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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................5
2. OBJETIVOS........................................................................................................................10
3. JUSTIFICATIVA..................................................................................................................10
4. DESENVOLVIMENTO.......................................................................................................11
4.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................11
4.2. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO...................................................................14
4.3. METODOLOGIA..........................................................................................................15
4.4. CRONOGRAMA...........................................................................................................15
4.5. ANÁLISE E COMPREENSÃO DA TRIAGEM REALIZADA...................................16
5. CONCLUSÃO......................................................................................................................16
6. REFERÊNCIAS...................................................................................................................17

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1. INTRODUÇÃO

A Psicologia Clínica é um campo de atuação de psicólogos norteador


para os saberes construídos durante sua prática. O atendimento clínico em
consultório é a atuação profissional mais desejada pelos alunos que iniciam o
curso de Psicologia e, também, pelos profissionais já formados que buscam
uma nova área de atuação. Carvalho e Kavano (1982) definem esse fascínio
por essa área de atuação da seguinte forma: "o que fascina os psicólogos na
área clínica é a possibilidade de penetrarem no outro, conhecê-lo,
estabelecendo com ele certo tipo de relação" (p.11). Mello (1975) afirma que
dentre as áreas de atuação da Psicologia, a clínica estabeleceu-se
rapidamente como sendo a mais nobre e marcou de modo intenso não
somente os currículos, como também o imaginário social em termos da figura
do psicólogo.

A profissão de psicólogo foi instituída em 1962 e junto com ela logo


surgiram os serviços-escola, instalados com o objetivo principal de atender à
necessidade de formação nos cursos de Psicologia. Os serviços-escola têm,
desde então, o objetivo de aplicar, na prática, as técnicas psicológicas
aprendidas em sala de aula. Ao mesmo tempo, adquiriram também um papel
social importante, visto que possibilitam à população carente um atendimento
psicológico que, de outro modo, poderia ser inacessível (Peres, Santos e
Coelho, 2003).

O termo clínica-escola veio a ser substituído por serviço-escola a partir


do 12° Encontro de Clínicas-Escola do Estado de São Paulo em 2004 (Melo-
Silva, Santos e Simon, 2005). O novo termo tinha como propósito incluir uma
gama maior de modos de intervenção do psicólogo para além dos estritamente
clínicos, acompanhando o desenvolvimento da profissão. Assim, tornou-se
importante a realização de investigações e pesquisas que buscassem
desenvolver meios que pudessem simultaneamente ampliar o atendimento a
um maior número de pessoas na comunidade, mantendo a qualidade do
serviço realizado por estudantes (Herzberg e Chammas, 2009) e, ao mesmo

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tempo, adequando-os às necessidades sociais pertinentes ao momento
histórico e às características regionais nas quais estavam inseridos.

Somente estudar Psicologia Clínica não ensina a ser clínico: ser clínico
se aprende sendo, ou seja, a ênfase do estudo teórico nesta área não refuta a
ideia de que a clínica se aprende no contato com o paciente. Esta é a
importância crucial desses serviços-escola que, por lei, devem fazer parte dos
serviços de Psicologia aplicada ligados aos cursos.

No caso da FACFEA, localizada em Araçatuba – SP, os Serviços de


Atendimento em Psicologia (SAP) é um espaço acadêmico que congrega todo
o serviço de supervisão dos diversos estágios que os alunos realizam,
oferecendo espaço para o atendimento clínico, com hora marcada, a
indivíduos, grupos, casais, famílias, adultos, adolescentes e crianças, de casos
constituídos por demandas psicossociais. Seu espaço é localizado dentro do
prédio da faculdade, e possibilita aos alunos que, a partir do 8º semestre,
realizem observações e intervenções com os assistidos pelo município, de
maneira gratuita. Os atendimentos são realizados, por estagiários de
graduação do curso de Psicologia da própria instituição, matriculados nos
quartos e quintos anos, sob supervisão de psicólogos e professores da
faculdade.

