Você está na página 1de 98

Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO I
CONCEITO E DIVISÃO DO DIREITO

1- CONCEITO DE DIREITO

É o conjunto de normas gerais e positivas que regulam a vida social.

2- DISTINÇÃO ENTRE DIREITO E MORAL

Ambas são normas de comportamento. No entanto distinguem-se precipuamente pela


sanção (o direito tem o poder de coerção e a moral não) e pelo campo de ação, que na moral é
mais amplo.

3- DIREITO POSITIVO E DIREITO NATURAL

Direito positivo é o ordenamento jurídico em determinado país e em determinada época. É


o direito posto.

Direito Natural é a idéia abstrata de direito, o ordenamento ideal, corresponde a uma justiça
superior.

4- DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO

Direito objetivo é o conjunto de normas impostas pelo Estado, de caráter geral, cuja
observância os indivíduos podem ser compelidos mediante coerção.

Direito subjetivo é a faculdade individual de agir de acordo com o direito objetivo, de


invocar a sua proteção.

5- DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO

Direito público é o que regula as relações de um estado com outro estado ou de um estado
com os indivíduos.

Direito privado é o direito que disciplina a relação entre os indivíduos como tais, nas quais
predomina o interesse de ordem particular.

1
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO II
LEI DE INTRODUÇÃO AS NORMAS DO DIREITO
BRASILEIRO (LINDB)

1- CONTEÚDO E FUNÇÃO

A LINDB se trata de uma legislação anexa ao CC, mas autônoma, dele não fazendo parte.
Tem caráter universal, sendo aplicada a todos os campos do direito.

É um conjunto de normas sobre normas. Enquanto o objeto da lei em geral é o


comportamento humano a LINDB tem como objeto a própria norma, tem a lei como tema
central. Dirige-se a todos os ramos do direito, salvo naquilo que for regulado de maneira
específica. Ex. O direito penal somente admite a analogia in bonam partem.

2- FONTES DO DIREITO

A lei é o objeto da LINDB e a principal fonte do direito.

São consideradas fontes formais do direito a lei, a analogia, os costumes e os princípios


gerais do direito.

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.

E fontes não formais são a doutrina e a jurisprudência.

Dentre as formais a lei é a fonte principal, e as demais, são fontes acessórias.

3- A LEI E SUA CLASSIFICAÇÃO

3.1. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA LEI

a) Generalidade: dirige-se a todos os cidadãos indistintamente. O seu comando é abstrato.


b) Imperatividade: impõe um dever, uma conduta. Regula o comportamento humano.
c) Autorizamento: é o fato de ser autorizante, é o que a distingue das demais normas éticas. A
norma jurídica autoriza que o lesado pela violação, exija o cumprimento dela ou a reparação
pelo mal causado.
d) Permanência: a lei não se exaure numa só aplicação, pois deve perdurar até ser revogada
por outra lei. Algumas normas, entretanto, são temporárias, destinadas a viger apenas
durante certo período. Ex. Leis orçamentárias.
e) Emanação de autoridade competente: de acordo com as competências previstas na CF.

3.2. CLASSIFICAÇÃO DAS LEIS:

a) Quanto à imperatividade se divide em cogentes (de imperatividade absoluta ou de ordem


pública) e dispositivas (ou supletivas). As cogentes são as que ordenam ou proíbem determinada
2
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

conduta de forma absoluta, não podendo ser derrogadas pela vontade dos interessados. Normas
dispositivas em geral são permissivas, como a que permite as partes estipular, antes de celebrado o
casamento, quanto aos bens, o que lhes aprouver. Supletiva, é quando suprem a falta de
manifestação de vontade das partes.

b) Quanto ao autorizamento elas se classificam em mais que perfeitas, autorizam a aplicação de


duas sanções, na hipótese de serem violadas. Perfeitas são as que impõem a nulidade do ato.
Menos que perfeitas não acarretam a nulidade ou anulação do ato, somente impondo uma sanção
em caso de violação do ato. E imperfeitas são leis cuja violação não acarreta nenhuma
conseqüência.

c) Quanto à natureza as leis são substantivas (tratem de direito material) ou adjetivas (tratam de
direito processual).

4- VIGÊNCIA DA LEI

A lei passa por três fases: a da elaboração, a da promulgação e a da publicação.

Embora nasça com a promulgação, só começa a vigorar com a publicação. Com a


publicação, tem se o início da vigência, tornando-se obrigatória, pois ninguém pode escusar-se de
cumpri-la alegando que não a conhece.

Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

De acordo com o art. 1º da LICC, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias após ser
publicada, salvo disposição em contrário. Portanto a sua vigência não se inicia no dia de sua
publicação, salvo se assim ela o determinar.

Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta
e cinco dias depois de oficialmente publicada.

O intervalo entre a sua publicação e a sua entrada em vigor chama-se vacatio legis. Em
matéria de duração do referido intervalo, foi adotado o critério do prazo único, porque a lei entra
em vigor na mesma data em todo o território nacional.

Quando a lei é admitida no exterior a sua obrigatoriedade inicia-se três meses depois de
oficialmente publicada.

IMPORTANTE!!! Se durante a vacatio legis ocorrer nova publicação de seu texto, para
correção de erros oficiais ou falha de ortografia, o prazo da obrigatoriedade começará a
correr a partir da nova publicação. Se a lei já entrou em vigor, tais modificações são
consideradas lei nova, tornando-se obrigatória após o decurso da vacatio legis.
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores
começará a correr da nova publicação.
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

Os direitos adquiridos na vigência da lei emendada são resguardados. O juiz ao aplicar a lei
pode corrigir os erros materiais evidentes, mas não os erros substanciais.

3
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Conta-se o prazo de vacatio legis fazendo a inclusão da data da publicação e do último dia
do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente a sua consumação integral.

IMPORTANTE!!! O prazo de quarenta e cinco dias NÃO se aplica a decretos e regulamentos,


cuja obrigatoriedade determina-se pela publicação oficial.

Salvo alguns casos especiais a lei tem caráter permanente, permanecendo em vigor até ser
revogada por outra lei (princípio da continuidade). O costume não revoga lei, nem esta perde sua
eficácia pelo não uso.

Revogação é a supressão da força obrigatória da lei, retirando-lhe a eficácia – o que só pode


ser feita por outra lei. A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). Se em
seu texto constar o próprio termo, perde a eficácia independentemente de outra lei. A revogação
pode ser expressa ou tácita. Expressa quando a lei nova declara em seu texto que a lei anterior ou
parte dela fica revogada, tácita é quando não se traz declaração nesse sentido, mas mostra-se
incompatível com o texto antigo ou regula integralmente a matéria tratada na lei anterior.
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior.

A lei Nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes não revoga
nem modifica a lei anterior. No caso de incompatibilidade entre a lei geral e especial é possível a
revogação de uma pela outra.
§ 2o A LEI NOVA, QUE ESTABELEÇA DISPOSIÇÕES GERAIS OU
ESPECIAIS A PAR DAS JÁ EXISTENTES, NÃO REVOGA NEM MODIFICA
A LEI ANTERIOR (CAI MUITO EM PROVA – DECORAR!!!!!)

IMPORTANTE!!! A lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, salvo
disposição em contrário. Não há, portanto, o efeito repristinatório, restaurador, da primeira lei
revogada, salvo quando houver pronunciamento expresso do legislador nesse sentido.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência

LEMBRAR!!! Quando a lei é declarada inconstitucional HÁ efeito repristinatório; Quando a


lei é revogada por outra e essa outra é posteriormente revogada, NÃO HÁ efeito
represtinatório.

5- OBRIGATORIEDADE DAS LEIS

Ninguém pode recusar a cumprir uma lei alegando não a conhecê-la.

Como consequência, não se faz necessário provar em juízo a existência da norma jurídica
invocada, pois parte-se do pressuposto que o juiz conhece o direito (iura novit cúria). Esse princípio
não se aplica ao direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário (Novo CPC, art.
376), ou seja, o juiz só tem obrigação de conhecer o direito federal e o daquele onde jurisdiciona.

4
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

A teoria que explica a obrigatoriedade da lei para todos e a da necessidade social. Ela
sustenta que a lei é obrigatória e deve ser cumprida por todos, não por motivo de um conhecimento
presumido ou ficto, mas por elevadas razões de interesse público, ou seja, para que seja possível a
convivência social.

IMPORTANTE!!! O erro de direito só pode ser invocado quando não houver o objetivo de furtar-
se o agente ao cumprimento da lei. Ex. Serve para justificar a boa fé.

6- A INTEGRAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

Como o juiz não pode eximir-se de proferir a decisão sobre o pretexto de que a lei é omissa,
deve valer-se dos mecanismos legais destinados a suprir as lacunas da lei, que são: a analogia, os
costumes e os princípios gerais do direito.
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito (ordem hierárquica).

Há uma HIERARQUIA na aplicação desses mecanismos, figurando a analogia em


primeiro lugar. A analogia consiste em aplicar a um caso não previsto em lei um dispositivo legal
a caso semelhante.

O costume é colocado em plano secundário em relação a lei. O juiz só pode recorrer a ele
depois de esgotadas as possibilidades em relação a analogia. É conceituado como a prática
uniforme, constante, pública e geral de determinado ato, com a convicção de sua necessidade.

Em relação à lei são três as espécies de costume.

a) Secundum legem: quando sua eficácia obrigatória é reconhecida pela lei.


b) Praeter legem: quando se destina a suprir as leis nos casos omissos.
c) Contra legem: que se opõe a lei. Em regra o costume não pode modificar a lei, pois esta só
se revoga, ou se modifica, por outra lei.

Não se encontrando solução na analogia e nem nos costumes, deve se utilizar dos princípios
gerais do direito. São estes constituídos de regras que se encontram na consciência dos povos e são
universalmente aceitos, mesmo não escritos. Ex: “ninguém pode lesar outrem”, “é vedado o
enriquecimento sem causa” e etc...

IMPORTANTE!!! A equidade NÃO constitui meio supletivo de lacuna da lei, sendo mero
recurso auxiliar na aplicação desta. É utilizada quando a lei expressamente a permite.

7- APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

As normas são genéricas e contém um comando abstrato, não se referindo especificamente a


casos concretos. Quando o fato se encaixa a norma dá-se o fenômeno da SUBSUNÇÃO.
Quando este enquadramento não ocorre deve o juiz fazer uso da integração normativa, mediante o
emprego da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito.

Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Toda lei está sujeita a
interpretação, não apenas as obscuras e as ambíguas. Por mais clara que seja a lei, esta deve ser
interpretada.
5
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

A hermenêutica é a ciência de interpretação das leis, e como toda ciência, tem seus métodos.
A seguir, os principais métodos de interpretação:

a) Quanto às FONTES ou ORIGEM a interpretação classifica-se em autêntica,


jurisprudencial e doutrinária. Interpretação autêntica é a feita pelo próprio legislador,
por outro ato. Ex: legislador vota uma nova lei para interpretar lei anterior. Interpretação
jurisprudencial é a fixada pelos tribunais, que pode ou não ter força impositiva, a depender
do caso. E interpretação doutrinária é a feita pelos estudiosos do direito.

b) Quanto aos MEIOS, a interpretação pode ser feita pelos métodos gramatical, lógico,
sistemático, histórico e sociológico (teleológico). A interpretação gramatical consiste em
exame do texto normativo sob o ponto de vista linguístico. Na interpretação lógica
procura-se apurar a intenção do legislador por meio de raciocínios lógicos, com abandono
dos elementos puramente verbais. A interpretação sistemática diz que a lei deve ser
interpretada em conjunto com as outras leis pertencentes a mesma província do direito.
Assim as normas tributárias devem ser interpretadas de acordo com os princípios que regem
o direito tributário. A interpretação histórica baseia-se na investigação dos antecedentes da
norma, a fim de descobrir seu exato significado. A interpretação teleológica tem por
objetivo adaptar o sentido ou finalidade da norma as novas exigências sociais. Tal
interpretação é recomendada na LICC em seu art. 5º.
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais (interpretação
teleológica) a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

IMPORTANTE!!! Os diversos métodos de interpretação não operam isoladamente, não se repelem


reciprocamente, mas se completam.

8- CONFLITO DAS LEIS NO TEMPO

Para solucionar os conflitos da lei no tempo, são utilizados dois critérios: o das disposições
transitórias e o da irretroatividade das normas. Disposições transitórias são elaboradas pelo
legislador no próprio texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar conflitos que poderão
emergir do confronto da lei nova com a lei antiga, tendo vigência temporária. Irretroativa é a lei
que não se aplica as relações constituídas anteriormente. Tem por objetivo assegurar a certeza, a
segurança e a estabilidade do ordenamento jurídico. Não possui caráter absoluto, pois razões de
política legislativa podem recomendar que em determinados momentos a lei seja retroativa,
atingindo os efeitos de atos jurídicos praticados sob o império da norma revogada.

A LINDB adotou o princípio da irretroatividade como regra e o da retroatividade


como exceção. Assim, como regra, aplica-se a lei nova aos casos pendentes e aos futuros, só
podendo ser retroativa quando: não ofender ato jurídico perfeito, direito adquirido e a coisa
julgada e quando o legislador expressamente mandar aplicá-la a casos pretéritos.

O art. 6º da LINDB preceitua que a lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitado o
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

Ato jurídico perfeito é o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.

6
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao


tempo em que se efetuou

Direito adquirido é o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e a personalidade


de seu titular.

§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por


ele, possa exercer como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou
condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.

Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos da sentença, não mais sujeita a recurso.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba
recursos.

9- EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO

A regra geral é de que dentro do território brasileiro se aplica a lei brasileira. O art. 7º
permite, excepcionalmente, a aplicação da lei estrangeira no Brasil, nos casos previstos em lei.

A regra geral então é a territorialidade moderada/mitigada.

A exceção à territorialidade mitigada é o estatuto pessoal (lei do domicílio do


interessado). Ou seja, onde não se aplica a lei brasileira aplica-se o estatuto pessoal. Os casos
de aplicação do estatuto pessoal são:

a) nome
b) capacidade
c) personalidade
d) direito de família
e) bens móveis que o interessado traz consigo
f) penhor
g) capacidade sucessória

Ex. Sujeito alemão que na Alemanha é casado e aqui quer casar novamente não pode se casar
porque se aplica o estatuto pessoal.

IMPORTANTE!!! A aplicação do estatuto pessoal só é possível se passar pela filtragem


constitucional. Ex. Um árabe casado lá também não pode casar aqui.

Exceção da exceção!!! Existem três casos de aplicação da lei estrangeira no território brasileiro
com base em lei específica (e não o estatuto pessoal):

a) Conflito sobre bens imóveis (lei do lugar do bem).


b) Lugar do contrato (no que disser respeito à contrato internacional o lugar do contrato é a
residência do proponente).
c) Lei sucessória mais benéfica ao cônjuge ou aos filhos.

Também se admite o cumprimento de decisão estrangeira no Brasil. Para que decisão


judicial estrangeira, carta rogatória estrangeira ou laudo arbitral estrangeiro possa ser cumprida no

7
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Brasil, exige-se o exequatur do STJ. Quem cumpre a decisão após o exequatur é o juiz federal.
Para que o STJ dê o exequatur é preciso de:

1) prova do trânsito em julgado (súmula 420 do STF)


2) compatibilidade com a CF
3) cumprimento das formalidades processuais (art. 963 e 964 do Novo CPC).

8
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO III
VISÃO FILOSÓFICA DO CC/02. AS PRINCIPAIS TESES
DO DIREITO CIVIL CONTEMPORÂNEO

Para que o estudioso entenda efetivamente a codificação privada de 2002, é preciso conhecer
a linha filosófica adotada pela norma emergente.

Na exposição de motivos do CC/02, Miguel Reale demonstra a comissão revisora buscou


fazer uma alteração principiológica do Direito Privado, em relação aos ditames básicos que
constavam da codificação anterior, buscando a nova codificação valorizar a eticidade, a socialidade
e a operabilidade.

 PRINCÍPIO DA ETICIDADE:

O tipo de Ética buscado pelo novo CC é defendido pela corrente kantiana: é o


comportamento que confia no homem como um ser composto por valores que o elevam ao patamar
de respeito pelo semelhante e de reflexo de um estado de confiança nas relações desenvolvidas,
quer negociais, quer não negociais. É, na expressão kantiana, a certeza do dever cumprido, a
tranquilidade da boa consciência.

Esse princípio pode ser percebido pela leitura de vários dispositivos no CC:
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos
do lugar de sua celebração.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,


como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

 PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE:

O CC/02 procura superar o caráter individualista e egoísta que imperava na codificação


anterior, valorizando a palavra “nós”, em detrimento da palavra “eu”. Os grandes ícones do Direito
Privado recebem uma denotação social: a família, o contrato, a propriedade, a posse, a
responsabilidade civil, a empresa, o testamento.

A função social da propriedade já estava prevista na CF 88 (art. 5º, XXII e XXIII, e art.
170,III), tendo sido reforçada pelo art. 1.228, §1º do CC.
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade
com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e
das águas.

9
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Como novidade de grande impacto, a função social dos contratos passou a ser tipificada em
lei, no art. 421 do CC. Trata-se de um princípio contratual de ordem pública, pelo qual o contrato
deve ser, necessariamente, visualizado e interpretado de acordo com o contexto da sociedade.
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função
social do contrato.

 PRINCÍPIO DA OPERABILIDADE:

Tem dois significados: primeiro, há o sentido de simplicidade, uma vez que o CC/02 segue
tendência de facilitar a interpretação e a aplicação dos institutos nele previstos (Ex. distinção feita
entre prescrição e decadência). Segundo, há o sentido de efetividade, ou concretude do Direito
Civil, o que foi seguido pela adoção do sistema de cláusulas gerais.

Percebe-se na atual codificação um sistema aberto ou de janelas abertas, em virtude da


linguagem que emprega, permitindo a constante incorporação e solução de novos problemas, seja
pela jurisprudência, seja por uma atividade de complementação legislativa.

As cláusulas gerais podem ser conceituadas como janelas abertas deixadas pelo legislador
para preenchimento pelo aplicador do Direito, caso a caso. São exemplos de cláusulas gerais
constantes no CC 02:

 Função social do contrato: art. 421.


 Função social da propriedade: art. 1.228, §1º.
 Boa-fé: arts. 113, 187 e 422.
 Bons costumes: arts. 13 e 187.
 Atividade de risco: art. 927, parágrafo único.

As cláusulas gerais têm um sentido dinâmico, o que as diferencia dos conceitos legais
indeterminados, construções estáticas que constam da lei sem definição. Assim, pode-se afirmar
que quando o aplicador do direito cumpre a tarefa de dar sentido a um conceito legal
indeterminado, passará ele a constituir uma cláusula geral.

Muitas das cláusulas gerais são princípios, mas não necessariamente. A função social do
contrato é princípio contratual, mas a cláusula geral de atividade de risco não é princípio da
responsabilidade civil.

A adoção do sistema de cláusulas gerais pelo CC/02 tem relação direta com a linha
filosófica adotada por Miguel Reale. É notório que o jurista criou a sua própria teoria do
conhecimento e da essência jurídica, a ontognoseologia jurídica, baseando-se em duas subteorias: o
culturalismo jurídico e a teoria tridimensional do direto:

a) Culturalismo Jurídico (plano subjetivo): Reale busca o enfoque no aspecto subjetivo, do


aplicador do direito. Três palavras orientarão a aplicação e as decisões a serem tomadas:
cultura, experiência e história, que devem ser entendidas tanto do ponto de visto do julgador
como do meio em que decisão será tomada.

b) Teoria Tridimensional do direito (plano objetivo) – para Miguel Reale, Direito é fato,
valor e norma. Ensina o mestre que a essa teoria vem sendo concebida desde 1940, distinguido-
se das demais teorias por ser “concreta” e “dinâmica”, eis que “fato, valor e norma estão sempre

10
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

presentes e correlacionados em qualquer expressão da vida jurídica, seja ela estudada pelo
filósofo ou sociólogo do direito, ou pelo jurista como tal, ao passo que na tridimensionalidade
genérica ou abstrata, caberia ao filósofo apenas o estudo do valor, ao sociólogo do fato e ao
jurista da norma.”

Fato, valor e norma serão imprescindíveis a apontar o caminho seguido para a aplicação do
Direito. Dessa forma, dar-se-á o preenchimento das cláusulas gerais, das janelas abertas. Por esse
processo os conceitos legais indeterminados ganham determinação jurídica, diante da atuação do
magistrado, sempre guiado pela equidade.

Primeiro, o magistrado julgará de acordo com a sua cultura, bem como do meio social. Os
elementos culturais e valorativos do juiz serão imprescindíveis para o preenchimento da
discricionariedade deixada pela norma privada. Ganha destaque o valor como elemento formador
do direito.

Segundo, tudo dependerá da história do processo e dos institutos jurídicos a ele


relacionados, das partes que integram a lide e também a história do próprio aplicador. Aqui, ganha
relevo o fato.

Por fim, a experiência do aplicador do direito, que reúne fato e valor simbioticamente,
visando à aplicação da norma. Esta, sim, elemento central daquilo que se denomina
ontognoseologia, a teoria do conhecimento, da essência jurídica, criada por Reale. Encaixa-se
perfeitamente a proposta de Reale, para que sejamos juristas (no ponto de vista das normas),
sociólogos (diante da análise dos fatos) e filósofos (sob o prisma dos valores).

O aplicador do direito deve estar atento à evolução tecnológica, para não tomar decisões
descabidas, como a de determinar o bloqueio de todos à internet para proteger determinada pessoa.

As cláusulas gerais são abertas e devem ser analisadas caso a caso. Frase-símbolo do atual
sistema: direito é fato, valor e norma.

1- DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL

Em princípio, o Direito Público tem como finalidade a ordem e a segurança geral, enquanto
o Direito Privado reger-se-ia pela liberdade e pela igualdade. Enquanto no Direito Público somente
seria válido aquilo que está autorizado na norma, no Direito Privado tudo aquilo que não está
proibido por ela seria válido. Mas essa dicotomia não é um obstáculo intransponível e a divisão não
é absoluta, como nada é absoluto nos nossos dias atuais.

O direito constitucional, portanto, está baseado em uma visão unitária do ordenamento


jurídico (Gustavo Tepedino). Tepedino entende que “é imprescindível e urgente uma releitura do
CC e das leis especiais à luz da CF”.

Os próprios constitucionalistas reconhecem o fenômeno de interação entre o Direito Civil e


o Direito Constitucional como realidade do que se convém denominar neoconstitucionalismo, ou da
invasão da CF.

Por tal interação, o D. Civil não deixará de ser D. Civil; e o D. Constitucional não deixará de
ser D. Constitucional. O D. Civil Constitucional nada mais é do q um novo caminho metodológico,
que procura analisar os institutos privados a partir da CF, e, eventualmente, os mecanismos
11
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

constitucionais a partir do CC e da legislação infraconstitucional, em uma análise de mão


dupla.

Três são os princípios básicos do D. Civil Constitucional (Tepedino):

1) Dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF): superprincípio ou princípio dos
princípios. A valorização da pessoa humana é um dos objetivos da República Federativa do
Brasil. A proteção da dignidade da pessoa humana, a partir do modelo de Kant, constitui o
principal fundamento da personalização do Direito Civil, da valorização da pessoa humana
em detrimento do patrimônio.

2) Visa a solidariedade social, outro objetivo da República (art. 3º, I, CF).

3) Princípio da isonomia ou igualdade lato sensu (art. 5º, caput, CF): “todos são iguais
perante a lei, sem qualquer distinção, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade”. Essa igualdade pode ser a mesma concebida pela seguinte expressão,
atribuída a Aristóteles e Ruy Barbosa: A lei deve tratar de maneira igual os iguais, e de
maneira desigual os desiguais. Do texto, nota-se na sua 1ª parte a consolidação do princípio
da igualdade stricto sensu (a lei deve tratar de maneira igual os iguais), enquanto a 2ª traz o
princípio da especialidade (...e de maneira desigual os desiguais). Essa é a essência da
igualdade substancial.

