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LUANDA, 2019
UNIVERSIDADE DE BELAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECONÓMICAS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
FOLHA DE ROSTO
LUANDA, 2019 i
FICHA CATALOGRÁFICA
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou electrónico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.
DATA_________/_________/___________
Nº de páginas: 51
ii
MARIA JOSÉ VAZ NETO ASSUNÇÃO
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aprovado, ______/______/_______
BANCA EXAMINADORA
Presidente do Júri
____________________________
1º Vogal
_____________________________________
2º Vogal
_____________________________________
Secretário
___________________________
iii
DEDICATÓRIA
iv
AGRADECIMENTOS
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
The theme under study in this Monograph is multipartyism in Africa, taking the particular
case of Angola, in the period 1991 to 2008. The theme arises from the fact that in Africa, the
limits of freedoms and rights of individuals in the formation of political parties, they generate
great discussions and conflicts for their acceptance within totalitarian and dictatorial
governments. From an academic point of view, this study allows us not only to analyze the
evolution of the multi-party democratic process in Angola, but also to inform the coming
generation about the historical events that have taken place in the country since the signing of
the Bicesse agreements in 1991 that culminated with the 1992 elections until the conquest of
peace, consequently the holding of the 2008 elections in Angola. The aim is to analyze
multipartyism in Africa in general, particularly multiparty democracy in Angola. For its
elaboration, the methodology that includes the historical-deductive method was used,
supported by documental analyzes and bibliographical sources, followed by contacts made
with several personalities with knowledge of the subjects covered. Thus, at the level of
results, it was possible to see that the model of participatory democracy emphasized by social
movements and the expansion of the occupation of political space by Civil Society is a true
victory for multipartyism in Angola. For this reason, we conclude that the relationship
between reason of State and democracy, but also the strategic importance of civil society
participation in collegiate deliberation instances in the state sphere, is an unmistakable sign of
the affirmation of different democratic principles in Angolan society, for this reason we
recommend that the reduction of social and economic inequalities within Angolan society
should be the main concern of political forces in Angola.
vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
viii
PCD/GR – Partido da Convergência Democrática/Grupo de Reflexão
PR – Partido da Revelação
ix
ÍNDICE
FICHA CATALOGRÁFICA................................................................................................... ii
DEDICATÓRIA ...................................................................................................................... iv
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. v
RESUMO.................................................................................................................................. vi
I. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1
x
2.4. Os partidos políticos e o multipartidarismo ............................................................... 10
2.4.2. O multipartidarismo............................................................................................ 16
xi
VI. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 47
xii
I. INTRODUÇÃO
Desde muito tempo, os factores sócio-políticos e culturais assumem uma importância decisiva
no estudo das democracias contemporâneas, particularmente quando se tem em perspectiva a
necessidade de participação mais activa dos cidadãos organizados em partidos políticos e
associações nas decisões de políticas que afectam a sociedade como um todo.
Angola é um Estado que, após um prolongado período de colonização portuguesa que durou
quase quinhentos anos, para além de guerra para a conquista de sua soberania como nação
independente, o país ainda viveu um momento de guerra civil e um atribulado processo de
paz, marcado por sucessivos avanços e recuos. Estes desafios impõem à jovem nação uma
necessidade imperiosa em encontrar uma solução que assegure a consolidação da paz e
estabilidade político-militar, indispensáveis para a construção de uma democracia
representativa das várias sensibilidades do povo angolano1.
O tema em análise surge pelo facto de que, em todas partes do mundo, particularmente em
África, os limites das liberdades e dos direitos de indivíduos na formação de partidos
políticos, geram grandes discussões e conflitos para a sua aceitação no seio de governos
totalitários e ditatoriais. Do ponto de vista académico, a importância deste estudo permite
fazer não só uma análise sobre a evolução do processo democrático multipartidário em África,
particularmente em Angola, mas também dar a conhecer à geração vindoura sobre os
acontecimentos históricos que sucederam no país desde a assinatura dos acordos de Bicesse
em 1991, culminando com as eleições de 1992 e a conquista da paz, com a consequente
realização das eleições de 2008 no país.
Nessa medida, o capital social diria respeito à característica da organização política e social,
como confiança e regra de participação cívica, que contribuiriam para aumentar a eficiência
da sociedade, facilitando as acções coordenadas.
1
GUEDES, Feijó et all. Pluralismo e legitimação jurídica pós-colonial de Angola. Editora Livraria Almedina, Lisboa, Junho de 2003, p. 175.
1
A sociedade moderna sustentada pelo direito e pela democracia gravita em torno dos limites
máximos da liberdade e dos direitos do indivíduo, não se desenvolve em meio de conflitos
entre os interesses da maioria garantida pela liberdade política e os direitos fundamentais dos
indivíduos instituídos pelas constituições.
Vários estudos, dos quais se ressaltam o de Noberto Bobbio (1980), apontam para a existência
de uma correlação positiva entre desempenho institucional e comunidade cívica (partidos
políticos e sociedade civil). Para esse autor, o desempenho institucional refere-se ao “bom
governo” – aquele governo democrático que não só é sensível às demandas de seus cidadãos,
mas também age com eficácia em relação a tais demandas –, nesse sentido, ele apresenta
vários indicadores para avaliar os governos do mundo2.
Quanto à ideia de partidos políticos, um dos fins para Noberto Bobbio reveste-se de especial
importância relativa ao potencial dos mesmos na criação de condições para o
desenvolvimento de um círculo político virtuoso que envolve a participação do cidadão, no
despertar da consciência política e cívica e no acúmulo de capital social, fomentando uma
espiral que realimenta a instauração de comunidades cívicas capazes de dar sustentabilidade à
democracia política e social. Parece que quanto mais política e cívica for uma comunidade,
mais abertos e democráticos tenderão a serem os processos de decisão pública e de controlo
social, afirmou.
2 BOBBIO, Noberto. A teoria das formas de governo. Ed. UnB. Brasília, 1980, p. 143.
2
1.3. Formulação de hipóteses
Com base no problema acima levantado, as hipóteses do presente trabalho são as seguintes:
1.4. Objectivos
3
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Sociedade e o Estado são duas realidades inseparáveis, pois, nenhuma delas pode subsistir
sem outra; o homem é inconcebível instância do convívio social; não deve existir uma
sociedade sem certa organização, porque um ser assim tornar-se-ia numa tremenda confusão.
Na grande teoria de Marx, o Estado é aquele que controla bens e os distribuir; a comunidade
política é feita para tutelar, coordenar e integrar, os direitos essenciais da pessoa humana 3;
pode-se considerar um lar uma sociedade bem como uma família e, o Estado é um pai que é
obrigado a velar pelo bem-estar de todos os seus filhos, que neste caso, são os cidadãos. Pode
não haver um poder sem Estado. Por isso, o Estado exerce o poder para com dignidade como
suas funções.
O Estado tem uma grande função, mantendo certo equilíbrio entre cidadãos no seu
relacionamento interpessoal. Mas isto deve ser tudo como o caminho de bem dos cidadãos ao
qual se presta serviço e não uma satisfação dos interesses de pessoas quem se ocupa da carga
de tal. Isto é, do cidadão exige próprio uma cooperação, pois, é elemento social e a razão de
ser própria da Sociedade e do Estado.
3
GIORGIO, Lapira. Para Uma Estrutura do Estado. Editora Livraria Morais, Lisboa, 1965, p. 239.
4
MARTINS, da Silva Marques. Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Editorial Verbo , 6 º vol , Lisboa , 1988, p. 178.
5
Jean Jacques Rousseau. Apud: ANTÓNIO, A.Vasco. Dicionário Prático de Filosofia, Terramar Editora, Lisboa, 1999, p. 234.
6
Ibidem, p. 239.
4
Tradicionalmente, a democracia significa uma actividade exercida em nome do povo e pelo
povo. Também a democracia pressupõe uma maioria da lei, a liberdade dos indivíduos
(respeitando os Direitos do Homem) e a igualdade dos cidadãos7.
O Estado democrático é por assim dizer, um sistema político, composto de muitas dimensões
que se desenvolvem em diferentes níveis de profundidade8.
Do acima exposto podemos retirar, embora com pequenas diferenças nas várias democracias,
certos princípios e práticas que distinguem o governo democrático de outras formas de
governo:
7
Ibidem, p. 246.
