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UNIVERSIDADE DE BELAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECONÓMICAS


CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

AS IMPLICAÇÕES ADUANEIRAS DA IMPLEMENTAÇÃO


ZONA DE LIVRE COMÉRCIO DA COMUNIDADE DE
DESENVOLVIMENTO DA ÁFRICA AUSTRAL NA
ADMINISTRAÇÃO GERAL TRIBUTÁRIA DE ANGOLA

TRABALHO DE FIM DE CURSO

JOANA DE ASSUNÇÃO FERNANDO HENRIQUE DOS SANTOS

LUANDA, 2018
UNIVERSIDADE DE BELAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECONÓMICAS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

FOLHA DE ROSTO

AS IMPLICAÇÕES ADUANEIRAS DA IMPLEMENTAÇÃO


ZONA DE LIVRE COMÉRCIO DA COMUNIDADE DE
DESENVOLVIMENTO DA ÁFRICA AUSTRAL NA
ADMINISTRAÇÃO GERAL TRIBUTÁRIA DE ANGOLA

TRABALHO DE FIM DE CURSO

Elaborado por: Joana de Assunção Fernando Henrique dos Santos


Orientado por: Msc. Délcio Pedro Rodrigues

Trabalho de Fim de Curso apresentado à


Faculdade de Ciências Sociais e Económicas da
Universidade de Belas como requisito para a
obtenção do Grau de Licenciada em Relações
Internacionais

LUANDA, 2018 i
FICHA CATALOGRÁFICA

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou electrónico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.

Joana de Assunção Fernando Henrique dos Santos

DATA_________/_________/___________

SANTOS, Joana de Assunção Fernando Henrique dos

AS IMPLICAÇÕES ADUANEIRAS DA IMPLEMENTAÇÃO ZONA DE


LIVRE COMÉRCIO DA COMUNIDADE DE DESENVOLVIMENTO DA
ÁFRICA AUSTRAL NA ADMINISTRAÇÃO GERAL TRIBUTÁRIA DE
ANGOLA

Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e Económicas da


Universidade de Belas como requisito para a obtenção do Grau de Licenciada em Relações
Internacionais.

Orientador: Msc. Délcio Pedro Rodrigues

Nº de páginas: 55

Tipo de letra: Times New Roman

Palavras-chave: Zona de Livre Comércio. SADC. AGT. Angola.

ii
JOANA DE ASSUNÇÃO FERNANDO HENRIQUE DOS SANTOS

FOLHA DE APROVAÇÃO
AS IMPLICAÇÕES ADUANEIRAS DA IMPLEMENTAÇÃO ZONA DE
LIVRE COMÉRCIO DA COMUNIDADE DE DESENVOLVIMENTO DA
ÁFRICA AUSTRAL NA ADMINISTRAÇÃO GERAL TRIBUTÁRIA DE
ANGOLA

Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e Económicas da


Universidade de Belas como requisito para a obtenção do Grau de Licenciada em Relações
Internacionais.

Aprovado,_____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

Presidente do Júri

____________________________

1º Vogal

_____________________________________

2º Vogal

_____________________________________

Secretário

___________________________

iii
DEDICATÓRIA

“O presente trabalho é dedicado ao meu


filho: Amir Gabriel Henrique dos Santos,
por ser a minha grande força e o meu
amor incondicional e aos meus pais que
são os meus grandes impulsionadores em
todo o processo de formação e pelo apoio
incondicional”

iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus todo-poderoso pelo dom da vida, pela saúde e sobretudo pelo dom de
discernimento, mas também por ter colocado no meu caminho, as pessoas certas no momento
certo. Muito obrigado ao meu filho Amir Gabriel, aos meus pais Pedro Manuel e Josefa
Augusto, a minha Chara, Joana Manuel Henrique, palavras faltam para descrever o grande
amor e companheirismo que sempre nutriram por mim.
Agradecimento em especial ao nosso Camarada Armindo Victor, que além de irmão mais
velho é um verdadeiro amigo e mestre ao Amor de Jesus que incansavelmente nos ter
mostrado o caminho certo para seguirmos nesta estrada da vida e por terem elevado a minha
vida numa escala inimaginável.
Aos meus irmãos de forma uma forma geral pelo apoio, especialmente as mestres Cecília de
Assunção Fernando Henrique e Angélica Henrique Vuma, por todo apoio e sacrifícios feitos
durante o processo de formação, as minhas Tias e Primos, Sobrinhos e Cunhados obrigado
pelo amor incondicional.
Agradeço ainda de forma muito especial aos meus amigos e colegas, de uma forma especial
ao João Kila dos Santos, pelo apoio e prontidão demonstrada durante a elaboração desta
monografia
E por fim mas não menos importante, ao Duilio Pedro por se ter sensibilizado com a nossa
história e com o apoio de seus pais Sr. Isaac Pedro e Dona Osvalda Pedro nos darem a
oportunidade de seguirmos este grande sonho e ao Sr. Afonso Quintas por ser o grande
mentor de um projecto que nos levou a este fim, que projectos como este continuem. De igual
modo a todos os que directas ou indirectamente contribuíram para a realização deste sonho, a
todos que Deus vos abençoe rica e poderosamente.

v
RESUMO

As Implicações Aduaneiras da Implementação Zona De Livre Comércio da Comunidade de


Desenvolvimento da África Austral na Administração Geral Tributária de Angola, sendo que
o nosso objectivo geral procura compreender as implicações aduaneiras da implementação
Zona de Livre Comércio da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral no sentido de
responder aos desafios decorrentes da sua concretização em Angola, no que diz respeito a
metodologia recorremos a uma pesquisa qualitativa, onde obtivemos como principais
resultados obtidos na nossa investigação, podemos perceber que uma grande maioria dos
inquiridos, tem um parco ou mesmo nenhum conhecimento, sobre o papel da AGT, visando a
entrada de Angola na Zona de Livre Comércio da SADC, sendo necessário ter isto em
consideração pois poderá constituir um elemento dissuasor no desenvolvimento de políticas
tributárias, dentre as principais conclusões realçamos que a Zona de Comércio Livre, marca o
início do grande esforço que a região Austral de África tem feito para que os seus povos
sejam mais unidos, quer a nível económico, social, político, etc., mas para que ela seja
encarada como um grande benefício para todos. Por fim recomendamos ao Estado angolano
deverá ser muito mais célere no processo de implementação da ZCL, permitido assim a região
avançar com a integração que refere o protocolo da SADC.

Palavras-chave: Zona de Livre Comércio. SADC. AGT. Angola.

vi
ABSTRACT

The Customs Implications of the Implementation of the Free Trade Zone of the Southern
African Development Community in the General Administration of Taxation of Angola, and
our general objective seeks to understand the customs implications of the implementation of
the Free Trade Zone of the Southern African Development Community in the sense of to
respond to the challenges arising from its implementation in Angola, with regard to
methodology we resort to a qualitative research, where we obtained as main results obtained
in our investigation, we can see that a large majority of respondents have little or no
knowledge about the role of the AGT, aiming at Angola's entry into the SADC Free Trade
Area, and it is necessary to take this into account as it may constitute a dissuasive element in
the development of tax policies, among the main conclusions we emphasize that the Free
Trade Area, marks the beginning of the great effort that the Austra region l of Africa has done
so that its peoples are more united, whether economically, socially, politically, etc., but so that
it is seen as a great benefit for all. Finally, we recommend that the Angolan State be much
faster in the process of implementing the FTA, thus allowing the region to move forward with
the integration referred to in the SADC protocol.

