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ISSN - 1415-692X

Universidade Federal de Viçosa


Pró-Reitoria de Extensão e Cultura
Divisão de Extensão – DEX

Restauração
Florestal
Sebastião Venâncio Martins
Professor Titular do Departamento de
Engenharia Florestal - UFV

Viçosa - MG
2020
Boletim de Extensão 67 - Restauração Florestal

2020 by Universidade Federal de Viçosa

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Viçosa

M386r Martins, Sebastião Venâncio, 1977-


2020 Restauração florestal / Sebastião Venâncio Martins --
Viçosa, MG : Universidade Federal de Viçosa, Pró-Reitoria
de Extensão e Cultura Divisão de Extensão, 2020.
1 livro eletrônico (pdf, 8,69 MB). -- (Boletim de Extensão,
ISSN 1415- 692X ; n. 67)

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1. Reflorestamento. 2. Florestas – Reprodução. 3.


Florestas – Conservação. I. Universidade Federal de Viçosa.
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura. Divisão de Extensão.

CDD 22. ed. 634.956

Bibliotecária responsável: Alice Regina Pinto Pires - CRB6 2523


SUMÁRIO
Introdução 5

O que é Restauração Florestal? 6

A importância de se restaurar florestas 7

Alternativas para a restauração florestal 8

Referências 20
1 INTRODUÇÃO
O crescente aumento do consumo humano no Brasil de
alimentos, energia, minérios e outros tem levado a uma também
crescente utilização dos recursos naturais renováveis e não
renováveis. Atualmente, a palavra de ordem é a busca pela
sustentabilidade ambiental das atividades produtivas, que tem
como objetivo a conciliação do uso racional dos recursos naturais
com o manejo sustentável e a restauração dos ecossistemas.
Nesse cenário, a restauração de florestas nativas consolida-se
como a principal forma de apoio ao desenvolvimento sustentável,
uma vez que pode viabilizar tanto a restauração de áreas já
impactadas como a compensação ambiental em outras áreas
ambientalmente similares.
Por meio da restauração florestal é possível atender a legislação
vigente na forma de restauração de áreas de preservação permanente
e reservas legais sem prejudicar as atividades produtivas de uma
de terminada propriedade rural, ou seja, a restauração das florestas
tende a contribuir para a melhoria da quantidade e qualidade dos
produtos e dos serviços ambientais.
Dessa forma, é importante divulgar os conhecimentos sobre
técnicas de restauração florestal, desenvolvidos por intermédio
de pesquisas científicas, para o público diretamente em contato
com o meio rural, como produtores rurais e grandes empresas do
agronegócio, mineradoras, geradoras de energia, entre outros.

5
O QUE É RESTAURAÇÃO
FLORESTAL?
2
A restauração florestal é uma modalidade da restauração
ecológica com foco nos ecossistemas florestais. Entende-se por
restauração ecológica o processo de auxiliar o restabelecimento de
um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído, sendo
uma atividade deliberada que desencadeia ou acelera a recuperação
de um ecossistema com respeito à sua saúde (processos funcionais),
a integridade (composição das espécies e estrutura da comunidade)
e a sustentabilidade (resistência à perturbação e resiliência) (SER,
2004).
Assim, a restauração florestal busca promover o retorno de
uma floresta em uma área em que a floresta original foi removida
ou impactada por atividades humanas diversas; retorno que é
representado por sua composição de espécies nativas e os processos
ecológicos que man têm a sua sustentabilidade.
Vale destacar que, a restauração de uma floresta em uma área
degradada para a sua condição original ou próxima dessa condição,
em termos de biodiversidade, estrutura e processos ecológicos é um
processo lento e, muitas vezes, o mais importante é criar condições
para que esse retorno aconteça em médios e/ou longos prazos.
Outro aspecto importante, que merece destaque, é o que diz
respeito à aplicação do conceito de restauração florestal, pois
uma vez que esse se refere ao retorno do ecossistema florestal,
fica evidente que a restauração florestal deve ser realizada em
áreas antes ocupadas por florestas nativas. A restauração de
ecossistemas não florestais, como campos nativos, por exemplo,
deve ser realizada com espécies daqueles ecossistemas, portanto,
é preciso conhecer o histórico de uma área e o tipo de vegetação
original da região em que está inserida antes de se indicar espécies
e técnicas de restauração. No caso de ecossistemas campestres, é
necessário ter certeza que o campo é realmente nativo ou se resulta
de desmatamentos no passado, pois, nesse caso, a restauração
indicada seria a florestal (MARTINS, 2014).