2- A EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

A eficácia horizontal dos direitos fundamentais é um que torna possível o D. Civil


Constitucional.

IMPORTANTE!!! Essa horizontalização dos direitos fundamentais nada mais é do que o


reconhecimento da existência e aplicação dos direitos que protegem a pessoa nas relações
entre particulares. Pode-se dizer que as normas constitucionais que protegem tais direitos têm
aplicação imediata (eficácia horizontal imediata), com base no art. 5º, §1º, CF.

A eficácia horizontal dos direitos fundamentais, “é indispensável no contexto de uma


sociedade desigual, na qual a opressão pode provir não apenas do Estado, mas de uma
multiplicidade de atores privados, presentes em esferas como o mercado, a família, a sociedade civil
e a empresa”.

Essa eficácia horizontal traz uma nova da matéria, eis que as normas de proteção da pessoa
previstas na CF sempre foram tidas como dirigidas ao legislador e ao Estado (normas
programáticas). Essa concepção anterior não mais prevalece.

Do ponto de vista da terminologia, não se justifica mais denominar a CF/88 como uma
Carta Política, fazendo crer que ela é mais dirigida ao legislador, tendo uma eficácia vertical.
Melhor denominá-lo, portanto, como uma Carta Fundamental, pela prevalência de sua
horizontalidade, ou seja, pela sua subsunção direta às relações interprivadas. Por exemplo, a
dignidade humana é conceito que pode ser aplicado em qualquer relação, independentemente de
qualquer ponte infraconstitucional.

12
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Como exemplo tem-se um julgado do STF em que a tese foi adotada para assegurar a ampla
defesa a associado que fora excluído do quadro de uma pessoa jurídica (STF, RE 201.819/RJ,
Informativo 405).

Existe uma relação inafastável entre essa eficácia das normas que protegem a pessoa nas
relações entre particulares e o sistema de cláusulas gerais adotado pelo CC.

2.1.3 O DIÁLOGO DAS FONTES

A tese do diálogo das fontes foi desenvolvida na Alemanha por Erik Jayme e trazida ao
Brasil por Claudia Lima Marques, da UFRGS.

A essência da teoria é que as normas jurídicas não se excluem – supostamente porque


pertencentes a ramos jurídicos diferentes –, mas se complementam.

A primeira tentativa de aplicação da tese do diálogo das fontes se dá com a possibilidade de


subsunção concomitante tanto do CDC quanto do CC a determinadas relações obrigacionais,
sobretudo aos contratos. Isso diante da já conhecida aproximação principiológica, entre os dois
sistemas, consolidada pelos princípios sociais contratuais, sobretudo pela boa-fé objetiva e pela
função social dos contratos. Supera-se a ideia de que o CDC seria um microssistema jurídico,
totalmente isolado do CC/02.

Claudia Lima Marques demonstra três diálogos possíveis a partir da teoria exposta:

a) Em havendo aplicação simultânea das duas leis, se uma lei servir de base conceitual
para a outra, estará presente o DIÁLOGO SISTEMÁTICO DE COERÊNCIA. Ex. os
conceitos dos contratos em espécie podem ser retirados do CC mesmo sendo o contrato de
consumo, caso de uma compra e venda (art. 481, CC).

b) Se o caso for de aplicação coordenada de duas leis, uma norma pode completar a outra,
de forma direta (DIÁLOGO DE COMPLEMENTARIDADE) ou indireta (DIÁLOGO DE
SUBSIDIARIEDADE). Ex. contratos de adesão que também são de consumo – em relação
às cláusulas abusivas, pode ser invocada a proteção dos consumidores constante do art. 51
do CC e ainda a proteção dos aderentes (art. 424 do CC).

c) Os DIÁLOGOS DE INFLUÊNCIAS RECÍPROCAS SISTEMÁTICAS estão presentes


quando os conceitos estruturais de uma determinada lei sofrem influências de outra. Assim,
o conceito de consumidor pode sofrer influências do CC. É a influência do sistema especial
no geral e vice-versa.

É imperioso dizer que também são possíveis diálogos entre o D. Civil e o do D. do


Trabalho. O D. do Trabalho é ramo do D. Privado, assim como o é o D. Civil.

Conforme o art. 8º da CLT, o direito comum e, logicamente, o D. Civil são fontes


subsidiárias do D. do Trabalho. Na verdade, pela aplicação da tese do diálogo das fontes, o que se
propõe é uma nova leitura desse comando legal. Não se deve mais considerar o D. Civil como
simples fonte subsidiária, mas, em alguns casos, como fonte direta do D. do Trabalho.

13
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Isso porque, em muitas situações atualmente comuns à prática trabalhista, não há normas de
D. do Trabalho regulamentando a matéria. Em tais casos é que as normas do CC serão aplicadas. A
EC 45/2004 ampliou enormemente a competência da Justiça do Trabalho.

Destaque-se que a teoria do diálogo das fontes surge para, no futuro, substituir e superar os
critérios clássicos de solução das antinomias jurídicas (hierárquico, especialidade e cronológico).
No momento, ainda é possível conciliar tais critérios com a referida tese.

3- A INTERAÇÃO ENTRE AS TESES EXPOSTAS E A VISÃO UNITÁRIA


DO ORDENAMENTO JURÍDICO

Há uma relação direta entre o diálogo das fontes, a constitucionalização do D. Civil, a


eficácia horizontal dos direitos fundamentais, a personalização do D. Civil e o sistema de cláusulas
gerais construído pela ontognoseologia realeana.

A constitucionalização do D. Civil nada mais é do que um diálogo entre o D. Civil e a CF


(D. Civil Constitucional). Com isso se vai até a CF, onde repousa a proteção da pessoa como
máxime do nosso ordenamento jurídico (personalização).

Para q essa proteção seja possível, deve-se reconhecer a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, ou seja, que as normas que protegem a pessoa, prevista no Texto Maior, têm
aplicação imediata nas relações entre particulares. A porta de entrada dessas normas protetivas, nas
relações privadas, pode se dar por meio das cláusulas gerais (eficácia horizontal mediata), ou
mesmo de forma direta (eficácia horizontal imediata).

Em síntese, percebe-se que todas essas teorias possibilitam a visão de um sistema unitário,
em que há mútuos diálogos e o reconhecimento da interdisciplinaridade. Assim está sendo
construído o D. Civil Contemporâneo.

14
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

LIVRO I
DAS PESSOAS
CAPÍTULO I
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE

1-CONCEITO DE PESSOA NATURAL

É o ser humano considerado sujeito de direitos e deveres. Para ser pessoa basta existir.

Toda a pessoa é dotada de personalidade, isto é, tem capacidade para figurar em uma
relação jurídica. Toda pessoa tem aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações
(personalidade).
Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

IMPORTANTE!!! Capacidade é a medida da personalidade. A que todos possuem (art. 1º) é a


capacidade de direito (de aquisição ou de gozo), mas nem todos possuem a capacidade de fato
(de exercício de direito), que é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil. Ex. Os loucos
e recém-nascidos somente tem capacidade de direito (de aquisição de direitos), mas não tem
capacidade de fato (de exercício).

IMPORTANTE!!! Capacidade não se confunde com legitimação. Esta é a aptidão para a prática de
determinados atos jurídicos.

Quem tem as duas espécies de capacidade tem a capacidade plena. Quem só tem a de
direito, tem capacidade limitada, por isso são chamado de incapazes.

2- DAS INCAPACIDADES

Não existe incapacidade de direito , pois todos se tornam capazes ao nascer. Existe,
portanto, somente incapacidade de fato ou de exercício. Incapacidade, portanto, é a restrição
ao exercício de atos da vida civil. E pode ser de duas espécies: absoluta e relativa.

A absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, do direito. O ato somente
poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz, sob pena de nulidade.

A relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido, sob pena
de anulabilidade. Alguns atos, entretanto, podem ser praticados sem a assistência de seu
representante legal, como por exemplo: ser testemunha, aceitar mandato, fazer testamento e etc...

15
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Na representação (incapacidade absoluta) o incapaz não participa do ato, que é praticado


somente pelo seu representante. Na assistência (relativa) reconhece-se ao incapaz certo
discernimento, e, portanto, é ele quem pratica o ato, não sozinho, mas acompanhado, assistido pelo
seu representante.

#O que é benefício de restituição?


Tem origem no direito romano e visava proteger menores e incapazes em geral, caso praticassem
determinado ato que lhes fosse prejudicial. Hoje, o benefício de restituição não pode ser invocado
pelo incapaz.

2.1 INCAPACIDADE ABSOLUTA


Art. 3o  São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos
da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.  (Redação dada pela Lei
nº 13.146, de 2015)

ATENÇÃO!!! Com o advento do estatuto da deficiência, são absolutamente incapazes


APENAS OS MENORES DE DEZESSEIS ANOS!!!! São os menores impúberes que ainda não
atingiram a maturidade suficiente para participar da atividade jurídica.

A partir da lei 13.146/2015 (Estatuto da Deficiência), as pessoas privadas do


necessário discernimento por enfermidade ou deficiência mental e os excepcionais com
desenvolvimento mental incompleto passaram a ser considerados
ABSOLUTAMENTE CAPAZES!!!!

2.2 INCAPACIDADE RELATIVA


Art. 4o São incapazes, RELATIVAMENTE a certos atos, ou à maneira de os
exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146,
de 2015) ;
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;  (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) 
IV - os pródigos.
Parágrafo único.  A capacidade dos indígenas será regulada por legislação
especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)

Como as pessoas listadas acima possuem algum discernimento, elas podem praticar
determinados atos por si só. Isto, porém, constitui exceção à regra, pois elas devem estar assistidas
por seus representantes para a prática de atos em geral, sob pena de anulabilidade.

2.2.1. Os Maiores De 16 e Menores De 18 Anos

São menores púberes. Podem praticar apenas determinados atos sem a assistência. Não se
tratando desses atos, eles precisam estar assistidos, sob pena de anulabilidade do ato.

IMPORTANTE!!! Art. 180 CC.


Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, NÃO PODE, para eximir-se
de uma obrigação, invocar a sua idade se DOLOSAMENTE a ocultou quando

16
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

inquirido pela outra parte, ou SE, NO ATO DE OBRIGAR-SE, DECLAROU-


SE MAIOR.

Se não houver malícia do menor, anula-se o ato para protegê-lo. Como ninguém pode
locupletar-se a custa alheia, se determina a restituição da importância paga ao menor, se ficar
provado que o pagamento nulo se reverteu em proveito dele. (art. 181 CC)

17
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! Art. 928 CC


Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios
suficientes (responsabilidade SUBSIDIÁRIA do menor).
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa,
não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

2.2.2. Os Ébrios Habituais e Os Viciados Em Tóxicos

IMPORTANTE!!! Somente os alcoólatras e toxicômanos são considerados relativamente


incapazes. Os usuários eventuais que, por efeito transitório dessas substâncias ficarem impedidos
de exprimir plenamente sua vontade estão também incluídos no rol dos relativamente incapazes,
porém, se encaixam no inc. III (os que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir
sua vontade). (art. 3º)

2.2.3. Os Que, Por Causa Transitória ou Permanente, Não Puderem Exprimir Sua
Vontade

Abrange as pessoas que não puderem exprimir suas vontades por causa transitória, ou em
virtude de alguma patologia. Com o advento do Estatuto da Deficiência, é POSSÍVEL (de
forma extraordinária) a interdição daqueles que não puderem exprimir sua vontade tanto por
causa permanente, como por causa transitória, estando tais sujeitos a curatela, conforme art.
1767, inc. I, do CC:

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:


I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015)

2.2.4. Os Pródigos

Pródigo é o individuo que dissipa seu patrimônio desvairadamente. O CC atual não permite
a interdição do pródigo para proteger seu cônjuge, ascendentes ou descendentes, mas sim, para
protegê-lo.

IMPORTANTE!!! O pródigo só ficará privado de praticar sem curador, atos que extravasam mera
administração e implicam comprometimento do patrimônio, como emprestar, transigir, alienar e etc.
Pode praticar validamente e sem necessidade de assistência os atos da vida civil que não envolvam
o seu patrimônio. Ex: casar, autorizar casamento dos filhos e etc...

2.2.5. Dos Índígenas

A capacidade dos índigenas está regulada em legislação especial.

3- CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE

Cessa a incapacidade quando cessar a sua causa e pela emancipação. A menoridade cessa
aos dezoito anos completos (primeiro instante do aniversário de 18 anos). Se nascido no dia 29 de
fevereiro de ano bissexto, completa a maioridade em 1º de março.

18
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

A emancipação pode ser de três espécies: voluntária, judicial ou legal.

Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica
habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento PÚBLICO, independentemente de homologação judicial
(VOLUNTÁRIA), ou por sentença do juiz, ouvido o tutor (tutor não emancipa),
se o menor tiver dezesseis anos completos; (JUDICIAL).
(abaixo são as hipóteses de emancipação LEGAL)
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha
economia própria.

A emancipação voluntária é concedida pelos pais se o menor tiver 16 anos completos.


Deve ser concedida por ambos os pais, ou um deles na falta do outro. A impossibilidade de
qualquer deles participar do ato deve ser comunicada em juízo. A divergência entre os pais deve ser
dirimida pelo juiz.

IMPORTANTE!!! Na emancipação voluntária é expressamente exigido o instrumento


público, independentemente de homologação judicial.

IMPORTANTE!!! A emancipação voluntária não produz efeito quanto a obrigação dos pais de
indenizar as vítimas dos atos ilícitos praticados pelo menor emancipado. Isto se dá para evitar
emancipações maliciosas (essa regra somente se aplica as emancipações voluntárias).
Responsabilidade SOLIDÁRIA entre os pais e o menor.

Se o menor estiver sob tutela, deve requerer sua emancipação ao juiz, que a concederá por
sentença, depois de verificar a conveniência do deferimento para o bem do menor.

IMPORTANTE!!! O tutor não emancipa, quem emancipa é o juiz através de sentença.

IMPORTANTE!!! A emancipação voluntária e judicial devem ser registradas em cartório,


não produzindo efeito antes do registro. A emancipação legal (casamento, emprego publico
etc.) NÃO depende de registro e produzirá efeitos desde logo, a partir do ato ou fato que a
provocou.

IMPORTANTÍSSIMO!!! A emancipação em qualquer de suas formas é IRREVOGÁVEL.


Entretanto, irrevogabilidade não se confunde com a invalidade do ato, que pode ser reconhecida.
Proclamada a nulidade, ou mesmo a anulabilidade do ato que causou a emancipação, o
emancipado retorna a situação de incapaz, salvo se a contraiu de boa fé.

Emancipação NÃO tem efeitos penais (o direito penal só se preocupa com a idade
biológica do sujeito). Por óbvio, cabe prisão civil, que não é penal.

O pagamento dos benefícios previdenciários deve observar os limites da legislação


previdenciária (até 21 anos), não levando em consideração a emancipação (assim como o direito
penal, o direito previdenciário só se preocupa com a idade biológica).

19
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

4- COMEÇO DA PERSONALIDADE NATURAL

A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, o que se constata com
a respiração. “Se a pessoa respirou, viveu”.
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

Nascendo vivo ainda que morra em seguida, o novo ente chegou a ser pessoa, adquiriu
direitos, e com sua morte os transmitiu.

Três teorias procuram explicar e justificar a situação jurídica do nascituro:

1ª) TEORIA NATALISTA: é a predominante no direito brasileiro. Sustenta que a personalidade


somente é adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não seria
considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito.

Obs. Vale acrescentar que no sistema brasileiro, diferentemente do art. 30 do CC da Espanha, não
se exige do recém nascido forma humana, nem sobrevida mínima (teste do pulmão na água. Teste
de Galeno).

É a que foi adotada (de modo mais claro) pelo CC/02. Por ser mais prática.

2ª) TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL: o nascituro, ao ser concebido, adquire


personalidade apenas para efeitos extra-patrimoniais, de modo que apenas consolida para efeitos
patrimoniais a sua personalidade a partir do nascimento com vida. Seriam dois momentos: no
momento em que é concebido só tem personalidade para efeitos não patrimoniais (vida...) e no
momento em que nasce com vida adquire capacidade plena.

3ª TEORIA CONCEPCIONISTA: sustentam que o nascituro goza de personalidade jurídica,


inclusive para efeitos patrimoniais (nascituro é pessoa). É a mais moderna e vem sendo
prestigiada no âmbito do Superior Tribunal de Justiça.

Segundo o pensamento de Bevilaqua, a despeito da sedução teórica da corrente


concepcionista, preferiu o legislador, por ser mais prática adotar a teoria natalista. Todavia, o
próprio autor reconhece a fragilidade desta corrente, ao reconhecer em diversos artigos do CC,
direitos do nascituro.

IMPORTANTE!!! O nascituro tem direito a alimentos, com a nova lei de alimentos gravídicos não
há discussão. São devidos sim, os alimentos ao nascituro.

#Nascituro tem direito a reparação por dano moral?


Mãe grávida que acompanhou a tortura do pai no regime militar. Danos morais reconhecidos.

Pai do nascituro assassinado. STJ reconheceu os danos morais por não ter podido
conhecer o pai. O fato de não ter conhecido o pai em vida vai diminuir o quantum. (Resp
399028/SP).

20
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

#Grávida com gestação interrompida em razão de acidente de trânsito tem direito ao


recebimento do Seguro DPVAT?

SIM. O STJ decidiu que, se uma gestante envolve-se em acidente de carro e, em virtude
disso, sofre um aborto, ela terá direito de receber a indenização por morte do DPVAT, nos
termos do art. 3º, I, da Lei 6.194/74. O Ministro Relator afirmou expressamente que, em
sua opinião, “o ordenamento jurídico como um todo – e não apenas o Código Civil de
2002 – alinhou-se mais à teoria concepcionista para a construção da situação jurídica do
nascituro, conclusão enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea.

#O natimorto goza de proteção jurídica?


Segundo a doutrina, sim, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana deve-se
respeitar o nome, a memória, a imagem daquele que nasceu morto. (enunciado nº 1 da 1ª
jornada de direito civil).

5- EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE NATURAL

Somente com a morte real termina a existência da pessoa natural, que pode ser também
simultânea (comoriência).

a) Morte real: prevista no art. 6º CC, ocorre com o diagnóstico da paralisação da atividade
encefálica. A sua prova se faz pela justificação, em caso de catástrofe e não encontro do corpo.
Acarreta a extinção do poder familiar, a extinção dos contratos personalíssimos, a extinção da
obrigação de pagar alimentos, dissolução do vinculo conjugal e etc.

b) Morte simultânea ou comoriência: A comoriência traduz uma situação em que duas ou mais
pessoas falecem na mesma ocasião, sem que se possa indicar a ordem cronológica dos óbitos.

Comoriência é um termo do Direito Civil que indica presunção legal de morte


simultânea de duas ou mais pessoas ligadas por vínculos sucessórios. Quando não se sabe
quem morreu primeiro, presumem-se simultâneos.

Dispõe o art. 8º do Código Civil de 2002:

Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se


podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-
se-ão simultaneamente mortos.

No Brasil não há presunção da ordem dos óbitos (Ex: o mais velho morre antes). Não
se podendo indicar a ordem dos óbitos, presume-se simultâneos.

IMPORTANTE!!! Não necessariamente no mesmo local e situação. Dá-se comoriência sempre


que não se puder identificar a ordem dos óbitos.

IMPORTANTE!!! Como efeito da comoriência, não há transferência de bens entre os


comorientes.

c) Morte civil: Há um resquício dela no CC, art. 1816, que trata o herdeiro, afastado da herança por
indignidade, como se ele “morto” fosse antes da abertura da sucessão. Mas somente para afastá-lo
da herança. Conserva, porém, a personalidade para os demais efeitos.
21
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

d) Morte presumida: com ou sem a declaração de ausência. Presume-se a morte quanto aos
ausentes quando a lei autoriza a sucessão definitiva.
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva.

A declaração de ausência produz efeitos patrimoniais, permitindo a abertura da sucessão


provisória, e depois a definitiva.

IMPORTANTE!!! O art. 7º do CC permite a declaração de morte presumida, para todos os


efeitos, sem decretação de ausência nos seguintes casos:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá
ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença
fixar a data provável do falecimento.

6- INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL

A pessoa natural se identifica na sociedade pelo nome, pelo estado e pelo domicílio.

6.1. NOME

Conceito: é a designação pela qual a pessoa se identifica no seio da família e da sociedade.


Alguns se identificam pelo pseudônimo. Dispõe o art. 19 CC:
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá
ao nome.

A utilização do nome ou pseudônimo de maneira ilícita gera direito a indenização.

6.1.1. Natureza Jurídica

O CC trata o nome como um direito da personalidade. Toda pessoa tem direito ao nome
(art. 16 CC).

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja
intenção difamatória.

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.

Trata-se de direito inalienável e imprescritível, essencial para o exercício regular dos direitos
e cumprimento das obrigações.

6.1.2. Elementos Do Nome Completo

Nome civil = prenome + sobrenome (+ agnome).


22
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Obs. Agnome é filho, neto, júnior, sobrinho... (William bossaneli Araujo neto). O agnome é
elemento opcional.

6.1.2.1. Prenome

Pode ser livremente escolhido pelos pais desde que não exponham o filho ao ridículo.
Irmãos não podem ter o mesmo nome, a não ser que seja duplo, estabelecendo a distinção.

6.1.2.2. Sobrenome

Sinal que identifica a pessoa indicando a sua filiação ou estirpe. É imutável. Adquire-se com
o nascimento e, portanto, não é escolhido. É obrigatório.

Obs. No caso de filho havido fora do casamento, não será lançado o nome do pai sem que este
expressamente o autorize. O reconhecimento dos filhos havido fora do casamento é irrevogável e
será feito pelos modos previstos no art. 1609 CC (escrito particular e testamento).

Obs. Pseudônimo (ou cognome). Trata-se do nome utilizado por alguém para fins profissionais
lícitos. O pseudônimo não é elemento componente do nome, mas merece a mesma proteção (art. 19
da lei de registros públicos)

IMPORTANTE!!! Nunca confundir pseudônimo com hipocorístico: o pseudônimo é o nome


utilizado para fins profissionais, o hipocorístico é um apelido carinhoso, uma forma de identificação
profissional e pessoalmente (lula, Xuxa, Pelé...).

Obs. O hipocorístico pode ser acrescentado ao nome (Luiz Inácio “lula” da Silva).

6.1.3. Imutabilidade Do Nome

Em se tratando de direito da personalidade, a lei de registros públicos reconhece a


possibilidade de mudança imotivada do nome, a partir do momento em que ele alcançar a
maioridade civil. Basta a vontade de mudar o nome, nada mais. Para essa mudança, o titular deve
requerer a mudança ao juiz. O prazo é de um ano, dos 18 aos 19 anos.

6.1.3.1. Hipóteses De Mudança Do Nome

Até 1999 o Brasil adotava o princípio da imutabilidade absoluta, só sendo possível a


mudança do nome nos casos previstos em lei. Hoje, somos regidos pelo princípio da
imutabilidade RELATIVA, é possível mudar não só nos casos previstos em lei, mas também
quando há justificativa plausível, utilizando-se do princípio da razoabilidade.

a) Hipóteses de mudança previstas em lei:

(1) adoção
(2) programa de proteção à testemunha (PROVITA)
(3) nome vexatório
(4) nomes ridículos ou exóticos

23
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

b) hipóteses não previstas em lei:

(1) acréscimo do sobrenome do padrasto (com base na tutela jurídica do afeto. É pacífico no
STJ).
(2) viuvez
(3) retirada do sobrenome do pai, que nunca deu atenção ao filho (STJ).

Obs. Mudança de nome no casamento e na dissolução do casamento:

 Art. 1565, §1º: permite a qualquer dos noivos acrescerem o nome um do outro. A
mudança de nome é uma faculdade, não uma obrigação.