8
ROSENFIELD, Denis L. O Que É uma democracia, Ed. Brasiliense, São Paulo, Brasil, 1984, p.33
9
Aristóteles (384-322 a.C): filosofo Grego, aluno de Platão e professor de Alexandre o Grande, considerado um dos maiores pensadores de todos os tempos
e criador do pensamento Lógico
5
É o governo no qual o poder é exercido por todos os cidadãos, diretamente ou através
dos seus representantes livremente eleitos;
Assenta na base de um conjunto de princípios e práticas que protegem a liberdade
humana e os direitos fundamentais, a igualdade e as diversas liberdades, tais como a
liberdade de religião, a liberdade de expressão e o pluralismo em geral (embora
respeita a vontade da maioria, protege os direitos fundamentais das minorias);
A democracia reflete a diversidade da vida política, social e cultural de cada país;
As sociedades democráticas estão baseadas em valores como a tolerância, a
cooperação e o compromisso - as democracias reconhecem que chegar a um consenso
requer compromisso;
6
estável e duradoura – benéfica para a maioria. O conjunto de valores que a democracia
proporciona à sociedade - garante a liberdade e a igualdade, é superior do que qualquer outro
regime. Aristóteles prova que a classe média é a base da democracia. Aristóteles também
descreveu as fraquezas da democracia, que são compensadas segundo o autor, pelos benéficos
que esta traz. O autor define três centros de poder: o chamado "Poder de Discussão e
Aprovação" - discutir e aprovar leis, "Gestão" – o executivo, e o "judicial".
O interesse pela democracia cresce rapidamente com o Iluminismo. No centro deste processo
está a nova força social - a burguesia. O pensamento político europeu do século XVII
revolucionou a tradição política democrática. Os pensadores iluministas desenvolveram
qualitativamente nova doutrina democrática chamada: “doutrina da democracia
representativa.". A teoria da separação de poderes de Montesquieu que formula e uma nova
estrutura e modelo de gestão de Estado, que separa e equilibra os três poderes - legislativo,
executivo e judicial. E Rousseau, com a soberania popular e a igualdade política representam
o próximo passo no desenvolvimento da teoria democrática. Rousseau vem demonstrar a
inadequação da democracia direta a sociedade moderna. Defende que nem o governante, nem
a monarquia deve colocar-se acima da lei. Esta disposição consubstancia a igualdade de todos
os homens perante a lei. A lei é o resultado de uma obra vontade geral maioritária, através da
qual se alcança a liberdade e a igualdade dos cidadãos.
No século XIX, na sua obra "Da Democracia na América" (1835) A. de Tocqueville, através
de uma análise da democracia americana, o autor procura responder a dois problemas: o
primeiro é a aplicação do princípio da igualdade no próprio processo de eleição. Defende por
7
isso - o sufrágio universal, a separação de poderes como condição necessária para assegurar o
equilíbrio das instituições. O segundo problema sobre o qual se debruça o autor está na
eficácia da aplicação do sistema de "check and balances" ou “pesos e contrapesos”, que regula
o equilíbrio de poderes. O autor analisa algumas manifestações negativas da democracia,
entre as quais se situa a tirania da maioria, entendida relativamente ao risco de aniquilamento
da liberdade de indivíduos e de grupos minoritários que podem ser submetidos à vontade
maioritária sem o quererem e por terem posição diferentes serão ostracizados. A democracia é
o regime de tolerância e discussão, que estimula a iniciativa individual, aumentando o
desenvolvimento da personalidade, através de garantias de equilíbrio e justiça sociais. A
democracia moderna pretende reunir um número limitado de membros, que por sua vez
representem interesses e aspirações sociais idênticos, de forma a constituir um órgão legítimo
da soberania. Desta forma, os métodos democráticos são os que melhor respondem às
necessidades sociais e as que contribuem para o progresso e desenvolvimento um país ou
sociedade.
Após a Segunda Guerra Mundial (1939- 1945), haverá que falar de democracia pós-moderna
e os problemas que a acompanham. As teorias modernas da democracia estão confrontadas
com o problema do aperfeiçoamento da democracia através do envolvimento de todos os
cidadãos na resolução dos problemas da sociedade. Foi uma época de grande
desenvolvimento da Democracia - desenvolvimento global e difusão de ideias democráticas,
das instituições e das práticas sociais. No século XX e, especialmente, na segunda metade do
século, a democracia torna-se mais exigente - além dos direitos e liberdades dos cidadãos,
impõe certas obrigações de modo que seja conseguido a efetiva realização do seu significado
e mais importante para o seu aperfeiçoamento.
8
Hoje, quase 119 países fazem-no, correspondendo a 62% de todos os países do mundo10. O
que era, então, prática peculiar de uma mão cheia de redor em países do Atlântico Norte,
tornou-se uma forma referente de Governo em todo o mundo. A democracia é uma única
fonte de legitimidade política que subsiste.
Tal como Churchill defendeu: “A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as
demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos".
Política e Liberdade são expressões excessivamente vagas e amplas, motivo pelo qual suscita
um grande número de controvérsias e definições caracterizadas pelos parâmetros e variáveis
definidoras das correntes.
De acordo com Norberto Bobbio (1980), a liberdade política é uma da subcategoria social,
normalmente comunique a relação entre o governo e os cidadãos ou as associações. Nos
momentos em diferentes históricos, o interesse pela liberdade política, concentrou-se na
liberdade de religião, de palavra e de imprensa. Porém, uma ideia de liberdade política
ampliada passa de satisfazer os anseios de liberdade económica e de necessidade da liberdade,
de autodeterminação nacional11.
A importância da liberdade política como parte das potencialidades básicas que já foi debatida
para muitos autores às razões de estimar a liberdade política como a expressão das acções
livres nas vidas dos cidadãos. É irracional para os seres humanos – criaturas sociais –
valorizar uma participação qualquer sem restrições nas actividades políticas e sociais. Por
isso, a construção sem tutela dos novos valores exige transparência da comunicação e dos
argumentos, podendo como liberdades e os direitos cívicos serem essenciais nesse processo.
De acordo com Isaiah Berlin (1984 citado no livro de Zakaria, 2003), há dois tipos de
liberdade política: uma é positiva, consiste na participação directa e contínua dos cidadãos na
vida política e a da negativa, consiste nos cidadãos que se dedicam nos assuntos particulares,
delegando uma responsabilidade pelos assuntos políticos12. Mais recentemente, Phillip Pettit
definiu um terceiro tipo de liberdade, nomeado de não-aceitação ou não arbitrariedade.
10
ROSENFIELD, Denis L. O Que É uma democracia, Ed. Brasiliense, São Paulo, Brasil, 1984, p. 65
11
BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Editora UnB. 13ª edição. São Paulo, Brasil, 2007, p. 87.
12
Isaiah Berlin. Apud: ZAKARIA, Fareed. O Futuro da Liberdade. Editora Gradiva, São Paulo, 2003, p. 128.
9
Uma liberdade política para um cidadão é uma tranquilidade de espírito que provém da
opinião que cada um faz da sua segurança; para que se tenha esta liberdade é preciso que o
Governo, de tal modo que seja o cidadão não tenha por tremer outro cidadão. Este governo
deseja a liberdade política segundo a fórmula da estrutura de separação de poderes. Assinala-
se também que uma expressão liberdade política é mais usada com frequência pelos estadistas
ingleses que a caracterizam como uma qualidade dos povos livres, aqueles que têm o direito
de adiar ou não os seus representantes no governo através do voto ou na formação do governo
do país ou na administração pública.
A origem de partido político partiu-se na Grécia e Roma antigas, quando dava-se o nome de
partido há um grupo de seguidores de uma ideia, doutrina ou pessoa, mas foi só na Inglaterra,
no século XVIII, que se criaram pela primeira vez, instituições de direito privado, com o
objectivo de congregar partidários de uma ideia política.
Montesquieu descreve os partidos como: “O que se chama de união do corpo político é algo
muito ambíguo, a verdadeira união é uma união de harmonia, em consequência da qual todas
as partes, mesmo que parecem opor-se, concorrem para o bem geral da sociedade, tal como
algumas dissonâncias na música concorrem para a harmonia geral.
13
ZAKARIA, Fareed. O Futuro da Liberdade. Editora Gradiva, São Paulo, 2003, p. 135.
10
Em Inglaterra, o conflito de interesses originado entre os Tories (com ideias conservadoras,
remanescências dos regimes feudais) e os Whigs (monárquicos que defendem ideias de
vanguarda) deram origem os partidos políticos ingleses Conservador e Liberal nos séculos
XVIII- XIX. Os partidos norte- americanos afirmaram-se com a independência. O primeiro
partido foi criado e precisamente com a Convenção de Filadelfia (1787) e a criação das treze
colonias sob a denominação Partido Democrático e com as ideias transformadoras da
comunidade política trazidas com a Revolução Francesa.
Segundo a teoria dos partidos, o surgimento de um partido politico comporta dois momentos
– um processo interno e um processo externo. Para a teoria do processo interno, o nascimento
dos partidos políticos está ligado ao surgimento de grupos parlamentares e de comités
eleitorais, que por afinidades de pensamento se unem. Os grupos parlamentares teriam por
função organizar, propostas, enquanto os comités eleitorais ficariam encarregados de procurar
apoio popular. Desta forma surgiriam os partidos já no exercício de funções dentro do
Parlamento. Para a teoria do processo externo, os partidos não estão vinculados à existência
de um Parlamento. Segundo Radbruch: “O conceito de partido encerra em si, uma contradição
curiosa.
