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AULA 5 Frustração do fundamento inicial: acabou se transformando em teoria legitimadora de

qualquer criação típica.


“Tripé” do Direito Penal
Não existe um critério para controlar a fúria do legislador, servindo tal princípio somente
Teoria do Crime: Teoria do crime é uma matéria estudada na Parte Geral do Direito Penal e como orientação de caráter político-criminal.
abrange diversos conceitos, dentre eles, o próprio conceito de crime Crime, de acordo com a
maior parte da doutrina penalista, consiste na realização de um fato típico, ilícito e culpável, Não se pode interferir na decisão política do legislador na criação de figuras típicas.
à qual a lei irá atribuir uma pena. Günther Jakobs
Em outras palavras, para uma determinada conduta ser considerada crime, deverá estar Teoria funcional-sistêmica de Jakobs Nega importância a teoria do bem jurídico, pois que,
prevista em lei como tal (tipicidade), deverá ser juridicamente proibida (antijuridicidade) e para ele, quando o Direito Penal é aplicado, é sinal que o bem jurídico já foi objeto de ataque,
deverá ser passível de reprovação (culpabilidade). e que não pode ser protegido eficazmente.
Teoria da Pena: é a consequência natural imposta pelo Estado quando alguém pratica uma O funcionalismo sistêmico tem como maior doutrinador Günther Jakobs A construção desta
infração penal, abrindo a possibilidade para o Estado fazer valer o ius puniendi. teoria tem direta (ainda que limitada) vinculação à noção de sistemas sociais, de Niklas
Princípios Luhmann, a partir da qual formula a concepção de que o Direito Penal é um “sistema
autopoiético” Com efeito, para Jakobs, o Direito Penal está determinado pela função que
Princípios – ideia de origem. cumpre no sistema social, e inclusive o próprio Direito Penal é um sistema autônomo,
Princípios gerais do Direito – Gerais – ideia de distinção entre gênero e espécie Direito autorreferente e autopoiético, dentro do sistema mais amplo da sociedade Tem suas regras
próprias e a elas se submete.
– caráter jurídico.
Sob esta ótica, a conduta será considerada como comportamento humano voluntário
Princípios Gerais do Direito causador de um resultado evitável, violador do sistema, frustrando as expectativas
normativas.
Os princípios poderão estar explícitos ou implícitos na Constituição Federal Os explícitos são
os que estão escritos, expressos em lei; os implícitos, ainda que não expressos, figuram Para Jakobs, o bem juridicamente protegido, se é que se pode continuar chamando assim, é
subentendidos no ordenamento jurídico. a VIGÊNCIA DA NORMA Quando o sujeito pratica um delito, demonstra sua INFIDELIDADE
ao ordenamento jurídico, e a pena deve ser imposta somente por isso Trabalha somente com
Princípio da Intervenção Mínima o conceito de PREVENÇÃO GERAL POSITIVA ou INTEGRADORA.
O princípio da intervenção mínima consiste em que o Estado de direito utilize a lei penal como Zonas de Consenso X Zonas de Conflito
seu último recurso (ultima ratio), havendo extrema necessidade, para as resoluções quando
são afetados os bens jurídicos mais importantes em questão É uma forma de disciplinar a
conduta do indivíduo, no Direito brasileiro, pois se pune a conduta, e não o indivíduo Início a
partir do Século XVIII – período iluminista.
Desenvolvida por Feuerbach em 1801 (Tratado de DP Alemão) que dizia que “delito era a
lesão de um DIREITO SUBJETIVO alheio” Assim, a proteção de um DIREITO SUBJETIVO foi o
conceito embrionário de bem jurídico. Função da Intervenção Mínima
O princípio da intervenção minima serve de orientação política criminal para que o legislador
BIRNBAUN – foi quem cunhou pela primeira vez a expressão BEM JURÍDICO, em 1834,
crie ou revogue conteúdo jurídico.
dizendo que o delito não lesiona DIREITOS SUBJETIVOS, mas somente BENS.
O Direito Penal só deve preocupar-se com os bens mais importantes e necessários à vida em
A teoria do bem jurídico tem como precursor Johann Michael Franz Birnbaum, que teria sido
sociedade.
o primeiro a trabalhar a noção de conjunto de valores, quando publicou, em 1834, seu famoso
estudo sobre a tutela da honra em – Über das Erfordernis eines Rechtsverletzung zum Begriff Conforme leciona Muñoz Conde: O poder punitivo do Estado deve estar regido e limitado pelo
des Verbrechens, Archiv des Criminalrechts, trazendo a ideia do que seriam os bens jurídicos, princípio da intervenção mínima. Com isto, quero dizer que o Direito Penal somente deve
valores de conteúdo liberal, que fosse capaz de dar conteúdo, a punibilidade das condutas intervir nos casos de ataques muito graves aos bens jurídicos mais importantes. As perturbações
que os ofendessem. mais leves do ordenamento jurídico são objeto de outros ramos do direito.
