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AO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA CURCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE

AGUAS CLARAS /DF

VINÍCIUS FRANCISCO DE ASSIS DE MOURA LIMÃO, brasileiro, casado,


inscrito no CPF sob nº 005.973.551-18, RG 2353637 SSP DF, residente e
domiciliado na Rua 19 Norte, Ed. Lorys, apto 1003, CEP 71915-000, na Cidade
de Aguas Claras DF, vem à presença de Vossa Excelência, por sua advogada,
ajuizar

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS

em face de Gol Linhas Aéreas Inteligentes S.A, , pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ sob nº 06.164.253/0001-87, com sede na sede na
Praça Senador Salgado Filho, s/nº, Aeroporto Santos Dumont, Térreo, Área
Pública, entre os eixos 46-48/O-P, Sala de Gerência – Back Office, Rio de
Janeiro/RJ, CEP 20.021-340 pelos motivos e fatos que passa a expor.
01 DOS FATOS - DO ATRASO

O Autor possui familiares na cidade de Conselheiro Lafaiete/MG.


Conselheiro Lafaiete é uma cidade localizada a 100 km de Belo Horizonte. O
aeroporto mais próximo de Conselheiro Lafaiete é o de Belo Horizonte. Por ora,
o autor adquiriu passagem da ré para o horário de 16h10. Excelência, o fato de
ter escolhido as 16h10 em detrimento de diversos outros horários não foi à toa,
pois a BR 040 que liga Belo Horizonte a Conselheiro Lafaiete foi considerada a
BR mais perigosa de Minas Gerais (comprovante anexo).

Nesse sentido, levando em consideração também o grande volume


de chuvas no período, que ocasionou diversos desmoronamentos e
alagamentos em Belo Horizonte (comprovantes anexo), o autor e sua esposa
tinham a intensão de não suportar a BR ao anoitecer, o que infelizmente não
ocorreu. O autor percorreu a estrada mais perigosa de Minas Gerais sob forte
chuva de 12h30 a 2h (chekin do hotel em anexo) da madrugada conforme
melhor relatado abaixo, vejamos:

Com passagem devidamente marcada para o dia 17 às 16h10 pela


companhia área Gol Linhas Aéreas Inteligentes S.A. O autor compareceu ao
aeroporto com 1 hora de antecedência do embarque conforme orientação para
realizar todos os procedimentos.

No entanto, sem qualquer comunicação sobre a situação do voo,


sob total descaso com os passageiros o autor se deparou com atraso de SETE
HORAS de sua partida!!!! O voo das 16h10 foi reagendado para as 22h30. Não
satisfeita, a ré decolou com sua aeronave apenas as 23h!!

Insta salientar o total despreparo da ré para com a situação. Os


funcionários da companhia não tinham informações contundentes da situação e
eram totalmente divergentes, gerando um verdadeiro caos no aeroporto.

Por se tratar de uma viagem a lazer bastante rápida (chegada dia 17


(sexta-feira) as 17h e volta dia 19 (domingo) as 11h35) o autor e sua esposa
tinham uma agenda cheia de passeios, com reserva em hotel e carro já
programados para sua chegada.
Ocorre excelência, que o passeio de sexta-feira em foi
completamente interrompido e regado de transtornos por culpa exclusiva da ré.

Mas o pior de tudo foi que diante deste fato, o autor foi submetido a
percorrer 100 km sob forte chuva a BR mais perigosa de Minas Gerais durante
a madrugada, o que lhe causou grande medo e estresse, colocando sua vida
em risco.

Inconformado, o Autor buscou suporte junto à companhia aérea,


sem êxito obrigando-o a buscar apelo ao Judiciário.

02.DO DANO MORAL

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova que junta no


presente processo, a empresa ré ao falhar na sua prestação de serviços,
deixou de cumprir com sua obrigação primária de zelo e cuidado com os
clientes, expondo a Autora a um constrangimento ilegítimo, gerando o dever de
indenizar.
A Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça elucida o tema:

"O dano moral alcança prevalentemente valores ideais,


não goza apenas a dor física que geralmente o
acompanha, nem se descaracteriza quando
simultaneamente ocorrem danos patrimoniais, que podem
até consistir numa decorrência de sorte que as duas
modalidades se acumulam e tem incidências autônomas."