Partido quer dizer o mesmo que parte, parte ou fracção de um todo; e contudo é da essência
dessa parte aspirar a dominar toda a vida do Estado. Por outro lado, se o partido deixa de ser
apenas parte e se transforma no todo, corre o perigo de se converter na pior de todas as formas
– no despotismo. É indubitável que o cidadão costuma pensar só dentro de um único partido,
que é naturalmente o seu. Mas o homem de Estado é que não pode pensar só pela cabeça dum
partido. Tem que pensar por partes, adoptando a visão de vários, porquanto apenas através da
pluralidade e da riqueza das diferentes e entre si contraditórias exigências dos partidos pode o
espirito colectivo achar a sua genuína e completa expressão. Todo o partido carece de outro
partido para achar o equilíbrio, sob a pena de recairmos em todos os perigos do partido
único.”
Charlot define partido político como, primeiro, uma “organização durável, o que quer dizer,
uma organização em que a esperança de vida política seja maior e superior à dos dirigentes no
executivo”; segundo, como “uma organização local bem estabelecida e aparentemente durável
mantendo relações regulares e variadas com o escalão nacional”; terceiro, “a vontade
deliberada dos dirigentes nacionais e locais da organização de tomar o poder e exercê-lo, só
11
ou com outros, e não simplesmente de influenciar o poder”; e quarto, “a preocupação de
procurar um apoio popular através de eleições ou de qualquer outro modo”.
Segue elencando critérios, que surgem com o desmembramento do conceito por ele
formulado. Como primeiro critério, “os partidos são organizações duráveis pois espera-se que
a sua vida política seja superior à de seus dirigentes”. Este critério implica a eliminação de
aventureiros, simpatizantes que se dissolvem após a saída de seus líderes e que, na
eventualidade da não perpetuação ou duração, ter-se-iam um número inimaginável de partidos
que só participariam do poder político enquanto seus idealizadores fossem vivos. O segundo
critério trata da tipificação do partido como “uma organização completa até o escalão
local”40. Envolve o estreitamento de relações entre uma matriz, de alcance nacional, às suas
correspondentes unidades ou grupos locais. Não é difícil entender que a formação de uma
vontade nacional origina-se em parcelas de vontades locais. Por isso, a relação de
continuidade nas acções e direccionamento de vontades deve partir da unidade local,
mantendo consonância até atingir o âmbito nacional. No que se refere ao terceiro critério
apontado pelo autor, “os partidos tencionam a construir uma vontade deliberada de exercer
directamente o poder, só ou com outros, a nível local ou nacional, no sistema político presente
ou num sistema político novo”. Este terceiro critério implica no conhecimento de grupos que
lutam pelo exercício do poder político, quer seja na incessante busca pela sua tomada, quer
seja fazendo oposição ao grupo que o detém. Frise-se que a oposição se revela muito mais do
que um grupo que busca a tomada do exercício do poder político; assume, também, as vestes
do grupo fiscalizador das acções de quem exerce directamente o poder.
Jorge Miranda, salienta que “política é decisão, é combate, luta pelo poder e pelo exercício do
poder. Por isso, ela provoca constantemente divisão, distinção de posições, atitudes
diferenciadas”. Prossegue afirmando que “não tem que ser luta violenta mas, em sociedades
minimamente complexas envolve sempre mais de uma atitude e mais de um grupo”. Por seu
turno, Bacelar Gouveia afirma que os partidos políticos se integram num ” ideal de status
político, de cidadania activa na participação do espaço público, de construção da opinião
pública”.
12
poder político em um determinado país politicamente organizado, em que se faz presente, ou
necessário como objecto de mudança, ou transformação social14.
Segundo Michels, em seu livro intitulado “Sociologia dos Partidos Políticos”, os partidos
estão sempre sociologicamente ligados à uma ideologia, porém, nem sempre essa ideologia é
pragmática15.
Uma organização de direito privado que, no sentido moderno da palavra, pode ser definido
como uma “união voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e políticas, organizada e
com disciplina, visando a disputa do poder político”16.
Segundo Nildo Viana, os partidos políticos actuais são organizações onde predomina a
burocracia na sua estrutura e que se fundamentam na ideologia da representação política, não
no acesso de directo do povo às decisões políticas, tendo como objectivo, conquistar o poder
político estatal, além de serem expressões políticas de alguma oligarquia económica ou
tradicional17.
A diferença entre Michels e Nildo Viana está no facto de que Michels, influenciado por
Weber, considera que o predomínio da burocracia nos partidos políticos, especialmente nos
partidos fascistas, nazistas, socialistas e comunistas, ocorre por uma necessidade técnica. Em
Nildo Viana, a burocratização dos partidos é derivada de um complexo processo social e
político que dá origem a expansão de uma nova classe social, a “burocracia”. Assim, Nildo
Viana e Robert Michels coincidem em afirmar que a burocracia partidária é uma fracção
daquela nova classe social. Essa burocracia partidária, frequentemente ultrapassa a sua função
de assessoria do político e passa a ditar regras nos partidos políticos.
Podemos concluir que os partidos políticos são organizações voluntárias, com carácter é
permanente e durável, cujo objectivo é lutar pela obtenção e exercício do Poder, através de
meios legítimos e democráticos.
14
VIANA, Nildo. O que são Partidos Políticos. Goiânia, Edições Germinal, 2003, p. 165.
15
MICHELS, R. Sociologia dos Partidos Políticos. Brasília, UnB, 1982, p. 102.
16
Ibidem, p. 132.
17
VIANA, Nildo. O que são Partidos Políticos. Goiânia, Edições Germinal, 2003, p. 109.
13
políticos: a representação política global da colectividade e a participação no funcionamento
do sistema de governo constitucionalmente instituído, agrupando as funções em políticas e
administrativas. No modelo proposto por Rebelo de Sousa teríamos:
Jorge Bacelar Gouveia, de uma outra perspectiva aponta funções pedagógicas, eleitorais e
parlamentares aos partidos políticos. A primeira refere- se à sua actuação como canal de
comunicação entre o povo e o poder. O segundo aspecto é o mais visível e diz respeito à
própria eleição, no fim de contas o objectivo último dos partidos.
14
Os partidos políticos prosseguem livremente os seus fins sem interferência das autoridades
públicas, salvo os controlos jurisdicionais previstos na Constituição e na lei.
A teoria clássica sobre tipos de partidos é de autoria de Maurice Duverger, que partindo da
evolução dos partidos políticos, fruto de transformações no contexto social em que se
inserem, formula uma dicotomia entre partidos, distinguindo os partidos de quadros e os
partidos de massas. Os partidos de quadros são a primeira modalidade institucional do
projecto partidário, a que não é alheia as restrições do sufrágio censitário e de falta de
participação na vida politica. Nas últimas décadas do séc. XIX, em virtude, da instituição do
sufrágio universal, os partidos de quadros, em vez de se converterem em verdadeiros partidos
de massa, vão procurar, segundo Duverger, uma maior flexibilidade organizativa, tendo em
vista uma maior abertura a população. Esta reformulação permite-lhes actuar na cena política
das democracias ocidentais.
Nos anos 60 do Séc. XX, Duverger avança com uma distinção entre os partidos de massa em
comunistas, socialistas, e fascistas, atendendo ao tipo de chefia, à modalidade e grau de
disciplina, à forma de organização. Em 1960 foram introduzidas novas categorias, tais como
os partidos rígidos e os partidos flexíveis e mais tarde os partidos de reunião, os partidos de
reacção, e os partidos de integração. Os partidos políticos têm origem na sociedade civil, mas
tendencialmente se afastam dela, aproximando-se ao Estado. A perda do seu papel de
representação tem vindo a ser acompanhada por um fortalecimento do seu papel institucional.
Por outro lado, a transformação dos contextos sociopolíticos obrigou os partidos a
flexibilização ideológica necessária a sobrevivência dos partidos, numa sociedade em que a
complefixação das estruturas sociais e o progressivo individualismo das pessoas obriga os
partidos a procurar uma base alargada de eleitorado, em prejuízo da sua identidade.
15
2.4.2. O multipartidarismo
O período que se seguia após a queda do murro de Berlim e o subsequente colapso do bloco
soviético, os sistemas políticos liberais (Democracias) e as economias de mercado
(Capitalismo) seriam as linguagens políticas e económicas predominantes na vida política
internacional. A universalização dos valores democráticos ocidentais seria, no entanto, a
última forma de governação humana. Era o fim da guerra de ideias.