 Art. 1578: como o nome é direito da personalidade, na separação e divórcio, a regra


geral é a manutenção do nome, só perde o sobrenome se quiser.

EXCEÇÃO: O cônjuge perde obrigatoriamente o nome se: (1) houver pedido expresso do outro
cônjuge; (2) culpa grave no divórcio/separação; (3) não causar prejuízo à identificação dos filhos;
(4) não causar prejuízo à identificação do próprio cônjuge (ex: Marta Suplicy). Essa á uma das
poucas hipóteses onde ainda se discute culpa no divórcio/separação.

6.2 ESTADO

É o seu modo particular de existir.

6.2.1. Aspectos

O estado apresenta três aspectos: individual ou físico, familiar e o político.

a) estado individual: modo de ser da pessoa quanto a idade, sexo, cor, altura, saúde (são ou insano)
e etc...

b) estado familiar: é o que indica a sua situação na família em relação ao matrimonio (solteiro,
casado, viúvo...) e ao parentesco (pai, filho...).

c) estado político: é a qualidade jurídica que advêm da posição do individuo na sociedade política,
podendo ser nacional (nato ou naturalizado) ou estrangeiro.

6.2.2. Caracteres

Características e atributos do estado:

a) Indivisibilidade: ninguém pode ser simultaneamente casado ou solteiro.


b) Indisponibilidade: trata-se de bem fora do comércio, sendo inalienável e irrenunciável.
c) Imprescritibilidade: não se perde nem se adquire o estado pela prescrição.

24
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO II
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

1- CONCEITO

Distinguem-se dos direitos de ordem patrimonial por não ter conteúdo econômico imediato e
não se destacar da pessoa de seu titular. São inerentes a pessoa humana, estando a ela ligados de
maneira perpétua.

Segundo Maria Helena Diniz são “direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é
próprio, ou seja, a sua integridade física; a sua integridade intelectual; e a sua integridade
moral.”

#E os entes despersonalizados?
Não têm personalidade jurídica, mas são sujeitos de direitos (podem ser contratantes, podem ser
empregado) e tem capacidade jurídica (capacidade de ser parte = pode ir a juízo). Frisa-se que,
por não ter personalidade jurídica, os entes despersonalizados NÃO gozam de direitos da
personalidade.

Obs. Discussão na ADIN 3510 sobre a possibilidade de pesquisa com células tronco embrionárias.
O PGR entendeu que não se poderia descartar o embrião para as pesquisas porque já se teria direitos
da personalidade. O STF entendeu que o embrião laboratorial não tem direitos da
personalidade, porque se tivesse seria impossível que se fizesse as pesquisas com ele.

É praticamente unânime na doutrina que os direitos da personalidade estão elencados num


ROL MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO. Seria impossível prever todos os direitos a
personalidade.

IMPORTANTE!!! O direito brasileiro traz uma cláusula geral de proteção à personalidade. Está
clausula geral é a dignidade da pessoa humana (art. 1º da CF), de modo que todos os direitos da
personalidade (tipificados ou não) passam pela dignidade da pessoa humana.

2- FUNDAMENTOS E CARACTERÍSTICAS
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária.

São também inalienáveis, imprescritíveis, absolutos (oponíveis erga omnes),


impenhoráveis e vitalícios.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade,
e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

25
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! O parágrafo único do art. 12 estabelece que “em se tratando de morto, terá
legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer
parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.”

IMPORTANTÍSSIMO!!! O art. 52 CC estabelece que “APLICA-SE ÀS PESSOAS


JURÍDICAS, no que couber, a proteção dos DIREITOS DA PERSONALIDADE.”

2.1. DANO MORAL

O dano moral depende da violação da personalidade, a simples e pura dor, sofrimento,


não é capaz de gerar indenização por dano moral.

Dano moral seria a violação aos direitos da personalidade (violação da honra, da imagem,
da privacidade, da integridade física). Não precisa ter dor, sofrimento para que se tenha dano
moral.

#É possível cumular dano moral com dano moral (duas categorias de dano moral)?
Sim. Ex. dano estético + dano à imagem. Isso é dano moral + dano moral.

O STJ aceita, de forma pacífica, a cumulação de danos morais com danos estéticos. Tal
entendimento encontra-se, inclusive, emoldurado na Súmula 387 do Superior Tribunal de Justiça.

IMPORTANTE!!! A jurisprudência do STJ, majoritariamente, não aceitava o punitive damage.


No Brasil o dano moral tem caráter meramente reparatório. O dano moral não se presta a punir o
infrator. Pablo Stolze lembra que embora ainda não aceita amplamente, a teoria do punitive
damage vem ganhando força, inclusive no STJ. Dupla faceta do dano moral (reparar e punir). Esse
panorama tem se alterado para a aceitação ampla da função punitiva do dano moral.

Obs. Se eu usar a imagem de alguém, indevidamente, para publicar no jornal só elogiando a pessoa,
mesmo assim, existe dano moral a reparar, porque o dano moral é a violação à direito da
personalidade (no caso imagem), mesmo sem ter havido depreciação do sujeito (dano à imagem
sem dano à honra).

Obs. Dano moral coletivo. Hoje já se fala em dano moral coletivo (art. 6º VI do CDC e art. 1º da
lei da ACP). Ex. dano ao meio ambiente do trabalho. Essa indenização reverte-se em favor da
coletividade, direcionado à um fundo (fluid Recovery - art. 13 da lei da ACP), e não em favor de
cada um dos lesados (que podem ingressar com ações individuais).

STJ - DANO MORAL COLETIVO. IMPOSSIBILIDADE (1ª


TURMA). É necessária a vinculação do dano moral com a idéia de
dor, sofrimento psíquico e de caráter individual, incompatível,
assim, com a noção de transindividualidade.

STJ - DANO MORAL COLETIVO. POSSIBILIDADE (2º


TURMA). Segundo a 2ª turma, o entendimento segundo o qual o
dano moral é incompatível com a idéia de transindividualidade não
pode mais prevalecer. O dano extra patrimonial coletivo prescinde
da idéia de dor, sofrimento ou abalo psíquico sofrido pelos
indivíduos. Manifesta-se no prejuízo à imagem e moral coletivas e
26
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

sua averiguação deve pautar-se nas características próprias aos


interesses difusos e coletivos. Destarte, o dano moral coletivo pode ser
examinado e mensurado.

O entendimento praticamente pacífico, hoje, é pela POSSIBILIDADE da fixação de dano


moral coletivo.

IMPORTANTÍSSIMO!!! #Pode existir dano moral contratual? A violação de um contrato,


por si só, pode implicar em dano moral?
COMO REGRA NÃO!!! O inadimplemento contratual vai gerar os efeitos do
inadimplemento (perdas e danos). O STJ, todavia, reconhece que, eventualmente, ao se
descumprir um contrato pode-se ferir a dignidade do outro contratante, caso em que haverá
dano moral contratual. Ex. Quando o plano de saúde nega assistência; corte de energia indevido e
etc.

#No que consiste o critério bifásico para fixação de dano moral aplicado por algum dos
ministros do STJ?

Pelo método bifásico, fixa-se inicialmente o valor básico da indenização, levando em conta a
jurisprudência sobre casos de lesão ao mesmo interesse jurídico. Assim, explicou o ministro,
assegura-se "uma razoável igualdade de tratamento para casos semelhantes". Em seguida, o
julgador chega à indenização definitiva ajustando o valor básico para mais ou para menos,
conforme as circunstâncias específicas do caso (gravidade do caso, sofrimento das vítimas,
condição financeira do responsável, número de autores e etc).

IMPORTANTE!!! A indenização por dano moral é calculada de acordo com o dano - sistema
aberto. Dessa forma, NÃO pode existir lei que limite a indenização (indenização tarifada).

IMPORTANTE!!! 2.2 DANOS SOCIAIS

O dano  social vem sendo reconhecido pela doutrina como uma nova espécie
de dano reparável, decorrente de comportamentos socialmente reprováveis, pois diminuem o nível
social de tranquilidade, tendo como fundamento legal o art. 944 do CC (A indenização mede-se
pela extensão do dano).
Danos sociais são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu
patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de
vida. Os danos sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa grave,
especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de segurança, e de
indenização dissuasória, se atos em geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do índice
de qualidade de vida da população. Alguns exemplos dados por Junqueira de Azevedo: o pedestre
que joga papel no chão, o passageiro que atende ao celular no avião, o pai que solta balão com seu
filho. Tais condutas socialmente reprováveis podem gerar danos como o entupimento de bueiros em
dias de chuva, problemas de comunicação do avião causando um acidente aéreo, o incêndio de
casas ou de florestas por conta da queda do balão etc.
 Desse modo, diante da ocorrência de ato ilícito, a doutrina moderna tem admitido a
possibilidade de condenação ao pagamento de indenização por dano social, como categoria inerente
ao instituto da responsabilidade civil, além dos danos materiais, morais e estéticos.

Registre-se, ainda, que na V Jornada de Direito Civil do CJF foi aprovado o Enunciado 455,
reconhecendo a existência do denominado dano social: "A expressão dano no art. 944 abrange não
27
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

só os danos individuais, materiais ou imateriais, mas também os danos sociais, difusos, coletivos e


individuais homogêneos a serem reclamados pelos legitimados para propor ações coletivas". Para
que haja a condenação em danos sociais, é necessário pedido nesse sentido, sob pena de
julgamento extra petita (STJ - Rcl 12.062-GO -2015).

Danos sociais não se enquadram como dano material, moral ou estético

O dano social é, portanto, uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os
danos materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente reprováveis,
que diminuem o nível social de tranquilidade. De igual forma, dano social não é sinônimo de
dano moral coletivo.

3- ATOS DE DISPOSIÇÃO DO PRÓPRIO CORPO

Dispõe o art. 13 e 14 CC:


Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo,
quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons
costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante,
na forma estabelecida em lei especial.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do


próprio corpo, no todo ou em parte, para DEPOIS DA MORTE.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer
tempo.

A comercialização de órgãos do corpo humano é expressamente vedada pela CF (art.


199 §4º).

IMPORTANTE!!! Aprovou-se na quarta jornada de Direito Civil o enunciado 276, com o seguinte
teor: “O art. 13 do CC, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência medica, autoriza a
cirurgia de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo CFM,
e a consequente alteração do prenome e do sexo no registro civil.”

4- TRATAMENTO MÉDICO DE RISCO


Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.

5- PROTEÇÃO A PALAVRA E A IMAGEM


Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra,
ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser
proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe
atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem a fins
comerciais.

28
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

A reprodução da imagem é reprodução da própria pessoa e somente ela pode autorizá-la. A


carta magna foi explícita em assegurar, ao lesado, direito a indenização por dano material ou moral
decorrente da violação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem da pessoa.

A reprodução da imagem para fins comerciais (ou não, conforme a jurisprudência), sem
autorização do lesado, enseja direito a indenização, ainda que não lhe tenha atingido a honra, a boa
fama ou a respeitabilidade.

6- PROTEÇÃO A INTIMIDADE
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do
interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato
contrário a esta norma.

Caso o dano, material ou moral, já tenha ocorrido, o direito a indenização é assegurado


expressamente pela CF (art. 5º X).

29
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO III
DA AUSÊNCIA

1- DA CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE

A situação do ausente passa por três fases:

a) Fase da curadoria (arts. 22 a 25 CC)


b) Fase da sucessão provisória (arts. 26 a 36 CC)
c) Fase da sucessão definitiva (arts. 37 a 39 CC)
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não
houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o
juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público,
declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.

Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o


ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o
mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.

Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de
fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo
curador.
§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos
descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o
cargo.
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.

2- SUCESSÃO PROVISÓRIA
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou
representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados
requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.

Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram


interessados:
I - o cônjuge não separado judicialmente;
II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.

Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá


efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe
em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e
partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.
30
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão
provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente.
§ 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta
dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória,
proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts.
1.819 a 1.823.

Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão
garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos
quinhões respectivos.
§ 1o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia
exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a
administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste
essa garantia.
§ 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge , uma vez provada a sua
qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse
dos bens do ausente.

Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por


desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína.

Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do


ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os
outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e
rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do
Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente.
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi
voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e
rendimentos.

Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida


a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos,
ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega
dos bens a seu dono.

Cessará a sucessão provisória pelo comparecimento do ausente e, converter-se-á em


definitiva: 1) quando houver certeza da morte do ausente, 2) dez anos depois de passado em
julgado a abertura da sucessão provisória, 3) quando o ausente contar 80 anos de idade e
houverem decorridos cinco anos das ultimas noticias suas.

3- DA SUCESSÃO DEFINITIVA
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a
abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão
definitiva e o levantamento das cauções prestadas.

Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o


ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias
dele.

Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão
definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão
só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou
o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens
alienados depois daquele tempo.
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não
regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se
31
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União,


quando situados em território federal.

TÍTULO II
DAS PESSOAS JURÍDICAS

1- CONCEITO

Pessoas jurídicas são entidades a que a lei empresta personalidade, capacitando-as a serem
sujeitos de direitos e obrigações. Atuam na vida jurídica com personalidade diversa dos indivíduos
que a compõe.

2- NATUREZA JURÍDICA

Várias teorias procuram explicar o fenômeno da pessoa jurídica. Podem ser divididas em
dois grupos: teorias da ficção e teorias da realidade.

2.1 TEORIAS DA FICÇÃO

Ficção legal: (Savigny) pessoa jurídica constitui uma criação artificial da lei.
Ficção doutrinaria: criação dos juristas e da doutrina.

Obs. Não são aceitas. O Estado é uma pessoa jurídica. Dizer que o estado é uma ficção é o mesmo
que dizer que o direito que dele provem também o é.

2.2 TEORIAS DA REALIDADE

Teoria da realidade objetiva: Sustenta que a pessoa jurídica é um ser com vida própria, realidade
sociológica, nasce por imposição das forças sociais. Criticas: grupos sociais não tem vida própria,
personalidade.

Teoria da realidade jurídica: Considera pessoas jurídicas organizações sociais destinadas a um


serviço ou ofício, e por isso, personificadas. Crítica: não esclarece as sociedades que se organizam
sem finalidade de prestar um serviço.

Teoria da realidade técnica: harmonizou as duas teorias anteriores. Para essa teoria, a pessoa
jurídica atua nas relações sociais, muito embora a sua personificação seja decorrência da técnica
jurídica. A doutrina costuma afirmar que a teoria da realidade técnica foi a adotada pelo CC
brasileiro no art. 45 (art. 45 a personalidade jurídica da pessoa jurídica começa com a inscrição do
ato constitutivo no registro).

3- REQUISITOS PARA A CONSTITUIÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

32
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

São três: vontade humana (intenção de criar uma entidade distinta da de seus membros),
observância das condições legais e licitude de seus objetivos (objetivos ilícitos ou nocivos
constituem causa de extinção da pessoa jurídica art. 69 CC).

A vontade humana materializa-se no ato de constituição. No caso das associações, esse


ato seria o estatuto. Em se tratando de sociedades simples ou empresárias seriam os contratos
sociais, e escritura pública ou testamento em se tratando de fundações.

O ato constitutivo deve ser levado a registro para que comece, então, a personalidade
jurídica da pessoa de direito privado. Antes do registro, não passará de mera sociedade de fato,
sociedade não personificada. O “nascimento” da pessoa jurídica se dá com o REGISTRO DO
ATO CONSTITUTIVO.

O registro do contrato social da sociedade empresária se dá na junta comercial, enquanto os


atos constitutivos e os estatutos das demais pessoas jurídicas se registram no cartório de registro
civil de pessoas jurídicas (CRPJ).

IMPORTANTE!!! Algumas pessoas jurídicas ainda precisam de autorização ou aprovação do


poder executivo. Art. 45 CC.
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando
necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no
registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em TRÊS ANOS o direito de anular a constituição das
pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o
prazo da publicação de sua inscrição no registro.

Obs. Art. 51 CC:

Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para
seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se
conclua.
§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua
dissolução.
§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às
demais pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa
jurídica.

De acordo com o art. 75, inc. IX do NOVO CPC, as sociedades sem personalidade jurídica
serão representadas ativa e passivamente em juízo, pela pessoa a quem couber a administração.

4- CLASSIFICAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

a) Quanto à nacionalidade: nacional e estrangeira.


b) Quanto estrutura interna: corporação (conjunto ou reunião de pessoas) e fundação (reunião
de bens)

A corporação visa à realização de fins internos, voltadas para seus sócios. A fundação ao
contrário tem fins externos, estabelecidos pelo instituidor. Na corporação também existe
patrimônio, mas é elemento secundário. Na fundação o patrimônio é elemento principal.

33
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

As corporações se dividem em associações e sociedades. Sociedades podem ser simples ou


empresárias. As associações não têm fins lucrativos, mas sim morais, culturais, desportivos ou
beneficentes.

IMPORTANTE!!! Art. 57 CC
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim
reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos
termos previstos no estatuto.
As sociedades simples têm fim econômico e visam lucro, que deve ser distribuído entre os
sócios. Em geral são constituídas por profissionais da mesma área. As sociedades empresárias
também visam lucro. Distinguem-se da sociedade simples porque tem objeto e exercício de
atividade própria de empresário. Aplicam-lhe no que couber a disposições concernentes as
associações.

Fundações constituem acervo de bens, que recebe personalidade para a realização de fins
determinados. Compõe-se de dois elementos: o patrimônio e o fim (estabelecido pelo instituidor e
não lucrativo). Poderão se constituir para fins religiosos, morais, culturais, de saúde, de segurança
alimentar e nutricional, de defesa e preservação do meio ambiente sustentável, de pesquisa
científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão,
produção e divulgação de informações, de promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos
direitos humanos e conhecimentos técnicos e científicos ou de assistência.

A formação de uma fundação passa por quatro fases:

1ª) Ato de dotação ou de instituição (reserva de bens livres com indicação dos fins). Faz se por
escritura pública ou testamento.

2ª) Elaboração dos estatutos. Elaboração direta (pelo próprio instituidor) ou fiduciária (por
pessoa de confiança, por ele designada).
Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo
ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o
estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da
autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo
instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá
ao Ministério Público.

3ª) Aprovação do estatuto. O estatuto é encaminhado ao MP para aprovação. O MP em 15 dias


aprovará o estatuto, indicará modificações que entender necessárias ou denegar-lhe aprovação.
Qualquer modificação no estatuto deve ser submetida à aprovação do MP, observando o art. 67 CC.

IMPORTANTE!!! Os bens da fundação são inalienáveis. Mas a inalienabilidade não é


absoluta. Comprovada a necessidade, a alienação pode ser autorizada pelo juiz, ouvido o MP,
aplicando-se o produto da venda na própria fundação. A venda sem autorização judicial é nula.

Obs. Art. 66 CC.


Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde
situadas.

34
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

§ 1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo


ao Ministério Público Federal. (Vide ADIN nº 2.794-8)
§ 1º Se funcionarem no Distrito Federal ou em Território, caberá o
encargo ao Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios.        (Redação dada pela Lei nº 13.151, de 2015)
§ 2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em
cada um deles, ao respectivo Ministério Público.

As fundações serão sempre supervisionadas pelo MP, que atua como fiscal da lei por
intermédio da curadoria das fundações (art. 66). Por regra, a atuação cabe ao MP estadual, com
duas exceções atualmente: caberá ao MPDFT o encargo de velar pelas fundações localizadas no
DF e nos Territórias (§1º, que incorporou o entendimento firmado na ADIN 2.794-8), e para as
fundações que funcionarem em várias unidades da Federação ao mesmo tempo, ou que estenderem
sua atividade por mais de um Estado ou Território, cabe a intervenção conjunta do MP de todos os
estados envolvidos (art. 66, §2º).

4ª) A do registro. Indispensável o registro, que se faz no CRPJ. Só com o registro a fundação
começa a ter existência legal.

A extinção da fundação se dá de acordo com o art. 69 CC:


Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a
fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público,
ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu
patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto,
em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou
semelhante.

c) Quanto à função: as pessoas jurídicas podem ser de direito público ou privado. As de direito
público podem ser de direito publico externo (República federativa do Brasil, santa sé, outras
nações, ONU e etc.) e de direito público interno. Estas podem ser da administração direta e indireta.
As pessoas jurídicas de direito privado são as corporações (sociedades e associações, partidos
políticos, associações religiosas, sindicatos) e fundações particulares.

Atenção!!! República Federativa do Brasil é pessoa de direito público externo; a União é pessoa
jurídica de direito público interno.

5- DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (DISREGARD


OF LEGAL ENTITY)
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio
de finalidade, OU pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a
REQUERIMENTO DA PARTE, OU DO MINISTÉRIO PÚBLICO (NÃO
PODE DE OFÍCIO) quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de
certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares
dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

IMPORTANTE!!! O juiz não pode desconsiderar a personalidade jurídica de ofício, pois a


desconsideração pressupõe um pedido (requerimento da parte ou MP). Este pedido é uma forma de
controle.

Requisitos:

35
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

1) Insolvência da pessoa jurídica (se for solvente, não há interesse).


2) Abuso da personalidade jurídica, pelo desvio de finalidade OU pela confusão patrimonial
(este abuso não pode ser confundido com a intenção de prejudicar).

IMPORTANTE!!! Para se desconsiderar a personalidade jurídica NÃO é necessária a prova do


dolo específico do sócio/administrador (intenção de prejudicar).

Obs. Desvio de finalidade é quando se desrespeita o objetivo social da entidade.

Obs. Confusão patrimonial é confundir o patrimônio da sociedade com o do sócio ou com o de


outra sociedade (controladora e controlada). Este tipo de desconsideração em que se afasta a
personalidade jurídica de uma entidade para se atingir o sócio(s) da pessoa jurídica que atua por trás
(controlada - controladora), denomina-se desconsideração INDIRETA (afasta-se a personalidade
jurídica de uma pessoa jurídica para se atingir outra pessoa jurídica).

Atenção!!! Desconsideração indireta é diferente de desconsideração inversa.

IMPORTANTE!!! A desconsideração da personalidade jurídica não decorre somente do desvio


dos fins estabelecidos no contrato social ou nos atos constitutivos, podendo o abuso também
consistir na confusão entre o patrimônio social e o dos sócios administradores. Os efeitos são
meramente patrimoniais e sempre relativos a obrigações determinadas, pois a pessoa jurídica
NÃO entra em processo de liquidação.

5.1 TEORIA MAIOR X TEORIA MENOR DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE


JURÍDICA.

A teoria maior, adotada no art. 50 do CC exige, além da insolvência (requisito


indispensável à existência de interesse de agir – há entendimento que dispensa esse requisito, mas
é minoritário), a prova de requisitos legais específicos – desvio de finalidade OU confusão
patrimonial.

Dica!!!: Teoria maior = mais requisitos, maior diploma (CC).

A teoria menor, mais favorável ao credor, exige apenas a demonstração de insolvência.


Tal teoria foi adotada pelo CDC, pelo direito ambiental e pelo direito do trabalho, onde se aplica
por analogia o CDC.

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando,


em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder,
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A
desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por
má administração.
§ 1° (Vetado).
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades
controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste
código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas
obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.

36
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua


personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores.

Dica!!! Teoria menor = menor número de requisitos e menor diploma (CDC)

O NOVO CPC trouxe o incidente de desconsideração da personalidade jurídica:

Art. 133.  O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será


instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber
intervir no processo.
§ 1o O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os
pressupostos previstos em lei.
§ 2o Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa
da personalidade jurídica.

Art. 134.  O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do


processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada
em título executivo extrajudicial.
§ 1o A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor
para as anotações devidas.
§ 2o Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da
personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será
citado o sócio ou a pessoa jurídica.
§ 3o A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2o.
§ 4o O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais
específicos para desconsideração da personalidade jurídica.

Art. 135.  Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para
manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.

Art. 136.  Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por


decisão interlocutória. (Recorrível por agravo de instrumento – art. 1015).
Parágrafo único.  Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.

Art. 137.  Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de


bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente.

