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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

INSTITUTO SUPERIOR JOÃO PAULO II


LICENCIATURA EM SERVIÇO SOCIAL

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO


1ª Secção da Sala da Família do Tribunal da
Comarca de Luanda

Por: Danilson da Costa de Castro

Luanda, Julho de 2022.


DANILSON DA COSTA DE CASTRO

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO


1ª Secção da Sala da Família do Tribunal da
Comarca de Luanda

Relatório Final do Estágio do 4º ano,


realizado na 1ª Secção da Sala da
Família do Tribunal da Comarca de
Luanda, apresentado à Coordenação de
estágio do Instituto Superior João Paulo
II, como requisito parcial de avaliação.

Orientado por: GONÇALO


TEIXEIRA

Luanda, Julho de 2022.


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4
1. APRESENTAÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO .................................................... 6
1.1. Inserção e Diagnóstico ....................................................................................... 6
1.2. Resultados do Diagnóstico................................................................................. 7
1.2.1. Aspectos positivos ...................................................................................... 7
1.2.2. Aspectos negativos (problemas) ................................................................. 7
2. FUNÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL NA SALA DE FAMÍLIA ....................... 9
2.1. Uma análise jurídico-legal ................................................................................. 9
2.2. Uma análise de acordo ao Serviço Social ........................................................ 10
2.2.1. Atribuições e Competências do Assistente Social .................................... 11
3. ANÁLISE PRÁTICA DO ESTÁGIO .................................................................... 14
3.1. Descrição das actividades programadas desenvolvidas ................................... 14
3.2. Descrição das actividades programadas não desenvolvidas ............................ 14
3.3. Principais mudanças observadas na instituição com as actividades
desenvolvidas pelo estagiário ..................................................................................... 15
3.4. Análise das condições de trabalho do estágio .................................................. 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 19
APÊNDICES .................................................................................................................. 20
Plano de Diagnóstico .................................................................................................. 20
Plano de Acção ........................................................................................................... 22
ANEXOS ........................................................................................................................ 20
Organograma do Tribunal Supremo ........................................................................... 25
INTRODUÇÃO

O estágio é um processo de exercício experimental da profissão que visa a formação


prática do futuro profissional, para o nosso caso, Assistente Social. Tem como objectivo
fundamental inserir o estudante na prática institucional e comunitária através do trabalho
em equipa com vista a sua adaptação e fortalecer a sua aprendizagem através da
participação em actividades da instituição e da comunidade.

Tratando-se de um estágio cuja natureza é interventiva, como é próprio dos estágios do


4º ano, o estagiário é chamado a uma intervenção direcionada e articulada, esboçando um
plano de acção para o efeito, de acordo com o propósito e objectivo social da instituição
que o acolhe e o contexto. Esta intervenção é precedida de um diagnóstico planificado e
rigoroso, onde, em função do mesmo, o estagiário, por intermédio de um conjunto de
técnicas aprendidas no cúmulo das disciplinas que integram o projecto de formação,
consegue conhecer a instituição ou comunidade no mais profundo sentido, identificando
as valências e os problemas da mesma, exercitando assim a profissão em busca das
habilidades profissionais exigidas.

Tal como nos ensina Buriolla (1999), o estágio é o locus onde a identidade profissional
do aluno é gerada, construída e referida. Volta-se para o desenvolvimento de uma acção
vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativa e sistematicamente.

Realizamos o nosso estágio na 1ª Secção da Sala de Família do Tribunal da Comarca de


Luanda. Os Tribunais são os órgãos de soberania que exercem a função jurisdicional
enquanto uma das funções do Estado. Visam administrar a justiça em nome do povo. Aos
Tribunais, no exercício da função jurisdicional, tal como consagra o artigo 174.º, nº2 da
Constituição da República de Angola, doravante CRA, compete dirimir os conflitos de
interesse público ou privado, assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente
protegidos, bem como os princípios do acusatório e do contraditório e reprimir as
violações da legalidade democrática.

Inseridos no contexto de estágio, no âmbito do diagnóstico, tivemos como objectivo geral


“compreender a realidade sócio-institucional da 1ª Secção da Sala de Família do
Tribunal da Comarca de Luanda”. Para o alcance disso, a título de objectivo específico,
comprometemo-nos a “Analisar as atribuições e competências dos Assistentes Sociais na

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1ª Secção da Sala de Família do Tribunal da Comarca de Luanda de 14 à 30 de Março
de 2022”.

