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Conceito e Divisão Do Direito
Conceito e Divisão Do Direito
CAPÍTULO I
CONCEITO E DIVISÃO DO DIREITO
1- CONCEITO DE DIREITO
Direito Natural é a idéia abstrata de direito, o ordenamento ideal, corresponde a uma justiça
superior.
Direito objetivo é o conjunto de normas impostas pelo Estado, de caráter geral, cuja
observância os indivíduos podem ser compelidos mediante coerção.
Direito público é o que regula as relações de um estado com outro estado ou de um estado
com os indivíduos.
Direito privado é o direito que disciplina a relação entre os indivíduos como tais, nas quais
predomina o interesse de ordem particular.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
CAPÍTULO II
LEI DE INTRODUÇÃO AS NORMAS DO DIREITO
BRASILEIRO (LINDB)
1- CONTEÚDO E FUNÇÃO
A LINDB se trata de uma legislação anexa ao CC, mas autônoma, dele não fazendo parte.
Tem caráter universal, sendo aplicada a todos os campos do direito.
2- FONTES DO DIREITO
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
conduta de forma absoluta, não podendo ser derrogadas pela vontade dos interessados. Normas
dispositivas em geral são permissivas, como a que permite as partes estipular, antes de celebrado o
casamento, quanto aos bens, o que lhes aprouver. Supletiva, é quando suprem a falta de
manifestação de vontade das partes.
c) Quanto à natureza as leis são substantivas (tratem de direito material) ou adjetivas (tratam de
direito processual).
4- VIGÊNCIA DA LEI
De acordo com o art. 1º da LICC, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias após ser
publicada, salvo disposição em contrário. Portanto a sua vigência não se inicia no dia de sua
publicação, salvo se assim ela o determinar.
Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta
e cinco dias depois de oficialmente publicada.
O intervalo entre a sua publicação e a sua entrada em vigor chama-se vacatio legis. Em
matéria de duração do referido intervalo, foi adotado o critério do prazo único, porque a lei entra
em vigor na mesma data em todo o território nacional.
Quando a lei é admitida no exterior a sua obrigatoriedade inicia-se três meses depois de
oficialmente publicada.
IMPORTANTE!!! Se durante a vacatio legis ocorrer nova publicação de seu texto, para
correção de erros oficiais ou falha de ortografia, o prazo da obrigatoriedade começará a
correr a partir da nova publicação. Se a lei já entrou em vigor, tais modificações são
consideradas lei nova, tornando-se obrigatória após o decurso da vacatio legis.
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores
começará a correr da nova publicação.
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
Os direitos adquiridos na vigência da lei emendada são resguardados. O juiz ao aplicar a lei
pode corrigir os erros materiais evidentes, mas não os erros substanciais.
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Conta-se o prazo de vacatio legis fazendo a inclusão da data da publicação e do último dia
do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente a sua consumação integral.
Salvo alguns casos especiais a lei tem caráter permanente, permanecendo em vigor até ser
revogada por outra lei (princípio da continuidade). O costume não revoga lei, nem esta perde sua
eficácia pelo não uso.
A lei Nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes não revoga
nem modifica a lei anterior. No caso de incompatibilidade entre a lei geral e especial é possível a
revogação de uma pela outra.
§ 2o A LEI NOVA, QUE ESTABELEÇA DISPOSIÇÕES GERAIS OU
ESPECIAIS A PAR DAS JÁ EXISTENTES, NÃO REVOGA NEM MODIFICA
A LEI ANTERIOR (CAI MUITO EM PROVA – DECORAR!!!!!)
IMPORTANTE!!! A lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, salvo
disposição em contrário. Não há, portanto, o efeito repristinatório, restaurador, da primeira lei
revogada, salvo quando houver pronunciamento expresso do legislador nesse sentido.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência
Como consequência, não se faz necessário provar em juízo a existência da norma jurídica
invocada, pois parte-se do pressuposto que o juiz conhece o direito (iura novit cúria). Esse princípio
não se aplica ao direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário (Novo CPC, art.
376), ou seja, o juiz só tem obrigação de conhecer o direito federal e o daquele onde jurisdiciona.
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A teoria que explica a obrigatoriedade da lei para todos e a da necessidade social. Ela
sustenta que a lei é obrigatória e deve ser cumprida por todos, não por motivo de um conhecimento
presumido ou ficto, mas por elevadas razões de interesse público, ou seja, para que seja possível a
convivência social.
IMPORTANTE!!! O erro de direito só pode ser invocado quando não houver o objetivo de furtar-
se o agente ao cumprimento da lei. Ex. Serve para justificar a boa fé.
Como o juiz não pode eximir-se de proferir a decisão sobre o pretexto de que a lei é omissa,
deve valer-se dos mecanismos legais destinados a suprir as lacunas da lei, que são: a analogia, os
costumes e os princípios gerais do direito.
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito (ordem hierárquica).
O costume é colocado em plano secundário em relação a lei. O juiz só pode recorrer a ele
depois de esgotadas as possibilidades em relação a analogia. É conceituado como a prática
uniforme, constante, pública e geral de determinado ato, com a convicção de sua necessidade.
Não se encontrando solução na analogia e nem nos costumes, deve se utilizar dos princípios
gerais do direito. São estes constituídos de regras que se encontram na consciência dos povos e são
universalmente aceitos, mesmo não escritos. Ex: “ninguém pode lesar outrem”, “é vedado o
enriquecimento sem causa” e etc...
IMPORTANTE!!! A equidade NÃO constitui meio supletivo de lacuna da lei, sendo mero
recurso auxiliar na aplicação desta. É utilizada quando a lei expressamente a permite.
Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Toda lei está sujeita a
interpretação, não apenas as obscuras e as ambíguas. Por mais clara que seja a lei, esta deve ser
interpretada.
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A hermenêutica é a ciência de interpretação das leis, e como toda ciência, tem seus métodos.
A seguir, os principais métodos de interpretação:
b) Quanto aos MEIOS, a interpretação pode ser feita pelos métodos gramatical, lógico,
sistemático, histórico e sociológico (teleológico). A interpretação gramatical consiste em
exame do texto normativo sob o ponto de vista linguístico. Na interpretação lógica
procura-se apurar a intenção do legislador por meio de raciocínios lógicos, com abandono
dos elementos puramente verbais. A interpretação sistemática diz que a lei deve ser
interpretada em conjunto com as outras leis pertencentes a mesma província do direito.
Assim as normas tributárias devem ser interpretadas de acordo com os princípios que regem
o direito tributário. A interpretação histórica baseia-se na investigação dos antecedentes da
norma, a fim de descobrir seu exato significado. A interpretação teleológica tem por
objetivo adaptar o sentido ou finalidade da norma as novas exigências sociais. Tal
interpretação é recomendada na LICC em seu art. 5º.
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais (interpretação
teleológica) a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
Para solucionar os conflitos da lei no tempo, são utilizados dois critérios: o das disposições
transitórias e o da irretroatividade das normas. Disposições transitórias são elaboradas pelo
legislador no próprio texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar conflitos que poderão
emergir do confronto da lei nova com a lei antiga, tendo vigência temporária. Irretroativa é a lei
que não se aplica as relações constituídas anteriormente. Tem por objetivo assegurar a certeza, a
segurança e a estabilidade do ordenamento jurídico. Não possui caráter absoluto, pois razões de
política legislativa podem recomendar que em determinados momentos a lei seja retroativa,
atingindo os efeitos de atos jurídicos praticados sob o império da norma revogada.
O art. 6º da LINDB preceitua que a lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitado o
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
Ato jurídico perfeito é o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
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Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos da sentença, não mais sujeita a recurso.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba
recursos.
A regra geral é de que dentro do território brasileiro se aplica a lei brasileira. O art. 7º
permite, excepcionalmente, a aplicação da lei estrangeira no Brasil, nos casos previstos em lei.
a) nome
b) capacidade
c) personalidade
d) direito de família
e) bens móveis que o interessado traz consigo
f) penhor
g) capacidade sucessória
Ex. Sujeito alemão que na Alemanha é casado e aqui quer casar novamente não pode se casar
porque se aplica o estatuto pessoal.
Exceção da exceção!!! Existem três casos de aplicação da lei estrangeira no território brasileiro
com base em lei específica (e não o estatuto pessoal):
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Brasil, exige-se o exequatur do STJ. Quem cumpre a decisão após o exequatur é o juiz federal.
Para que o STJ dê o exequatur é preciso de:
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CAPÍTULO III
VISÃO FILOSÓFICA DO CC/02. AS PRINCIPAIS TESES
DO DIREITO CIVIL CONTEMPORÂNEO
Para que o estudioso entenda efetivamente a codificação privada de 2002, é preciso conhecer
a linha filosófica adotada pela norma emergente.
PRINCÍPIO DA ETICIDADE:
Esse princípio pode ser percebido pela leitura de vários dispositivos no CC:
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos
do lugar de sua celebração.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.
PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE:
A função social da propriedade já estava prevista na CF 88 (art. 5º, XXII e XXIII, e art.
170,III), tendo sido reforçada pelo art. 1.228, §1º do CC.
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade
com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e
das águas.
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Como novidade de grande impacto, a função social dos contratos passou a ser tipificada em
lei, no art. 421 do CC. Trata-se de um princípio contratual de ordem pública, pelo qual o contrato
deve ser, necessariamente, visualizado e interpretado de acordo com o contexto da sociedade.
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função
social do contrato.
PRINCÍPIO DA OPERABILIDADE:
Tem dois significados: primeiro, há o sentido de simplicidade, uma vez que o CC/02 segue
tendência de facilitar a interpretação e a aplicação dos institutos nele previstos (Ex. distinção feita
entre prescrição e decadência). Segundo, há o sentido de efetividade, ou concretude do Direito
Civil, o que foi seguido pela adoção do sistema de cláusulas gerais.
As cláusulas gerais podem ser conceituadas como janelas abertas deixadas pelo legislador
para preenchimento pelo aplicador do Direito, caso a caso. São exemplos de cláusulas gerais
constantes no CC 02:
As cláusulas gerais têm um sentido dinâmico, o que as diferencia dos conceitos legais
indeterminados, construções estáticas que constam da lei sem definição. Assim, pode-se afirmar
que quando o aplicador do direito cumpre a tarefa de dar sentido a um conceito legal
indeterminado, passará ele a constituir uma cláusula geral.
Muitas das cláusulas gerais são princípios, mas não necessariamente. A função social do
contrato é princípio contratual, mas a cláusula geral de atividade de risco não é princípio da
responsabilidade civil.
A adoção do sistema de cláusulas gerais pelo CC/02 tem relação direta com a linha
filosófica adotada por Miguel Reale. É notório que o jurista criou a sua própria teoria do
conhecimento e da essência jurídica, a ontognoseologia jurídica, baseando-se em duas subteorias: o
culturalismo jurídico e a teoria tridimensional do direto:
b) Teoria Tridimensional do direito (plano objetivo) – para Miguel Reale, Direito é fato,
valor e norma. Ensina o mestre que a essa teoria vem sendo concebida desde 1940, distinguido-
se das demais teorias por ser “concreta” e “dinâmica”, eis que “fato, valor e norma estão sempre
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presentes e correlacionados em qualquer expressão da vida jurídica, seja ela estudada pelo
filósofo ou sociólogo do direito, ou pelo jurista como tal, ao passo que na tridimensionalidade
genérica ou abstrata, caberia ao filósofo apenas o estudo do valor, ao sociólogo do fato e ao
jurista da norma.”
Fato, valor e norma serão imprescindíveis a apontar o caminho seguido para a aplicação do
Direito. Dessa forma, dar-se-á o preenchimento das cláusulas gerais, das janelas abertas. Por esse
processo os conceitos legais indeterminados ganham determinação jurídica, diante da atuação do
magistrado, sempre guiado pela equidade.
