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CENAS DO ATOR PLURAL - De Bernard Lahire

PRELIMINARES

1 . Este texto não é teórico, no sentido de não querer defender uma interpretação que
preceda a investigação científica.

2 . Todo quadro interpretativo deve ser afetado/modificado em função dos objetos de estudo.

3 . Maneira fechada de conceber teorias – como olhares que explicam o mundo social – com
diferentes graus de pretensão no que se refere à possibilidade de abranger o social.

4 . Crítica ao embate entre teorias à revelia dos testes empíricos aos quais os objetos de
reflexão sociológica precisam ser submetidos

 Escolha racional
 Habitus
 Do ator estratégico
 Do ator em interações
 Da experiência e do mundo vividos

5 . Risco de transformação da sociologia em um debate sobre truísmos.

6 . Polaridades em torno das quais as teorias do ator gravitam:

 A unicidade do ator (suas preferências, esquemas de concepção, de sua disposição em


um determinado sistema de posições) X a fragmentação do ator (identidades
múltiplas, papéis variados, experiências diversas)
 Peso do passado X peso do presente (situação, campo, subcampo, experiência)
 Ator consciente, racional, planejador, estratégico X ator inconsciente, infra-consciente
ou não consciente, moldado pelas exigências de adaptação pré-reflexiva das situações
e práticas.

7 . Esta obra convida a pensar com e contra o pensamento de Bourdieu – utilizá-lo, deformá-
lo, fazê-lo gemer e protestar. (NIETSZCHE)

8 . Um texto em que o autor dialoga com as diversas partes dele mesmo e com as diversas
partes de outros autores – tudo sob uma inspiração crítica. Um texto de estremecimentos.

9 . Propostas

 Uma visão do ator como plural


 Reflexão sobre diferentes formas de reflexividade na ação
 Concepção da pluralidade das lógicas de ação
 Discussão dos diversos tipos de incorporação do social
 Reflexão do lugar da linguagem no estudo da ação e dos processos de interiorização
do social
 Evitar a generalização e sorver a inspiração da atenção intensa à diversidade do real
 Colocar em discussão a relação entre teoria e empiria – restabelecer o papel da crítica
e desmitificar o sagrado dos conceitos e interpretações consagradas.
Restabelecer o diálogo com a Filosofia e a Psicologia para a compreensão dos
conceitos que sociólogos importam desses domínios para explicar o mundo social.
 Reabilitar a importância da discussão teórica, metodológica, epistemológica em seu
diálogo com o trabalho de campo.
 Matrizes da teoria do ator plural: a sociologia, a antropologia, a filosofia, a história, a
filosofia, a psicologia e a literatura (Proust) – Maurice Halbwachs (memória e
multipertença dos atores individuais –
Não reconheceremos nenhum perfume da interdisciplinaridade ou
pluridisciplinaridade nessas misturas colocadas a serviço da reflexão sociológica.
(p.17)
 A relação entre o passado incorporado e suas mobilizações a partir de situações do
presente – a redefinição do potencial das entrevistas enquanto método para revelar
algo que exista antes de elas serem realizadas.
 Focalizar as condições da transponibilidade relativa dos esquemas ou disposições
sociais, dada a variedade das situações e a mobilização de esquemas gerais ou parciais
de enquadramento das interações e possibilidades de ação – a transponibilidade de
esquemas gerais ou parciais depende do que as situações mobilizam ou elicitam.

10. Utilidade extracientífica da teoria da ação plural – as maneiras de compreender as molas


da ação correspondem a maneiras diferenciadas de manter ou transformar a ordem das coisas
– as teorias da ação são sempre teorias políticas.
11. Tocar nas maneiras de socialização dos atores significa sempre levá-los a agir
diferentemente.