A pesquisa em Serviço Social é virada para a intervenção, ou seja, não basta conhecer, é
necessário que se trace um plano de intervenção em função da pesquisa feita. Neste
sentido, pretendíamos “Garantir a prontidão da justiça no 1ª Secção da Sala de Família
do Tribunal da Comarca de Luanda”. Para isto tivemos como objectivo específico
“Intervir em pelo menos 5 processos cuja decisão carece da intervenção do Assistente
Social, de Março a Junho de 2022”.

O relatório final de estágio é um documento que é exigido aos estudantes-estagiários.


Trata-se de uma imposição pedagógica do projecto académico de formação de Assistentes
Sociais e não só, que impõe que findo o estágio, o estudante deve elaborar um relatório
onde deve constar, de forma sistematizada, o relato de todo o processo. Se analisarmos o
Serviço Social na história, veremos que o surgimento dos estágios como parte do processo
de formação dos Assistentes Sociais, teve o seu ponto alto na década de 2000, onde
destacam-se grandes nomes que contribuíram para o feito, dos quais Marilda Iamamoto.
O estágio é, hoje em dia, parte do processo formativo de Assistentes Sociais, pois, refere-
se a um processo de ensino-aprendizagem no qual na medida em que os estagiários
partilham os seus conhecimentos teórico-práticos com a instituição ou comunidades,
constroem a sua identidade profissional e amadurecem suas habilidades técnicas e
competências teórico-metodológicas, ético-política e técnico-operativa.

Este relatório está estruturado em três pontos. O primeiro apresenta o campo de estágio,
aborda de forma resumida o processo de inserção e faz a caracterização do Tribunal
enquanto instituição de estágio, tal caracterização visa, essencialmente, trazer as
valências e os problemas da instituição. O segundo ponto traz uma discussão em torno
das funções do Assistente Social na Sala de Família, esta discussão é trazida tanto na
perspectiva jurídica, quanto num olhar do Serviço Social. O terceiro e último ponto traz
consigo a parte mais prática do trabalho por ilustrar o conjunto das actividade realizadas
durante o processo de estágio que culminaram nos resultados que podem também ser
vistos nesse ponto.

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1. APRESENTAÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO

Segundo o calendário académico, o estágio do 4º ano inicia no dia 14 de Março. Tivemos


como instituição de estágio a 1.ª Secção da Sala de Família do Tribunal da Comarca de
Luanda. Este que está situado na província de Luanda, no Município de Luanda, no
Distrito Urbano da Maianga, no Bairro da Calemba e na Avenida Nzinga Mbande, junto
ao Instituto Nacional da Criança - INAC e à Unicef, no antigo Julgado de Menores.

A 1ª Secção da Sala de Família nem sempre funcionou onde se encontra, sendo que em
2014 todas as secções do Tribunal funcionavam num prédio algures da Maianga.
Entretanto, gerava grande aglomeração de pessoas. Em 2018, passaram para o Projecto
Nova Vida. A 1ª Secção do Sala da Família passou para junto do INAC, após a ida do
Julgado de Menores ao Zango.

O Tribunal é constituído por 9 Cartórios, sendo que cada um corresponde a um Juiz e


estes são representados por letras, de A à I. Além destes, existe a área reservada ao
Ministério Público, ou seja, para a Procuradoria da República, pois, muitos dos processos,
a favor dos menores são abertos lá, porque este órgão é o Digno Curadores de Menores.

1.1. Inserção e Diagnóstico


Tal como já foi dito no ponto anterior, à luz do calendário académico, o estágio começa
no dia 14 de Março, porém, por razões alheias a nossa vontade, só começamos a estagiar
propriamente no dia 22 do mesmo mês.

Como é característico, seguiu-se a apresentação a todos os funcionários, isto no dia 24.


No mesmo dia fomos instalados numa sala onde a princípio só tinha uma cadeira e uma
mesa como materiais de escritório.

Sendo que precisávamos mesmo pôr a mão na massa e começar a trabalhar,


independentemente das condições começamos. Tal como sabemos, antes de qualquer
intervenção o profissional de Serviço Social deve compreender o que realmente está a
ocorrer para poder agir em conformidade, ou seja, embora o início de um projecto de
intervenção possa assumir diversos percursos, o ideal consiste na identificação,
caracterização e aprofundamento dos problemas, o que implica a elaboração de um

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diagnóstico. Na medida em que para se efectivar qualquer actividade no campo social, é
indispensável conhecer a realidade que se vai actuar1.