Em virtude da pandemia da COVID19 que assolou o mundo no ano de


2020 e alterou toda a rotina e normalidade, principalmente as aulas em todas
as instituições de ensino, os atendimentos no SAP também foram
comprometidos, e seus estágios de observação foram interrompidos
juntamente com o calendário escolar, sem possibilidade de serem realizados
em formato Remoto, como as aulas. Portanto, o presente trabalho apresentará
um modelo de triagem já realizado, pois os alunos não puderam fazê-lo
presencialmente, como nos outros anos.

Os atendimentos oferecidos em clínicas-escola de psicologia incluem,


entre outros, triagem, psicodiagnóstico, psicoterapia individual, de casal,
familiar, atendimentos preventivos e grupos de espera (Guerrelhas & Silvares,
2000; Melo, 1999). A triagem constitui, muitas vezes, a “porta de entrada” para
o encaminhamento dos clientes às outras modalidades de atendimento, tendo,

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assim, relevante papel em uma clínica, dada sua função de escuta inicial,
avaliação e encaminhamento. Como ocorre na maioria das instituições de
saúde, a demanda é geralmente maior do que o número de vagas oferecido,
havendo rotineiramente pessoas que não conseguem atendimento
(Chammas & Herzberg, 2006; Guerrelhas & Silvares, 2000; Herzberg, 1996;
Melo, 1999; Salinas & Santos, 2002).

A prática tem revelado que, no intervalo de tempo decorrido entre a


inscrição na clínica e o atendimento propriamente dito, o cliente pode percorrer
uma longa e demorada trajetória.

A experiência com a triagem indica que com frequência o paciente não


tem ideia do que seja um atendimento psicológico e não chega,
necessariamente, com a expectativa de que este seja mais prolongado. Às
vezes, expressa dúvidas sobre questões de desenvolvimento próprio, outras
vezes, está vivendo um momento particularmente crítico em sua vida; ou,
ainda, afirma ter sido encaminhado por terceiros, mas não tem muito claras as
razões destes (Chammas & Herzberg, 2006; Salinas & Santos, 2002).

O processo de triagem é a porta de entrada dos pacientes ao conceito


de psicologia e saúde mental, pois, normalmente, os pacientes desconhecem o
que é um serviço psicológico, uma vez que este tipo de trabalho não tem
repercussão em seu universo cultural e educacional.

Para Figueiredo (1995), a visão da clínica, nesse sentido, seria o espaço


da escuta do excluído, do interditado, procurando atender a esta demanda.
Para ele,

a clínica define-se, portanto, por um “ethos”: em outras palavras, o


que define a clínica psicológica é a sua ética: ela está comprometida
com a escuta do interditado e com a sustentação das tensões e dos
conflitos. (p. 40)

Se o paciente não se sentir mobilizado pelo primeiro atendimento, talvez


não prossiga na sua busca por ajuda e, nesse sentido, a triagem promove uma
conscientização maior do paciente bem como da família em relação às suas
dificuldades.

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Entrevistas de triagem costumam ser mais do que coleta de dados com
os quais se organiza um raciocínio clínico sumário que vai orientar o
encaminhamento. As entrevistas tomam a forma de uma intervenção breve, já
que ao dar aos clientes uma oportunidade de se engajarem em seu próprio
atendimento, torna-os responsáveis por seus problemas (Ancona-Lopez, 1995).

O simples acolhimento já tem significado importante para muitos que


procuram atendimento psicológico. Por acolhimento entende-se uma
disposição afetiva do psicólogo, uma atitude de escuta que visa receber,
aceitar, em que a expressão do sofrimento já proporciona alívio ou mesmo
certa clareza em relação à situação vivida, criando condições para modificá-la.

O processo de triagem deve ser encarado não como um mero processo


de seleção de demanda ou coleta de dados da história do cliente, mas como
parte da intervenção psicoterapêutica propriamente dita. Nessa fase há uma
clarificação da situação psicodinâmica individual ou grupal, para além do
simples levantamento de dados e isso tem efeito psicoterapêutico.

