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AVALIAÇÃO I

Nota: 2,0
Questão 1 (valor: 2,0) – Extensão mínima e máxima da resposta: 500 a 1000 palavras.

No percurso da disciplina, desde Odradek de Franz Kafka até os argumentos teóricos de


Jonathan Culler, vimos que a noção de Literatura tem uma instabilidade constitutiva.
Do mesmo modo, a noção de Teoria, também tematizada por Culler, opera sobre
parâmetros móveis. Relacionando as referências sobre essa discussão, produza um texto
abordando ao menos duas definições de Literatura oferecidas por Culler, mostre suas
insuficiências para determinar o que é o literário, e reflita sobre o papel que a Teoria
Literária desempenha no estudo de seu objeto.

R. Em relação ao que é teoria, Culler (1999) tem uma concepção extremamente simplista,
como se a teoria ou a busca pela definição de teoria fosse buscar saber quem ou o que é
Odradek em Kafka, como se fosse algo inútil, incógnito, porém, desinteressante. Só bastasse
saber que existe e que está lá, ou não está. Apesar dele reconhecer as diferenças entre textos
literários e não literários, a importância de defini-los é irrelevante para Culller (1999), pois
tanto faz estudar um ou outro. Ainda que eu entenda e concorde, em partes com algumas
dessas concepções relacionadas ao extremo dos estudos de teorias que, às tantas, acabam
sendo irrelevantes em alguns pontos, não acredito que o estudo teórico e a definição do
literário ou não literário ou da literariedade dos textos seja, de fato, sem importância. Acredito
que entender o literário e a teoria é um complemento do conhecimento acerca desse tema que
se engloba a diversos outros estudos de outras esferas de conhecimento e que, apenas
entendendo, em partes ao menos, o que é teoria ou sobre qual perspectiva se estude
determinada teoria é que se pode chegar àquilo que os filósofos céticos chamam de
tranquilidade da alma, a sképsis que começa a partir da inquietação com as incoerências do
mundo.
Além disso, Culler (1999) segue uma linha de raciocínio como se todos os teóricos que
abordam a questão da teoria ou “do que é literatura” estejam engajados na grande descoberta
das Ciências Humanas. A verdade é que essa inquietação com a dificuldade de definir teoria e
de se definir literatura, ou o que é ou não literário, é bastante progressista, ao meu ver, pois a
trajetória da investigação e dos diversos pontos de vista sobre o tema, trazidos ao longo do
tempo, contribuem para que se agregue conhecimentos outros a áreas correlatas como
Antropologia, Sociologia, Psicanálise, Linguagem etc.
Enfim, a investigação trouxe, por exemplo, a concepção de que há um conceito extremamente
importante que é o de literariedade, onde é possível reconhecer textos considerados literários
com pouca literariedade ou textos considerados não literários com uma carga considerável de
literariedade.
Concluindo, teorizar sobre o que é ou não teoria é a metalinguagem da investigação, é
adentrar o conhecimento através do próprio conhecimento, é, acima de tudo, continuar a
investigação e, fazendo um paralelo com Odradek, é ir para além do “qual é seu nome” e do
“onde reside”.

Questão 1 (valor: 2,0) – Extensão mínima e máxima da resposta: 500 a 1000 palavras.

Platão e Aristóteles compõem as duas grandes referências sobre o início do debate em


torno da mimesis. Em A República, Platão desenvolve uma concepção de mimesis que
projeta consequências significativas para a compreensão da atividade poética mimética.
Por sua vez, Aristóteles, em Poética, introduz no debate uma outra concepção de
mimesis que, além de responder a certas questões platônicas, permite uma redefinição
do campo do pensamento sobre a literatura. A partir dos textos dos filósofos gregos e
das discussões em sala, produza um texto comparativo entre as duas posições sobre a
mimesis, descrevendo as duas posições e mostrando seus pontos de aproximação e de
diferença.

Comparar Platão e Aristóteles é essencial, levando em consideração que Platão foi seu mestre.
Essencial porque ambos têm ideias distintas sobre muitas coisas, apesar de seguirem os
preceitos de Sócrates. É disso que se trata, talvez, a teoria: a observação do mundo, o
conhecimento enquanto troca, a escuta e a contestação de ideias. Aristóteles, em a Poética,
trata do modo de composição do poema mimético através da tragédia e da construção de uma
imagem poética (mímēma) que não pode ser reduzida à imitação, pois seu caráter “verossímil
e necessário” não se trata da experiência objetiva que temos das coisas, mas do efeito
mimético produzido. O mímēma não é uma imagem dos eventos tal qual aconteceram, pois a
imagem poética produz algo de novo, como o caráter enobrecedor da mímēsis trágica.

No entanto, em relação aos pontos de divergência entre a mimesis para Aristóteles e a


mimesis para Platão é que essa imitação é desnecessária e, além de desnecessária, danosa,
pois, a mimesis abordada na tragédia, dentro da sua sociedade idealizada, tem o caráter
corruptível e passível de despertar o pior no homem, os sentimentos menos virtuosos. Para
Platão, não faz sentido imitar os fenômenos sensíveis quando os fenômenos são as próprias
ideias.

Em relação aos pontos em comum, acredito que sejam apenas a investigação a partir da
tragédia e a congruência de que a tragédia é mimesis, além da conceituação de mimesis
enquanto imitação.

Comentário: Como fiz muitos apontamentos nos comentários, resolvi não escrever muito mais
aqui, ok? Só um último dado: a abordagem crítica dos texto é super importante, mas não
esqueça que o gênero aqui é de prova, avaliação escrita, etc., e que você tem que atender ao
que foi perguntado no enunciado da questão. Então, procure misturar suas posições críticas
com a resposta efetiva do que foi perguntado.

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