Primeiro, o magistrado julgará de acordo com a sua cultura, bem como do meio social. Os
elementos culturais e valorativos do juiz serão imprescindíveis para o preenchimento da
discricionariedade deixada pela norma privada. Ganha destaque o valor como elemento formador
do direito.
Por fim, a experiência do aplicador do direito, que reúne fato e valor simbioticamente,
visando à aplicação da norma. Esta, sim, elemento central daquilo que se denomina
ontognoseologia, a teoria do conhecimento, da essência jurídica, criada por Reale. Encaixa-se
perfeitamente a proposta de Reale, para que sejamos juristas (no ponto de vista das normas),
sociólogos (diante da análise dos fatos) e filósofos (sob o prisma dos valores).
O aplicador do direito deve estar atento à evolução tecnológica, para não tomar decisões
descabidas, como a de determinar o bloqueio de todos à internet para proteger determinada pessoa.
As cláusulas gerais são abertas e devem ser analisadas caso a caso. Frase-símbolo do atual
sistema: direito é fato, valor e norma.
Em princípio, o Direito Público tem como finalidade a ordem e a segurança geral, enquanto
o Direito Privado reger-se-ia pela liberdade e pela igualdade. Enquanto no Direito Público somente
seria válido aquilo que está autorizado na norma, no Direito Privado tudo aquilo que não está
proibido por ela seria válido. Mas essa dicotomia não é um obstáculo intransponível e a divisão não
é absoluta, como nada é absoluto nos nossos dias atuais.
Por tal interação, o D. Civil não deixará de ser D. Civil; e o D. Constitucional não deixará de
ser D. Constitucional. O D. Civil Constitucional nada mais é do q um novo caminho metodológico,
que procura analisar os institutos privados a partir da CF, e, eventualmente, os mecanismos
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1) Dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF): superprincípio ou princípio dos
princípios. A valorização da pessoa humana é um dos objetivos da República Federativa do
Brasil. A proteção da dignidade da pessoa humana, a partir do modelo de Kant, constitui o
principal fundamento da personalização do Direito Civil, da valorização da pessoa humana
em detrimento do patrimônio.
3) Princípio da isonomia ou igualdade lato sensu (art. 5º, caput, CF): “todos são iguais
perante a lei, sem qualquer distinção, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade”. Essa igualdade pode ser a mesma concebida pela seguinte expressão,
atribuída a Aristóteles e Ruy Barbosa: A lei deve tratar de maneira igual os iguais, e de
maneira desigual os desiguais. Do texto, nota-se na sua 1ª parte a consolidação do princípio
da igualdade stricto sensu (a lei deve tratar de maneira igual os iguais), enquanto a 2ª traz o
princípio da especialidade (...e de maneira desigual os desiguais). Essa é a essência da
igualdade substancial.
Essa eficácia horizontal traz uma nova da matéria, eis que as normas de proteção da pessoa
previstas na CF sempre foram tidas como dirigidas ao legislador e ao Estado (normas
programáticas). Essa concepção anterior não mais prevalece.
Do ponto de vista da terminologia, não se justifica mais denominar a CF/88 como uma
Carta Política, fazendo crer que ela é mais dirigida ao legislador, tendo uma eficácia vertical.
Melhor denominá-lo, portanto, como uma Carta Fundamental, pela prevalência de sua
horizontalidade, ou seja, pela sua subsunção direta às relações interprivadas. Por exemplo, a
dignidade humana é conceito que pode ser aplicado em qualquer relação, independentemente de
qualquer ponte infraconstitucional.
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Como exemplo tem-se um julgado do STF em que a tese foi adotada para assegurar a ampla
defesa a associado que fora excluído do quadro de uma pessoa jurídica (STF, RE 201.819/RJ,
Informativo 405).
Existe uma relação inafastável entre essa eficácia das normas que protegem a pessoa nas
relações entre particulares e o sistema de cláusulas gerais adotado pelo CC.
A tese do diálogo das fontes foi desenvolvida na Alemanha por Erik Jayme e trazida ao
Brasil por Claudia Lima Marques, da UFRGS.
Claudia Lima Marques demonstra três diálogos possíveis a partir da teoria exposta:
a) Em havendo aplicação simultânea das duas leis, se uma lei servir de base conceitual
para a outra, estará presente o DIÁLOGO SISTEMÁTICO DE COERÊNCIA. Ex. os
conceitos dos contratos em espécie podem ser retirados do CC mesmo sendo o contrato de
consumo, caso de uma compra e venda (art. 481, CC).
b) Se o caso for de aplicação coordenada de duas leis, uma norma pode completar a outra,
de forma direta (DIÁLOGO DE COMPLEMENTARIDADE) ou indireta (DIÁLOGO DE
SUBSIDIARIEDADE). Ex. contratos de adesão que também são de consumo – em relação
às cláusulas abusivas, pode ser invocada a proteção dos consumidores constante do art. 51
do CC e ainda a proteção dos aderentes (art. 424 do CC).
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Isso porque, em muitas situações atualmente comuns à prática trabalhista, não há normas de
D. do Trabalho regulamentando a matéria. Em tais casos é que as normas do CC serão aplicadas. A
EC 45/2004 ampliou enormemente a competência da Justiça do Trabalho.
Destaque-se que a teoria do diálogo das fontes surge para, no futuro, substituir e superar os
critérios clássicos de solução das antinomias jurídicas (hierárquico, especialidade e cronológico).
No momento, ainda é possível conciliar tais critérios com a referida tese.
Para q essa proteção seja possível, deve-se reconhecer a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, ou seja, que as normas que protegem a pessoa, prevista no Texto Maior, têm
aplicação imediata nas relações entre particulares. A porta de entrada dessas normas protetivas, nas
relações privadas, pode se dar por meio das cláusulas gerais (eficácia horizontal mediata), ou
mesmo de forma direta (eficácia horizontal imediata).
Em síntese, percebe-se que todas essas teorias possibilitam a visão de um sistema unitário,
em que há mútuos diálogos e o reconhecimento da interdisciplinaridade. Assim está sendo
construído o D. Civil Contemporâneo.
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LIVRO I
DAS PESSOAS
CAPÍTULO I
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE
É o ser humano considerado sujeito de direitos e deveres. Para ser pessoa basta existir.
Toda a pessoa é dotada de personalidade, isto é, tem capacidade para figurar em uma
relação jurídica. Toda pessoa tem aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações
(personalidade).
Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
IMPORTANTE!!! Capacidade não se confunde com legitimação. Esta é a aptidão para a prática de
determinados atos jurídicos.
Quem tem as duas espécies de capacidade tem a capacidade plena. Quem só tem a de
direito, tem capacidade limitada, por isso são chamado de incapazes.
2- DAS INCAPACIDADES
Não existe incapacidade de direito , pois todos se tornam capazes ao nascer. Existe,
portanto, somente incapacidade de fato ou de exercício. Incapacidade, portanto, é a restrição
ao exercício de atos da vida civil. E pode ser de duas espécies: absoluta e relativa.
A absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, do direito. O ato somente
poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz, sob pena de nulidade.
A relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido, sob pena
de anulabilidade. Alguns atos, entretanto, podem ser praticados sem a assistência de seu
representante legal, como por exemplo: ser testemunha, aceitar mandato, fazer testamento e etc...
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Como as pessoas listadas acima possuem algum discernimento, elas podem praticar
determinados atos por si só. Isto, porém, constitui exceção à regra, pois elas devem estar assistidas
por seus representantes para a prática de atos em geral, sob pena de anulabilidade.
São menores púberes. Podem praticar apenas determinados atos sem a assistência. Não se
tratando desses atos, eles precisam estar assistidos, sob pena de anulabilidade do ato.
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Se não houver malícia do menor, anula-se o ato para protegê-lo. Como ninguém pode
locupletar-se a custa alheia, se determina a restituição da importância paga ao menor, se ficar
provado que o pagamento nulo se reverteu em proveito dele. (art. 181 CC)
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2.2.3. Os Que, Por Causa Transitória ou Permanente, Não Puderem Exprimir Sua
Vontade
Abrange as pessoas que não puderem exprimir suas vontades por causa transitória, ou em
virtude de alguma patologia. Com o advento do Estatuto da Deficiência, é POSSÍVEL (de
forma extraordinária) a interdição daqueles que não puderem exprimir sua vontade tanto por
causa permanente, como por causa transitória, estando tais sujeitos a curatela, conforme art.
1767, inc. I, do CC:
2.2.4. Os Pródigos
Pródigo é o individuo que dissipa seu patrimônio desvairadamente. O CC atual não permite
a interdição do pródigo para proteger seu cônjuge, ascendentes ou descendentes, mas sim, para
protegê-lo.
IMPORTANTE!!! O pródigo só ficará privado de praticar sem curador, atos que extravasam mera
administração e implicam comprometimento do patrimônio, como emprestar, transigir, alienar e etc.
Pode praticar validamente e sem necessidade de assistência os atos da vida civil que não envolvam
o seu patrimônio. Ex: casar, autorizar casamento dos filhos e etc...
3- CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE
Cessa a incapacidade quando cessar a sua causa e pela emancipação. A menoridade cessa
aos dezoito anos completos (primeiro instante do aniversário de 18 anos). Se nascido no dia 29 de
fevereiro de ano bissexto, completa a maioridade em 1º de março.
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Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica
habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento PÚBLICO, independentemente de homologação judicial
(VOLUNTÁRIA), ou por sentença do juiz, ouvido o tutor (tutor não emancipa),
se o menor tiver dezesseis anos completos; (JUDICIAL).
(abaixo são as hipóteses de emancipação LEGAL)
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha
economia própria.
IMPORTANTE!!! A emancipação voluntária não produz efeito quanto a obrigação dos pais de
indenizar as vítimas dos atos ilícitos praticados pelo menor emancipado. Isto se dá para evitar
emancipações maliciosas (essa regra somente se aplica as emancipações voluntárias).
Responsabilidade SOLIDÁRIA entre os pais e o menor.
Se o menor estiver sob tutela, deve requerer sua emancipação ao juiz, que a concederá por
sentença, depois de verificar a conveniência do deferimento para o bem do menor.
Emancipação NÃO tem efeitos penais (o direito penal só se preocupa com a idade
biológica do sujeito). Por óbvio, cabe prisão civil, que não é penal.
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A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, o que se constata com
a respiração. “Se a pessoa respirou, viveu”.
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Nascendo vivo ainda que morra em seguida, o novo ente chegou a ser pessoa, adquiriu
direitos, e com sua morte os transmitiu.
Obs. Vale acrescentar que no sistema brasileiro, diferentemente do art. 30 do CC da Espanha, não
se exige do recém nascido forma humana, nem sobrevida mínima (teste do pulmão na água. Teste
de Galeno).
É a que foi adotada (de modo mais claro) pelo CC/02. Por ser mais prática.
IMPORTANTE!!! O nascituro tem direito a alimentos, com a nova lei de alimentos gravídicos não
há discussão. São devidos sim, os alimentos ao nascituro.
Pai do nascituro assassinado. STJ reconheceu os danos morais por não ter podido
conhecer o pai. O fato de não ter conhecido o pai em vida vai diminuir o quantum. (Resp
399028/SP).
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SIM. O STJ decidiu que, se uma gestante envolve-se em acidente de carro e, em virtude
disso, sofre um aborto, ela terá direito de receber a indenização por morte do DPVAT, nos
termos do art. 3º, I, da Lei 6.194/74. O Ministro Relator afirmou expressamente que, em
sua opinião, “o ordenamento jurídico como um todo – e não apenas o Código Civil de
2002 – alinhou-se mais à teoria concepcionista para a construção da situação jurídica do
nascituro, conclusão enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea.