Keywords: Free Trade Zone. SADC. AGT. Angola.

vii
LISTA DE TABELAS

Tabela nº 1 – Género dos inquiridos39

Tabela nº 2 – Nível académico dos inquiridos 40

Tabela nº 3 – Avaliação dos serviços aduaneiros em Angola 40

Tabela nº 4 – Conhecimento sobre a pauta aduaneira 41

Tabela nº 5 – Conhecimento dos funcionários da AGT sobre a ZLC da SADC 42

Tabela nº 6 – Avaliação sobre as medidas e estratégias adoptadas pela AGT sobre integração
de Angola na ZLC da SADC 43

viii
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico nº 1 – Género dos inquiridos 39

Gráfico nº 2 – Nível académico dos inquiridos 40

Gráfico nº 3 – Avaliação dos serviços aduaneiros em Angola 41

Gráfico nº 4 – Conhecimento sobre a pauta aduaneira 42

Gráfico nº 5 – Conhecimento dos funcionários da AGT sobre a ZLC da SADC 43

Gráfico nº 6 – Avaliação sobre as medidas e estratégias adoptadas pela AGT sobre integração
de Angola na ZLC da SADC 44

ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGT - Administração Geral Tributaria

CEE - Comunidade Económica Europeia

COMESA- Mercado Comum da Africa Oriental e Austral

DNI - Direcção Nacional Dos Impostos

EAC- Comunidade Leste Africano

FMI- Fundo Monetário Internacional

GATT- Acordo Geral Sobre Tarifas e Comercio

PERT- Projecto Executivo Para a Reforma Tributaria

PIB- Produto Interno Bruto

RISDP - Plano Estratégico para o Desenvolvimento Regional

SACU- União Aduaneira da Africa Austral

SADCC - Conferencia Para a Coordenação do Desenvolvimento da Africa Austral

SADC – Comunidade Para o Desenvolvimento da África Austral

ZCL - Zona de Comercio Livre

x
ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO..................................................................................................................i

FICHA CATALOGRÁFICA...................................................................................................ii

FOLHA DE APROVAÇÃO...................................................................................................iii

DEDICATÓRIA.......................................................................................................................iv

AGRADECIMENTOS.............................................................................................................v

RESUMO..................................................................................................................................vi

ABSTRACT.............................................................................................................................vii

LISTA DE TABELAS...........................................................................................................viii

LISTA DE GRÁFICOS...........................................................................................................ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..............................................................................x

I. INTRODUÇÃO.................................................................................................................1

1.1. Introduzir o tema..........................................................................................................1

1.1.1. Delimitação do tema.............................................................................................2

1.1.2. Justificação do tema..............................................................................................2

1.2. Formulação do problema..............................................................................................2

1.3. Objectivos.....................................................................................................................3

1.3.1. Objectivo geral......................................................................................................3

1.3.2. Objectivos específicos..........................................................................................3

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................4

2.1. Abordagem Teórica na Implicações Aduaneiras da Implementação ZLC da SADC. .5

2.2. Implicações Aduaneiras da Implementação ZLC da SADC em Angola.....................7

2.2.1. História de Angola................................................................................................7

2.2.2. História da SADC.................................................................................................8

2.2.3. Zona de Comércio Livre da SADC.....................................................................12

2.2.4. Antecedentes da Zona de Comércio Livre da SADC.........................................16

2.2.5. ZCL e a Legislação Aduaneira...........................................................................18


xi
2.2.6. União Aduaneira.................................................................................................20

2.2.7. ZCL: Um Passo Rumo à Integração Regional Mais Profunda...........................21

2.2.8. Protocolo da SADC sobre Trocas Comerciais....................................................21

2.2.9. Pautas Aduaneiras e Sistemas Fiscais.................................................................22

2.3. Efeitos da Integração Regional..................................................................................24

2.4. Integração Regional em África..................................................................................29

2.4.1. Dificuldades na Implementação dos Acordos Regionais....................................30

2.5. Angola no Plano Regional da SADC.........................................................................31

2.5.1. Angola em Relação à Liberalização do Comércio..............................................32

2.5.2. Vantagens e Desvantagens da ZCL da SADC para Angola...............................33

III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO......................................................35

3.1. Administração Geral Tributária.................................................................................35

3.1.1. Missão da AGT...................................................................................................36

3.1.2. Visão...................................................................................................................36

3.1.3. Valores................................................................................................................36

IV. METODOLOGIA........................................................................................................37

4.1. Tipo de estudo............................................................................................................37

4.2. População e amostra...................................................................................................37

4.2.1. Critérios de inclusão...........................................................................................37

4.2.2. Critérios de exclusão...........................................................................................38

4.3. Métodos a utilizar.......................................................................................................38

4.4. Procedimentos e instrumentos ou técnicas para a colecta de dados...........................38

4.5. Processamento de dados.............................................................................................38

V. RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................................39

VI. CONCLUSÕES............................................................................................................51

VII. RECOMENDAÇÕES..................................................................................................52

VIII. BIBLIOGRAFIA......................................................................................................53

xii
ANEXOS.....................................................................................................................................I

Anexo I: Questionário............................................................................................................II

xiii
I. INTRODUÇÃO

I.1. Introduzir o tema

Tendo em atenção que quando se fala em integração regional, a primeira ideia que nos surge à
cabeça é que este tema é de relações internacionais ou de economia internacional. Porém,
pensamos fazer diferente, pois em nosso entender este é um tema que diz respeito a todas as
esferas da sociedade, principalmente se alcançarem todos os propósitos a que a integração
regional se propõe.

Com o desenvolvimento das sociedades e do fenómeno “Globalização”, ficou cada vez mais
evidente e certo a ideia de todos fazemos parte de uma aldeia global, sendo patente que a
melhor maneira de resolver os problemas actuais é estar sempre atentos ao que se passa ao
nosso redor. O número 1 do artigo 13º da Constituição da Republica de Angola dispõe que, “o
direito internacional geral ou comum, recebido nos termos da presente constituição, faz parte
integrante da ordem jurídica angolana”.

O número 2 do mesmo artigo estabelece, “os tratados e acordos internacionais regularmente


aprovados ou ratificados entram em vigor na ordem jurídica angolana após a sua publicação
oficial e entrada em vigor na ordem jurídica internacional e enquanto vincularem
internacionalmente o estado angolano”.

Spindler et al (2002, p. 6) defende que “a regionalização é um processo meramente


económico e que não é acompanhada obrigatoriamente pela intervenção do Estado para se
tomar decisões, pelo que se destaca o regionalismo como abordagem para compreender o
processo de integração na SADC, uma vez que o regionalismo é liderado por entidades
estatais através de instituições legais que levam os seus projectos adiante.

A importação pode ser definida como a operação que proporciona a entrada de mercadorias e
serviços em um território aduaneiro, depois de cumpridas todas as exigências legais e
comerciais determinadas no país. Dentro dessa operação, enquadram-se as importações para
doações, testes, entre outras. Através da importação, o país adquire uma relevância no que diz
respeito ao desenvolvimento social e económico, pois conquista uma expansão do
intercâmbio e da troca de conhecimento e tecnologias Assunpção (2007).

1
I.1.1. Delimitação do tema

O seu horizonte temporal compreende o período de 2010 a 2016 tendo em conta a


abrangência do tema, na sua parte prática a delimitação a Administração Geral Tributaria
(AGT).

O presente trabalho, permitiu-nos no âmbito de um exercício intelectual, pesquisar e


contribuir com base na análise dos princípios universais de integração viabilizar soluções
sobre o facto que tem vindo ganhar maior interesse a nível das estruturas.

Seria esta, melhor via, para o alargamento das actividades nos mais variados sectores da
economia da região, sendo a zona de livre comercio uma das prioridades estratégicas que se
previu para ano de 2008, tendo em vista a melhoria da circulação de pessoas e bens, assim
como do equilíbrio entre a procura e a oferta sobre linhas que permitam a exportação e
importação de mercadorias.

Ao longo do nosso trabalho a pesquisa se limitará aos reflexos deste tema, temos tido também
dificuldades na pesquisa do trabalho, na recolha de material, em organizar as informações,
determinar a execução do trabalho no prazo, e vencer o desperdício geral para o
desenvolvimento ou a conclusão do trabalho.

I.1.2. Justificação do tema

É esperado que a SADC atinja níveis na ZLC satisfatórios de modos que a economia se torne
cada vez mais alargada e mais competitiva, caso haja mecanismo de persuasão e de
compatibilidade nas políticas e estratégias conducentes a uma visão comum.