5.2. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA

A pessoa física não tem nada e a pessoa jurídica tem tudo. Tudo o que a pessoa tem está em
nome da pessoa jurídica. Isto impossibilitaria, por exemplo, o pagamento de pensão.

Desconsideração inversa é quando se desconsidera a pessoa física para atingir a pessoa


jurídica.

#Especial perguntas e respostas sobre desconsideração da personalidade jurídica#

1) Diferencie, objetivamente, as teorias maior e menor da desconsideração da personalidade


jurídica das pessoas jurídicas.
 
No Direito pátrio as pessoas jurídicas são consideradas entidades dotadas de existência e
personalidade jurídica próprias distintas das dos seus membros. Com isso, infere-se que a pessoa
jurídica não se confunde com a figura dos seus sócios, sendo um ente completamente independente
37
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

e autônomo em relação a estes. Por conseguinte, via de regra, a pessoa jurídica responde
pessoalmente, com seu patrimônio próprio, pelas dívidas que contrai, não sendo possível atingir
bens particulares de seus membros para tanto.
 
Entretanto, paulatinamente, percebeu-se que, muitas vezes, os sócios abusavam da
personalidade independente da pessoa jurídica para praticar atos ilícitos de forma a ficarem imunes
e não serem atingidos. Para evitar tal situação, a doutrina norte-americana desenvolveu a teoria da
desconsideração da personalidade jurídica de forma a afastar, episodicamente, a personalidade
jurídica da pessoa jurídica e, assim, atingir o patrimônio pessoal dos sócios maliciosos.
 
Posteriormente, a doutrina evolui e traçou duas vertentes da teoria da desconsideração, uma
maior e outra menor. A TEORIA MAIOR é aquela em que se exige algo a mais, a presença de um
requisito específico (subjetivo ou objetivo) para que se efetive a desconsideração momentânea da
personalidade jurídica. Assim, subdivide-se em: a) teoria maior subjetiva (na qual se exige a
demonstração da fraude ou do abuso com a intenção deliberada de prejudicar terceiros ou fraudar a
lei); b) teoria maior objetiva (está centrada na mera disfunção da empresa por meio de
circunstâncias desatreladas da vontade, a exemplo da confusão patrimonial ou desorganização
societária).
 
A TEORIA MENOR, por sua vez, abrange toda e qualquer situação em que há
comprometimento do patrimônio dos sócios por obrigações da empresa, bastando o mero prejuízo
ao credor para que se possa afastar a personalidade da pessoa jurídica. Não se exige qualquer
requisito subjetivo ou objetivo.

Observa-se, pois, que o ordenamento jurídico doméstico abraçou a TEORIA MAIOR OBJETIVA
no art. 50 do CC/2002 (note que não se exige a prova da intenção fraudulenta) e a teoria menor
no art. 28, § 5º, do CDC.
 
2) Analise, resumidamente, as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica
previstas no CC/2002.
 
O CC/2002 retratou a teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica na sua
vertente objetiva, pois que não demanda a demonstração da intenção fraudulenta do sócio para que
se possa atingir o patrimônio pessoal deste. Para tanto, basta que se constate uma disfunção da
empresa, ou seja, um abuso da personalidade social que pode se dar de duas formas: a) pelo desvio
de finalidade; b) pela confusão patrimonial.

O DESVIO DE FINALIDADE sugere a prática de ato estranho ao objeto social da pessoa


jurídica que ocasiona prejuízos, diretos ou indiretos, para terceiros ou mesmo para os demais sócios.

A CONFUSÃO PATRIMONIAL, por sua vez, ocorre na medida em que o sócio se utiliza
do patrimônio da pessoa jurídica para efetuar pagamentos de dívidas pessoais ou vice-versa,
atentando contra o princípio da separação patrimonial da entidade e de seus membros.

Todavia, insta ressaltar que, embora seja dispensado o elemento subjetivo (intenção
fraudulenta) é necessária a demonstração do abuso da personalidade, por isso uma mera
irregularidade não é suficiente para que se afaste, provisoriamente, o “véu da sociedade”, assim
como não é requisito para a aplicação da desconsideração a comprovação da insolvência da pessoa
jurídica (polêmico – maioria entende que tem que demonstrar a insolvência). Também é

38
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

relevante notar que, uma vez desconsiderada a personalidade da pessoa jurídica, deve-se atingir o
patrimônio tão somente dos sócios abusivos.

Por fim, é de se rememorar o teor do enunciado 146 da Jornada de Direito Civil: “nas
relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de desconsideração da personalidade
jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalidade ou confusão patrimonial)”.

3) O que vem a ser a “desconsideração inversa” da personalidade jurídica?


 
A desconsideração da personalidade jurídica decorreu da observação de que, por vezes, os
membros de uma pessoa jurídica abusavam da autonomia e independência da entidade para praticar
atos ilícitos de forma que a responsabilidade civil por tais atos ficaria limitada ao ente moral,
deixando os sócios abusivos impunes. Isto porque, em regra, vige o princípio da separação
patrimonial, por meio do qual a pessoa jurídica assume personalidade jurídica e agrega patrimônio
próprio, distintos dos seus membros.

Assim, em casos de abuso da personalidade jurídica, admite-se a desconsideração


momentânea desta para que se possa atingir o patrimônio pessoal dos sócios para saldar dívidas
sociais.  A chamada desconsideração inversa é, como o próprio nome sugere, o reverso da situação
posta, ou seja, é o caso de a pessoa jurídica responder com seu patrimônio por dívidas pessoais
de seus membros.
 
Conquanto seja hipótese excepcional, a jurisprudência nacional já contempla essa
possibilidade, especialmente em sede de Direito de Família, quando o sócio casado transfere bens
que fariam parte da comunhão matrimonial para a pessoa jurídica objetivando fraudar o regime
patrimonial do casamento.

É o que sintetiza o enunciado 283 da Jornada de Direito Civil que reconhece ser “cabível a
desconsideração da personalidade jurídica denominada ‘inversa’ para alcançar bens de sócio que se
valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiro”.

4) O Judiciário pode determinar a desconsideração da personalidade jurídica da pessoa


jurídica de ofício? É preciso a citação pessoal dos sócios para que se possa desconsiderar a
personalidade?
 
Não. A princípio, a aplicação da teoria em apreço demanda iniciativa da parte ou do
Ministério Público (salvo nos casos em que se envolve relação de consumo ou direito
ambiental, onde se aplica a Teoria Menor).

Inclusive, a doutrina civilista mais abalizada sustenta que a própria pessoa jurídica pode
pedir a desconsideração de sua personalidade para atingir o patrimônio de seus membros. É o que se
concluiu no Enunciado 285 da Jornada de Direito Civil: “a teoria da desconsideração, prevista no
art. 50 do Código Civil, pode ser invocada pela pessoa jurídica em seu favor”.

Quanto a necessidade de citação pessoal dos sócios, com o advento do NOVO CPC, restou
assim regrado:

Art. 135   Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-
se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.

39
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Se a desconsideração for requerida na petição inicial: § 2o Dispensa-se a instauração do


incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial,
hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.

5) Há alguma relação entre a teoria “ultra vires” e a desconsideração da personalidade


jurídica?
 
A pessoa jurídica tem personalidade jurídica e patrimônio próprio, distinto de seus membros.
Sendo assim, via de regra, é a pessoa jurídica quem responde com seus bens pelas dívidas sociais,
sendo inatingível o patrimônio pessoal dos sócios.

Esta regra aplica-se, inclusive, quando os administradores da pessoa jurídica praticam atos
estranhos ao objeto social e com isso causam prejuízo a terceiros por aplicação da teoria da
aparência. Ressalvam-se, no entanto, as hipóteses em que a limitação de poderes do administrador
conste do estatuto social ou, de alguma forma, seja do conhecimento do terceiro ou, ainda, o ato
praticado seja evidentemente estranho ao objeto social da pessoa jurídica (art. 1.015, parágrafo
único, do CC/2002). É o que a doutrina chama de teoria ultra vires (a pessoa jurídica responde por
ato praticado por seus administradores em excesso de poderes).

A teoria da desconsideração, por sua vez, é situação inversa, na qual se afasta,


provisoriamente, a personalidade própria da pessoa jurídica para se atingir o patrimônio pessoal do
sócio no caso de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial (art. 50, do CC/2002).

Portanto, a princípio, são situações diversas com soluções jurídica díspares. Há, porém, certa
aproximação nas hipóteses que excepcionam a teoria ultra vires, pois, nestes casos, também os
administradores responderão com seu patrimônio pessoal pelas dívidas que contraíram em nome da
pessoa jurídica com excesso de poderes, mas, em tais situações, os requisitos legais são diversos.

6) Como se caracteriza a desconsideração “expansiva” da personalidade jurídica?


 
Considerando que as pessoas jurídicas têm personalidade jurídica e patrimônio próprio,
distinto de seus membros, em princípio, são elas mesmas quem respondem por suas dívidas sociais,
não sendo possível atingir o patrimônio pessoal dos sócios. No entanto, havendo abuso da
personalidade da pessoa jurídica pelos sócios, seja pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, é possível desconsiderar a personalidade da entidade e, assim, responsabilizar,
pessoalmente, seus membros (art. 50, CC/2002).

Inclusive, atualmente já se fala na doutrina na expansão da desconsideração da


personalidade jurídica como forma de atingir o patrimônio de sócios ocultos que, por vezes,
encontram-se escondidos na empresa controladora. É o caso, por exemplo, de os sócios resolverem
encerrar irregularmente a atividade da pessoa jurídica e, paralelamente, criar outra sociedade, cujas
atribuições são idênticas, ou ao menos bem assemelhadas, às da primeira, como forma de fraudar a
lei. Nestas situações, fala-se na desconsideração expansiva da personalidade jurídica para,
episodicamente, afastar o véu da sociedade nova e responsabilizar os sócios que nela se
ocultam. A jurisprudência tem aceitado essa expansão, desde que comprovada a presença do sócio
oculto.

40
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

7) É viável a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica em processo


administrativo?
 
Conquanto não haja previsão expressa na legislação, há renomada doutrina que sustenta a
possibilidade de o Poder Público, independentemente de decisão judicial, desconsiderar a
personalidade jurídica quando constatar fraudes ou abusos, sobretudo em procedimentos
licitatórios e, assim, evitar prejuízo ao Erário ou à qualidade dos serviços públicos.

Por certo, devem ser observados os requisitos legais dispostos no art. 50, do CC/2002, além
do devido processo legal, assegurando-se o contraditório e a ampla defesa. É o que explicam
ROSENVALD e CHAVES ao lecionar que: “independentemente de decisão judicial, é possível
ao Poder Público desconsiderar a personalidade jurídica para obstar que sociedades de
fachada celebrem contratos com o Estado ou declarar a ineficácia de determinados atos que
impliquem em prejuízo aos interesses públicos ou violação a texto legal. Sempre, porém,
dependendo da prova de ocorrência de um dos requisitos contemplados no art. 50 do Código
Civil”.
 
Também o STJ já teve oportunidade de abraçar a teoria, asseverando que “a Administração
Pública pode, em observância ao princípio da moralidade administrativa e da indisponibilidade dos
interesses públicos tutelados, desconsiderar a personalidade jurídica de sociedade constituída com
abuso de forma e fraude à lei, desde que facultado ao administrado o contraditório e a ampla defesa
em processo administrativo regular” (STJ, ROMS 15166/BA, DJU 08/09/2003).

8) Admite-se a desconsideração da personalidade jurídica quando há insuficiência do capital


social subscrito pelos sócios?
 
Ao firmarem o contrato social, os sócios assumem diversas obrigações, dentre as quais se
encontra o pagamento à sociedade da sua respectiva participação na formação do capital social. A
este ato dá-se o nome de subscrição, por meio do qual o sócio promete transferir à pessoa jurídica
determinado valor ou bens, quando, então, fala-se que o capital social estará integralizado.

Todavia, enquanto não integralizado por completo o capital social, o sócio responde
solidária e integralmente pelas dívidas da empresa, caso esta se mostrar insolvente. Observa-se,
pois, que a subcapitalização implica na tentativa de reduzir os riscos do empreendimento, na medida
em que o sócio que deixa de integralizar sua cota social não arrisca perder seu patrimônio se a
atividade da empresa acarretar prejuízos.

Por tal razão, ROSENVALD e CHAVES defendem que “em casos tais, nos quais ocorre a
infracapitalização de uma sociedade, há de se aplicar a desconsideração da personalidade jurídica
com base no abuso praticado pelo sócio que pretendeu fugir dos prováveis riscos do negócio,
atendido um de seus pressupostos legais”.

9)  Explique, objetivamente, em que situação pode ocorrer a desconsideração indireta da


personalidade jurídica.

A desconsideração indireta não se confunde com a hipótese de desconsideração inversa.


Nesta última, ocorre o contrário da regra geral, ou seja, a pessoa jurídica é chamada a responder por
dívida pessoal de seu sócio em casos como o de transferência de patrimônio do casal para a empresa
como forma de fraudar o regime matrimonial de bens.

41
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

A DESCONSIDERAÇÃO INDIRETA, por sua vez, subsiste com frequência nos casos de
empresas controladora e controlada, sobretudo quando a primeira se utiliza da segunda para
praticar fraudes e abusos diversos, sendo possível, nestes casos, levantar o véu da sociedade
controlada para atingir o patrimônio da controladora. É o que ensinam ROSENVALD e
CHAVES:

“Nessa hipótese, encontra-se a chamada desconsideração indireta da personalidade


jurídica, através da qual é permitido o levantamento episódico do véu protetivo da empresa
controlada para responsabilizar a empresa-controladora (ou coligada...) por atos praticados com
aquela de modo abusivo ou fraudulento”.

6- EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

A dissolução convencional é aquela deliberada pelos próprios sócios ou administradores.

A dissolução administrativa decorre da cassação do ato de funcionamento (ex: BACEN


cassando licença do banco).

A dissolução judicial se dá por meio de processo (falência e recuperação).

A dissolução legal se dá em razão de motivo determinante em lei.

A dissolução natural resulta da morte de seus membros.

42
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

TÍTULO III
DO DOMICÍLIO

1- DOMICÍLIO DA PESSOA NATURAL

É em regra no foro de seu domicilio que o réu é procurado para ser citado.

1.1. CONCEITO

É a sede jurídica da pessoa. É onde ela se presume presente para efeitos de direito. Onde
pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos.

Domicílio é o lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo (art. 70
CC). Portanto RESIDÊNCIA é o elemento objetivo do conceito de domicilio . O elemento
subjetivo é o ÂNIMO DEFINITIVO. Domicílio não se confunde com habitação ou morada,
sendo esses, locais onde a pessoa ocupa esporadicamente.

Uma pessoa pode ter um só domicilio e várias residências. Pode também ter mais de um
domicilio. Basta que tenha diversas residências onde alternativamente viva.

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.

O art. 72 CC consagra o domicilio profissional:


Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à
profissão, o lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um
deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

43
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

É possível que alguém tenha domicílio sem ter residência fixa. Caso dos ciganos,
andarilhos e etc. Eles têm seu domicílio onde forem encontrados.
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual,
o lugar onde for encontrada.

1.2 ESPÉCIES DE DOMICÍLIO

O domicílio pode ser voluntário ou necessário.

Voluntário: pode ser geral (fixado livremente) ou especial (fixado com base no contrato:
foro contratual ou de eleição). O geral pode ser mudado de acordo com o art. 74 CC.
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta
de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às
municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não
fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.

O domicílio fixado em contrato é previsto no art. 78 CC.


Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde
se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.

O foro de eleição está previsto no art. 63 do NOVO CPC. A parte por este beneficiada pode
abrir mão do privilegio e ajuizar a ação no domicilio do réu. Não se tem admitido o foro de
eleição no contrato de adesão, salvo demonstrando a inexistência de prejuízo para o aderente.

Art. 63.  As partes podem modificar a competência em razão do valor e do


território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e
obrigações.
§ 1o A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e
aludir expressamente a determinado negócio jurídico.
§ 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes.
§ 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser
reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao
juízo do foro de domicílio do réu.
§ 4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro
na contestação, sob pena de preclusão.

Domicílio necessário ou legal: é o determinado pela lei, em razão da condição ou situação


de certas pessoas.
Art. 76. Têm DOMICÍLIO NECESSÁRIO o incapaz, o servidor público, o
militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O DOMICÍLIO DO INCAPAZ é o do seu representante ou
assistente; o do SERVIDOR PÚBLICO, o lugar em que exercer
permanentemente suas funções; o do MILITAR, onde servir, e, sendo da
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado; o do MARÍTIMO, onde o navio estiver
matriculado; e o do PRESO, o lugar em que cumprir a sentença.

IMPORTANTE!!! O domicílio do preso é o local onde ele se encontra cumprindo a sentença, ou


seja, tem que ser preso condenado e não provisório.

44
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

2- DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA


Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas
diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu
estatuto ou atos constitutivos.
§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes,
cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.
§ 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por
domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das
suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

LIVRO II
DOS BENS

1- NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Bens são coisas materiais ou imateriais úteis aos homens e de expressão econômica,
suscetíveis de apropriação.

A distinção entre bens corpóreos e incorpóreos não foi acolhida pela nossa legislação.
Corpóreos são os bens que tem existência física ou material, e podem ser tangidos pelo homem
(podem ser objetos de compra e venda). Incorpóreos são os que têm existência abstrata, mas tem
valor econômico, como o direito autoral, o crédito e etc. (é objeto de cessão). Ambos integram o
patrimônio da pessoa.

Em sentido amplo, o conjunto de bens, de qualquer ordem, pertencentes a um titular,


constitui o seu patrimônio.

Certas coisas, insuscetíveis de apropriação pelo homem, como o ar atmosférico, o mar e etc.
são chamados de coisas comuns, elas não podem ser objeto de relação jurídica. Entretanto, sendo
possível sua apropriação em porções limitadas, tornam-se objeto de direito.

As coisas sem dono são chamadas de res nullius. Podem ser apropriada por quem a
encontrar. A coisa móvel abandonada é chamada de res derelicta. O seu titular a lançou fora com
a intenção de não a ter mais pra si, ela pode ser apropriada por outra pessoa.

2- CLASSIFICAÇÃO

2.1. BEM DE FAMÍLIA


45
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

2.1.1 Bem de família VOLUNTÁRIO (arts. 1.711 e ss. do Código Civil).

 Conceito – O bem de família voluntário é instituído por ato de vontade do casal (casado ou
em união estável – unidade familiar) ou por ato de terceiro e registrado no Cartório de
Imóveis (art. 167, I, 1, da LRP).

Para instituir o bem de família voluntário na forma do Código Civil se deve lavrar um
instrumento constituindo aquele imóvel como bem de família e levar o registro ao cartório de
imóveis. Exige, pois:

1) manifestação de vontade e
2) registro.

 Efeitos - Feita essa inscrição no cartório de imóveis, dois efeitos decorrem do bem de
família voluntário:

 Impenhorabilidade
Relativas
 Inalienabilidade

A partir do momento que os instituidores registram o bem de família voluntário, ele se torna,
a partir dali, inalienável. Perde-se a liberdade de vendê-lo ou doa-lo como antes. Agora, para fazer
isso, é necessária a observância de certas formalidades que antes não havia. A inalienabilidade está
prevista no art. 1.717, do Código Civil:

Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família,


não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o
consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério
Público.

Então, para vender o bem de família, tem que colher a manifestação de todos os
interessados, não só da minha vontade, mas também da minha esposa e, se houver incapazes, há
intervenção do MP. Para poder vender, é preciso CANCELAR o registro do bem de família.

“Registrado o bem de família voluntário, ele se torna impenhorável por dívidas futuras,
com as ressalvas do art. 1.715.”

Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua
instituição, SALVO as que provierem de TRIBUTOS relativos ao prédio, ou de
despesas de condomínio.
Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo
existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da
dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem
outra solução, a critério do juiz.

A impenhorabilidade que deriva da instituição do bem de família voluntário, como se vê,


NÃO É ABSOLUTA.

 Características especiais do bem de família voluntário – O novo Código Civil trouxe


duas grandes inovações no tratamento do bem de família voluntário.

46
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

a) O bem de família não poderá ultrapassar o teto de 1/3 do patrimônio líquido dos
instituidores.

b) O bem de família poderá abranger valores mobiliários (inclusive rendas).”

Não pode bem de família voluntário ultrapassar 1/3 do patrimônio dos instituidores.

Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura


pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de
família, DESDE QUE NÃO ULTRAPASSE UM TERÇO DO PATRIMÔNIO
LÍQUIDO EXISTENTE AO TEMPO DA INSTITUIÇÃO, mantidas as regras
sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.
Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por
testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos
os cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.

O terceiro aí é um avô, por exemplo, dizer que deixa um apartamento e que esse
apartamento será seu bem de família voluntário.

O Código permite que na mesma escritura que afeta o apartamento como bem de família, se
afete também um VALOR MOBILIÁRIO, uma renda que mantém o imóvel. Não é qualquer
renda, mas uma renda que conserva o imóvel.

Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com
suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar,
e PODERÁ ABRANGER VALORES MOBILIÁRIOS, cuja renda será
aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.

Então, o valor que eu tenho depositado em fundo de investimento é valor mobiliário. Eu


posso dizer na escritura, que transformo em bem de família o apartamento e a renda que o mantém.

Obs. Situação diversa pode ocorrer: por necessidade econômica, o casal poderá ser compelido a
alugar o seu único imóvel residencial. Pergunta-se: #Neste caso, a renda proveniente do aluguel é
impenhorável pelas regras do bem de família?

Por necessidade econômica, o casal teve que sair do imóvel. Alugou a única casa que tinha e
passou a viver na casa de parentes, vivendo da renda de aluguel do seu único imóvel. #A renda de
aluguel que seu imóvel produz e que mantém a família é impenhorável?

“O STJ já pacificou entendimento no sentido de ser impenhorável a renda produzida pelo


único imóvel residencial locado a terceiros. (REsp 439.920/SP)”

 Administração do bem de família voluntário – art. 1.1720.

Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do


bem de família COMPETE A AMBOS OS CÔNJUGES, resolvendo o juiz em
caso de divergência.
Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração
passará ao filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.

 Extinção do bem de família voluntário – art. 1.722

47
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os


cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela.

2.1.2 Bem de família LEGAL (regulado pela Lei nº 8.009/90)

Esse sim, diferentemente do voluntário, protege a todos nós. O BFL é disciplinado pela
Lei n.º 8.009/90.

IMPORTANTE!!! Essa lei que consagrou o bem de família legal poderia ser aplicada para
situações de penhora anteriores a ela? Sabemos que lei civil não retroage. O que retroage é
norma penal benéfica. O STJ, em uma interpretação social de resgate à dignidade da pessoa
humana, a despeito de todos nós sabermos que o ato jurídico perfeito deve ser preservado, sumulou
que a Lei 8009 poderia ser aplicada para situações anteriores à sua vigência.

“A Súmula 205, do STJ, resguardando o âmbito existencial mínimo da pessoa do devedor,


admite a aplicação da Lei 8009/90 para penhoras realizadas antes da sua vigência.”

IMPORTANTE!!! A lei 8009 resguarda o bem de família de todos, independentemente de


registro cartorário.

Alcance do bem de família legal:

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é


impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial,
fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais
ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas
nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se
assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os
equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa,
desde que quitados.

#Qual é a hermenêutica do STJ em relação a essa interpretação do parágrafo único? A


proteção atinge vários bens. É ampla. Contudo, em mais de um julgado, interpretando o alcance do
bem de família legal, o imóvel, em algumas hipóteses, pode ser desmembrado para efeito de
penhora. Isso é limitar o alcance da norma.

“O STJ, em mais de uma oportunidade (REsp 206.693/SC, REsp 510.643/DF, REsp


501.122/RS), bem como no noticiário de 15/05/2007, tem admitido o desmembramento do imóvel
para efeito de penhora.”:

Esta Corte Superior tem entendimento firmado de ser adequada a penhora de parte do
bem imóvel não utilizada para fins residenciais, ainda que, no registro imobiliário, haja
somente uma matrícula, quando o desmembramento não prejudicar a garantia de moradia da
família. (AgInt no REsp 1456845/PR, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 13/09/2016, DJe 19/10/2016)

#Quais são os bens móveis protegidos pela Lei 8.009?

