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Entre o material didático encontram-seliwos para professorescomo o AII Kinds of Music (Todosos tipos de

música) (Oxford University Press,197611979)e SoundTrachs(Pistassonoras)(CambridgeUniversity Press,


1978) publicados na Inglaterra; Osshornponistarimellom: nâr barna gjer som Gneg (Compositoresenrre
nós: quando as criançascompóem como Grieg) (Rikskonsertene,1993) publicado na Noruegae lnvenzioni
Musicale(Invençãomusical), seteprqetos publicadosnaltáIia (MusicaDomani, 2002/2003).

Propostapedagógica

8.3 Pesquisaro sonoroparadescobriro musical


A propostapedagógicade John Paynterestá descrita,principalmente,em três livros: Soundand Silence
(1970), Hear andNow (1972) e Soundand Structure(1999 tl992l). A fundamentaçãoreóricadessasideias
encontïa-setambém em artigos publicados na reüsta inglesa British Journal oJ Musíc Education (Pa1'nter,
L997b,2000,2002) e na reústa italiana beQuadro(PaFrter, 1997a).Nos livros anreriormenremenciona-
dos, o autor esclarece
que os exemplosde atiúdadesmusicaisque apresentanão sãopropostasde cursoou
método a seguir,mas formasde pensarsobrecomo fazermúsicaexperimentandoideias,considerandoque
a principal caracteÍstica da experiênciaartísticae a ciativdader3. Em um dos Ìivros, Palmter(1999 11,9921,
p. 29. traduçãonossa)ressalta:

r3Criatividade é "a manifestaçãode um novo produto relacional que nasce,por um lado,


do caráterúnico do lndiúduo, e por outro,
dos materiais, acontecimentos,pessoase circunstânciasde sua vida" (Torrance citado por Paynter, 1999 ll992l, p. lI, tradução
nossa).Ver tambémPavnter(1977b)

Pedagogiasem educaçãomusicai
O que aquí se expÕeê uma vísaode educaçaomusícale não um métodode ensínarmúsica.Estaé
porqueelessaod antíteseda mentecriatíva.
uma areaondesedeyemeyitaros metodos,
precísamente
Seyocêdescobnralgumavezqueacaboude desenvolver esse
pare o ensinoda cornposiçao,
um sístema
ê o momentode desistirdele!

A série de atiüdades descritasnos livros foi desenvolvidaparaestudantesde escolasde ensino funda-


menrale médio, centrosde formaçãodocentee universidades.Paynter(1972,Iggg l9gll, Pa;mter;Aston,

1970) esperaque as linhas de trabalhopropostaspor ele possaminspirar o planejamentodos professores


de música e/ou outras áreas,tanto para criar novaspossibilidadesquanto para adaptaras atividadesàsmais
diversassituaçÕeseducacionais.Tais experiênciasforam organizadasem projetos, podendo ser utilizados
isoiadamentesem seguir qualquer sequência.A duração destesdependedo grupo de estudantese da com-
plexidadedasatiúdades,podendo ser realizadosao longo de atétrês ou quatro semanas.
trinta e seisprojetosrelacionadosàstendênciasda música
No livro Soundand Silencesãoapresentados
do séculoXX. Entre eìes,encontram-seexemplosde músicafolclóricae popular, mas em sua maioria sào
peçasde compositorescontemporâneosclássicos.Payntere Aston (I970) incluíram tambémexemplosde
parainstrumentos.Sãopropostos
músicainfantil. Os primeirosúnte e quatroprojetossão,essencialmen[e,
[emascomo, por exemplo:música e mistério, música e palavras,imagensna música, silêncio,música e
drama, moúmento e música,explorandoinstrumentosde cord.a,espaçoe tempo, sons curtos e longos,
músicae números.
explorandoo piano, sonsde paÌavras,notas,modos e sequências,
Os demaisprojetos,direcionadosprincipalmentea estudantesde Il a 15 anos de idade, são propostas
voltadasparaa músicavocaie paraa cnaçãomelódicae harmônica,concebidosde forma progressivae podendo
ser compreendidoscomo uma unidade. Essasatiúdadesnão sãofechadasem si mesmas,sendoconsideradas
como experimentoscriativos de exploraçãodos vários aspectosda técnica harmÔnica.Como exemplosde
projetos,citam-se:heterofonia,descobrindoa harmonia, construindoum acorde,as trÍadesprimárias,modos
músicanoturnae peÇad,eteatro.
e notasauxiliares,suspensòes,
maior e menor,not"asde passagem
E nesselivro que Pa;,ntere Aston (1970) registramseuspensamentos a respéitoda educação.
e crenÇas