Dos vários conceitos de diagnóstico, entendemos que o que o aborda como:

Procedimento que visa recolher, tratar, analisar e dar a conhecer informação pertinente,
de forma a possibilitar a caracterização o mais rigorosa possível de uma área geográfica
ou organização, permitindo que se tracem objectivos e metas a alcançar em função da
informação recolhida, é o que se enquadra melhor com as nossas pretensões. Designado
por vezes também como análise das necessidades, é sempre definido como a identificação
dos níveis de não correspondência entre o que está, situação presente, e o que deveria
estar, situação desejada2.

1.2. Resultados do Diagnóstico


A Instituição é um todo, que abarca prós e contras, sendo que os primeiros agregam
valores e concorrem para o alcance do objecto social da Instituição, os últimos, por sua
vez, funcionam em sentido contrário, nesta ordem de ideias temos:

1.2.1. Aspectos positivos


Podemos destacar os seguintes:
 Equipa de trabalho maioritariamente jovem;
 Fortes e boas relações interpessoais;

1.2.2. Aspectos negativos (problemas)


Conseguimos constatar os seguintes problemas:
 Inexistência de sala(s) de espera para os utentes;
 Morosidade processual;
 Inexistência de Assistentes Sociais no quadro de pessoal institucional;
 Inexistência de condições financeiras e materiais para a realização das visitas de
campo (de Comunicação e Mobilidade);
 Insuficiência de materiais de escritórios na área social;
 Excesso de Processos que carecem da intervenção do Assistente Social;

Após a identificação dos problemas, seguiu-se a necessidade de priorização da


problemática na qual poderíamos intervir. Estabelecidos determinados critérios, como

1
Participação e trabalho social: um manual de promoção humana, p.10.
2
Ministério do Trabalho e da Solidariedade/Secretaria de Estado do Emprego e Formação Profissional,
p.63.

7
o tempo e os recursos disponíveis priorizamos “o excesso de processo que carecem
da intervenção do Assistente Social”.

Terminado o primeiro ponto onde fizemos uma caracterização genérica do campo de


estágio, desde a sua apresentação, a descrição do processo de inserção, diagnóstico e
os resultados deste último, ou seja, o levantamento das potencialidades e problemas
que encontramos na instituição.

Segue-se a fase da fundamentação teórica, onde fazemos uma abordagem das funções
do Assistente Social no campo de estágio, bem como a necessidade do mesmo. Para
isso, fazemos recurso tanto à lei, quanto a alguns autores para que tenhamos uma
análise bem sustentada de modos a se alcançar os objectivos do ponto a seguir.

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2. FUNÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL NA SALA DE FAMÍLIA

2.1. Uma análise jurídico-legal


Sendo que estamos a nos referir a um órgão judicial cuja a especialidade é dirimir os
litígios jurídico-familiares, é importante que, antes de qualquer análise apoiada em
diversos autores, entendamos o que o Código da Família e as demais legislações avulsas
dizem a respeito das funções do Assistente Social no Tribunal.

No contexto angolano, o Assistente Social é tido como um interveniente acidental do


processo. Intervenientes acidentais são aquelas pessoas que pontualmente são chamadas
a intervir num processo sem que nele ocupem a posição de partes. Pode tratar-se de
testemunhas, peritos, intérpretes, técnicos entre outros. Vêm consagrado no artigo 257.º
do Código Processual Civil, doravante CPC.

Como vimos, entendem-se que a intervenção do Assistente Social enquanto técnico é


acidental e nem sempre a sua presença será necessária, dependendo da natureza do
processo.

A Lei n.º5-A/21 de 5 de Março, Lei que Altera a Lei sobre a Actualização das Custas
Judiciais e Alçadas dos Tribunais, no seu artigo 9.º vem estabelecer a remuneração dos
intervenientes acidentais. Para os peritos diplomados com curso superior, onde se
enquadra o Assistente Social, a sua remuneração varia entre 8.800,00 (oito mil e
oitocentos kwanzas) e 17.600,00 (dezassete mil e seiscentos kwanzas) em conformidade
com a actividade desenvolvida. O valor exato é estabelecido pelo Tribunal, conforme
explica o n.º3 do artigo anteriormente citado.