Somente com a morte real termina a existência da pessoa natural, que pode ser também
simultânea (comoriência).
a) Morte real: prevista no art. 6º CC, ocorre com o diagnóstico da paralisação da atividade
encefálica. A sua prova se faz pela justificação, em caso de catástrofe e não encontro do corpo.
Acarreta a extinção do poder familiar, a extinção dos contratos personalíssimos, a extinção da
obrigação de pagar alimentos, dissolução do vinculo conjugal e etc.
b) Morte simultânea ou comoriência: A comoriência traduz uma situação em que duas ou mais
pessoas falecem na mesma ocasião, sem que se possa indicar a ordem cronológica dos óbitos.
No Brasil não há presunção da ordem dos óbitos (Ex: o mais velho morre antes). Não
se podendo indicar a ordem dos óbitos, presume-se simultâneos.
c) Morte civil: Há um resquício dela no CC, art. 1816, que trata o herdeiro, afastado da herança por
indignidade, como se ele “morto” fosse antes da abertura da sucessão. Mas somente para afastá-lo
da herança. Conserva, porém, a personalidade para os demais efeitos.
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d) Morte presumida: com ou sem a declaração de ausência. Presume-se a morte quanto aos
ausentes quando a lei autoriza a sucessão definitiva.
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva.
A pessoa natural se identifica na sociedade pelo nome, pelo estado e pelo domicílio.
6.1. NOME
O CC trata o nome como um direito da personalidade. Toda pessoa tem direito ao nome
(art. 16 CC).
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja
intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.
Trata-se de direito inalienável e imprescritível, essencial para o exercício regular dos direitos
e cumprimento das obrigações.
Obs. Agnome é filho, neto, júnior, sobrinho... (William bossaneli Araujo neto). O agnome é
elemento opcional.
6.1.2.1. Prenome
Pode ser livremente escolhido pelos pais desde que não exponham o filho ao ridículo.
Irmãos não podem ter o mesmo nome, a não ser que seja duplo, estabelecendo a distinção.
6.1.2.2. Sobrenome
Sinal que identifica a pessoa indicando a sua filiação ou estirpe. É imutável. Adquire-se com
o nascimento e, portanto, não é escolhido. É obrigatório.
Obs. No caso de filho havido fora do casamento, não será lançado o nome do pai sem que este
expressamente o autorize. O reconhecimento dos filhos havido fora do casamento é irrevogável e
será feito pelos modos previstos no art. 1609 CC (escrito particular e testamento).
Obs. Pseudônimo (ou cognome). Trata-se do nome utilizado por alguém para fins profissionais
lícitos. O pseudônimo não é elemento componente do nome, mas merece a mesma proteção (art. 19
da lei de registros públicos)
Obs. O hipocorístico pode ser acrescentado ao nome (Luiz Inácio “lula” da Silva).
(1) adoção
(2) programa de proteção à testemunha (PROVITA)
(3) nome vexatório
(4) nomes ridículos ou exóticos
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
(1) acréscimo do sobrenome do padrasto (com base na tutela jurídica do afeto. É pacífico no
STJ).
(2) viuvez
(3) retirada do sobrenome do pai, que nunca deu atenção ao filho (STJ).
Art. 1565, §1º: permite a qualquer dos noivos acrescerem o nome um do outro. A
mudança de nome é uma faculdade, não uma obrigação.
EXCEÇÃO: O cônjuge perde obrigatoriamente o nome se: (1) houver pedido expresso do outro
cônjuge; (2) culpa grave no divórcio/separação; (3) não causar prejuízo à identificação dos filhos;
(4) não causar prejuízo à identificação do próprio cônjuge (ex: Marta Suplicy). Essa á uma das
poucas hipóteses onde ainda se discute culpa no divórcio/separação.
6.2 ESTADO
6.2.1. Aspectos
a) estado individual: modo de ser da pessoa quanto a idade, sexo, cor, altura, saúde (são ou insano)
e etc...
b) estado familiar: é o que indica a sua situação na família em relação ao matrimonio (solteiro,
casado, viúvo...) e ao parentesco (pai, filho...).
c) estado político: é a qualidade jurídica que advêm da posição do individuo na sociedade política,
podendo ser nacional (nato ou naturalizado) ou estrangeiro.
6.2.2. Caracteres
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
1- CONCEITO
Distinguem-se dos direitos de ordem patrimonial por não ter conteúdo econômico imediato e
não se destacar da pessoa de seu titular. São inerentes a pessoa humana, estando a ela ligados de
maneira perpétua.
Segundo Maria Helena Diniz são “direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é
próprio, ou seja, a sua integridade física; a sua integridade intelectual; e a sua integridade
moral.”
#E os entes despersonalizados?
Não têm personalidade jurídica, mas são sujeitos de direitos (podem ser contratantes, podem ser
empregado) e tem capacidade jurídica (capacidade de ser parte = pode ir a juízo). Frisa-se que,
por não ter personalidade jurídica, os entes despersonalizados NÃO gozam de direitos da
personalidade.
Obs. Discussão na ADIN 3510 sobre a possibilidade de pesquisa com células tronco embrionárias.
O PGR entendeu que não se poderia descartar o embrião para as pesquisas porque já se teria direitos
da personalidade. O STF entendeu que o embrião laboratorial não tem direitos da
personalidade, porque se tivesse seria impossível que se fizesse as pesquisas com ele.
IMPORTANTE!!! O direito brasileiro traz uma cláusula geral de proteção à personalidade. Está
clausula geral é a dignidade da pessoa humana (art. 1º da CF), de modo que todos os direitos da
personalidade (tipificados ou não) passam pela dignidade da pessoa humana.
2- FUNDAMENTOS E CARACTERÍSTICAS
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
IMPORTANTE!!! O parágrafo único do art. 12 estabelece que “em se tratando de morto, terá
legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer
parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.”
Dano moral seria a violação aos direitos da personalidade (violação da honra, da imagem,
da privacidade, da integridade física). Não precisa ter dor, sofrimento para que se tenha dano
moral.
#É possível cumular dano moral com dano moral (duas categorias de dano moral)?
Sim. Ex. dano estético + dano à imagem. Isso é dano moral + dano moral.
O STJ aceita, de forma pacífica, a cumulação de danos morais com danos estéticos. Tal
entendimento encontra-se, inclusive, emoldurado na Súmula 387 do Superior Tribunal de Justiça.
Obs. Se eu usar a imagem de alguém, indevidamente, para publicar no jornal só elogiando a pessoa,
mesmo assim, existe dano moral a reparar, porque o dano moral é a violação à direito da
personalidade (no caso imagem), mesmo sem ter havido depreciação do sujeito (dano à imagem
sem dano à honra).
Obs. Dano moral coletivo. Hoje já se fala em dano moral coletivo (art. 6º VI do CDC e art. 1º da
lei da ACP). Ex. dano ao meio ambiente do trabalho. Essa indenização reverte-se em favor da
coletividade, direcionado à um fundo (fluid Recovery - art. 13 da lei da ACP), e não em favor de
cada um dos lesados (que podem ingressar com ações individuais).
#No que consiste o critério bifásico para fixação de dano moral aplicado por algum dos
ministros do STJ?
Pelo método bifásico, fixa-se inicialmente o valor básico da indenização, levando em conta a
jurisprudência sobre casos de lesão ao mesmo interesse jurídico. Assim, explicou o ministro,
assegura-se "uma razoável igualdade de tratamento para casos semelhantes". Em seguida, o
julgador chega à indenização definitiva ajustando o valor básico para mais ou para menos,
conforme as circunstâncias específicas do caso (gravidade do caso, sofrimento das vítimas,
condição financeira do responsável, número de autores e etc).
IMPORTANTE!!! A indenização por dano moral é calculada de acordo com o dano - sistema
aberto. Dessa forma, NÃO pode existir lei que limite a indenização (indenização tarifada).
O dano social vem sendo reconhecido pela doutrina como uma nova espécie
de dano reparável, decorrente de comportamentos socialmente reprováveis, pois diminuem o nível
social de tranquilidade, tendo como fundamento legal o art. 944 do CC (A indenização mede-se
pela extensão do dano).
Danos sociais são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu
patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de
vida. Os danos sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa grave,
especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de segurança, e de
indenização dissuasória, se atos em geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do índice
de qualidade de vida da população. Alguns exemplos dados por Junqueira de Azevedo: o pedestre
que joga papel no chão, o passageiro que atende ao celular no avião, o pai que solta balão com seu
filho. Tais condutas socialmente reprováveis podem gerar danos como o entupimento de bueiros em
dias de chuva, problemas de comunicação do avião causando um acidente aéreo, o incêndio de
casas ou de florestas por conta da queda do balão etc.
Desse modo, diante da ocorrência de ato ilícito, a doutrina moderna tem admitido a
possibilidade de condenação ao pagamento de indenização por dano social, como categoria inerente
ao instituto da responsabilidade civil, além dos danos materiais, morais e estéticos.
Registre-se, ainda, que na V Jornada de Direito Civil do CJF foi aprovado o Enunciado 455,
reconhecendo a existência do denominado dano social: "A expressão dano no art. 944 abrange não
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
O dano social é, portanto, uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os
danos materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente reprováveis,
que diminuem o nível social de tranquilidade. De igual forma, dano social não é sinônimo de
dano moral coletivo.
IMPORTANTE!!! Aprovou-se na quarta jornada de Direito Civil o enunciado 276, com o seguinte
teor: “O art. 13 do CC, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência medica, autoriza a
cirurgia de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo CFM,
e a consequente alteração do prenome e do sexo no registro civil.”
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
A reprodução da imagem para fins comerciais (ou não, conforme a jurisprudência), sem
autorização do lesado, enseja direito a indenização, ainda que não lhe tenha atingido a honra, a boa
fama ou a respeitabilidade.
6- PROTEÇÃO A INTIMIDADE
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do
interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato
contrário a esta norma.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
CAPÍTULO III
DA AUSÊNCIA
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de
fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo
curador.
§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos
descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o
cargo.
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.
2- SUCESSÃO PROVISÓRIA
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou
representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados
requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.
§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão
provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente.
§ 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta
dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória,
proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts.
1.819 a 1.823.
Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão
garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos
quinhões respectivos.
§ 1o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia
exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a
administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste
essa garantia.
§ 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge , uma vez provada a sua
qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse
dos bens do ausente.
3- DA SUCESSÃO DEFINITIVA
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a
abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão
definitiva e o levantamento das cauções prestadas.
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão
definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão
só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou
o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens
alienados depois daquele tempo.
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não
regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
TÍTULO II
DAS PESSOAS JURÍDICAS
1- CONCEITO
Pessoas jurídicas são entidades a que a lei empresta personalidade, capacitando-as a serem
sujeitos de direitos e obrigações. Atuam na vida jurídica com personalidade diversa dos indivíduos
que a compõe.
2- NATUREZA JURÍDICA
Várias teorias procuram explicar o fenômeno da pessoa jurídica. Podem ser divididas em
dois grupos: teorias da ficção e teorias da realidade.
Ficção legal: (Savigny) pessoa jurídica constitui uma criação artificial da lei.
Ficção doutrinaria: criação dos juristas e da doutrina.
Obs. Não são aceitas. O Estado é uma pessoa jurídica. Dizer que o estado é uma ficção é o mesmo
que dizer que o direito que dele provem também o é.
Teoria da realidade objetiva: Sustenta que a pessoa jurídica é um ser com vida própria, realidade
sociológica, nasce por imposição das forças sociais. Criticas: grupos sociais não tem vida própria,
personalidade.