Compreendema criançacomoum sercriativonato e, por isso,estimulama criatiúdadepropondoatiúdades

TeresaMateìro
nas quais tanto o professorquanto o aluno têm uma participaçãoativae relevante.Consequentemente,
a
concepçãoda "escoÌarização"
passada instruçãoà educação,na qual a transmissãoe a aquisiçãode conhe-
cimentossãosubstituÍdaspelosrecursosnaturaisda criança- curiosidade,imaginaçãoe criação.
Hear and Now é um livro sobre a música contemporâneanas escolas,encorajandoos professores
a fazer música durante as aulas,ultrapassandoos limites da interpretaçãovocal e instrumental.Paynter
(1972) introduz e apresentaasinúmeras possibilidadesque a música contemporânea,ou a dnamadamúsica
nova, oferccepara a educaçãomusical de criançase jovens, fazend.o,eventualmente,comparaçÒes
com
a música ocidental dos últimos setentaanos. Ressaltaa imaginaçào,a ênfaseno indiúduo e o material
disponívelcomo aspectosfundamentaisno processoeducacionalem desenvolúmentoduranteo séculoXX.
Fa;mter(Ig72) propoe atiúdades païaas aulasde músicatransformando-as
em momentosde desco-
berta e expressãoindiúdual, exploraçãosonorae pafticipaçãoativade todos os alunos.O livro é acompa-
nhado por um disco contendoos excertosdas músicasmencionadasnos textos.Além disso,ofereceuma
lista comentadade obrasmusicaisque podem serutilizadasem salade aulae uma lista de gravaçÕes,
liwos
e artigosque fundamentaramo trabalho apresentadono livro. Ao mesmo tempo, essalista foi elaborada
com o intuito de oferecerum estudosobrea músicado séculoXX e sua aplicaçãonas escolas.
No livro Soundand"Structure,por sua vez, Paprter (1999 lI992l) apresentadezesseis
projetosorga-
nizadosem quatro paftes.A primeira trata de exploraros sonsda músicae compreendercomo funcionam.
Depois vem a organizaçãodessessons em ideias,ou seja,como se podem transformaros sons em ideias
musicais.A terceiraparÍeé dedicadaà técnica,:umavezque asideiasexigemo desenvolúmentode meios
de controle afiístico. E, por fim, somandotodas as etapasé possívelproduzir peçasmusicaiscornpletas,
estruturandoassimo tempo. O livro é acompanhadopor um discocontendoasgravaçÕes
dasobrascitadas
nos projetos.
Apesarde Paynter(1999 tl992l) sugerir a sequência- sons, ideias,técnicae tempo -, ele mesmo
indica outraspossibilidadesde itineráriospara os projetos.O principal objetivoé a exploraçãode processos
e atravésde diferentescaminhosé possÍvela relaçãoentreeles.Pode-se,por exemplo,iniciar com a análise
de formasmusicaisexistentespara depois passaraos projetos que exploram os mecanismosde controle.

Pedagogiasem educaçãomusical
Em seguida,ver como o pensamentomusical chegoua esseponto aproveitandoas possibiiidadesde sons
naturaise das ideiasmusicais.Nesselivro, o autor examinaos processosde estruturaçÕes
com o objetivo
de tornarconcretasasideiase pensamentos musicaisd,ascriançase Jovens.
Pode-sedizer que o livro Soundand Structure.publicado em'I992 surge como uma continuidade do
livro anteriorSoundand"Silence(1970). Palmrernovamenteargumentaa favorda criatividadecomo abase
païa o currículo de músicae sustentasua filosofiajá defendidahá vrnte anos,reafirmandoque a músicaé
uma arte crialiva em todasas suasformas,ou seja,em sua composição(inventar),execução(interpretar)
e audição(refazera música dentro de nós mesmos).Paprter,depois de ter apresentadoideiasacercada
exploraçãosonora,em Soundand Structureelaborapropostasdidáticasque possamauxiliar os estudantesa
desenvolvertécnicase estratégias
para criarpeçasmusicaisclaras,coerentese completas.Em outrosaftigos,
Paynter(L997b,2000,2002) discorresobreas implicaçÕesteóricase didáticasdessetrabalho.
Não se encontrana obra de Palnter uma propostapedagógicaque defina ahierarquizaçãode conceitos
musicaisou a sequênciatemporal e linear de como deveser estruturadoo ensino de música. para ele,"assim
como a prÓpriamúsica,um currÍculo deveter uma unidade essencialonde todos os elementosse reiacionam
de forma natural"(Paynter,1999 [1992], p.20, Íadução nossa).Seuponro de partidaé a técnicadecompo-
sição e, em consequência,o desenvolúmentoda capacidadecriativa do indiúduo . para tanto, é necessário
acimade tudo, educaros sentimentose despertara imaginação,paradepoisd.esenvolver
técnicase habilidades.
Entretanto,Payeterdestacaa escutacriativa,a integraçãoda músicacom outrasáreasartísticase a composição
e a introdução da músrcacontemporâneanas escolascomo aspectosessenciaisà educaçãomusical.