6
3 A IMPORTÂNCIA
DE SE RESTAURAR
FLORESTAS
A crescente demanda por projetos de restauração florestal
nos últimos anos não tem sido apenas para atender o Novo Código
Florestal Brasileiro, mas também pelos benefícios que as florestas
nativas promovem e os problemas ambientais que a redução dessas
áreas vem causando para a população humana.
Inúmeros estudos mostram o papel das florestas no sequestro e
armazenamento de carbono atmosférico, sendo atribuída à redução
da cobertura florestal parte do efeito estufa, das mudanças climáticas e
da poluição atmosférica.
Florestas nativas contribuem para a manutenção do ciclo
hidrológico nas bacias hidrográficas, pois favorecem a infiltração
de água das chuvas no solo, a redução do escoamento superficial e
o carreamento de sedimentos para os cursos d’água, contribuindo
de forma significativa para a produção de água com qualidade nas
propriedades rurais e, também, no ambiente urbano.
No que diz respeito à fauna, as florestas são fundamentais para sua
conservação e, por isso, costuma-se dizer que ela é a casa da fauna, pois
fornece alimentos e abrigo para os animais; também depende deles
para se manter, uma vez que a maioria das espécies de plantas tem suas
sementes dispersadas por pássaros, morcegos, macacos e roedores.
Além de toda essa importância ecológica, as florestas nativas
podem fornecer muitos produtos madeireiros e não madeireiros para
o ser humano, como: castanhas, palmitos, frutos, plantas medicinais,
mel, resinas, entre outras. E, uma vez manejadas de forma sustentável,
podem configurar como mais uma fonte de renda de produtos
orgânicos para produtores rurais, o que é particularmente viável nas
áreas averbadas como Reserva Legal.
Contudo, consta-se que apenas conservar as florestas nativas ainda
existentes não é suficiente para que essas cumpram todo seu papel
ecológico, econômico e social, tendo em vista que, em muitas regiões
do Brasil, mesmos as áreas definidas por lei como de preservação
permanente (APPs), as florestas já foram removidas no passado, sendo
necessária a adoção de técnicas de restauração florestal.

7
ALTERNATIVAS PARA
A RESTAURAÇÃO
4
FLORESTAL
4.1. Regeneração natural
A restauração passiva, ou seja, sem intervenção direta,
configura- se como a forma de mais baixo custo e mais ecológica
para se promover o retorno das florestas nativas em áreas que foram
removidas ou degradadas no passado (Figura 1).

Figura 1 – Regeneração natural da floresta em pastagens abandonadas.


Fonte: Acervo pessoal do autor.

Apenas para exemplificar a importância da regeneração natural,


em um estudo realizado no estado do Espírito Santo foi constatado
que, num intervalo de 33 anos, 18.979 fragmentos florestais se
regeneraram naturalmente naquele Estado, ocupando uma área de
106.554,87 hectares; esse estudo revelou também que 60,88% de
sua área total, o que equivale a 2.804.431 hectares, apresenta um
alto potencial de regeneração natural (MARTINS et al., 2014).
A regeneração natural de uma floresta geralmente está
condicionada há alguns fatores, como: histórico de uso do
solo, tempo de abandono da área e proximidade de florestas
remanescentes.