Tal como dissemos, o Assistente Social é tido como interveniente acidental pelo facto de
não ter intervenção em todos os casos e só ser chamado a intervir em casos específicos.
Neste desiderato, no âmbito da Tutela3, concernente a sua constituição, o Assistente
Social é chamado ao processo no âmbito da Actividade Oficiosa, para a realização do
Inquérito Social, como refere-se o artigo 231.º do Código da Família, doravante CF, que
passamos a citar: “O Tribunal deverá, oficiosamente, promover o prosseguimento dos
autos, requisitar aos organismos competentes os documentos necessários, convocar o

3
A tutela incide sobre menores e outros incapazes, dando proteção à sua esposa e aos seus bens. Por direito
natural é atribuída ao pai e à mãe a autoridade paternal para suprir a incapacidade dos filhos menores. Mas
há circunstâncias em que nenhum dos progenitores está em condições de exercer essa autoridade. Daí que,
através dos tempos, se tenha recorrido ao instituto da tutela. Maria do Carmo Medina. Direito de Família,
p.387.

9
Conselho de Família, mandar proceder a Inquérito Social e outras diligências, se
necessárias”. Como podemos aferir, para estes casos, a realização do Inquérito Social
enquanto uma diligência é obrigatória, logo, sempre que houver um processo de Tutela,
nestes termos, deverá haver o Inquérito Social enquanto uma das funções do Assistente
Social.

Concernente ao exercício da tutela, com algum exercício interpretativo da norma do artigo


242.º do CF que diz que “Cabe ao Tribunal vigiar o exercício da tutela e velar pela
prestação de contas do tutor”, conseguimos depreender que este processo de vigilância
do exercício e prestação de contas a que a lei se refere está ligado à monitoria,
acompanhamento e avaliação que deve ser feita pelo Assistente Social, o que nos faz dizer
que uma outra função do Assistente Social na Sala de Família, de acordo à lei, é monitorar
e vigiar o exercício da tutela, bem como garantir a prestação de contas do tutor.

Interessa dizer que, com as devidas adaptações, os moldes de intervenção do Assistente


Social no processo de Tutela, é o mesmo no processo de Adopção.

2.2. Uma análise de acordo ao Serviço Social


Sem desprimor a análise jurídico-legal, é importante que entendamos que as funções do
Assistente Social no Tribunal, propriamente na Sala de Família, não se limitam nas
resumidas e limitadas tidas no Código da Família e nas demais legislações avulsas, vão
além disso, sendo que existem outras funções que não estando na lei em geral, decorrem
da própria necessidade do contexto e das famílias/utentes que procuram pelo serviço
público prestado pelo Tribunal.

Antes de mais é importante que entendamos que, tal como defende Iamamoto (2004):

“O Serviço Social tem na questão social a base de sua fundação enquanto especialização
do trabalho. Questão social refere-se ao conjunto das expressões das desigualdades da
sociedade capitalista que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais social,
enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte
da sociedade.” (p. 16).

Os Assistentes sociais são profissionais que por meio da prestação de serviços sócio-
assistenciais nas organizações públicas e privadas, interferem nas relações sociais
quotidianas no atendimento às mais variadas expressões da “questão social” vividas pelos

10
indivíduos sociais no trabalho, na família, na luta pela moradia e pela terra, na saúde, na
assistência social pública, etc4.

Com isso, consegue-se entender que o objecto de trabalho do Assistente Social é a questão
social e um dos seus grupos de trabalho é a família, havendo aí o elo com o Tribunal –
Sala de Família que atende exclusivamente litígios jurídico-familiares.

A família é aqui vista numa abordagem Estrutural-funcionalista, onde a análise não é a


instituição (uma micro-sociedade), mas o sistema social família, entendido analiticamente
como estrutural de status-papel e de expectativas complementares, com funções
especializadas, delegadas de tudo orgânico. Nesta abordagem o comportamento dos
membros da família não é visto como uma manifestação das necessidades naturais, mas
como resposta a um conjunto de expectativas normativas participadas, socialmente
condicionadas.

É em torno disso, que se o pai não prestar alimentos, representando assim um


comportamento diferente do esperado, a mulher intenta uma acção contra si, por
rompimento das expectativas que se tem de um pai.

2.2.1. Atribuições e Competências do Assistente Social


Entendemos que, tal como na realidade brasileira, o Assistente Social não deve estar
limitado aos inquéritos sociais, este deve assessorar os juízes, dentro do âmbito do Serviço
Social. Em outras palavras, essa atuação se dará principalmente em matéria de Família,
Execução Criminal, Infância e Juventude, Violência Doméstica e Familiar e Idosos, seja
no auxílio com pesquisas, estudos e projectos, ou no contacto directo com os envolvidos,
realizando orientação e intervenção.