O sistema eleitoral abrange a capacidade eleitoral ativa (quem pode ser eleitor) e passiva
(quem pode ser candidato), o regime de recenseamento eleitoral (obrigatório ou facultativo), a
natureza do sufrágio (universal/restrito, igualitário/ou não, direto/indireto, fechado/aberto,
individual/lista, plurinominal/uninominal), a dimensão dos círculos eleitorais (nacional/único,
regional, provincial, distrital), as condições de propositura das candidaturas (quem pode
apresentar as candidaturas: partidos, grupos de cidadãos, indivíduos); controlo e
16
financiamento das campanhas (público/privado), a regulação, segurança e garantias eleitorais;
o processo de votação (voto presencial/não presencial, liberdade de voto, número de voto a
que cada eleitor tem direito), o modo de apuramento (regularidade, transparência e
apuramento de votos – a sua demora ou rapidez); o contencioso eleitoral (controlo da
regularidade do processo eleitoral).
As regras de um sistema eleitoral são consideradas complexas, tendo sido propostos diferentes
esquemas de classificação para reduzir este mesmo problema. A divisão clássica feita por
Duverger é entre Sistemas Eleitorais Maioritário, Proporcional ou de Representação
Proporcional e um terceiro Sistema Misto.
Segundo o sistema Maioritário é eleito o candidato que obtiver a maioria dos votos. Tende a
gerar sistemas bipartidários, que eliminam-se os grupos partidários de pequenos eleitores, por
nunca chegarem a ser eleitos. O sistema maioritário poderá ser de uma volta – “first past the
post – segundo o qual haverá uma votação e aquele que obtiver a maioria será considerado
eleito. Ou poderá ser um sistema de duas voltas, neste caso, haverá uma segunda votação caso
não haja uma maioria necessária. O sistema de duas voltas pode ser ainda aberto: em que
todos os candidatos inscritos na primeira volta podem candidatar-se novamente a segunda; ou
fechado, em que apenas os dois mais votados poderão candidatar-se segundo, de modo a que
seja obtida maioria absoluta, contando-se os votos nos dois candidatos mais votados.
- Poderá ser de maioria simples – nos termos da qual é considerado eleito aquele que
obtiver a maioria dos votos (mais votos a favor do que votos contra).
- Maioria absoluta – em que se exige que o candidato obtenha mais de metade dos votos
validamente expressos para ser eleito.
Na Austrália está consagrado o sistema eleitoral maioritário de uma volta em que o eleitor terá
votar num candidato, mas pode simultaneamente indicar outros candidatos - é o chamado voto
preferencial. Caso o candidato preferencial obtenha maioria absoluta é eleito, caso contrário
elimina-se o candidato que tem menor número de primeiras preferências, tendo em
consideração as segundas preferências. Se ainda assim nenhum candidato obter a maioria,
passa-se às terceiras e assim por diante.
17
Os municípios espanhóis mais pequenos têm, um sistema de maioria relativa com círculos
plurinominais, em que os eleitores têm até 4 votos, sendo eleitos os cinco candidatos com o
maior número de votos. Este sistema permite isolar imediatamente o eleito da maioria,
possibilitando aos eleitores variantes de escolha.
O sistema maioritário é utilizado mais na sua variante de uma só votação. Tem aplicação nos
países com tradições anglo-saxónicas – Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Foi utilizado na
França a partir da Segunda República e até 1945 – salvo o período de 1919-1927 (sistema de
duas voltas).
Como o nome indica, visa a obtenção de uma representação proporcional à força numérica da
vontade manifestada pelo voto. O objetivo é a representação das minorias, na proporção dos
votos que tenham obtido. É uma expressão do pluralismo existente dentro das fronteiras do
Estado. A eleição no sistema de representação proporcional é feita através de listas nas quais
os partidos apresentam os seus candidatos.
Divide-se em cada círculo eleitoral, o número total de votos expressos de forma válida
pelo número de mandatos a atribuir.
Depois, divide-se o número de votos obtido por cada lista pelo quociente eleitoral. O
resultado mostrará o número de vezes que o quociente eleitoral está contido no
18
número de votos obtido por cada lista. Esse número é o que confere os mandatos a
cada lista.
No entanto, estas divisões deixam restos. Esses restos dizem respeito a mandatos não
atribuídos. Estes restos podem ter várias soluções. A solução mais linear consiste em
agrupar os restos num quadro nacional, para o que se somam os restos obtidos por
cada lista em cada círculo eleitoral.
Obtido o total dos restos de cada lista deverá este ser dividido pelo número quociente
utilizado. Desta divisão resultará o número de lugares ainda a atribuir a cada uma.
O agrupamento dos restos no quadro nacional apresenta, todavia, o perigo da expansão
de partidos extremistas que, não obtendo relevo nos círculos eleitorais, podem vir a ter
os seus representantes no quadro nacional, graças ao somatório de todos os restos de
votos recebidos no conjunto dos círculos eleitorais.
Por isso, o problema do agrupamento dos restos resolve- se, habitualmente, no seio de cada
círculo eleitoral.
O método de Hondt é um dos métodos utilizados para a conversão de votos que se utiliza em
Portugal. É um método belga e que permite apurar numa única etapa os deputados atribuídos
a cada lista. Funciona assim:
1. Apura-se em separado, o número de votos recebidos por cada lista em cada círculo
eleitoral;
2. Divide-se o número de votos obtido por cada lista por 1, 2, (…), “n”, em que “n”
representa o número de deputados a eleger;
3. Ordena-se de seguida os quocientes obtidos por ordem decrescente até que o número
de quocientes seja igual ao número de deputados a eleger;
4. Os mandatos pertencem às listas a que correspondem os quocientes mais elevados da
série estabelecida pela regra anterior;
Em Angola, o sistema é usado nas eleições gerais para a distribuição dos 220 assentos na
Assembleia Nacional (nos termos dos artigos 143 e 144 da CRA) e no art.º 24 da LOEG,
obedecendo a listas plurinominais de partidos políticos ou de coligações de partidos.
19
2.4.3.3. Sistemas mistos
a) O sistema alemão:
Neste sistema cada eleitor vota duas vezes. O primeiro voto serve para eleger, através de
escrutínio uninominal de uma só volta, a metade dos deputados (328) do Bundestag (a câmara
mais importante do Parlamento que representa o povo da federação, designado por sufrágio
universal e secreto). Portanto, através do primeiro voto escolhe-se um candidato individual.
Os segundos boletins permitem eleger outros 328 deputados com base nas listas apresentadas
pelos partidos. Depois destas duas operações, calcula-se proporcionalmente (sistema de
Hondt) o número total de lugares que obteve cada partido no conjunto dos membros do
Bundestag, por aplicação da representação proporcional, acrescentando-se eventualmente
lugares para assegurar uma repartição proporcional. Evita-se assim a despersonalização
completa do escrutínio, que é o grande inconveniente dos escrutínios de lista. Os eleitores
votam (com o primeiro boletim) em favor de uma individualidade que não pode pertencer ao
partido no qual o eleitor votará no segundo boletim. Por outro lado permite aos partidos
escolher especialistas que não seriam eleitos diretamente pelos eleitores, devido ao fato de
serem pouco conhecidos ou mesmo pela sua impopularidade
b) O sistema de hare
20
os candidatos que assim obtenham um número de voto igual ou superior ao quociente
necessário para ser eleito (quociente resultante da divisão dos sufrágios exprimidos pelo
número de lugares a preencher mais um).
Estamos perante o sistema da representação proporcional sem listas, pois cada candidato
apresenta-se individualmente.
Praticado em Japão, por inspiração no sistema inglês – consiste na eleição de vários deputados
por cada circunscrição, sendo que cada eleitor só pode votar num candidato: são eleitos os
candidatos “cabeça de lista”. Os partidos não são obrigados a apresentarem tantos candidatos
quantos lugares a preencher o que pode colocar problemas: caso um partido apresentar
demasiados candidatos, pode haver uma repartição dos votos entre eles, sem que haja um
eleito único. No caso de um partido não apresentar o número suficiente de candidatos, os que
são eleitos arriscam-se a disporem de um excesso de votos que talvez tivesse permitido a
eleição de mais um.
O poder político em África após a luta de libertação foi caracterizado e constituído por uma
classe de elites africanas de formação ocidental. “Os nacionalistas” reclamaram a
independência sem reclamar a democracia. Esta era encarada como uma sequela burguesa,
passível de ser manipulada pelos sentimentos de pertença étnica, que seriam tanto perigosa
quanto mais centralizada a definição de pertença do poder.
21
nos novos Estados independentes, como não teve no período colonial. Apesar das lutas de
libertação, ninguém ousou fazer neste campo uma verdadeira ruptura com o passado colonial.