A teoria dos direitos subjetivos, na concepção de Feuerbach, “o Estado só poderia intervir Desta feita, podemos entender que de acordo com o princípio da intervenção mínima o
penalmente em face do delito que lesionasse algum direito do cidadão Assim, a lesão aos Direito Penal deve intervir o menos possível na vida em sociedade, somente entrando em
direitos subjetivos dos membros da sociedade burguesa era tida como o núcleo do delito Sem ação quando, comprovadamente, os demais ramos do Direito não forem capazes de proteger
a lesão a direito subjetivo não haveria crime a ser punido”. aqueles bens considerados de maior importância.
Fundamento inicial: limitar o ius puniendi do Estado. O Direito Penal é de natureza subsidiária. Ou seja: somente se podem punir as lesões de bens
jurídicos e as contravenções contra fins de assistência social, se tal for indispensável para a
vida em comum ordenada. Onde bastem os meios do Direito Civil ou do Direito Público, o outro sem obedecer aos procedimentos judiciais normais de extradição), as prisões secretas
Direito Penal deve retirar-se. da CIA, etc.
Potencial Espelho Da Constituição
Luigi Ferrajoli
Direito Penal como Instrumento de tutela dos Direitos Fundamentais.
Atuou como juiz entre 1967 e 1975, período em que esteve ligado ao grupo “Magistratura
Direito Penal como potencial espelho da Constituição – somente poderiam ser protegidos democrática”, uma associação de juízes de orientação progressista. A partir de 1970, foi
os bens que tivessem abrigo constitucional A Constituição seria um limite positivo do Direito professor de Filosofia do Direito e Teoria Geral do Direito na Universidade de Camerino,
Penal. onde também foi diretor da “Facoltà di giurisprudenza” (Faculdade de Direito). Desde 2003,
Por essa corrente, ficariam de fora muitos bens importantes que não foram objetivo de leciona na Universidade de Roma Tre.
previsão constitucional, até mesmo pelo seu destaque posterior à edição da Lei Maior. Publicou diversas obras, com especial atenção ao juspositivismo jurídico, sendo a principal
Direito Penal como instrumento de tutela dos Direitos Fundamentais – somente permite delas “Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal”.
a criação típica de bens constitucionalmente previstos no rol dos direitos fundamentais
Todos os outros, mesmo que com previsão constitucional, estariam fora da proteção do Garantismo Penal
Direito Penal. Garantismo nada mais é do que uma visão do Direito Constitucional aplicada no Direito Penal
e no Direito Processual Penal. É uma expressão cunhada pelo jurista italiano Luigi Ferrajoli.
Para muitos, o Garantismo serviria apenas para beneficiar o réu, forma de proteção de seus
direitos fundamentais e individuais.
Desse modo, surge o chamado Garantismo hiperbólico monocular. É hiperbólico porque é
aplicado de uma forma ampliada, desproporcional e é monocular porque só enxerga os
direitos fundamentais do réu (só um lado do processo). Contrapõe-se ao Garantismo penal
integral, que visa resguardar os direitos fundamentais não só dos réus, mas também das
vítimas.
Garantismo é uma teoria jusfilosófica, cunhada por Luigi Ferrajoli no fim do século XX, mas
AULA 6 com raízes no Iluminismo do século XVIII, que pode ser entendido de três formas distintas,
mas correlacionadas: como um modelo normativo de Direito, como uma teoria crítica do
Princípios Penais: Princípio da Lesividade. Princípio da Adequação Social
Direito, e como uma filosofia política.
Guerra ao Terror ou Guerra ao Terrorismo é uma campanha militar desencadeada pelos No primeiro sentido, é um sistema de vínculos impostos ao poder estatal em garantia dos
Estados Unidos, em resposta aos ataques de 11 de setembro. O então Presidente dos Estados direitos dos cidadãos, sendo possível falar-se em níveis de efetividade do Garantismo
Unidos, George W. Bush, declarou a “Guerra ao Terror” como parte de sua estratégia global normatizado na Constituição de um determinado Estado nas práticas judiciárias desse
de combate ao terrorismo. Estado. Na segunda forma, é uma teoria jurídica da validade e da efetividade do Direito,
Inicialmente, com forte apelo religioso neoconservador, George Bush chegou a declarar uma fundando-se na diferença entre normatividade e realidade, isto é, entre Direito válido (dever
“Cruzada contra o Terror” e contra o “Eixo do Mal”, no que ficou conhecido como Doutrina ser do Direito) e Direito efetivo (ser do Direito), ambos vigentes. Neste segundo significado,
Bush. Isso gerou forte reação entre os aliados europeus, que acabaram exigindo maior permite a identificação das antinomias do Direito, visando à sua crítica. Por último,
moderação no uso de conceitos histórico-religiosos na retórica antiterror. Assim que Bush fez Garantismo é uma filosofia política que impõe o dever de justificação ético-política (dita,
seu discurso sobre as ‘cruzadas’ – algo que carrega um tremendo significado para muçulmanos também, externa) ao Estado e ao Direito, não bastando a justificação jurídica (também
e cristãos – , poucos dias depois do 11 de setembro, soube-se que o atentado seria tratado como chamada de interna). Neste último sentido, pressupõe a distinção entre Direito e moral, entre
um ato de guerra, com o que o governo assumiria poderes muito maiores do que tinha para validade e justiça, tão cara ao Positivismo, e a prevalência desta última, a justificação externa.
perseguir e deter pessoas no estrangeiro, assim como para promover a espionagem doméstica, No Brasil, existe uma ênfase muito grande na aplicação penal e processual penal da teoria,
tudo como se fosse uma guerra, relata o advogado de direitos constitucionais Michael Ratner, agindo de modo reducionista para a consolidação da teoria nos outros ramos do Direito.
do Center for Constitutional Rights.