A razão da escolha do tema consiste em destacar e compreender os problemas e dificuldades


inerentes ao processo de concretização das implicações aduaneiras da implementação ZLC da
SADC. De igual modo, estar-se-á a contribuir de forma geral para a sociedade mas
particularmente para as gerações vindouras e ao mundo académico sobre processo de
concretização das implicações aduaneiras da implementação ZLC da SADC.

I.2.Formulação do problema

 Quais são as implicações aduaneiras para Angolano Processo de implementação da


Zona de Livre Comércio da SADC?

2
I.3. Objectivos

Toda pesquisa deve ter um objectivo determinado para saber o que vai procurar e o que
pretende alcançar. A pesquisa visa os seguintes objectivos: um geral e três específicos.

I.3.1. Objectivo geral

 Compreender as implicações aduaneiras da implementação Zona de Livre Comércio


da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral no sentido de responder aos
desafios decorrentes da sua concretização em Angola.

I.3.2. Objectivos específicos

 Analisar as implicações aduaneiras resultantes da implementação da Zona de Livre


Comércio da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral sobretudo para o
Agentes Aduaneiros;
 Apresentar os efeitos do avanço das implicações aduaneiras da implementação Zona
de Livre Comércio da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral;
 Identificar as dificuldades no processo da implementação da Zona de Livre Comércio
da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.

3
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

II.1. O Poder Local

A descentralização administrativa, e o aumento do poder local, é presente em qualquer


democracia moderna, pois, em termos práticos, é muito difícil satisfazer as necessidades de
milhões de habitantes através de um governo centralizado em uma esfera nacional. Nesse
sentido, os Estados, actualmente, buscam adoptar medidas que aumentem o poder local,
estimulando a governação local por via das autarquias e envolver as comunidades.

O conceito de poder local está ligado a mudanças históricas na forma de governar, passando
do modelo tradicional centralizado no Estado, para um novo modelo focado em múltiplos
actores a nível local1.

Para Stoker (1998, p. 45) “o poder local visa criar condições para o desenvolvimento de
acções colectivas, não se diferenciando do governo em relação aos resultados que serão
obtidos, más na forma como ocorre o processo”.

Nessa perspectiva, o poder local visa criar condições para o desenvolvimento de acções a
nível das comunidades através de seus actores.

Segundo Blair (2000, p. 22), “a ideia central é imponderar a população, estimulando a


participação durante a tomada de decisão do governo local”.

Esse estímulo faz com que a população tenha um maior controlo em relação ao que o governo
central realiza, possibilitando que as políticas públicas locais estejam em consonância com os
desejos e as necessidades dos cidadãos daquela região.

Para PETERS (2013) “a palavra governar está ligada, na sua raiz linguística, ao sentido de
direção. Nessa perspetiva, o autor destaca que governar é dirigir a economia e a sociedade
visando objetivos coletivos, através da identificação de metas e estabelecendo meios para
alcançá-las”.

Segundo BILHIM (2004) “governar é reconhecer uma maior complexidade dos sistemas de
governo, transferindo parte da responsabilidade de tomar decisões para actores privados
pertencentes à sociedade”.
1
Casula, M. (2017). Quem governa na governança (local)? Pag. 1122.

4
Para CASULA (2017) “governanção local não é somente a transferência das
iniciativas para os sectores privados, sociais e locais, e sim um processo evolutivo das
relações das estruturas tradicionais encontradas no sistema público, no qual os tipos
de sistema de regulação devem atuar de forma combinada”.
Governar sem criar condições que facilitem a descentralização administrativa, pode atrasar o
desenvolvimento social. A prática mostrou que é a forma mais adequada de fazer chegar os
serviços as populações, para os sistemas modernos a centralização já não serve aos
propósitos2.
Para BLAIR (2000) “o componente democrático do poder local depende do envolvimento do
maior número possível de cidadãos nas questões políticas locais, e que estes busquem
garantir que as autarquias locais sejam realmente efectivadas por vía das suas acções”.
Nestes termos, mostra-se importante que a governanção local chegue ao maior número de
municípios possíveis por vía da descentralização administrativa e que possua mecanismos
suficientes para abranger a participação dos diversos actores locais que poderam contribuir
para o desenvolvimento social3.
Segundo BILHIM (2004) o conceito de governação induz a mudança no paradigma da
administração pública, que segundo o autor se fundam em 4 pilares básicos:

1. A governação faz referência a um conjunto de instituições e agentes do governo, e não


só;

2. Os orgão do poder central não são suficiêntes para fazer face aos problemas sociais e
económicos;

3. A governação pressupõe a interdependência de poder que existe nas relações entre as


instituições que intervêm na prossecução do interesse colectivo;

4. A governação aplica-se a redes autónomas de agentes que se regem a si mesmas.

Governanção local, não significa á ausência da presença do Estado, más a criação de um


conjunto de actores á nível local que participam das tomadas de decisões, contando com a
presença de actores do sector público e do sector privado.
Segundo (Lowndes & Wilson, 2001);

2
Casula, M. (2017). Quem governa na governança, Pag.1138.
3
Blair, H. (2000). Participation and Accountability at the Peripher, 21.

5
O poder local é influenciado por dimensões de ligação entre as instituições que são
necessárias para a mobilização da participação social, sendo estas, oportunidades de
participação pública; responsabilidade dos actores que tomam a decisão; relação entre os
atores e por fim acordos que possibilitem uma liderança democrática e inclusão social. Esses
fatores são essenciais para o desenvolvimento da governanção local.

Segundo Bilhim (2004), “a governanção local quando devidamente implementada, funciona


como alternativa na coordenação de actividades coletivas. Promove a diversidade e acelera
a especialização de actores econômicos, sociais, culturais, administrativo e nessa perspetiva
promove mudanças locais”.
Um modelo de governanção local bem implementado, pode trazer uma série de
benefícios e vantagem para a região que este for inserido, uma véz que as decisões
ligadas as políticas públicas a serem desenvolvidas, devem estar de acordo com as
necessidades da população local. Para Andersson & Ostrom (2008) “uma das
vantagens que governanção local possuí é a valorização e o desenvolvimento do
conhecimento local. Segundo o autor, indivíduos que viveram longos períodos de
tempo nas localidades, se adaptam melhor e criam regras melhores para os sistemas
locais”.

Por exemplo, digamos que em uma cidade há um lago, os habitantes dessa cidade
vivem essencialmente da pesca extraída desse lago, segundo o autor, esses cidadãos,
devido ao conhecimento local, criaram melhores regras de pesca na região que outras
pessoas de outras regiões. Essa situação exemplifica a importância da governanção
local, uma vez que um governo centralizado tem maior dificuldade em perceber as
questões locais.
A governanção local é uma realidade em diversas regiões e países democráticos ao redor do
mundo há muitos anos, e vários são os exemplos de melhorias e benefícios que o
envolvimento da comunidade local na tomada de decisão trouxeram para suas respectivas
regiões.
Segundo Blair (2000) “investir na governanção local é um processo que ajuda a desenvolver
uma série de acções que aumentam a participação da comunidade; consequentemente a
representação, principalmente de grupos minoritários; aumentando o empoderamento da

6
população; gerando benefícios para toda comunidade; e por fim acaba auxiliando na
reeducação da pobreza e na solução de problemas sociais”.
Para Stoker (2004) “o governo local deve exercer um papel de supervisão e promover o
desenvolvimento maior da comunidade, gerando assim mais oportunidades, sem se colocar
em uma posição de autoritarismo”.
No governo local deve existir um líder comunitário, mas este não é um modelo baseado na
autoridade. Pelo contrário, baseia-se no estabelecimento de uma política inclusiva e aberta a
nível local (Stoker, 2004, p.223).
Frisch-aviram, Cohen, & Beeri (2017) “Contudo, estas acções têm de ser continuas, para
que permitam que as autoridades locais e o próprio Estado consigam implementar as
mudanças necessárias, aumentando a participação da população na governanção local.
Nessa perspectiva”.
Weimer (2012) apresenta o caso de Moçambique, onde inicialmente, as acções de
descentralização tiveram um efeito contrário em parte pela sua implementação faseada, ao
invés de fortalecer a participação local, acabou por fortalecer o Estado central.
A dificuldade em separar o governo local do central, bem como a ausência de uma estratégia
de descentralização coerente, de formas a dar mais poder aos governos locais, tiveram efeito
no fortalecimento da influência do Estado Central e do partido político dominante ao nível do
governo local e prejudicaram a emergência de um governo local eficiente e eficaz4.
Para Bilhim (2004) a relação entre governo central e governo local pode se dar através de três
modelos de relacionamento: modelo de autonomia; modelo de agência; ou modelo de
interativo.