As funções do Assistente Social estão ligadas as atribuições e competências do mesmo.


Atribuições e competências profissionais remetem à forma de ser das profissões na
divisão sócio-técnica do trabalho na sociedade capitalista, de acordo com as prerrogativas
legais, no caso das profissões regulamentadas como é o caso do serviço social5. É
importante que esclareçamos que, tal como explica o Conselho Federal de Serviço Social:

(...) se as atribuições privativas são aquelas designadas exclusivas do Serviço Social, as


competências são compartilhadas com outras profissões, o que abre um leque de
possibilidades de inserção em várias outras dimensões de trabalho, desde que nos

4
As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no Serviço Social contemporâneo, p.16-17.
5
Atribuições Privativas do/a Assistente Social em Questão, p.12.

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qualifiquemos para isso, ao contrário do que muitas vezes se interpreta no debate
profissional como redução de oportunidades de atuação para assistentes sociais. (p.12).

Neste sentido, seriam funções do Assistente Social no Tribunal de forma geral:

 Elaborar laudos sociais para subsidiar decisões judiciais (estes laudos ou relatórios
sociais são precedidos pelos inquéritos sociais);
 Prestar orientação e/ou acompanhamento a crianças, adolescentes, idosos e
famílias envolvidos em ações judiciais;
 Articular recursos sociais que contribuam para solucionar ou minimizar as
situações-problema da infância e da juventude, de idosos, de incapazes, de
apenados ou de entidades familiares em litígio ou com um contexto de violência
intrafamiliar, realizando os encaminhamentos necessários;
 Prestar assessoria, por determinação judicial, a instituições que abriguem crianças
e adolescentes ou idosos;
 Acompanhar visitas de pais separados aos filhos, em casos de litígio grave,
quando necessário para subsidiar o trabalho técnico-profissional na elaboração de
laudo social;
 Planejar, executar e avaliar pesquisas e programas relacionados à prática
profissional do Assistente Social no contexto judiciário;
 Organizar e manter registro e documentação relativos ao Serviço Social,
obedecendo às regras específicas;
 Actuar na prevenção de situações de vulnerabilidade que possam afectar crianças
e adolescentes, idosos, grupos familiares e apenados, mesmo que não haja
procedimento formalmente instaurado;
 Realizar actividades necessárias para execução, gerenciamento e supervisão do
cumprimento de penas e medidas alternativas;
 Realizar actividades pertinentes nos processos de habilitação para adopção,
colocação em lares substitutos e estágio de convivência;
 Orientar adolescentes cumprindo medidas de liberdade assistida e prestação de
serviços à comunidade;
 Realizar outras actividades de acordo à sua especialidade, por determinação
judicial.

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A partir da descrição dessas atribuições, podemos perceber que a actuação do Assistente
Social no Tribunal é bastante ampla no campo do Serviço Social. Além do mais, suas
funções são de grande relevância para a solução de diversos casos que chegam até um
Tribunal de Família.

Em função do trabalho que realizamos no Tribunal de Família, no âmbito dos Modelos


de Intervenção em Serviço Social, fizemos recurso ao Modelo Centrado na Resolução de
Problemas, na medida em que estes destina-se às intervenções em que os cidadãos
reconhecem que existe um problema e o facto de os cidadãos recorrerem ao Tribunal é
uma das formas que estes demonstram que por si só não conseguem resolver determinada
situação.

Concernente a natureza da intervenção, o modelo optado por nós, apresenta um objectivo


duplo, por um lado a resolução do problema e por outro a promoção da capacidade de
crescimento do cidadão. Tem como principal objectivo promover um conjunto de
aprendizagens sociais e comportamentais capazes de apoiar a resolver os problemas do
indivíduo.

Demos por terminado este ponto, interessa dizer que em sede do mesmo, de forma
resumida, tratamos das funções do Assistente Social no Tribunal, em específico, como é
o nosso tema, na Sala de Família. Para tratarmos sobre o assunto, achamos por bem fazer
uma análise em duas perspectivas, uma primeira jurídico-legal, onde discorremos sobre
as funções trazidas na lei que recaem para o Assistente Social. Uma segunda perspectiva
é na visão do Serviço Social. Nesta última trouxemos, em princípio da distinção existente
entre atribuições privativas e competências. Fomos além da lei e apoiando-se na realidade
brasileira, em que o Serviço Social assemelha-se muito à realidade angolana, bem como
no contexto prático, estabelecemos aquelas que seriam as atribuições e/ou funções do
Assistente Social não só na Sala de Família, mas no Tribunal em geral.