A Guerra ao Terror significou um esforço de mobilização em diferentes planos: ideológico, Princípio da Adequação Social
político-diplomático, econômico, militar, de inteligência e contrainteligência. Hans Welzel
Como parte das operações militares da “Guerra do Terror”, os Estados Unidos invadiram e Sugestão de Livro: Direito e Razão.
ocuparam países como o Afeganistão e o Iraque.
Hans Welzel iniciou e concluiu os seus estudos na Universidade de Jena, entre 1923 e 1927,
Desde o início da Guerra ao Terror, a Anistia Internacional registrou e denunciou centenas de tendo uma breve passagem pela Universidade de Heidelberg durante tal período. Obteve o
casos graves de violações dos direitos humanos, incluindo as torturas na prisão de título de Doutor aos 24 anos, em 1928, com a tese Die Naturrechtslehre Samuel Pufendorfs
Guantánamo, as extraordinary renditions (transferências de prisioneiros de um país para (A doutrina do direito natural de Samuel Puffendorf). Em 1930 muda-se para Colônia para
elaborar o seu trabalho de habilitação (Naturalismus und Wertphilosophie im Strafrecht – Tendo como norte o princípio da adequação social, o legislador deverá distinguir quais as
Naturalismo e filosofia dos valores no Direito Penal), sob a orientação de Gotthold Bohne. Um condutas consideradas socialmente adequadas daquelas que estão a merecer a reprimenda
ano depois, em 1936, foi nomeado professor interino na Universidade de Göttingen, sendo do Direito Penal.
promovido para professor extraordinário no ano seguinte, onde lecionou Direito Penal,
Direito Processual Penal, Direito Processual Civil E Filosofia Do Direito. Protestos em Faculdades Públicas
Em 1939, publicou Studien zum System des Strafrechts (Estudos Sobre o Sistema Penal),
mostrando a silhueta de um sistema penal baseado na teoria finalista da ação.
Posteriormente, em 1940, com uma produção considerável para a sua jovem idade, foi
promovido ao cargo de professor ordinário da Universidade de Göttingen, onde teve contato
com dois de seus futuros discípulos, Günter Stratenwerth e Armin Kaufmann. No mesmo ano,
publicou o famoso Manual de Direito Penal Der Allgemeine Teil des deutschen Strafrechts in
seinen Grundzügen (A parte geral do Direito Penal alemão em seus fundamentos), tendo
como base os seus trabalhos anteriores.
Em 1940, com uma produção significativa para sua idade, foi nomeado professor. Mudou-se Princípio da Lesividade
para a Universidade de Bonn em 1951, sucedendo Alexander Graf zu Dohna na cátedra de
Direito Penal. Lá ensinou Direito Penal e Filosofia do Direito e se tornou o primeiro diretor Proibição de punição de pensamentos.
do Instituto de Filosofia do Direito daquela universidade. Fundamentos Tolerância.
Fundamento Inicial – Afastar a tipicidade dos comportamentos adequados socialmente. Incriminação de Condutas que Atinjam Bens de Terceiros.
Momento posterior – Welzel modificou sua posição, afirmando que se tratava de uma CAUSA
É um princípio do Direito Penal, que diz que só são passíveis de punição por parte do Estado
DE JUSTIFICAÇÃO DE CARÁTER CONSUETUDINÁRIO.
as condutas que lesionem ou coloquem em perigo um bem jurídico penalmente tutelado.
Volta à posição original – Mais tarde, Welzel retoma sua posição original, afirmando que a
adequação social eliminava a TIPICIDADE. A noção contemporânea de ofensividade em Direito Penal, elaborada, sobretudo, pela
doutrina italiana e acompanhada por autores de Portugal e do Brasil, implica dois níveis
Para Welzel, toda ação humana, livre e consciente tem uma finalidade que se encerra na
distintos de valoração. No primeiro nível, avalia-se a existência de um bem jurídico-penal
vontade da ação. É dirigida por uma vontade. Dado que o objeto de interesse do Direito Penal,
como objeto de proteção da norma. Por seu turno, no segundo nível, verificar-se-á a existência
segundo Welzel, é justamente a finalidade e intencionalidade da ação humana ou o
de ofensividade, na forma resultado jurídico da relação entre a conduta prevista no tipo penal
comportamento humano que pode ser dirigido pela vontade de ação, o exame acerca do
e o objeto protegido pela norma.
problema do livre-arbítrio é necessário, tendo em vista ser ele o ponto de partida e o
fundamento da culpabilidade – e, portanto, da imputabilidade e da responsabilidade jurídica. Apesar de por vezes ser denominado de “princípio da lesividade” nos países hispanofalantes,
Há, portanto, estreita relação entre culpabilidade, livre-arbítrio, responsabilidade jurídica e tal entendimento não deve ser seguido, uma vez que para fins penais a ofensa não abarca
a legitimidade do direito de punir, no pensamento de Hans Welzel, assim como há uma somente a lesão a um bem jurídico, mas também as formas de perigo (probabilidade de
estreita relação entre o direito e a moral na doutrina deste jusfilósofo, de modo que o Direito lesão), seja ele concreto ou abstrato. Houve autores que defenderam que os crimes de perigo
deve proteger e assegurar os valores ético – sociais mais importantes para a sociedade. abstrato seriam inconstitucionais, mas tal entendimento foi objeto de críticas e
majoritariamente rejeitado.
