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AULA 2

ÉTICA E RELAÇÕES
INTERPESSOAIS

Prof. Roberto Luis Renner


CONVERSA INICIAL

Esta aula irá contemplar as ideias e o entendimento sobre ética e moral de


alguns pensadores importantes de nossa história.
Inicialmente trataremos de dois pensadores do Período Moderno:
Benedictus de Spinoza e Immanuel Kant.
Para Spinoza, o ser humano não é o centro de todas as coisas, essa ideia
se baseia no entendimento de que os seres humanos, da mesma maneira que os
outros modos da substância, são formados por extensão e pensamento. Immanuel
Kant, por sua vez, contribuiu com a filosofia ao ter estabelecido dois conceitos: a
razão prática e a liberdade.
Em segundo plano serão trabalhados dois personagens do Período
Contemporâneo da história: Friedrich Hegel e Karl Marx. Para Hegel, o idealismo
absoluto – sistema desenvolvido por ele e contemplado em diversas áreas do
conhecimento – continua exercendo influência atualmente em áreas como a
política, a psicologia, a arte, a filosofia e a religião. Quanto a Marx, para ele a
moral era entendida como uma forma de consciência própria, que se
desenvolveria em algum momento da existência social.

CONTEXTUALIZANDO

Para que possamos compreender os diferentes pensamentos de nossos


dias, precisamos voltar na história e analisar alguns pensadores e alguns fatos
importantes, dado que eles nos darão subsídios para nossas reflexões.
Olhar para a história recente (ou não) é um movimento necessário que todos
precisam fazer, pois, se olharmos com cuidado, poderemos evitar alguns erros
que já foram cometidos. Por isso, primeiramente vamos estudar e buscar
compreender um pouco da Idade Moderna e da Idade Contemporânea, para
depois estudarmos quatro pensadores que influenciaram nossa história e que,
como dissemos, continuam a exercer influência com suas ideias.

TEMA 1 – COMPREENDENDO OS PERÍODOS MODERNO E


CONTEMPORÂNEO

A história da Europa – assim como a do Ocidente – é dividida em períodos.


A Idade Moderna teve início em 1453 – momento em que a cidade de

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Constantinopla foi invadida pelos turcos otomanos (no entanto, há historiadores
que questionam tal data e apresentam outras possibilidades) – e se finda em 1789
com a Revolução Francesa, momento histórico de grande relevância.
A Idade Moderna marcou um período importante na história ocidental,
tendo como característica de grande importância a transição do feudalismo para
o capitalismo. Outro aspecto relevante a ser considerado é que a filosofia
acompanhou todos esses movimentos da história, influenciando e sendo
influenciada pelos acontecimentos. A filosofia moderna tem seu início junto do
início da Idade Moderna, mantendo-se até o século XVIII, quando se inicia a Idade
Contemporânea.
A filosofia moderna aparece nesse contexto histórico questionando os
valores relacionados aos seres humanos assim como os ligados à natureza, com
uma forte base na experimentação e na averiguação.
Diversos valores culturais foram retomados na Idade Moderna, período do
nascimento do capitalismo, pois por meio dele surgiram grandes mudanças na
humanidade – mudanças estas que se estenderam ao longo dos séculos.
Na Idade Moderna destacaremos dois pensadores que influenciaram muito
esse período da história e que deixaram para as futuras gerações um enorme
legado: Benedictus de Spinoza e Immanuel Kant.
Nesses pouco mais de dois séculos da Idade Contemporânea o mundo
passou por profundas transformações nunca antes vistas nos mais variados
âmbitos: social, cultural, religioso, político, econômico, além daquelas mudanças
motivadas por conflitos de amplitude mundial.
A Revolução Francesa, dada a sua importância, nos conduz a refletir sobre
os seus diferentes impactos e seus efeitos em diversos pontos do mundo, dado
que apresentou o poder político que viria a ser característico da burguesia que,
naquele momento, estava em ascensão.
A organização da força política burguesa foi orientada pelo
desenvolvimento econômico capitalista, que no decorrer desse momento histórico
apresentou-se como uma organização econômica adotada em todos os
continentes do mundo. Um aspecto que marcou esse período foi a formação dos
Estados nacionais e dos nacionalismos, que marcaram fortemente diferentes
conflitos territoriais na Europa e nas colônias conquistadas. Vale lembrar que as
guerras mundiais tiveram suas origens no nacionalismo.
O nacionalismo tem como significado a consciência de nação, sendo