Os atendimentos são sempre pautados por uma abordagem específica,


escolhida a partir da identificação de trabalho do psicólogo, ou estagiário, que
irá traçar a partir das teorias trazidas por ela, o melhor caminho a ser adotado
dentro do atendimento clínico. Cada abordagem possui técnicas e maneiras de
trabalho específicas, e o presente trabalho será pautado a partir da ótica
psicanalítica de atendimento clínico.

Freud, ao dar ouvidos à histeria, inaugura um novo saber e uma prática


clínica diferenciada, na qual é reconhecida a interferência da afetividade na
vida das pessoas. A partir da sua experiência clínica, demonstra que a mente é
capaz de produzir manifestações no corpo biológico.

O propósito da psicanálise na prática clínica é não prescindir o discurso


do paciente. É necessário que haja alguém que fale para um alguém
capacitado que se disponha a escutar.

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A Psicanálise é formulada por diversos pilares que a estruturam de
forma complexa e vasta. Os conceitos centrais que pautam a psicanálise são: o
inconsciente, visto como um zona desconhecida onde grande parte nossa
reside, onde colocamos nossos desejos e sonhos reprimidos graças ao
ambiente externo; a pulsão, que se apresenta como um representante mental
do que acontece quando estímulos físicos chegam na mente e, à primeira vista,
pode lembrar bastante a natureza do instinto, entretanto, não se guia por uma
necessidade e se mostra mais difícil de saciar ou parar; o desejo, se mostra
como uma construção em querer no modo consciente; os sonhos,
considerados respostas para tudo aquilo que vivenciamos conscientemente ou
não, podendo manifestar alguns desejos reprimidos; entre outros, como
associação livre, transferência, complexo de édipo, id, ego, superego, libido e
os níveis da consciência.

Segundo Bock (2001):

Freud, em suas investigações na prática clínica sobre


as causas e o funcionamento das neuroses, descobriu que a
maioria de pensamentos e desejos reprimidos referia-se a
conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de
vida dos indivíduos, isto é, que na vida infantil estavam as
experiências de caráter traumático, reprimidas, que se
configuravam como origem dos sintomas atuais, e confirmava-
se, desta forma, que as ocorrências deste período da vida
deixam marcas profundas na estruturação da pessoa. As
descobertas colocam a sexualidade no centro da vida psíquica,
e é postulada a existência da sexualidade infantil. Estas
afirmações tiveram profundas repercussões na sociedade
puritana da época, pela concepção vigente da infância como
“inocente”.

Erikson expandiu as teorias de Freud e enfatizou a importância do


crescimento ao longo da vida. A teoria do estágio psicossocial da
personalidade de Erikson permanece influente hoje em nossa compreensão do
desenvolvimento humano.

O enfoque do trabalho do psicólogo psicanalista no atendimento clínico é


ver problemas psicológicos como enraizados na mente inconsciente. Os
sintomas manifestos são causados por distúrbios latentes (ocultos). Causas
típicas incluem problemas não resolvidos durante o desenvolvimento ou trauma

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reprimido. O tratamento se concentra em trazer o conflito reprimido à
consciência, onde o sujeito pode lidar com isso.

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

O presente trabalho tem como objetivo propiciar a vivência da prática da


Psicologia Clínica fundamentada pela orientação teórica Psicanalítica, de modo
a aplicar e ampliar os conhecimentos adquiridos durante nossa formação
teórica, de forma a unir os conhecimentos teórico-práticos através de
pesquisas nas diversas áreas da psicologia em situações de exercício
profissional.

Sua prática está direcionada ao atendimento psicológico no SAP,


localizado na FACFEA, à população que não dispõe de condições financeiras
de investir em um tratamento psicológico em clínicas particulares.

2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO

 Descrever a concepção psicanalítica sobre as queixas trazidas


pelos pacientes no SAP
 Contribuir para a formação continuada de profissionais que
trabalham em saúde mental
 Cooperar com a formação acadêmica de estudantes que realizam
estágios em instituições de saúde mental.