Funções
Art. 14 – Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
O princípio da adequação social possui dupla função. A primeira função é a de restringir o
âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo as Crime consumado (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. A segunda função se I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
dirige ao legislador em duas vertentes: 1) Orienta o legislador quando da seleção das (Incluído pela Lei nº
condutas que deseja proibir ou impor, com o fim de proteger os bens considerados mais 7.209, de 11.7.1984)
importantes. Se a conduta que o legislador pretende tipificar for considerada socialmente
Tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
adequada, não poderá ele reprimi-la por meio do Direito Penal. 2) Destina-se a fazer com que
o legislador repense os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a proteção sobre II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias
aqueles bens cujas condutas já se adaptaram perfeitamente à evolução da sociedade. alheias à vontade do agente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
O princípio da adequação social, nesta última função, bem como o princípio da intervenção Pena de tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
mínima, destina-se ao legislador, para orientá-lo na escolha de condutas a serem proibidas Parágrafo único – Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
ou impostas e na revogação de tipos penais. correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. (Incluído pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
AULA 7 No caso em exame, faltaria a chamada tipicidade material, excluindo-se, dessa forma, a
tipicidade conglobante e, por conseguinte, a tipicidade penal Atipicidade penal seria a
Princípio da Insignificância
resultante, portanto, da conjugação da tipicidade formal com a tipicidade conglobante
Exclusão de ilicitude (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (antinormatividade + atividades não fomentadas + tipicidade material) Elaborando um
Art. 23 – Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de raciocínio lógico, chegaríamos à seguinte conclusão: se não há tipicidade material, não há
11.7.1984) tipicidade conglobante; consequentemente, se não há tipicidade penal, não haverá fato típico;
e, como consequência lógica, se não há o fato típico, não haverá crime Alguns poderão dizer
I – em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) que é muito subjetivo o critério para que se possa concluir se o bem atacado é insignificante
II – em legítima defesa;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) ou não E realmente o é Teremos, outrossim, de lidar ainda com o conceito de razoabilidade
para podermos chegar à conclusão de que aquele bem não mereceu a proteção do Direito
III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
Penal, posto que inexpressivo
direito.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
A tipicidade penal, necessária à caracterização do fato típico, biparte-se em: a) formal; e b)
conglobante.
Tipicidade formal é a adequação perfeita da conduta do agente ao modelo abstrato (tipo) Fundamentos
previsto na lei penal No caso em exame, haveria a chamada tipicidade formal, uma vez que o Político-criminal (trabalha com o princípio da proporcionalidade, entendendo que a
legislador fez previsão expressa para o delito de lesão corporal de natureza culposa cometido aplicação da pena, em determinados casos de insignificância, seria desproporcional ao fato
na direção de veículo automotor Contudo, será que poderíamos falar em tipicidade praticado pelo agente)
conglobante?
Político-processual (fundamenta a insignificância na sobrecarga da Justiça Penal, que não
Para que se possa concluir pela tipicidade conglobante, é preciso verificar dois aspectos deve se importar com fatos irrisórios – Trabalha com o PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE,
permitindo ao MP fundamentar o arquivamento do IP em virtude de sua inutilidade)
fundamentais: a) se a conduta do agente é antinormativa; b) se o fato é materialmente típico
NAS DUAS FUNDAMENTAÇÕES, PARTE-SE DO PRESSUPOSTO DE QUE O FATO É TÍPICO,
O estudo do princípio da insignificância reside nesta segunda vertente da tipicidade
ILÍCITO E CULPÁVEL, DAÍ CHAMAR-SE CRIME DE BAGATELA Requisitos Exigidos pelo STF
conglobante, ou seja, na chamada tipicidade material
a) a mínima ofensividade da conduta do agente;
Além da necessidade de existir um modelo abstrato que preveja com perfeição a conduta
praticada pelo agente, é preciso que, para que ocorra essa adequação, isto é, para que a b) a nenhuma periculosidade social da ação;
conduta do agente se amolde com perfeição ao tipo penal, seja levada em consideração a c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
relevância do bem que está sendo objeto de proteção
d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada
Quando o legislador penal chamou a si a responsabilidade de tutelar determinados bens – por
exemplo, a integridade corporal e o patrimônio –, não quis abarcar toda e qualquer lesão Princípio da Insignificância e Consumo de Drogas – STJ
corporal sofrida pela vítima ou mesmo todo e qualquer tipo de patrimônio, não importando Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos de tráfico de drogas e uso de substância
o seu valor entorpecente por se tratarem de crimes de perigo abstrato ou presumido

No caso em estudo, quando o legislador, querendo evitar que as pessoas culposamente


causassem lesões umas nas outras, criou o delito de lesões corporais de natureza culposa, AULA 8
atento ao princípio da intervenção mínima, não quis se referir a toda e qualquer lesão, pois,
como bem frisou Maurício Antônio Ribeiro Lopes ao realizar o trabalho de redação do tipo Princípio da Individualização da Pena
penal, o legislador apenas tem em mente os prejuízos relevantes que o comportamento XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras,
incriminado possa causar à ordem jurídica e social.