8
Áreas com perda do solo superficial rico em matéria orgânica,
nutrientes e sementes de espécies nativas e inseridas em paisagens
muito alteradas e com poucas florestas remanescentes, geralmente
apresentam baixo potencial de regeneração natural e o simples
abandono pode não ser suficiente para que o processo de regeneração
natural ocorra.
Por outro lado, em áreas com solos não degradados, inseridas
em paisagens com matriz ainda florestal ou, pelo menos, com
remanescentes florestais próximos a regeneração natural pode
ser suficiente para o retorno das florestas nativas. Contudo, cabe
destacar que mesmo nessas condições, em determinadas situações,
como a ocupação por gramíneas muito agressivas, por exemplo, as
braquiárias (Urochloa spp.), a regeneração natural pode ser muito
lenta, sendo necessário estimulá-la.

4.1.1. Condução da regeneração natural


Embora se entenda por regeneração passiva o abandono de uma
área para que a regeneração se encarregue da restauração florestal,
em muitos casos é necessário uma intervenção mínima, mesmo que
de forma indireta, como o cercamento da área e a construção de
aceiros, já que o gado e o fogo são os principais fatores que dificultam
o avanço da regeneração natural.
A regeneração natural pode ser estimulada ou acelerada por meio
de uma técnica simples, que é a sua condução. Nessa técnica procura-
se liberar mudas de espécies de árvores nativas em regeneração da
competição com gramíneas agressivas pela realização do coroamento
e adubação de cobertura ao redor das mudas.
O coroamento deve ser realizado para formar um círculo com raio
de cerca de 0,50 m a 0,80 m ao redor da muda, efetivando a capina
com enxada de forma a deixar o solo exposto. Em áreas sujeitas a
fortes secas, para evitar o ressecamento excessivo da área aberta
pelo coroamento, o que pode levar as mudas à morte, recomenda-
se cobrir a área com o próprio capim que foi retirado, tomando o
cuidado de manter as raízes voltadas para cima.

9
Outra forma de realizar o coroamento é a aplicação de herbicida
seletivo, que elimina apenas gramíneas. Nesse caso deve-se,
previamente, consultar o órgão ambiental competente para
verificar a possibilidade de utilizar herbicida na restauração florestal
e realizar a aplicação com um bico protetor para evitar deriva nas
mudas.
Após a realização do coroamento, recomenda-se a realização de
adubação e cobertura nas mudas regenerantes. A formulação mais
utilizada é o NPK 20-05-20, que deve ser aplicado em 100 g num
círculo, mantendo uma distância de cerca de 20 cm da muda.
Com a liberação da competição com as gramíneas exóticas como
as braquiárias (Urochola spp.), o capim-gordura (Melinis minutiflora)
e a adubação de cobertura, a sobrevivência e o crescimento das
mudas e plantas jovens regenerantes tendem a ser aumentados
e, em pouco tempo, um pasto sujo pode se transformar numa
capoeira e, na sequência, em uma floresta secundária.

4.2. Técnicas de nucleação


A nucleação é um processo natural pelo qual uma espécie ou
um grupo de espécies pioneiras colonizam uma área e melhoram o
ambiente facilitando a entrada de novas espécies.
A adoção de técnicas de nucleação visa imitar a natureza, ou
seja, criar condições para que, a partir de uma intervenção numa
área degradada, o processo de nucleação ocorra e avance até uma
condição florestal.
Entre as técnicas de nucleação mais utilizadas para a restauração
florestal, destacam-se: a transposição de solo e serapilheira, a
transposição de galharias, a transposição de chuva de sementes e
semeadura direta, o plantio de mudas em núcleos e a instalação de
poleiros.