Teoria da realidade técnica: harmonizou as duas teorias anteriores. Para essa teoria, a pessoa
jurídica atua nas relações sociais, muito embora a sua personificação seja decorrência da técnica
jurídica. A doutrina costuma afirmar que a teoria da realidade técnica foi a adotada pelo CC
brasileiro no art. 45 (art. 45 a personalidade jurídica da pessoa jurídica começa com a inscrição do
ato constitutivo no registro).
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
São três: vontade humana (intenção de criar uma entidade distinta da de seus membros),
observância das condições legais e licitude de seus objetivos (objetivos ilícitos ou nocivos
constituem causa de extinção da pessoa jurídica art. 69 CC).
O ato constitutivo deve ser levado a registro para que comece, então, a personalidade
jurídica da pessoa de direito privado. Antes do registro, não passará de mera sociedade de fato,
sociedade não personificada. O “nascimento” da pessoa jurídica se dá com o REGISTRO DO
ATO CONSTITUTIVO.
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para
seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se
conclua.
§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua
dissolução.
§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às
demais pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa
jurídica.
De acordo com o art. 75, inc. IX do NOVO CPC, as sociedades sem personalidade jurídica
serão representadas ativa e passivamente em juízo, pela pessoa a quem couber a administração.
A corporação visa à realização de fins internos, voltadas para seus sócios. A fundação ao
contrário tem fins externos, estabelecidos pelo instituidor. Na corporação também existe
patrimônio, mas é elemento secundário. Na fundação o patrimônio é elemento principal.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
IMPORTANTE!!! Art. 57 CC
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim
reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos
termos previstos no estatuto.
As sociedades simples têm fim econômico e visam lucro, que deve ser distribuído entre os
sócios. Em geral são constituídas por profissionais da mesma área. As sociedades empresárias
também visam lucro. Distinguem-se da sociedade simples porque tem objeto e exercício de
atividade própria de empresário. Aplicam-lhe no que couber a disposições concernentes as
associações.
Fundações constituem acervo de bens, que recebe personalidade para a realização de fins
determinados. Compõe-se de dois elementos: o patrimônio e o fim (estabelecido pelo instituidor e
não lucrativo). Poderão se constituir para fins religiosos, morais, culturais, de saúde, de segurança
alimentar e nutricional, de defesa e preservação do meio ambiente sustentável, de pesquisa
científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão,
produção e divulgação de informações, de promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos
direitos humanos e conhecimentos técnicos e científicos ou de assistência.
1ª) Ato de dotação ou de instituição (reserva de bens livres com indicação dos fins). Faz se por
escritura pública ou testamento.
2ª) Elaboração dos estatutos. Elaboração direta (pelo próprio instituidor) ou fiduciária (por
pessoa de confiança, por ele designada).
Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo
ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o
estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da
autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo
instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá
ao Ministério Público.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
As fundações serão sempre supervisionadas pelo MP, que atua como fiscal da lei por
intermédio da curadoria das fundações (art. 66). Por regra, a atuação cabe ao MP estadual, com
duas exceções atualmente: caberá ao MPDFT o encargo de velar pelas fundações localizadas no
DF e nos Territórias (§1º, que incorporou o entendimento firmado na ADIN 2.794-8), e para as
fundações que funcionarem em várias unidades da Federação ao mesmo tempo, ou que estenderem
sua atividade por mais de um Estado ou Território, cabe a intervenção conjunta do MP de todos os
estados envolvidos (art. 66, §2º).
4ª) A do registro. Indispensável o registro, que se faz no CRPJ. Só com o registro a fundação
começa a ter existência legal.
c) Quanto à função: as pessoas jurídicas podem ser de direito público ou privado. As de direito
público podem ser de direito publico externo (República federativa do Brasil, santa sé, outras
nações, ONU e etc.) e de direito público interno. Estas podem ser da administração direta e indireta.
As pessoas jurídicas de direito privado são as corporações (sociedades e associações, partidos
políticos, associações religiosas, sindicatos) e fundações particulares.
Atenção!!! República Federativa do Brasil é pessoa de direito público externo; a União é pessoa
jurídica de direito público interno.
Requisitos:
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para
manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
A pessoa física não tem nada e a pessoa jurídica tem tudo. Tudo o que a pessoa tem está em
nome da pessoa jurídica. Isto impossibilitaria, por exemplo, o pagamento de pensão.
e autônomo em relação a estes. Por conseguinte, via de regra, a pessoa jurídica responde
pessoalmente, com seu patrimônio próprio, pelas dívidas que contrai, não sendo possível atingir
bens particulares de seus membros para tanto.
Entretanto, paulatinamente, percebeu-se que, muitas vezes, os sócios abusavam da
personalidade independente da pessoa jurídica para praticar atos ilícitos de forma a ficarem imunes
e não serem atingidos. Para evitar tal situação, a doutrina norte-americana desenvolveu a teoria da
desconsideração da personalidade jurídica de forma a afastar, episodicamente, a personalidade
jurídica da pessoa jurídica e, assim, atingir o patrimônio pessoal dos sócios maliciosos.
Posteriormente, a doutrina evolui e traçou duas vertentes da teoria da desconsideração, uma
maior e outra menor. A TEORIA MAIOR é aquela em que se exige algo a mais, a presença de um
requisito específico (subjetivo ou objetivo) para que se efetive a desconsideração momentânea da
personalidade jurídica. Assim, subdivide-se em: a) teoria maior subjetiva (na qual se exige a
demonstração da fraude ou do abuso com a intenção deliberada de prejudicar terceiros ou fraudar a
lei); b) teoria maior objetiva (está centrada na mera disfunção da empresa por meio de
circunstâncias desatreladas da vontade, a exemplo da confusão patrimonial ou desorganização
societária).
A TEORIA MENOR, por sua vez, abrange toda e qualquer situação em que há
comprometimento do patrimônio dos sócios por obrigações da empresa, bastando o mero prejuízo
ao credor para que se possa afastar a personalidade da pessoa jurídica. Não se exige qualquer
requisito subjetivo ou objetivo.
Observa-se, pois, que o ordenamento jurídico doméstico abraçou a TEORIA MAIOR OBJETIVA
no art. 50 do CC/2002 (note que não se exige a prova da intenção fraudulenta) e a teoria menor
no art. 28, § 5º, do CDC.
2) Analise, resumidamente, as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica
previstas no CC/2002.
O CC/2002 retratou a teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica na sua
vertente objetiva, pois que não demanda a demonstração da intenção fraudulenta do sócio para que
se possa atingir o patrimônio pessoal deste. Para tanto, basta que se constate uma disfunção da
empresa, ou seja, um abuso da personalidade social que pode se dar de duas formas: a) pelo desvio
de finalidade; b) pela confusão patrimonial.
A CONFUSÃO PATRIMONIAL, por sua vez, ocorre na medida em que o sócio se utiliza
do patrimônio da pessoa jurídica para efetuar pagamentos de dívidas pessoais ou vice-versa,
atentando contra o princípio da separação patrimonial da entidade e de seus membros.
Todavia, insta ressaltar que, embora seja dispensado o elemento subjetivo (intenção
fraudulenta) é necessária a demonstração do abuso da personalidade, por isso uma mera
irregularidade não é suficiente para que se afaste, provisoriamente, o “véu da sociedade”, assim
como não é requisito para a aplicação da desconsideração a comprovação da insolvência da pessoa
jurídica (polêmico – maioria entende que tem que demonstrar a insolvência). Também é
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
relevante notar que, uma vez desconsiderada a personalidade da pessoa jurídica, deve-se atingir o
patrimônio tão somente dos sócios abusivos.
Por fim, é de se rememorar o teor do enunciado 146 da Jornada de Direito Civil: “nas
relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de desconsideração da personalidade
jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalidade ou confusão patrimonial)”.
É o que sintetiza o enunciado 283 da Jornada de Direito Civil que reconhece ser “cabível a
desconsideração da personalidade jurídica denominada ‘inversa’ para alcançar bens de sócio que se
valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiro”.
Inclusive, a doutrina civilista mais abalizada sustenta que a própria pessoa jurídica pode
pedir a desconsideração de sua personalidade para atingir o patrimônio de seus membros. É o que se
concluiu no Enunciado 285 da Jornada de Direito Civil: “a teoria da desconsideração, prevista no
art. 50 do Código Civil, pode ser invocada pela pessoa jurídica em seu favor”.
Quanto a necessidade de citação pessoal dos sócios, com o advento do NOVO CPC, restou
assim regrado:
Art. 135 Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-
se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Esta regra aplica-se, inclusive, quando os administradores da pessoa jurídica praticam atos
estranhos ao objeto social e com isso causam prejuízo a terceiros por aplicação da teoria da
aparência. Ressalvam-se, no entanto, as hipóteses em que a limitação de poderes do administrador
conste do estatuto social ou, de alguma forma, seja do conhecimento do terceiro ou, ainda, o ato
praticado seja evidentemente estranho ao objeto social da pessoa jurídica (art. 1.015, parágrafo
único, do CC/2002). É o que a doutrina chama de teoria ultra vires (a pessoa jurídica responde por
ato praticado por seus administradores em excesso de poderes).
Portanto, a princípio, são situações diversas com soluções jurídica díspares. Há, porém, certa
aproximação nas hipóteses que excepcionam a teoria ultra vires, pois, nestes casos, também os
administradores responderão com seu patrimônio pessoal pelas dívidas que contraíram em nome da
pessoa jurídica com excesso de poderes, mas, em tais situações, os requisitos legais são diversos.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Por certo, devem ser observados os requisitos legais dispostos no art. 50, do CC/2002, além
do devido processo legal, assegurando-se o contraditório e a ampla defesa. É o que explicam
ROSENVALD e CHAVES ao lecionar que: “independentemente de decisão judicial, é possível
ao Poder Público desconsiderar a personalidade jurídica para obstar que sociedades de
fachada celebrem contratos com o Estado ou declarar a ineficácia de determinados atos que
impliquem em prejuízo aos interesses públicos ou violação a texto legal. Sempre, porém,
dependendo da prova de ocorrência de um dos requisitos contemplados no art. 50 do Código
Civil”.
Também o STJ já teve oportunidade de abraçar a teoria, asseverando que “a Administração
Pública pode, em observância ao princípio da moralidade administrativa e da indisponibilidade dos
interesses públicos tutelados, desconsiderar a personalidade jurídica de sociedade constituída com
abuso de forma e fraude à lei, desde que facultado ao administrado o contraditório e a ampla defesa
em processo administrativo regular” (STJ, ROMS 15166/BA, DJU 08/09/2003).
Todavia, enquanto não integralizado por completo o capital social, o sócio responde
solidária e integralmente pelas dívidas da empresa, caso esta se mostrar insolvente. Observa-se,
pois, que a subcapitalização implica na tentativa de reduzir os riscos do empreendimento, na medida
em que o sócio que deixa de integralizar sua cota social não arrisca perder seu patrimônio se a
atividade da empresa acarretar prejuízos.
Por tal razão, ROSENVALD e CHAVES defendem que “em casos tais, nos quais ocorre a
infracapitalização de uma sociedade, há de se aplicar a desconsideração da personalidade jurídica
com base no abuso praticado pelo sócio que pretendeu fugir dos prováveis riscos do negócio,
atendido um de seus pressupostos legais”.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
A DESCONSIDERAÇÃO INDIRETA, por sua vez, subsiste com frequência nos casos de
empresas controladora e controlada, sobretudo quando a primeira se utiliza da segunda para
praticar fraudes e abusos diversos, sendo possível, nestes casos, levantar o véu da sociedade
controlada para atingir o patrimônio da controladora. É o que ensinam ROSENVALD e
CHAVES:
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
TÍTULO III
DO DOMICÍLIO
É em regra no foro de seu domicilio que o réu é procurado para ser citado.
