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O Estado tem características que são inerentes quanto a esfera de sua atuação.

No caso, o Estado
tem autorização legítima de sua força sobre os habitantes de uma associação delimitada pelo
território. A identidade postulada deve ter, para o Estado, precedência sobre outras identidades
resultantes das diferentes clivagens sociais (indígena e brasileiro p. ex.), dada essa necessidade da
definição das características de povo, nação e cidadania necessárias para o estado, o autor se
debruça em algumas definições para, então, falar dos rituais necessários para a concepção de estado,
de certos sentidos conflitantes entre nação, democracia, e concepções de cidadania política.

Os conceitos têm definições diversas, contraditórias e com alta carga ideológica. As escolhas no texto
são definições do autor para poder trabalhar as ideias no capítulo.

Nação – “Um arco de solidariedades, uma construção discursiva e política que propõe um “nós”
coletivo e historicamente constituído, estabelecido sobre um território que ocupa e demarca, ou que
deseja ocupar e demarcar, e geralmente demanda lealdades superiores às derivadas de outras
identidades e interesses de seus membros.

Povo – Um dos significados é parecido ao de nação. Um outro, menos coletivo, refere-se a indivíduos
que são cidadãos e encontram-se sob a jurisdição do estado. O terceiro, designa um subconjunto da
população como sendo os “verdadeiros” membros do estado.

Cidadania – Usado muitas vezes como equivalente de povo, o que colocaria como equivalente de
estado, outras vezes com significado mais individuais. Tem alta carga ideológica e política, com os
quais o estado tenta estabelecer vínculos com a população. “A identidade nacional é ato de
subscrição a uma comunidade contínua, com um passado e um futuro, um destino compartilhado. As
nações são histórias solidificadas. Histórias que pessoas contam sobre seu passado determinando
quem são. O que ocorreu realmente importa muito menos do que como é relatado. O que se recorda
e o que foi esquecido ou reprimido, fornece o modelo através do qual se entende o mundo.

O estado tem o objetivo de obter reconhecimento como entidade dedicada ao bem comum de sua
nação/povo/cidadania.

Temos dois níveis de identidade coletiva: primeiro, várias identidades coexistindo sob um único
estado. Em um segundo nível, o ancorado no estado que abarca a nacionalidade. (torcer para o Brasil
na copa, ou a colônia brasileira em Miami).

Os discursos nesse caso de identidade vêm da cúpula do estado como uma demarcação de “nós
contra eles” e, também, como repositório de proteção, interpretação e realização do bem comum.
Para tal, os rituais têm uma vantagem pois produzem lações de solidariedade sem exigir uma
uniformidade de crença. Para tal, é importante o papel do idioma, simbolizado pelo princípio de “um
povo, uma nação, um idioma” de 1792 “Fizemos a Itália, agora devemos fazer os italianos”.

“A tarefa da escola inclui não só sentimentos nacionais e patrióticos como também o


estabelecimento da unidade em uma nação dividida pela religião, cultura, pelo idioma e pelas
persistentes divisões sociais de classe e riqueza. Aprender a ler e a escrever trazia consigo a
constante repetição do catecismo cívico nacional, no qual se inculcavam na criança os deveres que se
esperavam dela: desde defender o estado, até pagar impostos, trabalhar e obedecer às leis.”

Os estados criaram as línguas nacionais. Ao cria-las, criaram-se formas culturais de afirmação


nacional.

“O discurso do nacionalismo é sobre o poder e a dominação. Ele legitima e produz hierarquias entre
os atores. Autoriza formulações particulares da nação contra outras e, desse modo, dissimula as
fraturas, divisões e diferenças de opinião dentro da nação. Isso envolve um esforço para reduzir a
importância das diferenças objetivas dentro do grupo, enquanto se enfatiza sua singularidade em
relação a pessoas externas a ele.”

O sucesso deste processo gera, para o Estado, uma grande reserva de poder político e energia. Como
um dos instrumentos principais dessa consolidação temos a nacionalidade e a cidadania.

A cidadania tem dois aspectos: uma delas é a cidadania do regime democrático, com direitos
universalistas outorgados aos indivíduos para eleger, serem eleitos e participar de atividades políticas
outro aspecto é o resultado da nacionalidade, obtido seja por jus solis ou jus sanguinis. A cidadania,
antes, era um status de superioridade de uma classe distinta de indivíduos. Cidadania, hoje,
representa mais que esse pertencimento a uma democracia, mas também o pertencimento de um
indivíduo a um estado em particular. O Estado não é uma associação voluntária, sendo a cidadania
um status atribuído. Por tal razão, os discursos de nação que invocam cidadania soam mais concretos
que os outros.

Outro aspecto importante foi como essa intersecção entre nação/povo/cidadania impulsionou os
países que o adotaram a arena internacional, reforçando a tendência de se apresentarem como uma
única voz válida.