4.2.1.Transposição de solo e serapilheira


A camada superficial de solo de florestas nativas, também
conhecida como topsoil ou solo rico, e a camada de serapilheira
(folhas, ramos e outros restos vegetais), representam um rico
reservatório de banco de sementes, matéria orgânica, nutrientes,

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microrganismos e insetos. Portanto, esse compartimento das
florestas é de extrema importância na restauração de áreas
degradadas.
Para a transposição é retirada uma camada de solo da floresta
de aproximadamente 10 cm de profundidade e da serapilheira
que a recobre. Esse material deve ser depositado na área em que
se pretende estimular a restauração florestal, na forma de faixas,
núcleos ou recobrindo toda a área (Figuras 2 e 3).
Em poucas semanas após a transposição ocorre uma “explosão”
de germinação de sementes principalmente de espécies pioneiras
que, rapidamente, cobrem o solo e desencadeiam a nucleação.
Cabe destacar que a retirada de solo e serapilheira de matas
nativas é mais indicada em áreas que o licenciamento ambiental
autorizou a supressão da vegetação, para atividades como
mineração, abertura de estradas, construção de reservatório hídrico
para geração de energia, etc. Para a retirada desse material em
matas nativas conservadas, na forma de Reserva Legal, por exemplo,
é necessário consultar o órgão ambiental competente.

Figura 2 – Transposição de solo rico (topsoil) em faixas.


Fonte: Acervo pessoal do autor.

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Figura 3 – Experimento de transposição de solo e serapilheira.
Fonte: Acervo pessoal do autor.

4.2.2. Transposição de galharias


Na transposição de galharias aproveitam-se resíduos vegetais,
como: galhos, raízes e cascas de árvores e arbustos de áreas em
que o licenciamento autorizou a supressão da vegetação nativa
para outros fins. Esse material pode também ser obtido de podas
de arborização urbana. Os galhos e outros restos vegetais podem
ser empilhados na forma de ilhas ou núcleos e na forma de leiras.
As pilhas ou leiras de galhos funcionam como abrigo para
insetos e pequenos animais, como roedores e répteis; estes
podem trazer sementes de outros locais, que encontram um
microssítio mais adequado para a germinação e o crescimento
inicial.
Com o passar do tempo, os núcleos de galharias vão sendo
ocupados por uma vegetação nucleadora e tendem à expansão,
cobrindo toda a área (Figura 4).

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Figura 4 – Transposição de galharias de eucalipto.
Fonte: Acervo pessoal do autor.

4.2.3. Transposição de chuva de sementes


Para a transposição de chuva de sementes e semeadura direta
são instalados no sub-bosque de florestas nativas coletores de
sementes, que podem ter formato quadrado de 1 m x 1 m ou
circular com 1 m de diâmetro. Esses coletores têm o fundo em tela
de nylon fina (tipo sombrite) e são mantidos suspensos do chão da
floresta para receberam as sementes que são dispersas pelas árvores
(Figura 5). Periodicamente, em intervalos quinzenais ou mensais, as
sementes são retiradas dos coletores e semeadas diretamente nas
áreas a serem restauradas.

Figura 5 – Diferentes tipos de coletores de sementes instalados em florestas nativas


para posterior transposição da chuva de sementes para áreas degradadas.
Fonte: Acervo pessoal do autor.

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4.2.4. Plantio de mudas em núcleos
Os núcleos de mudas são mais indicados para áreas que já
apresentam um processo de regeneração, como: pastos sujos,
vassourais e capoeirinhas (MARTINS, 2016). Nessas áreas é comum
o pasto abandonado ser parcialmente coberto por moitas e
manchas de espécies arbustivas pioneiras como as vassouras ou
alecrins e assa-peixe (Baccharis dracunculifolia, Vernonanthura
phosphorica, entre outras) que cumprem um papel importante: o
de reduzir a agressividade da braquiária e de criar um microclima
mais adequado para a germinação e o crescimento de espécies
arbóreas. Contudo, a regeneração florestal nessas áreas pode não
ocorrer ou ser muito lenta, sendo necessário o adensamento e o
enriquecimento com núcleos de mudas.
Não existe uma regra fixa quanto ao número de mudas
dos núcleos; o mais recomendado são 5 mudas, formando um
quadrado de 1,0 m a 1,5 m de largura, no qual em cada extremidade
é plantada uma muda e no centro mais uma (Figura 6).
Os núcleos de mudas também podem ser utilizados para o
enriquecimento do sub-bosque de reflorestamentos tradicionais
com o plantio de mudas de espécies arbustivas ou de arbóreas
raras, como mostra a figura a seguir:

Figura 6 – Plantio de mudas em núcleos.