O capítulo que se segue, diferente dos tratados anteriormente, tem uma natureza mais
prática do próprio estágio. Nele são demonstrados tanto as actividades desenvolvidas
como os resultados obtidos em função disso. Um outro aspecto interessante que o ponto
a seguir traz são a análise das condições de trabalho e as dificuldades que tivemos no
contexto de estágio.

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3. ANÁLISE PRÁTICA DO ESTÁGIO

3.1. Descrição das actividades programadas desenvolvidas


As actividades programadas são as que constam no plano de acção (ver apêndice) e são:
1.1. Estudar 4 casos e entender a sua natureza e a necessidade de intervenção segundo o
método GUT (Gravidade, Urgência e Tendência) - esta actividade serviu como um
estudo de caso, na medida em que analisamos todos os autos do processo, os
fundamentos de facto e de direito que as partes alegaram, bem como os motivos que
fundamentam que o juiz promova a inquérito social;

1.2. Realizar 1 reunião entre Assistentes Sociais, Juízes, Escrivão e Oficiais de


Diligências para entender a gravidade dos processos - esta por sua vez, foi uma
actividade conjunta e com quem já está na área há mais tempo. Visou, essencialmente,
buscar as opiniões em torno daqueles que deveriam ser os critérios de priorização dos
casos, sendo que são vários e não conseguiremos dar resposta a todos.

1.3. Elaborar 5 Inquéritos e Laudos/Relatórios Sociais - o inquérito Social é precedente à


visita domiciliar, porém, o relatório/laudo é posterior a este.

1.4. Realizar 5 visitas domiciliares em casa das famílias cujos processos se encontram a
tramitar com vista a realização do inquérito social;

2.1. Elaborar, de forma conjunta, 1 programa sobre inquéritos e relatórios sociais –


elaboramos, juntamente com o Assistente Social (voluntário) do Tribunal e, sendo
uma equipa de trabalho, há toda a necessidade de se articular e esta base ser construída
de forma conjunta;
2.2. Submeter a proposta do programa ao Juiz Presidente do tribunal - bem como foi
acordado e sugerido pelo próprio juiz, o programa devia ser apresentado ao mesmo
tempo com o devido orçamento para a devida cabimentação.

3.2. Descrição das actividades programadas não desenvolvidas


 Acompanhar as famílias após a decisão dos seus processos – essa actividade não
foi desenvolvida porque em função da morosidade, os processos ainda não
conheceram decisão;

14
 Em função da complexidade dos processos, dos 5 que estavam marcados para
serem analisados, apenas conseguimos 4, consequentemente apenas dos 4
realizamos o inquérito e o relatório social.

3.3. Principais mudanças observadas na instituição com as actividades


desenvolvidas pelo estagiário
 Criadas as condições para o trabalho do Assistente Social, como sala para a área
social, computador e outros materiais de escritório;
 Existência de critérios para a priorização dos casos em função método GUT;
 Aumentada a consciência sobre a necessidade da existência do Assistente Social
no quadro de pessoal do Tribunal;
 Idealizado a necessidade de existência de um fundo para a cobertura das
necessidades de cobertura e deslocação do Assistente Social a quando dos
trabalhos de campo;

3.4. Análise das condições de trabalho do estágio


Tal como já dissemos anteriormente, não condições de trabalho para o exercício
profissional do Assistente Social. Nesta senda com algumas reuniões que mantivemos
com Meritíssimo Juiz Presidente do Tribunal, João Tati, conseguimos que fosse
disponibilizados para a área social um computador que permitia-nos elaborar os
inquéritos sociais e após eles a elaboração do laudo ou relatório social.

Apesar disso, a não existência de uma impressora dificultava a impressão dos mesmos
documentos, tendo nós, Assistentes Sociais, que se deslocar ao cartório da letra A para
devida impressão. Dada altura a impressora deste cartório avariou, o que paralisou parte
do trabalho na medida em que com base no sigilo e reserva sobre a vida privada das
pessoas não podíamos imprimir fora da instituição documentos daquela natureza.

