Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ADM p/ TJ/RO
PROFESSOR FRANCISCO NETTO
Vereadores) e os magistrados, membros do
Ministério Público e dos Tribunais de Contas.
1 - AGENTES PÚBLICOS
b) Agentes administrativos
1.1 - CONCEITO
Agentes administrativos são todos
Podemos definir como agente público aqueles que exercem um cargo, emprego ou
toda e qualquer pessoa física que exerce, em função pública perante à Administração, em
caráter permanente ou temporário, remunerada caráter permanente, mediante remuneração e
ou gratuitamente, sob qualquer forma de sujeitos à hierarquia funcional instituída no órgão
investidura ou vínculo, função pública em nome ou entidade ao qual estão vinculados.
do Estado.
Essa categoria de agentes públicos
A expressão “agentes públicos” abrange representa a imensa maioria da força de trabalho
todas as pessoas físicas que, de qualquer modo, da Administração Direta e Indireta, em todos os
estão vinculadas ao Estado, alcançando desde os níveis federativos (União, Estados, DF e
mais importantes agentes, como o Presidente da Municípios) e em todos os Poderes (Legislativo,
República, até aqueles que, somente em caráter Executivo e Judiciário), podendo ser dividida em:
eventual, exercem funções públicas, como é o
caso dos mesários eleitorais. 1. Servidores públicos titulares de cargos
efetivos ou em comissão;
Independentemente do nível federativo 2. Empregados públicos;
(União, Estados, Distrito Federal ou Municípios) 3. Contratados temporariamente em virtude
ou do poder estatal no qual exerce as suas de necessidade temporária de
funções (Legislativo, Executivo ou Judiciário), excepcional interesse público.
para que seja denominado de “agente público” é
suficiente que a pessoa física esteja atuando em Servidores públicos titulares de cargos
nome do Estado. efetivos são aqueles que ingressaram no serviço
público mediante concurso público e que,
1.2- CLASSIFICAÇÃO portanto, podem adquirir a estabilidade após 03
(três) anos de efetivo exercício. Esses servidores
Para o saudoso professor, os agentes também são chamados de estatutários, pois são
públicos podem ser classificados em agentes regidos por um estatuto legal, responsável por
políticos, agentes administrativos, agentes disciplinar seus principais direitos e deveres em
honoríficos, agentes delegados e agentes face da Administração Pública.
credenciados.
Além dos servidores titulares de cargos
a)Agentes políticos efetivos, é válido destacar que os ocupantes de
cargos em comissão (de livre nomeação e
Nas palavras de Hely Lopes Meirelles, exoneração) também são denominados
agentes políticos são “os componentes do servidores públicos. Entretanto, em virtude de
Governo nos seus primeiros escalões, investidos ocuparem cargos em comissão (também
em cargos, funções, mandatos ou comissões, por denominados cargos de confiança), tais
nomeação, eleição, designação ou delegação, servidores não gozam de estabilidade, pois se
para o exercício de atribuições constitucionais”. sustentam no cargo apenas em virtude da
“confiança” depositada pela autoridade
Como exemplos podemos citar os chefes responsável pela nomeação.
do Poder Executivo (Presidente da República,
Governadores e Prefeitos) e seus auxiliares
imediatos (Ministros, Secretário s Desse modo, é correto afirmar que são
estaduais,distritais e municipais), os membros do servidores públicos tanto os ocupantes de cargos
Poder Legislativo (Senadores, Deputados e de provimento efetivo, quanto os ocupantes de
cargos em comissão.
DIR. ADM p/ TJ/RO
PROFESSOR FRANCISCO NETTO
É válido esclarecer que apesar de não
A segunda espécie de agente possuírem vínculo com o Estado, os agentes
administrativo citada pelo professor Hely Lopes honoríficos são considerados “funcionários
Meirelles é o empregado público, que não públicos” para fins penais e sobre eles não
ocupa cargo público, mas sim emprego público. incidem as regras sobre acumulação de cargos,
empregos e funções públicas, previstas no inciso
Os empregados públicos não são regidos XVI do artigo 37 da CF/88.
por um estatuto (e, portanto, não podem ser
chamados de estatutários), mas sim pela d) Agentes delegados
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que
lhes assegura os mesmos direitos previstos para Nas palavras do professor Hely Lopes Meirelles,
os trabalhadores da iniciativa privada, tais como “agentes delegados são particulares que recebem
aviso prévio, FGTS, seguro desemprego, entre a incumbência da execução de determinada
outros estabelecidos no artigo 7º da CF/88 (que atividade, obra ou serviço público e o realizam
não são garantidos aos servidores públicos na em nome próprio, por sua conta e risco, mas
totalidade). segundo as normas do Estado e sob a permanente
fiscalização do delegante.