3. JUSTIFICATIVA
A realização do estágio no curso de Psicologia justifica-se pelo
atendimento às exigências curriculares da formação do psicólogo. Dessa
forma, faz-se necessária a experiência do estágio supervisionado como
condição para o reconhecimento do profissional psicólogo, além do mais, a
supervisão é um processo de ensino e de aprendizagem que proporciona aos
alunos do curso de Psicologia adquirir habilidades terapêuticas de maneira a
unirem conhecimentos teóricos com a prática, prestando serviços de natureza

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psicológica à comunidade e propiciando condições de vivenciar a passagem do
papel de estudante para o de profissional.

O estágio tem sua importância justificada também por se caracterizar


como um momento fundamental na interface da formação e da atuação
profissional do psicólogo, uma vez que oferece suporte a vivência e
compreensão destas primeiras experiências profissionais por meio das
supervisões.

4. DESENVOLVIMENTO

4.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


O posicionamento freudiano será tomado como subsídio teórico/clínico
para refletirmos sobre a condução de nosso trabalho no serviço-escola.

A partir de Freud, a escuta psicanalítica passa a ser uma nova prática


clínica destinada ao tratamento de pacientes histéricas e também daqueles que
são excluídos da sociedade por serem considerados loucos.

O inconsciente é a chave da teoria psicanalítica. O inconsciente, a partir


da teoria de Freud, é tido como base da neurose, e está presente em toda ação
humana. A natureza inconsciente do psiquismo é um dos fatores que
trouxeram para a psicanálise o seu sentido revolucionário, no que diz respeito
ao tratamento da neurose, à compreensão do humano e da base do
pensamento. Tudo o que está armazenado em nosso inconsciente afeta as
nossas vidas. O modo como pensamos, agimos e expressamos opiniões é
resultado de uma memória, crença ou desejo que não está na superfície do
psiquismo. Por isso, podemos entrar em conflito conosco ou com pessoas sem
compreender exatamente a razão. A psicanálise, então, busca as "causas da
infelicidade" das pessoas nos esconderijos do inconsciente.

Na psicanálise freudiana, o ego é a parte do sistema psíquico que lida


diretamente com a realidade. Embora seja visto como um vilão por aí, o ego é
o mediador entre os impulsos do id e as exigências do superego. Ele nos ajuda
a ter um comportamento realista e aceitável de acordo com as demandas da
sociedade. Basicamente, o ego regula o nosso desejo de apenas satisfazer as
nossas necessidades primitivas e alimentar paixões.

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O id armazena os desejos inconscientes, os quais não são totalmente
lógicos e às vezes não seguem as regras estabelecidas pela sociedade. É o
ego que coordena o que o id pode ou não fazer, permitindo ou inibindo a sua
satisfação.

Enfim, o superpego é o aspecto final da personalidade. Contém nossos


valores e ideias bem como as lições aprendidas com os pais e com a
sociedade. É uma espécie de juiz que determina o comportamento de acordo
com esses aspectos morais. Quando muito severo, o superego anula as
escolhas do ego e causa conflito psíquico.

Além da descoberta desses três elementos da personalidade, Freud


desenvolveu técnicas psicanalíticas à medida que tratava seus pacientes.

Uma delas é a associação livre (método em que o terapeuta fala uma


série de palavras e o paciente responde com o que viver à mente para
despertar memórias reprimidas).

Trabalhou também a interpretação dos sonhos. Freud acreditava que os


sonhos eram a “estrada para o inconsciente”.

O estudo da sexualidade da criança (complexo de Édipo), o conceito da


dualidade no psiquismo (o conflito resulta de forças contrárias), e o fenômeno
das resistências foram algumas das contribuições de Freud para formar o
alicerce da psicanálise.

Assim, ao propor a escuta psicanalítica como uma nova forma de


tratamento para o alívio do sofrimento psíquico, Freud causou um impacto
decisivo na prática clínica. Kon (1996) afirma que:

A histeria freudiana põe em risco a noção construída de doença:


instalada no corpo, ela é um efeito da linguagem, demarca e encarna
uma quebra de fé perceptiva, impede-nos de pensar por meio da
cisão corpo/alma. Essa histeria configura um novo corpo, como a
carne de Merleau-Ponty, um corpo operante e atual: um corpo que
não é mais um amontoado de pele, ossos, matéria inerte, nem
tampouco um corpo sede da consciência. Esse corpo histérico não
pode mais ser compreendido como falsidade (falsa doença em um
corpo verídico), como jogo de cena, como farsa; a partir de Freud, ele
é prenhe de sentido e de mistério; pede um novo entendimento e
subverte o conhecimento anterior. Um corpo sensível, que tem na dor
uma fala, uma dor que fala; não mensagem de experiência traumática
anterior, mas fala encarnada e presente.