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fundamentado no conceito de que se trata de uma ideologia, pois consiste em um
movimento político com o objetivo de gerar a valorização de uma nação,
fortalecendo o sentimento dos cidadãos e os conduzindo à organização.
Na história da humanidade, houve e ainda há grandes transformações,
tanto no campo científico como em outras áreas do saber. Pesquisas em
medicamentos e em procedimentos da medicina promoveram um significativo
aumento da expectativa e da qualidade de vida das populações, porém isso não
ocorre no globo todo, mas apenas em parte dos países e regiões.
Um aspecto importante e que precisa ser destacado é que a
contemporaneidade apresenta uma tomada de consciência dos direitos humanos
– não apenas daqueles já assimilados e registrados em um código legal, mas
também daqueles incorporados pelo ser humano; entretanto, em várias regiões
do mundo esses direitos ainda são violados ou não respeitados suficientemente.
Quando são debatidos temas como racismo, tortura, terrorismo, miséria e
violência, a discussão é direcionada para que os direitos humanos sejam
respeitados a despeito de todos os avanços.
O debate sobre temas polêmicos como eutanásia, aborto, manifestações
religiosas, punição legal, a forma como o ser humano trata os animais e as
responsabilidades de cada indivíduo em relação aos demais cidadãos conduz à
reflexão sobre questões éticas e morais da sociedade, seja ela local, seja ela
global.
Para estudar essas questões e outras mais, destacaremos dois pensadores
que influenciaram muito a história mundial e também deixaram um relevante
legado: Hegel e Marx.

TEMA 2 – BENEDICTUS DE SPINOZA

Benedictus de Spinoza nasceu no dia 24 de novembro de 1632 na cidade


de Amsterdã, capital da Holanda, e veio a falecer no dia 21 de fevereiro de 1677
na cidade de Haia. Ele é considerado na filosofia moderna um dos grandes
racionalistas do século XVII.

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Figura 1 – Busto de Spinoza em Amsterdan (Holanda)

Crédito: Claudine Van Massenhove/Shutterstock.

O racionalismo é uma corrente filosófica que tem como base as operações


mentais cujo objetivo é definir a praticabilidade e a efetividade das questões
apresentadas; surgiu no século I a.C. O racionalismo afirma que tudo que é
existente decorre de uma causa.
A fundamentação das teorias de Spinoza se deu pelo racionalismo radical.
Suas ideias e sua posição crítica surgiram a fim de combater as superstições
filosóficas, religiosas e políticas, pois, conforme seu entendimento, essas
superstições são baseadas na imaginação. Com esse pensamento como ponto
de partida, ele acreditava na possibilidade da racionalidade de um Deus
transcendental e imanente identificado com a natureza, pensamento este
destacado em sua obra Ética.
Spinoza baseou suas ideias na filosofia monista. O monismo, de forma
simplificada, é a doutrina da unidade; sua origem está no pensamento pré-
socrático, que teria contribuído para a explicação do mundo físico ao afirmar que
todos os objetos do mundo são compostos por uma única substância ou elemento.
Diante disso, o monismo entende que existe um único tipo de realidade no mundo:
a realidade material. Essa doutrina vai em direção contrária ao entendimento do
dualismo, dado que este afirma e concorda com a existência de duas ideias
independentes na criação: o espírito e a matéria, e o pluralismo, que se baseia na
diversidade dos fundamentos e das substâncias para poder explicar o universo.
Um aspecto importante salientado por Spinoza é que “Deus” e “natureza”
são nomes diferentes para afirmar a mesma coisa. Para ele, Deus é considerado
a substância primeira: a partir dele todas as outras coisas existentes têm sua
origem; ele entende que Deus é considerado uma substância sui generis, aquilo
que está na origem, e é a fonte de tudo, portanto, todas as outras coisas e seres