As empresas públicas e sociedades de
economia mista (integrantes da Administração Esses agentes não são servidores públicos, nem
Pública Indireta) adotam necessariamente o honoríficos, nem representantes do Estado;
regime celetista para os seus empregados, apesar todavia, constituem uma categoria à parte de
de serem obrigadas a realizar concurso público colaboradores do Poder Público. Nesta categoria
para a contratação de pessoal. se encontram os concessionários e
permissionários de obras e serviços públicos, os
Por último, integram também a categoria serventuários de Ofícios ou Cartórios não
dos agentes administrativos aqueles que são estatizados, os leiloeiros, os tradutores e
contratados temporariamente para atender a intérpretes públicos, e demais pessoas que
uma necessidade temporária de excepcional recebam delegação para a prática de alguma
interesse público, conforme preceituado no atividade estatal ou serviço de interesse
inciso IX do artigo 37 da Constituição Federal de coletivo”.
1988.
Apesar de exercerem atividades públicas em
Neste caso, a lei de cada ente federativo nome próprio, por sua conta e risco, é válido
(União, Estados, DF e Municípios) estabelecerá esclarecer que os agentes delegados estão sujeitos
os prazos máximos de duração desses contratos e às regras de responsabilização civil previstas no §
as situações que podem ser consideradas de 6º do artigo 37 da CF/88, e também são
necessidade temporária, conforme estudaremos considerados “funcionários públicos” para fins
posteriormente. penais.
Conforme afirma o professor Celso Antônio Historicamente, por muitos anos, vigorou
Bandeira de Mello, tal obrigação deriva da a máxima de que “O Rei nunca erra” (The King
responsabilidade EXTRACONTRATUAL do can do no wrong) ou “O Rei não pode fazer mal”
Estado face a comportamentos unilaterais, (Le roi ne peut mal faire).
comissivos ou omissivos, legais ou ilegais,
materiais ou jurídicos, que a ele são atribuídos. Durante esse período, notadamente nos regimes
absolutistas, o Estado NÃO PODIA SER
Antes de passarmos para o próximo item, RESPONSABILIZADO pelos danos que
é necessário chamar a sua atenção para o fato de causasse aos particulares no exercício das funções
que a responsabilidade civil do Estado, pelos
estatais.
danos que seus agentes causem a terceiros, não se
confunde com a responsabilidade civil, penal ou
administrativa dos agentes públicos Apesar da necessidade de você ter
responsáveis pelo dano. conhecimento dessa teoria para responder às
questões de concursos, destaca-se que ela está
Além da responsabilização do Estado, inteiramente superada, mesmo nos Estados
que irá ocorrer exclusivamente na esfera civil, Unidos e na Inglaterra, que foram os últimos
o agente público também poderá ser países a abandoná-las, em 1946 e 1947,
responsabilizado, mas em três esferas distintas: respectivamente.
civil, penal e administrativa, se for o caso.
2.1.2. Responsabilidade subjetiva do Estado ou
As responsabilidades civil, penal e Teoria da “culpa civil”
administrativa, em regra, são independentes
entre si, podendo, ainda, cumular-se, conforme Segundo essa teoria, o Estado seria
veremos mais a frente. equiparado ao particular, para fins de
indenização. Sendo assim, em regra, como os
particulares somente podem ser responsabilizados
DIR. ADM p/ TJ/RO
PROFESSOR FRANCISCO NETTO
pelos seus atos quando atuam com dolo (desejo pois o caminhão que “passou por cima” do
de causar o dano) ou culpa (negligência, suicida pertence ao Estado.
imprudência ou imperícia), tais requisitos
também deveriam ser demonstrados a fim de que É fácil perceber que a teoria do risco
se pudesse responsabilizar o Estado. integral escapa ao bom senso, pois não prevê
qualquer hipótese de exclusão ou redução da
Tanto o Estado quanto o particular eram tratados responsabilidade do Estado em relação ao
de forma igualitária e, sendo assim, ambos evento danoso, ao contrário do que ocorre, por
respondiam nos termos do direito privado, sendo exemplo, na teoria do risco administrativo, como
imprescindível a demonstração do dolo ou culpa veremos adiante.
para que ocorresse a responsabilização.