8.3.1 Escuta atentae criativa

Partindo do fato de que a música faz parLedo cotidiano, Pagrter (Igg9 [Igg2J p. 14 rraduçãonossa) afrrma
, ,
que a música se experimentaescutando,porém ressaltaque "há diferençasentre o escutare o simplesmente
ouúr". O ouúr, como uma escutapassiva,é um fenômenosocialque não supoequalqueresforçoparatentar
compreenderuma determinadapeçamusical.Por suavez, o escutarpressupÕe atençãoe criatiúdade.

262
TêresaMateiro
A experiênciade escutaratentamente
conduzo ouünte a um significadomais
profundo da músicae a escuta
criativaexigeum esforçode imaginação
atravésdo qual o mundo sonorodo compositor
é reconstruídopelo
ouvinte' swanwick (1979,p- 43,tradução
nossa)escrarece que o ,,ouviré a pnmeira prioridade
na listapara
qualqueratiúdademusical"e o escutar
é uma forma especiaida menteque pressupÕe
a atenção,a audiçãoe
a compreensão estéticacomo parteda experiênciaentre
o objetomusicale o ato de ouvirra.
ParaPawter (1972) cabeao professor
' de músicaampliar a capacid,adeauditiva
de seusalunos.Ademais, ,
acrescentaque a compreensãomusicalefetua-se
mediantea experiência ativatanto
atiavésda execuçãocomo
da composição'não podendo limitar-se
a uma experiênciapassiva,pois a participação
e a apreciaçãosão
aspecroscomplementares de um mesmoprocesso.para tanto, payrter (lggg
[lgg2J) propoe atividadesde
pesquisassonoIaSatraVéSdetécnicaseexercÍciosdeescutaatenta.A1gunsexemplossãodadosaseguir:

. Projeto l: Sons aparÍir do silêncio(paynter, :"


Iggg [Igg2], p. 33_38) '
ouúr e identificarsons da naü)reza,
sonsmecânicose elétncos,sonsgravados
ou transmitidoseletronica-
mente' sonsmais gravese mais agudos,
padrÕessonoros;escolherum som e
imitar com a maior precisão
possívelutilizando avoz e depois gtavar
e compararcom o som original; ouür
duranretnnta segundose
imitar a sequênciade sons ouüda; representar
um lugar em concretocriando sons
e/ou representarcom
sons um lugar imaginário (paisagem
sonora)rs;anotar com precisãoos sons
ouvidos; ou\.lr exempÌosde
peçasmusicaisqueseutilizamdessesreCurSoSSonoroS.

. Projeto 3: Sonsenconrrados
(paFrter,
Iggg [lgg2],p.4+_52)
Explorar sons de madeira,tocar esses
sons em conjunto, separadame nLe,rcalizandoum diálogo musical,
três sonsjuntos que participem de uma
discussãomusical etc.; um grupo de
cinco estudantesimproüsa
com essessons' compor peçâsde estilos
diferentesutilizando os sons de madeira
encontrados;criar uma
notaçãoparaessapeça;construirinstrumentos
musicaisnovose criar peçasmusicais
paraeles,utilizando,os

" ver também o conceito de audìção musicai ativa deJos


wuytack, apresentadano capítuÌo l0
15ver relação desteliwo.
com o trabarho de schafer (sound.scape)no
capÍtuÌo 9 deste liwo.

