O documento discute a Escolástica, particularmente o trabalho de São Anselmo. São Anselmo desenvolveu uma prova ontológica da existência de Deus baseada na ideia de um ser perfeito que contém todas as perfeições. Embora criticada por alguns, como Gaunilão, a prova teve grande influência na Alta Escolástica e nos tempos modernos, sendo aceita por pensadores como Alberto Magno e Boaventura. A prova reflete as influências agostinianas e platônicas de Anselmo de que a verdade
O documento discute a Escolástica, particularmente o trabalho de São Anselmo. São Anselmo desenvolveu uma prova ontológica da existência de Deus baseada na ideia de um ser perfeito que contém todas as perfeições. Embora criticada por alguns, como Gaunilão, a prova teve grande influência na Alta Escolástica e nos tempos modernos, sendo aceita por pensadores como Alberto Magno e Boaventura. A prova reflete as influências agostinianas e platônicas de Anselmo de que a verdade
O documento discute a Escolástica, particularmente o trabalho de São Anselmo. São Anselmo desenvolveu uma prova ontológica da existência de Deus baseada na ideia de um ser perfeito que contém todas as perfeições. Embora criticada por alguns, como Gaunilão, a prova teve grande influência na Alta Escolástica e nos tempos modernos, sendo aceita por pensadores como Alberto Magno e Boaventura. A prova reflete as influências agostinianas e platônicas de Anselmo de que a verdade
Johannes HIRSCHBERGER diz: “Por Escolástica, em sentido restrito, entende-se a especulação filosófico-teológica que se desenvolveu nas escolas da Idade Média propriamente dita, i. é, de Carlos Magno até a Renascença, tal como essa especulação se apresenta, antes de tudo, na literatura de Summae e de Quaestiones. Essas escolas foram a princípio as catedrais e as monacais e, mais tarde, as Universidades. Num sentido algo mais largo, designa a escolástica também o pensamento dessa época que, embora sem empregar um método rigorosamente escolar, racional-conceptual, repousa porém nas mesmas bases metafísicas e religiosas, como p. e., a mística. “
Fides quaerens intellectum
A fé em busca de entendimento. Santo Anselmo era assumidamente um
pensador Agostiniano. Essa frase que para Agostinho era apenas uma grande ideia torna-se agora um assunto tratado em particular, e constitui escola. Anselmo escreveu: “Nem busco entender para que possa acreditar, mas acredito que possa entender. Por isso, também, acredito que, a não ser que eu primeiro acredite, não serei capaz de entender"). Anselmo defendia que a fé precede a razão e que a razão pode expandir a fé.
Um historiador chamado Johannes HIRSCHBERGER escreveu o seguinte a
respeito de Anselmo:
“Os dados da fé se tornam racionais, elucidados, no ponto de vista lógico, no
seu conteúdo e no seu travamento, sistematizados de modo a poderem deduzir-se um dos outros e, assim, entendidos mais profundamente. Este racionalismo não desvenda os mistérios da crença, mas procura apenas, tanto quanto possível, informar logicamente o patrimônio da fé. Pode-se por conseguinte perguntar se Anselmo é filósofo, pois as suas premissas são afinal sempre teses religiosas. "Não quero saber para crer, mas crer para saber", declara ele.” (HIRSCHBERGER ) De fato toda a escolástica arrancará desse ponto de partida e, além disso, Anselmo leva a especulação tão longe que, ao mesmo tempo, versa problemas filosóficos. Embora sob roupagens teológicas, de fato apresenta-se aí uma problemática filosófica.