1. No primeiro modelo, o governo local possui liberdade para definir ações, possui
autonomia em relação a financiamento através da recolha de impostos, sendo regulado
através de mecanismos jurídicos.

2. No segundo modelo, o papel das autoridades locais é executar as políticas


determinadas pelo governo central, tendo assim o seu papel local reduzido.

3. terceiro modelo tem um caráter mais indefinido, podendo ser compreendido por uma
complexa teia de relações entre os dois governos, sendo que a ênfase é colocada no
trabalho em conjunto. O autor ainda destaca que o processo de descentralização é o que
tem ganhando mais força no cenário global.

4
Weimer, 2012, pg 101
7
A governanção local é um processo complexo, e envolve uma diversidade de actores que
podem participar no processo de gestão escolha das políticas públicas locais. Nesse sentido,
quanto maior for a participação da população e a representatividade de grupos étnicos e
minorias nas tomadas de decisões, melhor será a promoção de mudanças sociais que
englobem toda a sociedade em que está inserida.
Nessa perspectiva, a descentralização é um fenômeno que tem relação directa com o tamanho
da extensão territorial de um país, para melhor gerir e alocar recursos. Contudo esse processo
tem de ser feito de formas à que possibilite aos governos locais e as comunidades, através da
governanção local, estabelecer as prioridades para o desenvolvimento de políticas públicas5.

2.2 A Descentralização

Ao longo do processo de descentralização ou distribuição do poder, é comum verificar-se uma


forçosa redução do poder absoluto do poder central. Desencadeando assim um sistema de
concorrência, este é o único formato capaz de reduzir ao mínimo o poder exercido pelo
homem sobre si próprio. Somente através da descentralização é que se pode alcançar uma
verdadeira democracia participativa.
O processo descentralizador visa à criação de pessoas coletivas públicas através das quais,
poderam exercer funções administrativas e realizar as atribuições que lhe são conferidas,
garantem uma maior autonomia que possibilite a essas entidades administrativas a
concretização de tais atribuições. Neste formato, garantem uma efetiva transferência de
competências para instituições intraestaduais, reconhecendo a existência de interesses
próprios6.
A descentralização administrativa nos governos, é um processo que visa estimular a
governanção local, motivando o envolvimento de actores locais na elaboração e tomadas de
decisões no campo das políticas públicas. Esse é um processo que vem tomando força desde o
final do século 20 e está directamente ligado a Estados democráticos.
Segundo Stoker (2004) “foram os conselhos trabalhistas, no meio da década de 80, que
deram início á alternativas de descentralização para melhor atender a necessidade da
população”.
Para Bilhim (2004) “a descentralização pode ser entendida de duas formas, uma em que o
conceito está ligado ao desmembramento do setor público, e a outra onde o conceito está

5
Weimer, 2012, pg 101
6
Miranda & Medeiros, 2007, pag 100.
8
relacionado ao fortalecimento da comunidade local. A noção de descentralização pode ser
analisada em duas perspectivas”:

1. O desmembramento do setor público, está directamente relacionado à abertura do


sector para orgãos locais de modos a facitar a gestão da coisa pública, tal como se
tem feito no sector privado. É como uma ferramenta de gestão, também para o
sector público;

2. E tem o fórum político onde a comunidade local exerce os poderes democráticos,


através da representação e enquanto organização administrativa que presta
serviços à comunidade local.

A descentralização é, teoricamente, mais eficaz que a desconcentração que é típico dos


governos centralizados, quando as decisões tomadas e as preferências variam de um lugar
para o outro e não tem validade fora daquela localidade, é nessa perspectiva que o governo
local deve alocar recursos de acordo com as necessidades locais7.
A descentralização, geralmente, busca atender objetivos ligados ao desenvolvimento social,
democratização na participação e gestão da coisa pública. A descentralização garante uma
maior eficiência, equidade e capacidade na resposta dos governos em relação aos problemas
da população8.
A descentralização permite que a própria comunidade local possa gerir os recursos e tomar
decisões, a partir dos processos de governanção local, para atender as demandas definidas
pela população local e seus actores. Essa prática permite uma maior aproximação entre as
necessidades e desejos da comunidade local, e os agentes que promovem e executam as
políticas públicas.
Segundo Blair (2000) “a grande vantagem da descentralização é que impulsiona o aumento
da participação popular na tomada de decisões, o governo local vai se tornar mais eficaz no
momento de definir as políticas públicas por estar atendendo a um desejo dos cidadãos
locais, e não há uma política centralizada”.
Algumas experiências no processo de descentralização ajudam a perceber os benefícios e os
cuidados que á aplicação dessa alteração na participação e elaboração de políticas públicas
podem trazer para o desenvolvimento de uma sociedade.

7
Falleth & Hovik, 2009, pag 110.
8
Agrawal & Gupta, 2005, pag 112.
9
Em Moçambique, a descentralização administrativa se materializa nas autarquias, às quais foi
atribuida uma certa autonomia administrativa e fiscal, com a realização de eleições regulares
para a escolha do Presidente do Conselho Municipal e dos membros da Assembleia Municipal
(AM)9.
A descentralização na Índia começou no início da década de noventa em larga escala através
de duas emendas na constituição que introduziram o sistema de governanção descentralizada,
baseado em níveis abaixo do Estado (Vilas, blocos e aldeias), além de implementar um
sistema de cotas que tinha como objetivo aumentar a participação de mulheres,
principalmente, ás de grupos marginalizados historicamente através de sistema de castas e
tribos. Duas décadas passada a implementação da descentralização, o crescimento é
surpreendente, o no número de mulheres que foram representativamente eleitas chega a
46%10.
Esse exemplo deixa claro como o processo de descentralização pode ajudar no
desenvolvimento social, através do aumento da participação populacional na governanção
local e nas tomadas de decisões de parcelas da sociedade que tradicionalmente eram
excluídas.
Desta forma, é possível entendermos que se o processo de tomada de decisões
estivesse limitado ao poder central, tais mudanças sociais seriam mais difíceis de serem
realizadas.
Contudo, há exemplos de casos em que o processo de descentralização não foi concretizado
com o sucesso esperado. Segundo Wilfahrt (2018) “o processo de descentralização nos
países da África Subsaariana não correspondeu às expectativas inicias. O estudo relacionado
ao desempenho dos governos locais no Senegal, apontou que mesmo com a efectivação da
descentralização, as elites locais continuaram a determinar a tomada de decisões em relação
aos demais cidadãos”.
Este exemplo mostra que a descentralização não simboliza à ausência do Estado, deve fazer
parte de um conjunto de iniciativas que possam garantir a participação e a representação de
diversas camadas da população:
Assistimos ao surgimento de desigualdades no interior dos países historicamente conduzidas
na representação e redistribuição local, ainda mais acentuadas em casos de baixo equilíbrio.
O quase total desinteresse do Estado no que toca à algumas comunidades locais aqui
descrito, tem implicações não só para a consolidação democrática, más, fundamentalmente,
9
Weimer, 2012, pg 77
10
Kalaramadam, 2018, pag 89
10
para a capacidade de acesso dos cidadãos aos serviços sociais básicos. A descentralização
corre o risco de dar uma vantagem imprevista a algumas comunidades, ao mesmo tempo que
pode ampliar a desigualdade entre as aldeias11.
Nessa perspectiva, o processo de descentralização das políticas públicas deve ser um processo
integral, não podendo ser implementado de forma faseada. Contudo, a experiência angolana
com o processo, inicia-se com uma incerteza em relação a forma como será desenvolvida a
sua implementação, uma vez que está prevista a implantação gradual.
A descentralização político-administrativa do Estado Angolano está prevista no (artigo 213º
da CRA – Constituição da República de Angola), que estabelece que:
1. A organização democrática do Estado ao nível local estrutura-se com base no
princípio da descentralização político-administrativa, que compreende a existência de
formas organizativas do poder local, nos termos da presente Constituição.
2. As formas organizativas do poder local compreendem as Autarquias Locais, as
instituições do poder tradicional e outras modalidades específicas de participação dos
cidadãos, nos termos da lei.
Weimer (2012) destaca que Moçambique não pode ser considerado um caso de sucesso no
processo de descentralização, pois o governo central aumentou tanto as leis que regulam o
governo local que os critérios chaves para uma descentralização bem sucedida não foram
alcançados.
Segundo Orre (2013) a constituição angolana estabelece nas suas normas transitórias a
previsão da implementação da descentralização desconcentração a partir do princípio do
gradualismo. O (Art. 242º da CRA) define que a implantação das autarquias locais obedece o
princípio do gradualismo, ou seja, a criação, o alargamento e as atribuições se dará de forma
gradual.
Artigo 242.º (Gradualismo)
1. A institucionalização efectiva das autarquias locais obedece ao princípio do
gradualismo.
2. Os órgãos competentes do Estado determinam por lei a oportunidade da sua
criação, o alargamento gradual das suas atribuições, o doseamento da tutela de
mérito e a transitoriedade entre a administração local do Estado e as autarquias
locais.