Pedagogias
em educação
musical
263
individualmente e em grupo. Ou ainda, a païtir de gravaçÕesde sons que caracteïizamum determinado
ambiente (um mercado público, por exemplo), analisare escreveïas célulasrítmicas e as alturas concïetas
de fragmentos melódicos a fim de criar peças de colagem sonora. TÏata-sede selecionaras qualidades
musicais de alguns fragmentose encontrar formas de os unir criando uma colagem abstratal6.Essessons
podem ser imitadoscom instrumentose/ou vozes.

A partir de exemploscomo esses,a experiênciamusicalem salade aulaé constituÍdapor momentosde


audição(seleçãode sons),reprodução(imitaçãode sons),avaliação(gravaçãoe apreciaçãode sons),criação
(improúsação e composiçãode peças),registro (criaçãoda notação grâfrcados sons) e realimentação(audi-
faz
ção e análisede outrasmúsicas).Outro aspectoa ressaltaré que a abordagempedagógicadePaynLer
uso tanto de recursosnão convencionaiscomo convencionaisquando utiliza exemplosde obrasmusicais,
notação grâfrca,materiaissonoros,instrumentos musicais ou elementosde outras áreasartísticas.

8.3.2 Composiçãoe músicacontemporânea

A possibilidade de renovar as propostaspedagógicaspara as aulas de música veio precedida da produção


musicaldasdécadasde 1950 e 1960, com o desenvoÌúmentoda músicaeletrônica.Pay'nter(1972) encon-
tra na música contemporâneasuporte paruimplementar suasideias.Partindo do princípio de que a música
secria e se reproduz a partir de qualquer fenômenosonoro e de qualquer fonte sonora,considetaque tódos
podem fazer mlsíca. Por um lado, Pagrter estimula todos os professorescom formaçãomusical ou mesmo
sem tal formação a fazeremmúsica e, por outro, propÕeo envolúmento ativo de todos os estudantesem
atividadesmusicais.
payrter (1972, Iggg [19921)ressaltaa importância da liberdadepara experimentarsons, o desen-

volúmento da sensibilidadeno pÍocessoeducativo e o espÍrito da descoberta,caracteristicada sociedade

16Ouvif, por exemplo, Cartao postdl sonoro (IIar12}O8)

264 TeresaMateiro
do século XX. Entretanto, esclareceque o trabalho musical criativo não significa resultadosnão musicaise
a experimentaçãocomo um fim. É importante que os alunos saibam que estãotrabalhando para alcançar
um determinadoobjetivo e dentro de um contexto compreensível.Por exemplo,compor dentro de uma
gamalimitada de alturas,ou para uma fonte sonoraespecífi.ca
ou, ainda,inventare construirinstrumentos
musicaiscompletamentenovos e compor pequenaspeçaspara estes.
dos alunossãoconsideradaspor Paynter(1972,2000) parte do repertóriodas aulas
As composiçÕes
de músicaao lado de outros exemplos.Elassão criadas,executadas,ouvidase analisadaspor todos. Esse
contato imediato com a experiênciamusical, descobrindosons,organizando-os,tocando e ouúndo não
dependedo conhecimentoda linguagemmusical tradicionalou de técnicasinstrumentaisespecÍficas.

muitas formas de se fazer música sem saberler e escreveros códigostradicionaise a música contempo-
râneaabre caminhosnessadireção.ParaPaynter(2000), compor música é uma atividadenatural do ser
humano.
Ainda que a propostade educaçãomusicalde Paynter(1972\ ocorraa partir da músicacontemporânea
e seuselementos,o educadornão deixa de utilizar, em suasaulas,outrasreferênciasde gênerosmusicais,
outrasfontessonoras,incluindo o uso de instrumentosmusicaisconvencionais,dos sistemasmodal e tonal
ou, ainda,de padroesharmônicose estïutuïaispresentesna músicatradicional.O trabalhoem salade aula
realiza-se,
de maneirageral,em grupo, promovendoa païticipaçãode alunose a autodisciplina.O papeldo
professoré, antesde tudo, o de dar oportunidadede participaçãoatodos,promovera iniciativad.oaluno ao
invés de propor atividadesplanejadas,enriquecera experiênciaem salade aula com variedadede material
e reflexõesacercado realízado.