Fonte: Acervo pessoal do autor.

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4.2.5. Poleiros artificiais
Um dos problemas do reflorestamento tradicional com plantio
de mudas em área total é o longo tempo que leva para que as mudas
plantadas atinjam uma altura que as tornem atrativas para o pouso de
aves. Assim, a instalação de poleiros artificiais visa fornecer estruturas
que atraem as aves para o pouso; estas, por sua vez, trazem sementes
de florestas próximas e depositam na área dos poleiros, como mostrará
a figura 7.
Que poleiros atraem aves é um fato, inúmeros estudos mostram
isso, e que essas trazem muitas sementes para os poleiros também
já foi constatado, mas o resultado final, ou seja, quando núcleos de
mudas são formados sob os poleiros e que essas se desenvolvem até
se tornarem árvores adultas, depende de alguns fatores, como: tipo de
substrato, agressividade das gramíneas, clima, entre outros. Portanto, a
instalação de poleiros não deve ser utilizada como técnica exclusiva de
restauração mas, sim, ser complementar a outras técnicas.
Para que os poleiros sejam mais eficientes como formadores de
núcleos de regeneração em áreas de pasto de braquiária, algumas
recomendações devem ser seguidas, como: a limpeza da área de
influência do poleiro, ou seja, fazer a capina da braquiária em toda a
área abaixo do poleiro e a instalação dos poleiros apenas em paisagens
que existam, ainda, florestas remanescentes (MARTINS, 2013).

Figura 7 – Poleiros confeccionados com bambu ou varas de eucalipto.


Fonte: Acervo pessoal do autor.

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4.3 Plantio em área total – reflorestamento heterogêneo
tradicional
O plantio em área total é também chamado de plantio
de restauração ou, ainda, de reflorestamento tradicional ou
heterogêneo e corresponde ao plantio de mudas de árvores em
toda a área a ser restaurada, e ganhou força nos últimos anos em
função do surgimento de grandes projetos de restauração em
larga escala.
No reflorestamento tradicional normalmente são
empregadas práticas adotadas na silvicultura de produção de
madeira de eucalipto, pinus e outras espécies, aproveitando
os conhecimentos já adquiridos para essas culturas em termos
de espaçamentos, adubações, controle de mato competição,
controle de formigas cortadeiras etc. Assim, obviamente, os
custos desse tipo de restauração geralmente são elevados, com
média nacional em torno de R$10.000,00/hectare (DURIGAN e
ENGEL, 2015).
Embora alguns grandes projetos de reflorestamento
tradicional sejam criticados pela padronização, ou seja, a adoção
das mesmas práticas silviculturais e plantio das mesmas espécies
em diferentes regiões e situações ambientais, percebe-se, nos
últimos anos, uma melhoria dos projetos.
Os reflorestamentos podem ser em linhas com espaçamentos
fixos de 3 m x 3 m ou 3 m x 2 m, mais indicados para grandes
áreas em que é possível a mecanização das operações, ou sem
um alinhamento definido, ou plantio aleatório, mais indicado
para pequenas áreas.
Um projeto de reflorestamento tradicional pode ser melhorado
em termos ecológicos e de custos, tornando-o mais flexível, por
exemplo, pela adoção de diferentes espaçamentos conforme o
potencial de regeneração natural das áreas (Figura 8).

