Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Práticas de
Negociação
São Paulo
Rede Internacional de Universidades Laureate
2015
Sumário
Capítulo 3: O planejamento da Negociação--------------------------------------------------- 5
Introdução------------------------------------------------------------------------------------------- 5
1 Antes da Negociação---------------------------------------------------------------------------- 6
1.1 O Objeto da Negociação-------------------------------------------------------------------- 6
1.2 A MAANA e o Limite Mínimo----------------------------------------------------------------- 6
1.3 Como Conhecer a Outra Parte------------------------------------------------------------ 11
1.4 O Tripé de Sustentação das Negociações------------------------------------------------ 13
2 A Condução das Negociações--------------------------------------------------------------- 16
3 O Fechamento das Negociações------------------------------------------------------------ 19
Síntese--------------------------------------------------------------------------------------------- 21
Referências Bibliográficas----------------------------------------------------------------------- 22
Capítulo 3 O planejamento
da Negociação
Introdução
Qualquer tipo de relacionamento humano envolve visões e interesses distintos. Isso leva as
pessoas a posições divergentes. Por outro lado, a informação e o poder se encontram esparsos;
do contrário, não se teria uma negociação real, apenas imposições.
Sem uma visão clara da situação, aquele objetivo não é alcançado; pode-se atacar o problema
“errado”, assumir uma posição desvantajosa ou, no mínimo, alcançar resultados menos
favoráveis. Ao conjunto de iniciativas que permitem a construção dessa visão clara se dá o nome
de preparação da negociação.
É importante ressaltar que cada uma das fases seguintes não é totalmente desvinculada das
demais, havendo influência de cada uma sobre todas as outras. Mas uma abordagem passo a
passo pode ajudar na montagem do quadro geral da negociação que se iniciará em breve.
Imediatamente a seguir virão as considerações sobre o que se está negociando. E isso tudo deve,
preferencialmente, acontecer antes de se encontrar a contraparte pela primeira vez.
5
O Planejamento da Negociação
1 Antes da Negociação
Uma negociação exige preparação! Isso é quase falar o óbvio, mas o óbvio costuma ser esquecido
em momentos de pressão e, não raro, negociações ocorrem em tais circunstâncias, portanto
destacar obviedades não é algo inútil.
Mas, mesmo começando por uma consideração tão simples, há de se salientar o que se deve
focar na fase de preparação da negociação, isto é, antes mesmo de nos encontrarmos com a
outra parte interessada no negócio. Nas seções a seguir, mostraremos os principais pontos a
serem considerados nessa preparação.
Mas conhecer o objeto da negociação vai além de simplesmente nominá-lo: é preciso que se
estabeleça um contorno sobre ele, que inclui:
• As competências e habilidades que se tem para realizar aquilo que for possivelmente acordado;
• O nível de qualidade da solução aceitável;
Com essas considerações em mente, pode ser simples conduzir a futura negociação para uma
solução mais favorável aos interesses do negociador.
Quando um vendedor tem alternativas para o fornecimento de uma solução para a necessidade
de um cliente, antes da negociação, deve ter em mente qual produto já está no estoque.
Problemas com o fluxo de caixa (por exemplo, a necessidade de realizar uma compra associada
especificamente àquela venda) ou o prazo de entrega de seus fornecedores podem inviabilizar
a transação comercial. Sabedor disso, o vendedor poderá ressaltar as vantagens da solução já
incorporada ao seu estoque, conduzindo a venda para um acordo mais vantajoso e fácil de ser
cumprido, sem deixar de atender às necessidades expostas pelo cliente.
O que nos leva a negociar com certa pessoa ou organização é que nos apresenta condições mais
vantajosas em relação a outras alternativas. Em raros casos temos apenas uma alternativa para
estabelecer um termo de negociação, tampouco uma única pessoa capaz de nos atender. E o
trato com cada uma dessas pessoas é, em princípio, uma negociação diferente.
Se, por alguma razão, em uma das alternativas a negociação não chegar aos termos projetados
inicialmente, revelando-se desfavorável para o negociador, este poderá retomar sua conversação
com outra pessoa ou organização. Essa segunda alternativa caracteriza sua MAANA em relação
à primeira opção.