8.3.3 Integração damusicacom outras areasartÍsticas


A discussãode Pa1'nter(1970, 1972, 1999 119921,2002)sobrea músicano currículo escolarremete,em
primeiro lugar, a um debatemais amplo acercado papel e do desafiodas artesna educaçãofundamental e
média.Paraele,a educaçãodeveter como principal objetivoa educaçãointegraldo indiúduo. Por um lado,

Pedagogiasem educaçãomusical
o curículo deve ter unidade, integrandotodos os elementosque o constitueme, por outïo, o professor,
independentementedaârea em que atua, deve contnbuir parua educaçãogeral de criançase jovens, eú-
tando o enclausuramentode suaâreaespecífica.
Existe uma tendência em elaborar e aceitar currÍculos com ênfase na aquisição de informaçÕes
baseadasem fatos e descriçÕesobjetivas, antagonicamentea outïas formas de conhecimento e de expres-
(Paynler,1999ll992l). As artesnão têm o monopólio
sÕes,entreelasas tipificadaspela artee pela música^
da criatiúdade, mas ultrapassama aprendizagemlinear Í^o caractertsticadas demais disciplinas curricu-
lares, oferecendoaos estudantesoportunidades de descobrir, expressare ciar algo próprio. Certamente
que em qualquer processoeducacionalhá lugar para o treino de habilidadesespecíficas,entÍetanto, a ârea
de artes,rnaisdo que qualqueï outra areado currículo, deveriaoferecermomentosonde todos os alunos
pudessempailicipar de maneira própna, sem a necessidadede manter ou seguir rigidamente um programa
previamenteestabelecido(Mills; Payrter,2008).
Palnter (1972) advogapela adoçãode formas criativas de aprendizagemem todas as áreaseducacio-
nais: escrita-criativa, teatro-criativo, dança-criativa, música-criativa etc. A escoladeveria oferecer,aos
que partem
alunos,modos criativosde aprender,fundamentadosem métodosd.eartistascontemporâneos,
de três principais fatores: aima$naçao, a indiúdualidade e a exploraçãodo material disponÍvel. Os artistas
não trabalhamcom ïegras,usam a imaginação,experimentame adequamos materiaisàssuasideias.Nesse
sentido,Paynter(lg7L,p.I0, traduçãonossa)afirma que, "em termos de educação,essetipo de atividade
é da maior importância".
As aulas de música centradasno canto e na execuçãoinstrumental (interpretaçãoe imitação perso-
nalizada),atividades tão importantes quanto outras, acabampor privar o envolúmento do aluno em um
processoeducacionalmaisamplo e global.Paynter(1972,1984) propoe a integraçãoda músicacom outras
áreascomo inglês, aÍes, matemática,entre outïas, e vice-versa,atravésde projetos que envolvam diversos
Taisprojetos
professorestrabalhandoem equipe e eliminando da educaçãoos problemasda especiaLização.
poderiam ser desenvolúdos durante seÍnanasespecíficas,quando o horário escolarseria reorganizadode
forma a proporcionar essetrabalho conjunto entre professorese alunos.

TeresaMateiro
Nos projetos elaboradospor Paynter,enumeram-seatividadesintegrando música e palawa, música e
artescênicase úsuais, música,gestoe movimento. Exemplosdetalhadosacercadesses
projetosencontram-se
no liwo Soundand Silence(1970). Destaca-setambém o trabalho realizadopor Palmter em conjunto com
ElizabethPaynterconcïetizadono livro TheDanceand the Drum (1974). Os autoresapresentamuma série
de projetos interdisciplinarespara a salade aula, onde a música e o teatro (palavras,movimento, música)
sãoconcebidoscomo uma forma de arte em si mesma.

Salade aula

8.4 Experimentandoideiase materiais


As atiúdades propostas por Palnter podem ser adaptadase aplicadasao contexto educacionalbrasileiro,
sejaem escolasda rede pública ou pnvada de ensino, em conservatóriosou escolaslivres de música, ou em
cursosde formaçãode professoresde educaçãomusical oferecidospor instituiçÕessuperioresde ensino.
Tais atividadessão apenasexemplos,ainda que extremamenteválidos, não serãoaqui descritoscom o obje-
tivo de tornaÍem-se modelos a serem rigorosamenteimitados. Os exemplos proporcionam reflexão e esti-
mulam a pensar e a reinventar aprópría ação educativa de acordo com as circunstânciasque se apresen-
tam. Também o repertório que é sugerido por Pa1-nter,adequadoao seu momento e à sua realidade,pode
ser substituÍdo hoje por outros repertónos.Vale acrescentarque estudantesdos cursos de Licenciaturaem
Música, tanto no Brasil como na Suécia,com orientaçãodestaautora têm experimentadoas atividadesque
se descrevema seguir, realizando-as,adaptando-ase refletindo sobre as ahernativaspossÍveispara as aulas
de música nas escolas.