Art. 2º EXCLUEM-SE DA IMPENHORABILIDADE os veículos de transporte,


obras de arte e adornos suntuosos.

48
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens


móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do
locatário, observado o disposto neste artigo.

A lei não diz o que está protegido. Diz o que não está protegido.

Exemplos, na jurisprudência brasileira e doutrina, de bens móveis protegidos pela Lei 8.009:
Freezer, máquina de lavar, máquina de secar, computador, televisão, ar-condicionado, instrumento
musical (teclado).

#Vaga de garagem é protegida pela Lei 8009? Cuidado com CESPE porque STJ tem firmado
entendimento a respeito disso:

IMPORTANTE!!! O STJ já consolidou que vaga de garagem com matrícula e registro


próprios é penhorável e NÃO constitui bem de família: Súmula 449.

A garagem, se tiver registro separado, vai ser penhorada. Se estiver conjugada com a área
privativa do apartamento, está protegida. A questão é investigar se há matrícula e registros
separados ou não para efeito de penhora.

O teto de 1/3 do patrimônio líquido é instituído para o bem de família voluntário. A lei 8009
protege o seu apartamento independentemente de valor.

IMPORTANTE!!! Essa impenhorabilidade do bem de família legal NÃO é absoluta, É relativa.

 Exceções à impenhorabilidade do bem de família legal (ponto mais importante)

São aquelas trazidas pelo art. 3º. Doutrinariamente, entende-se que essas exceções à
impenhorabilidade do bem de família da lei 8009/90, que são de ordem pública, devem ser
aplicadas também ao bem de família voluntário, sob pena de se abrir uma grande brecha para
fraudes no direito brasileiro:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil,


fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, SALVO SE MOVIDO:
I - (REVOGADO pela LC 150/2015).

O inc. I trazia a hipótese em que o bem de família poderia ser penhorado para o pagamento
dos créditos dos trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias,
porém tal possibilidade foi REVOGADA pela LC 150/2015.

II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à


aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do
respectivo contrato;

Se o agente financeiro financiou a construção ou a aquisição de sua casa própria não dá para
opor contra ele um bem de família.
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem,
do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal,
observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida;        (Redação
dada pela Lei nº 13.144 de 2015)

49
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Não haverá proteção contra bem de família se o processo foi movido pelo credor de
pensão alimentícia. A esposa ingressou com execução, o apartamento do ex-marido devedor pode
ser penhorado.

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas


em função do imóvel familiar;

É o caso do processo movido para cobrança de impostos (predial ou territorial), taxas e


contribuições devidas em função do imóvel. Esse inciso IV se baseou no conceito de tributo
(imposto, taxa e contribuição) e diz que não há proteção do bem de família se o processo foi
movido para pagamento de imposto devido em função do imóvel (IPTU, ITR, etc.). A exceção
da lei refere-se à cobrança de tributos vinculados ao imóvel.

Obs. “O Supremo Tribunal Federal já firmou entendimento, seguido pelo STJ, no sentido de que A
COBRANÇA DE TAXA DE CONDOMÍNIO RESULTA TAMBÉM NA PENHORA DO
IMÓVEL (RE 439.003/SP)”.

Condomínio não é tributo, mas o STF deu uma interpretação extensiva pelo fundamento de
política social.

Eros Grau em RE: “A relação condominial é tipicamente relação de comunhão de escopo.


O pagamento de contribuição condominial, obrigação propter rem, é essencial à conservação da
propriedade, vale dizer, à garantia da subsistência individual e familiar à dignidade da pessoa
humana. Não há razão para, no caso, cogitar-se de impenhorabilidade.”

Ou seja, se não pagou a taxa de condomínio, penhora o imóvel.

V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo
casal ou pela entidade familiar;

Então, se o casal ou entidade familiar, voluntariamente foi ao Bradesco pactuar um contrato


de empréstimo, voluntariamente hipotecou o imóvel. Não pode vir, depois, dizer que se trata de
bem de família. Isso viola o princípio do venire contra factum proprium. Na literalidade da
norma, se o casal vai ao banco e hipoteca voluntariamente o apartamento não podem depois,
contraditoriamente a isso, invocar a proteção do bem de família.

IMPORTANTE!!! “O STJ, por outro lado, como se lê no agravo regimental REsp 813.546/DF,
tem entendido que a simples indicação do bem à penhora NÃO implica renúncia ao benefício da
lei 8009/90.”

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença
penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

Os efeitos civis da sentença penal condenatória podem atingir a sua casa.

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

Este era o mais polêmico. Fiador em contrato locatício não tem bem de família no Brasil,
conforme já decidido pelo STJ e pelo STF..

50
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

“O Supremo Tribunal Federal, por seu plenário, já afirmou ser constitucional a penhora
do imóvel residencial do fiador na locação (RE 352.940-4/SP).”

IMPORTANTE!!!

“A Súmula 364, do STJ, firmou entendimento no sentido de que a proteção do bem de


família alcança, inclusive, devedores solteiros, separados e viúvos.” Ou seja, a pessoa que vive só
também goza da proteção do direito de família. Há ementa de um recurso do STJ que trata disso:
“A interpretação da lei 8.009/93 revela que a norma não se limita ao resguardo da família. Seu
propósito é proteger o direito fundamental da pessoa humana. Não faz sentido proteger quem vive
em grupo e abandonar o indivíduo que sofre o mais doloroso dos sentimentos, a solidão. É
impenhorável o imóvel que reside sozinho o devedor celibatário.”

2.2. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMO

2.2.1. Bens Imóveis e Bens Móveis

Classificação fundada na efetiva natureza dos bens. Seus principais efeitos são: os bens
móveis são adquiridos por tradição, enquanto os imóveis dependem de escritura pública. Os
imóveis exigem outorga uxória para serem alienados, já os móveis não precisam da outorga.
Prazos diferentes para o usucapião. A hipoteca é o direito real de garantia para os bens imóveis e o
penhor para os bens móveis.

2.2.1.1 Bens Imóveis

São as coisas que não podem ser removidas de um lugar para o outro sem a sua destruição
(conceito o qual não abrange os imóveis por determinação legal).

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:


I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - O DIREITO À SUCESSÃO ABERTA.

Os bens imóveis em geral podem ser classificados dessa forma: imóveis por natureza, por
acessão natural, por acessão artificial e por determinação legal.

a) Imóveis por natureza: em rigor somente o solo, com sua superfície, espaço aéreo, é imóvel por
natureza. Tudo que é aderido será considerado imóvel por acessão.

b) Imóveis por acessão natural: são as árvores, frutos pendentes, bem como todos os acessórios e
adjacências naturais.

IMPORTANTE!!! As árvores quando destinadas ao corte são considerada móveis por


antecipação.

c) Imóveis por acessão artificial ou industrial: é a produzida pelo trabalho do homem. São as
construções e plantações. Não se incluem as construções provisórias tais como, circos e parques de
diversão.

51
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Obs. O CC 2002 ao contrário do CC 1916 não faz alusão à acessão intelectual. A razão é que o CC
2002 trouxe o conceito de pertença.

NÃO PERDEM o caráter de imóvel art. 81 CC:


I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local;
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se
reempregarem.

De acordo com o art. 84 CC “Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não
forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes
da demolição de algum prédio.”

d) Imóveis por determinação legal: O Art. 80 CC assim o considera:


I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.

São assim considerados para dar maior segurança jurídica.

IMPORTANTE!!! A renúncia a herança é, portanto, renúncia de imóvel, deve ser feita por
escritura pública mediante autorização do cônjuge.

2.2.1.2 Bens Móveis

O art. 82 do CC considera móveis “os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de


remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.” São os
móveis por natureza, que se dividem em semoventes (se movem por força própria, animais), e
propriamente ditos (admitem remoção por força alheia, sem dano, como os objetos inanimados).

IMPORTANTE!!! Navios e aeronaves são bens móveis. São considerados bens imóveis apenas
para fins de hipoteca.

O art. 83 do CC menciona os móveis por determinação legal.


Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:
I - as ENERGIAS que tenham valor econômico;
II - os DIREITOS REAIS sobre OBJETOS MÓVEIS e as ações
correspondentes;
III - os DIREITOS PESSOAIS de caráter patrimonial e respectivas ações.

Existem ainda os móveis por antecipação. São bens incorporados ao solo, mas com a
intenção de separá-lo oportunamente. Ex. Árvore plantada para o corte.

2.2.2 Bens Fungíveis e Infungíveis.

Bens fungíveis são os móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade. Infungíveis são os bens que não tem esse atributo.

A fungibilidade é característica dos bens móveis. Mas em situações específicas pode ocorrer
que venha a alcançar os imóveis. Ex. Ajuste sobre loteamento, cada um é dono de X lotes.

52
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

A fungibilidade pode resultar da vontade das partes. Ex. A moeda é um bem fungível, mas
se for de um colecionador se torna infungível.

A importância prática dessa classificação reside na distinção entre mútuo e comodato. O


mútuo só recai sobre bens fungíveis, o comodato tem por objeto bem infungível.

Obs. A compensação só se efetua entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.

2.2.3 Bens Consumíveis e Inconsumíveis

O art. 86 diz que são consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da
própria substância (consumíveis de fato), sendo também considerados tais os destinados à
alienação (consumíveis de direito).

Inconsumíveis, ao contrário, são os que admitem o uso reiterado da coisa sem importar
destruição.

Pode o bem consumível se tornar inconsumível por vontade das partes e vice versa. Ex.
Garrafa de vinho em uma exposição e um livro posto a venda.

Obs. O usufruto não pode recair sobre bens consumíveis, caso recaia, será chamado de usufruto
impróprio.

2.2.4 Bens divisíveis e indivisíveis


Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua
substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se
destinam.

O CC adotou o critério da diminuição considerável do valor, seguindo a melhor doutrina.


Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por
determinação da lei ou por vontade das partes.

Os bens podem ser indivisíveis por natureza (não se pode fracionar sem alteração da
substância, diminuição de valor), por determinação legal (servidões, hipotecas) e por vontade das
partes (convencional). No caso da convencional o acordo NÃO poderá tornar a coisa indivisa por
prazo maior de CINCO ANOS.

2.2.5. Bens Singulares e Coletivos

De acordo com o art. 89 CC, são singulares os bens que, embora reunidos, se
consideram de per si, independentemente dos demais. Ex. A árvore pode ser bem singular ou
coletivo, conforme seja encarada individualmente ou agregada a outras (floresta).

Os bens coletivos são chamados de universalidade de fato ou de direito. São assim


definidos no art. 90 e 91 CC.

Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que,


pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária.

53
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de
relações jurídicas próprias.

Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de


uma pessoa, dotadas de valor econômico.

2.3 BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS

Dividem-se em principais e acessórios.

Principal é o bem que tem existência própria, que existe por si só. Acessório é o bem cuja
existência dependa do principal. Ex. Solo é bem principal, e a árvore plantada ao solo é um bem
acessório.

O art. 92 CC diz que “Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente;
acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.” Em consequência disso, como regra, o
bem acessório segue o principal (Princípio da gravitação jurídica). Para que tal não ocorra é
necessário que se tenha estabelecido o contrário ou que haja previsão legal (art. 1284 CC).

Consequências da regra “o bem acessório segue o principal”:

a) a natureza do acessório é a mesma do principal.


b) o acessório acompanha o principal em seu destino.
c) o proprietário do principal é também proprietário do acessório.

Na grande classe dos bens acessórios compreendem-se os frutos e produtos. Que de acordo
com o art. 95 podem ser objeto de relações jurídicas.
Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos
PODEM ser objeto de negócio jurídico.

Produtos são as utilidades que se retiram da coisa, lhe diminuindo a quantidade, porque
não se reproduzem periodicamente, como as pedras e os metais, que se extraem das pedreiras e das
minas. Distingue-se dos frutos porque a colheita destes não diminui o valor nem a substância da
fonte.

Frutos são utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem da coisa
sem lhe acarretar destruição no todo ou em parte. Dividem-se quanto à origem em naturais,
industriais e civis. Naturais são os que se renovam periodicamente em virtude de força orgânica
Ex. Fruto de uma árvore. Industriais são os que aparecem pela mão do homem. Ex. Produção de
uma fabrica. Civis são os rendimentos produzidos pela coisa. Ex. Alugueis.

Os frutos também podem ser classificados quanto a seu estado em pendentes (enquanto
unido à coisa que o produziu), percebidos ou colhidos (depois de separados), estantes (separados
para venda), percipiendos (os que deviam ser, mas não foram colhidos ou percebidos) e
consumidos (os que não existem mais porque foram utilizados).

2.3.1 Pertenças

As pertenças também são consideradas BENS ACESSÓRIOS.

54
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Art. 93. São pertenças os bens que, NÃO constituindo partes integrantes, se
destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de
outro.

Ex. Máquinas de uma propriedade agrícola (inclusive trator), objetos de decoração de uma casa.

O art. 94 CC nos traz a diferença entre pertença e parte integrante ao dizer que “Os negócios
jurídicos que dizem respeito ao bem principal NÃO ABRANGEM AS PERTENÇAS, salvo se
o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso”.

IMPORTANTE!!! A regra “o acessório segue o principal” se aplica somente as partes


integrantes, não se aplicando as pertenças.

2.3.2 Benfeitorias

Também se consideram acessórias as benfeitorias, qualquer que seja o seu valor.

O art. 96 classifica as benfeitorias em:


Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.
§ 1o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso
habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
§ 2o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
§ 3o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore
(normal exploração da coisa).

Esta classificação não tem caráter absoluto, pois uma mesma benfeitoria pode ser
enquadrada em uma ou outra espécie dependendo da circunstância.

As benfeitorias necessárias não são apenas as que se destinam a conservação da coisa, mas
são também aquelas que permitem a normal exploração econômica do bem.

IMPORTANTE!!! Benfeitoria não se confunde com acessão industrial ou artificial. Benfeitorias


são obras ou despesas feitas em um bem já existente. As acessões industriais são obras que criam
coisas novas e tem regime jurídico diverso, sendo um dos modos de aquisição da propriedade
imóvel.

Obs. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem SEM


A INTERVENÇÃO do proprietário, possuidor ou detentor.

2.4 BENS QUANTO AO TITULAR DO DOMÍNIO


Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for
a pessoa a que pertencerem.

Art. 99. São bens públicos:


I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou
estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal,
inclusive os de suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito
público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.

55
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os


bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado
estrutura de direito privado.

Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são
inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei
determinar.

Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as


exigências da lei.

Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.

Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído,
conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração
pertencerem.

2.4.1 Bens Públicos

Conceito: são os do domínio nacional pertencente às pessoas jurídicas de direito público interno.

Espécies: de uso comum do povo, de uso especial e dominical.

Os bens de uso comum do povo e os de uso especial são bens de domínio público do estado.
Os dominicais são do domínio privado do estado.

Os bens de uso comum do povo podem ser utilizados por qualquer um do povo sem
formalidades. NÃO perdem essa característica se o poder público regulamentar seu uso, ou tornar
seu uso oneroso. A administração também pode restringir seu uso em razão de segurança nacional.
O povo somente tem o direito de usar tais bens, não tem, portanto, seu domínio.

Os bens de uso especial são os bens que se destinam especialmente a execução dos serviços
públicos.

Características: inalienabilidade, imprescritibilidade e impenhorabilidade.

Obs. A inalienabilidade não é absoluta. Os bens suscetíveis de valoração patrimonial podem perder
a inalienabilidade pela desafetação. Os bens dominicais podem ser afetados, perdendo o caráter
alienável. A alienabilidade é característica própria dos bens dominicais.

IMPORTANTE!!! Os bens públicos móveis ou imóveis não estão sujeitos à usucapião.

2.4.2 Bens Particulares

Por exclusão, são todos os outros bens não pertencentes à pessoa jurídica de direito público
interno, mas a pessoa natural ou jurídica de direito privado.

2.5 BENS QUANTO A POSSIBILIDADE DE SEREM OU NÃO COMERCIALIZADOS

São classificados em:

a) Naturalmente indisponíveis (insuscetíveis de apropriação pelo homem, como o ar atmosférico)

56
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

b) Legalmente indisponíveis (bens de uso comum, de uso especial e bens de incapazes)


c) Indisponíveis pela vontade humana (deixados em testamento ou doados pela vontade humana)

Obs. A cláusula de inalienabilidade inclui a incomunicabilidade dos bens. (Sumula 49 STF)

LIVRO III
DOS FATOS JURÍDICOS
TÍTULO I
DO NEGÓCIO JURÍDICO
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

1- CONCEITOS

Fato jurídico é todo acontecimento da vida relevante para o Direito.

Os fatos jurídicos em sentido amplo podem ser classificados em fatos naturais e fatos
humanos. Os primeiros decorrem da natureza e os segundos da atividade humana. Os fatos naturais
por sua vez se dividem em ordinários (nascimento, morte e etc.) e extraordinários (terremoto, chuva
e etc.).

Os fatos humanos ou ato jurídico em sentido amplo são ações humanas que criam,
modificam, transferem ou extinguem direitos; dividem-se em lícitos e ilícitos. Lícitos são as ações
humanas em que a lei defere o efeito almejado pelo agente. Ilícito, por ser praticado em desacordo

57
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

com o ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos involuntários, mas imposto pelo
ordenamento.

1.1 ATOS LÍCITOS

Os atos lícitos dividem-se em:

a) Ato jurídico em sentido estrito: exige-se manifestação de vontade. O efeito da manifestação de


vontade está predeterminado na lei, não havendo por isso qualquer dose de escolha da categoria
jurídica.

b) Negócio jurídico: exige-se manifestação de vontade. A ação humana visa diretamente a


alcançar um fim prático permitido na lei, dentre a multiplicidade de efeitos possíveis.

c) Ato-fato jurídico: no ato-fato jurídico ressalta-se a consequência do ato, o fato resultante, sem
se levar em consideração a vontade de praticá-lo. O efeito do ato não é buscado nem imaginado
pelo agente, mas decorre de uma conduta e é sancionado pela lei, como no caso da pessoa que acha
casualmente um tesouro.

2- CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

2.1. UNILATERAIS, BILATERAIS E PLURILATERAIS

Unilaterais são os que se aperfeiçoam com uma única manifestação de vontade, como o
testamento, codicilo, promessa de recompensa e etc. São de duas espécies, os recepticios, que são
aqueles em que a declaração de vontade tem que se tornar conhecida do destinatário para produzir
efeitos. Ex. revogação de mandato. E os não recepticios, em que o conhecimento por parte de
outras pessoas é irrelevante. Ex. testamento e etc.

Atenção!!! Testamento é negócio jurídico.

Bilaterais são os que se perfazem com duas manifestações de vontade, coincidentes sobre
o objeto. Podem existir várias pessoas no polo passivo sem que o contrato deixe de ser bilateral.

IMPORTANTE!!! Contratos bilaterais são aqueles que são onerosos para ambas às partes,
sinalagmáticos. Sendo diferente de negócio jurídico bilateral (duas manifestações de vontade).

Plurilaterais são os contratos que envolvem mais de duas partes. Ex. Contrato de sociedade
com mais de dois sócios.

2.2. GRATUITOS E ONEROSOS, NEUTROS E BIFRONTES

Gratuitos são aqueles em que só uma das partes aufere vantagens ou benefícios Ex. Doação
pura.

Onerosos são aqueles em que ambos os contratantes auferem vantagens, as quais, porém,
correspondem a uma prestação. Ex. Compra e venda.

Neutros se caracterizam pela destinação do bem. Ex. Tornar um bem inalienável, instituir
determinado bem como bem de família.
58
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Bifrontes são os contratos que podem ser onerosos ou gratuitos, segundo a vontade das
partes, como mútuo, o mandato e o depósito. Só é possível se o contrato é definido em lei como
gratuito, pois tornar um negócio oneroso em gratuito subverteria a sua causa. Nem todos os
contratos gratuitos podem ser convertidos em onerosos por convenção das partes. Ex. doação e
comodato ficariam desfigurados, pois se tornariam venda e locação respectivamente.

2.3. “INTER VIVOS” E “MORTIS CAUSA”

Os negócios celebrados inter vivos produzem efeitos desde logo, com as partes ainda vivas.

Mortis causa são os negócios destinados a produzir efeitos após a morte do agente.

2.4. PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS

Principais são os que têm existência própria e não dependem, pois da existência de qualquer
outro.

Acessórios são os que têm sua existência subordinada ao contrato principal (cláusula penal,
fiança). Os acessórios seguem o destino do principal. Nulo o principal, também nulo o acessório,
sendo que a recíproca não é verdadeira.

2.5. SOLENES (FORMAIS) E NÃO SOLENES (DE FORMA LIVRE)

Solenes são os negócios que devem obedecer a forma prescrita para se aperfeiçoar. Pode
constituir da própria substância do ato, ou pode ser exigida apenas como prova do ato.
Não solenes são os negócios de forma livre. Podem ser celebrados inclusive verbalmente.

2.6 SIMPLES, COMPLEXOS E COLIGADOS.

Simples são os negócios que se constituem por ato único.

Complexo são os que resultam da fusão de vários atos sem eficácia independente.

Coligado é o negócio que se compõe de vários outros. Ex. Arrendamento de posto de


gasolina, com arrendamento das bombas e etc.

3- INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO

Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o


autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas


consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os


usos do lugar de sua celebração.

Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se


estritamente.

59
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou


contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem,


apenas se declaram ou reconhecem direitos.

Estes são alguns artigos que ajudam a interpretar o negócio jurídico. Algumas regras devem
ser observadas em relação a interpretação do negócio jurídico. A melhor maneira de se apurar a
intenção dos contratantes é verificar o modo pelo qual as partes o vinham executando de comum
acordo. Na dúvida se interpreta de maneira menos onerosa ao devedor. As cláusulas contratuais
devem ser interpretadas em conjunto com as demais, e não isoladamente.

4- ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

4.1 REQUISITOS DE EXISTÊNCIA

Os requisitos de existência são seus elementos estruturais. Com ausência de um deles o


negócio jurídico não existe. São os seguintes: declaração de vontade, finalidade negocial e
idoneidade do objeto.

A VONTADE é pressuposto básico do negócio jurídico e é imprescindível que se


exteriorize. Pode ser expressa, tácita ou presumida. Pode ser tácita quando a lei não exigir que
seja expressa. Dispõe o art. 111 que “O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os
usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.” Portanto o silêncio
pode ser interpretado como manifestação tácita de vontade quando a lei der a ele tal efeito.

Obs. Princípio da autonomia da vontade: as pessoas têm liberdade de celebrar os negócios


jurídicos de acordo com sua vontade, observando os preceitos da lei. A “supremacia da ordem
pública” limita a autonomia da vontade, pois o estado deve evitar a opressão dos economicamente
mais fortes sobre os mais fracos (dirigismo contratual).

Obs. Princípio da obrigatoriedade dos contratos: o contrato faz lei entre as partes (pacta sunt
servanda). Não podendo ser modificado pelo judiciário. Opõem-se a ele os princípios da revisão do
contrato e da onerosidade excessiva, baseado na clausula rebus sic stantibus e na teoria da
imprevisão, que autoriza o judiciário a rever os contratos ante a ocorrência de fatos extraordinários
e imprevisíveis.

FINALIDADE NEGOCIAL é a vontade de criar, conservar, modificar ou extinguir


direitos.

IDONEIDADE DO OBJETO é necessário para a realização do negócio que se tem em


vista. Ex. Para se constituir uma hipoteca é necessário que o bem dado em garantia seja imóvel.

4.2 REQUISITOS DE VALIDADE

São eles: capacidade do agente, objeto lícito, possível e determinado ou determinável,


forma prescrita ou não defesa em lei.
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

60
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

III - forma prescrita ou não defesa em lei.