1.1. CONCEITO
É a sede jurídica da pessoa. É onde ela se presume presente para efeitos de direito. Onde
pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos.
Domicílio é o lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo (art. 70
CC). Portanto RESIDÊNCIA é o elemento objetivo do conceito de domicilio . O elemento
subjetivo é o ÂNIMO DEFINITIVO. Domicílio não se confunde com habitação ou morada,
sendo esses, locais onde a pessoa ocupa esporadicamente.
Uma pessoa pode ter um só domicilio e várias residências. Pode também ter mais de um
domicilio. Basta que tenha diversas residências onde alternativamente viva.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
É possível que alguém tenha domicílio sem ter residência fixa. Caso dos ciganos,
andarilhos e etc. Eles têm seu domicílio onde forem encontrados.
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual,
o lugar onde for encontrada.
Voluntário: pode ser geral (fixado livremente) ou especial (fixado com base no contrato:
foro contratual ou de eleição). O geral pode ser mudado de acordo com o art. 74 CC.
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta
de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às
municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não
fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.
O foro de eleição está previsto no art. 63 do NOVO CPC. A parte por este beneficiada pode
abrir mão do privilegio e ajuizar a ação no domicilio do réu. Não se tem admitido o foro de
eleição no contrato de adesão, salvo demonstrando a inexistência de prejuízo para o aderente.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
LIVRO II
DOS BENS
1- NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Bens são coisas materiais ou imateriais úteis aos homens e de expressão econômica,
suscetíveis de apropriação.
A distinção entre bens corpóreos e incorpóreos não foi acolhida pela nossa legislação.
Corpóreos são os bens que tem existência física ou material, e podem ser tangidos pelo homem
(podem ser objetos de compra e venda). Incorpóreos são os que têm existência abstrata, mas tem
valor econômico, como o direito autoral, o crédito e etc. (é objeto de cessão). Ambos integram o
patrimônio da pessoa.
Certas coisas, insuscetíveis de apropriação pelo homem, como o ar atmosférico, o mar e etc.
são chamados de coisas comuns, elas não podem ser objeto de relação jurídica. Entretanto, sendo
possível sua apropriação em porções limitadas, tornam-se objeto de direito.
As coisas sem dono são chamadas de res nullius. Podem ser apropriada por quem a
encontrar. A coisa móvel abandonada é chamada de res derelicta. O seu titular a lançou fora com
a intenção de não a ter mais pra si, ela pode ser apropriada por outra pessoa.
2- CLASSIFICAÇÃO
Conceito – O bem de família voluntário é instituído por ato de vontade do casal (casado ou
em união estável – unidade familiar) ou por ato de terceiro e registrado no Cartório de
Imóveis (art. 167, I, 1, da LRP).
Para instituir o bem de família voluntário na forma do Código Civil se deve lavrar um
instrumento constituindo aquele imóvel como bem de família e levar o registro ao cartório de
imóveis. Exige, pois:
1) manifestação de vontade e
2) registro.
Efeitos - Feita essa inscrição no cartório de imóveis, dois efeitos decorrem do bem de
família voluntário:
Impenhorabilidade
Relativas
Inalienabilidade
A partir do momento que os instituidores registram o bem de família voluntário, ele se torna,
a partir dali, inalienável. Perde-se a liberdade de vendê-lo ou doa-lo como antes. Agora, para fazer
isso, é necessária a observância de certas formalidades que antes não havia. A inalienabilidade está
prevista no art. 1.717, do Código Civil:
Então, para vender o bem de família, tem que colher a manifestação de todos os
interessados, não só da minha vontade, mas também da minha esposa e, se houver incapazes, há
intervenção do MP. Para poder vender, é preciso CANCELAR o registro do bem de família.
“Registrado o bem de família voluntário, ele se torna impenhorável por dívidas futuras,
com as ressalvas do art. 1.715.”
Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua
instituição, SALVO as que provierem de TRIBUTOS relativos ao prédio, ou de
despesas de condomínio.
Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo
existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da
dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem
outra solução, a critério do juiz.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
a) O bem de família não poderá ultrapassar o teto de 1/3 do patrimônio líquido dos
instituidores.
Não pode bem de família voluntário ultrapassar 1/3 do patrimônio dos instituidores.
O terceiro aí é um avô, por exemplo, dizer que deixa um apartamento e que esse
apartamento será seu bem de família voluntário.
O Código permite que na mesma escritura que afeta o apartamento como bem de família, se
afete também um VALOR MOBILIÁRIO, uma renda que mantém o imóvel. Não é qualquer
renda, mas uma renda que conserva o imóvel.
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com
suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar,
e PODERÁ ABRANGER VALORES MOBILIÁRIOS, cuja renda será
aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.
Obs. Situação diversa pode ocorrer: por necessidade econômica, o casal poderá ser compelido a
alugar o seu único imóvel residencial. Pergunta-se: #Neste caso, a renda proveniente do aluguel é
impenhorável pelas regras do bem de família?
Por necessidade econômica, o casal teve que sair do imóvel. Alugou a única casa que tinha e
passou a viver na casa de parentes, vivendo da renda de aluguel do seu único imóvel. #A renda de
aluguel que seu imóvel produz e que mantém a família é impenhorável?
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Esse sim, diferentemente do voluntário, protege a todos nós. O BFL é disciplinado pela
Lei n.º 8.009/90.
IMPORTANTE!!! Essa lei que consagrou o bem de família legal poderia ser aplicada para
situações de penhora anteriores a ela? Sabemos que lei civil não retroage. O que retroage é
norma penal benéfica. O STJ, em uma interpretação social de resgate à dignidade da pessoa
humana, a despeito de todos nós sabermos que o ato jurídico perfeito deve ser preservado, sumulou
que a Lei 8009 poderia ser aplicada para situações anteriores à sua vigência.
Esta Corte Superior tem entendimento firmado de ser adequada a penhora de parte do
bem imóvel não utilizada para fins residenciais, ainda que, no registro imobiliário, haja
somente uma matrícula, quando o desmembramento não prejudicar a garantia de moradia da
família. (AgInt no REsp 1456845/PR, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 13/09/2016, DJe 19/10/2016)
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
A lei não diz o que está protegido. Diz o que não está protegido.
Exemplos, na jurisprudência brasileira e doutrina, de bens móveis protegidos pela Lei 8.009:
Freezer, máquina de lavar, máquina de secar, computador, televisão, ar-condicionado, instrumento
musical (teclado).
#Vaga de garagem é protegida pela Lei 8009? Cuidado com CESPE porque STJ tem firmado
entendimento a respeito disso:
A garagem, se tiver registro separado, vai ser penhorada. Se estiver conjugada com a área
privativa do apartamento, está protegida. A questão é investigar se há matrícula e registros
separados ou não para efeito de penhora.
O teto de 1/3 do patrimônio líquido é instituído para o bem de família voluntário. A lei 8009
protege o seu apartamento independentemente de valor.
São aquelas trazidas pelo art. 3º. Doutrinariamente, entende-se que essas exceções à
impenhorabilidade do bem de família da lei 8009/90, que são de ordem pública, devem ser
aplicadas também ao bem de família voluntário, sob pena de se abrir uma grande brecha para
fraudes no direito brasileiro:
O inc. I trazia a hipótese em que o bem de família poderia ser penhorado para o pagamento
dos créditos dos trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias,
porém tal possibilidade foi REVOGADA pela LC 150/2015.
Se o agente financeiro financiou a construção ou a aquisição de sua casa própria não dá para
opor contra ele um bem de família.
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem,
do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal,
observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida; (Redação
dada pela Lei nº 13.144 de 2015)
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Não haverá proteção contra bem de família se o processo foi movido pelo credor de
pensão alimentícia. A esposa ingressou com execução, o apartamento do ex-marido devedor pode
ser penhorado.
Obs. “O Supremo Tribunal Federal já firmou entendimento, seguido pelo STJ, no sentido de que A
COBRANÇA DE TAXA DE CONDOMÍNIO RESULTA TAMBÉM NA PENHORA DO
IMÓVEL (RE 439.003/SP)”.
Condomínio não é tributo, mas o STF deu uma interpretação extensiva pelo fundamento de
política social.
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo
casal ou pela entidade familiar;
IMPORTANTE!!! “O STJ, por outro lado, como se lê no agravo regimental REsp 813.546/DF,
tem entendido que a simples indicação do bem à penhora NÃO implica renúncia ao benefício da
lei 8009/90.”
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença
penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
Este era o mais polêmico. Fiador em contrato locatício não tem bem de família no Brasil,
conforme já decidido pelo STJ e pelo STF..
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
“O Supremo Tribunal Federal, por seu plenário, já afirmou ser constitucional a penhora
do imóvel residencial do fiador na locação (RE 352.940-4/SP).”
IMPORTANTE!!!
Classificação fundada na efetiva natureza dos bens. Seus principais efeitos são: os bens
móveis são adquiridos por tradição, enquanto os imóveis dependem de escritura pública. Os
imóveis exigem outorga uxória para serem alienados, já os móveis não precisam da outorga.
Prazos diferentes para o usucapião. A hipoteca é o direito real de garantia para os bens imóveis e o
penhor para os bens móveis.
São as coisas que não podem ser removidas de um lugar para o outro sem a sua destruição
(conceito o qual não abrange os imóveis por determinação legal).
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.
Os bens imóveis em geral podem ser classificados dessa forma: imóveis por natureza, por
acessão natural, por acessão artificial e por determinação legal.
a) Imóveis por natureza: em rigor somente o solo, com sua superfície, espaço aéreo, é imóvel por
natureza. Tudo que é aderido será considerado imóvel por acessão.
b) Imóveis por acessão natural: são as árvores, frutos pendentes, bem como todos os acessórios e
adjacências naturais.
c) Imóveis por acessão artificial ou industrial: é a produzida pelo trabalho do homem. São as
construções e plantações. Não se incluem as construções provisórias tais como, circos e parques de
diversão.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Obs. O CC 2002 ao contrário do CC 1916 não faz alusão à acessão intelectual. A razão é que o CC
2002 trouxe o conceito de pertença.
De acordo com o art. 84 CC “Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não
forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes
da demolição de algum prédio.”
IMPORTANTE!!! A renúncia a herança é, portanto, renúncia de imóvel, deve ser feita por
escritura pública mediante autorização do cônjuge.
IMPORTANTE!!! Navios e aeronaves são bens móveis. São considerados bens imóveis apenas
para fins de hipoteca.
Existem ainda os móveis por antecipação. São bens incorporados ao solo, mas com a
intenção de separá-lo oportunamente. Ex. Árvore plantada para o corte.
Bens fungíveis são os móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade. Infungíveis são os bens que não tem esse atributo.
A fungibilidade é característica dos bens móveis. Mas em situações específicas pode ocorrer
que venha a alcançar os imóveis. Ex. Ajuste sobre loteamento, cada um é dono de X lotes.
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A fungibilidade pode resultar da vontade das partes. Ex. A moeda é um bem fungível, mas
se for de um colecionador se torna infungível.
O art. 86 diz que são consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da
própria substância (consumíveis de fato), sendo também considerados tais os destinados à
alienação (consumíveis de direito).
Inconsumíveis, ao contrário, são os que admitem o uso reiterado da coisa sem importar
destruição.
Pode o bem consumível se tornar inconsumível por vontade das partes e vice versa. Ex.
Garrafa de vinho em uma exposição e um livro posto a venda.
Obs. O usufruto não pode recair sobre bens consumíveis, caso recaia, será chamado de usufruto
impróprio.