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partiram de uma mesma substância.
Uma ideia forte de Spinoza é que para ele não há a separação entre corpo
e alma – aspecto esse presente no pensamento dualista de Descartes – visto que,
em seu pensamento com base no monismo, o mundo físico e o mundo mental
coexistem numa mesma substância. A única substância infinita é Deus.
Entretanto, Spinoza não se refere ao Deus judaico-cristão, pois, para ele, esse
não seria um ser que rege todas as coisas e estabelece sua vontade.
Valendo-nos do pensamento de que existe um Deus – mas não com base
no pensamento judaico-cristão – a ética para Spinoza não se fundamentaria,
portanto, na ideia cristã ou judaica, de que a ordem ética é estabelecida por Deus
e quem não o obedece está fora da sua vontade.
Para Spinoza, a substância tem dois diferentes atributos e podem ser
conhecidos como o pensamento e a extensão. Para ele, a extensão matéria e, por
outro lado, o pensamento, seria aquilo que não é material, como o conhecimento
e as ideias. Uma montanha, para Spinoza, é formada por extensão e pensamento,
no entanto os processos naturais que essa montanha sofre são considerados para
o filósofo como pensamento. Em virtude disso, ele ficou conhecido por defender
uma filosofia sem sujeito.
Um argumento muito importante a ser destacado por Spinoza é que o ser
humano não é o centro de todas as coisas: tal afirmação se baseia no
entendimento de que, da mesma maneira que os outros modos da substância, os
seres humanos são formados por extensão e pensamento. Quando nos referimos
ao pensamento, nos referimos a todo o processo e fenômeno natural que
acontece no universo, não sendo o ser humano aquele que concebe esses
fenômenos. Pois para o filósofo holandês tudo o que existe é independente da
existência do ser humano.
De certo modo, para Spinoza existe um determinismo na existência das
coisas, pois para ele tudo acontece e surge de uma necessidade, pois estas se
dão do modo que devem ser, e não de modo teleológico.
A teleologia é uma doutrina que estuda os fins últimos da humanidade, da
sociedade e também da natureza, e também busca responder o "para quê?" de
todas as coisas. A origem desse pensamento está em Aristóteles, pois, para ele,
as coisas servem a um propósito.
Algo muito claro em Spinoza é que até o comportamento humano é
determinado – o que ele define como ilusão do livre-arbítrio. Outro ponto

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importante salientado por ele: pensar que as coisas foram feitas para o ser
humano e que podemos usá-las da maneira como desejamos e queremos é um
absurdo: Spinoza define esse modo de pensar como um preconceito finalista. No
entendimento do filósofo as coisas se dão numa cadeia de acontecimentos que
não podemos controlar, nem podemos controlar as coisas à nossa volta, e ainda
menos pensar que somos livres para fazermos o que desejamos.
O fato de não podermos controlar o que está ao nosso redor não limita
nossas ações humanas. Isso pode ser observado no argumento do filósofo de que
a felicidade é o objetivo da conduta do ser humano, porém, devemos questionar:
o que é a felicidade? Para o filósofo, a felicidade pode ser entendida como a
presença do prazer e a ausência da dor. Contudo, prazer e dor são categorias
relativas e subjetivas. Para ele, o prazer é a transição de um estado inferior de
perfeição para um estado superior. De maneira oposta, para ele, a dor é a
transição de um estado superior de perfeição para um estado inferior, o que nos
leva a uma gangorra entre prazer e dor.
Para Spinoza, a emoção é boa quando aumenta o poder de ação do corpo,
e é má quando diminui esse poder. Desse modo, segundo ele, a emoção é a
modificação do corpo por meio do poder de ação desse. Com base nessas ideias
podemos salientar que ele fundamenta sua ética não no altruísmo – ou seja, na
bondade natural – mas sim em uma realidade natural que considera o egoísmo
inevitável e justificável à luz da natureza humana.

TEMA 3 – IMMANUEL KANT

Immanuel Kant nasceu no dia 22 de abril de 1724 em Königsberg, na


Prússia Oriental (atual Alemanha). Filho de um artesão de descendência escocesa,
sua educação básica ocorreu em uma escola protestante. Em 1755, graduou- se
em filosofia e matemática na Universidade de Königsberg e logo publicou A
História Universal da Natureza e Teoria do Sol. Ele também lecionou Geografia e
Ciências Naturais em uma escola secundária. Kant foi um grande filósofo, sendo
o fundador da filosofia crítica. É considerado um dos maiores e mais influentes
filósofos do ocidente. No ano de 1770, foi nomeado professor catedrático na
Universidade de Königsberg.

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Figura 2 – Immanuel Kant

Crédito: Nicku/Shutterstock.