2.1.5 Teoria do risco administrativo
Essa teoria passou a vigorar no Brasil
com o advento do Código Civil, de 1916 e, Essa é a teoria adotada pela Constituição
somente em 1946, com a promulgação da Federal de 1988 e, portanto, iremos estudá-la
Constituição, deixou de existir. com mais detalhes nos próximos itens.
2.1.3. Teoria da Culpa Administrativa ou da De qualquer forma, você já deve ter em mente
faute du service que nesta modalidade de responsabilização não
se exige a culpa ou dolo do agente público, nem
Essa teoria relaciona-se à possibilidade de a demonstração da “falta do serviço”.
responsabilização do Estado em virtude do
serviço público prestado de forma insatisfatória, Para que o indivíduo seja indenizado, basta que
defeituosa ou ineficiente. comprove a existência do fato danoso e injusto
ocasionado por ação do Estado.
Não é necessário que ocorra uma falta
individual do agente público, mas uma 2.2. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA
deficiência no funcionamento normal do serviço, PREVISTA NO ARTIGO37, § 6º DA CF/88
atribuível a um ou vários agentes da
Administração, que não lhes seja imputável a O nosso ordenamento jurídico pátrio,
título pessoal. durante muito tempo, oscilou entre as doutrinas
Nesse caso, a vítima tem o dever de comprovar a subjetiva e objetiva da responsabilidade civil do
falta do serviço (ou a sua prestação insuficiente Estado. Entretanto, a Constituição Federal de
ou insatisfatória) para obter a indenização, além 1988 decidiu pela responsabilidade civil
de ser obrigada a provar ainda uma “culpa objetiva do Estado, sob a modalidade do risco
especial” do Estado, ou seja, provar que o Estado administrativo.
é responsável por aquela “falta” do serviço
público. Sendo assim, para que o Estado seja
obrigado a indenizar o dano causado por seus
2.1.4. Teoria do risco integral agentes, é suficiente que o particular prejudicado
comprove o dano existente e o nexo causal entre
Com base em tal teoria, o Estado é a ação do agente e o evento danoso. Não é
responsável por qualquer dano causado ao necessário que o particular comprove que o
indivíduo na gestão de seus serviços, agente público agiu com dolo ou culpa, pois isso
independentemente da culpa da própria vítima, é irrelevante para efeitos de indenização estatal.
caso fortuito ou força maior.
O professor Alexandre de Moraes afirma
Para que o Estado seja obrigado a ser necessária a presença dos seguintes requisitos
indenizar, basta que esteja envolvido no dano para que o Estado seja obrigado a indenizar:
causado. Exemplo: se um indivíduo se jogar na ocorrência do dano; ação administrativa;
frente de um caminhão de lixo que está existência de nexo causal entre o dano e a ação
realizando o serviço de limpeza urbana, administrativa e ausência de causa excludente
objetivando um suicídio, ainda sim o Estado da responsabilidade estatal.
estaria obrigado a indenizar a família da vítima,
DIR. ADM p/ TJ/RO
PROFESSOR FRANCISCO NETTO
A possibilidade de responsabilizar o concessionárias, permissionárias e
Estado pelos danos que seus agentes causarem a autorizatárias de serviços públicos.
terceiros possui amparo no próprio texto
constitucional, mais precisamente no artigo 37, § Atualmente, vigora no Supremo Tribunal Federal
6º, da CF/1988, o entendimento de que as pessoas jurídicas
que assim declara: prestadoras de serviços públicos respondem
objetivamente pelos danos que seus agentes
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as causarem a terceiros, inclusive aqueles que não
de direito privado prestadoras de serviços estejam usufruindo dos serviços prestados, a
públicos responderão pelos danos que seus exemplo do particular que tem o seu carro
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, atingido por um ônibus pertencente a
assegurado o direito de regresso contra o concessionária prestadora de serviços públicos.
responsável nos casos de dolo ou culpa.