Cumpre ressaltar que se deve buscar conhecer a MAANA da outra parte. Conhecê-la pode:
• Proporcionar uma melhor valoração de uma oferta inicial da outra parte, em função do que se
avaliaria serem suas possibilidades de oferecimento;
• Evitar que se aceite termos desvantajosos, durante o calor da negociação, por falta de uma
avaliação criteriosa da nossa posição;
• Poupar tempo numa negociação onde haja total incompatibilidade entre as MAANAs de cada
parte.
No entanto, a habilidade do negociador pode fazer surgir alternativas que a avaliação inicial da
MAANA pode deixar escapar. Teddy Roosevelt, em sua campanha pela presidência dos Estados
Unidos, enfrentou um problema dessa natureza. Com a campanha toda preparada e o material
de panfletagem impresso, deparou-se com uma situação grave. Pouco abaixo da sua foto foi
impresso o nome do fotógrafo que a fez.
Com os panfletos já impressos e a campanha já iniciada, havia duas alternativas: pagar pelos
direitos de uso da foto feita pelo fotógrafo, claramente identificado, ou abandonar o material e
produzir outro. Um levantamento ainda fez piorar o cenário: o fotógrafo se encontrava em uma
situação difícil e, certamente, só consideraria a hipótese de ser “bem” remunerado pelo uso de
seu trabalho.
Mas há que se estabelecer uma relação entre a MAANA e os termos mínimos (limite mínimo)
aceitáveis dentro da negociação. Não existe necessariamente uma correspondência entre os dois
conceitos.
7
O Planejamento da Negociação
O limite mínimo – também chamado de base mínima ou preço de reserva – pode variar caso
a caso, ficando ora acima, ora abaixo da MAANA. Na maioria das situações, o limite mínimo
se situa abaixo da MAANA, considerando, por exemplo, os custos envolvidos na retomada da
negociação, a partir do zero, com outra parte.
Nesses casos, é possível usar um diagrama para demonstrar o processo de avaliação das
propostas recebidas.
Analisar
Nova Proposta
Proposta >=
MAANA
Não
Não
Sim
Não
Encerrar
Formalizar Acordo
negociação
Fonte: Autor.
Mas sua melhor alternativa à negociação de um acordo pode variar com o tempo. Por isso se
deve:
• Listar alternativas;
• Priorizar as possibilidades;
Com relação a este último item, lembre-se de que o blefe é algo perfeitamente cabível em uma
negociação. No entanto, seu uso repetitivo lhe enfraquece o efeito e tenta a outra parte a “pagar
para ver”. É responsabilidade do bom negociador saber avaliar quando este risco é aceitável e
“forçar a mão”, submeter-se às condições propostas ou abandonar a negociação, preservando-
se.
Situações como a que foi descrita ocorrem frequentemente. Por isso, é muito recomendável que,
por exemplo, num processo de compra, você continue estudando fornecedores ou compradores
alternativos, dependendo do seu interesse em comprar ou vender.
Mas cuidado com o que se costuma chamar de matemática inversa: julgar que suas propostas
são mais valiosas que as da outra parte. Como tudo depende da percepção de cada negociador,
mesmo uma excelente vantagem pode não tocar o coração de quem está do outro lado da mesa.
É preciso que se procure descobrir qual a MAANA do outro. Isso pode ser feito através de:
• Investigação sobre o aquecimento do mercado em relação à operação que você esteja fazendo;
• Busca de pessoas na sua rede de contatos que possam dar “dicas” sobre a outra parte.
Feito isso, trabalhar ativamente para diferenciar a sua e enfraquecer a dos outros.
Voltemos ao limite mínimo. Existem diversas bases possíveis de adotar para fixá-lo: valores
praticados pelo mercado, interesses em desdobramentos futuros da negociação que podem lhe
ser atraentes, ou simplesmente a sua capacidade de investir. Qualquer que seja a base adotada,
o limite mínimo pode oscilar acima ou abaixo da MAANA. O próximo diagrama demonstra isso
e introduz o conceito de zona de acordo provável (ZAP).
9
O Planejamento da Negociação
Fonte: Autor.
O diagrama sugere que seu limite mínimo possa oscilar em torno da MAANA, como dissemos
anteriormente. E as razões para isso podem ser muitas:
Fonte: Autor.
• Permuta da responsabilidade pelo transporte do bem negociado (frete por conta do comprador
passa a ser assumido pelo vendedor).
Consideremos uma negociação com uma empresa. Novamente se podem consultar fontes
do setor, buscando informações tanto sobre a pessoa do negociador quanto sobre a própria
instituição que representa. Alguma pesquisa em publicações especializadas também pode ajudar.