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Figura 8 – Diferentes espaçamentos, conforme a densidade de mudas regenerantes.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Também é possível inserir num reflorestamento as técnicas de


nucleação descritas anteriormente, tornando possível aumentar
os espaçamentos de plantio das mudas e reduzir os custos. Por
exemplo, pode-se adotar um espaçamento mais amplo como 4 m
x 4 m ou 5 m x 5 m e, nas entrelinhas, depositar leiras de galharias,
faixas de topsoil e serapilheira ou ainda poleiros artificiais.
Na implantação de um reflorestamento em área total alguns
critérios devem ser seguidos: plantar sempre espécies nativas
regionais; priorizar espécies atrativas a fauna (zoocóricas); em
áreas com forte competição com braquiária ou outra gramínea
agressiva (Figura 9), priorizar espécies de rápido crescimento
e copa larga para sombrear o capim; em área úmidas de matas
ciliares plantar espécies tolerantes a solos encharcados.

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Figura 9 – Restauração de mata ciliar com plantio em área total, detalhe da forte
competição da braquiária com as mudas.
Fonte: Acervo pessoal do autor.

As etapas do reflorestamento incluem: o combate a formigas


cortadeiras, com aplicação de micro-porta-iscas, o controle
de gramíneas agressivas pela aplicação de herbicidas, roçada
e coroamento ao redor das mudas e a adubação de plantio
(Figura 10). A adubação de plantio varia em função da fertilidade
do solo, mas as adubações mais utilizadas são de 150 g a 200
g por cova de NPK 6-30-6 ou 4- 14-8. Em área com solo muito
compactado recomenda-se o preparo do solo com abertura de
sulcos profundos por meio do uso de subsolador tipo Ripper
(Figura 11).
A manutenção do reflorestamento é semelhante àquela
indicada para a condução da regeneração, com coroamentos,
adubações de cobertura e controle de formigas cortadeiras,
durante o primeiro ano do plantio ou até no ano seguinte,
quando necessário.

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Figura 10 – Reflorestamentos com espécies nativas em área total. A – Controle da
braquiária com coroamento ao redor das mudas; B - Erradicação da braquiária com
aplicação de herbicida.
Fonte: Acervo pessoal do autor.

Figura 11 – Plantio de mudas com preparo do solo (subsolagem).


Fonte: Acervo pessoal do autor.

19
REFERÊNCIAS
DURIGAN, G.; ENGEL, V.L. Restauração de ecossistemas no
5
Brasil: onde estamos e para onde podemos ir? In: MARTINS, S.V.
(Ed.) Restauração ecológica de ecossistemas degradados. 2ª. Edição.
Viçosa: Editora UFV, 2015. p.42-69.

MARTINS, S.V. Recuperação de áreas degradadas: Ações em áreas


de preservação permanente, voçorocas, taludes rodoviários e de
mineração. 4ª. Edição. Viçosa: Editora AFE, 2016, 265 p.

MARTINS, S.V. Recuperação de matas ciliares: no contexto do


Novo Código Florestal. 3ª. Edição. Viçosa: Editora AFE, 2013, 220 p.

MARTINS, S.V. O estado da arte da restauração florestal no


Sudeste do Brasil. In: DORR, A.C. et al. (Eds.) Práticas & saberes em
meio ambiente. Curitiba: Editora Appris, 2014. p.285-302.

MARTINS, S. V.; SARTORI, M.; RAPOSO FILHO, F. R.; SIMONELI, M.;

MARTINS, S. V.; SARTORI, M.; RAPOSO FILHO, F. R.; SIMONELI, M.;


DADALTO, G.; PEREIRA, M. L.; SILVA, A. E. S. Potencial de regeneração
natural de florestas nativas nas diferentes regiões do Estado do
Espírito Santo. Vitória, ES: CEDAGRO, 2014. 101 p.

SER - Society for Ecological Restoration International. Princípios


da SER International sobre a restauração ecológica. 2004. Disponível
em: https://www.ser.org/resource/resmgr/custompages/.../SER.../
ser-primer- portuguese.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2017.

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