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____________________________________________________________ Cristina Carapeto

Cadeias Alimentares e Níveis Tróficos

Ao descrever a estrutura biótica dos ecossistemas torna-se evidente que existem


importantes interacções entre os organismos que envolvem relações alimentares.
Podemos identificar com facilidade inúmeras situações em que um organismo é
comido por outro que, por sua vez, será comido por um terceiro e assim
sucessivamente. Cada uma destas situações origina o que é designado por cadeia
alimentar. Embora seja interessante identificar estas situações, convém ter em
mente que as cadeias alimentares muito raramente existem como entidades
isoladas. Uma população de herbívoros alimenta-se de vários tipos de plantas e
serve de alimento a vários tipos de consumidores secundários e omnívoros. Como
consequência deste facto verifica-se que praticamente todas as cadeias alimentares
se interceptam nalgum ponto e formam uma teia complexa de relações alimentares.
Na verdade, o termo teia alimentar é o mais utilizado para indicar os cruzamentos
das cadeias alimentares na Natureza.

Apesar do número de cadeias alimentares que teoricamente possam existir e da


complexidade das teias alimentares, há um padrão geral muito simples: todas as
cadeias alimentares conduzem os organismos através de uma série de passos ou
níveis ____ dos produtores para os consumidores primários (ou para os consumidores
primários de detritos), para os consumidores secundários (ou para os consumidores
secundários de detritos) e assim sucessivamente. Estes níveis alimentares são
designados por níveis tróficos. Todos os produtores pertencem ao primeiro nível
trófico; todos os consumidores primários (alimentando-se de matéria orgânica viva
ou morta) pertencem ao segundo nível trófico; todos os consumidores secundários
pertencem ao terceiro nível trófico, etc. A classificação dos organismos por níveis
tróficos é uma classificação funcional e não uma classificação de espécies. Por
exemplo, o macho da mosca do cavalo é um herbívoro que se alimenta do néctar e
sucos de plantas, enquanto que as fêmeas da mesma espécie são ectoparasitas,
alimentando-se do sangue das suas presas e as larvas desta espécie são
detritívoros.

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Fig. 11 Exemplo de uma cadeia alimentar terrestre

Seja de que forma se olhe para a estrutura biótica de um ecossistema, em termos de


cadeias alimentares, teias alimentares ou níveis tróficos, é forçoso observar que em
cada passo se verifica um movimento de nutrientes e de energia de um organismo
para o outro ou de um nível para o seguinte. Este movimento de nutrientes e energia
tem consequências que se reflectem em todo o ecossistema. Em cada passo da
cadeia alimentar existe uma transferência de energia e em cada transferência uma
proporção da energia potencial é perdida como calor (muitas vezes 80% da energia
potencial é perdida numa só transferência).

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Apesar de as cadeias alimentares não existirem isoladas, antes apresentarem
diversas interligações, existem dois tipos básicos caracterizados de acordo com os
organismos que as constituem. A uma cadeia alimentar que se inicia nas plantas
fotossintéticas dá-se o nome de cadeia alimentar de pastoreio. A uma cadeia
alimentar cuja base é a matéria orgânica morta dá-se o nome de cadeia alimentar
de detritos. Na cadeia alimentar de pastoreio podem ainda distinguir-se
esquematicamente dois subtipos: as cadeias de predadores e as cadeias de
parasitas. À medida que se avança numa cadeia alimentar de predadores, os
indivíduos tornam-se cada vez maiores e, de um modo geral, cada vez menos
numerosos. As cadeias alimentares de parasitas funcionam de modo inverso
conduzindo a organismos de tamanho cada vez mais reduzido e cada vez mais
numerosos. Contudo, do ponto de vista da energia, ambas são idênticas: um
parasita de uma planta fotossintética será um consumidor de primeira ordem,
enquanto os parasitas dos animais serão consumidores de 2ª, 3ª ou 4ª ordem,
consoante o animal que lhes serve de hospedeiro.

Em todos os ecossistemas as cadeias alimentares de pastoreio e de detritos


coexistem e estão interligadas, embora uma possa ser a cadeia alimentar
predominante. Nem todo o material ingerido pelos consumidores é realmente
assimilado. Algum desse material pode passar indigerido para as fezes, sendo
divergido para a cadeia alimentar dos detritos.

Cadeia
Herbívoros Predadores alimentar
de pastoreio
Luz
Plantas
solar
Cadeia
Detritívoros Predadores alimentar
de detritos

Fig. 12 Modelo do fluxo de energia mostrando a ligação entre as cadeias alimentares de


pastoreio e de detritos. De notar que em cada nível trófico há sempre uma perda de
energia.

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À medida que a matéria orgânica é decomposta, libertam-se elementos químicos
que são lançados novamente no ambiente no seu estado inorgânico, podendo ser
novamente reabsorvidos pelos organismos autotróficos. Portanto, existe um ciclo
contínuo de nutrientes que se inicia no ambiente, passa pelos organismos e
regressa de novo ao ambiente. Em contrapartida, a energia gasta neste processo
perde-se como calor, libertado por esses mesmos organismos. Em resumo, todas as
cadeias alimentares, teias alimentares e níveis tróficos, iniciam-se nos produtores e
estes devem ter condições ambientais apropriadas para suportar o seu próprio
crescimento. As populações de organismos heterotróficos, incluindo o ser humano,
estão, em última análise, limitadas pela produção das plantas. Se, por algum motivo,
a capacidade produtiva das plantas diminuir, todos os outros organismos nos níveis
tróficos mais elevados também verão as suas populações diminuírem.

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