as seguintes: a – privação ou restrição da liberdade; b– perda de bens; c–
O bem juridicamente protegido pelo Direito Penal deve, portanto, ser relevante, ficando
afastados aqueles considerados inexpressivos multa; d– prestação social alternativa; e– suspensão ou interdição de
Para que possamos responder à última pergunta do exemplo citado, ou seja, se haveria direitos;
tipicidade material, integrante do conceito de tipicidade conglobante, no fato de o agente ter
causado uma lesão culposa de apenas dois centímetros na perna de um transeunte, devemos
formular outra: será que o legislador, quando fez editar o tipo do Art 303 do Código de
Trânsito Brasileiro, pensou em abranger lesões como aquelas mencionadas no exemplo?
A resposta só pode ser negativa
Ou seja, é o meio do Estado exercer a jurisdição, subsumindo uma conduta abstrata a um caso
real, aplicando o preceito secundário da norma à um ato considerado ilícito
A pena é um fim em si mesma
São categoricamente necessárias: ainda que uma sociedade se dissolvesse por consenso de
todos os seus membros (v. g., se o povo que habitasse uma ilha decidisse separar-se e dispersar-
se pelo mundo), então, o último assassino deveria ser executado.
Hegel – se o crime é a negação do direito, a pena é a negação da negação ao direito.
A teoria absoluta não está em conformidade com o princípio da legalidade, por tratar a pena
como um fim em si e, dessa forma, não se preocupar com o ser humano e sua dignidade Como
se extrai das lições de Cláudio Brandão:
Interpretando o texto constitucional, podemos concluir que o primeiro momento da chamada Todavia, o Direito Penal fundamentado no Princípio da Legalidade põe como figura central
individualização da pena ocorre com a seleção feita pelo legislador, quando escolhe para fazer de seu sistema a pessoa humana, protegida pelo referenciado Princípio Isso posto, o mal da
parte do pequeno âmbito de abrangência do Direito Penal aquelas condutas, positivas ou pena deve transcender a ela e visar à valorização do homem, que é dito como destinatário do
negativas, que atacam nossos bens mais importantes Direito Penal e valorizado em sua dignidade humana
Uma vez feita essa seleção, o legislador valora as condutas, cominando-lhes penas que variam Em suma, a teoria da retribuição visa castigar o delinquente, como forma de retribuição do
de acordo com a importância do bem a ser tutelado mal causado pelo injusto A pena, segundo esta teoria é um fim em si, e não carece de uma
A proteção à vida, por exemplo, deve ser feita com uma ameaça de pena mais severa do que visão futurística acerca da ressocialização do criminoso Cabe ainda aqui destacar que um
aquela prevista para resguardar o patrimônio; um delito praticado a título de dolo terá sua ponto positivo da teoria retributiva é a sua proporcionalidade, o que não ocorria na época da
pena maior do que aquele praticado culposamente; um crime consumado deve ser punido vingança privada
mais rigorosamente do que o tentado etc
Princípio da Limitação das Penas
A esta fase seletiva, realizada pelos tipos penais no plano abstrato, chamamos de cominação
É a fase na qual cabe ao legislador, de acordo com um critério político, valorar os bens que CF, art. 5º, XLVII – não haverá penas:
estão sendo objeto de proteção pelo Direito Penal, individualizando as penas de cada infração a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos
penal de acordo com a sua importância e gravidade
do art. 84, XIX;
Uma vez em vigor a lei penal, proibindo ou impondo condutas sob a ameaça de sanção, que
b) de caráter perpétuo;
varia de acordo com a relevância do bem, se o agente, ainda assim insistir em cometer a
infração penal, deverá por ela responder c) de trabalhos forçados;
Se o agente optou por matar em vez de ferir, a ele será aplicada a pena correspondente ao d) de banimento;
crime de homicídio Tendo o julgador chegado à conclusão de que o fato praticado é típico, e) cruéis.