A CENA 1

1 . PARA PENSAR COM E CONTRA LAHIRE - Bourdieu e a unicidade do ator social através da
incorporação de seu habitus - na verdade Bourdieu fala de habituses, trajetórias, o
imponderável das estratégias e das jogadas, bem como a interpenetração e desdobramentos
em cascata dos campos e subcampos.
2 . A possibilidade de um indivíduo com habitus semelhante a outro ser diverso – a
irredutibilidade do indivíduo, a possibilidade de um exemplar de uma série não apresentar
todas as características nela descritas – QUE FAZER COM O QUE NÃO SE ENCAIXA NA
ESTATÍSTICA E NA PREVISÃO DA TEORIA EM RELAÇÃO A INDIVÍDUOS DE GRUPOS SOCIAIS
DADOS?
3 . PARA PENSAR COM E CONTRA LAHIRE - A questão da tendência e do resíduo estatístico.
4 . A concepção a fragmentação e da unicidade devem ser colocados sob o teste da empiria!!!
5 . PARA PENSAR COM E CONTRA LAHIRE – a história das mentalidades não ignora a
possibilidade de barganha e de variação dos indivíduos de determinado espaço e tempo, mas a
força de uma tendência, construída pela saturação de fontes que a indicam!
6 . PARA PENSAR COM E CONTRA LAHIRE – nem a teoria do habitus nem a história da
mentalidade pensada em homogeneidade ou unicidade, mas nas tendências, nas forças
aproximativas de posições e estilos de vida, demarcando sempre os espaços das franjas da
história e das reconstruções possíveis de habituses, pelos acasos das trajetórias (exemplos de
famílias de um mesmo bairro, das vozes contra a corrente e infrahistóricas, com Foucault &
Ginsburg).

A unicidade de si: uma ilusão ordinária socialmente bem fundamentada

1 . Goffman e o imprevisível da ordem das interações - PARA PENSAR COM E CONTRA LAHIRE –
Goffman e os scripts, o peso da biografias e do que se trás para as interações....
2 . Os mitos da identidade pessoal invariável – as instituições permanentes e as ocasiões
efêmeras de celebração da unicidade do eu:
 as representações do corpo do indivíduo como algo que não varia, mesmo ele
desempenhando papéis os mais variados
 As instituições sociais – o RG, o passaporte, o endereço, o nome e o sobrenome, o CPF
etc.
 As ocasiões em que se elicitam narrativas de si, para por ordem e produzir
previsibilidade em situações em que elas necessariamente não existem.
 As biografias, o currículo Lattes.
3 . A manutenção da ilusão da unicidade do eu é tanto mais trabalhosa quanto mais cedo os
atores se inscreveram em grupos e universos sociais múltiplos, variados, heterogêneos,
contraditórios.
4 . Proposta de Lahire, recusar a unicidade bem como a hiperfragmentação (dos pós-
modernos) como a prioris generalizantes– o exercício dos testes empíricos e a recusa do
exercício teórico que aprisiona os indivíduos em fórmulas, de um lado e do outro.

As condições sociohistóricas da unicidade e da pluralidade

1 . Da unicidade
 Durkheim e a solidariedade mecânica – baixo nível de diferenciação social, baixa
densidade moral, baixo nível de individualidade – e as instituições totais, que
produzem homogeneidade e favorecem a unicidade.
 Bourdieu e a sociedade Cabilla – homogênea, mas atravessada por contradições nas
práticas dos atores – a força da argumentação contra Bourdieu funcionando a favor
de Bourdieu (a diversidade de práticas dos colonizados em presença e na ausência dos
colonizadores).
 Panofsky e o monopólio educacional da escolástica e da formação de arquitetos na
zona urbana de Paris.
2 . Da fragmentação
 Maurice Halbwachs e a pluralidade de espaços de socialização e de incorporação de
memórias coletivas – Bourdieu e a interpenetração dos campos e o reconhecimento
da autonomia relativa deles.
 As sociedades contemporâneas e seus diversos princípios socializadores com os quais
os indivíduos entram em contato.
 O exemplo da formação dos hábitos de leitura no seio das famílias – o trabalho
explícito e implícito dos pais contra a exposição de seus filhos a princípios
socializadores divergentes e heterogêneos.

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