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De acordo com Plastino (2001), ao afirmar a existência da realidade
psíquica e seu caráter inconsciente, Freud subverte as concepções centrais
elaboradas pelo paradigma da modernidade sobre o homem, o conhecimento e
o ser. Rompe com a psicologia explicativa do século XIX, que era subordinada
ao saber psiquiátrico, e contesta o racionalismo da modernidade, pois o
homem deixa de ser guiado pela razão.

Segundo Freud (1917), a descoberta do inconsciente instala a terceira


ferida narcísica da humanidade. A primeira surge com Copérnico, quando ele
declara que a terra não é o centro do universo. A segunda surge com a teoria
da evolução de Darwin, a qual afirma que o homem descende de espécies
inferiores. Freud deixa claro que o eu não é o senhor da sua morada. O homem
é guiado pelas emoções, pelos desejos inconscientes. Assim, a partir da
psicanálise, a afetividade ganha um lugar privilegiado na vida das pessoas.

A psicanálise se desenvolve em três planos indissociáveis; como método


de investigação dos processos psíquicos (associação livre, escuta flutuante,
transferência etc.); como método de tratamento inventado para e com os
neuróticos (daí o problema do tratamento dos psicóticos trazido por Lacan);
como teoria dos fatos impossíveis de serem colocados em evidência sem esse
método de exploração e de tratamento.

Através da sua experiência clínica e do rigor do seu trabalho teórico,


Freud mostrou a complexidade da psique humana, bem como a singularidade
necessária a cada tratamento psicanalítico. Aprendeu com as seus pacientes
histéricos que a grande chave para a compreensão psíquica se dá a partir da
associação livre, por parte do paciente, e da atenção livremente flutuante por
parte do analista. Ou seja, a psicanálise só é possível na medida em que existe
o psicanalista, que se ocupa da escuta do analisando.

Seguindo a preocupação que consideramos fundamental na recriação


da psicanálise (Birman, 1991,1999) em cada possibilidade de escuta do
sofrimento em seus aspectos singulares e coletivos, abordamos
possibilidades clínicas que interrogam a hegemonia da prática de consultório
individual, reconhecendo tais lugares como instigadores de pesquisa.

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A clínica de orientação psicanalítica em instituições (Escóssia, 2005;
Figueiredo, 2002; Pinheiro, 2001; Vieira, 2003) merece constituir objeto de
estudo na formação do psicólogo, já que apresenta aspectos interessantes
quanto à escuta e a seus efeitos.

Bezerra Jr (1994, p.33) define o espaço da psicanálise afirmando que:

"Não podemos deixar de reconhecer que a clínica na psicanálise é


uma maneira de organizar a escuta para que esta possa ser capaz de
se desviar do evidente, do óbvio aparente, da literalidade para
permitir a surpresa, o paradoxo e o insólito."

Podemos, dessa forma, pensar que a psicanálise constitui um campo de


saber que nos instrumenta com ferramentas teórico-clínicas capazes de romper
com as tentações de impormos modelos assistenciais aos quais tenham os
pacientes que se adequar, participando como influência, base conceitual e um
complexo de ferramentas teóricas e práticas de assistência ao psíquico. Nesse
sentido, as contribuições da psicanálise caminham por várias ênfases,
seguindo, normalmente, demandas que chegam da clínica - do sujeito e do
social - desenvolvendo teorizações conceituais que possibilitem a escuta dos
sintomas que interrogam os analistas e praticantes da clínica.