11
Wilfahrt, 2018, p. 159
11
A Angola destaca-se como um dos países mais centralizados em matéria político,
administrativa e financeira, é muito forte a influência do governo central na gestão
das localidades.12
Nessa perspectiva, percebe-se como o processo de descentralização das tomadas de decisões
acerca das políticas públicas pode ser benéfico e ajudar o desenvolvimento das comunidades
locais e da população através do aumento dessas camadas na tomada de decisão.
Nesse sentido, atenta-se ao fato, de como foi exemplificado anteriormente, a descentralização
tem de ser um processo integral, e nesse cenário o gradualismo pode ser um fator que não
permita o pleno desenvolvimento dos benefícios que a descentralização pode trazer para a
sociedade angolana.

III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


III.1. Administração Geral Tributária

A Administração Geral Tributária (AGT) resulta da fusão entre a Direcção Nacional de


Impostos (DNI), Serviço Nacional das Alfândegas (SNA) e o Projecto Executivo para a
Reforma Tributária (PERT). A AGT é uma pessoa colectiva de Direito Público, que integra a
Administração Indirecta, gozando de personalidade e capacidade jurídica e dotada de
autonomia administrativa, regulamentar, patrimonial e financeira, enquanto órgãos do Estado
deixam de ter existência jurídica, sendo as suas atribuições, deveres e obrigações
automaticamente transferidas para a Administração Geral Tributária13.

A criação da AGT não tem qualquer impacto no dia-a-dia dos contribuintes que devem
continuar a cumprir as mesmas obrigações tributárias, nos mesmos postos locais e nos
mesmos prazos, aprovado pelo Decreto Presidencial n.º 324/14. Com a criação da
Administração Geral Tributária, renovam-se a missão e os objectivos da Administração Fiscal
e Aduaneira, assegura-se uma maior coordenação na execução das políticas fiscais e
aduaneiras e garante-se uma alocação e utilização mais eficiente dos recursos existentes.

A AGT foi criada com o objectivo de aumentar a eficácia do serviço prestado aos
contribuintes e a arrecadação de receita. De facto, a criação de um organismo tributário único
permite uma visão integrada do contribuinte, o que se traduz na melhoria dos serviços
prestados, na diversificação da receita e num melhor combate à fraude à evasão fiscal. Por
outro, a AGT permite reduzir custos através da exploração de economias de escala e de uma

12
Orre, 2013, pag 101
13
Decreto Presidencial nº 324/14 de 15 de Dezembro, que cria a Administração Geral Tributária
12
alocação mais eficiente de recursos, em especial no âmbito das funções centralizadas
partilhadas.

A estrutura orgânica aprovada contempla oito Direcções que respondem directamente ao


Presidente da AGT. Destaca-se a importância e a autonomia dadas às áreas responsáveis pela
arrecadação de maiores volumes de receita, passando a reportar directamente ao Presidente da
AGT, caso dos Regimes Especiais de Tributação e da Direcção dos Grandes Contribuintes. A
estrutura é, ainda, apoiada por vários serviços centrais, constituídos por Gabinetes e
Direcções. A AGT está estruturada em Serviços Regionais Tributários que englobam diversos
serviços locais, concebidos como órgãos executores das competências das Direcções
executivas. Os Serviços Regionais Tributários, a nível local, encontram-se estruturados em
Repartições Fiscais, Delegações Aduaneiras, Postos Fiscais e Postos Aduaneiros. A adopção
deste modelo regional garante um duplo grau de coordenação e controlo das actividades dos
serviços descentralizados, garantindo simultaneamente proximidade dos decisores. Com a
criação da AGT, pretende-se melhorar os serviços fiscais e aduaneiros do país. A melhoria da
qualidade de serviço vai ser conseguida, por um lado, com a simplificação e
desburocratização da relação entre o contribuinte e o Estado e, por outro, através de uma
melhor alocação de recursos humanos na AGT. Todas as questões fiscais e aduaneiras serão
tratadas por um único órgão: a AGT.

III.1.1.Missão da AGT

A AGT é um organismo do Estado que tem por missão fundamental propor e executar a
política tributária do Estado e assegurar o seu integral cumprimento, administrar os impostos,
direitos aduaneiros e demais tributos que lhe sejam atribuídos, bem como estudar, promover,
coordenar, executar e avaliar os programas, medidas e acções de política tributárias relativas a
organização, gestão e aperfeiçoamento do sistema tributário. À AGT tem igualmente a missão
de controlar a fronteira externa do País e do território aduaneiro nacional, para fins fiscais,
económicos e de protecção da sociedade, de acordo com as políticas definidas pelo Executivo.

III.1.2.Visão

Ser, reconhecidamente, uma Administração de excelência, actuando de forma íntegra e


responsável na optimização da receita tributária.

III.1.3.Valores

13
 Integridade, unidade e justiça;
 Valorização do capital humano;
 Respeito pelo contribuinte;
 Responsabilidade;
 Transparência;
 Eficiência e eficácia.

14
IV. METODOLOGIA

Este ponto apresenta de forma detalhada, o trajecto seguido na preparação do processo de


investigação. Naturalmente, este percurso foi desenhado de acordo com o tema e os objectivos
formulados, usando os procedimentos técnicos de recolha e tratamento dos dados
considerados ajustados. Inicia-se com o método de pesquisa e o desenho metodológico da
investigação a que se seguem os instrumentos e métodos usados para a recolha e análise dos
dados.

IV.1. Tipo de estudo

O nosso trabalho foi desenvolvido uma pesquisa qualitativa, constitui diferentes estratégias de
investigação que acarretam importantes considerações epistemológicas e ontológicas
(Bryman, 2004, Barrañano, 2004). Em termos epistemológicos, a pesquisa qualitativa se
fundamenta no interpretativíssimo. No que se refere à orientação ontológica, a pesquisa
qualitativa assenta no construcionismo, ou seja, na qualitativa, os aspectos teóricos emergem
da mesma que é indutiva e geradora de teoria (Bryman, 2004).

Durante toda a pesquisa houve sempre a preocupação que a observação científica participativa
fosse norteada pela e para a teoria. Foi também uma constante a dialéctica entre teoria e
observação assim como a sua articulação.

IV.2. População e amostra

Perante esta abrangência a amostra do presente estudo foi elaborada com recurso ao método
de amostragem por conveniência, ou seja, foram seleccionados os elementos que se
consideraram dariam um melhor contributo” em função da disponibilidade e acessibilidade
dos elementos que constituem a população-alvo “ (Reis, 1997).

Sendo assim, a nossa população conformou 50 pessoas, de onde obtivemos uma amostra de
24 funcionários da Administração Geral Tributária entrevistados, em relação ao género
contamos com 20 Homens e 4 Mulheres.

