes de ação privada e o agente infrator,
Penal através do qual é proposta a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas,
prescindindo-se da instauração do processo. São requisitos:
 Ser infração de menor potencial ofensivo;
 Não ser caso de arquivamento do termo circunstanciado;
 Não ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa
de liberdade, por sentença definitiva;
 Não ter sido o autor da infração beneficiado por transação penal anterior, no prazo
de 5 anos.
 Antecedentes, conduta social, personalidade do agente, bem como os motivos e
circunstâncias do delito favoráveis ao agente.
- Se discute acerca da possibilidade de proposta de transação penal quando se trata de crime
de ação privada. Majoritariamente tem-se aceito como viável sua ocorrência, sendo que,
para uma primeira corrente, quem possui legitimidade para sua dedução é o MP, sob o
fundamento de que o particular não pode transacionar penas, já outra posição compreende
ser do ofendido essa legitimação. Contudo, no âmbito do STJ, sustenta-se a legitimidade
do ofendido para esse fim, pois este é o titular exclusivo da persecução penal.
Suspensão - Nos delitos cuja pena mínima cominada seja igual ou inferior a um ano, podendo até
Condicional mesmo não ser da esfera da competência do Juizado Especial, o MP, ao oferecer a denúncia,
do Processo poderá apresentar proposta de suspensão do processo por dois a quatro anos, denominado
de período de prova, no qual são cumpridos uma série de condições, quais sejam:
 Reparação do dano, salvo a impossibilidade de fazê-lo;
 Proibição de frequentar determinados lugares;
 Proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;
 Comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e
justificar suas atividades;
 Não instauração de outro processo em virtude da prática de crime ou de
contravenção penal;
 Outras condições, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
#SELIGA: Quanto a este último requisito, o STJ, decidiu, em sede de recurso repetitivo, que
é possível estabelecer obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções
penais, tais como a prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária, mas
que, para os fins do sursis processual se apresentam somente como condições para a sua
incidência.
- A suspensão revogar-se obrigatoriamente em caso de novo processo por crime ou não
reparação injustificada do dano, e facultativamente em caso de processo por contravenção
ou descumprimento das demais condições.
Com a revogação retoma-se o curso do processo. Vencido o período de prova sem revogação
do benefício extingue-se a punibilidade. Todavia, o STJ fixou a tese de que se descumpridas
as condições impostas durante o período de prova, o benefício poderá ser revogado, ainda
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que já ultrapassado o prazo legal, desde que referente a fato ocorrido durante sua
vigência.

#TABELASALVANDOVIDAS #APOSTACICLOS
Transação penal Suspensão condicional do processo

Pena Pena MÁXIMA não superior a 2 Pena MÍNIMA igual ou inferior a 1 ano
anos
Requisitos • Não reincidente em crime com • Não estar sendo processado ou
pena privativa de liberdade; condenado por OUTRO crime;
+
• Não ter sido anteriormente Requisitos do Sursis:
beneficiado pelo instituto nos • Não seja reincidente em crime doloso;
últimos 5 anos; • A culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e a personalidade do
• Circunstancias do art. 59, CP: agente, bem como os motivos e as
favoráveis. circunstâncias autorizem a concessão do
benefício;
• Não seja indicada ou cabível a
substituição prevista no art. 44 do CP.
• (#PACOTEANTICRIME) não
descumprimento anterior de acordo
de não persecução penal - art. 28-A,
§11, do CPP.
Consequências • Aplicação imediata de uma pena
restritiva de direitos ou multa. • Reparação do dano, salvo
impossibilidade de fazê-lo;
• Proibição de frequentar determinados
lugares
• Proibição de se ausentar da comarca,
sem autorização;
• Comparecimento mensal em juízo;
• Outras condições judiciais.

Período de prova: 2 a 4 anos.


Revogação obrigatória • Caso sejam descumpridas as • Processado por outro crime; ou
cláusulas, a ação penal poderá ser • Não reparar o dano, salvo motivo
proposta (SV 35); justificado.

Revogação facultativa ------ • Processado por contravenção penal;


ou
• Não cumprir as demais condições.

Cuidados especiais • Momento: antes do recebimento • Juiz pode determinar outras


da denúncia. condições, como prestação de serviços

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• Não se trata de processo penal, à comunidade ou prestação pecuniária


mas apenas um procedimento. (STJ);

• Não gera reincidência ou maus • Pode ser revogada mesmo após o


antecedentes; período de prova, caso verificado
descumprimento de condição durante o
•Cabe apelação contra a decisão período de prova;
que homologa. • A decisão revogatória do sursis é
meramente declaratória , não importa
que a mesma venha a ser proferida
somente depois de expirado
o prazo de prova.

• Suspende o prazo prescricional.

#NÃOCONFUNDIR #APOSTACICLOS
REVOGAÇÃO EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
A revogação é automática se, no período Decorrido o período de prova sem que o acusado
probatório, o acusado vem a descumprir as tenha dado causa à revogação do benefício, deve
condições impostas pelo Juízo. o juiz declarar a extinção da punibilidade.
A extinção da punibilidade não é automática.
Decisão meramente declaratória Sentença terminativa de mérito

#SELIGANASÚMULA:
Súmula 696, STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral,
aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.
Súmula 337, STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência
parcial da pretensão punitiva.

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