Apesar da autonomia administrativa e financeira do tribunal, a não existência de um fundo


que servisse para cobrir as despesas de comunicação e deslocação no âmbito dos trabalhos
de campo, fazia que os partes do processo, isto é, autor e o réu, fossem chamados a
colaborar financeiramente no processo. Isto por sua vez deu-nos a entender que a justiça
seria selectiva, sendo que os que não pudessem colaborar corriam o risco de não ver as
suas situações resolvidas. Neste sentido, poderíamos ter duas soluções, a primeira já
apresentada, passaria pela existência de um fundo para cobrir as deslocações e a

15
comunicação, outra seria a existência de motorista e uma viatura para efectuar estas
diligências.

Uma facilidade está ligada a interação e disponibilidade em prestação de informação por


parte dos colegas a nível do próprio tribunal. Sendo que no âmbito das visitas de campo,
se necessário havia disponibilidade de um agende de ordem e segurança.

Outra facilidade é a existência, ainda que a título de voluntário, de um Assistente Social


que facilitou o nosso processo de inserção bem como o contacto com a dinâmica de
trabalho.

Terminamos assim o último capítulo, onde demonstramos os aspectos práticos do estágio,


desde as actividades que planificamos com vista ao alcance de determinado fim, às que
por motivos alheios à nossa vontade não conseguimos as realizar. Neste mesmo capítulo
tratamos ainda das dificuldades e os elementos que facilitaram o próprio estágio.

Segue-se as considerações finais, nela apresentamos as conclusões e as sugestões em


função da experiência vivida.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

É urgente que as instituições de estágio entendam que o estagiário, apesar de poder


contribuir para o alcance dos objectivos da instituição, é colocado no campo de estágio
com o objectivo fundamental de aprender e desenvolver habilidades. Muitas vezes no
contexto de estágio somos tratados como funcionários normais, outras vezes aproveitam-
se da nossa situação enquanto estagiários e somos vítimas de exploração e usados como
mão-de-obra barata. Neste sentido, importante dizer que o Serviço Social é
regulamentado como uma profissão liberal, dispondo de estatutos legais e éticos que
atribuem uma autonomia teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa e à
condução do exercício profissional. Ao mesmo tempo, o exercício da profissão se realiza
mediante um contrato de trabalho com organismos empregadores públicos ou privados,
em que o assistente social afirma-se como trabalhador assalariado. Estabelece-se uma
tensão entre autonomia profissional e condição assalariada.6

A justiça é para todos e tal como consagra a Constituição, em nenhum caso pode haver
denegação de justiça por insuficiência de meios financeiros. Entendemos que a
colaboração dos utentes para custear as deslocações do Assistente Social constitui um
motivo de exclusão, na medida em que os que não poderem contribuir, por falta de razões
financeiras as suas pretensões a nível do tribunal quase que nunca serão atendidos.

Apesar de decorrer da lei que o Assistente Social é um elemento acidental do processo, a


sala de família tem cerca de 3 mil processos que carecem da intervenção do Assistente
Social, dos quais inclui processos de Tutela nas suas variadas tipologias, Adopção,
Regulação da Autoridade Paternal, Divórcio – Guarda dos menores, Prestação de
alimentos e outras. O pior e grande indicador da denegação de justiça, é o facto de que
muitos destes processos o objecto que lhes dá causa, muitas vezes em função da
morosidade ou paralisação do processo por inexistência de Assistente Social, acaba se
extinguindo.

É importante que o Assistente Social seja apenas visto como acidental, desempenhando
apenas as funções limitadas como realização do inquérito social e o acompanhamento do
exercício da tutela. É importante que se leva em conta o conjunto de atribuições privativas
e competências que são inerentes ao Assistente Social.

6
As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no Serviço Social contemporâneo, p.21.

17
Para o exercício profissional, o Assistente Social, como qualquer outro profissional,
precisa de um conjunto de materiais operacionais e técnicos que facilitam o modus
operandi de qualquer trabalhador e facilita o alcance dos objectivos a que cada
profissional se propõe. Neste diapasão, é importante que as condições básicas estejam
criadas para facilitar o trabalho do Assistente Social, tal como existem condições criadas
para o trabalho dos Oficiais de Diligências e Escrivãos de Direito.

Em sentido contrário, é importante que se mantenha a união e espírito em equipa que


existe nos trabalhadores da Instituição.

18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Assembleia Nacional. (1987). Código da Família. Luanda: Escolar Editora.