Minimamente se deve visitar a página de internet da empresa, procurar conhecer o perfil de seus
clientes e fornecedores, assim como seus principais concorrentes.
Algumas empresas divulgam sua estratégia corporativa declarada, que pode ser validada
com suas últimas iniciativas no mercado: aquisições, descontinuidade de linhas de produção,
investimento ostensivo em novas tecnologias etc. O conhecimento da orientação corporativa
presente pode ajudar a avaliar a transparência do discurso que venha a ser adotado na mesa de
negociação: existiriam objetivos mais amplos que não queiram divulgar?
Pode inclusive permitir uma melhor avaliação da importância do acordo presente, da urgência
desse acordo, da força de suas propostas e da distância entre as ofertas apresentadas e os limites
a que podem chegar.
Examinar relatórios anuais – seu desempenho financeiro – e saber a quanto tempo a empresa
existe também é algo relevante para se avaliar a segurança que teremos em lidar com tal
organização.
Por outro lado, fazer considerações sobre a cultura da organização pode lhe ajudar a adequar o
nível de formalismo que deverá ser adotado durante a negociação.
Esse exercício de entendimento da outra parte não se encerra logo que se iniciam os contatos
para estabelecimento de um acordo específico, mas deve continuar durante todo o processo,
buscando um entendimento cada vez maior da outra parte e do que está em jogo.
11
O Planejamento da Negociação
Em certo ponto, mencionei que tinha adotado um filho recentemente. Imediatamente a pessoa
com quem estava lidando respondeu ser ela mesma um filho adotado, fato que eu desconhecia
totalmente. Sua postura começou a mudar, tornando-se mais receptiva às minhas argumentações,
sem perder ela própria a objetividade nem abandonar as bases de seu posicionamento inicial.
Mas ficou claro que a convergência para um acordo favorável a ambas as partes foi facilitada
pela identificação de experiências pessoais afins, estabelecida nos primeiros instantes de nosso
contato. No final, ganhamos todos.
Falaremos mais sobre o protocolo a ser adotado no início da negociação em outro ponto deste
texto.
Pelo que foi dito até agora, é de suma importância que se avalie o negociador do outro lado, que
se antevejam suas predisposições e gostos. Isso nos permitirá um melhor exercício de projeção,
colocando-nos no lugar do outro e investigando-lhe a disposição. Isso pode ser feito pela
observação ou investigação de:
• Sua origem pessoal, o que permite que se lhe infira os valores pessoais;
• Sua formação acadêmica, o que permite que se lhe entenda a estrutura de pensamento;
• Sua experiência profissional, o que permite que se lhe avalie a competência e o tipo de
problemas que está acostumado a enfrentar;
• Seu tempo de trabalho dentro da organização e sua reputação, o que pode dar a medida da
influência pessoal que seu oponente possa ter sobre a negociação.
• Sua orientação política e religiosa, o que nos permite um posicionamento mais cuidadoso
quando temas polêmicos forem casualmente comentados;
• Seus trabalhos voluntários, o que permite que se avalie sua predisposição para colaboração
em diferentes cenários;
• Sua estrutura familiar, que lhe revelará ainda mais os valores pessoais;
• Seus hobbies e gostos, o que permitirá o estabelecimento de uma conversação mais descontraída
e interessante nos instantes de pausa.
Outro ponto a considerar é o nível de autoridade dos negociadores: tanto o seu próprio quanto
o do seu oponente. Isso pode lhe dar uma visão do que esperar em relação a interrupções no
processo de negociação para a busca de apoio na concessão de ofertas ou de aceitação das
propostas recebidas.
Se seu nível de autoridade for maior que o do oponente, pode esperar que algumas de
suas propostas não possam ser prontamente aceitas. Em contrapartida, as propostas do outro
lado podem vir acompanhadas da condicionante aprovação de terceiros, que naturalmente estão
fora da mesa. Isso pode ser uma estratégia da outra parte.
Você tem algumas alternativas nesse caso. Entre elas, forçar que uma pessoa com maior poder de
decisão esteja presente na negociação. Mas também pode tirar proveito da situação, explicitando
que suas próprias ofertas não deverão ser tomadas como definitivas, mas sim como alternativas
Se seu nível de autoridade for menor que o do oponente, também existem considerações
a fazer. Primeiramente, deve deixar claro que sua posição em relação ao negócio não é
necessariamente a posição que será adotada pela organização. Isso lhe dá margem para uma
tática do tipo “good cop – bad cop” (policial amigo – policial durão). Outro ponto é que, em
se apresentando como uma pessoa com autoridade restrita, pode levar a outra parte a um
posicionamento menos formal e mais transparente. Esse último efeito pode levar pessoas que
têm o poder de decisão a declararem o contrário, pelas vantagens que esta iniciativa pode trazer.