b) Provas anselminianas da existência de Deus
Esta problemática filosófica revela-se logo pelo problema que desenvolveu no Proslogium, a sua prova da existência de Deus, que lhe deu um lugar de relevo na história da filosofia. Kant deu a essa prova o nome de ontológica, por considerar apenas a forma que lhe deram Descartes e Leibniz. Mas o mesmo pensamento já aparece em Anselmo e o conteúdo é o seguinte:
a) O argumento. — A razão tem em si mesma a idéia de um ser maior
do qual nenhum outro pode ser pensado (id quo maius cogitari non potest). Ora, se tal ser existisse só no pensamento, então não seria o máximo, porque nesse caso poderíamos pensar um maior, a saber, o que existisse não só no pensamento, mas também na realidade. Por onde, a idéia de um ser máximo exige uma existência não só lógica, mas também antológica. b) Crítica- e contracrítica. — Já o monge Gaunilão tinha replicado: não é pelo fato de eu supor idealmente existentes as Ilhas Afortunadas, que elas existem. O mesmo dirá Kant mais tarde: a idéia de uma cousa não implica na sua existência. Mas isso já o sabia também Anselmo: não é por um pintor conceber uma obra, que ela já existe, dizia ele- Por isso mantinha a sua prova da existência de Deus e respondia, no seu escrito contra Gaunilão, que exemplo das Ilhas Afortunadas não atinge a questão no seu âmago. Pois, a idéia de Deus é um caso único e incomparável, porque pensamos nele como um ser que necessariamente encerra e de toda a eternidade todas as perfeições, ao contrário de uma ilha, que é um ser limitado. E por aí se mostra o nervo da prova. c) ) Momento histórico-genético da prova. — Está na expressão — "ser que encerra em si todas as perfeições". Não é outra essa idéia senão a idéia de Deus, de Boécio, a do sunimum onimnium bonorum cunetaque bona intra se continens; a de Agostinho do homum omnis boni; a idéia platônica do bem em si, ανυποθετον e ιχαλον. Isso resulta ainda mais claro da sua outra obra, o Monologium, onde são desenvolvidas duas provas de Deus tipicamente platônicas: a dos graus de perfeição e da idéia do ser supremo. Anselmo não caiu na μεταθασιζ ειζ αλλο γενοζ, mas tinha no pensamento a idéia apriori, que todo imperfeito supõe o perfeito, anterior, em toda a linha do ser, ao imperfeito. Ora, sendo o imperfeito uma realidade, com maioria de razão o perfeito, do qual o imperfeito não é senão cópia. d) δ) Conceito de Verdade. — Se se aprofundar melhor o conceito de verdade de Anselmo, então mais claro ficará a sua prova da existência de Deus. Verdade significa para Anselmo a "retidão" das essências, a qual consiste em se conformarem com o seu modelo existente na mente divina. Está no espírito e só aí é perceptível {ventas est rectitudo solamente perceptibis); e precisamente quando o espírito descobre relações necessárias. Mas se a nossa mente descobre na idéia de Deus uma conexão, necessária entre essência e existência, então se nos., revela por isso mesmo uma verdade primeira, pois sc3 poderemos descobrir na cópia à verdade, por existir a verdade-modelo. Por isso não se pode dizer com exatidão que Anselmo passa ilogicamente do mundo conceptual para o real. Para ele não há nenhuma oposição entre o pensamento e o ser, como na filosofia moderna. Era ainda demasiado cedo para ser isso possível. Anselmo está todo penetrado do espírito agostiniano; ora, para este pensador platonizante, a autêntica realidade está na verdade e no bem primeiros, na imagem exemplar e na idéia; e disso vive todo ser e conhecer, de modo que podemos subir para Deus de vários lados.
e) ε) Influência. — A prova anselmiana de Deus exerceu larga influência
na alta escolástica e nos tempos modernos. Se de um lado Tomás de Aquino a rejeita (S. Th., I, 2, 1 ad 2; S. c. g. I, 10: De ver. 10, 12), Guilherme Altissiodorense, Alexandre Halense, Boaventura, Alberto o Grande e Egídio Romano a aceitam. Como se vê, pensadores todos eles de tendência platônico-agostiniana mais ou menos fortemente acentuada, por onde podemos conhecer o caráter histórico-ge-nético desta prova e do seu autor.