Trata-se de dano que independe de provas, uma vez que caberia


à Companhia Aérea a dar total assistência, o que não ocorreu no presente
caso, conforme entendimento jurisprudencial:
TRANSPORTE AÉREO. VÔO INTERNACIONAL.
ATRASO DO VOO INICIAL E TROCA DE AEROPORTO
QUE ACARRETARAM NA PERDA DA CONEXÃO, COM
ATRASO DE DEZESSETE HORAS NA CHEGADA DO
DESTINO FINAL. FALHA NA PRESTAÇÃO DO
SERVIÇO EVIDENCIADA. DEVER DE RESSARCIR A
QUANTIA DESEMBOLSADA COM A NOVA PASSAGEM.
DANO MORAL CONFIGURADO NO CASO CONCRETO,
ANTE OS TRANSTORNOS E SOFRIMENTOS
CAUSADOS À AUTORA. QUANTUM INDENIZATÓRIO
ARBITRADO EM R$ 3.000,00, QUE COMPORTA
MAJORAÇÃO PARA R$ 5.000,00. SENTENÇA
MODIFICADA NO PONTO. RECURSO PROVIDO.
(Recurso Cível Nº 71008406159, Quarta Turma Recursal
Cível, Turmas Recursais, Relator: Gisele Anne Vieira de
Azambuja, Julgado em 26/04/2019).

E nesse sentido, a indenização por dano moral deve representar


para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo
sofrido e de infligir ao causador sanção e alerta para que não volte a repetir o
ato, uma vez que fica evidenciado completo descaso aos transtornos
causados. Requer seja indenizado o autor no montante de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais).

02.1. DOS DANOS PELO DESVIO PRODUTIVO

Conforme disposto nos fatos iniciais, o Consumidor teve que


desperdiçar seu tempo útil para solucionar problemas que foram causados pela
empresa Ré que não demonstrou qualquer intenção na solução do
problema, obrigando o ingresso da presente ação.

Este transtorno involuntário é o que a doutrina denomina de


DANO PELA PERDA DO TEMPO ÚTIL, pois afeta diretamente a rotina do
consumidor gerando um desvio produtivo involuntário, que obviamente causam
angústia e stress.

Humberto Theodoro Júnior leciona de forma simples e didática


sobre o tema, aplicando-se perfeitamente ao presente caso:

"Entretanto, casos há em que a conduta desidiosa do


fornecedor provoca injusta perda de tempo do
consumidor, para solucionar problema de vício do
produto ou serviço. (...) O fornecedor, desta forma,
desvia o consumidor de suas atividades para “resolver um
problema criado” exclusivamente por aquele. Essa
circunstância, por si só, configura dano indenizável no
campo do dano moral, na medida em que ofende a
dignidade da pessoa humana e outros princípios
modernos da teoria contratual, tais como a boa-fé objetiva
e a função social: (...) É de se convir que o tempo
configura bem jurídico valioso, reconhecido e
protegido pelo ordenamento jurídico, razão pela qual,
“a conduta que irrazoavelmente o viole produzirá uma
nova espécie de dano existencial, qual seja, dano
temporal” justificando a indenização. Esse tempo perdido,
destarte, quando viole um “padrão de razoabilidade
suficientemente assentado na sociedade”, não pode ser
enquadrado noção de mero aborrecimento ou dissabor."
(THEODORO JÚNIOR, Humberto. Direitos do
Consumidor. 9ª ed. Editora Forense, 2017. Versão ebook,
pos. 4016)

Bruno Miragem, no mesmo sentido destaca:

"Por outro lado, vem se admitindo crescentemente, a


partir de provocação doutrinária, a concessão de
indenização pelo dano decorrente do sacrifício do
tempo do consumidor em razão de determinado
descumprimento contratual, como ocorre em relação à
necessidade de sucessivos e infrutíferos contatos com o
serviço de atendimento do fornecedor, e outras
providências necessárias à reclamação de vícios no
produto ou na prestação de serviços." (MIRAGEM, Bruno.
Curso de Direito do Consumidor - Editora RT, 2016.
versão e-book, 3.2.3.4.1)

Nesse sentido:

"Então, a perda injusta e intolerável do tempo útil do


consumidor provocada por desídia, despreparo,
desatenção ou má-fé (abuso de direito) do fornecedor
de produtos ou serviços deve ser entendida como dano
temporal (modalidade de dano moral) e a conduta que o
provoca classificada como ato ilícito. Cumpre reiterar que
o ato ilícito deve ser colmatado pela usurpação do
tempo livre, enquanto violação a direito da
personalidade, pelo afastamento do dever de
segurança que deve permear as relações de
consumo, pela inobservância da boa-fé objetiva e seus
deveres anexos, pelo abuso da função social do contrato
(seja na fase pré-contratual, contratual ou pós-contratual)
e, em último grau, pelo desrespeito ao princípio da
dignidade da pessoa humana." (GASPAR, Alan Monteiro.
Responsabilidade civil pela perda indevida do tempo útil
do consumidor. Revista Síntese: Direito Civil e Processual
Civil, n. 104, nov-dez/2016, p. 62)

A jurisprudência, no mesmo sentido, ancora o posicionamento de


que o desvio produtivo ocasionado pela desídia de uma empresa deve ser
indenizada, conforme predomina a jurisprudência:
RESPONSABILIDADE CIVIL. Transporte aéreo. Danos
morais. Percurso de Fortaleza a Uberlândia, com conexão
em Brasília. Cancelamento do voo de conexão por
problemas mecânicos na aeronave e falta de assistência
adequada à passageira no longo período de espera para
sua acomodação em outro voo (cerca de 15 horas).
Consideração de que não se configurou na espécie caso
fortuito ou força maior. Hipótese em que a passageira
chegou ao seu destino quinze horas após o horário
inicialmente previsto, impossibilitando-a de comparecer a
compromisso profissional e acadêmico. Verificação de
transtornos hábeis à configuração de danos morais
indenizáveis. Responsabilidade da ré pelo defeito na
prestação do serviço de transporte aéreo configurada.
Indenização por danos morais, fixada em dez mil
reais, preservada. Descabimento do pleito de sua
redução. Pedido inicial parcialmente julgado procedente.
Sentença mantida. Recurso improvido. Dispositivo:
negaram provimento ao recurso. (TJSP; Apelação
1007879-42.2017.8.26.0003; Relator (a): João Camillo de
Almeida Prado Costa; Órgão Julgador: 19ª Câmara de
Direito Privado; Data de Registro: 09/02/2018)

Trata-se de notório desvio produtivo caracterizado pela perda do


tempo que lhe seria útil ao descanso, lazer ou de forma produtiva, acaba
sendo destinado na solução de problemas de causas alheias à sua
responsabilidade e vontade.

A perda de tempo de vida útil do consumidor, em razão da falha


da prestação do serviço não constitui mero aborrecimento do cotidiano, mas
verdadeiro impacto negativo em sua vida, devendo ser INDENIZADO.
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:

1. A concessão da gratuidade de justiça, nos termos do art. 98


do Código de Processo Civil;

2. A citação do réu, na pessoa de seu representante legal, para,


querendo responder a presente demanda;

3. Seja a empresa requerida condenada a pagar ao requerente


um quantum a título de danos morais, em valor não inferior a
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), considerando as condições das
partes, principalmente o potencial econômico-social da
lesante, a gravidade da lesão, sua repercussão e as
circunstâncias fáticas;

4. A condenação do requerido em custas judiciais e honorários


advocatícios,

5. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em


direito admitidas e cabíveis à espécie, especialmente pelos
documentos acostados.

Dá-se à presente o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Termos em que, pede deferimento.

Brasília, 22 de janeiro de 2020.

Mariana Teixeira Marques Limão


OAB/DF 37216

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