ilícito e culpável, dirá qual a infração penal praticada pelo agente e começará, agora, a
individualizar a pena a ele correspondente Inicialmente, fixará a pena – -base de acordo com Como se percebe, a proibição de tais penas atende a um dos fundamentos de nosso Estado
o critério trifásico determinado pelo Art 68 do Código Penal, atendendo às chamadas Democrático de Direito, previsto no inciso III do Art 1º da Constituição Federal, que é a
circunstâncias judiciais; em seguida, levará em consideração as circunstâncias atenuantes e dignidade da pessoa humana
agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento de pena Na verdade, a partir do século XVIII, também conhecido como Século das Luzes, é que foram
Esta é a fase da chamada aplicação da pena, a qual compete, como deixamos antever, ao iniciadas as maiores transformações no que diz respeito à qualidade das penas No final do
julgador, ou seja, ao aplicador da lei A individualização sai do plano abstrato (cominação/ século XVIII e início do século XIX, começa a haver uma modificação da postura adotada, em
legislador) e passa para o plano concreto (aplicação/julgador) que o corpo do condenado é que tinha que sofrer pelo mal por ele produzido Os suplícios que,
na definição de Foucault , eram a arte de reter a vida no sofrimento, subdividindo-a em “mil
Penas Proporcionais mortes”, foram sendo gradualmente abolidos O espetáculo do horror, as cenas chocantes do
Kant – Teoria retributiva (absoluta) patíbulo estavam sendo deixadas de lado
A doutrina, para conceituar a finalidade da pena, utiliza três grandes grupos de teorias, a Pena de Morte
teoria absoluta, a teoria relativa, e a teoria mista, sendo que cada qual com seu grau de Começava, portanto, a transição das penas aflitivas, corporais, para a pena privativa de
punição liberdade Mesmo tratando-se de penas privativas de liberdade, o princípio da dignidade da
A pena, na verdade, é oriunda da realização de uma conduta ilícita, antijurídica e culpável, pessoa humana, que deve orientar toda a atividade legislativa do Estado, não poderá deixar
destinada a todo aquele que desrespeitou a legislação penal, sendo assim, uma forma do de ser observado
Estado efetivamente aplicar a norma ao caso concreto
Muito se tem discutido ultimamente quanto à possibilidade de serem implementadas no O § 2º do Art 5º da Convenção Americana de Direitos Humanos estabelece que ninguém deve
Brasil as penas de morte e de caráter perpétuo ser submetido a torturas nem a penas ou tratamento cruéis, desumanos ou
Parte da população, revoltada com o aumento da criminalidade, entende que tais penas degradantesPrincípio da Responsabilidade Pessoal
seriam ideais para tentar inibir a prática de infrações penais graves Independentemente da Art. 5º, inciso XLV da CF
discussão que se possa travar a respeito desse assunto, cabe-nos, nesta oportunidade, Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
mencionar apenas sobre a sua viabilidade ou não, considerando-se os termos do inciso XLVII decretação do perdimento e bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra
do Art 5º, que as proíbe expressamente, salvo nos casos por ela própria excepcionados De eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido
acordo com o Art 60, § 4º, IV, da Constituição Federal, não será objeto de deliberação a
proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais Em virtude do princípio da responsabilidade pessoal, também conhecido como princípio da
pessoalidade ou da intranscendência da pena, somente o condenado é que terá de se
Ora, as vedações das penas de morte e de caráter perpétuo se encontram no Capítulo I do
submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado Já se foi o tempo em que não só o autor
Título II da Constituição da República, que diz respeito aos direitos e às garantias
do fato respondia pelo delito cometido, como também pessoas ligadas ao seu grupo familiar
fundamentais Assim, não poderia, em caso de reforma da Constituição Federal, sequer ser
ou social
objeto de deliberação a proposta
de emenda que tivesse a finalidade de trazê-las para o nosso ordenamento jurídico-penal Quer o princípio constitucional dizer que, quando a responsabilidade do condenado é penal,
somente ele, e mais ninguém, poderá responder pela infração praticada Qualquer que seja a
Trabalho Forçado
natureza da penalidade aplicada
Devemos interpretar com cuidado a limitação constitucional referente à pena de trabalhos
forçados A Lei de Execução Penal, em várias passagens, menciona a obrigatoriedade do Havendo o falecimento do condenado, por exemplo, a pena que lhe foi infligida, mesmo que
trabalho do preso, como o Art 39, inciso V, que diz ser dever do condenado a execução do de natureza pecuniária, não poderá ser estendida a ninguém, tendo em vista o seu caráter
trabalho, das tarefas e das ordens recebidas, ou mesmo o Art 114, inciso I, que somente personalíssimo, quer dizer, somente o autor do delito é que pode submeter-se às sanções
possibilita o ingresso no regime aberto ao condenado que estiver trabalhando ou comprovar penais a ele aplicadas Todavia, se estivermos diante de uma responsabilidade não penal,
a possibilidade de fazê-lo como, por exemplo, a obrigação de reparar o dano, nada impede que, no caso de morte do
condenado e tendo havido a transferência de seus bens aos seus sucessores, estes respondam
O que a Constituição Federal quis proibir, na verdade, foi aquele trabalho que humilha o até as forças da herança
condenado pelas condições como é executado Não poderá qualquer autoridade responsável
pela execução penal determinar o espancamento dos condenados para forçá-los ao trabalho,
ou mesmo suspender sua alimentação, visando, assim, a compeli-los a cumprir aquilo que AULA 9
lhes cabia fazer
Princípio da Culpabilidade
Banimento Culpabilidade diz respeito ao juízo de censura, ao juízo de reprovabilidade que se faz sobre a
O banimento era uma medida de política criminal que consistia na expulsão do território conduta típica e ilícita praticada pelo agente Reprovável ou censurável é aquela conduta
nacional de quem atentasse contra a ordem política interna ou a forma de governo levada a efeito pelo agente que, nas condições em que se encontrava, podia agir de outro
estabelecida Orlando Soares disserta que as formas e condições de banimento são reguladas modo Na precisa lição de Miguel Reale Júnior, reprova-se o agente por ter optado de tal modo
de acordo com as legislações, que o adotam, podendo constituir-se em exílio, desterro e degredo. que, sendo-lhe possível atuar em conformidade com o direito, haja preferido agir
O banimento é, indiscutivelmente, uma pena. contrariamente ao exigido pela lei.