4.2. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO


O Serviço de Atendimento em Psicologia (SAP) funciona no Prédio “Dr.
Milton Freire”, situado à Rua Marcondes Salgado, nº 410, na esquina com a rua
Maurício de Nassau, Bairro Santana, dentro do campus da Faculdade.

O professor coordenador responsável pelos Serviços de Atendimento


em Psicologia é o Prof. Ederson Ribeiro Costa e todos os supervisores são
graduados em Psicologia, possuindo, pelo menos, pós-graduação latu sensu.

O SAP da FACFEA está em atividade ininterrupta desde o ano de 2006,


integrando a formação dos discentes e oferta de atendimento gratuito à
comunidade e congrega todo o serviço de supervisão dos diversos estágios
que os alunos realizam.

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Os atendimentos clínicos funcionam com hora marcada, e são
destinados a indivíduos, grupos, casais, famílias, adultos, adolescentes e
crianças, de casos constituídos por demandas psicossociais.

Esses atendimentos seguem critérios da triagem, a após a triagem, os


encaminhamentos são destinados, preferencialmente, àqueles que
comprovarem rendimento salarial compatível com a necessidade do
atendimento.

Todo o quadro de colaboradores do SAP, desde estagiários a


coordenadores e supervisores, é composto por membros do curso de
Psicologia da FACFEA.

O serviço funciona em dois turnos, de 08H00 às 14H00h e 16H00m as


22H00, de segunda à sexta-feira. As inscrições devem ser realizadas
presencialmente pelo interessado ou pelo responsável do menor.

Sua organização estrutural física conta com 10 (dez) salas distribuídas


em uma área de 512 m², disponibilizadas da seguinte maneira: sala de espera,
secretaria, 01 (uma) sala de triagem, 01 (uma) sala de plantão, 03 (três) salas
de atendimento psicológico, 01 (uma) sala de atendimento de grupo/ família, 01
(uma) sala de atendimento para adolescente/ família, 01 (uma) laboratório de
serviços de observação em Psicologia, 01 (uma) sala de atendimento infantil/
ludoteca, 01 (uma) sala de estagiários, 01 (um) banheiro público masculino, 01
(um) banheiro público feminino.

4.3. METODOLOGIA
Foi realizado uma revisão bibliográfica por meio das bases de dados
Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia (BVS-Psi), PEPsic, Lilacs eScientific
Electronic Library Online (Scielo), utilizando-se as palavras chave como
psicologia clínica, psicánalise, estágio em psicologia clínica.

4.4. CRONOGRAMA
  ATIVIDADES     /     MESES Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
1 Revisão bibliográfica X        
Preparação de material para
2  X      
a apresentação
3 Discussões sobre as  X  

13
abordagens
4 Apresentação  X  X  
5 Vídeo da Triagem     X     
Análise da triagem
6      X    
apresentada
7 Elaboração do TCE      X    
8 Revisão do texto X

9 Entrega do trabalho X X

4.5. ANÁLISE E COMPREENSÃO DA TRIAGEM REALIZADA

A partir da teoria psicanalítica, entendemos a mente primitiva enquanto


um conceito que se refere à expressão dos estados iniciais do desenvolvimento
do psiquismo humano, ou seja, aos níveis mais precoces da organização
mental e suas manifestações. A aplicação da psicanálise em processos
terapêuticos tem contribuído para a ressignificação dos conflitos existentes na
mente humana nos dias atuais.

A presente análise foi feita a partir da triagem de C., 58 anos, gênero


feminino, viúva, mãe de 4 filhos, 3 netos, professora da rede pública
estadual, realizada no SAP, da Faculdade da Fundação Educacional de
Araçatuba, dia 16 de outubro de 2019, as 17h, pelo aluno Caio Fernando
Souza Nicolau, devido a impossibilidade de realização pelos alunos do oitavo
semestre em virtude da pandemia de covid 19.

Winnicott, em sua teoria sobre o desenvolvimento emocional, leva em


conta a importância da família e do ambiente para que o sujeito possa se
desenvolver de maneira saudável. No relato de C., essa relação se mostra
fragilizada, e ela deixa claro o quanto isso a aflige e afeta, principalmente
quando diz que sente vontade de reatar os laços, mas não sabe se deve fazê-
lo. As questões trazidas por C., muito pode ter a ver com essa questão da
dinâmica familiar.