Por isso, apesar dos consideráveis fundos financeiros destinados ao desenvolvimento dos
países do continente africano, sobretudo a África Subsaariana, o arranque não passou de uma
miragem. Boa parte do insucesso deve ser assacada, precisamente, aos políticos locais que
não souberam, não quiseram, ou não conseguiram capitalizar os apoios em prol de um
desenvolvimento autossustentado e baseado em regras transparentes e democráticas. Mas
outra parte do desencanto deverá ser assacada a quem contemporizou com a apropriação
privada de fundos públicos ocidentais, ainda que em nome de uma compreensão baseada em
relativismos culturais. Daí surgiu a obrigação da comunidade internacional, pressionando os
dirigentes africanos de programar a cultura democrática nos seus respectivos países, com vista
a experimentar os princípios de boa governação e de Direitos do Homem.
22
de expansão das economias de mercado e de grandes avanços democráticos em todo o
mundo18.
Segundo Eugénio Costa Almeida citado no livro de Francis Fukuyama argumenta que, nos
últimos tempos a África tem feito referência à democratização, com consequente proliferação
de movimentos políticos no continente. Como exemplos, foram às eleições na Namíbia, que
permitiram o fim da sua subordinação face à República da África do Sul, com a vitória do
movimento pró-marxista SWAPO (Organização dos Povos do Sudoeste Africano), relegando
para segundo plano a conservadora e pró-sul africana DTA (Aliança Democrática do
Turnhalle); foram as eleições em Cabo Verde, onde o MPD (Movimento para a Democracia),
quase fez esquecer o anterior partido único, o PAICV; as legislativas e presidenciais de São
Tomé e Príncipe, onde os apoiantes do partido no poder e até então o único desde a
independência, o MLSTP (Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe), viram-no ser
duramente derrotado pelo PCD/GR (Partido da Convergência Democrática/Grupo de
Reflexão); as eleições na Zâmbia, onde o histórico Kenneth Kaunda, o pai da independência e
líder do partido único, foi copiosamente derrotado por Frederick Chiluba. Esses exemplos têm
sido no Congo, no Ghana, no Mali e na Nigéria, entre outros países19.
Até aqui, a África tem mostrado ser um continente onde o pluralismo ideológico e a
democracia pluripartidária de tipo Ocidental tem estado arredios, excepção feita ao Senegal e
à África Austral, embora segundo parâmetros muito nacionais.
Note-se que esse tipo de democracia, também conhecida por demo liberalismo, hoje em dia
tanto em voga nos países do Leste europeu, mas que, no entanto, não tem conseguido evitar a
proliferação dos sangrentos neonacionalismos como os que, a cada passo, se verificam no
Cáucaso e nos Balcãs, pondo, assim, em causa as eventuais mudanças que previsivelmente
estão a surgir no ancien régime. Por outro lado, se analisar factualmente a História político-
institucional do Continente, constata-se que o pluripartidarismo é um sistema desconhecido
das novas gerações, mas não das de Léopold Senghor, Houphouet-Boigny, ou ainda do Sekou
Touré.
Daí que, entre os países da África Subsaariana, somente o Senegal tenha adoptado a
pluralidade ideológica, se bem que contestada nos seus limites pelas correntes políticas
internas. O actual académico e ex-presidente senegalês, Senghor fundamentou o sistema
18
FUKUYAMA, Francis. Democracia em África: Sonho ou Realidade. Editora Almedina, São Paulo, 1999, p. 75.
19
Ibidem, p. 105.
23
político do país na Constituição francesa de 1958. Somente o Senegal foi o único a enveredar
por esse sistema político, embora intercalado por períodos de crise institucional, e a conseguir
mantê-lo. Os demais, ou impuseram o sistema monopartidário aos respectivos Estados, ou,
simplesmente, aboliram o próprio sistema e implantaram tiranias, normalmente alicerçadas na
única força realmente organizada, o exército20.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os partidos franceses estenderam os seus tentáculos
aos territórios ultramarinos, através de secções regionais, na linha do iniciado em Angola pelo
PRP (Partido Republicano Português), em 1910. Mais tarde, a consciência política africana
deve-se referir que esses territórios tinham representantes na Assembleia Nacional, levou-os a
criarem organizações políticas africanas, das quais se destacam o PRA (Partido do
Reagrupamento Africano), e a RDA (Reunificação Democrática Africana). Enquanto o
primeiro era, essencialmente, nacionalista, já a RDA, definia-se, por excelência,
progressista21.
20
FUKUYAMA, Francis, Democracia em África: Sonho ou Realidade, editora Almedina, São Paulo, 1999, p. 107.
21
FUKUYAMA, Francis, Democracia em África: Sonho ou Realidade, editora Almedina, São Paulo, 1999, p. 122.
24
2.6.2. Territórios anglófonos
Se, com a independência dos novos Estados africanos, estes adoptaram, ou pelo menos
aceitaram manter, o modelo pluripartidário britânico, progressivamente abandonaram-no
aliciados pelo sistema de partido único consagrado por actuais dirigentes, onde se destacam
Daniel Arap Moi, no Quénia, Ali Mwinyi, da Tanzânia ou ainda, Robert Mugabe, no
Zimbabwé.
As transformações políticas foram, na maior parte, idênticas às que se observaram nos países
francófonos. Daí que, citando Lavroffi “... compatível com o socialismo africano, só o partido
único. A grande maioria dos dirigentes dos novos Estados africanos optou pelo socialismo...”
– que tem tanto de indefinido como de carência de conteúdo. Todos eles, quando jovens,
tinham militado nos movimentos próximo do partido comunista francês, ou passado pelas
escolas ideológicas da Europa do Leste. Justificavam, assim, a contumácia do
monopartidarismo. Para eles o socialismo tem todos os méritos.
Note-se que estes valores são, também, equacionáveis por notáveis francófonos, como
Senghor, Touré ou Modibo Keita, que sustentavam ser o conceito de lutas de classes
inaplicáveis à África contemporânea, porque todos os africanos são igualmente explorados.
Nada mais verdadeiro. Porém, quem os explora, ou permite a sua exploração? Quem permite
a entrada de multinacionais nesses Estados e, em vez de procurarem desenvolver os países
receptores, exploram, por nome sem um mínimo de critério, a mão-de-obra barata, deixando
esses Estados quase sem nada? Quem lucra com isso?
22
FUKUYAMA, Francis, Democracia em África: Sonho ou Realidade, editora Almedina, São Paulo, 1999, p. 132.
25
movimento político contestatório que tem, de uma maneira geral, alastrado nos países
anglófonos e francófonos. São exemplos recentes a Zâmbia e o Mali.
Devem-se realçar os casos da RDC (ex-Congo Belga), do Ruanda e do Burundi que, desde
sempre, se vincularam a problemas étnicos, ainda hoje, por demais evidentes. Veja-se o
problema ruandês que após 20 meses de conflitos entre as forças governamentais apoiadas na
etnia hutu e os rebeldes da minoria tutsi, registou já a assinatura de um cessar-fogo. Logo
seguido de sérias violações ao mesmo, consequentemente, o genocídio ruandês de 1994.
A situação na RDC foi, talvez, nos últimos tempos, a mais complexa. Assistiu-se desde o
início, em 1960, as incidências étnicas no país, dos quais resultaram dois sangrentos conflitos.
O primeiro deles seguiu-se à divisão do partido ABAKO (Aliança dos Bakongo) em duas
organizações rivais lideradas por Thomas Kanza e Joseph Kasa-buvu que, simultaneamente,
eram opositores do MNC (Movimento Nacional Congolês) de Patrice Lumbumba, mais tarde
assassinado. O segundo conflito verificou-se quando surgiu a CONAKAT (Confederação das
Associações do Katanga), lideradas por Moisés Tchombé e, fazendo fé em alguns
observadores políticos da altura, suportada por capitalistas belgas e sul-africanos. Este último
conflito visava à secessão do riquíssimo Katanga (província do Shaba, da então República do
Zaíre, já na altura governada pelo Marechal Mobutu Sese Seku, principal líder do MPR
(Movimento Popular da Revolução, no poder desde 1965-1997). De notar que em 1977 e
1978 houve duas tentativas seccionistas, ambas rechaçadas com auxílio de forças franco-
belgas e marroquinas.
A situação actual da RDC faz supor um desenvolvimento positivo na tímida abertura política
encetada por Mobutu, independentemente das divergências políticas ocorridas com o então
chefe do governo de transição, Tshisekedi. O caos económico e social do país assim o fazem
prever. Mesmo com o advento de Kabila, situação da democracia multipartidária naquele país
cria sempre uma confusão quanto à sua aplicação.
Se, desde sempre, Angola teve, quer no período colonial, quer no período imediato à
independência, um proto-sistema multipartidário, já os restantes PALOP's não conheceram
qualquer modelo de multipartidarismo. Porém, mesmo em Angola e com o advento da
26
independência, as organizações políticas existentes ou, entretanto criadas, reduziram-se aos
três movimentos de libertação, a FNLA (Frente Nacional para a Libertação de Angola),
chefiada por Holden Roberto, o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola),
liderado por Agostinho Neto, e a UNITA (União Nacional para a Independência Total de
Angola), dirigido pelo Jonas Savimbi. Destes só os dois últimos, de conceitos ideológicos
diferentes, se mantiveram activos, com o consequente sangrento conflito, que quase desvatou
o país durante três décadas de conflito.