Pedagogiasem educaçãomusical
8.4.I Projeto:Novosouvidos
sonoraspreconcebidase, conse-
Esseprqeto tem como objetivo romper com os modelose as associaçÒes
quentemente , descobnro significadoartÍsticode uma nova obra. Palnter (1999 ll992l) discutea associa-
ção de determinadosinstrumentosmusicaiscom tipos de músicae as convicçÕes do que é "belo" e "musi-
cal", assimcomo também o estilo e o gostomusical.Estimulaa invenção(ver as coisascom outïos olhos)
e a imaginação(apresentaras coisasde outrasformas),habilidadesnecessárias
à atiúdade de composição.
Adverte que não se trata de incitar a"anarquia musical", ao contrário, o trabalho para evitar o óbúo e o
familiar exige cautelae conhecimentopara percebercomo unir e formar ideias distintas que possamtornar
uma peçamusicalcoerentee interessante.
Oprojeto,descritoemdetalhesnolivroSoundandStructure(1999
ll992l),seráapresentadoaseguir
de forma resumida. Ressalta-seque as atindades podem ser realizadasem gmpos e estãodirecionadasa
jovense/ou adultosinstrumentistas.Lembra-setambém,comojá mencionadoanteriormente,que o número
e envolvimentodo grupo de estudantes,
de aulasde um projeto pode variar,dependendodasnecessidades
de cadacontexto.
do tempo disponÍvel,entre outrasvariantesespecÍficas

i. Parainstrumentistas Pensar
solistas.Criar uma peçamusicalutilizando somentesonsinesperados.
em formas de reproduzir sons musicais distintos daqueles que normalmente se esperam do
instrumento
ii. Paraquatro instrumentistasde corda, de preferênciaum quarteto. Ouúr algunsquartetosde Corda
clássicosou do inÍcio do romantismo (por exemplo, Haydn, Mozarï-,Schubertou Mendelsson)e ir
sonorastÍpicas.Pensarem formasde tocar os instrumentos,eútando
anotandoas características
essascaracteísticas,e compor uma peÇapara um quafteto de cordasque tenha um novo som e
que não se païeÇaa algo que tenhasido compostodurante os séculosXVIII e XIX.
iii. Criar uma combinação sonora a mais improvável possível com lrês instrumentos que estejam
disponÍveis.Improvisarjuntos, para averiguaras possibilidadesmusicais.Por fim, compor uma
peçamusicalparaessetipo de som incomum.

Ieresa Mateiro
iv. Criar uma melodia que não seja"melodiosa";criar uma peÇamusicalpara tamboresque nào seja
"ítmica".
v. Criar uma peçaparaquaìquercombinaçãode instrumentosde corda,soproe teclado,na qual cada
um dessesinstrumentosserátocadocomo se fosseum inslrumento de percussào.
vi. Criar uma peça vocai utilizando as vozes como instrumentos de percussão.Em apenasum
momentoda peçaasvozesproduzirãosonsque normalmentese esperadelas.
para quartetode cordas(2ndStnngQuartet),compostaem
úi. Ouúr e analisarobrascomo: Streepjes
lg8I pelo compositorholandCsGuusJansen,e o StnngQuartetinFourParts(Quartetopara cordas
em quatro partes),compostopelo compositoramericanoJohn Cageem 1950.

8.4.2 Projeto.Músicae palavras


Palnter (1970) propÕeexplorar os pensamentose sentimentosdos estudantespor meio da redaçãode
poesiase de sua relaçãocom a música.Justificaque a maneiramais óbúa de comunicaçãoentreas pessoas
ocorre atravésdas palavrase o ato de escreverd^ clarezae organizaos pensamentos."A poesia é um refi-
namentodos pensamentos"(Paynter,1970, p. 43, trad,tçã^o
nossa)e a músicatem o mesmopoder.Paynter
elaborouesseprqeto e experimentoudiversasatiúdades com criançase jovens de ensino fundamentale
destaautora,estudantesbrasileirose suecosdos cursosde-Licenciatula
médio. Por suavez,sob a orientaÇão
em Música também rcalizaramtais atiúdades, adaptando-asà cultura e aos recursosmusicais disponÍveis.
As sugestÕesde atividades que seguem,païa grupos de quatro ou cinco alunos, foram extraÍdasdo livro
Soundand Silence(Paynter;Aston, 1970), porém apresentadas
aqui resumidamente.Tiata-sede escrever
reflexos.
uma poesiae compor uma peçamusicaltendo como r,e:r.rra