Além disso, não se esqueça de que as
Para que possamos responder mais empresas públicas e sociedades de economia
facilmente às questões elaboradas pelas bancas mista, exploradoras de atividades
examinadoras, principalmente às questões econômicas, não são alcançadas pelo § 6º, do
formuladas pelo CESPE, é necessário que artigo 37, da CF/1988.
façamos um detalhamento das informações que
podem ser extraídas do § 6º, do artigo 37, da As empresas públicas e sociedades de
CF/88. economia mista, exploradoras de atividades
econômicas (podemos citar como exemplo a
2.2.1 Ao afirmar que a expressão "causarem" Petrobrás, a Caixa Econômica Federal, o Banco
do artigo 37, parágrafo 6.º, da CF/88, somente do Brasil etc.), respondem pelos danos que seus
abrange os atos comissivos (ações), e não os agentes causarem a terceiros de acordo com as
omissivos, afirmando que estes últimos regras do Direito Privado, assim como acontece
somente "condicionam" o evento danoso. com os seus concorrentes no mercado.
Esse é o posicionamento defendido pelo professor Pergunta: Nesse caso, o Estado poderá ser
Celso Antônio Bandeira de Mello, ao afirmar responsabilizado civilmente pelos danos que a
que a expressão "causarem" do artigo 37, enchente causar aos particulares?
parágrafo 6.º, da CF/88, somente abrange os atos
comissivos, e não os omissivos, afirmando que Resposta: Depende. Se ficar comprovado que o
estes últimos somente "condicionam" o evento Estado foi omisso, ou seja, que não efetuou a
danoso. limpeza dos bueiros de escoamento da água,
permitindo o acúmulo de lixo e,
Exemplo: Imaginemos o caso de uma árvore consequentemente, o seu entupimento, poderá,
centenária, com vinte metros de altura e dez sim, ser responsabilizado, desde que o
metros de diâmetro, localizada em uma praça no particular lesado comprove o dolo e/ou a culpa do
centro da cidade. Suponhamos agora que, há Estado. Nessa hipótese, a responsabilidade do
vários meses, os moradores próximos à praça Estado será SUBJETIVA.
estão reivindicando o corte da árvore em virtude
de estar infestada de cupins e ameaçando cair. 2.4. SITUAÇÕES ESPECIAS ABRANGIDAS
Para tanto, foram protocoladas diversas petições PELA RESPONSABILIDADE OBJETIVA
administrativas individuais e coletivas, mas o
Município nunca tomou qualquer providência. 2.4.1. Responsabilidade por dano nuclear
Ressalta-se ainda que o risco de queda da árvore
também tenha sido noticiado em jornais escritos e O artigo 21, XXI, da Constituição de 1988,
televisivos de toda a região, mas, apesar disso, o declara expressamente que compete à União
Município continuou inerte. explorar os serviços e instalações nucleares de
qualquer natureza e exercer monopólio estatal
Imaginemos agora que, num certo dia, um turista sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
resolve parar o seu veículo debaixo dessa árvore reprocessamento, a industrialização e o comércio
e, para a sua surpresa, a árvore “desaba” em cima de minérios nucleares e seus derivados.
de seu carro.
Todavia, na alínea “d” do mesmo dispositivo,
Ora, nesse exemplo, está claro que a árvore consta que a responsabilidade civil por danos
somente caiu em cima do carro do turista porque nucleares independe da existência de culpa, ou
o Município foi omisso. Apesar de todas as seja, trata-se de responsabilidade objetiva.
DIR. ADM p/ TJ/RO
PROFESSOR FRANCISCO NETTO
imperícia, imprudência ou negligência do
Informação importante e que deve ser assimilada construtor na execução do processo, a
para responder às questões de prova, refere-se ao responsabilidade originária é da Administração,
fato de que, apesar de a Constituição Federal de como dona da obra, mas pode ela haver do
1988 não estabelecer expressamente, a executor culpado tudo quanto pagou à vítima.
responsabilidade civil daqueles que causarem
danos nucleares a outrem será regida pela teoria Esse é um ponto importante e que merece uma
do risco integral. maior atenção: se o dano puder ser atribuído ao
EXECUTOR da obra, em virtude da má-
Isso significa que permanecerá a obrigação de execução do contrato administrativo, a
indenizar até mesmo nos casos de inexistência de responsabilidade será SUBJETIVA, ou seja,
nexo causal entre a ação/omissão do Estado ou deverá ser comprovada a negligência,
particular e o dano causado. imprudência ou imperícia do EXECUTOR para
que ocorra a sua responsabilização civil.