A capacidade do agente é a aptidão para intervir nos negócios jurídicos como declarante ou
declaratário. A incapacidade de exercício é suprida pela representação e pela assistência.

Objeto lícito é o que não atenta a moral, a lei ou os bons costumes. O objeto deve também
ser possível. Quando impossível o negócio é nulo. A impossibilidade pode ser física ou jurídica. O
objeto deve ser também determinado ou determinável (indeterminado relativamente ou suscetível
de determinação no momento da execução).

A forma deve ser prescrita ou não defesa em lei. Em regra a forma é livre. Mas em algumas
situações a lei pode exigir forma determinada para garantir a segurança jurídica.
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial,
senão quando a lei expressamente a exigir.

IMPORTANTE!!! Art. 108 CC. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial
à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário
mínimo vigente no País.

Podem ser distinguidas três espécies de forma:

a) Forma livre: é a predominante no direito brasileiro. Qualquer meio de manifestação de vontade,


não imposto obrigatoriamente pela lei.
b) Forma especial: é a exigida pela lei como requisito de validade para determinados negócios
jurídicos.
c) Forma contratual: é a convencionada pelas partes. Ex. Art. 109 CC.
Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem
instrumento público, este é da substância do ato.

A forma pode ser também ad solemnitatem (quando determinada forma é da substância do


ato, indispensável para que se produza efeito), ou ad probationem tantum (quando a forma se
destina a facilitar a prova do ato, sem gerar nenhuma conseqüência pela sua não observância).

4.3 REQUISTOS DE EFICÁCIA

(Será visto em tópico especifico mais adiante)

5- RESERVA MENTAL
Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a
reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha
conhecimento.

Ocorre a reserva mental quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, isto é,
quando não quer um efeito jurídico que declara querer. Tem por objetivo enganar o outro
contratante. Se este, entretanto, não souber da reserva, o ato subsiste e produz os efeitos que o
declarante não desejava. A reserva é indiferente ao mundo jurídico e irrelevante no que se refere a
validade e eficácia do negócio jurídico.

61
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Mas se o destinatário conhece a reserva, a solução é outra. Configura-se hipótese de


ausência de vontade, considerando inexistente o negócio jurídico.

A reserva mental se configura quando o agente emite declaração de vontade resguardando


o íntimo propósito de não cumprir aquilo que pactuou.

Enquanto a reserva mental estiver só no íntimo do agente, não há qualquer repercussão para
o Direito. Porém, quando a reserva mental se manifesta, existem efeitos jurídicos.

A DOUTRINA PREDOMINANTE sustenta que uma vez manifestada a reserva mental,


e dela tomando ciência a outra parte, o negócio é inválido por dolo ou simulação (conforme o
caso).

IMPORTANTE!!! No entanto, a linha de pensamento do Min. Moreira Alves não é neste sentido,
pois argumenta que, uma vez manifestada a reserva, o negócio se torna INEXISTENTE.

CAPÍTULO II
DA REPRESENTAÇÃO

Art. 115. Os poderes de representação conferem-se POR LEI OU PELO


INTERESSADO.

Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus


poderes, produz efeitos em relação ao representado.

Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é ANULÁVEL o negócio


jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem,
CELEBRAR CONSIGO MESMO.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o
negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido
substabelecidos.

Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome
do representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o
fazendo, responder pelos atos que a estes excederem.

62
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Art. 119. É ANULÁVEL o negócio concluído pelo representante em conflito de


interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de
quem com aquele tratou.
Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou
da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação
prevista neste artigo.

Art. 120. Os requisitos e os efeitos da representação legal são os estabelecidos nas


normas respectivas; os da representação voluntária são os da Parte Especial deste
Código.

CAPÍTULO III
DA CONDIÇÃO, DO TERMO E DO ENCARGO

1- INTRODUÇÃO

São elementos acidentais do negócio jurídico. São introduzidos facultativamente pelas


partes. Não são necessários a essência do negócio jurídico, mas uma vez convencionados passam a
integrar o negócio jurídico de maneira indissociável.

São três os elementos acidentais: condição, termo e encargo.

IMPORTANTE!!! Essas convenções acessórias são admitidas nos atos patrimoniais em geral, mas
não podem integrar os de caráter eminentemente pessoal como os direitos de família e os
direitos personalíssimos. Ex. Reconhecimento de filho, casamento, adoção e etc.

2- CONDIÇÃO

Conceito,
63
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, DERIVANDO


EXCLUSIVAMENTE DA VONTADE DAS PARTES, subordina o efeito do
negócio jurídico a EVENTO FUTURO E INCERTO.

Toda condição pressupõe futuridade e incerteza. A incerteza da condição é quanto à


ocorrência do fato.

IMPORTANTE!!! Condição não pode ser fato passado (ex. loteria que correu ontem)

IMPORTANTE!!! A morte não é uma condição. Não há incerteza. Exceção: a morte é condição se
o sujeito limitar o evento à um período de tempo. Ex. Vou lhe doar a minha fazendo se meu tio que
lá mora, morrer até o dia 02/02.

IMPORTANTE!!! Toda cláusula que estabelece condição deriva da vontade das partes. Não pode
a lei estabelecer condição (a condiciones júris não é mais possível).

2.1. CLASSIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES

1º) Quanto ao modo de atuação:

a) Suspensiva: a condição suspensiva é aquela que suspende ou paralisa o início dos efeitos
jurídicos do negócio jurídico. Impede que o ato produza efeitos até a realização do evento
futuro e incerto.

De acordo com o art. 125 CC, subordinando-se o negócio jurídico à uma condição
suspensiva, os direitos e obrigações decorrentes ainda não se produzem (o negócio jurídico ainda
não é exigível). A condição suspensiva não se harmoniza com o pagamento antecipado da dívida.

Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à CONDIÇÃO


SUSPENSIVA, enquanto esta se não verificar, NÃO SE TERÁ ADQUIRIDO O
DIREITO, a que ele visa.

b) Resolutiva: enquanto esta não se implementa, o negócio jurídico produz seus válidos efeitos. É a
que extingue, resolve o direito transferido pelo negócio, ocorrido o evento futuro e incerto.

Art. 127. Se for RESOLUTIVA A CONDIÇÃO (ADQUIRE-SE O DIREITO


DESDE LOGO), enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico,
podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.

IMPORTANTE!!! Pendente a CONDIÇÃO SUSPENSIVA, não se terá adquirido o direito a


que visa o negócio jurídico. Na CONDIÇÃO RESOLUTIVA, o direito é adquirido desde logo,
mas pode extinguir-se para todos os efeitos, se ocorrer o seu implemento.

Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o


direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou
periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto
aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e
conforme aos ditames de boa-fé.

De acordo com o art. 128 CC, a regra geral é que a ocorrência de condição resolutiva não
interfere no que já foi cumprido em um contrato de prestação sucessiva ou periódica.

64
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! O art. 130 CC permite ao titular do direito eventual, nos casos de condição
suspensiva ou resolutiva, praticar os atos destinados a conservá-lo.
Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou
resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo.

IMPORTANTE!!! Enquanto não se verifica ou não se frustra o evento futuro e incerto a condição
encontra-se pendente. A verificação da condição se chama implemento. A sua não ocorrência se
chama frustração.

Verificada a condição suspensiva o direito é adquirido. Embora a incorporação do


patrimônio ocorra somente por ocasião do implemento da condição, o direito condicional
constituir-se-á na data da celebração do negócio, como se desde o inicio não fosse condicional.

Preceitua o art. 129 “Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo
implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao
contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o
seu implemento.”

Prescreve o art. 126: “Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e,
pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se
com ela forem incompatíveis.” Quem adquire um domínio resolutivo está assumindo um risco, não
podendo alegar prejuízo se advier a resolução.

2º) Quanto à licitude:

a) Lícita: a que não é contrária à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
b) Ilícita: a que for contrária à lei, à ordem pública e aos bons costumes.

IMPORTANTE!!! Consideram-se ilícitas também as condições puramente potestativas, como


também o é a condição perplexa (condição perplexa é a condição contraditória, que priva o
negócio jurídico de efeitos. Ex. Contrato de locação, onde firma-se a condição de não morar no
imóvel).

IMPORTANTE!!! A condição ilícita invalida todo o negócio jurídico e não apenas a cláusula
que impõe a condição.

Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem
pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que
privarem de todo efeito o negócio jurídico (perplexas), ou o sujeitarem ao puro
arbítrio de uma das partes (puramente potestativa).

Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:


I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.

3º) Quanto à origem:

a) Casual: uma condição casual é uma condição relativa à um evento da natureza. (Ex. Se chover)

65
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

b) Mista: é a que deriva da vontade de uma das partes e da vontade de terceiro. Ex. “Te darei meu
carro se casar com tal pessoa”

c) Potestativa: a que deriva da vontade da parte. Existem dois tipos de condição potestativa.

IMPORTANTE!!!

 Simplesmente potestativa: condição boa. Embora derive da vontade da parte, não é


arbitrária, porque se conjuga à circunstâncias exteriores. (Ex. Bicho para o jogador
se ele for o artilheiro do campeonato).

Obs. Caso a condição simplesmente potestativa se torne impossível, ela passa a se chamar condição
promíscua. (Ex. O jogador quebra a perna, logo ele não poderá ser o artilheiro).

 Puramente potestativa: condição má. É a que deriva do exclusivo arbítrio de uma


das partes. Esta condição é arbitrária. Ex. “Se eu fizer, se eu quiser”.

4ª) Quanto a possibilidade:

a) Fisicamente impossíveis: são as que não podem ser cumpridas por nenhum ser humano. Desde
que a impossibilidade física seja genérica, tem-se por inexistentes quando resolutiva, isto é, serão
consideradas não escritas. Quando suspensivas invalidam o negócio jurídico.
Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando
RESOLUTIVAS, e as de não fazer coisa impossível.

b) Juridicamente impossível: é a que esbarra em proibição expressa do ordenamento jurídico ou


fere a moral e os bons costumes.
Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando SUSPENSIVAS;
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.

3- TERMO

Termo é o dia que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico. Termo condicional
é a cláusula contratual que subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e certo (difere
da condição que a subordina a evento futuro e incerto).

IMPORTANTE!!! O termo, diferentemente da condição suspensiva, não impede a aquisição dos


direitos e obrigações decorrentes do negocio jurídico, interferindo apenas na sua exigibilidade.
Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.

IMPORTANTE!!! Pode ocorrer que o termo, embora certo e inevitável no futuro, seja incerto
quanto a data de sua verificação. Ex. Te darei tal bem a partir da morte de tal pessoa.

Sob o aspecto referido acima o termo pode ser incerto (exemplo acima), ou certo (quando se
reporta a data do calendário ou lapso certo de tempo).

66
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! Termo de direito é o que decorre da lei e termo de graça é a dilação do prazo
concedido ao devedor.

O termo também pode ser inicial ou suspensivo e final ou resolutivo. O termo inicial
suspende o exercício mas não a aquisição do direito (diferente da condição suspensiva – que
suspende a aquisição e o exercício do direito).

Dispõe o art. 135 CC: Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições
relativas à condição suspensiva e resolutiva.

IMPORTANTE!!! Termo não se confunde com prazo. Prazo é o intervalo entre o termo a quo e o
termo ad quem. Está regulamentado nos arts. 132 a 134 CC.
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os
prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até
o seguinte dia útil.
§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no
imediato, se faltar exata correspondência.
§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.

Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos


contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do
instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor,
ou de ambos os contratantes.

Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo,
salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.

4- ENCARGO OU MODO

Conceito: com base na doutrina italiana, podemos conceituar o encargo como sendo um
ônus que se atrela a uma liberalidade (suporta-se um prejuízo em nome de um benefício maior).

O encargo é típico do negócio jurídico gratuito.

Segundo dispõe o art. 136 CC o encargo NÃO suspende a aquisição do direito . O direito
desde já é seu. Se este encargo não for cumprido a liberalidade pode ser revogada.
Art. 136. O encargo NÃO suspende a aquisição nem o exercício do direito,
SALVO quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente,
como condição suspensiva.

Art. 553. O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso forem a


benefício do doador, de terceiro, ou do interesse geral.
Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o Ministério Público poderá
exigir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito.

IMPORTANTE!!! O encargo se difere da condição suspensiva porque esta impede a aquisição do


direito, enquanto aquele (ENCARGO) NÃO SUSPENDE A AQUISIÇÃO NEM O
EXERCÍCIO DO DIREITO. Difere também da condição resolutiva porque não conduz por si só a
resolução do ato. O instituidor do benefício poderá ou não propor a ação revocatória, cuja sentença
não terá efeitos retroativos.
67
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Dispõe o art. 137 CC: Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se
constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico .
Em regra, não invalida o negócio jurídico todo, apenas o encargo. Porém, invalida-se todo o
negócio jurídico se o encargo ilícito for o motivo do negócio jurídico.

CAPÍTULO IV
DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
1- INTRODUÇÃO

Trata-se das hipóteses em que a vontade se manifesta com algum vício que torne o negócio
anulável.

O CC trata de seis defeitos: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude contra
credores. É ANULÁVEL o negócio jurídico que contenha tais vícios.
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:
I - por INCAPACIDADE RELATIVA do agente;
II - por vício resultante de ERRO, DOLO, COAÇÃO, ESTADO DE PERIGO,
LESÃO OU FRAUDE CONTRA CREDORES.

Segundo o art. 178 do CC, é de QUATRO ANOS o prazo de decadência para pleitear-se a
anulação do negócio jurídico, contado:
68
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;


II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia
em que se realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

Exceto a fraude contra credores, esses defeitos são considerados vícios de consentimento,
porque provocam uma manifestação de vontade não correspondente com o íntimo e verdadeiro
querer do agente. A fraude contra credores é considerada um vício social, pois a vontade é
manifestada com a intenção de prejudicar terceiros, essa vontade corresponde exatamente ao seu
desejo.

A simulação é também considerada um vício social. O art. 167 CC declara nulo o negócio
jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.

2- ERRO OU IGNORÂNCIA

Erro é a falsa representação positiva da realidade, é um agir equivocadamente; ao passo


que, a ignorância traduz um estado negativo de desconhecimento. No erro o agente se engana
sozinho. Quando é induzido em erro pelo outro contratante ou por terceiro se caracteriza o dolo.

Dispõe o art. 138 CC:


Art. 138. São ANULÁVEIS os negócios jurídicos, quando as declarações de
vontade emanarem de ERRO SUBSTANCIAL que poderia ser percebido por
pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

IMPORTANTE!!! O ERRO adota o critério do homem médio para a aferição da escusabilidade.


O critério do caso concreto é adotado no caso de COAÇÃO.

IMPORTANTE!!! Não é todo erro que vicia o negócio jurídico. A doutrina clássica costumava
afirmar que o erro, para ser invalidante do negócio jurídico precisa observar dois requisitos:
a) Ser escusável, perdoável - um erro que uma pessoa normal cometeria.

b) Ser SUBSTANCIAL, essencial, capaz de influir no negócio jurídico - o erro deve atacar a
essência do negócio jurídico.

IMPORTANTE!!! Na doutrina moderna, se aceita que o erro deve ser essencial, porém, não se
deve investigar se a pessoa atuou ou não, com diligência normal (não precisa ser escusável). A
doutrina moderna diz que esse requisito da escusabilidade não precisa mais ser exigível (art. 138).
Para o juiz anular por erro, ele não precisa mais investigar a escusabilidade do erro.

Espécies de erro (art. 139):

Art. 139. O erro é substancial quando:


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma
das qualidades a ele essenciais; (erro sobre o negócio e erro sobre o objeto)
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a
declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; (erro
sobre a pessoa)
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único
ou principal do negócio jurídico. (erro de direito)

69
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

a) Erro sobre o negócio: aquele que incide na estrutura e na causa da declaração negocial, de
maneira que se celebra equivocadamente um negócio por outro (acha que é doação, mas é
empréstimo).

b) Erro sobre o objeto: ataca a natureza ou as características do objeto do negócio jurídico (acha
que é ouro mas é latão, acha que é marfim mas é osso de gambá).

c) Erro sobre a pessoa: incide nas características e nos elementos de identificação do outro
declarante. Incide muito no casamento.

d) Erro de direito: ao contrário dos demais, essa modalidade de erro não é erro sobre o fato, mas
sim é um erro jurídico, sobre a ilicitude do fato.

IMPORTANTE!!! O erro de direito trata-se de uma modalidade de erro que, sem traduzir
intencional recusa à aplicação da lei, incide no âmbito de atuação permissiva da norma. O erro é de
interpretação da norma, acha permitido o que é proibido.

IMPORTANTE!!! Erro acidental se opõe ao substancial e real. O erro acidental não invalida
o negócio jurídico. Refere-se a circunstâncias de menor importância, que, se conhecida a realidade,
mesmo assim o negócio seria realizado.

IMPORTANTE!!! Não havendo prejuízo, na forma do art. 144, não existirá erro invalidante - pas
de nullite sans grief.

Se a outra parte se dispuser a sanar o prejuízo, não é anulável o negócio jurídico.


Art. 144. O erro NÃO PREJUDICA a validade do negócio jurídico quando a
pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la
na conformidade da vontade real do manifestante.

IMPORTANTE!!! Não se confunde os institutos do erro com vício redibitório. O vício


redibitório é ERRO OBJETIVO sobre a coisa, que contem um defeito oculto. O seu fundamento
é a obrigação que a lei impõe a todo alienante de garantir ao adquirente o uso da coisa. Provado o
defeito oculto não facilmente perceptível, cabem as ações edilícias (redibitória, para rescindir o
contrato e quanti minoris – ou estimatória, para pedir abatimento), sendo decadencial e exíguo o
prazo (30 dias em se tratando de bem móvel e um ano se for imóvel). O erro quanto as qualidades
essenciais do objeto é SUBJETIVO, pois reside na manifestação de vontade . Da ensejo ao
ajuizamento de ação anulatória, sendo de quatro anos o prazo decadencial.

Dispõe o art. 141 CC:

Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos
mesmos casos em que o é a declaração direta.

Se o declarante não se encontra na presença do declaratário, e a transmissão de vontade não


se dá com fidelidade, se caracteriza o vício que propicia a anulação do negócio jurídico.

O motivo do negócio NÃO precisa ser mencionado pelas partes. Motivos são as ideias,
razões subjetivas, interiores, consideradas acidentais e sem relevância para a validade do negócio.

Dispõe o art. 140 CC:


70
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como
razão determinante.

Quando expressamente mencionados como razões determinantes, os motivos passam a


condição de elementos essenciais do negócio.

Dispõe o art. 142 CC:


Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de
vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se
puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.

Ex. O testador beneficia seu sobrinho José, mas se descobre que ele não tem sobrinho, mas sim, um
afilhado José.

Segundo o art. 143, o erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.

IMPORTANTE!!! Interesse negativo (uma compensação para o contratante que não concorreu
para o erro). O CC não prevê essa hipótese, mas ela decorre dos princípios gerais do direito,
especialmente o que protege a boa-fé.

3- DOLO

O dolo traduz um artifício malicioso empregado por uma das partes ou por terceiro, com o
propósito de prejudicar outrem, mas proveitoso ao autor do dolo ou a terceiro.
Obs. Dolus bonus é socialmente aceito e juridicamente permitido. Ex. Propaganda que realça as
características do produto (o que não se aceita é a deturpação das características do produto ou a
omissão de informação).

Dentro do âmbito da atuação dolosa proibida está inserida a vedação das mensagens
subliminares (mensagem subliminar traduz uma forma sub-reptícia de transferência de informação
não perceptível pelos mecanismos racionais do destinatário). Hoje a proibição é implícita, decorre
dos princípios do CDC.
O dolo invalida o negócio jurídico tornando-o anulável. Para a doutrina brasileira, o dolo se
subdivide em:

a) Dolo principal: é o dolo invalidante (art. 145 CC).

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
(dolo principal)

É chamado principal, pois o dolo foi à causa da celebração do negócio jurídico. Ou seja,
sem o dolo o negócio não seria realizado.

b) Dolo acidental: este dolo não invalida o negócio jurídico, mas apenas gera a obrigação de pagar
perdas e danos. (art. 146 CC). É acidental quando apesar do dolo, o negócio seria realizado,
embora de outra maneira. Esse dolo não ataca a substância do negócio.

Art. 146. O DOLO ACIDENTAL (o negócio seria realizado de outra maneira)


só obriga à satisfação das PERDAS E DANOS, e é acidental quando, a seu
despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.
71
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

É chamado acidental, pois não fulmina a essência do negócio jurídico.

#O que é dolo negativo?


O dolo negativo agride o princípio da boa-fé e consiste na OMISSÃO INTENCIONAL de
informação (dever de informação).

Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional (dolo negativo)
de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado,
constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.

IMPORTANTE!!! O dolo pode ser proveniente de outro contratante ou de terceiro estranho ao


negócio. O dolo de terceiro somente ensejará a anulação do negócio “se a parte a quem
aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento”. Entretanto se a parte a quem se aproveita o
negócio não soube do dolo de terceiro, não se anula o negócio. Mas o lesado poderá reclamar
perdas e danos do autor do dolo, pois este praticou um ato ilícito.

Resumindo!!! Portanto, o dolo de terceiro só anula o negócio se a parte a quem este aproveita
tivesse ou devesse ter conhecimento.
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a
parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário,
ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e
danos da parte a quem ludibriou.

IMPORTANTE!!! O dolo do representante é tratado no art. 149 CC, que distingue o


representante legal do convencional.
Art. 149. O dolo do representante LEGAL de uma das partes só obriga o
representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se,
porém, o dolo for do representante CONVENCIONAL, o representado
responderá SOLIDARIAMENTE com ele por perdas e danos.

#O que é dolo bilateral?


As duas partes tentam, reciprocamente, se enganar. O ordenamento jurídico não interfere onde há
dolo bilateral. O negócio jurídico NÃO será invalidado (art. 150 CC).

Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
anular o negócio, ou reclamar indenização.

4- COAÇÃO

A coação consiste em uma violência psicológica apta a influenciar a vítima a realizar


negócio jurídico que a sua vontade interna não deseja efetuar.

IMPORTANTE!!! A coação invalidante é a coação moral. A coação física interfere na existência


do negócio jurídico, não há sequer manifestação da vontade.
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao
paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua
família, ou aos seus bens.
72
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente,


o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.

A doutrina distingue a coação em principal e acidental. A principal seria a causa


determinante do negócio, enquanto a acidental influenciaria apenas as condições da avença, ou
seja, o negócio seria praticado, mas em condições menos desfavoráveis a vítima. A principal
constitui causa de anulação, enquanto a acidental somente obriga o ressarcimento do prejuízo.

Nem toda ameaça configura coação, o artigo 151 especifica os requisitos para que a coação
possa viciar o consentimento. São eles:

a) Deve ser a causa do ato: sem a coação o negócio não se teria concretizado.
b) Deve ser grave: a coação deve ter tal intensidade que efetivamente incuta ao paciente um
fundado temor de dano. “Não se considera coação o simples temor reverencial”.
c) Deve ser injusta: deve ser contrária ao direito, ou abusiva. “não se considera coação a ameaça do
exercício normal de um direito.”
d) Deve ser dano atual ou iminente: dano próximo, afastando assim ou dano distante ou remoto.
e) Deve acarretar justo receio de dano.
f) Deve constituir ameaça de prejuízo a pessoa ou bens da vítima, ou a pessoas da sua família:
o termo família tem hoje acepção ampla (casamento, união estável). O parágrafo único do art. 151
dispõe que se a coação disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com
base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.

De acordo com o art. 152 do CC, a análise de toda coação é feita de acordo com cada caso
concreto, ao apreciar a coação levam-se em conta as características da pessoa coagida.

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a


saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que
possam influir na gravidade dela.

Ex. Coagir um ex-guerrilheiro, homem-bomba das FARC, não é o mesmo que coagir uma velhinha
ingênua.