Para Kant, alguns aspectos ligados ao homem e à sua natureza foram de


grande valia, pois com base neles muitas reflexões sobre ética e moral foram
produzidas. Este filósofo defendia dois conceitos: a razão prática e a liberdade.
Segundo ele, a razão prática é compreendida como o "[...] agir por dever.
Dessa forma é a maneira de dar à ação o seu valor moral”. Entretanto, para ele a
“perfeição moral só pode ser alcançada por uma livre vontade, ou seja, a
liberdade".
No entendimento do filósofo, Deus não estabeleceria as obrigações morais,
pois estas também não eram fruto dos sentimentos humanos como muitos
pensavam – visto que as regras morais são leis que a razão estabelece. Sendo
assim, o homem ético tem um dever moral, porém esse dever só será alcançado
a partir do momento em que o sujeito decidir praticar os valores morais.
Segundo o filósofo, são as leis morais que conduzem o indivíduo a praticar
o bem: para ele, o agir do ser humano é fruto das leis morais. Dessa forma, Kant
defende que os desejos, as vontades e os interesses do sujeito seriam colocados
de lado. Para Kant, o agir eticamente é um agir que está em conformidade com o
deve moral e é conduzido pela boa vontade, mas sempre motivado pelo respeito
à lei moral, aspecto esse que deu à teoria ética kantiana o direito de ser chamada
de ética do dever.
Para Kant, a moral tem seu fundamento no princípio formalista. Desse
modo o que realmente importa na moralidade de um ato é o respeito à própria lei
moral, e os interesses ou os desejos seriam meramente consequências do próprio

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ato em si. A vontade é guiada pela razão, e assim agiríamos em função de uma
ordem que pode ser chamada de imperativo categórico, o qual é compreendido
como uma ordem orientada ou dada pela razão e tem a função máxima de
conduzir nossas ações.
De acordo com Kant, a vontade humana é afetada pelas inclinações, que
podem ser denominadas como desejos, paixões e medos – questões essas não
oriundas da razão. Desse modo, é importante que o indivíduo seja cuidadoso ao
conduzir ou direcionar sua vontade para alcançar a chamada boa vontade, que
para o filosofo é aquela conduzida pela razão, e não pelas inclinações.
A razão é que determinaria os princípios morais, e estes é que conduziram
o ser humano a praticar aquilo que é bom. Entretanto, uma ação poderia ser
praticada conforme o dever estabelecido, mas sem ser moralmente boa, pois
existe o perigo de que tal ação pode ser motivada por interesses ou inclinações
egoístas, e com isso conduzir as más ações.
As normas morais precisam ser seguidas como se fossem deveres ou
ordens, mas a noção kantiana de dever mistura-se com a própria noção de
liberdade, pois para Kant o sujeito que segue uma norma moral acata a liberdade
da razão. Sendo assim, o valor moral está na intenção da ação e não no resultado,
pois seria a intenção que realmente conta – este seria o princípio primário da ação
humana.
Na concepção do filósofo, as leis morais é que conduziriam o ser humano
a praticar o bem, independentemente de suas vontades ou caprichos. A teoria
ética de Kant tem seu fundamento primário no agir eticamente. Implica um agir
conforme nosso dever moral, motivado pelo respeito à lei moral, guiado pela boa
vontade.
Um aspecto importante salientado por Kant afirma que as obrigações
morais que o homem deve seguir não são determinadas por Deus, e também não
são frutos de nossos sentimentos, pois elas são regras morais ou são leis que a
razão natural estabelece. Um ponto significativo é que o sujeito ético tem um dever
moral, por essa razão deve incorporar e praticar os valores morais.
O ser humano sempre buscou a liberdade, porém o que é a liberdade em
si? Para Kant, o ser humano só se torna livre a partir do momento em que ele se
desvencilha ou se liberta da influência de seus desejos e dos mais profundos
impulsos, e se submete às leis da razão. Dessa forma, o sujeito começa a ser
livre, e a razão determina as regras de sua conduta. Para Kant, a razão é