Trata-se de uma hipótese excepcional e
extremada de responsabilização civil, pois não 2.4.3. Atos Legislativos
prevê excludentes de responsabilidade, nem
mesmo nos casos de culpa exclusiva de terceiros, Segundo o entendimento da doutrina dominante
da vítima, caso fortuito ou de força maior. para “fins de concursos públicos”, atualmente o
Estado somente pode ser responsabilizado pela
Outra informação importante é o fato de que até edição de leis inconstitucionais ou leis de efeitos
mesmo o PARTICULAR, mesmo não sendo concretos.
prestador de serviços públicos, responderá
objetivamente pelos danos nucleares que causar a Da mesma forma, as leis de efeitos concretos
terceiros. (aquelas que não possuem caráter normativo,
generalidade, impessoalidade ou abstração –
2.4.2. Danos de obra pública citam-se como exemplos aquelas famosas leis
municipais que modificam nomes de ruas), se
A responsabilidade do Estado por danos causarem danos aos particulares, geram para o
decorrentes de obras públicas pode ser do tipo Estado o dever de indenizar.
OBJETIVA ou SUBJETIVA.
2.4.4. Atos judiciais
Quando o dano ao particular ocorrer em função
do só fato da obra, a responsabilidade do Estado
será do tipo OBJETIVA, na modalidade do risco Assim como ocorre em relação aos atos
administrativo, independentemente se a obra está legislativos, a regra é a de que não será possível
ou estava sendo realizada pelo próprio Estado ou responsabilizar o Estado pelos atos
por particulares contratados. jurisdicionais praticados pelos juízes, desde que
no exercício de suas funções típicas (a de julgar).
Ocorre dano pelo só fato da obra quando o
prejuízo é proveniente da própria natureza da Entretanto, o próprio inciso LXXV, do artigo 5º,
obra, seja pela sua duração, execução ou da CF/88, apresenta duas exceções, ao
extensão. Como o Estado foi o responsável pela estabelecer que o “Estado indenizará o
decisão governamental que originou a realização condenado por erro judiciário, assim como o que
da obra, ele deve ser o responsável por eventuais ficar preso além do tempo fixado na sentença”.
danos advindos de sua execução.
É válido ressaltar que a exceção prevista no texto
Conforme esclarece o professor Hely Lopes constitucional alcança somente a esfera penal,
Meirelles, se na abertura de um túnel ou de uma excluindo a esfera cível. Contudo, a fim de ser
galeria de águas pluviais, o só fato da obra causa indenizado pelos danos sofridos na esfera penal, o
danos aos particulares (erro de cálculo, por particular deverá pleitear o seu direito na esfera
exemplo), por estes danos, responde cível, através de ação judicial própria.
objetivamente a Administração que ordenou os
serviços; se, porém, o dano é produzido pela
DIR. ADM p/ TJ/RO
PROFESSOR FRANCISCO NETTO
2.4.5. Coisas ou pessoas sob a responsabilidade “As dívidas passivas da União, dos Estados e dos
do Estado Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou
ação contra a Fazenda federal,
Sabemos que, em diversos momentos, o Estado estadual ou municipal, seja qual for a sua
assume a responsabilidade pela “guarda” de natureza, prescrevem em (cinco) anos, contados
pessoas, animais ou coisas, como se verifica, por da data do ato ou fato do qual se originarem”.