E continua o renomado autor dizendo que o banimento representa a negação do direito à O princípio da culpabilidade não se encontra no rol dos chamados princípios constitucionais
nacionalidade, contrariando, portanto, o disposto do art. XV, 1 e 2, da Declaração Universal dos expressos, podendo, no entanto, ser extraído do texto constitucional, principalmente do
Direitos do Homem. O Brasil, infelizmente, foi pródigo em banimentos, a começar pela família chamado princípio da dignidade da pessoa humana
imperial, logo depois do advento da República, em 1889, até os malsinados atos institucionais
que, a exemplo do AI nº 13, de 6 de setembro de 1969, estabelecia o banimento de brasileiro O princípio da culpabilidade possui três sentidos fundamentais:
que, comprovadamente, se tornasse inconveniente, nocivo ou perigoso à Segurança Nacional
Culpabilidade como Elemento Integrante do Conceito Analítico de Crime
Com a vedação constitucional da pena de banimento, podemos conviver com uma diversidade A culpabilidade é a terceira característica ou elemento integrante do conceito analítico de
enorme de ideias, sem que os detentores do “poder” possam escolher o método mais fácil e crime, sendo estudada, segundo o magistral ensinamento de Welzel, após a análise do fato
rápido de típico e da ilicitude, ou seja, após concluir-se que o agente praticou um injusto penal Uma vez
evitar a sua divulgação, vale dizer, colocando-os para fora do território nacional chegado a essa conclusão, vale dizer, que a conduta do agente é típica e antijurídica, inicia-se
Penas Cruéis um novo estudo, que agora terá seu foco dirigido à possibilidade ou não de censura sobre o
Zaffaroni e Pierangeli, com o acerto de sempre, prelecionam que o antônimo da ‘pena cruel’ é fato praticado
a ‘pena racional’ (e não a ‘pena doce’, é claro). Do princípio da humanidade deduz-se a Neste sentido, versa a lição de Roxin, quando aduz: O injusto penal, quer dizer, uma conduta
proscrição das penas cruéis e de qualquer pena que desconsidere o homem como pessoa. típica e antijurídica, não é em si punível. A qualificação como injusto expressa tão somente que
o fato realizado pelo autor é desaprovado pelo direito, mas não o autoriza a concluir que aquele
deva responder pessoalmente por isso, pois que esta questão deve ser decidida em um terceiro Teoria do Crime
nível de valoração: o da culpabilidade. Portanto, sob esse primeiro enfoque, a culpabilidade
Na lição de Zaffaroni, chama-se teoria do delito: A parte da ciência do direito penal que se
exerce papel fundamental na caracterização da infração penal
ocupa de explicar o que é o delito em geral, quer dizer, quais são as características que devem
Culpabilidade como Princípio Medidor da Pena ter qualquer delito. Esta explicação não é um mero discorrer sobre o delito com interesse
Uma vez concluído que o fato praticado pelo agente é típico, ilícito e culpável, podemos puramente especulativo, senão que atende à função essencialmente prática, consistente na
afirmar a existência da infração penal O agente estará, em tese, condenado Deverá o julgador, facilitação da averiguação da presença ou ausência de delito em cada caso concreto.
após a condenação, encontrar a pena correspondente à infração penal praticada, tendo sua Embora o crime seja insuscetível de fragmentação, pois que é um todo unitário, para efeitos
atenção voltada para a culpabilidade do agente como critério regulador Nesse sentido é o de estudo, faz-se necessária a análise de cada uma de suas características ou elementos
posicionamento de Juan Cordoba Roda, quando assevera: Uma segunda exigência que se fundamentais, isto é, o fato típico, a antijuridicidade e a culpabilidade Podemos dizer que cada
deriva do princípio da culpabilidade é a correspondente ao critério regulador da pena, conforme um desses elementos, na ordem em que foram apresentados, é um antecedente lógico e
o juízo de que a pena não deve ultrapassar o marco fixado pela culpabilidade da respectiva necessário à apreciação do elemento seguinte Welzel, dissertando sobre o tema, diz: A
conduta. Deverá o julgador observar, agora, as regras do critério trifásico de aplicação da pena tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade são três elementos que convertem uma ação em
previstas pelo art 68 do Código Penal um delito. A culpabilidade – a responsabilidade pessoal por um fato antijurídico – pressupõe a
No primeiro momento, encontrará a chamada pena-base e, para tanto, deverá analisar, uma antijuridicidade do fato, do mesmo modo que a antijuridicidade, por sua vez, tem de estar
a uma, todas as condições judiciais elencadas pelo art 59 do Código Penal, assim redigido: concretizada em tipos legais. A tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade estão
relacionadas logicamente de tal modo que cada elemento posterior do delito pressupõe o
Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à anterior. Assim, se alguém, dirigindo um automóvel em via pública, com todas as cautelas
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem necessárias, atropela fatalmente um pedestre que, desejando cometer suicídio, atira-se
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente contra o veículo, não pratica o delito de homicídio culposo, uma vez que, se não agiu com
para reprovação e prevenção do crime. A primeira das circunstâncias judiciais a ser culpa, tampouco com dolo, não há falar em conduta Se não há conduta, não há fato típico e,