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suficiente por si só, não dependendo dos impulsos para mover a vontade do
indivíduo. Uma conclusão importante a ser considerada é que a razão humana é
um princípio geral, ou seja, universal e que atinge a todos os seres humanos,
aspecto esse em certo momento complexo, pois desconsidera o meio em que o
sujeito está inserido. A liberdade, para o filosófo, é justamente quando nós temos
o entendimento ou consciência de que estamos agindo segundo a lei moral, e por
essa razão agimos em plena liberdade.
Kant fez uma grande contribuição à história do conhecimento humano, pois
por meio de sua reflexão crítica, ele propõe o questionamento de qual seria o real
papel do ser humano na sociedade, questionando também quais os diferentes
limites desse indivíduo. Segundo ele, o ser humano não é apenas um ser portador
de sentimentos como pensavam os defensores do empirismo –que é a teoria que
afirma que todo o conhecimento é resultado da experiência humana.
Immanuel Kant nos revela que alguns aspectos são inerentes ao homem,
contudo é importante salientar que as respostas do filósofo serão relativas, pois
não existem certezas nem verdades absolutas. Um ensinamento que Kant nos
deixou é que não temos como saber como o mundo é em si, mas podemos saber
de que maneira o mundo se revela para todos os seres humanos, inclusive para
cada um de nós em nosso mundo particular. Diante disso, com base em Kant,
podemos entender que não existe uma só verdade, pois há uma diversidade de
formas pelas quais o mundo se apresenta.
Outro ponto importante é que Kant nos mostra quais são os limites da razão
humana, limites estes que nos impedem de entender alguns aspectos da vida e
da natureza. Ou mesmo nos impedem de compreender algumas questões, como
a origem do próprio homem.

TEMA 4 – FRIEDRICH HEGEL

Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart (Alemanha), no dia 27


de agosto de 1770, e veio a falecer no dia 14 de novembro de 1831, em Berlim.
Ele foi um dos criadores do sistema filosófico chamado idealismo absoluto, que
se caracteriza pela suposição de que a única realidade plena e concreta é de
natureza espiritual.
Hegel estudou no seminário de Tubingana, Alemanha. Ele foi professor de
latim em Nuremberg e ocupou a cátedra na Universidade de Heidelberg e na
Universidade de Humcorsvick, onde lecionou filosofia.
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Figura 3 – Friedrich Hegel

Crédito: Jakob Schlesinger. Domínio Público.

O idealismo absoluto – sistema desenvolvido por Hegel – contemplou


diversas áreas do conhecimento, e exerce influência até os dias de hoje na
política, psicologia, arte, filosofia e religião. A ideia central dessa teoria filosófica
consiste no fato de que contradições e dialéticas são direcionadas para que haja
a criação de um novo modelo, que pode se refletir na alma, nas aspirações e no
estado político. O absolutismo, para Hegel, caracteriza ou representa o último
estado do desenvolvimento da ideia. De acordo com ele, a vida ética é uma
questão de formação acabada, ou seja, é o estado pleno do indivíduo, um estágio
de plenitude da consciência humana em sua capacidade total de renúncia ou de
abstinência das paixões em favor dos valores.
A razão, segundo Hegel, é a realização construída, pois o ser humano é
um ser pensante e, desse modo, ele pode pensar ou refletir sobre seu próprio
pensamento. Dessa forma, o objeto do pensamento é o próprio pensamento, e
com isso é possível afirmar que a racionalidade cria o racional, e a razão é o seu
próprio objeto de pensamento. Essa reflexão mostra a importância do refletir sobre
o próprio pensamento, analisando suas mais profundas causas.
A partir do momento em que conseguimos entender como Hegel via a razão
e o pensamento, logo podemos começar a compreender o entendimento do
filósofo sobre a ética. De acordo com ele, a ética é conceitual – logo pensada como
espírito, e sendo a liberdade um fundamento, a vida ética é que gera a formação,
aspecto este que irá determinar a maneira como o indivíduo agirá em sua vida
comunitária. Para Hegel, a ética tem sua base ou alicerce no absoluto e no controle
dialético da vontade.