IV.2.1. Critérios de inclusão


 Todos os funcionários que na nossa perspectiva prestaram informações relevantes
para a nossa Pesquisa.

15
IV.2.2. Critérios de exclusão

 Os funcionários da AGT que não se encontravam no momento da Entrevista

IV.3. Métodos a utilizar

A técnica utilizada nesta pesquisa foi a entrevista, através da elaboração de um inquérito


respondido de forma particular o que proporcionou a respostas muito positiva.

E por fim, quanto as técnicas de processamento de dados, utilizaremos a análise qualitativa/


análise de conteúdo. Esta análise tem sido muito utilizada na interpretação dos dados nas
ciências humanas e sociais. Minayo (1994) afirma que é o método mais comummente
adoptado no tratamento de dados das investigações qualitativas.

IV.4. Procedimentos e instrumentos ou técnicas para a colecta de dados

As normas utlizadas permitiram a elaboração de resumos de forma a utilização do máximo de


informação resumida, elaborando síntese bibliográficas de modo a existir uma percepção da
bibliografia existente, e conduzir a concepção de fichas de conteúdo e de autores, bem como
analise cuidada das informações dos questionários.

IV.5. Processamento de dados

O processamento dos dados foi efectuado no programa Epi Info 2002 Versão 3.0.1 S.O., o
texto foi elaborado no aplicativo Excel do programa Office no Windows XP, enquanto os
resultados apresentados em tabelas elaboradas no aplicativo Excel.

16
V. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A nossa pesquisa visou perceber o grau de conhecimento dos funcionários da Agência Geral
Tributária sobre o papel que deverão desempenhar por altura da entrada de Angola na Zona de
Livre Comércio.

Desta forma a primeira tabela apresenta o número de inquiridos com base no questionário
elaborado e previamente respondido.

Tabela nº 1 – Género dos inquiridos

Sexo Técnicos tributários Percentagem


Masculino 20 84%
Feminino 4 16%
Total 24 100%
Fonte: Elaboração própria

Gráfico nº 1 – Género dos inquiridos

84%
90%
80%
70%
60%
Masculino 20
50% Feminino 4
40%
30%
16%
20%
10%
0%
Fonte: Elaboração própria

Em termos de amostra foram inquiridos um total de 24 funcionários, na categoria de técnicos


tributários da Administração Geral Tributaria, sendo 20 do sexo masculino, o que perfaz um
total de 84% e 4 do sexo feminino, perfazendo cerca de 16%, conforme representada pelo
Gráfico nº 1.

17
Tabela nº 2 – Nível académico dos inquiridos

Resposta Técnicos tributários Percentagem


Licenciados 12 50%
Técnicos Médios 12 50%
Técnicos de Base 0 0%
Total 24 100%
Fonte: Elaboração própria

Gráfico nº 2 – Nível académico dos inquiridos

Ensino de Base Ensino médio Ensino superior

50% 50%

0%

Fonte: Elaboração própria

Deste modo tentou-se fazer uma pesquisa equitativa consubstanciada na distribuição de


inquéritos, tendo em conta o nível académico dos entrevistados, sendo que 50% dos
entrevistados tem o ensino médio concluído e outros 50% contam com o grau académico de
licenciados

Tabela nº 3 – Avaliação dos serviços aduaneiros em Angola

Resposta Técnicos tributários Percentagem


Bom 14 60%
Razoável 9 35%
Mau 1 5%
Total 24 100%
Fonte: Elaboração própria

18
Gráfico nº 3 – Avaliação dos serviços aduaneiros em Angola

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Bom Razoável Mau
Fonte: Elaboração própria

Na sequência são apresentados os dados das questões colocadas sobre as informações que os
funcionários dispõem acerca do processo de entrada de Angola na Zona de Livre Comércio da
SADC, essencialmente sobre o papel que deverão desempenhar neste processo.

Deste modo, a tabela e o gráfico nº 3, levanta um questionamento sobre avaliação feita pelos
inquiridos dos serviços aduaneiros em Angola, onde 60% dos inquiridos efectuaram uma
avaliação positiva dos serviço aduaneiros em Angola, 35% consideram serem razoáveis os
serviços prestados, tendo 5% dos inquiridos defendido que os serviços precisam ser
melhorados urgentemente pois avaliação dos serviços prestados é negativa. Desta forma,
somos de opinião que é necessária uma melhor adequação das políticas tributárias de forma a
garantir um retorno positivo para o país dos investimentos angariados.

Tabela nº 4 – Conhecimento sobre a pauta aduaneira

Resposta Técnicos tributários Percentagem


Bom 13 52%
Razoável 9 32%
Mau 2 16%
Total 24 100%
Fonte: Elaboração própria

19
Gráfico nº 4 – Conhecimento sobre a pauta aduaneira

60%
52%

50%

40%
32% Sim
Superficialmente
30% Não
16%
20%

10%

0%
Fonte: Elaboração própria

No Gráfico nº 3, 52% dos inquiridos revelam um bom conhecimento da pauta aduaneira e da


sua aplicabilidade, enquanto 32% referiram ter um conhecimento superficial e 16% dos
inquiridos exemplificaram um parco conhecimento sobre a pauta aduaneira.

Tabela nº 5 – Conhecimento dos funcionários da AGT sobre a ZLC da SADC

Resposta Técnicos Tributários Percentagem


Bom 8 30%
Razoável 10 48%
Nenhum 6 22%
Total 24 100%
Fonte: Elaboração própria

20
Gráfico nº 5 – Conhecimento dos funcionários da AGT sobre a ZLC da SADC

50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Bom Razoável Nenhum
Fonte: Elaboração própria

Tendo em consideração os dados acima apresentados, podemos concluir que uma grande
maioria dos inquiridos, tem um parco ou mesmo nenhum conhecimento, sobre o papel da
AGT, visando a entrada de Angola na Zona de Livre Comércio da SADC, sendo necessário
ter isto em consideração pois poderá constituir um elemento dissuasor no desenvolvimento de
políticas tributárias.

Desta forma, consideramos ser necessário a realização de workshops, e seminários para


preparar estes funcionários sobre a entrada do país na ZLC da SADC, sendo que este processo
deverá ocorrer em 2020.

Tabela nº 6 – Avaliação sobre as medidas e estratégias adoptadas pela AGT sobre integração
de Angola na ZLC da SADC

Resposta Técnicos Tributários Percentagem


Positiva 8 32%
Razoável 12 52%
Negativa 4 16%
Total 24 100%
Fonte: Elaboração própria

Gráfico nº 6 – Avaliação sobre as medidas e estratégias adoptadas pela AGT sobre integração
de Angola na ZLC da SADC
21
60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Bom Razoável Nenhum
Fonte: Elaboração própria

A tabela e o gráfico nº 6, apresentam dados claros sobre as dificuldades que os inquiridos


sentem em responder questões mais profundas sobre o processo de integração, devendo para
tal ser desenvolvidos estudos futuros, para aprofundar o conhecimento da matéria, é um
processo que sobretudo necessita de um maior esclarecimento da parte dos colaboradores da
AGT.

 A Dimensão Social da Zona de Livre Comércio da SADC

O desenvolvimento social é o único padrão de aferição da qualidade e da generosidade do


crescimento económico. As economias e os sistemas económicos existem para servir a
população, melhorar e elevar os seus padrões de vida e caucionar uma repartição equitativa da
renda nacional. Evidentemente que não é fácil, em cada fase dos processos de crescimento
económico, atender ao exigente binómio eficiência/equidade. Mas é para isso que os
Governos existem e foram eleitos. Os compromissos com os cidadãos, assumidos durante as
campanhas eleitorais, são para cumprir, mesmo em condições mais adversas. Os contractos
sociais são o veículo de aproximação entre governantes/políticos e os governados.
Quebrando-se estes elos, por incumprimento de promessas, a confiança social sai abalada e os
sistemas democráticos feridos nos seus mecanismos básicos de funcionamento.

Em comparação com outras regiões do mundo, a África tem registado significativas alterações
em todas as dimensões do desenvolvimento humano, como educação, saúde e rendimento

22
médio. O Relatório sobre o Desenvolvimento Humano do PNUD de 2014 mostra que 17 dos
54 países africanos conseguiram altos e médios níveis de desenvolvimento humano dos quais
Maurícias, Seychelles, Botswana, Namíbia e África do Sul são integrantes da SADC.