Dos Acordos de Gbadolite e de Bicesse saíram os genes que, actualmente, fazem esperar a
consolidação da democracia pluripartidária, já consagrada na Lei Constitucional de 1992, a
qual trouxe de novo à ribalta a FNLA e permitiu o despontar de diversos partidos políticos.
Face aos movimentos políticos contestatórios por quase toda a África, foi legítimo questionar
se se trata de um sintoma de que o monopartidarismo estava em regressão e, como tal, a ser
progressivamente substituído pelo pluralismo ideológico, e até que ponto esse pluralismo se
conseguiu impor no continente.
Para responder, recorreu-se à tese sustentada por F.Chambino, nesse domínio. Segundo ele,
em função do modelo de implantação do colonizador europeu, existiram no que se poderia
chamar de duas Áfricas. Uma a do contacto e da mudança cultural, geralmente identificada
com o urbanismo litorâneo, onde a pedagogia e a massificação social superaram as
condicionantes da transição, e outra, em que o contacto de culturas foi escasso ou, mesmo,
inexistente, sede do conservadorismo e do privilégio costumeiro, representado pelos chefes
tradicionais, cujo poder foi suportado pela complexa questão da legitimidade de origem e que,
de facto, se opõem aos adeptos da mudança23.
Qualquer das duas Áfricas não abdica do direito que reinvidica da manutenção e do exercício
do poder e, simultaneamente, com a ênfase egocêntrica. Por sua vez, também Lavroffi refere à
existência de grandes obstáculos para a consagração do pluripartidarismo. A tentativa dos
novos líderes se definirem como dirigentes de todos os povos, daí não havendo lugar para
outros partidos políticos, de modo a serem congregados à volta do partido único todos os que
têm qualidades para "bem governar". O Presidente do Zimbabwé, Robert Mugabe é um dos
principais defensores desta tese24.
23
FUKUYAMA, Francis, Democracia em África: Sonho ou Realidade, editora Almedina, São Paulo, 1999, p. 137.
24
Ibidem, p. 138.
27
O estatismo e o facto do Estado de ser, é ainda hoje, o principal patrão, o distribuidor de
rendimentos (que na maior parte dos países não existe), o garante e fonte de promoções (o que
ainda hoje se verifica em alguns sectores económicos de Angola e na República Democrática
do Congo – RDC).
Não se esqueceu que a maior parte dos países africanos é uma “amálgama” de etnias,
diferentes entre si, que, na época colonial, foram incentivadas ao etnocentrismo. O conceito
de Nação só em poucos países começou a estar implantado, como por exemplo, em Cabo
Verde, Lesotho, Senegal e Swazilândia. De resto existem, apenas, projectos nacionais. Ora
estes obstáculos, bem assim como a conjugação com a tese das duas Áfricas, não são, de “per
si”, suficientes que permitam manter o monopartidarismo ou os regimes totalitários que ainda
persistem.
Segundo a tese de Erik Wright – embora contextualizada para uma situação diferente, – a
implantação de um regime realmente democrático do tipo Ocidental só acontecerá quando
existir uma “sabotagem económica eficaz organizada pela burguesia capitalista” de modo que,
uma insurreição seja vitoriosa perante um aparelho repressivo25. E esta insurreição só cobrará
dividenda quando “...esse aparelho se dividir ou se desintegrar...”. Ora, foi precisamente isso
que se verificou na defunta da União Soviética, nos antigos Estados do Leste europeu, nos
países jugoslavos e, é o que se tem verificado recentemente, embora em muito menor escala
em Madagáscar, no Benim, no Burkina-Faso ou no Zimbabwé.
25
ERIK Wright. A problemática da democracia em África. Edição Porto Alegre, Brasil, 1995, p. 127.
28
III. CARACTERIZAÇÃO DA AREA DE ESTUDO
Mas para o docente Mateus (2005), no seu (Angola nosso país), assegura que o termo Angola
– Assim se chama porque um dos seus reis, do Reino do Ndongo, no séculos I dos chamou-se
Ngola e dele se notabilizou uma sucessão de reis que afamaram em Angola a dinastia Ngola.
Quanto ao clima, o autor aponta na sua obra que, é equatorial em Cabinda (província mais a
norte), tropical seco e por vezes temperado nas restantes províncias do Norte e, desértico e
Semidesértico no sul.
29
3.2. Hidrografia e recursos naturais de Angola
Segundo Mateus (2005), Angola possui 47 bacias hidrográficas Longas, com belas quedas,
cascatas e outras surpreendentes características, enquanto atravessam paisagens em todo o seu
curso.
Dois desses rios dão a maior alegria aos angolanos e aos turistas estrangeiros pela sua larga
extensão de navegabilidade, que são os rios Kwanza e Zaire. Segundo consta, o rio Kwanza,
nome adoptado à moeda nacional - tem um percurso de 240 quilómetros navegáveis, enquanto
o rio Zaire é navegável em todos os 150 quilómetros que atravessam o nosso país, uma vez
que outra parte se prolonga para o território da República Democrática do Congo ex. Zaire.
Por outro lado, Angola é um país eminentemente rico em recursos minerais. Estima-se que o
seu subsolo alberga 35 dos 45 minerais mais importantes do comércio mundial. Entre os quais
se destacam o petróleo, gás natural, diamantes, fosfatos, substâncias betuminosas, ferro,
cobre, manganésio, ouro e rochas ornamentais.
Com os depósitos substanciais de ouro, minério de ferro, fosfatos, manganês, cobre, quartzo,
gesso, mármore, granito negro, berílio, zinco e numerosos metais estratégicos. Contudo,
Angola tem sido descrita como um dos maiores e menos desenvolvidos dos paraísos minerais
ainda existentes.
30
IV. METODOLOGIA
Perante esta abrangência a amostra do presente estudo foi elaborada com recurso ao método
de amostragem por conveniência, ou seja, foram seleccionados os elementos que se
consideraram dariam um melhor contributo “em função da disponibilidade e acessibilidade
dos elementos que constituem a população-alvo” (Reis, 1997).
26
MARCONI, de Andrade Marina e LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. Editora Atlas, 7ª edição, São Paulo, 2009, p. 4.
27
Ibidem, p. 4.
31
4.2.1. Critério de inclusão
A análise documental e fontes bibliográficas foram feitas de modo geral sobre alguns
trabalhos já realizados, revestidos de importância por serem capazes de fornecer dados actuais
e relevantes relacionados com o tema. O estudo pertinente da literatura ajudou a planificação
do presente trabalho, evitando duplicações e certos erros.
Com base a técnica acima apresentada, os instrumentos utilizados foram aquisições dos livros,
jornais e revistas encontrados nas diversas bibliotecas na província de Luanda.
32
Segundo o modelo de pesquisa efectuado para a realização do presente trabalho, empregou-se
geralmente, procedimentos sistemáticos para a análise de dados e frequentemente, descrições
qualitativas do objecto em estudo.
Após a selecção do suporte bibliográfico, uma variedade de procedimentos foi utilizada, como
a realização de contactos dirigidos às personalidades diversas com conhecimento profundo
dos assuntos abordados no trabalho e análise de conteúdo das informações obtidas.
O Processamento de dados foi efectuado por meio da operação com computadores, através do
Microsoft Word, pois permitiu guardar os dados de maneira acessível, organizando e
analisando tanto descritiva quanto inferencialmente, facilitando o uso de técnicas de análise
variadas.
33
V. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesse contexto de fraqueza e decadência das elites locais, os grupos políticos se firmam numa
dimensão facciosa das elites formadoras dos partidos. Estes, nascidos em um ambiente de
convulsão social e conflitos armados, não poderiam se institucionalizar sem que ocorresse
intensa participação em âmbito estatal30, ou seja, por estarem fora das disputas pelo Estado,
rapidamente a unidade em torno da resistência à colonização se transformou em uma disputa
fratricida entre os grupos em suas próprias formações31.
Em Angola, este sistema unipartidário foi utilizado para descrever um sistema de partido
dominante, embora que existiam outros partidos, mas a lei do partido único por àquela altura
impediam a oposição obter legalmente o poder. Este regime confundiu-se com uma
democracia não-partidária que proibiu o exercício dos partidos políticos. Este sistema surgiu
de ideologias comunistas, fascistas ou nacionalistas.
28
LÁZARO, Gilson José Simão. Angola: Discursos e Práticas Dominantes de Reconciliação e Construção da Nação. Dissertação de Mestrado,
Instituto Universitário de Lisboa: Departamento de Sociologia, Lisboa, 2010, p. 13.
29
Ibidem, p. 14.
30
Ibidem, p. 14.
31
Ibidem, p. 15.