Quanto à troca de informações, especialmente em relação aos seus limites mínimos ou o nível
de recursos de que dispõe, um especial cuidado deve ser tomado quando quem realmente dá a
palavra final não está do outro lado da mesa. Ao expor sua condição limite, a outra parte pode,
aproveitando a interrupção para consulta a outrem, voltar com uma estratégia que lhe coloque
em desvantagem a partir daí. Por essa razão, a troca de informações nesse cenário deve ser feita
com muito critério, procurando-se preservar argumentos ou propostas mais arrojadas para a fase
final da negociação.
Já que o processo de negociação é tão crucial para as empresas quanto o ar para o ser humano,
é preciso lhe estudar as grandezas fundamentais: informação, poder e tempo.
Fonte: Autor.
13
O Planejamento da Negociação
Quanto mais original e inesperada for, maior a desorientação que pode proporcionar a quem
a recebe. Enquanto seu impacto é absorvido, a outra parte pode melhorar seu posicionamento
significativamente. Certezas podem ser abaladas, outros fatores relevantes ainda não apreciados
podem “desmontar” estratégias já adotadas e toda uma vantagem pode ser revertida em favor
da outra parte.
Um exemplo do efeito da divulgação progressiva de dados mais precisos sobre a opinião das
pessoas pode ser observado na pesquisa de opinião pública sobre a conveniência do impeachment
do presidente Nixon, dos Estados Unidos, em 1974 (ROPER, 2014). Mil e seiscentas pessoas foram
entrevistadas, e a entrevista se repetiu à medida que novos fatos eram revelados ao público. O
quadro a seguir mostra a evolução da aprovação do impeachment.
Outro exemplo, ligado ao nosso dia a dia, foi o plebiscito referente à proibição da compra de
armas pelo cidadão brasileiro, ocorrido em 2005. Inicialmente as pesquisas indicavam uma
propensão da população pela proibição. Na medida em que os debates foram evoluindo e mais
informações foram fornecidas sobre o resultado de iniciativas semelhantes pelo mundo afora, a
tendência se reverteu, com uma significativa vantagem final a favor da manutenção do direito do
cidadão brasileiro a comprar legalmente armas de fogo.
As fontes de informação são diversas, algumas já citadas neste texto. Ressalta-se aqui mais uma
alternativa, a ser adotada quando se disponha de tempo para tal: o ativismo eletrônico.
A segunda base do tripé das negociações é o poder. Segundo Sparks (2001), o poder:
• É a força que permite impor uma posição sobre a outra, sem levar em consideração seus
méritos relativos;
• É a capacidade de exercer a própria vontade sobre os outros, sem considerar seus cargos ou
autoridades relativas;
• É a capacidade de influenciar outros a fazerem o que talvez não fizessem, na ausência dessa
influência.
O quadro a seguir apresenta exemplos de fontes de poder. Observe que alguns poderes
circunstanciais se tornam inatos ao negociador, mas só constituem um real diferencial quando
utilizados em negociações que demandem aquele tipo de habilidade, conhecimento, vivência
etc. Daí serem classificados como circunstanciais.
Fonte: Autor.
15
O Planejamento da Negociação
Uma primeira observação sobre essa variável diz respeito à maneira como as pessoas utilizam
seu tempo. Fisicamente falando, o tempo passa no mesmo ritmo para todos os indivíduos, mas a
maneira como eles utilizam-no varia baseada em preferências pessoais.
Existem pessoas que não funcionam sob a pressão do tempo. Quando este é escasso, conseguem
gastar todo o tempo de que dispõem se preocupando com o que fazer e produzindo pouco ou
quase nada. Outras pessoas, no entanto, são mais produtivas quando têm pressões ligadas
ao tempo. Essas pessoas, conscientemente ou não, postergam o início de atividades até a
proximidade de esgotamento dos prazos de execução porque esse tipo de excitação lhes aguça
os sentidos e a criatividade.
