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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE BOITUVA/SP

Processo ...
Controle nº ...
Processo Crime
Nome Completo acusado, já devidamente qualificada nos autos da presente Ação Penal
que lhe promove a Justiça Pública, vem, por sua procuradora infra-assinada, com o devido
respeito perante Vossa Excelência, no prazo legal, apresentar MEMORIAIS, nos termos do
artigo 403 pará grafo 3º do Có digo de Processo Penal, consubstanciando os motivos que
passa a expor.
O acusado foi denunciado pelo artigo 33, “caput”, da Lei 11.343/06, pois, segundo a
denú ncia, estaria guardando e mantendo em depó sito, para fins de traficâ ncia, 02 (duas)
porçõ es de droga comumente conhecida por “maconha”, bem como trazia consigo 02
(duas) porçõ es de cocaína, sem autorizaçã o e em desacordo com determinaçã o legal ou
regulamentar.
O representante do Ministério Pú blico pugna pela condenaçã o do réu, observando-se, na
fixaçã o da pena, ser o réu tecnicamente primá rio, aguardando que a pena cominada seja no
mínimo legal, com regime inicial fechado.
Com efeito, em seu interrogató rio o réu negou os fatos, informando ser usuá rio de drogas,
já tendo sido internado por duas vezes.
Conforme depoimentos, a testemunha Josemar informou claramente que foi o acusado
Cleber quem autorizou a entrada dos policiais na residência, e de início declarou “que tinha
problemas” e que realmente “era usuá rio”.
Ainda em seu depoimento, a testemunha informou que no local havia vá rias casinhas, e que
a dos denunciados era a ú ltima, e que a denú ncia de trá fico referia-se “à s casas” e nã o
especificamente a casa de Cleber.
A testemunha José Carlos, informou que Cleber trabalhava para ele como ajudante de
pedreiro, e que ele mesmo levou Cleber para ser internado por duas vezes, tendo ciência
que esse era usuá rio de drogas.
Ora Excelência, a quantidade de droga localizada nã o caracteriza o crime de trá fico, pois
eram porçõ es ínfimas, havendo nã o somente a confissã o do acusado quanto ao uso de
drogas, como há provas suficientes nos autos comprovando ser ele dependente químico,
que inclusive passou por internaçõ es na tentativa de livrar-se do vício.
Reforce-se que nã o há nos autos nenhuma prova de que o acusado praticasse a mercancia
de substâ ncia entorpecente, pois a ú nica testemunha que supostamente teria declarado
estar no local para adquirir drogas nã o fora ouvida em Juízo, o que já descaracteriza a
pretensã o de condenaçã o por trá fico, como aponta nossa jurisprudência:
 Trá fico – Desclassificaçã o para uso pró prio – Admissibilidade – Dú vidas quanto a
finalidade da droga encontrada em poder do agente – Tipo descrito no art. 16 da Lei
6.368/76 que se evidencia pelo simples ato de trazer consigo ou manter em depó sito, para
uso pró prio, estupefaciente capaz de causar dependência física ou psíquica, sem a devida
autorizaçã o ou prescriçã o médica. (TJBA - 2ª Câ m. Ap. 22757-5/2000 – j. 09.08.2001). Grifo
nosso.
 Trá fico – Desclassificaçã o para uso pró prio – Admissibilidade se reconhecida a
inexistência de indício de prova da destinaçã o comercial da droga – Interpretaçã o dos arts.
12 e 16 da Lei 6.368/76 (STJ – 6ª T. Resp 115.660/GO – j. 05.08.1997). – Grifo nosso.
Além disso, quando ouvido em sede policial, à s fls. 06, a testemunha Lysandro afirmou que
“nunca tinha comprado drogas na casa dos indiciados”, e que “nã o conhecia” o casal
acusado, somente informando que seu amigo havia indicado o local como “biqueira”.
Destaque-se que a testemunha policial já havia informado que no local havia vá rias
casinhas, e mesmo o suposto comprador nã o soube afirmar se iria adquirir drogas dos aqui
acusados, ou mesmo dizer com exatidã o qual era a casa que vendia drogas.
Há de se invocar o princípio do indubio pro reu visto que, conforme jurisprudência, a
insuficiência de provas quanto a autoria do delito e materialidade do fato devem levar a
absolviçã o do acusado:
PRINCIPIO DO IN DUBIO PRO REO. INSUFICIENCIA DA PROVA PRODUZIDA. PRINCIPIO DA
LIVRE APRECIACAO DAS PROVAS. TRAFICO ILICITO DE ENTORPECENTE. ABSOLVICAO.