Os bens podem ser indivisíveis por natureza (não se pode fracionar sem alteração da
substância, diminuição de valor), por determinação legal (servidões, hipotecas) e por vontade das
partes (convencional). No caso da convencional o acordo NÃO poderá tornar a coisa indivisa por
prazo maior de CINCO ANOS.
De acordo com o art. 89 CC, são singulares os bens que, embora reunidos, se
consideram de per si, independentemente dos demais. Ex. A árvore pode ser bem singular ou
coletivo, conforme seja encarada individualmente ou agregada a outras (floresta).
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de
relações jurídicas próprias.
Principal é o bem que tem existência própria, que existe por si só. Acessório é o bem cuja
existência dependa do principal. Ex. Solo é bem principal, e a árvore plantada ao solo é um bem
acessório.
O art. 92 CC diz que “Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente;
acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.” Em consequência disso, como regra, o
bem acessório segue o principal (Princípio da gravitação jurídica). Para que tal não ocorra é
necessário que se tenha estabelecido o contrário ou que haja previsão legal (art. 1284 CC).
Na grande classe dos bens acessórios compreendem-se os frutos e produtos. Que de acordo
com o art. 95 podem ser objeto de relações jurídicas.
Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos
PODEM ser objeto de negócio jurídico.
Produtos são as utilidades que se retiram da coisa, lhe diminuindo a quantidade, porque
não se reproduzem periodicamente, como as pedras e os metais, que se extraem das pedreiras e das
minas. Distingue-se dos frutos porque a colheita destes não diminui o valor nem a substância da
fonte.
Frutos são utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem da coisa
sem lhe acarretar destruição no todo ou em parte. Dividem-se quanto à origem em naturais,
industriais e civis. Naturais são os que se renovam periodicamente em virtude de força orgânica
Ex. Fruto de uma árvore. Industriais são os que aparecem pela mão do homem. Ex. Produção de
uma fabrica. Civis são os rendimentos produzidos pela coisa. Ex. Alugueis.
Os frutos também podem ser classificados quanto a seu estado em pendentes (enquanto
unido à coisa que o produziu), percebidos ou colhidos (depois de separados), estantes (separados
para venda), percipiendos (os que deviam ser, mas não foram colhidos ou percebidos) e
consumidos (os que não existem mais porque foram utilizados).
2.3.1 Pertenças
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Art. 93. São pertenças os bens que, NÃO constituindo partes integrantes, se
destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de
outro.
Ex. Máquinas de uma propriedade agrícola (inclusive trator), objetos de decoração de uma casa.
O art. 94 CC nos traz a diferença entre pertença e parte integrante ao dizer que “Os negócios
jurídicos que dizem respeito ao bem principal NÃO ABRANGEM AS PERTENÇAS, salvo se
o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso”.
2.3.2 Benfeitorias
Esta classificação não tem caráter absoluto, pois uma mesma benfeitoria pode ser
enquadrada em uma ou outra espécie dependendo da circunstância.
As benfeitorias necessárias não são apenas as que se destinam a conservação da coisa, mas
são também aquelas que permitem a normal exploração econômica do bem.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são
inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei
determinar.
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído,
conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração
pertencerem.
Conceito: são os do domínio nacional pertencente às pessoas jurídicas de direito público interno.
Os bens de uso comum do povo e os de uso especial são bens de domínio público do estado.
Os dominicais são do domínio privado do estado.
Os bens de uso comum do povo podem ser utilizados por qualquer um do povo sem
formalidades. NÃO perdem essa característica se o poder público regulamentar seu uso, ou tornar
seu uso oneroso. A administração também pode restringir seu uso em razão de segurança nacional.
O povo somente tem o direito de usar tais bens, não tem, portanto, seu domínio.
Os bens de uso especial são os bens que se destinam especialmente a execução dos serviços
públicos.
Obs. A inalienabilidade não é absoluta. Os bens suscetíveis de valoração patrimonial podem perder
a inalienabilidade pela desafetação. Os bens dominicais podem ser afetados, perdendo o caráter
alienável. A alienabilidade é característica própria dos bens dominicais.
Por exclusão, são todos os outros bens não pertencentes à pessoa jurídica de direito público
interno, mas a pessoa natural ou jurídica de direito privado.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
LIVRO III
DOS FATOS JURÍDICOS
TÍTULO I
DO NEGÓCIO JURÍDICO
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
1- CONCEITOS
Os fatos jurídicos em sentido amplo podem ser classificados em fatos naturais e fatos
humanos. Os primeiros decorrem da natureza e os segundos da atividade humana. Os fatos naturais
por sua vez se dividem em ordinários (nascimento, morte e etc.) e extraordinários (terremoto, chuva
e etc.).
Os fatos humanos ou ato jurídico em sentido amplo são ações humanas que criam,
modificam, transferem ou extinguem direitos; dividem-se em lícitos e ilícitos. Lícitos são as ações
humanas em que a lei defere o efeito almejado pelo agente. Ilícito, por ser praticado em desacordo
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com o ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos involuntários, mas imposto pelo
ordenamento.
c) Ato-fato jurídico: no ato-fato jurídico ressalta-se a consequência do ato, o fato resultante, sem
se levar em consideração a vontade de praticá-lo. O efeito do ato não é buscado nem imaginado
pelo agente, mas decorre de uma conduta e é sancionado pela lei, como no caso da pessoa que acha
casualmente um tesouro.
Unilaterais são os que se aperfeiçoam com uma única manifestação de vontade, como o
testamento, codicilo, promessa de recompensa e etc. São de duas espécies, os recepticios, que são
aqueles em que a declaração de vontade tem que se tornar conhecida do destinatário para produzir
efeitos. Ex. revogação de mandato. E os não recepticios, em que o conhecimento por parte de
outras pessoas é irrelevante. Ex. testamento e etc.
Bilaterais são os que se perfazem com duas manifestações de vontade, coincidentes sobre
o objeto. Podem existir várias pessoas no polo passivo sem que o contrato deixe de ser bilateral.
IMPORTANTE!!! Contratos bilaterais são aqueles que são onerosos para ambas às partes,
sinalagmáticos. Sendo diferente de negócio jurídico bilateral (duas manifestações de vontade).
Plurilaterais são os contratos que envolvem mais de duas partes. Ex. Contrato de sociedade
com mais de dois sócios.
Gratuitos são aqueles em que só uma das partes aufere vantagens ou benefícios Ex. Doação
pura.
Onerosos são aqueles em que ambos os contratantes auferem vantagens, as quais, porém,
correspondem a uma prestação. Ex. Compra e venda.
Neutros se caracterizam pela destinação do bem. Ex. Tornar um bem inalienável, instituir
determinado bem como bem de família.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Bifrontes são os contratos que podem ser onerosos ou gratuitos, segundo a vontade das
partes, como mútuo, o mandato e o depósito. Só é possível se o contrato é definido em lei como
gratuito, pois tornar um negócio oneroso em gratuito subverteria a sua causa. Nem todos os
contratos gratuitos podem ser convertidos em onerosos por convenção das partes. Ex. doação e
comodato ficariam desfigurados, pois se tornariam venda e locação respectivamente.
Os negócios celebrados inter vivos produzem efeitos desde logo, com as partes ainda vivas.
Mortis causa são os negócios destinados a produzir efeitos após a morte do agente.
Principais são os que têm existência própria e não dependem, pois da existência de qualquer
outro.
Acessórios são os que têm sua existência subordinada ao contrato principal (cláusula penal,
fiança). Os acessórios seguem o destino do principal. Nulo o principal, também nulo o acessório,
sendo que a recíproca não é verdadeira.
Solenes são os negócios que devem obedecer a forma prescrita para se aperfeiçoar. Pode
constituir da própria substância do ato, ou pode ser exigida apenas como prova do ato.
Não solenes são os negócios de forma livre. Podem ser celebrados inclusive verbalmente.
Complexo são os que resultam da fusão de vários atos sem eficácia independente.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Estes são alguns artigos que ajudam a interpretar o negócio jurídico. Algumas regras devem
ser observadas em relação a interpretação do negócio jurídico. A melhor maneira de se apurar a
intenção dos contratantes é verificar o modo pelo qual as partes o vinham executando de comum
acordo. Na dúvida se interpreta de maneira menos onerosa ao devedor. As cláusulas contratuais
devem ser interpretadas em conjunto com as demais, e não isoladamente.
Obs. Princípio da obrigatoriedade dos contratos: o contrato faz lei entre as partes (pacta sunt
servanda). Não podendo ser modificado pelo judiciário. Opõem-se a ele os princípios da revisão do
contrato e da onerosidade excessiva, baseado na clausula rebus sic stantibus e na teoria da
imprevisão, que autoriza o judiciário a rever os contratos ante a ocorrência de fatos extraordinários
e imprevisíveis.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
A capacidade do agente é a aptidão para intervir nos negócios jurídicos como declarante ou
declaratário. A incapacidade de exercício é suprida pela representação e pela assistência.
Objeto lícito é o que não atenta a moral, a lei ou os bons costumes. O objeto deve também
ser possível. Quando impossível o negócio é nulo. A impossibilidade pode ser física ou jurídica. O
objeto deve ser também determinado ou determinável (indeterminado relativamente ou suscetível
de determinação no momento da execução).
A forma deve ser prescrita ou não defesa em lei. Em regra a forma é livre. Mas em algumas
situações a lei pode exigir forma determinada para garantir a segurança jurídica.
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial,
senão quando a lei expressamente a exigir.
IMPORTANTE!!! Art. 108 CC. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial
à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário
mínimo vigente no País.
5- RESERVA MENTAL
Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a
reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha
conhecimento.
Ocorre a reserva mental quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, isto é,
quando não quer um efeito jurídico que declara querer. Tem por objetivo enganar o outro
contratante. Se este, entretanto, não souber da reserva, o ato subsiste e produz os efeitos que o
declarante não desejava. A reserva é indiferente ao mundo jurídico e irrelevante no que se refere a
validade e eficácia do negócio jurídico.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Enquanto a reserva mental estiver só no íntimo do agente, não há qualquer repercussão para
o Direito. Porém, quando a reserva mental se manifesta, existem efeitos jurídicos.
IMPORTANTE!!! No entanto, a linha de pensamento do Min. Moreira Alves não é neste sentido,
pois argumenta que, uma vez manifestada a reserva, o negócio se torna INEXISTENTE.
CAPÍTULO II
DA REPRESENTAÇÃO
Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome
do representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o
fazendo, responder pelos atos que a estes excederem.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
CAPÍTULO III
DA CONDIÇÃO, DO TERMO E DO ENCARGO
1- INTRODUÇÃO
IMPORTANTE!!! Essas convenções acessórias são admitidas nos atos patrimoniais em geral, mas
não podem integrar os de caráter eminentemente pessoal como os direitos de família e os
direitos personalíssimos. Ex. Reconhecimento de filho, casamento, adoção e etc.
2- CONDIÇÃO
Conceito,
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
IMPORTANTE!!! Condição não pode ser fato passado (ex. loteria que correu ontem)
IMPORTANTE!!! A morte não é uma condição. Não há incerteza. Exceção: a morte é condição se
o sujeito limitar o evento à um período de tempo. Ex. Vou lhe doar a minha fazendo se meu tio que
lá mora, morrer até o dia 02/02.
IMPORTANTE!!! Toda cláusula que estabelece condição deriva da vontade das partes. Não pode
a lei estabelecer condição (a condiciones júris não é mais possível).
a) Suspensiva: a condição suspensiva é aquela que suspende ou paralisa o início dos efeitos
jurídicos do negócio jurídico. Impede que o ato produza efeitos até a realização do evento
futuro e incerto.