Especificamente com relação às negociações, o tempo tem influência quase que padrão sobre
os seguintes aspectos:
• A maior parte das concessões e acordos ocorre no fim do prazo para a negociação, ou depois
dele;
• Em uma negociação litigiosa, a melhor estratégia é não revelar o seu limite de tempo para a
outra parte;
• O outro lado, ainda que pareça calmo, sempre tem um tempo limite;
• Ações precipitadas são tomadas por negociadores inexperientes ou quando se percebe estar
garantida uma vantagem impossível de ser ignorada, muitas vezes colocada na mesa para tentar
ou desestruturar o oponente.
Outro ponto importante a considerar é que as pessoas são mais suscetíveis à pressão do tempo
quando negociam interesses de terceiros. Negociadores ficam mais combativos e chegam a
situações de impasse com mais frequência quando as questões sobre a mesa envolvem
fundamentalmente os interesses de suas organizações, e não seus próprios interesses. O contrário
também se observa: quando os negociadores negociam em causa própria, tendem a ser mais
colaborativos e sofrem menos com a pressão do tempo, já que são os “seus” interesses que estão
em jogo. Nesse caso, em geral, buscam utilizar todo o tempo disponível para a negociação e,
muitas vezes, ir além do prazo que seria razoável.
Para se entender essa diferença, pense em alguém que, em diversas ocasiões, esteja comprando
algo para si e algo para a empresa em que trabalha: embora as bases de avaliação de cada
negócio possam ser as mesmas, no primeiro caso se observa, em geral, uma menor preocupação
relativa com a duração da negociação.
A observação da influência do tempo sobre a outra parte pode revelar empecilhos, desvantagens
ou impedimentos de que se pode tirar proveito em prol de melhores resultados.
Como cada parte está disposta a alcançar seu objetivo, da maneira que lhe for mais favorável,
Costuma-se dizer que as negociações podem ser conduzidas segundo dois enfoques: o ganha-
ganha, em que se chega a um acordo em que os interesses de cada parte são atendidos, quase
nunca na mesma proporção e praticamente nunca na sua totalidade; e o ganha-perde, em que o
objetivo é se estabelecer uma posição de alta competitividade, em que prevalece o descaso em
relação às propostas alheias e o posicionamento impositivo do interesse próprio.
Parte das considerações sobre os reposicionamentos já foi tratada quando falamos dos perfis dos
negociadores e de como reagir a eles. Mas existem outros fatores a se considerar.
Uma das primeiras coisas a se observar é a manutenção de nossa MAANA. A MAANA não se
mantém estável ao longo de toda a negociação: circunstâncias externas podem alterá-la, assim
como a ação da outra parte. Portanto, o acompanhamento da nossa MAANA não deve ser
relevado.
Não se preconiza que isso deva ser feito, mas se pode provocar esse desgaste da outra parte com:
O negociador deve estar atento a esses sinais e se defender, na medida do possível, dos seus
efeitos. Maslow (2003, p. 78) nos diz que a criatividade pode ser considerada como a “atividade
mental organizada, visando obter soluções originais para satisfação de necessidades e desejos”.
E criatividade não deve faltar nessa hora. Levar algo para ocupar o tempo de forma produtiva
durante os atrasos ou interrupções das reuniões é uma das alternativas para combater o estresse
causado por esses eventos. Outra posição mais forte é se retirar de forma polida, indicando que
outros compromissos estão ocupando nossa agenda à frente, o que nos impede de continuar por
tempo indeterminado um encontro que estoura seu prazo esperado de realização.
É claro que esse posicionamento deve estar condicionado ao nível de interesse próprio e
necessidade dos resultados a serem obtidos. Em algumas situações não se tem alternativa se não
se submeter ao “processo de moagem” a que nos submete a outra parte. Mas, mesmo nesses
casos, a constante recapitulação dos nossos objetivos nos permite passar pela experiência de
forma menos desconfortável. Algumas pessoas afirmam que Disney teve mais de 60 negativas
de financiamento para seu projeto, antes de poder conseguir fundos para a Disneylândia. Mas
certamente ele sabia o que queria e mantinha isso em mente a cada nova tentativa.
17
O Planejamento da Negociação
Neste primeiro encontro, não ir direto ao tema central da negociação é uma estratégia válida.
Temos, com isso, a oportunidade de sentir o “clima” existente e avaliarmos como chegar ao
assunto de forma mais adequada. Pedir um aumento ao superior no momento em que ele acaba
de sofrer um contratempo é um exemplo de situação onde tudo está contra nós. Sempre que
possível, teste o moral da outra parte antes de começar a negociar.