Trá fico de entorpecentes. Materialidade inconteste. Prova frá gil quanto à autoria. Versã o
do apelante detalhada, segura e verossímil. "Prova insuficiente. (...) Se o testemunho
policial é vá lido como qualquer outro, nã o se pode, por isso mesmo, considerá -lo
incontrastá vel e soberano, hierarquizando-se a palavra do policial, como no tempo da
verdade legal, retornando-se ao velho Direito Feudal, onde a prova servia nã o para
descobrir a verdade, mas para determinar que o mais forte, por ser o mais forte,sempre
detinha a razã o. (...)". TJ/RJ, Apelaçã o Criminal n. 2002.050.01193, Rel. Des. Sérgio de Souza
Verani, 5a. Câ mara Criminal, unâ nime, julgado em 16/03/2004. Aplicaçã o da regra do art.
156 do Có digo de Processo Penal:A prova da alegaçã o incumbirá a quem a fizer. O ô nus da
prova cabia ao Ministério Pú blico, que nã o se desincumbiu satisfatoriamente do mesmo.
Insuficiência da prova produzida, de forma a ensejar um Decreto Condenató rio, que exige
prova firme e induvidosa, nã o bastando meras e vagas ilaçõ es. Art. 157 do Có digo de
Processo Penal: "O Juiz formará sua convicçã o pela livre apreciaçã o da prova". Aplicaçã o do
princípio "in dubio pro reo". Absolviçã o. Provimento do recurso. (TJRJ. AC -
2006.050.05042. JULGADO EM 13/09/2007. QUINTA CÂ MARA CRIMINAL - Unanime.
RELATORA: DESEMBARGADORA MARIA CHRISTINA GOES).
Destarte, o silencio em fase policial nã o pode ser interpretado contra o denunciado, pois o
simples exercício de um direito constitucional nã o pode ter o condã o de desfigurar a
inocência do acusado, já que a verdadeira justiça deve ser clamada ao Juízo, que analisará
as provas e proferirá julgamento, razã o pela qual o acusado preservou-se no direito de ser
interrogado e contar a verdade dos fatos somente em seu interrogató rio.
Diante dos fatos, nã o há que se falar em delito de trá fico, visto que pelas provas dos autos
fica patente que o acusado é somente um usuá rio de drogas, o que ficou comprovado pelas
provas testemunhais, por sua declaraçã o quanto à s suas internaçõ es anteriores, e
principalmente pela quantidade de droga localizadas em seu poder.
Isto posto, requer-se a improcedência da denú ncia em relaçã o ao acusada, visto nã o restar
evidenciada o delito de trá fico, ou mesmo a desclassificaçã o para o delito previsto no artigo
28, da Lei 11.343/06.
Destarte, em caso de imprová vel condenaçã o requer seja concedida ao réu os benefícios do
artigo 33, § 4º, da Lei 11.343/06, no grau má ximo de dois terços, levando-se em
consideraçã o a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, e a personalidade do réu,
os motivos e as circunstâ ncias do crime, bem como a quantidade de droga apreendida.
No que tange à substituiçã o da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, a
ó bice do artigo 44 da Lei 11.343/06 nã o mais existe, visto o que decidiu o Supremo
Tribunal Federal em Habeas Corpus nº 97256, sendo declarada “incidentalmente a
inconstitucionalidade da expressã o vedada a conversã o em penas restritivas de direitos”,
constante do citado § 4º do art. 33, e da expressã o “vedada a conversã o de suas penas em
restritivas de direitos”, contida no também aludido art. 44, ambos dispositivos da Lei
11.343/2006”. Desta forma, caberá ao Juiz auferir as condiçõ es objetivas e subjetivas para
efetiva substituiçã o da pena.
Ademais, reiteram-se os termos de defesa preliminar juntada à s fls. 46/50.
Por fim, reitera pedido de concessã o dos benefícios da Assistência Judiciá ria Gratuita, por
ser o denunciado pessoa pobre na acepçã o legal do termo, nã o possuindo condiçõ es de
prover as despesas processuais, sem prejuízo de sua subsistência e de sua família.
Termos em que,
Pede deferimento.
Boituva, 28 de março de 2013.
Lucas F. D. Labronici
OAB/SP nº 283.390

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