“A ideia do povo como os plebeus – a massa de humildes cidadãos comuns em contraposição às


elites de classe média e alta que está sempre disponível a responder às convocatórias populistas
contra as vantagens dos ricos e poderosos”

Este discurso sugere a existência de um “povo verdadeiro” composto pelos menos privilegiados ou
oprimidos e que biscam autonomia em relação aos povos/nações que se encontram inseridos.

Essas demandas evidenciam clivagens que os discursos da nação tendem a apagar, pois podem
colocar em dúvida a sua credibilidade como agente do bem comum, uma de suas dimensões.

“Os atores políticos aprenderam que a exclusão de um grupo unificaria e conectaria um grupo de
apoio suficiente para preservar o estado e fazer com que fosse governável. Fizeram isso adulando,
exacerbando ou manipulando alguma forma de preconceito cultural contra um “grupo externo” cuja
exclusão unificaria um grupo central. Então, estratégia e o preconceito confluíram em uma unidade
exclusiva, realizada de forma a vincular as autoridades estatais ao povo”.

Cap 5

A Ideia básica de rule of law (que é similar, mas não idêntica a expressão Estado de Direito) veio da
noção aristotélica de que entidades políticas devem ser governadas por leis e não por homens. O
sistema legal é um ordenamento hierárquico que tenta, mas nunca consegue de forma plena, decidir
que as relações entre regras legais são determinadas legalmente e que os governantes devem se
sujeitar a essas regras como todos os demais e não à vontade de um determinado ator que possa
cancelar ou suspender as regras que regem seu desempenho.

“As leis devem ser prospectivas, públicas e claras. As leis devem ser relativamente estáveis. A
confecção de leis específicas deve orientar-se por regras gerais públicas, estáveis e claras; A
independência do poder judiciário deve estar garantida. Deve observar-se os princípios da justiça
natural (ou seja, audiências judiciais abertas e equitativas e ausência de vieses nos processos); os
tribunais devem ter poderes de revisão para assegurar conformidade com o estado de direito. Os
tribunais devem ser facilmente acessíveis. Não se deve permitir que o critério das instituições da
prevenção de delito perverta a lei.

A democracia deve ser concebida como um governo com base legal de um estado que abriga um
regime democrático.

“O estado de direito é um ideal político do qual um sistema legal pode carecer ou ter em maior ou
menor grau”. Nenhum país atingiu este ideal para o autor.

“Os direitos de juízes, de membros do legislativo e outros funcionários públicos estão justificados
pelas responsabilidades do cargo. A justificação destes direitos depende de que, ao se4rvir aos
interesses dos funcionários, protegem e promovem os interesses da comunidade como um todo;
promovem e protegem os bens comuns.”

“A legislação é uma maneira de estabelecer regras comuns sobre questões que poderiam ser para
sempre indeterminadas como ocorre entre pensadores autônomos de assuntos morais.”

“A indeterminação relativa da lei... o caráter dialético ou argumentativo dos procedimentos legais é


uma característica de um quadro constitucional no qual os cidadãos estão capacitados a desafiar as
acusações de fato através das afirmações de direito onde as agências governamentais ameaçam
intervir pela força em sua privacidade. Uma parte vital da garantia de liberdade é que cada pessoa se
outorgue a oportunidade de enfrentar um desafio como esse sobre termos justos e com assistência
legal adequada. No entanto, a mesma concepção do Estado de direito exige uma lei relativamente
clara e determinada na forma de regras pré-anunciadas. As lutas resultantes não são patológicas. São
a essência de uma ordem legal que funciona de acordo com o ideal do estado de direito,
consequentemente, a certeza da lei é, portanto, uma certeza que pode ser derrotada.”

A efetividade de um sistema legal é função de seu entrelaçamento com o aparato do Estado. A lei
promulga e apoia uma série de direitos comum a todos e é uma dimensão de potencial igualdade.
Igualdade esse importante para prosperar a noção de cidadania.

“nenhum estado, por mais liberal ou democrático que seja, trata todos os cidadãos da mesma
maneira perante a lei. A lei pode ser altamente previsível para os estratos privilegiados enquanto
permanece exasperadamente errática para os menos endinheirados”.

Junto a essas inúmeras regras, temos a forma e as consequências da lei emitidas pelas burocracias
estatais. Essas burocracias são aspectos importantes da vida social e política

“A lei consagra a ordem estabelecida ao legitimar a visão dessa ordem sustentada pelo estado.
Concede a seus atores uma identidade segura, um status, e acima de tudo, um corpo de poderes (ou
competências) que são reconhecidos socialmente e, portanto, são produtivos. A lei é a forma por
excelência do poder simbólico de denominação que cria as coisas denominadas. Outorga a realidade
que surge de suas operações classificatórias a permanência máxima que qualquer entidade social
tem: o poder de outorgar a permanência que atribuímos aos objetos.”

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