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A ética absoluta ocorre a partir do momento em que o indivíduo consegue
chegar a um estado que lhe permite renunciar a qualquer desejo material, dando
total preferência aos valores. Desse modo, o sujeito pode chegar ao aniquilamento
total do desejo ou das paixões, tornando-se assim um indivíduo em pleno
entendimento ético, e atingindo, desta forma, a chamada maioridade racional ao
se entregar a uma espécie de estoicismo. O estoicismo se caracteriza pela prática
de uma ética em que se aniquilam as paixões e há a aceitação total e submissa
do destino, e estas seriam marcas fundamentais do homem sábio.
Para Hegel, a ética traz a concepção de liberdade, ou seja, ser livre é ser
racional, desse modo o indivíduo tem sua responsabilidade diante da sociedade,
o que configura uma prática moral.
Hegel destaca o caráter histórico da moralidade, e assim a moralidade se
apresenta de diversos modos, assumindo diferentes entendimentos ao longo da
história. O que precisa ser destacado é que os valores morais podem variar de
sociedade para sociedade.
Existem várias formas de analisarmos o termo moral. Podemos entendê-lo
como um conjunto de princípios ou orientações que venham a direcionar os
diferentes comportamentos de um sujeito. Um segundo entendimento de moral é
que ela pode ser compreendida como algo pessoal ou individual do sujeito – um
código de conduta pessoal, ou aquilo que a pessoa estabelece para ela ou (às
vezes) para os outros, mas, em primeira análise, é um modo de vida. Moral
também pode ser compreendido como uma boa disposição de espírito, como “ter
ou estar com o moral elevado”, ou seja, esta é uma postura interior do sujeito. A
moral na forma feminina da palavra relaciona-se à dimensão moral da vida
humana, englobando as ações que a pessoa pratica e suas decisões.
Segundo Hegel (1991), “A vida ética deve ser de absoluta identidade da
inteligência, com a plena aniquilação da particularidade e da identidade relativa,
de que só é capaz a relação natural”. Conforme o autor, a ética é fruto da
racionalidade humana, dado ela ser fruto da inteligência. Diante disso, vale frisar:
no entendimento de Hegel, para que a ética seja contemplada, importa a
aniquilação dos sentimentos do sujeito.

TEMA 5 – KARL MARX

Karl Heinrich Marx nasceu em Trier, no Reino da Prússia, no dia 5 de maio


de 1818, e faleceu na cidade de Londres (Inglaterra), no dia 14 de março de 1883.
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Marx era o filho mais novo de uma família judaica de classe média. No ano de
1841, em Iena, concluiu seu doutorado em filosofia escrevendo a tese “As
diferenças da filosofia da natureza de Demócrito e de Epicuro”.
O artigo sobre a crítica da filosofia do direito, de Hegel, primeiro esboço da
interpretação materialista da dialética hegeliana, foi um dos primeiro trabalhos
escritos por Marx.
A sagrada família, trabalho que versava contra o hegeliano Bruno Bauer e
seus irmãos, foi escrito por Marx e Engels no ano de 1845. Outra obra importante
foi A Ideologia alemã (1845-46), entretanto esse trabalho sofreu censura e só pôde
ser divulgado em 1932. Sua última obra foi O Manifesto Comunista, de 1847, obra
conjunta de Marx e Engels.

Figura 4 – Karl Marx

Crédito: Everett Historical/Shutterstock.

Após ter se estabelecido em Bruxelas, Marx passou a fazer parte de


organizações clandestinas de operários e exilados. Em 24 de fevereiro de 1848,
Marx e Engels publicaram o folheto O manifesto comunista, primeiro esboço da
teoria revolucionária que, mais tarde, seria chamada de marxismo.
O primeiro volume da sua obra principal, O capital, foi publicado no ano de
1867. Esse livro apresenta uma base fundamentalmente econômica, resultado
dos estudos no British Museum, tratando da teoria do valor, da mais-valia, da
acumulação do capital etc. Entretanto os volumes II e III desse livro foram editados
por Engels, em 1885 e em 1894, e o volume IV foi publicado por Karl Kautsky de

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1904 a 1910.
Para Marx, a moral é compreendida como uma produção social que tem
por objetivo atender uma determinada demanda social, sendo uma espécie de
regulador das relações sociais. A moral seria entendida como uma forma de
consciência própria, que se desenvolve em um momento da existência social.
As normas morais derivam da existência social, e tais normas são
fundamentadas ou embasadas em valores não absolutos – e dado que tais valores
não são absolutos, eles, portanto, não valem como forma universal. Um aspecto
importante a ser salientado é que as relações sociais se transformam ao longo da
história, e isso acontece com o ser humano e com suas moralidades.
Para a manutenção da organização social vigente e a moral ideológica, são
determinados os valores que são necessários. Entretanto esses valores
privilegiam interesses da classe dominante, pois foram por ela estabelecidos.
De acordo com Marx, a moral é portadora de uma consciência própria que
faz parte de cada etapa do desenvolvimento da sociedade, ou seja, esta vai se
transformando e desse modo sua moral também pode ser transformada ou
alterada. As normas morais consistem no que estabelece e direciona as ações do
indivíduo, sendo as ações derivadas da existência e da experiência.
Os valores que servem como balizadores das normas que regem as
relações sociais não absolutos nem universais, pois mudam de sociedade para
sociedade e de tempos em tempos. Dessa maneira, podemos concluir que a moral
é determinada por diversos fatores e constituída por diferentes valores.
A ideologia tem uma tarefa importante na divulgação desses valores, pois
ela estabelece quais são ou os quais não são os valores que a sociedade irá
assimilar e seguir. Essa ideologia estabelecida é que irá dar o padrão daquilo que
é correto ou não, dessa maneira será aqui estabelecida a fundamentação
ideológica da moral.