IMPORTANTE!!! Temor reverencial ou ameaça de agir conforme um direito NÃO caracteriza


coação.
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito,
nem o simples temor reverencial.

4.1 DOLO E COAÇÃO PROVENIENTES DE TERCEIRO

Art. 148 CC. Dolo de terceiro: o negócio jurídico só é anulado se a parte a quem aproveita
soubesse ou, pelas circunstâncias, devesse saber, do dolo usado pelo terceiro. Caso contrário, o
negócio jurídico subsiste, mas o terceiro responde pelos danos.

Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo, se a parte a quem
aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que
subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da
parte a quem ludibriou.

Ex. Um terceiro fica na porta da loja de relógios falsificados falando para os outros que eram rolex
originais. Se o dono da loja souber do dolo do terceiro, o negócio jurídico (compra-venda) será

73
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

anulado. Se o dono da loja não souber do dolo do terceiro, o negócio jurídico é válido, mas o
terceiro responde pelas perdas e danos.

Art. 154/155 CC. Coação de terceiro: o negócio jurídico só é anulado se a parte a quem
aproveita soubesse ou, pelas circunstâncias, devesse saber, da coação usada pelo terceiro. Na
coação de terceiro, foi prevista SOLIDARIEDADE no pagamento da indenização. Se o
beneficiário não souber da coação, o negócio jurídico subsiste, caso em que o autor da coação
responde (sozinho) pelos danos.

Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou
devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente
com aquele por perdas e danos.

INTERPRETANDO*** Só haverá solidariedade entre o terceiro que pratica a coação e a parte que
se beneficia, se aquele sabia (ou devia saber) da coação praticada pelo terceiro.

Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a
parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da
coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto .

INTERPRETANDO*** No caso de a parte que se beneficia não saber (ou não devesse saber) da
coação praticada pelo terceiro, o negócio jurídico subsiste (pois estava de boa-fé). O terceiro, só ele,
responderá pelas perdas e danos.

5- ESTADO DE PERIGO
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade
de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra
parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o
juiz decidirá segundo as circunstâncias.

O estado de perigo é uma aplicação à teoria do estado de necessidade no direito civil.

Configura-se o estado de perigo quando o agente, diante de uma situação de perigo de


dano (seu ou familiar ou pessoa íntima), conhecida pela outra parte, emite declaração de vontade,
assumindo obrigação excessivamente onerosa.

Ex. Pai que teve filho sequestrado e vende casa muito barata para pagar o resgate.

O estado de perigo compõe-se de dois elementos: o objetivo, que é a assunção de obrigação


excessivamente onerosa, e o subjetivo, que é caracterizado pelo constrangimento causado pela
necessidade de “salvar-se ou salvar pessoa de sua família” do risco grave existente.

IMPORTANTE!!! A parte beneficiada deve ser conhecedora do grave perigo por que passa o
declarante.

6- LESÃO

74
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Vício que mais de perto toca o abuso do direito econômico. Configura-se quando alguém
obtém um lucro exagerado, desproporcional, aproveitando-se da inexperiência ou da situação de
necessidade do outro contratante.

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor
da prestação oposta.
§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao
tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
(revisão contratual: princípio da conservação do negócio)

IMPORTANTE!!! O contrato será anulado, mesmo que o outro contratante não tenha tido
conhecimento das condições de necessidade ou inexperiência do lesado.

A lesão se diferencia do estado de perigo, pois exige o desequilíbrio de prestações,


enquanto o estado de perigo pode conduzir a negócios unilaterais em que a prestação assumida seja
unicamente da vítima. No estado de perigo se exige que a outra parte saiba do estado de
necessidade, ao contrário da lesão.

IMPORTANTE!!! No CDC, em razão da sua principiologia de ordem pública, a lesão é


considerada causa de nulidade absoluta (já que todas as normas do CDC são de ordem pública)
do negócio jurídico. No campo do CC, em contra partida, gera a anulabilidade do negócio
jurídico.

#Qual é a diferença entre lesão e teoria da imprevisão?


TEORIA DA IMPREVISÃO (que foi influenciada pela teoria da pressuposição) é utilizada
quando um acontecimento superveniente e imprevisível, prejudicar o equilíbrio do contrato. A
diferença é que na LESÃO, o desequilíbrio nasce com o negócio jurídico, tornando inválido. Na
teoria da imprevisão, ocorre um fato superveniente e imprevisível, pressupõe um negócio jurídico
válido que se desequilibra depois de iniciado, resultando em sua revisão ou dissolução.

#O que é dolo de aproveitamento?


É um dos elementos subjetivos da lesão. É a vontade de enriquecer às expensas de outrem (é a
vontade de se aproveitar às custas da ingenuidade da outra parte). A lei brasileira não exige, para
a configuração da lesão, o dolo de aproveitamento, ou seja, não é preciso comprovar que a
parte quis lesar a outra.

No art. 157 do CC não há menção ao dolo de aproveitamento. O art. 157 não trouxe critérios
objetivos para avaliar a lesão. O CC usou o sistema aberto, o juiz deve analisar cada caso concreto.

IMPORTANTE!!! Não se decretará a anulação do negócio jurídico se for oferecido suplemento


suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito (revisão contratual).
Princípio da conservação do negócio jurídico.

Art. 157.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente,
ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. (revisão contratual:
princípio da conservação do negócio jurídico)

7- FRAUDE CONTRA CREDORES


75
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

É vício social. A fraude contra credores consiste na prática de um ato negocial que diminui o
patrimônio do devedor insolvente prejudicando credor preexistente.

IMPORTANTE!!! Esta só se caracteriza se o devedor já for insolvente, ou se tornar


insolvente. Se for solvente, é ampla a sua liberdade de dispor seus bens. Só ocorrerá também em
relação à CREDORES PREEXISTENTES, para os credores futuros não se aplica esse vício do
negócio jurídico.
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se
os praticar o DEVEDOR JÁ INSOLVENTE, OU POR ELES REDUZIDO À
INSOLVÊNCIA, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores
quirografários, como lesivos dos seus direitos.
§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a
anulação deles. (Só credores anteriores à suposta fraude é que podem pleitear
sua anulação - PREEXISTENTES)

Na fraude contra credores a vitima é especifica, é o credor preexistente.

IMPORTANTE!!! Para haver fraude contra credores é preciso da conjugação do consilium


fraudis, elemento subjetivo, (má-fé, intenção de fraudar) e eventus damini, elemento objetivo
(prejuízo sofrido pelo credor).

Obs. Parcela respeitável da doutrina (Maria Helena Diniz) sustenta que determinados negócios
fraudulentos por sua gravidade tem a má-fé (consilium fraudis) presumida. Em tais casos, restaria
apenas a prova do dano. Ex. Pessoa atolada de dívidas que está doando gratuitamente bens.

Exemplos legais de fraudes contra credores:

a) Negócios de transmissão gratuita de bens. Art. 158 CC. (Ex. Doação). O sujeito é insolvente e
ainda está doando bens. Nesses casos os credores não precisam provar o conluio fraudulento, pois a
lei presume a existência do propósito de fraude.

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão (perdão) de


dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência,
ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como
lesivos dos seus direitos.

b) Na remissão (perdão) de dívida. Art. 158. Perdão fraudulento.

c) Contratos onerosos do devedor insolvente em duas hipóteses (art. 159):

 Quando a insolvência for notória


 Quando houver motivo para ser conhecida do outro contratante

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente,


quando a insolvência for notória, OU houver motivo para ser conhecida do
outro contratante.

Obs. O devedor insolvente que está realizando um contrato oneroso pode não estar cometendo
fraude. A demonstração da fraude depende da comprovação do eventus damni e do consilium

76
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

fraudis, e também de que a outra parte estava agindo em conluio, seja porque a insolvência era
notória ou porque havia motivo para que a insolvência fosse conhecida do outro contraente.

d) Antecipação de pagamento feito à um dos credores quirografários em detrimento dos


demais (art. 162).

Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da


dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que
se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.

e) Outorga de garantia de dívida dada à um dos credores em detrimento dos demais (art. 163).
O que se anula nessa hipótese é somente a garantia, a preferência concedida a um dos credores.
Continua ele, porém, como credor, retornando a condição de quirografário.

Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de
dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.

Dispõe o art. 164 CC que “presume-se, porém, de boa fé e valem os negócios ordinários
indispensáveis a manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou a
subsistência do devedor e de sua família”. O dono do estabelecimento pode continuar vendendo
suas mercadorias. Não pode, entretanto, alienar o próprio estabelecimento.

7.1. AÇÃO PAULIANA

Ação Pauliana é um tipo de ação revocatória que o credor faz uso para alegar fraude
contra credores.

Legitimidade ativa para propor a ação pauliana é do CREDOR PREEXISTENTE, seja


ele quirografário ou não (mesmo o credor que tem garantia real, se esta garantia se mostrar
insuficiente, poderá propor ação pauliana, nesse caso há interesse de agir). Os que se
tornaram credores depois da alienação já encontraram desfalcados o patrimônio do devedor e
mesmo assim negociaram com ele, nada podem reclamar.

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os


praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o
ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus
direitos.
§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação
deles (PREEXISTENTES).

Legitimidade passiva: a ação pauliana é proposta contra o devedor insolvente, devendo


haver litisconsórcio com a pessoa que com ele contratou e, eventualmente, com terceiro de má-fé
(art. 161). Deverá propor a ação contra todos para que a sentença também produza efeitos em
relação a eles.

Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159 poderá (DEVERÁ) ser intentada contra
o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada
fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.

Obs. Se o bem já foi alienado à um terceiro de boa-fé, o bem não é devolvido, cabendo ao credor
buscar outros bens do devedor (homenageia-se a boa-fé do terceiro). Princípio da eticidade.

77
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! A ação pauliana é AÇÃO PESSOAL que NÃO EXIGE OUTORGA


UXÓRIA e tem PRAZO DECADENCIAL DE QUATRO ANOS para sua propositura.

#Qual é a natureza jurídica da sentença na ação pauliana?


A doutrina tradicional e ainda predominante (Nelson Nery, Rosa Nery, Moreira Alves, Bevilácqua)
é no sentido de que a sentença é DESCONSTITUTIVA ANULATÓRIA, nos termos do art. 165
CC. Ocorre que uma segunda corrente doutrinária (Pablo Stolze, Yussef S. Cahali, Alexandre
Câmara) discorda categoricamente da natureza anulatória, argumentando que a sentença na ação
pauliana é simplesmente declaratória da ineficácia do negócio fraudulento em face do credor
prejudicado.

A segunda corrente sustenta que o negócio não é inválido, mas apenas ineficaz em relação
ao credor, o contrato pode surtir efeitos (se o devedor ganhar na mega sena, ele não será mais
insolvente, e o negócio fraudulento surtirá efeitos), o negócio é apenas ineficaz em face do credor.

7.2. FRAUDE A EXECUÇÃO

IMPORTANTE!!! Não confundir fraude contra credores com a fraude à execução. A fraude à
execução é instituto processual, mais grave do que a fraude contra credores. A fraude à execução
desrespeita a administração da justiça, na fraude à execução já existe demanda contra o devedor.

IMPORTANTE!!! Súmula 195 STJ, “em embargos de terceiro não se anula ato jurídico por
fraude contra credores.” A fraude contra credores não pode ser usada como matéria de defesa.

7.2.1 Características da fraude a execução

a) É incidente de processo, regulado pelo direito público, enquanto a fraude contra credores
é regulada pelo direito civil.
b) Pressupõe demanda em andamento, capaz de reduzir o alienante a insolvência.
Configura-se quando o devedor já havia sido citado. A alienação fraudulenta feita antes
da citação caracteriza fraude contra credores.
c) Pode ser reconhecida mediante simples petição, nos próprios autos. A fraude contra
credores deve ser pronunciada em ação pauliana, não reconhecida em embargos de
terceiro (STJ Sumula 195).

d) A má-fé do terceiro adquirente deve ser provada, para a caracterização da fraude contra
credores nas alienações onerosas, bem como da fraude a execução, conforme dispõe a
sumula 375 STJ.

SÚMULA 375 STJ – O reconhecimento a fraude a execução depende do registro


da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.

e) Torna ineficaz, em face dos credores o negócio jurídico; a fraude contra credores torna
anulável.

78
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO IV
DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

1- INTRODUÇÃO

A invalidade pode se manifestar de duas maneiras: por meio da nulidade absoluta e por
meio da nulidade relativa.

IMPORTANTE!!! Ter em mente que sempre que o juiz puder, ele deverá aproveitar o negócio
jurídico inválido, à luz do princípio da conservação.

Obs. Exemplificando a aplicação do princípio da conservação, temos o art. 184 do CC que cuida
da redução do negócio jurídico. Não é porque uma cláusula do contrato é inválida, que todo o
contrato o será.

Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio


jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade
79
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

da obrigação principal IMPLICA a das obrigações acessórias , mas a destas não


induz a da obrigação principal.

#O que é nulidade virtual?


A despeito da regra segundo a qual toda nulidade pressupõe texto de lei, a agressão a determinados
princípios constitucionais (Ex. Função social e boa-fé objetiva) pode nos remeter à ideia de
existirem nulidades implícitas ou virtuais, que dispensem expresso texto de lei. Então, nulidade
virtual é aquela que não tem previsão legal.

2- ATO INEXISTENTE, NULO E ANULÁVEL

O negócio é inexistente quando lhe falta algum elemento estrutural (requisitos de existência,
tal como a manifestação de vontade). Se a vontade foi manifestada, mas encontra-se eivada de dolo
ou coação, por exemplo, o negócio existe, mas é anulável. Se a vontade emana de um
absolutamente incapaz, maior é o defeito, o ato é nulo.

O negócio nulo atinge norma de ordem pública, norma cogente; o negócio é anulável,
quando atinge norma dispositiva, de interesse particular.

3- NULIDADE ABSOLUTA

Os arts. 166 e 167 CC dizem as hipóteses de NULIDADE ABSOLUTA.

Art. 166. É NULO o negócio jurídico quando:


I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterMINÁVEL o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a AMBAS as partes, for ilícito
(SIMULAÇÃO);
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar
sanção.

Art. 167. É NULO o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se


dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais
realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do
negócio jurídico simulado.

Obs. Art. 166 III CC. É nulo o negócio jurídico quando o motivo determinante, comum a AMBAS
as partes, for ilícita. É nulo o negócio jurídico quando sua causa for ilícita.

#O que é a causa do negócio jurídico?


A causa, diferentemente do motivo, que é psicológico, exterioriza-se como sendo a finalidade ou
a função do negócio jurídico.

80
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Obs. Motivo e causa são coisas diferentes. Motivo é psicológico, é íntimo, não precisa aparecer,
são razões interiores (reserva mental). Já a causa, é a razão típica, é aquilo que se exterioriza (Ex.
Na doação é a liberalidade; na venda é a aquisição de R$).

Pois bem, sempre que em determinado negócio, a causa/finalidade for ilícita, o negócio
jurídico é nulo. Ex. Contrato de locação que tem por causa a instalação no local de casa de
prostituição é nulo de pleno direito.

3.1 CARACTERÍSTICAS DO NEGÓCIO NULO OU DA NULIDADE ABSOLUTA

a) A nulidade absoluta, dada a sua gravidade, pode ser arguida por qualquer pessoa e inclusive
reconhecida de ofício pelo juiz (art. 168). É de ordem pública, decretada no interesse da própria
coletividade.

Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes (absolutas) podem ser alegadas por
qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer
do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, NÃO lhe sendo
permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.

b) A nulidade absoluta não admite confirmação nem se convalesce pelo decurso do tempo (art.
169). O negócio jurídico nulo nunca poderá ser ratificado, nem se convalesce pelo passar do tempo
(é imprescritível). A nulidade absoluta não pode ser sanada pela confirmação nem suprida pelo
juiz.

IMPORTANTE!!! Vale lembrar que os efeitos patrimoniais decorrentes da nulidade


prescrevem.

c) O negócio nulo deve ser declarado por meio de sentença com efeitos retroativos (ex tunc). O
negocio jurídico é nulo desde o início, é como se o negócio nulo nunca tivesse gerado efeitos.

Obs. Protege-se terceiros de boa-fé.

Obs. Os efeitos da declaração de nulidade absoluta e o da declaração de inexistência do negócio


jurídico são praticamente os mesmos (não há diferença). A única diferença se dá em relação a causa
de cada um.

d) A nulidade deve ser pronunciada de ofício pelo juiz e seu efeito é ex tunc, pois retroage a data do
negócio, para lhe negar efeitos. O negócio nulo não produz efeitos nenhum. A sentença que
declara a nulidade tem natureza declaratória.

4- NULIDADE RELATIVA OU ANULABILIDADE


Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores. (na simulação é nulo, não anulável)

4.1. CARACTERÍSTICAS DA NULIDADE RELATIVA OU ANULABILIDADE

81
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

a) Decretada no interesse privado da pessoa prejudicada. A anulabilidade deve ser arguida pelo
legítimo interessado, NÃO podendo o juiz reconhecê-la de ofício (art. 177).

Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se
pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita
exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou
indivisibilidade.

b) A anulabilidade se convalida com o decurso do tempo, se submete à prazos decadenciais


(art. 178 e 179). Prazo de 4 anos, essa é a regra!

Art. 178. É de QUATRO ANOS o prazo de decadência para pleitear-se a anulação


do negócio jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em
que se realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

IMPORTANTE!!! O novo CC consagrou, no art. 179, um prazo decadencial


supletivo/subsidiário (quando a lei não estabelecer o prazo decadencial) de DOIS ANOS (Ex.
Aplica-se ao art. 496, venda de ascendente à descendente). Por conta desse prazo a súmula 494 do
STF que dizia que a ação para anular venda de ascendente à descendente era de 20 anos perdeu a
eficácia.
(Trata-se de PRAZO SUPLETIVO)
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer
prazo para pleitear-se a anulação, SERÁ ESTE DE DOIS ANOS, a contar da data
da conclusão do ato.

IMPORTANTE!!! Em todos os defeitos do negócio jurídico o prazo é de quatro anos (erro, dolo,
coação, fraude contra credores, estado de perigo e lesão). Será de dois anos quando a lei não
dispuser prazo próprio.

c) Os negócios anuláveis, diferentemente dos nulos, admitem confirmação/ratificação expressa


ou tácita (art. 172/174 CC). Podem ser confirmados pelas partes, salvo direito de terceiro.

Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo
direito de terceiro.

Art. 173. O ato de confirmação (confirmação expressa) deve conter a


substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo.

Art. 174. É escusada a confirmação expressa), quando o negócio já foi


cumprido em parte. pelo devedor, ciente do vício que o inquinava
(confirmação tácita).

Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio


anulável, nos termos dos arts. 172 a 174, importa a extinção de todas as
ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor.

IMPORTANTE!!! A sentença anulatória do negócio jurídico gera efeitos retroativos (ex tunc),
dada a sua natureza especial (Humberto Theodoro Jr.).

Obs. Existe posicionamento que diz que os efeitos são ex nunc.

82
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! Ter em mente que A SENTENÇA QUE ANULA O NEGÓCIO JURÍDICO


RETROAGE PARA RECOLOCAR AS PARTES NO STATUS QUO ANTE. Caso a sentença
que anula o negócio jurídico tivesse só efeitos para o futuro, não seria possível o retorno ao status
quo ante.

O Art. 182 que prova isso.

Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que


antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com
o equivalente.

Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de terceiro, será validado se


este a der posteriormente (art. 176 CC).

#O que é eficácia interimística?


Seguindo o pensamento de Pontes de Miranda, podemos afirmar que o negócio anulável gera uma
eficácia especial ou interimística até o dia em que a sentença é proferida; não sendo proferida (por
decadência p. ex.) os efeitos do negócio são mantidos.

Art. 177. A ANULABILIDADE não tem efeito antes de julgada por sentença,
nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita
exclusivamente aos que a alegarem, SALVO o caso de solidariedade ou
indivisibilidade.

#Existe nulidade superveniente?

Em regra, as nulidades são analisadas quando da celebração do negócio jurídico. Todavia, parte da
doutrina admite a possibilidade de um negócio jurídico sofrer nulidade superveniente.

d) O efeito do reconhecimento da nulidade relativa é ex nunc. Na anulabilidade a sentença tem


natureza desconstitutiva, pois o negócio anulável vai produzindo efeitos até ser pronunciada a sua
invalidade.

RESUMINDO!!! A declaração de nulidade absoluta tem efeito ex tunc, levando as partes ao status
quo ante; já a reconhecimento da nulidade relativa na sentença produz efeitos ex nunc,  de modo
que o negócio produz efeitos até aquele momento!!

4.2 CONVERSÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO

IMPORTANTE!!! É como se fosse o princípio da fungibilidade.

Trata-se de uma medida sanatória do negócio jurídico inválido que consiste no


aproveitamento dos elementos materiais do negócio jurídico viciado, para permitir, segundo a
vontade das partes, a conversão em outro negócio jurídico válido e eficaz.

Obs. A conversão não é igual a confirmação do negócio jurídico inválido. Converter é transformar
o negócio jurídico inválido em negócio jurídico válido.

83
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! A conversão pode ser aplicada tanto ao negócio jurídico nulo, quanto ao
anulável (lembrar que o negócio jurídico anulável tem outras medidas sanatórias. Aplica-se mais a
conversão ao negócio jurídico nulo porque a conversão é a única medida de salvação desse
negócio).

O art. 170 só fala em negócio nulo, mas quem pode o mais, pode o menos. De acordo com o
CC só cabe a conversão ao negócio nulo.

Princípio Da Conversão
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro,
subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o
teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.

Elemento psicológico: se as partes já soubessem da nulidade já teriam praticado o negócio


jurídico válido.

Ex. É possível converter a doação mortis causa em testamento.

Ex. Na compra e venda de imóvel acima de 30 salários mínimos sem o registro o negócio é nulo.
Porém, pode-se converter o contrato particular de compra e venda em promessa de compra e venda.

5- DISPOSIÇÕES ESPECIAIS

a) Principio da conservação
Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre
que este puder provar-se por outro meio.

b) Dispõe o art. 184 CC que “respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio
jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação
principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação
principal.”

INTERPRETANDO*** 1ª parte. Ex. Invalidade da hipoteca por falta de outorga uxória impede a
constituição do ônus real, mas é aproveitável como confissão de divida. 2ª parte. Consiste na
aplicação da regra de que o acessório segue o principal.

c) IMPORTANTE!!! Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado


em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o
equivalente (aplica-se a nulidade absoluta e relativa).

d) Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não
provar que reverteu em proveito dele a importância paga. Provado que o pagamento nulo reverte-se
ao incapaz, determina-se a restituição, pois ninguém pode locupletar-se a custa alheia. O ônus da
prova incumbe a quem pagou.

6- SIMULAÇÃO

Na simulação, o negócio jurídico tem aparência normal, mas na verdade não pretende
atingir o efeito que deveria produzir. Na simulação, as duas partes se unem para enganar um

84
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

terceiro ou a sociedade (Ex. Casamento só pra conseguir visto). É chamada de vício social porque
objetiva iludir terceiros ou violar a lei. Se divide em simulação absoluta ou relativa.

6.1 SIMULAÇÃO ABSOLUTA

Simulação absoluta: as partes criam um jogo de cena, vale dizer, celebra-se negócio
jurídico destinado a não produzir efeito algum. Ex. Simula empréstimo para excluir bens da
partilha.

6.2. SIMULAÇÃO RELATIVA

Simulação relativa: cria-se um negócio jurídico para encobrir outro negócio cujos efeitos
são proibidos por lei. Ex. Simulação de uma doação para uma pessoa para que essa doe à
concubina.

Obs. Não confundir simulação com dissimulação, embora em ambas haja o propósito de enganar.
Na simulação procura-se aparentar o que não existe; na dissimulação se oculta o que é verdadeiro.

IMPORTANTE!!! O novo CC mudou o tratamento da simulação. O CC/02 não considera mais a


simulação como causa de anulabilidade do negócio jurídico, mas sim como causa de nulidade
absoluta. HAVENDO SIMULAÇÃO, ABSOLUTA OU RELATIVA, O NEGÓCIO É NULO.