De acordo com o art. 125 CC, subordinando-se o negócio jurídico à uma condição
suspensiva, os direitos e obrigações decorrentes ainda não se produzem (o negócio jurídico ainda
não é exigível). A condição suspensiva não se harmoniza com o pagamento antecipado da dívida.
b) Resolutiva: enquanto esta não se implementa, o negócio jurídico produz seus válidos efeitos. É a
que extingue, resolve o direito transferido pelo negócio, ocorrido o evento futuro e incerto.
De acordo com o art. 128 CC, a regra geral é que a ocorrência de condição resolutiva não
interfere no que já foi cumprido em um contrato de prestação sucessiva ou periódica.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
IMPORTANTE!!! O art. 130 CC permite ao titular do direito eventual, nos casos de condição
suspensiva ou resolutiva, praticar os atos destinados a conservá-lo.
Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou
resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo.
IMPORTANTE!!! Enquanto não se verifica ou não se frustra o evento futuro e incerto a condição
encontra-se pendente. A verificação da condição se chama implemento. A sua não ocorrência se
chama frustração.
Preceitua o art. 129 “Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo
implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao
contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o
seu implemento.”
Prescreve o art. 126: “Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e,
pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se
com ela forem incompatíveis.” Quem adquire um domínio resolutivo está assumindo um risco, não
podendo alegar prejuízo se advier a resolução.
a) Lícita: a que não é contrária à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
b) Ilícita: a que for contrária à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
IMPORTANTE!!! A condição ilícita invalida todo o negócio jurídico e não apenas a cláusula
que impõe a condição.
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem
pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que
privarem de todo efeito o negócio jurídico (perplexas), ou o sujeitarem ao puro
arbítrio de uma das partes (puramente potestativa).
a) Casual: uma condição casual é uma condição relativa à um evento da natureza. (Ex. Se chover)
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
b) Mista: é a que deriva da vontade de uma das partes e da vontade de terceiro. Ex. “Te darei meu
carro se casar com tal pessoa”
c) Potestativa: a que deriva da vontade da parte. Existem dois tipos de condição potestativa.
IMPORTANTE!!!
Obs. Caso a condição simplesmente potestativa se torne impossível, ela passa a se chamar condição
promíscua. (Ex. O jogador quebra a perna, logo ele não poderá ser o artilheiro).
a) Fisicamente impossíveis: são as que não podem ser cumpridas por nenhum ser humano. Desde
que a impossibilidade física seja genérica, tem-se por inexistentes quando resolutiva, isto é, serão
consideradas não escritas. Quando suspensivas invalidam o negócio jurídico.
Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando
RESOLUTIVAS, e as de não fazer coisa impossível.
3- TERMO
Termo é o dia que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico. Termo condicional
é a cláusula contratual que subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e certo (difere
da condição que a subordina a evento futuro e incerto).
IMPORTANTE!!! Pode ocorrer que o termo, embora certo e inevitável no futuro, seja incerto
quanto a data de sua verificação. Ex. Te darei tal bem a partir da morte de tal pessoa.
Sob o aspecto referido acima o termo pode ser incerto (exemplo acima), ou certo (quando se
reporta a data do calendário ou lapso certo de tempo).
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
IMPORTANTE!!! Termo de direito é o que decorre da lei e termo de graça é a dilação do prazo
concedido ao devedor.
O termo também pode ser inicial ou suspensivo e final ou resolutivo. O termo inicial
suspende o exercício mas não a aquisição do direito (diferente da condição suspensiva – que
suspende a aquisição e o exercício do direito).
Dispõe o art. 135 CC: Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições
relativas à condição suspensiva e resolutiva.
IMPORTANTE!!! Termo não se confunde com prazo. Prazo é o intervalo entre o termo a quo e o
termo ad quem. Está regulamentado nos arts. 132 a 134 CC.
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os
prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até
o seguinte dia útil.
§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no
imediato, se faltar exata correspondência.
§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.
Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo,
salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.
4- ENCARGO OU MODO
Conceito: com base na doutrina italiana, podemos conceituar o encargo como sendo um
ônus que se atrela a uma liberalidade (suporta-se um prejuízo em nome de um benefício maior).
Segundo dispõe o art. 136 CC o encargo NÃO suspende a aquisição do direito . O direito
desde já é seu. Se este encargo não for cumprido a liberalidade pode ser revogada.
Art. 136. O encargo NÃO suspende a aquisição nem o exercício do direito,
SALVO quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente,
como condição suspensiva.
Dispõe o art. 137 CC: Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se
constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico .
Em regra, não invalida o negócio jurídico todo, apenas o encargo. Porém, invalida-se todo o
negócio jurídico se o encargo ilícito for o motivo do negócio jurídico.
CAPÍTULO IV
DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
1- INTRODUÇÃO
Trata-se das hipóteses em que a vontade se manifesta com algum vício que torne o negócio
anulável.
O CC trata de seis defeitos: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude contra
credores. É ANULÁVEL o negócio jurídico que contenha tais vícios.
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:
I - por INCAPACIDADE RELATIVA do agente;
II - por vício resultante de ERRO, DOLO, COAÇÃO, ESTADO DE PERIGO,
LESÃO OU FRAUDE CONTRA CREDORES.
Segundo o art. 178 do CC, é de QUATRO ANOS o prazo de decadência para pleitear-se a
anulação do negócio jurídico, contado:
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Exceto a fraude contra credores, esses defeitos são considerados vícios de consentimento,
porque provocam uma manifestação de vontade não correspondente com o íntimo e verdadeiro
querer do agente. A fraude contra credores é considerada um vício social, pois a vontade é
manifestada com a intenção de prejudicar terceiros, essa vontade corresponde exatamente ao seu
desejo.
A simulação é também considerada um vício social. O art. 167 CC declara nulo o negócio
jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
2- ERRO OU IGNORÂNCIA
IMPORTANTE!!! Não é todo erro que vicia o negócio jurídico. A doutrina clássica costumava
afirmar que o erro, para ser invalidante do negócio jurídico precisa observar dois requisitos:
a) Ser escusável, perdoável - um erro que uma pessoa normal cometeria.
b) Ser SUBSTANCIAL, essencial, capaz de influir no negócio jurídico - o erro deve atacar a
essência do negócio jurídico.
IMPORTANTE!!! Na doutrina moderna, se aceita que o erro deve ser essencial, porém, não se
deve investigar se a pessoa atuou ou não, com diligência normal (não precisa ser escusável). A
doutrina moderna diz que esse requisito da escusabilidade não precisa mais ser exigível (art. 138).
Para o juiz anular por erro, ele não precisa mais investigar a escusabilidade do erro.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
a) Erro sobre o negócio: aquele que incide na estrutura e na causa da declaração negocial, de
maneira que se celebra equivocadamente um negócio por outro (acha que é doação, mas é
empréstimo).
b) Erro sobre o objeto: ataca a natureza ou as características do objeto do negócio jurídico (acha
que é ouro mas é latão, acha que é marfim mas é osso de gambá).
c) Erro sobre a pessoa: incide nas características e nos elementos de identificação do outro
declarante. Incide muito no casamento.
d) Erro de direito: ao contrário dos demais, essa modalidade de erro não é erro sobre o fato, mas
sim é um erro jurídico, sobre a ilicitude do fato.
IMPORTANTE!!! O erro de direito trata-se de uma modalidade de erro que, sem traduzir
intencional recusa à aplicação da lei, incide no âmbito de atuação permissiva da norma. O erro é de
interpretação da norma, acha permitido o que é proibido.
IMPORTANTE!!! Erro acidental se opõe ao substancial e real. O erro acidental não invalida
o negócio jurídico. Refere-se a circunstâncias de menor importância, que, se conhecida a realidade,
mesmo assim o negócio seria realizado.
IMPORTANTE!!! Não havendo prejuízo, na forma do art. 144, não existirá erro invalidante - pas
de nullite sans grief.
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos
mesmos casos em que o é a declaração direta.
O motivo do negócio NÃO precisa ser mencionado pelas partes. Motivos são as ideias,
razões subjetivas, interiores, consideradas acidentais e sem relevância para a validade do negócio.
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como
razão determinante.
Ex. O testador beneficia seu sobrinho José, mas se descobre que ele não tem sobrinho, mas sim, um
afilhado José.
Segundo o art. 143, o erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
IMPORTANTE!!! Interesse negativo (uma compensação para o contratante que não concorreu
para o erro). O CC não prevê essa hipótese, mas ela decorre dos princípios gerais do direito,
especialmente o que protege a boa-fé.
3- DOLO
O dolo traduz um artifício malicioso empregado por uma das partes ou por terceiro, com o
propósito de prejudicar outrem, mas proveitoso ao autor do dolo ou a terceiro.
Obs. Dolus bonus é socialmente aceito e juridicamente permitido. Ex. Propaganda que realça as
características do produto (o que não se aceita é a deturpação das características do produto ou a
omissão de informação).
Dentro do âmbito da atuação dolosa proibida está inserida a vedação das mensagens
subliminares (mensagem subliminar traduz uma forma sub-reptícia de transferência de informação
não perceptível pelos mecanismos racionais do destinatário). Hoje a proibição é implícita, decorre
dos princípios do CDC.
O dolo invalida o negócio jurídico tornando-o anulável. Para a doutrina brasileira, o dolo se
subdivide em:
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
(dolo principal)
É chamado principal, pois o dolo foi à causa da celebração do negócio jurídico. Ou seja,
sem o dolo o negócio não seria realizado.
b) Dolo acidental: este dolo não invalida o negócio jurídico, mas apenas gera a obrigação de pagar
perdas e danos. (art. 146 CC). É acidental quando apesar do dolo, o negócio seria realizado,
embora de outra maneira. Esse dolo não ataca a substância do negócio.
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional (dolo negativo)
de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado,
constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Resumindo!!! Portanto, o dolo de terceiro só anula o negócio se a parte a quem este aproveita
tivesse ou devesse ter conhecimento.
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a
parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário,
ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e
danos da parte a quem ludibriou.
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
anular o negócio, ou reclamar indenização.
4- COAÇÃO
Nem toda ameaça configura coação, o artigo 151 especifica os requisitos para que a coação
possa viciar o consentimento. São eles:
a) Deve ser a causa do ato: sem a coação o negócio não se teria concretizado.
b) Deve ser grave: a coação deve ter tal intensidade que efetivamente incuta ao paciente um
fundado temor de dano. “Não se considera coação o simples temor reverencial”.
c) Deve ser injusta: deve ser contrária ao direito, ou abusiva. “não se considera coação a ameaça do
exercício normal de um direito.”
d) Deve ser dano atual ou iminente: dano próximo, afastando assim ou dano distante ou remoto.
e) Deve acarretar justo receio de dano.
f) Deve constituir ameaça de prejuízo a pessoa ou bens da vítima, ou a pessoas da sua família:
o termo família tem hoje acepção ampla (casamento, união estável). O parágrafo único do art. 151
dispõe que se a coação disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com
base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
De acordo com o art. 152 do CC, a análise de toda coação é feita de acordo com cada caso
concreto, ao apreciar a coação levam-se em conta as características da pessoa coagida.
Ex. Coagir um ex-guerrilheiro, homem-bomba das FARC, não é o mesmo que coagir uma velhinha
ingênua.
Art. 148 CC. Dolo de terceiro: o negócio jurídico só é anulado se a parte a quem aproveita
soubesse ou, pelas circunstâncias, devesse saber, do dolo usado pelo terceiro. Caso contrário, o
negócio jurídico subsiste, mas o terceiro responde pelos danos.
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo, se a parte a quem
aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que
subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da
parte a quem ludibriou.