exemplo, em relação aos indivíduos que
cumprem pena em presídios, àqueles que estão Apesar de o particular possuir apenas o prazo de
internados em manicômios, aos alunos de uma 05 (cinco) anos para pleitear indenização em
escola pública, às mercadorias que foram retidas virtude de danos causados pelo Estado, este não
por algum órgão ou entidade pública e que se possui prazo para cobrar o ressarcimento de
encontram em depósitos públicos, etc. prejuízos ou danos causados ao seu patrimônio
em virtude de comportamento culposo ou doloso
Sendo assim, o Estado possui responsabilidade de seus agentes, servidores ou não, conforme
OBJETIVA pelos danos que as pessoas, coisas estabelece o § 5º do artigo 37 da CF/88:
ou animais sofrerem enquanto estiverem sob a
sua “guarda”, exceto se tal dano ocorrer em § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição
virtude de caso fortuito ou força maior, já que para ilícitos praticados por qualquer agente,
esses são eventos imprevisíveis e irresistíveis, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário,
que fogem ao controle do Estado. ressalvadas as respectivas ações de
ressarcimento.
O professor Celso Antônio Bandeira de Mello
exemplifica tal responsabilidade afirmando que, 2.5 - AÇÃO REGRESSIVA EM FACE DO
se um detento fere outro, o Estado responde AGENTE PÚBLICO RESPONSÁVEL PELO
objetivamente, pois cada um dos presidiários DANO
está exposto a uma situação de risco inerente ao
ambiente em que convivem e, portanto, o Estado Conforme já foi exposto, o Estado pode ser
deve zelar pela integridade física e moral de cada responsabilizado civilmente pelos danos que seus
um deles. agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros.
Sendo assim, caso o particular tenha sofrido
Mas, se um raio vier a matar um detento, a algum prejuízo em razão de uma ação ou omissão
responsabilidade desloca-se para o campo da de agente público estatal, deverá exigir o
culpa administrativa, deixando de ser objetiva, respectivo ressarcimento diretamente do Estado, e
por inexistir conexão lógica entre o evento raio e não do agente público.
a situação de risco vivida pelo desafortunado. A
responsabilidade advirá se eventualmente ficar
comprovado que as instalações capazes de Como o Estado responderá objetivamente pelos
impedir o evento (pára-raios) não existiam, foram danos causados pelos seus agentes, a própria
mal projetadas ou estavam mal conservadas. CF/1988 assegura, na parte final do § 6º, do
artigo 37, o direito de o Estado tentar reaver o
2.4.6 RESPONSABILIDADE CIVIL E valor indenizatório que foi pago ao particular,
PRAZO QUINQUENAL podendo propor contra o agente público a
denominada ação regressiva.
Apesar de o Estado poder ser responsabilizado
pelos danos que seus agentes causarem a Apesar de tal possibilidade estar prevista
terceiros, a ação judicial que pode ser proposta diretamente no texto constitucional, é necessário
com tal finalidade prescreve em cinco anos, que o Estado comprove em juízo que o agente
contados da ocorrência do ato ou fato. público agiu com DOLO ou CULPA ao causar o
dano ao particular, pois, caso contrário, o agente
Tal previsão está expressa no artigo 1º do Decreto não será obrigado a devolver aos cofres públicos
20.910/32: o valor pago ao particular pelo Estado, já que
responde SUBJETIVAMENTE.
DIR. ADM p/ TJ/RO
PROFESSOR FRANCISCO NETTO
Para que o Estado possa propor a referida ação assim, como o laudo pericial não afirmou que a
regressiva, primeiramente, é necessário que culpa era exclusiva do particular, ou melhor,
comprove já ter indenizado o particular, pois sequer definiu de quem seria a culpa, presume-se
essa é uma condição obrigatória. Trata-se de um que seja do Estado.
requisito lógico, pois, se o Estado ainda não Pergunta 2: Suponhamos que o Estado tenha
pagou ao particular qualquer tipo de indenização, sido condenado a pagar ao particular R$
como poderá exigir do agente público o 10.000,00 (dez mil reais) em virtude do dano
ressarcimento de um prejuízo que nem causado pelo motorista da ambulância. Nesse
experimentou ou sequer sabe o valor? caso, o Estado conseguirá êxito em uma possível
ação de ressarcimento proposta em face do agente
Muito cuidado ao responder às questões de público?
concursos, pois a simples existência do trânsito
em julgado de sentença condenando o Estado a Não, pois, conforme expresso no laudo pericial,
pagar ao particular a indenização, por si só, não é não é possível determinar qual dos motoristas foi
suficiente para fundamentar a propositura da ação o responsável pelo acidente, muito menos se o
regressiva. Além do trânsito em julgado, é agente agiu com dolo ou culpa, e, sendo assim, o
necessário ainda que já tenha ocorrido o efetivo Estado é que assumirá integralmente o prejuízo.
pagamento ao particular.