i. Listar "materiais"onde os reflexossão possÍveis- espelhos,poçasde âgua,superfÍciesreluzentes


de madeiraou metal;e, em seguida,lembrarde lugaresonde vocêviu o reflexode seurosLo,por
exemplo- janelado trem quando passapor um túnel ou nos espelhosdistorcidosde um parque

Pedagogiasem educaçâomusicaÌ 269


de diversÕes.Que tipos de histórias vêm à mente? Discutir com o $upo e escïeveruma poesia
(uma por grupo ou uma por aluno).
ii. Ler o poema emvoz alta e imaginar que seráparte de um programa de rádio. Como passaraideía e
o efeito do reflexo parao ouúnte, utilizando música?Tentar traduztt as palavrasem sons, criando
uma atmosferaparatransmitir a ideia, na qual as palawas possamser ouúdas. Discutir em grupo
o tipo de sons- longose curtos,fortese fracos,úbratos, pausas,repetições- e como utilizá-losde
forma que ampliem o sentido das palavras.
iii. Explorar os instrumentos musicaisdisponíveise escolheraquelesque têm sons mais apropriados
paraa "músicado reflexo".Experimentarsons,construirpadroessonoros,repetire, quando apeça
estiver pïonta, executá-laenquanto um aluno do grupo lê o poema. Tentar várias combinaçoes
entre as palawase os sons,por exemplo,iniciar apenascom músicae, depoisde algunsminutos,
inserir aspalawas.Sehouver mais de um poemapoï grupo, repetir a mesma peçaparaosdiversos
poemas.
iv. Ensaiar e apïesentara versào frnal para a turma. Gravar, ouvir e analisar o resultad.oouúndo a
opinião de todos os alunosda classe.
v. Ouúr e apreciar lmprovisation sur Mallarmé ll para soprano e instrumentos, do compositor
francêsPierre Boulez, moúmento composto em 1957 a partir do poema lJne dentelles'abolit de
StéphaneMallarmé, poeta e crÍtico literário francêsdo século XIX. O poeta estáobservandocomo
as coÍtinas de renda refletem na janelae como o reflexo parece estar se abrindo e fechando, eÌe
"Une dentelles'abolit... as rendasse dissolvem...
luta para descrevercom palawasessaimpressão'.
evaporam...?" PierreBoulezescolheinstrumentoscuja sonondade
desaparecem...
desvanessem...
e textura mantêm a mente na imagem central: a janela e os reflexos deslocadosda renda das
cortrnas.
Paraa atiúdade de audição e apreciação,sugerem-setambém outïos materiais.Ver, por exemplo, o
projeto de composiçãomusical desenvolúdo por Martins e Maffioletti (2009) com alunos de 5" e 6u séries
de uma escolamunicipal de SãoLeopoldo (RS).fu atiúdades propostasseguiramtïês enfoques:apreciação

270 TeresaMateiro
de música contemporânea,releituras de obras musicais contemporâneascom instrumentos acústicos e
composição eletroacústicaconcreta com software de edição de som. As releituras musicais incluÍram a
obra Sonetosile morte, deJorge Meletti, baseadaem versosde Augusto dos Anjos e obrasaleatóriasde John
Cage.Os aiunos,em um primeiro momento,criarampoesias,e depois,com instrumentosmusicais,criaram
músicaspara as poesias,registrando-ascom notaçãonão convencional.

Parasabermais
Outras obras, além das citadas nas referências,são facilmente encontïadasem espanhol, tanto no que se
referea traduçÕesdos livros escritospor Palnter como informaçÕessobre o músico-pedagogoem outros
artigosou Ìiwos. Ver:

COX, Gordon; HENNESSY,Sarah.La músicaen las escuelas.


Psychology of music, v.32, n.3, p. 20-25,2004.

ESPINOSA, Susana. Creación y pedagogía:los compositores van al aula. \rr: DiAZ, Maraúllas, GIRÁLDEZ, Andrea (Coord.).
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Copítulo8

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A musi ca crtativanas escolas

TeresaMateiro

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