Contudo, o mais recente MDG Progress Report on Africa 38 conclui que só em relação a dois
objectivos de desenvolvimento do milénio (educação primária e paridade do género no nível
primário de educação) a África vai cumpri-los.

Em contraste, progressos muito insuficientes foram averbados nos objectivos relacionados


com a redução da pobreza e a eliminação da fome. Estes insucessos são, em boa parte,
explicados pela limitada inclusão do crescimento económico, baixo crescimento e reduzido
valor da elasticidade rendimento/pobreza.

Também do ponto de vista social, a SADC é um conjunto de contrastes, havendo países


fazendo parte dos mais elevados padrões de desenvolvimento social (Maurícias e Seychelles),
enquanto outros ocupam posições “indecorosas”, sobretudo se se atender aos elevados ritmos
de crescimento do PIB nos últimos anos. Angola é um destes países. O acesso à água e
saneamento é uma das principais queixas da população angolana, grande parte da qual ainda
vive em bairros degradados (nas periferias das cidades de média e grande dimensão).
Estatísticas da OMS (Organização Mundial de Saúde) indicam que 40% dos angolanos não
têm acesso à água potável e 53% não dispõem de saneamento.

Esta não é uma situação peculiar a Angola. Moçambique, Tanzânia, Zâmbia, RDC e
Madagáscar não têm estes problemas sociais resolvidos, ou mesmo atenuados, sendo, por
isso, difícil de entender a vontade dos dirigentes dos países da Zona de Livre Comércio de se
entrar no processo de criação da União Aduaneira e preparar a União Monetária da SADC.

O que será uma União Aduaneira na SADC na presença de diferenças económicas e sociais
significativas entre os países constituintes? Que benefícios concretos as economias mais
débeis poderão retirar da adopção de uma pauta aduaneira comum face a países terceiros
(leia-se Estados Unidos, União Europeia e China, já que o comércio intra-africano tem fraca
expressão)? Aos países menos desenvolvidos da organização regional retira-se um
instrumento de soberania nacional que pode ser importante nas negociações comerciais com
os seus parceiros mais importantes.

23
Foram seleccionados dois indicadores genéricos para a avaliação das condições sociais na
SADC: o PIB por habitante (e a respectiva taxa de crescimento real durante o período em
análise) e o Índice de Desenvolvimento Humano.

Algumas observações importantes sobre o processo de integração:

a) Os melhores países da região em PIB por habitante são, por ordem decrescente e em
2014, Seychelles, Maurícias, Botswana e África do Sul, todos com rendimentos
individuais acima de 10000 dólares e da média da região (pouco mais de 7000
dólares). Em posição relevante aparece igualmente a Namíbia;
b) Entre o menor rendimento médio por pessoa (RDC) e o maior (Seychelles) existe uma
diferença de mais de 51 vezes;
c) No geral, a progressão do valor nominal do PIB por habitante tem sido lenta durante o
período compreendido entre 2012 e 2014, ainda que não tenham sido registadas
situações de regressão;
d) No espaço específico da SADC existem 3 categorias de países consoante o valor do
seu rendimento médio por habitante: de elevado rendimento (Seychelles, Maurícias,
Botswana e África do Sul), de rendimento médio (Namíbia, Angola e Swazilândia) e
de rendimento baixo (todos os restantes 8 países). Em condições de liberdade de
comércio, os benefícios do crescimento tenderão a concentrar-se nos países de maior
PIB e de mais elevado PIB por habitante (maior poder de compra). E esta tendência
poderá agravar-se nas fases seguintes da SADC, porquanto não existem medidas
concretas e efectivas que promovam a convergência real entre os seus países. Ainda
que subsistam iniciativas conjuntas em certas áreas de infra-estruturas, o essencial
desta matéria é entendido como “trabalho de casa” de cada uma das economias;
e) As profundas desigualdades na região podem ser ilustradas por alguns índices de
convergência/divergência económica e social. Assim, por exemplo, e mantendo as
condições de crescimento do PIB per capita nominal entre 2012 e 2014, a RDC
necessitaria de 1860 anos para atingir o rendimento médio das Seychelles;
f) Portanto, os desafios não se aplicam apenas a Angola, sendo igualmente válidos para
outros países-membros da SADC, pertencendo ou não à Zona de Livre Comércio.
Aparentemente têm sido implementadas poucas medidas positivas de integração, tal
como a respectiva Teoria sugere, deixando-se ao livre arbítrio das forças de mercado

24
mais poderosas da região o essencial dos processos de afectação e reafectação de
recursos e factores de produção.

 Desafios e Oportunidades da entrada na Zona de Livre Comércio da SADC

O alcance de paz em Angola foi uma das tarefas a mais engenhe e difícil, que se traduziu num
desafio a vencer cada vez mais permanente e consolidada.

Os desafios-chave ligados a implementação dos seus objectivos compreendem os seguintes:

 Desafios relacionados com os recursos humanos;


 A implementação do Protocolo relativo a Educação e Formação, com o enfoque para o
reforço de capacidades dos Estados-Membros, através de formação de profissionais na
Arte de Ensino Aberto e a Distancia (EAD);
 Implementação da Politica de Centros de Especialização (CdE) e disponibilização de
equipamentos de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) aos Estados
Membros;
 Falta de Fundos para a implementação dos Programas Prioritários que são unicamente
financiados pelo Orçamento Geral do Estado angolano;
 A Consolidação da ZLC da SADC, continua a ser o principal foco de atenção visando
promover o avanço da agenda do processo de integração económica da SADC.

Enfatizar, sem dúvida a abertura de um caminho sustentável para a concretização das


premissas do desenvolvimento e do crescimento económico. Mas além desses avanços em
direcção ao crescimento, mas mesmo assim, Angola ainda não se manifestou quanto a sua
indústria que está numa posição muito incipiente desenvolvimento, o que pressupõe favorecer
a empolgante economia Sul-africana, e/ou ainda, pode atrapalhar o esforço de industrialização
que o País desenvolve, e até mesmo criar sufoco aos sinais existentes de indústria, o que não
lhe permite estar capaz de competir com os produtos produzidos nos países mais
desenvolvidos da região. Esta posição de Angola enquadra- se no interesse de modelo de
integração estruturalista, que se compara com o que foi seguido pela União Europeia na
segunda fase do seu processo de integração. Este modelo privilegia o investimento
comunitário em infra-estruturas como via para acelerar a integração regional.

A falta de consenso quanto ao Protocolo do Comércio evidência, por seu turno, as diferenças
e assimetrias entre os países da região. Não obstante a isso, alguns já alcançaram níveis

25
razoáveis de desenvolvimento e pretendem com a SADC alargar a sua influência comercial e
o seu mercado. Outros estão ainda num estágio muito débil de desenvolvimento, não se
esforçam com o pouco que têm, pretendem tão-somente andarem a reboque através da SADC
consolidar a sua independência económica e estruturar e desenvolver internamente os seus
mercados. Assim torna-se mais difícil a afirmação da região.

Os últimos cem anos da história de Angola caracterizados por conflitos violentos, a fase mais
destruidora e sangrante destes conflitos ocorreram de 1975, quando o país conseguiu a
independência, até 2002.

Com efeito, apesar do elevado grau de exposição da população à violência no decurso da


guerra, com consequências profundas, e a semelhança de muitos países africanos, em situação
de pós-conflito, Angola enfrenta múltiplos desafios resultantes de processos de transição
inacabados: a transição do colonialismo para a construção do estado no período pós-colonial;
a transformação da sociedade, de uma sociedade politicamente orientada para o socialismo
para uma democrática pluralista.

Os desafios da transição incluem a mudança, de uma guerra civil prolongada que fragmentou
o país, para um estado unitário baseado no respeito pela lei, pelos direitos humanos e pela boa
governação. Desafios adicionais incluem a transformação das culturas de violência em cultura
de paz, onde é dada atenção a questões de ordem psicológica e à integração da juventude;
distribuição equitativa de oportunidades e recursos a população.