Assembleia Nacional. (2005). Lei Sobre a Actualização das Custas Judiciais e de Alçada
dos Tribunais. Luanda: Imprensa Nacional - E.P.
Assembleia Nacional. (2015). Lei Orgânica Sobre a Organização e Funcionamento dos
Tribunais da Jurisdição Comum. Luanda: Imprensa Nacional - E.P.
Assembleia Nacional. (2021). Lei que Altera a Lei Sobre Actualização das Custas
Judiciais dos Tribunais. Luanda: Imprensa Nacional - E.P.
Assembleia Nacional de Angola. (2010). Constituição da República de Angola. Luanda:
Plural Editores.
Buriolla, M. A. (1999). O Estágio Supervisionado (2ª ed.). São Paulo: Cortez.
Conselho Federal de Serviço Social. (2020). Atribuições Privativas do/a Assistente Social
em Questão (Vol. II). Brasília: S/ed.
Da Assunção, M. (2008). Principais Teorias sobre a Família - Material de apoio.
Luanda: S/ed.
Iamamoto, M. V. (2004). As dimensões Ético-política e Teórico-metodológicas no
Serviço Social Contemporâneo. San José: S/ed.
Medina, M. (2013). Direito de Família. Lobito: Escolar.

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APÊNDICES
Plano de Diagnóstico
Objectivo Geral: Conhecer a realidade sócio-institucional da 1ª Secção da Sala de Família do Tribunal da Comarca de Luanda
Objectivo Específico Resultados Esperados Actividades Metodologia Recursos Cronograma
Humanos Materiais 1ª semana 2ª semana
Analisar as 1. Percebido as razões 1.1. Estudar 5 Pesquisa/Análise Processos, xx xxx
atribuições e da intervenção do processos que Documental diário de
competências dos Assistente Social carecem de campo,
Assistentes Sociais na nos processos. intervenção do lapiseira,
1ª Secção da Sala de Assistente Social; etc.
Família do Tribunal
da Comarca de 1.2. Realizar 1 reunião Reunião Juiz x
Luanda de 14 à 30 de com Juiz Presidente
Abril de 2022 Presidente a fim
de entender as
razões de ordem
jurídica da
intervenção do
Assistente Social
nos processos.
2. Identificado as 2.1. Consultar as Pesquisa Documental Diário de x xx
razões da não legislações e campo,
existência de outros documentos lapiseira,
Assistentes Sociais sobre o etc.
no quadro de recrutamento a
pessoal do Tribunal nível dos
de Família. Tribunais;

2.2. Realizar um Reunião Juiz Diário de x x


reunião com o Juiz Presidente, campo,

20
Presidente e outros Escrivão lapiseira,
funcionários para de Direito etc.
perceber as razões e Oficiais
da não inserção de de Justiça.
Assistentes Sociais
no Tribunal.

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Plano de Acção
Objectivo Geral: Garantir a prontidão da justiça no 1ª Secção da Sala de Família do Tribunal da Comarca de Luanda.
Objectivo Resultados Actividades Metodologia Recursos Cronograma
Específico Esperados Humanos Materiais Março Abril Maio Junho
Intervir em pelo 1. Estabelecidos 1.1. Estudar 5 casos Método GUT Assistente Diário de
critérios de e entender a Social Campo, x xx xx
menos 5
priorização dos sua natureza e lapiseira,
processos cuja casos que a necessidade computador,
carecem de de intervenção etc.
decisão carece
intervenção; segundo o
da intervenção método GUT
(Gravidade,
do Assistente
Urgência e
Social, de Março Tendência);
a Junho de 2022.
1.2. Realizar 3 Reunião/Encontros. Juiz Diário de x
reuniões entre Presidente, Campo,
Assistentes Escrivão lapiseira,
Sociais, Juízes, de Direito, computador,
Escrivão e Oficial de etc.
Oficiais de Justiça e
diligências Assistente
para entender a Social.
gravidade dos
processos.

1.3. Elaborar 5 Assistente Diário de xx xx x


Inquéritos e Social Campo,
lapiseira,

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Relatórios computador,
sociais. Processos,
etc.

2. Criado um 2.1. Elaborar, de Elaboração conjunta Assistente Diário de x


programa de forma Social. Campo,
actuação dos conjunta, 1 lapiseira,
Assistentes programa computador,
Sociais. sobre etc.
inquéritos e
relatórios
sociais;

2.2. Submeter a Assistente Diário de x


proposta do Social, Campo,
programa ao Juiz lapiseira,
Juiz Presidente Presidente. computador,
do tribunal. etc.

23
ANEXOS
Organograma do Tribunal Supremo

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