34
O MPLA foi o principal foco de resistência durante a guerra anticolonial (1961-1974).
Alinhado às forças soviéticas, o grupo assumiu a ideologia socialista durante décadas.
Instituído em formato partidário, após a independência. Em sua formação inicial, a União
Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) foi apoiada pela China, entre os anos
de 1966 até 1974. Depois da independência, o partido se coloca ao lado do bloco ocidental e
passa a receber apoio dos Estados Unidos e da África do Sul. Também na oposição, a Frente
Nacional de Libertação de Angola (FNLA) esteve presente na guerra contra Portugal e, depois
de 1975, combateu o MPLA ao lado da UNITA.
Logo após firmado o Acordo de Alvor, que definia a independência de Angola entre
autoridades portuguesas e os partidos de Angola, as três principais forças políticas do país –
MPLA, FNLA e UNITA – declaram, quase simultaneamente e em províncias diferentes, a
independência do país sem qualquer entendimento prévio. Surgia, assim, o primeiro momento
de tensão entre as lideranças colonizadas.
Essa complexa relação entre as forças políticas deixam claro que o único ponto em comum
era a luta pela independência32. Sem qualquer expectativa do que aconteceria após a
independência, ou mesmo acordos prévios para a fundação do regime, os grupos partiram para
uma luta entre si.
32
LÁZARO, Gilson José Simão. Angola: Discursos e Práticas Dominantes de Reconciliação e Construção da Nação. Dissertação de Mestrado,
Instituto Universitário de Lisboa: Departamento de Sociologia, Lisboa, 2010, p. 18.
33
PACHECO, Fernando. Política e cidadania: o estado da democracia. Caminhos para a cidadania e para a construção da democracia em Angola:
obstáculos e avanços. A questão social no novo milênio: Coimbra, 2004, p. 3.
34
LÁZARO, Gilson José Simão. Angola: Discursos e Práticas Dominantes de Reconciliação e Construção da Nação. Dissertação de Mestrado,
Instituto Universitário de Lisboa: Departamento de Sociologia, Lisboa, 2010, p. 21.
35
Acordos de Bicesse de 1991
Os riscos graves, logo percebidos, para a eficácia dos Acordos de Bicesse estavam no
desarmamento irregular e incompleto da UNITA bem como a não passagem para o controlo
do Estado angolano de importantes áreas do território que permaneceram sob o controlo da
UNITA.
Segundo Pezarat Correia, “aceitou-se um limite rígido e demasiadamente curto para o período
de transição”. A componente política subalternizou a militar. As antigas FAPLA (Forças
Armadas Populares de Libertação de Angola) haviam sido desmobilizadas e as novas Forças
Armadas Angolanas não contavam, até as eleições, com mais de 60% dos efectivos
previstos36.
Fez-se necessário lembrar neste trabalho que o período que medeia à assinatura dos Acordos
de Bicesse, em 31 de Maio de 1991, e o retorno à guerra, na segunda metade de Outubro de
1992, corresponderam a uma época de paz, com a curta duração de 17 meses, que Angola não
vivia desde o início da luta de libertação nacional em 1961, isto foi, há mais de 30 anos.
35
CONCEIÇÃO, J. Angola: Uma política externa em contexto de crise (1975-1994) – Revisão da literatura, São Paulo, 1999, p. 176.
36
PEZARAT, Correia. Descolonização de Angola: A joia da Coroa do Império Português. Edição Ler e Escrever. Luanda, 1991, p. 43.
36
(Forças Armadas de Libertação de Angola)37. Mesmo assim, um dos frutos de sucesso dos
acordos de Bicesse de 1991 foi a realização em Angola das primeiras eleições livres e
democráticas em 1992 nas quais participaram vários partidos políticos, desde que o país
conquistou a sua independência a 11 de Novembro de 1975.
As eleições de 1992
Carvalho (1996, citado por Conceição, 1999, pág. 1881) argumenta que “a ausência de paz
após as eleições de 1992 trouxe o adiamento da transição e agravou a sistemática violação dos
direitos e liberdades fundamentais em Angola”39.
Por outras palavras, “o que sucedeu em Angola não foi o colapso da democracia e da
transição constitucional, mas sim o fracasso de um processo de pacificação, que vem influir
na dinâmica e vitalidade da transição democrática e não no seu mérito e continuidade”. Essa
circunstância influi, dificultando o funcionamento das instituições e o seu âmbito territorial de
acção e comprimindo o grau de expressão democrática da sociedade.
37
CONCEIÇÃO, J. Angola: Uma política externa em contexto de crise (1975-1994) – Revisão da literatura, São Paulo, 1999, p. 181.
38
Ibidem, p. 183.
39
Ibidem, p. 185.
37
receosos de que o exercício dos seus direitos possa ser interpretado como acto de
favorecimento de quem atenta contra as instituições.
Uma vez que as eleições de 1992 não obtiveram o sucesso esperado, o conflito redundou e o
país mergulhou desta vez numa guerra mais intolerável. Dois anos depois, um novo processo
de paz recomeçou entre as partes em conflito (MPLA e UNITA), onde saiu o Protocolo de
Lusaka de 1994, na qual foi decidida a criação do GURN (Governo de Unidade e
Reconciliação Nacional) e a repartição de postos ministeriais e outros postos de governação
provincial.
40
CONCEIÇÃO, J. Angola: Uma política externa em contexto de crise (1975-1994) – Revisão da literatura, São Paulo, 1999, p. 190.
38
Formas de participação política e democrática em Angola
Chama-se de participação política, qualquer tipo de acção que o povo exerce para o seu bem-
estar a nível nacional, controlando os governantes na formação dos programas e políticas
decisivas e apoio na avaliação das situações, acçoes e práticas governativas.
São várias condições para a participação política; Como por exemplo, temos: O exercício das
liberdades indivíduos41. O direito à associação42; E uma politica de igualdade43; Isto é, o povo
deve sentir em condições iguais políticas, económicas, culturas e religiosas do seu país e
aspiração cada vez mais para uma democracia.
Em Angola, muitos sabem como uma eficiente participação política se consegue tão numa
democracia, isto porque, a democracia como sistema sócio-político, estimula e garante o
exercício da luta sem manipulações políticas; e tão assim que a participação política pode ser
autêntica e humanista. E com esse tipo de sociedade, uma democracia autêntica é aquela que,
embora imperfeita para superar a procuração bem como as suas deficiências através de três
princípios: o princípio da eficácia; o principio da participação; e por fim o principio do
multipartidarismo.
A participaçao dos cidadaos deve ser em vários níveis, porque em democracia, só tem o
privilegio de se expressar livremente e participar activamente na vida pública do país são os
cidadãos em participarem activamente na vida pública do país. Existem varias formas de
Fazê-lo, uma delas é a participação partidária política, ou sendo militantes simpatizantes, de
um partido político livremente escolhido por cada um de cidadaos.
41
Ver: Declaração Universal. Dos Direitos Humanos Ver também os Artigos 18º e 20º. Lei Constitucional de Angola, Luanda, 2010.
42
Ver: Artigo 19º, Constituição da República de Angola, Luanda, 2010.
43
Ver: Artigo 21º, Constituição da República de Angola, Luanda, 2010.
44
Ver: Revista CEAST. O Cristão é uma política, Luanda, 1991, p. 7.
39
União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA)
Partido de Renovação Social (PRS)
Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA)
Partido Liberal Democrático (PLD)
Partido da Aliança da Juventude Operária-Camponesa de Angola (PAJOCA)
Partido Social-Democrata (PSD)
Partido Renovador Democrático (PRD)
Aliança Democrática de Angola (ADA)
Partido Democrático para o Progresso - Aliança Nacional Angolana (PDP-ANA)
Partido Nacional Democrático Angolano (PNDA)
Partido Democrático Liberal de Angola (PDLA)
Movimento de Defesa dos Interesses dos Angolanos (MDIA)
Partido da Revelação (PR-fundado em Londres, aos 7 de Julho de 2007)
As eleições constituem uma arma importante disponível aos cidadãos, no combate pela justiça
social, participação política e pela inclusão económica, em busca da liberdade, dignidade e
prosperidade. Através de processos eleitorais, os governos são forçados a responder aos
interesses dos eleitores e prestar contas periodicamente, no fim dos seus mandatos.
45
CNE – Comissão Nacional Eleitoral. Cadernos de Registro Eleitoral, 2008.
40
A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) divulgou em 10 de Setembro os últimos resultados
parciais das legislativas angolanas, os quais confirmaram a vitória do Movimento Popular de
Libertação de Angola (MPLA) com 81,76% dos votos emitidos. Segundo ainda a CNE, o
MPLA teve 4.520.453 votos, contra 572.523 da União Nacional para a Independência Total
de Angola (Unita), que correspondem a 10,36% e colocam o principal partido opositor em
segundo lugar na preferência do eleitorado angolano. Em terceiro lugar ficou o Partido de
Renovação Social (PRS), com 173.546 votos, que representam 3,14% do total46.