Manter a outra parte em movimentação constante é outro ponto que não deve ser desconsiderado.
Quanto mais trabalho se proporcionar à outra parte, menos tempo lhe deixa para usar estratégias
que nos possam dificultar resultados. Pedidos de mais dados, comprovações de informações,
confirmações de posicionamentos são igualmente necessários e oportunos para nos propiciar
segurança e menor grau de exposição a riscos.
Lembre-se de que a negociação é um processo cujas estratégias são empregáveis por ambas as
partes. Assim, pode-se considerar que a observação de estratégias alheias, juntamente com o
desenvolvimento de nossas próprias estratégias, é um estorvo. Ou se pode considerar tudo isso
algo lúdico e prazeroso como um jogo. Os melhores negociadores consideram as negociações
segundo esta última visão: sendo sérios, se divertem com o processo.
Vários são os pontos que ainda se pode destacar como merecedores de atenção na condução
das negociações, mas algo que deve ser particularmente observado são os questionamentos
e a possibilidade de uso de blefes. A melhor alternativa nesses casos é postergar, sempre que
possível, qualquer resposta atrelada a essas situações. Uma forma elegante de fazê-lo é dizer
que o que foi levantado é de tal importância que merece mais atenção do que uma resposta
rápida que pode ser “imprecisa e leviana”. Por isso seria necessário tempo para apresentar nosso
posicionamento.
O que parece o final das negociações nem sempre o é. Após o aceite da outra parte, se queremos
ser negociadores eficazes e efetivos, ainda temos muito a realizar.
Ao primeiro sinal de que chegamos a uma solução dentro de nossos objetivos, devemos conduzir
a negociação para um acordo formal. Isso não garante a possibilidade da outra parte desistir do
que foi acertado, mas lhe impõe um desgaste maior após a assinatura do acordo. Desgaste este
que inibe boa parte dos recuos desejados.
Uma vez assinado o acordo e mesmo na sua preparação, cale-se! Parece estranho, mas não
é. Um presidente de uma grande empresa multinacional narrou que em uma de suas primeiras
experiências no começo de carreira, quando fechou finalmente sua primeira venda, em uma
concessionária de carros, ficou tão entusiasmado que não parava de falar dos ganhos que o
comprador obteve, o que incluía um porta-malas capaz de levar uma barraca de camping. O
cliente cancelou a venda! Ele não tinha atentado para o tamanho do carro e, depois de confirmar
a medida, chegou à conclusão de que ficaria apertado em sua garagem. Maldito porta-malas!
Maldita língua solta!
Qualquer sinalização de falha no seguimento das fases previstas no acordo deve nos motivar
a agir. Se for uma possível falha nossa, antecipar o problema à outra parte pode torná-lo no
mínimo aceitável, pela oportunidade que se dá ao outro de se preparar para um contratempo. Se
for uma falha do outro lado, é nossa obrigação retomar o contato com a outra parte, a fim de
garantir aquilo que efetivamente foi conquistado ou retomar um processo que naquele instante
pode estar sendo reaberto!
A negociação não se encerrará quando todas as etapas previstas forem cumpridas. Ainda há algo
mais.
Começamos dizendo que é necessário autoconhecimento para que se garanta a efetividade das
negociações. Isso não acontece em insights, embora muitos creiam nisso. Em geral, é fruto de
inventários constantes de todos os processos de negociação de que se tenha participado.
Assim, a negociação deve ser encerrada com uma recuperação dos pontos mais relevantes do
processo, onde se destacam:
19
O Planejamento da Negociação
• O tripé de sustentação das negociações: informação, poder e tempo; e como tirar vantagens
de seu domínio.
21
O Planejamento da Negociação
Referências Bibliográficas
FISHER, R.; URY, W. Como chegar ao sim: a negociação de acordos sem concessões. Rio de
Janeiro: IMAGO, 1985.
ROPER. The American Public’s Attitudes about Richard Nixon Post-Watergate. ROPER
Center, Connecticut, August 2014. Disponível em: <http://www.ropercenter.uconn.edu/the-
american-publics-attitudes-about-nixon-post-watergate/>. Acesso em: 19 jun. 2015.
SEBENIUS, J. K. Six habits of Merely Effective Negotiators. Boston, MA: HBS Publishing
Corporation, 2001.