Winnicott atribuiu ao pai e à família a função de proporcionar à mãe a


segurança necessária à realização da acolhida segura e tranquila do recém-

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nascido. A importância do grupo familiar – notadamente a da função materna –
no desenvolvimento emocional primitivo da criança e, por conseguinte, na
estruturação da personalidade. o grupo familiar exerce uma profunda e decisiva
importância na estruturação do psiquismo da criança, logo, na formação da
personalidade do adulto. O termo “grupo familiar” designa não unicamente a
influência exercida pela mãe, mas também pelo pai, irmãos, os inter-
relacionamentos, bem como, também, pelas demais pessoas que interagem
diretamente com a criança.

Para Winnicott, é fundamental que o pai seja verdadeiramente


importante para a mãe, num sentido dramático e existencial, permitindo o
estabelecimento de uma relação mãe-filho saudável. A partir dessa teoria,
podemos observar que, através do relato de C. ela se sente desamparada pelo
pai e irmã. C. não fala sobre a relação com a mãe, apenas relata que o pai não
a tratava bem, motivo dos irmãos não manterem uma relação com ele. Isso
levanta a hipótese de uma construção do complexo de Édipo, levando em
conta que os sentimentos de culpa, de perseguição e de angústia são
considerados derivados do complexo de Édipo. No entanto, precisaríamos de
mais informações acerca da relação de C. com sua mãe, e até com os demais
irmãos, por isso a necessidade de uma entrevista inicial e anamnese mais
detalhada. A transgeracionalidade é um fator que deve ser levado em
consideração, isto é, cada um dos genitores da criança mantém a
internalização de suas respectivas famílias originais com os correspondentes
valores, estereótipos e conflitos. Há uma forte tendência no sentido de que os
conflitos não resolvidos pelos pais da criança, com os seus respectivos pais
originais, interiorizados, (como, por exemplo, os conflitos edípicos de cada um
deles) sejam reeditados nas pessoas dos filhos.

No entanto, essa sensação de desamparo e vazio é suprida por C.


quando ela alega ser “abençoada” por ter os filhos e netos por perto.

As comorbidades físicas de C. podem ser resultados de sua ansiedade,


e da fuga dessa angústia em alimentos, principalmente doces. A psicanálise
mantém um elo entre o comer e a fase oral, portanto, no caso de C., as
flutuações dinâmicas do comportamento oral alimentar, podem, com certeza,

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ser globalmente percebidas como expressões singulares de defesa contra a
angústia. A consumação solitária e escondida de alimentos gordurosos, doces
e guloseimas, pode ser também interpretada como uma compulsão de
compressão interior de objetos, a fim de evitar que apareça um vazio. A
semiologia do fantasma é aqui extremamente simbólica e variada. Ela coloca
em jogo, na cura, a problemática da incorporação, assegurando, ao conteúdo
alimentar, a ambivalência de um efeito reparador e destruidor, ou ainda,
gratificante e persecutório.

Fica claro que essas comorbidades físicas atrapalham C. no


desempenho do seu trabalho, o que agrava um pouco mais seu quadro de
ansiedade, gerando outras angústias. Sendo assim, a análise dos fenômenos
psicossomáticos deve levar em conta os diversos aspectos que constituem o
indivíduo e o predispõem as doenças orgânicas.

No caso de C., a psicoterapia psicanalítica individual pode oferecer


alternativas bem sucedidas no tratamento desses pacientes, visto que o
psicoterapeuta através do domínio de sua técnica, da escuta qualificada, do
entendimento do discurso do paciente, e em conjunção com a interpretação,
pode proporcionar ao paciente, questionamentos que o levem a compreender o
funcionamento de sua mente e como ela pode interferir no funcionamento do
corpo, seu desenvolvimento narcísico e a sua relação no processo de
adoecimento.

5. CONCLUSÃO

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6. REFERÊNCIAS
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São Paulo: Cortez. 1995
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