Pergunta 3: Suponhamos que, ao ser citado para
Vamos citar um exemplo simples, capaz de responder à ação de indenização proposta pelo
explicar melhor o que acaba de ser exposto: particular, o Estado tenha decidido denunciar à
lide (incluir no processo) o motorista da
Exemplo: Suponhamos que uma ambulância do ambulância, alegando que ele foi o responsável
Estado, conduzida por um agente público, que pelo acidente e, portanto, deveria participar do
trafegava normalmente por uma avenida, tenha se processo e ser responsabilizado pelo pagamento
envolvido em um acidente com um veículo do prejuízo causado ao particular. Nesse caso, o
particular, no qual ambos tiveram danos Estado estaria agindo de forma correta, em
materiais. Como a discussão entre os motoristas conformidade com o entendimento majoritário da
começou a ficar acalouradada, ambos decidiram doutrina e da jurisprudência?
contactar a Perícia de Trânsito a fim de que fosse
emitido um laudo pericial, declarando as razões Não. Segundo entendimento da doutrina e
que motivaram tal acidente e pudesse ser definida jurisprudência majoritárias (adotada pelas bancas
a culpa pelo mesmo. examinadoras), não pode haver denunciação à
lide do agente público, já que o pedido do
Na data combinada para a entrega do laudo particular em face do Estado está amparado na
pericial oficial, foi divulgado o resultado, todavia, RESPONSABILIDADE OBJETIVA. Já a
ao analisá-lo, verificou-se a impossibilidade de responsabilidade do agente em face do Estado,
definição da culpa pelo acidente “em razão das está amparada na RESPONSABILIDADE
circunstâncias do evento”. SUBJETIVA.
De posse do referido laudo pericial, o particular Outro ponto que merece destaque é o fato de que
ingressou com uma ação judicial pleiteando do a ação regressiva, nos termos do artigo 5º, XLV
Estado o ressarcimento dos danos causados ao da CF/88, transmite-se aos herdeiros, até o limite
seu automóvel. da herança recebida, ou seja, mesmo após a
morte do agente público, o seu patrimônio
Pergunta 1: Neste caso, com base no laudo responde pela dano.
pericial apresentado pelo Perito, o particular teria
direito a receber indenização pelos danos 2.6. RESPONSABILIDADES
sofridos? ADMINISTRATIVA, CIVIL E PENAL DOS
AGENTES PÚBLICOS
Sim, pois a responsabilidade do Estado pelos
danos que seus agentes causarem a terceiros, em Quando o agente público, no exercício de suas
regra, é OBJETIVA, ou seja, dispensa a funções, praticar alguma irregularidade, algum
comprovação de DOLO ou CULPA. Sendo
DIR. ADM p/ TJ/RO
PROFESSOR FRANCISCO NETTO
ato violador do ordenamento jurídico vigente, julgado da decisão penal, deverá ser reintegrado
poderá ser obrigado a responder a um processo ao cargo anteriormente ocupado, após a anulação
administrativo, um processo cível e outro na da demissão.
esfera penal, simultaneamente, já que essas
esferas são independentes entre si. 2.2 - Se a decisão na esfera penal absolver o
servidor por INSUFICIÊNCIA DE PROVAS
Em regra, não há vinculação entre as sanções quanto à autoria, por exemplo, não ocorrerá a
administrativas, civis e penais e, portanto, elas vinculação da esfera administrativa e, se as
poderão cumular-se. Da mesma forma, os provas existentes forem capazes de configurar um
processos em cada esfera poderão tramitar ilícito administrativo, poderá então ser
isoladamente, não sendo necessário, por exemplo, condenado na esfera administrativa. É o que a
aguardar o julgamento da esfera judicial cível a doutrina denomina de conduta residual.
fim de que seja proferida a decisão
administrativa.
BIBLIOGRAFIA:
É válido ressaltar que, em regra, a esfera penal
não vincula a esfera administrativa.
ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO. Direito
Entretanto CUIDADO: Administrativo.16ª Edição. Editora Método.