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LUIZ PACHECO E A LEI DAS FINANÇAS LOCAIS

Por: Aloísio Maia Nogueira

O melhor do debate sobre a Lei das Finanças Locais foi o Luiz


Pacheco.
Passo a explicar:
Por dever de ofício (e também por não ter emenda) dispus-me a
ver ontem (segunda feira) o “Prós e Contras” sobre a proposta
de Lei das Finanças Locais.
Devia saber antecipadamente que dali nada sairia de
aproveitável. O programa foi o comício habitual, com berros e
gritos sobre matérias acessórias e despropositadas.
A receita destes debates parece ser fazer uma espécie de RGA
barulhenta, juntando no mesmo palco casais desavindos, que,
obviamente, aproveitam o tempo de antena para discutir
questões de alcova. Tudo embrulhado pela presença de um ou dois protestantes
profissionais da nossa praça (sempre os mesmos: no caso vertente, o Saldanha
Sanches) os quais, do alto da sua cátedra e enfadados de morte, dizem umas
larachas inconsequentes e superficiais, à laia de opinião, que não passam disso
mesmo, pois jamais terão que executar alguma coisa.
Ou seja, uma espécie de Fiel ou Infiel, a armar ao pingarelho.
Resumindo, nada de substancial foi dito, e foi bem feito para mim.
Sucede que a função deitou para tarde (terminou para lá da uma) e espalhou-me o
sono.
Felizmente que há males que vêm por bem.
Desavindo com a cama, zappingo para o canal 2 e eis que me entra pela casa dentro,
salvo seja, o Luiz Pacheco. Melhor dito, um excelente documentário sobre a vida e
obra de Luiz Pacheco.
Para quem não sabe, o Luiz Pacheco é o nosso escritor maldito, função que o aludido
desempenha com galhardia e pundonor. E anonimamente, como convém.
Nas palavras do próprio, é “o maior filho da puta vivo” (se é que ainda está vivo, pois o
figurão está há uma porrada de anos para morrer, sem o conseguir).
Encontrei pela primeira vez o nosso Luiz no século passado, na capa da revista Kapa
(soa mal, mas não há outra maneira de dizer), onde, em entrevista, confessava,
desassombradamente, que em matéria de catraias gostava delas novas. E o
entrevistador reconhecia que o “cabrão estava coberto de razão”.
Anos mais tarde acabei por ler na Internet a sua “opus major” – O libertino passeia
por Braga, a idolátrica, o seu esplendor – a excelência da escrita e da Ideia, ao
serviço do carroceiro mais desbragado. Achei que, dificilmente, alguma vez o Pacheco
seria desapeado do trono nacional de escritor maldito, pois a coisa tem perenidade.
O nosso libertino, que fez da mendicidade o seu modo de vida, nunca escondeu que
catalogava os seus amigos, pragmaticamente, por escalões baseados na quantidade
de dinheiro que era seguro cravar-lhes. Tinha amigos de 5, 10, 20, 500 e 1 000
escudos. Ilustrando: fulano era um amigo de 5 “paus” porque se pode cravar-lhe, à
vontade, essa quantia, que ele desembolsa sem chiar, mas, acima disso, népias.
Apesar de ter alguns amigos de 1 000 paus, o Luiz não era tolo de os esfolar
desabridamente. Previdente, reservava-os para as aflições da vida.
Talvez este sistema engenhoso e seguro, pudesse ser plasmado na Lei da Finanças
Locais, sei lá.
Curiosamente, Mário Soares era amigo de 20 paus.
Certo dia, um jornalista sem imaginação perguntou-lhe o que diria aos jovens
escritores que estão a começar.
- Puta que os pariu! – respondeu o Pacheco.
Do melhor!
De maneiras que é assim.

Terça-feira, 17 de Outubro de 2006

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