Saiba mais
A ideologia é uma ciência que foi proposta pelo filósofo francês Destutt de
Tracy (1754-1836), que atribui a origem das ideias humanas às percepções
sensoriais do mundo externo, e a ideologia pode estar ligada às ações políticas,
econômicas e sociais.

Para Hegel, ideologia é a separação da consciência em relação a si


mesma. Marx utilizou essa concepção de Hegel, e com isso trabalhou dois
diferentes entendimentos: o primeiro expressa a ideologia como causadora da
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alienação do ser humano, e o segundo mostra a ideia de que uma superestrutura
é composta por diversas representações. Isso marca definitivamente a entrada da
ética no período contemporâneo. Um aspecto salientado por Marx e que merece
ser observado é a diferença entre o materialismo dialético e o materialismo
histórico. Em primeiro lugar, faz-se necessário entender o significado do
materialismo: este deve ser compreendido como um sistema que admite as
chamadas condições concretas materiais como suficientes para explicar todos os
fenômenos que são investigados – mesmo os fenômenos mentais, sociais e
históricos.
Para o materialismo a matéria é a fonte da consciência, a qual se pode
refletir a respeito. Entretanto, no entendimento de Marx, o materialismo é dialético:
ele parte da ideia de que os fenômenos materiais são frutos de diferentes
processos. Desse modo, podemos entender que o mundo não é uma realidade
nem estática, nem permanente – como um objeto que necessita de uma força
externa para ser movido – mas algo dinâmico, em plena transformação, numa
complexidade de processos. Desse modo, Marx conclui que a abordagem da
realidade somente poderá ser realizada com base na dialética.
Para o filósofo, o materialismo apresentado considera que a infraestrutura
determina a superestrutura, que se configura de forma dialética; assim sendo, o
homem pode conhecer a realidade e naturalmente irá agir sobre ela.
Podemos entender e compreender que o materialismo histórico é
simplesmente a aplicação do materialismo dialético na história. Para muitos, a
história se explica pela ação dos grandes homens e da intervenção divina.
Entretanto, para Marx, a luta de classes se apresenta pela infraestrutura, ou seja,
pela maneira como o homem produz os bens de consumo e também pela
superestrutura, que nada mais é do que a estrutura jurídica e política e a ideologia,
aspectos estes que estabelecem a história.
Segundo Karl Marx, a ética é compreendida como uma produção da
sociedade cujo objetivo é suprir uma determinada demanda, a qual busca a
regulação das relações na sociedade. É importante salientar que as relações
sociais se modificam. Portanto, não podemos esperar que as relações sociais que
existiam no Brasil Colônia sejam as mesmas nos dias atuais – isso se deve a
vários aspectos que repercutem na sociedade.
A ética tem um papel extremamente importante no projeto marxista, pois
toda a sociedade idealizada por Marx, como sua crítica nos mostra, não é

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fundamentada em uma nova proposta ética, mas sim na busca pela ética, devido
ao fato de que ela serve como fundamento de crítica.
Vídeo
Assista ao vídeo “Ética” narrado pelo professor de filosofia Renato Janine
Ribeiro. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=pQKw_s2s4TM>.
Acesso em: 5 ago. 2017.

FINALIZANDO

Nessa aula foram abordados aspectos importantes da Idade Moderna e da


Idade Contemporânea que marcaram e ainda marcam nossa história.
Foram também apresentados quatro grandes pensadores que vieram a
contribuir muito para o pensamento ocidental, sendo eles: Benedictus de Spinoza,
Immanuel Kant (Idade Moderna), e Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Karl Heinrich
Marx (Idade Contemporânea). A contribuição desses pensadores foi e ainda é
muito influente em grande parte do mundo atual.

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REFERÊNCIAS

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