Com a realização das eleições legislativas ocorridas em 2008, Angola conseguiu até aqui o
que parece ser essencial, ou seja, preservar a paz política, mantendo a sua integridade
territorial e lançar as novas bases de um Estado democrático e de direito.
No acto eleitoral, tal como realizado em 2008, a participaçao da Sociedade Civil angolano foi
de forma consciente e esclarecida, mantendo a sua imparcialidade e não beneficiou e nem
prejudicou qualquer partido concorrente. O facto de ser não partidária, tendo em conta da fase
inicial da jovem democracia angolana, uma das características da Sociedade Civil angolana é
a de não prejudicar na sua actuação, o desenvolvimento harmonioso da sociedade angolana47.
46
CNE – Comissão Nacional Eleitoral. Arquivos das eleições legislativas de 2008.
47
CNE. Código de Conduta Eleitoral - Artigos 28º e 29º. Luanda, 2008.
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político, para a organização e para a expressão da vontade dos cidadãos, participando na vida
política e na expressão do sufrágio universal, por meios democráticos e pacíficos, com
respeito pelos princípios da independência nacional, da unidade nacional e da democracia
política.
O poder político é exercido por quem obtenha legitimidade por processo eleitoral livre e
democraticamente exercido nos termos da Constituição e da lei. É ilegítima e criminalmente
punível a tomada e o exercício do poder político com base em meios violentos ou por outras
formas não previstas nem conformes com a Constituição.
Os partidos políticos angolanos devem, nos seus objectivos, programa e prática, contribuir
para a consolidação da Nação Angolana, da independência nacional e o reforço da unidade
nacional, a salvaguarda da integridade territorial, a defesa da soberania nacional e da
democracia, a proteção das liberdades fundamentais e dos direitos da pessoa humana e a
defesa da forma republicana de governo e do carácter unitário e laico do Estado.
Os partidos políticos a luz da Constituição e da lei têm o direito à igualdade de tratamento por
parte das entidades que exercem o poder público, assim como a um tratamento de igualdade
pela imprensa, nas condições fixadas pela lei vigente na República de Angola.
Afirmar que a reforma do sistema política em Angola foi uma proposta democratizante ao
vincular a democracia por meio de sua prática teórica e social levantada pela questão de
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fundo, que vem preocupando os actores políticos e sociais angolanos, na qual seja, a relação
entre democracia política e participação social.
Esse consenso, ou pacto entre elites, envolve, entre outros factores, a generalização de um
conjunto de valores, orientações e atitudes políticas em meio aos diferentes segmentos em que
se divide o mercado político e resulta tanto dos processos de socialização como da
experiência política concreta dos membros da comunidade política.
Em Angola, o sistema político formal, entretanto, não vem dando conta da densa diversidade
de problemas que afectam as sociedades angolanas, e observa-se o surgimento do clamor por
maior participação nas decisões políticas por intermédio de organizações sociais não
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partidárias, nomeadamente as associações de interesses, que vêm ocupando espaços antes
exclusivos dos partidos políticos.
Tais imagens de mobilização popular têm sido difundidas contemporaneamente a partir das
mudanças democratizantes que vêm ocorrendo na África, particularmente. Em muitos países,
grandes movimentos societários foram cruciais para o encerramento de autoritarismos de
diversas origens. Os cidadãos pressionam e enfrentam as autocracias não como indivíduos,
mas como membros de movimentos estudantis, igrejas, associações profissionais, imprensa,
associações cívicas, etc.
De modo geral, a Sociedade Civil é, assim, uma entidade intermediária, situada entre a esfera
privada e o Estado, que não apenas restringe o poder do Estado como legitima sua autoridade
quando baseada no cumprimento das leis. Comporta um vasto conjunto de organizações
formais e de grupos informais de natureza variada: económicos (associações comerciais e
produtivas); culturais (religiosos, étnicos, comunitários, defensores de direitos coletivos,
valores, credos e símbolos); de informação e educação; profissionais; de desenvolvimento
(que visam à melhoria da qualidade de vida); orientados por problemas (meio ambiente, de
gênero, consumidores); cívicos (promotores da cidadania). Tais constelações comportam
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ainda mídia independente e organizações vocacionadas para a produção cultural e intelectual -
universidades, teatros, institutos publicitários, produtoras de filmes, etc.
Em Angola, a Sociedade Civil relaciona-se com o Estado de várias formas, mas não almeja o
exercício do poder formal ou sua inclusão no aparelho estatal. Antes, espera do Estado
concessões, benefícios, mudanças políticas, ajuda, reparação ou responsabilidade.
Outro aspecto que a caracteriza diz respeito a sua diversidade e pluralidade, posto que, com
algumas exceções, em geral nenhum grupo da sociedade civil representa todos os interesses,
quer individuais, quer comunitários.
Por último, a sociedade civil se distingue e, é autônoma não só em relação ao Estado, mas
também em relação ao sistema partidário. Organizações e redes da sociedade civil podem
formar alianças com os partidos políticos.
Contudo, Sociedade Civil angolana não é uma mera categoria residual, sinônimo de
“sociedade” ou de qualquer coisa que não seja Estado ou parte do sistema político formal.
Posto isso, a consolidação do processo democrático passa, a nosso ver, por uma nova
concepção a respeito do sistema de governo que permita maior participação da sociedade civil
nas decisões políticas. Não porque um sistema com mais participação, por si só, elimine as
iniquidades sociais, mas porque a baixa participação e a iniquidade estão de tal modo
interligado, que uma sociedade mais equânime e mais humana exige um sistema de
participação política mais intensa.
Norberto Bobbio (2007) contribui para essa análise quando afirma que, “historicamente, a
democracia tem dois sentidos prevalecentes, ao menos na origem, conforme se ponha em
maior evidência o conjunto das regras cuja observância é necessária para que o poder político
seja efetivamente distribuído entre a maior parte dos cidadãos, as chamadas regras do jogo
(formal), ou o ideal em que um governo democrático deveria se inspirar, que é o da igualdade
(substantiva)”48.
48
BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Editora UnB. 13ª edição. São Paulo, Brasil, 2007, p 145.
46
VI. CONCLUSÕES
A análise desenvolvida no presente trabalho realçou a forma que a relação existente entre a
razão de Estado e a democracia, mas também a importância estratégica da participação da
sociedade civil em instâncias colegiadas de deliberação na esfera estatal nas democracias
contemporâneas.
47
Em Angola, o processo democrático que culminou com o multipartidarismo foi fruto de
grande sacrifício consentido pelos angolanos através da disputa, consequente do conflito
interno angolano entre os movimentos de libertação e, teve o seu início com os acordos de
Bicesse de 1991, a partir dos quais foi adoptada uma Constituição de um Estado democrático
e de direito. Estado que, além da limitação do poder político, postula a legitimação do título e
do exercício desse poder mediante o princípio da soberania popular garantia do direito à igual
participação na formação democrática da vontade popular.
É inegável o papel preponderante dos actores políticos angolanos nos processos históricos
para a libertação do povo e para a construção do Estado angolano. Os vários processos
negociais com vista ao alcance da democracia no país que deram lugar às primeiras eleições,
seguidas das segundas, assinalaram a presença dos partidos políticos. A proposta de reforço
do papel e função dos partidos políticos no contexto de sistema político angolano colocam aos
partidos vários desafios, nomeadamente de organização interna, disciplina partidária, reforço
da educação patriótica e de formação político-partidária e promoção dos militantes e quadros
dos partidos com base no mérito profissional, político e académico.
48
VII. RECOMENDAÇÕES
Com base nas análises feitas ao longo do presente trabalho, permitiram-nos recomendar de
forma que a democracia participativa instaurada em Angola possa ser efectiva, o seguinte:
4. Que se crie um quadro político para evitar aquilo que tem ocorrido com alguma
frequência nalguns Estados em todo mundo, em que os processos eleitorais conduzem
à instabilidade política, ou então os resultados eleitorais dão lugar a um quadro
político de bloqueio institucional.
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VIII. BIBLIOGRAFIA
BOBBIO, Noberto. A teoria das formas de governo. Ed. UnB. Brasília, 1980.
BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Editora UnB. 13ª edição. São Paulo, Brasil,
2007.
GIORGIO, Lapira. Para Uma Estrutura do Estado. Lisboa: Editora Livraria Morais, 1965.
MARCONI, de Andrade Marina e LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. São Paulo:
Editora Atlas, 7ª edição, 2009.
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MATEUS, Ismael. Experiências de Sentir. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2005.
REIS, António Estácio dos. Medir Estrelas. Lisboa: Editora Correios de Portugal. 1997
ROSENFIELD, Denis L. O Que É uma democracia. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1984.
VIANA, Nildo. O que são Partidos Políticos. Goiânia: Edições Germinal, 2003.
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