Estes desafios vão requerer intervenções para a edificação de paz, sob a forma de programas a
curto, médio e longo prazo, com o objectivo de impedir que o país volte a cair numa situação
de conflito violento e para consolidar uma paz duradoira.

Sublinha-se, desde logo, que a selecção destes eixos de análise fria longe de abarcar a
totalidade e complexidade dos desafios que se colocam a Angola, alguns deles articulados
entre si, e de entre os quais se podem referir, por exemplo, as vicissitudes do processo de
transição para a economia de mercado e da consolidação do regime pluripartidário, a natureza
do modelo de governação adoptado, as características da estrutura da tomada de decisões em
termos da política económica e as implicações económicas e sociais de deslocação
compulsivas das populações.

26
Para tanto, vale sublinhar, diferentemente do que se vai observando em muitos outros países
africanos destruídos por conflito armado desde a sua descolonização, continuam estagnados e
pobres sem perspectivas de desenvolvimento, em tese, o objectivo de superação das mazelas
de guerra é perfeitamente factível em Angola, na medida em que os resultados provenientes
do aproveitamento de seus abundantes recursos naturais, associados com as oportunidades de
negócios, constitui o principal e fundamental alicerce para o desenvolvimento e do
crescimento económico.

As disparidades económicas não ocorrem apenas entre Angola e os demais membros da


SADC, considerando que vários países da região encontram-se ainda fortemente vinculados
aos programas de reajustamento estrutural, supervisionados pelo FMI, cujo enfoque é
notoriamente doméstico, no entanto, muitas vezes contraditório à coordenação regional. Os
desafios para a SADC referem-se aos seus objectivos, incluindo a sua definição inequívoca,
bem como as estratégias para atingi-los.

Tradicionalmente, a ênfase da SADC era em projectos de infra-estrutura que impulsionassem


o desenvolvimento. Para tanto, após a adesão da África do Sul. Contudo, o estabelecimento de
uma área de livre comércio começa a ser discutido e o Protocolo de Livre Comércio é
assinado em 1996.

No intuito de tornar a organização mais eficiente, em especial diante deste novo objectivo,
ganha corpo a proposta de criação de estruturas próprias da SADC. Como membro da SADC,
Angola está também a implementar as directrizes para a Política Regional da água e
Estratégia Regional. Também assinou um Memorando de Entendimento do Tratado de
Okavango -Zambeze, com o Botswana, a Namíbia, a Zâmbia e o Zimbabwe. Angola é parte
de uma iniciativa transfronteiriça com a República Democrática do Congo e a República do
Congo, e com a participação do Gabão, para a conservação da floresta do Maiombe, uma
iniciativa financiada pela União Europeia.

Nalguns casos, diversas universidades angolanas oferecem graus de Engenharia Ambiental,


casos incipientes de formação profissional sobre Energia Renováveis, Energia Solar e Energia
Eólica- reflectindo a crescente preocupação do Governo com as questões ambientais. Porém,
ávida por investimentos, Angola estabeleceu laços económicos e de cooperação com vários
parceiros que necessitam de seu petróleo e diamantes: (China, EUA, EU, principalmente
Portugal), o mesmo não sucedendo com o Brasil, não fossem as restrições impostas na

27
concessão de linhas de créditos especiais, acresce a falta de instituições financeiras brasileiras
no mercado angolano. Na perspectiva segundo Salomão (S.D), “desafios e oportunidades”
afirma, o que representa o factor de integração das economias numa perspectiva mais
abrangente.

Contudo, na arena internacional o Brasil clama igualmente por reavaliar os ratados e outros
Termos de Cooperação, firmados com Angola na década 80, com vista a ampliar as relações
entre os dois Países, que se pode entender provavelmente, tenha faltado expediente para que
tal marco diplomático comercial e de cooperação funcionam.

28
VI. CONCLUSÕES

Podemos, considerar que a Zona de Comércio Livre, marca o início do grande esforço que a
região Austral de África tem feito para que os seus povos sejam mais unidos, quer a nível
económico, social, político, etc., mas para que ela seja encarada como um grande benefício
para todos.

Desta forma, é necessário que os Estados da região devem enveredar esforços para que a
ZCL, não seja vista como vantagens pra uns e “dor de cabeça” para outros. O caso de Angola,
a ZCL, trará muitos benefícios, mas devemos estar atentos em não cairmos na senda de só
receber e não ter nada para oferecer, pensamos que em vez de prolongar cada vez mais o
prazo para a implementação, deve-se investir-se em grande medida na indústria nacional,
reabilitando as que estão estagnadas e criando novas, mas esse plano em nossa opinião, deve
ser entendido como de grande urgência, porque com a implementação de Angola na ZCL da
SADC, a região será muito forte, quer em termos de capital, quer em termos de relações
interpessoais e estaremos muito mais preparados para vencer os desafios da comunidade
internacional, afinal porque “a união faz a força”.

Sendo a implementação da ZCL, deverá fazer-se uma harmonização das legislações a nível da
região, a fim de evitar e/ou ajudar na resolução dos litígios que poderão surgir não só entre os
Estados, mas também entre os cidadãos.

Na SADC, a integração e o impacto na vida dos cidadãos são fracos, devido à ausência de
qualidade, natureza, objectivos e vontade política das lideranças dos Estados Membros.

No contexto actual não há livre circulação de pessoas e bens, a não ser num número reduzido
de países.

Há grande desconhecimento por parte dos cidadãos sobre o que é a SADC e quais os
benefícios dessa organização.

Apesar da extensa produção legislativa da SADC esta não é acompanhada de uma aplicação
efectiva pelos países membros.

29
VII. RECOMENDAÇÕES

Não sendo uma pesquisa concluída, partilhamos aqui algumas recomendações:

 O estado angolano deverá ser muito mais célere no processo de implementação da


ZCL, permitido assim a região avançar com a integração que refere o protocolo da
SADC;
 Efectuar um forte investimento na produção nacional, a fim de estarmos em condições
de enfrentar sem medos nem receios a produção estrangeira;
 Devemos apostar num mercado diversificado, mas ao mesmo tempo especializado,
aproveitando o que temos e podemos produzir, mas que os outros países ou têm em
falta ou produzem em pequena escala;
 Maximizar o potencial agrícola, podendo diversificar as culturas a produzir, para fazer
face à competitividade regional;
 Encorajar a capacidade produtiva dos bens que melhor produz ou possuí vantagem
comparativa;
 Diversificar as suas exportações para acrescentar o volume das exportações para os
diferentes Estados membros da SADC;
 Criação de mecanismos que garantam a participação efectiva dos cidadãos nos
processos políticos e de desenvolvimento regional, através de processos de
sensibilização e informação;
 Garantir o envolvimento do sector privado na criação de um mecanismo institucional
para as questões económicas regionais;
 Harmonização das normas internas de cada Estado com os protocolos assinados na
Região da SADC;
 Ratificação por parte de Angola do Protocolo de Isenção de Vistos na região;

 Garantir maior coordenação e articulação intersectorial entre os Estados e as


organizações da Sociedade Civil a nível da SADC.

30
VIII. BIBLIOGRAFIA

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VIEIRA, Aquiles. Importação: Práticas, Rotinas e Procedimentos. 6ª Edição, Brasil:


Aduaneiras, 2015.

33
ANEXOS

I
Anexo I: Questionário

Perguntas abertas as respostas dos inquiridos, consoante a sua percepção do assunto em


análise.

1. Género dos inquiridos?

2. Qual é o Nível Académico dos Inquiridos?

3. Qual é o grau de conhecimento sobre a pauta aduaneira?

4. Qual é o grau de conhecimento no seio dos funcionários da AGT sobre o papel que
vão desempenhar no processo de adesão a ZLC da SADC?

5. Qual é a sua avaliação sobre as medidas e estratégias adoptadas pela AGT visando
contribuir para o processo de integração de Angola na ZLC da SADC?

6. Qual é a Dimensão Social da Zona de Livre Comércio da SADC?

7. Quais são os Desafios e Oportunidades da entrada na Zona de Livre Comércio da


SADC?

II

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