aferida pelo juiz é, justamente, a culpabilidade. como consequência, não há crime Nesse caso, elimina-se o crime a partir do estudo de seu
Nessa fase, esse estudo não mais se destinará a concluir pela infração penal, já verificada no primeiro elemento – o fato típico Somente quando o fato é típico, isto é, quando comprovado
momento anterior A culpabilidade, uma vez condenado o agente, exercerá uma função que o agente atuou dolosa ou culposamente, que em virtude de sua conduta adveio o
medidora da sanção penal que a ele será aplicada, devendo ser realizado outro juízo de resultado e, por fim, que seu comportamento se adapta perfeitamente ao modelo abstrato
censura sobre a conduta por ele praticada, não podendo a pena exceder ao limite necessário previsto na lei penal, é que poderemos passar ao estudo da antijuridicidade
à reprovação pelo fato típico, ilícito e culpável praticado Da mesma forma, somente iniciaremos a análise da culpabilidade se já tivermos esgotado o
Culpabilidade como Princípio Impedidor da Responsabilidade Penal Objetiva, ou estudo do fato típico e da antijuridicidade
Seja, o da Responsabilidade Penal sem Culpa O conceito de crime é o início da compreensão dos principais institutos do Direito Penal
Na precisa lição de Nilo Batista, o princípio da culpabilidade impõe a subjetividade da Embora aparentemente simples, a sua definição completa e pormenorizada apresenta
responsabilidade penal. Não cabe, em direito penal, uma responsabilidade objetiva, derivada questões complexas que acarretam consequências diversas Vejamos:
tão só de uma associação causal entre a conduta e um resultado de lesão ou perigo para um Quanto ao critério material crime é toda ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo
bem jurídico. de lesão bens jurídicos penalmente tutelados Esse critério leva em consideração a relevância
Isso significa que para determinado resultado ser atribuído ao agente é preciso que a sua do mal produzido Assim, somente se legitima o crime quando a conduta proibida apresentar
conduta tenha sido dolosa ou culposa Se não houve dolo ou culpa, é sinal de que não houve relevância jurídico-penal, mediante a provocação de dano ou ameaça de dano
conduta; se não houve conduta, não se pode falar em fato típico; e não existindo o fato típico, Quanto ao critério legal, o conceito de crime é fornecido pelo legislador Contudo, o Código
como consequência lógica, não haverá crime Os resultados que não foram causados a título Penal não conceitua crime, mas a Lei de Introdução ao Código Penal o faz: Considera-se crime
de dolo ou culpa pelo agente não podem ser a ele atribuídos, pois a responsabilidade penal, a infração penal a que a Lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer
de acordo com o princípio da culpabilidade, deverá ser sempre subjetiva
alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a
No entanto, deve ser observado que, nessa vertente, que tem por finalidade afastar a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou de ambas, alternativa ou
responsabilidade penal objetiva, a culpabilidade deve ser entendida somente como um cumulativamente.
princípio em si, pois, uma vez adotada a teoria finalista da ação, dolo e culpa foram deslocados
Quanto ao critério analítico, há várias classificações; dito isso, Basileu Garcia sustentava que
para o tipo penal, não pertencendo mais ao âmbito da culpabilidade, que é composta, segundo
o crime tinha quatro elementos, quais sejam, fato típico, ilicitude, culpabilidade e
a maioria da doutrina nacional, pela imputabilidade, pelo potencial conhecimento da ilicitude
punibilidade Outros autores (Nelson Hungria, Aníbal Bruno, Magalhães Noronha etc) adotam
do fato e pela exigibilidade de conduta diversa
a posição tripartida – fato típico, ilicitude, culpabilidade Outros ( Damásio, Mirabete etc)
ainda entendem o crime como o fato típico e ilícito, pois a culpabilidade deve ser excluída da
composição do crime, uma vez que se trata de pressuposto de aplicação da pena
Acerca do assunto em tela, ensina Delmanto: deparamo-nos, no Brasil, com um Código Penal
onde a culpabilidade não é um dos elementos do crime (Teoria do Delito), mais sim elemento de
aplicação da pena (Teoria da Pena). Por usa vez, ensina Cleber Masson que com a Lei 7209/84,
que alterou a parte geral do Código Penal, fica a impressão de ter sido adotado um conceito
bipartido de crime, ligado obrigatoriamente à teoria finalista da conduta.
Logo, para o sistema clássico, crime é o fato típico e ilícito, praticado por agente culpável Para
o sistema finalista, igualmente, crime é fato típico e ilícito, praticado por agente culpável
(teoria tripartida); ou, ao revés, crime é fato típico e ilícito (teoria bipartida)

Discussões sobre o Conceito Bipartido


O código usa expressões que remetem à isenção de pena, e não está lidando com
culpabilidade:
Art. 20, §1º – É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há
isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo
Art. 181 – É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em
prejuízo
I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II – de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo,
seja civil ou natural.
Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante.

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