É nulo o negócio simulado, mas, poderá ser aproveitado o que se dissimulou se for válido na
constituição ou na forma (princípio da conservação do negócio jurídico).

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou,
se válido for na substância e na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais
realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do
negócio jurídico simulado.

Obs. O CC/02 não contempla mais a figura da simulação inocente.

IMPORTANTE!!! No CC/16, o art. 104 proibia que um dos simuladores alega-se a simulação
contra o outro. Ocorre que o CC/02 não reproduziu esse artigo, porque trata a simulação como
NULIDADE ABSOLUTA, que pode ser alegada por qualquer um, a qualquer tempo.

TÍTULO II
DOS ATOS JURÍDICOS LÍCITOS

Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se,
no que couber, as disposições do Título anterior.

85
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

TÍTULO III
DOS ATOS ILÍCITOS

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes. (abuso de direito – responsabilidade objetiva)

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito
reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de
remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo.

TÍTULO IV
DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
CAPÍTULO I
DA PRESCRIÇÃO

86
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

1- INTRODUÇÃO

No dia 21/12/08, Tício e Caio celebram um negócio jurídico, pelo qual Caio se torna credor
de R$100 e Tício devedor de R$100. O termo fixado para o vencimento da obrigação é o dia
12/04/08. Chegado esse dia, Ticío frustra seu dever de pagar. Surge nessa data, o poder para Caio,
de coercitivamente, exigir o cumprimento da obrigação (surge a pretensão). Porém, o ordenamento
jurídico só confere esse poder coercitivo dentro de um certo prazo (o prazo prescricional). A
pretensão nasce no dia da violação do direito e morre no fim do prazo.

Sendo assim, a prescrição ataca a pretensão (que é a exigência de subordinação de um


interesse alheio a um interesse próprio), e não a ação. A prescrição se inicia no momento em que
há violação do direito. Tem-se prescrição quando se quer algo da outra parte (pretensão em face da
outra parte).

A prescrição tem como requisitos: a) a inércia do titular ante a violação de um direito seu; b)
decurso do tempo fixado em lei.
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue,
pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

Obs. Os prazos prescricionais só estão nos artigos 205 e 206 do CC (se estiver fora desses artigos, o
prazo será decadencial).

IMPORTANTE!!! Vencido o prazo prescricional ainda subsiste o direito de ação. Ora, isso é
simples, O DIREITO DE AÇÃO É AUTÔNOMO, é o direito de ir a juízo. Se o exercício do
direito de ação for efetivado após o prazo prescricional, simplesmente a ação será improcedente (o
direito de ação não é o direito a um provimento jurisdicional positivo, como diziam os concretistas).

IMPORTANTE!!! #O que é prescrição intercorrente?


É aquela que se consuma dentro do próprio processo. Analisa o problema das ações enormemente
demoradas. Pode ocorrer a prescrição enquanto o processo ficar engavetado?

No direito tributário, nos termos do art. 40 da lei de execução fiscal, modificado pela lei
11.051/04, admite-se o reconhecimento da prescrição intercorrente (contra a fazenda).

Com o advento do NOVO CPC, configurado o abandono do processo, na fase de


conhecimento, o juiz deverá determinar a intimação pessoal do autor, para, só então, se for o
caso, proceder à extinção do processo sem julgamento de mérito (artigo 267, inciso III). Na
EXECUÇÃO, pelo contrário, constatada a inércia prolongada do exequente, alcançado o
lapso de prescrição intercorrente, torna-se despicienda qualquer providência ulterior para
a imediata extinção do processo!
3
2- PRETENSÕES IMPRESCRITÍVEIS

O art. 205. Trata do prazo prescricional máximo de 10 anos e o art. 206 trata dos prazos
prescricionais especiais. De acordo com esses artigos, tem se em vista que não há ações
imprescritíveis. Entretanto a doutrina aponta várias pretensões imprescritíveis. Sendo assim a
prescritibilidade é a regra e a imprescritibilidade a exceção.

87
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Não prescrevem: a) ações que protegem o direito da personalidade , b) as que se prendem


ao estado das pessoas, c) as de exercício facultativo (ou potestativo), em que não há direito violado,
d) referentes a bens públicos de qualquer natureza. Entre outras.

3- PRECLUSÃO E INSTITUTOS AFINS (PRECLUSÃO, PEREMPÇÃO E


DECADÊNCIA)

A PRECLUSÃO consiste na perda de uma faculdade processual, por não ter sida exercida
no momento próprio. Só produzem efeitos dentro do mesmo processo. A preclusão pode ser:
Temporal, referente ao tempo; Consumativa, quando o ato já se consumou, não podendo fazê-lo
novamente; Lógica, quando se pratica determinado ato que o impeça de fazê-lo de outra forma.

A PEREMPÇÃO também é de natureza processual. Consiste na perda de direito de ação


pelo autor contumaz, que deu causa a três arquivamentos sucessivos. NÃO extingue o direito
material e nem a pretensão, que passam a ser oponíveis somente como defesa.

A DECADÊNCIA atinge diretamente o direito, e por via obliqua extingue a ação (é o


próprio direito que perece).

4- DISPOSIÇÕES LEGAIS SOBRE A PRESCRIÇÃO

Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, aquela se extingue pela prescrição,
nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206 CC, única e exclusivamente. A exceção prescreve nos
mesmos prazos (direito de defesa).

Art. 190. A exceção (direito de defesa) prescreve no mesmo prazo em que a


pretensão.

O que se procura evitar com este dispositivo é que prescrita a pretensão, o direito com
pretensão prescrita possa ser utilizado perpetuamente a título de exceção como defesa.

O art. 191 do CC não admite a renúncia prévia da prescrição, isto é, antes que se tenha
consumado. Não se admite a renúncia prévia nem da prescrição em curso.
Art. 191. A RENÚNCIA DA PRESCRIÇÃO pode ser expressa ou tácita, e só
valerá, sendo feita, SEM PREJUÍZO DE TERCEIRO, DEPOIS QUE A
PRESCRIÇÃO SE CONSUMAR; tácita é a renúncia quando se presume de fatos
do interessado, incompatíveis com a prescrição.

Dois são os requisitos para a renúncia da prescrição: a) que a PRESCRIÇÃO JÁ


ESTEJA CONSUMADA; b) que NÃO PREJUDIQUE TERCEIROS. A renúncia pode ser
expressa ou tácita. Tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis
com a prescrição. A renúncia expressa decorre de manifestação inequívoca, escrita ou verbal, do
devedor de que dela não pretende utilizar-se.
#O juiz pode reconhecer prescrição de ofício?
A prescrição é uma defesa de mérito do devedor (exceção substancial). Na redação original do
CC/02, art. 194, falava que a parte a quem aproveita deveria alegar a prescrição, só podendo o juiz
ex offício pronunciar-se a respeito da prescrição em favor de incapaz.

A lei 11.280/06 alterou o CPC de 73 para permitir que o juiz pronuncie de ofício a
prescrição (como forma de desafogar o judiciário). O que antes era exceção tornou-se regra.
88
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Em respeito ao caráter defensivo da prescrição, e nos termos do art. 191, cumulado com o
enunciado 295 da 4ª jornada, o juiz deve, antes de pronunciar de ofício a prescrição, abrir prazo
para manifestação das partes (princípio da cooperatividade).

Com o advento do NOVO CPC, o entendimento emoldurado no enunciado da CJF


supracitado restou incorporado ao dispositivo legal que rege a situação:

Art. 487. Haverá resolução de mérito:


II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou
prescrição;
Parágrafo único.  Ressalvada a hipótese do § 1o do art. 332, a prescrição e a
decadência NÃO serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes
oportunidade de manifestar-se.

IMPORTANTE!!! Todo prazo prescricional decorre da lei, por isso mesmo, é que NÃO
podem ser alterados pelas partes (art. 192 CC). A prescrição em curso não cria direito adquirido,
podendo seu prazo ser reduzido ou ampliado por LEI superveniente.

Dispõe o art. 193 CC que a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição,
pela parte a quem aproveita. Pode ser arguida em qualquer fase ou estado da causa, em primeira
ou em segunda instância. Não significa a renúncia tácita, a falta de invocação da prescrição na
primeira oportunidade em que falar no processo.

Se a prescrição, entretanto, não foi suscitada na instância ordinária (primeira e segunda


instância), é inadmissível sua arguição no recurso especial ou extraordinário por faltar o
prequestionamento. Dispõe a súmula 282 do STF que “é inadmissível o recurso extraordinário
quando não ventilada na decisão recorrida, a questão federal suscitada”.

Obs. Nada impede que o STJ ou STF declarem a prescrição de oficio uma vez admitido o recurso,
porém, devem, anteriormente, intimar as partes a se manifestarem sobre a prescrição ou decadência.

Art. 195. Os RELATIVAMENTE incapazes e as PESSOAS JURÍDICAS têm


ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à
prescrição, ou não a alegarem oportunamente.

INTERPRETANTO*** Se o tutor do menor púbere culposamente permitir que a ação do tutelado


prescreva, deverá indenizá-lo pelo prejuízo causado.

Atenção!!! Entretanto, este artigo NÃO abrange os absolutamente incapazes, mencionados no art.
3º CC, por que contra estes não corre a prescrição.
Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu
sucessor.

Assim, o herdeiro do de cujus disporá apenas do prazo faltante para exercer a ação quando
esse prazo iniciou-se com o autor da herança. O prazo desse modo não se inicia novamente com a
morte desse.

6- DAS CAUSAS QUE IMPEDEM OU SUSPENDEM A PRESCRIÇÃO

89
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Os prazos prescricionais, em regra (art. 197 a 202 CC), e os decadenciais, só por exceção
(art. 26 CDC: reclamação do consumidor ao fornecedor e instauração de inquérito civil), podem se
submeter à causas impeditivas, suspensivas ou interruptivas.

Causa impeditiva/suspensiva: art. 197 a 199 do CC. O mesmo acontecimento pode ser ou
causa impeditiva (impede que comece), ou causa suspensiva (impede que prossiga), depende do
momento que ocorre.

A causa impeditiva impede o início do prazo.

A causa suspensiva impede que o prazo continue correndo.

Art. 197. Não corre a prescrição:


I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela
ou curatela.

O motivo nesses casos é a confiança e amizade que existe entre as partes.


Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o; (ABSOLUTAMENTE
INCAPAZES)
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos
Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.

Não corre a prescrição contra os ABSOLUTAMENTE incapazes (quando teriam o direito


de propor a ação). A prescrição contra o menor só se inicia quando este completar 16 anos de
idade. Mas, importante ressaltar, que a prescrição corre a favor dos absolutamente incapazes
(quando estes poderiam ser acionados).

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:


I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.

Nas duas primeiras hipóteses o terceiro ainda não se tornou exigível, não sendo possível,
pois, se falar em prescrição. Se o terceiro propõe ação de evicção, fica suspensa a prescrição até o
desfecho final.

Dispõe o art. 200 que “quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo
criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.”

Dispõe ainda o art. 201 “que suspensa a prescrição em favor de um dos credores
solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.” A prescrição é beneficio
pessoal e só favorece as pessoas taxativamente mencionadas, mesmo na solidariedade. Assim,
existindo três credores, de dívida em dinheiro, sendo um deles absolutamente incapaz, a prescrição
fluirá normalmente contra os outros dois credores, ficando suspensa apenas em relação ao menor.
Se se tratar, porém, de direito indivisível a prescrição somente começará a fluir para todos quando
o incapaz completasse 16 anos. Sendo o direito indivisível, a suspensão aproveita a todos os
credores.

90
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

7- DAS CAUSAS QUE INTERROMPEM A PRESCRIÇÃO

O art. 202 do CC diz que o prazo prescricional só pode ser interrompido UMA VEZ
(para evitar abusos), e também nos diz as hipóteses de interrupção. De acordo com seu parágrafo
único, “a prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do
último ato do processo para a interromper.”

A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado (art. 203 CC). Incluindo
terceiros que tenham legitimo interesse.
Art. 202. A interrupção da prescrição, que SOMENTE PODERÁ OCORRER
UMA VEZ, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em
concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato
que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.

LEMBRAR SEMPRE!!! No direito civil a citação interrompe a prescrição, já no direito penal NÃO!

7.1. OBSERVAÇÕES ACERCA DO INCISO I DO ART. 202.


Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-
se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;

A prescrição considera-se interrompida na data da distribuição, onde houver mais de uma


vara, ou do despacho quando a vara for única. Mas não é este nem aquela que a interrompem,
mas sim a citação, operando, porém, retroativamente a referida data:

Art. 240 do NOVO CPC.  A citação válida, ainda quando ordenada por juízo
incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o
devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei no 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil).
§ 1o A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação,
ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura
da ação.

O inciso I considera causa interruptiva o despacho do juiz, mesmo incompetente, que


ordenar a citação, desde que esta seja promovida pelo interessado, no prazo e na forma da lei
processual.

Para interromper a prescrição, a citação deve preencher os requisitos de existência e de


validade, segundo a lei processual. A citação ordenada por juiz incompetente interrompe a
prescrição, para beneficiar aqueles que de boa fé peticionam perante o juiz incompetente. É

91
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

preciso também que a citação seja válida, isto é, que não seja nula por inobservância das
formalidades legais.

Obs. Tem se admitido que a citação ordenada em processo anulado é idônea para se interromper a
prescrição, não tendo a nulidade sido decretada exatamente por vício de citação.

Dispõe ainda o art. 204 CC,


A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros;
semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro,
não prejudica aos demais coobrigados.

INTERPRETANDO*** Os efeitos da prescrição são PESSOAIS. Em consequência, a


interrupção da prescrição feita por um credor não aproveita os outros, assim como aquela
promovida contra um devedor não prejudica os demais coobrigados. Esta regra admite exceção:
§ 1o A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim
como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e
seus herdeiros.
§ 2o A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário NÃO
prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de
obrigações e direitos indivisíveis.

No caso do §2º, todos os herdeiros ou devedores solidários sofrem os efeitos da interrupção


da prescrição, passando a correr contra todos eles o novo prazo prescricional. Já decidiu o STJ, “se
o direito é indivisível, a interrupção da prescrição por um dos credores a todos aproveita”.
§ 3o A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.

Como a fiança é contrato acessório, este segue o destino do principal. A recíproca não é
verdadeira.

8- CONTAGEM DE PRAZO PRESCRICIONAL

A maioria dos prazos do Código Civil foi reduzida. Qual é o prazo prescricional da
pretensão de reparação civil? Para a famosa ação de perdas e danos era de 20 anos. Hoje é de 3
anos. O STJ tem reafirmado a seguinte tese, caso: um determinado ato ilícito, acidente que derivou
uma vítima, o credor, titular da pretensão que tinha prazo de 20 anos para formular a pretensão em
juízo. O credor não fez isso. Deixou o prazo correr. No 12º ano do prazo, entrou em vigor o Código
de 2002 que havia reduzido o prazo de 20 para 3 anos. O prazo prescricional era de 20, o credor não
se movimentou. #Faltariam quantos anos para a prescrição? 3 anos, pelo código novo ou 8
anos para totalizar 20, pelo código velho? Apesar de o código não ter sido muito minucioso,
adotou uma regra geral sobre isso. A resposta a essa pergunta (quantos anos faltariam para a
prescrição) encontra-se no art. 2028, do Código Civil:

Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e
se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.

92
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

O prazo foi reduzido? Sim. De 20 para 3 anos. Então, se no concurso cair uma questão desta,
a primeira pergunta que se deve fazer é se o prazo foi reduzido. Tendo sido reduzido, você aplica o
2.028: se decorreu mais da metade do prazo da lei velha, continua a aplicar a lei velha.
Faltariam, no exemplo, quantos anos para a prescrição? 8 anos.

Se no concurso a questão propôs a transcrição de menos da metade, por exemplo, no 7º ano


entra em vigor o código de 2002, faltariam 3 anos para a prescrição.

#Esses três anos, que é o prazo da lei nova, se conta da consumação do ilícito ou da entrada
em vigor do código novo?

A esmagadora maioria da doutrina e a jurisprudência do STJ já firmaram o entendimento no


sentido de que o prazo menor da lei nova deve ser contado a partir da entrada em vigor do
novo Código Civil e não do momento em que o direito é descumprido (ver REsp 896635/MT).

“REsp 896635: (...) O prazo prescricional em curso, quando


diminuído pelo novo Código Civil, só sofre a incidência da redução a
partir da sua entrada em vigor. Precedentes. (...)”

Até porque, se considerasse o prazo contando a partir do início, se estaria dando


retroatividade ao código novo e fulminando o credor que tinha, 20 anos de prazo e, de repente,
acorda sem nada. Maria Helena Diniz sustenta que o prazo tem que ser contado a partir do direito
descumprido. Mas é posição isolada na doutrina.

93
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO II
DA DECADÊNCIA

1- CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

Conceito: é a perda do direito potestativo pela inércia do seu titular no período determinado
em lei.

#O que é direito potestativo?


Direito potestativo (ou formativo) é aquele, por meio do qual o seu titular interfere na esfera
jurídica de terceiro, impondo uma sujeição, sem que esta pessoa nada possa fazer. Diferenciam-se
dos direitos a uma prestação. Os direitos potestativos são direitos sem pretensão, pois são
insuscetíveis de violação, já que a eles não se opõe um dever de quem quer que seja, mas uma
sujeição de alguém.

Obs. O prazo para o exercício de um direito potestativo, será sempre um prazo decadencial.

2- DISPOSIÇÕES LEGAIS DA DECADÊNCIA

Dispõe o art. 207, “salvo disposição legal em contrário, NÃO se aplicam à decadência as
normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.”

IMPORTANTE!!! Art. 26 CDC. Causa impeditiva de prazo decadencial (isso é exceção).

1º) Reclamação perante o fornecedor até a resposta negativa deste.


2º) Instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

Os prazos decadenciais podem ser legais ou convencionais.

Prazo decadencial legal: direito de anular um negócio jurídico por vício, dolo por exemplo
(o que se quer é a anulação do negócio, não quer nada da outra parte).

#O juiz pode reconhecer decadência de ofício?

Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por
lei (DECADÊNCIA LEGAL).

Entretanto,

94
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Art. 211. Se a DECADÊNCIA FOR CONVENCIONAL, a parte a quem


aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz NÃO pode
suprir a alegação.

O art. 208 CC determina que se aplique a “decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso
I”. Que dizem respeito aos incapazes.

Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação


contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à
prescrição, ou não a alegarem oportunamente.
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;

E o art. 209 proclama que “é nula a renúncia à decadência FIXADA EM LEI.”

IMPORTANTE!!! O referido dispositivo considera irrenunciável apenas os prazos fixado em


lei, e não os convencionais.

95
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

TÍTULO V
DA PROVA

1- CONCEITO E INTRODUÇÃO

É o meio empregado para demonstrar a existência do ato ou negócio jurídico. Deve a prova
ser admissível (não proibida por lei), pertinente (adequada a demonstração dos fatos em questão) e
concludentes (esclarecedora dos fatos controvertidos).

Não basta alegar, é preciso provar (nada alegar e alegar e não provar quer dizer a mesma
coisa). O que se prova é o fato alegado, não o direito a aplicar, pois é atribuição do juiz conhecer e
aplicar o direito. Por outro lado, o ônus da prova incumbe a quem alega o fato e não a quem o
contesta, sendo que os fatos notórios independem de prova.

O art. 212 enumera os meios de prova. Esse rol, porém, é exemplificativo e não taxativo.

2- MEIOS DE PROVA

2.1 CONFISSÃO

OCORRE QUANDO A PARTE ADMITE A VERDADE DE UM FATO, contrário ao


seu interesse e favorável ao adversário.

Pode ser judicial (em juízo) ou extrajudicial (fora do processo), espontânea ou provocada,
expressa ou presumida.

Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do direito a que
se referem os fatos confessados. Se feita a confissão por um representante, somente é eficaz nos
limites em que este pode vincular o representado.

IMPORTANTE!!! A CONFISSÃO É IRREVOGÁVEL, mas pode ser anulada se decorreu de


erro de fato ou de coação (Arts. 213 e 214 CC) (ação anulatória).

2.2 DOCUMENTO

96
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Pode ser público ou particular. Tem função apenas probatória. Público são os elaborados
por autoridade publica no exercício de suas funções. Particulares quando elaborados por
particulares.
Art. 216. Farão a mesma prova que os originais as certidões textuais de qualquer
peça judicial, do protocolo das audiências, ou de outro qualquer livro a cargo do
escrivão, sendo extraídas por ele, ou sob a sua vigilância, e por ele subscritas, assim
como os traslados de autos, quando por outro escrivão consertados.

Art. 217. Terão a mesma força probante os traslados e as certidões, extraídos por
tabelião ou oficial de registro, de instrumentos ou documentos lançados em suas
notas.

2.3. TESTEMUNHA

Podem ser instrumentárias ou judiciárias. Estas são as que prestam depoimento em juízo.
Aquelas são as que assinam um instrumento.

IMPORTANTE!!! Art. 227 CC.


Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova EXCLUSIVAMENTE testemunhal só se
admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário
mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados.  (Revogado pela Lei n º
13.105, de 2015)    (Vigência)
Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova
testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por
escrito.

Art. 442 do NOVO CPC.  A prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei
de modo diverso.

Importante observar quem não pode ser admitido como testemunha, e em quais casos
ninguém pode ser obrigado a depor (respectivamente arts. 228 e 229 CC):
Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:
I - os menores de dezesseis anos;
II - (Revogado);          (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)   (Vigência)
III - (Revogado);           (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)   (Vigência)
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes;
V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro
grau de alguma das partes, por consangüinidade, ou afinidade.
§ 1o Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o
depoimento das pessoas a que se refere este artigo.
§ 2o  A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições
com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia
assistiva.          (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)   

Art. 447 do NOVO CPC.  Podem depor como testemunhas todas as pessoas,
exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas.
§ 1o São incapazes:
I - o interdito por enfermidade ou deficiência mental;
II - o que, acometido por enfermidade ou retardamento mental, ao tempo em
que ocorreram os fatos, não podia discerni-los, ou, ao tempo em que deve
depor, não está habilitado a transmitir as percepções;
III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos;

97
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IV - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes
faltam.
§ 2o São impedidos:
I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau e
o colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou
afinidade, salvo se o exigir o interesse público ou, tratando-se de causa relativa
ao estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova que o juiz
repute necessária ao julgamento do mérito;
II - o que é parte na causa;
III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal
da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham assistido
as partes.
§ 3o São suspeitos:
I - o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo;
II - o que tiver interesse no litígio.
4o Sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento das testemunhas
menores, impedidas ou suspeitas.
§ 5o Os depoimentos referidos no § 4o serão prestados independentemente de
compromisso, e o juiz lhes atribuirá o valor que possam merecer.

Como pode se ver, os arts. 447, §1º, inc. I do Novo CPC e o art. 228, §2º, do CC, se
contradizem. A posição majoritária é que deve prevalecer o conteúdo do art. 228, §2º, do CC,
tendo em vista a superveniência do Estatuto Protetor dos Deficientes.

2.4 PRESUNÇÃO

É a ilação que se extrai de um fato conhecido para se chegar a um desconhecido.

Podem ser legais (são as que decorrem da lei) ou comuns (os que se baseiam no que
ordinariamente acontece).

As presunções legais se dividem em ABSOLUTA (JURIS ET JÚRI), que são as que não
admitem prova em contrario. E RELATIVAS (JÚRIS TANTUM) são as que admitem prova em
contrario.

2.5 PERÍCIA

Exame: apreciação de alguma coisa, por peritos, para auxiliar o juiz a formar sua convicção.

Vistoria: é também perícia, restrita porem a inspeção ocular.

Obs. Sumula 301 STJ, “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se a exame de
DNA, induz presunção júris tantum (relativa) de paternidade”.

98

Você também pode gostar