Ex. Um terceiro fica na porta da loja de relógios falsificados falando para os outros que eram rolex
originais. Se o dono da loja souber do dolo do terceiro, o negócio jurídico (compra-venda) será
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
anulado. Se o dono da loja não souber do dolo do terceiro, o negócio jurídico é válido, mas o
terceiro responde pelas perdas e danos.
Art. 154/155 CC. Coação de terceiro: o negócio jurídico só é anulado se a parte a quem
aproveita soubesse ou, pelas circunstâncias, devesse saber, da coação usada pelo terceiro. Na
coação de terceiro, foi prevista SOLIDARIEDADE no pagamento da indenização. Se o
beneficiário não souber da coação, o negócio jurídico subsiste, caso em que o autor da coação
responde (sozinho) pelos danos.
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou
devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente
com aquele por perdas e danos.
INTERPRETANDO*** Só haverá solidariedade entre o terceiro que pratica a coação e a parte que
se beneficia, se aquele sabia (ou devia saber) da coação praticada pelo terceiro.
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a
parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da
coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto .
INTERPRETANDO*** No caso de a parte que se beneficia não saber (ou não devesse saber) da
coação praticada pelo terceiro, o negócio jurídico subsiste (pois estava de boa-fé). O terceiro, só ele,
responderá pelas perdas e danos.
5- ESTADO DE PERIGO
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade
de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra
parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o
juiz decidirá segundo as circunstâncias.
Ex. Pai que teve filho sequestrado e vende casa muito barata para pagar o resgate.
IMPORTANTE!!! A parte beneficiada deve ser conhecedora do grave perigo por que passa o
declarante.
6- LESÃO
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Vício que mais de perto toca o abuso do direito econômico. Configura-se quando alguém
obtém um lucro exagerado, desproporcional, aproveitando-se da inexperiência ou da situação de
necessidade do outro contratante.
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor
da prestação oposta.
§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao
tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
(revisão contratual: princípio da conservação do negócio)
IMPORTANTE!!! O contrato será anulado, mesmo que o outro contratante não tenha tido
conhecimento das condições de necessidade ou inexperiência do lesado.
No art. 157 do CC não há menção ao dolo de aproveitamento. O art. 157 não trouxe critérios
objetivos para avaliar a lesão. O CC usou o sistema aberto, o juiz deve analisar cada caso concreto.
Art. 157.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente,
ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. (revisão contratual:
princípio da conservação do negócio jurídico)
É vício social. A fraude contra credores consiste na prática de um ato negocial que diminui o
patrimônio do devedor insolvente prejudicando credor preexistente.
Obs. Parcela respeitável da doutrina (Maria Helena Diniz) sustenta que determinados negócios
fraudulentos por sua gravidade tem a má-fé (consilium fraudis) presumida. Em tais casos, restaria
apenas a prova do dano. Ex. Pessoa atolada de dívidas que está doando gratuitamente bens.
a) Negócios de transmissão gratuita de bens. Art. 158 CC. (Ex. Doação). O sujeito é insolvente e
ainda está doando bens. Nesses casos os credores não precisam provar o conluio fraudulento, pois a
lei presume a existência do propósito de fraude.
Obs. O devedor insolvente que está realizando um contrato oneroso pode não estar cometendo
fraude. A demonstração da fraude depende da comprovação do eventus damni e do consilium
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fraudis, e também de que a outra parte estava agindo em conluio, seja porque a insolvência era
notória ou porque havia motivo para que a insolvência fosse conhecida do outro contraente.
e) Outorga de garantia de dívida dada à um dos credores em detrimento dos demais (art. 163).
O que se anula nessa hipótese é somente a garantia, a preferência concedida a um dos credores.
Continua ele, porém, como credor, retornando a condição de quirografário.
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de
dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.
Dispõe o art. 164 CC que “presume-se, porém, de boa fé e valem os negócios ordinários
indispensáveis a manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou a
subsistência do devedor e de sua família”. O dono do estabelecimento pode continuar vendendo
suas mercadorias. Não pode, entretanto, alienar o próprio estabelecimento.
Ação Pauliana é um tipo de ação revocatória que o credor faz uso para alegar fraude
contra credores.
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159 poderá (DEVERÁ) ser intentada contra
o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada
fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.
Obs. Se o bem já foi alienado à um terceiro de boa-fé, o bem não é devolvido, cabendo ao credor
buscar outros bens do devedor (homenageia-se a boa-fé do terceiro). Princípio da eticidade.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
A segunda corrente sustenta que o negócio não é inválido, mas apenas ineficaz em relação
ao credor, o contrato pode surtir efeitos (se o devedor ganhar na mega sena, ele não será mais
insolvente, e o negócio fraudulento surtirá efeitos), o negócio é apenas ineficaz em face do credor.
IMPORTANTE!!! Não confundir fraude contra credores com a fraude à execução. A fraude à
execução é instituto processual, mais grave do que a fraude contra credores. A fraude à execução
desrespeita a administração da justiça, na fraude à execução já existe demanda contra o devedor.
IMPORTANTE!!! Súmula 195 STJ, “em embargos de terceiro não se anula ato jurídico por
fraude contra credores.” A fraude contra credores não pode ser usada como matéria de defesa.
a) É incidente de processo, regulado pelo direito público, enquanto a fraude contra credores
é regulada pelo direito civil.
b) Pressupõe demanda em andamento, capaz de reduzir o alienante a insolvência.
Configura-se quando o devedor já havia sido citado. A alienação fraudulenta feita antes
da citação caracteriza fraude contra credores.
c) Pode ser reconhecida mediante simples petição, nos próprios autos. A fraude contra
credores deve ser pronunciada em ação pauliana, não reconhecida em embargos de
terceiro (STJ Sumula 195).
d) A má-fé do terceiro adquirente deve ser provada, para a caracterização da fraude contra
credores nas alienações onerosas, bem como da fraude a execução, conforme dispõe a
sumula 375 STJ.
e) Torna ineficaz, em face dos credores o negócio jurídico; a fraude contra credores torna
anulável.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
CAPÍTULO IV
DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
1- INTRODUÇÃO
A invalidade pode se manifestar de duas maneiras: por meio da nulidade absoluta e por
meio da nulidade relativa.
IMPORTANTE!!! Ter em mente que sempre que o juiz puder, ele deverá aproveitar o negócio
jurídico inválido, à luz do princípio da conservação.
Obs. Exemplificando a aplicação do princípio da conservação, temos o art. 184 do CC que cuida
da redução do negócio jurídico. Não é porque uma cláusula do contrato é inválida, que todo o
contrato o será.
O negócio é inexistente quando lhe falta algum elemento estrutural (requisitos de existência,
tal como a manifestação de vontade). Se a vontade foi manifestada, mas encontra-se eivada de dolo
ou coação, por exemplo, o negócio existe, mas é anulável. Se a vontade emana de um
absolutamente incapaz, maior é o defeito, o ato é nulo.
O negócio nulo atinge norma de ordem pública, norma cogente; o negócio é anulável,
quando atinge norma dispositiva, de interesse particular.
3- NULIDADE ABSOLUTA
Obs. Art. 166 III CC. É nulo o negócio jurídico quando o motivo determinante, comum a AMBAS
as partes, for ilícita. É nulo o negócio jurídico quando sua causa for ilícita.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Obs. Motivo e causa são coisas diferentes. Motivo é psicológico, é íntimo, não precisa aparecer,
são razões interiores (reserva mental). Já a causa, é a razão típica, é aquilo que se exterioriza (Ex.
Na doação é a liberalidade; na venda é a aquisição de R$).
Pois bem, sempre que em determinado negócio, a causa/finalidade for ilícita, o negócio
jurídico é nulo. Ex. Contrato de locação que tem por causa a instalação no local de casa de
prostituição é nulo de pleno direito.
a) A nulidade absoluta, dada a sua gravidade, pode ser arguida por qualquer pessoa e inclusive
reconhecida de ofício pelo juiz (art. 168). É de ordem pública, decretada no interesse da própria
coletividade.
Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes (absolutas) podem ser alegadas por
qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer
do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, NÃO lhe sendo
permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.
b) A nulidade absoluta não admite confirmação nem se convalesce pelo decurso do tempo (art.
169). O negócio jurídico nulo nunca poderá ser ratificado, nem se convalesce pelo passar do tempo
(é imprescritível). A nulidade absoluta não pode ser sanada pela confirmação nem suprida pelo
juiz.
c) O negócio nulo deve ser declarado por meio de sentença com efeitos retroativos (ex tunc). O
negocio jurídico é nulo desde o início, é como se o negócio nulo nunca tivesse gerado efeitos.
d) A nulidade deve ser pronunciada de ofício pelo juiz e seu efeito é ex tunc, pois retroage a data do
negócio, para lhe negar efeitos. O negócio nulo não produz efeitos nenhum. A sentença que
declara a nulidade tem natureza declaratória.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
a) Decretada no interesse privado da pessoa prejudicada. A anulabilidade deve ser arguida pelo
legítimo interessado, NÃO podendo o juiz reconhecê-la de ofício (art. 177).
Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se
pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita
exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou
indivisibilidade.
IMPORTANTE!!! Em todos os defeitos do negócio jurídico o prazo é de quatro anos (erro, dolo,
coação, fraude contra credores, estado de perigo e lesão). Será de dois anos quando a lei não
dispuser prazo próprio.
Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo
direito de terceiro.
IMPORTANTE!!! A sentença anulatória do negócio jurídico gera efeitos retroativos (ex tunc),
dada a sua natureza especial (Humberto Theodoro Jr.).
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Art. 177. A ANULABILIDADE não tem efeito antes de julgada por sentença,
nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita
exclusivamente aos que a alegarem, SALVO o caso de solidariedade ou
indivisibilidade.
Em regra, as nulidades são analisadas quando da celebração do negócio jurídico. Todavia, parte da
doutrina admite a possibilidade de um negócio jurídico sofrer nulidade superveniente.
RESUMINDO!!! A declaração de nulidade absoluta tem efeito ex tunc, levando as partes ao status
quo ante; já a reconhecimento da nulidade relativa na sentença produz efeitos ex nunc, de modo
que o negócio produz efeitos até aquele momento!!
Obs. A conversão não é igual a confirmação do negócio jurídico inválido. Converter é transformar
o negócio jurídico inválido em negócio jurídico válido.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
IMPORTANTE!!! A conversão pode ser aplicada tanto ao negócio jurídico nulo, quanto ao
anulável (lembrar que o negócio jurídico anulável tem outras medidas sanatórias. Aplica-se mais a
conversão ao negócio jurídico nulo porque a conversão é a única medida de salvação desse
negócio).
O art. 170 só fala em negócio nulo, mas quem pode o mais, pode o menos. De acordo com o
CC só cabe a conversão ao negócio nulo.
Princípio Da Conversão
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro,
subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o
teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.
Ex. Na compra e venda de imóvel acima de 30 salários mínimos sem o registro o negócio é nulo.
Porém, pode-se converter o contrato particular de compra e venda em promessa de compra e venda.
5- DISPOSIÇÕES ESPECIAIS
a) Principio da conservação
Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre
que este puder provar-se por outro meio.
b) Dispõe o art. 184 CC que “respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio
jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação
principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação
principal.”
INTERPRETANDO*** 1ª parte. Ex. Invalidade da hipoteca por falta de outorga uxória impede a
constituição do ônus real, mas é aproveitável como confissão de divida. 2ª parte. Consiste na
aplicação da regra de que o acessório segue o principal.
d) Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não
provar que reverteu em proveito dele a importância paga. Provado que o pagamento nulo reverte-se
ao incapaz, determina-se a restituição, pois ninguém pode locupletar-se a custa alheia. O ônus da
prova incumbe a quem pagou.
6- SIMULAÇÃO
Na simulação, o negócio jurídico tem aparência normal, mas na verdade não pretende
atingir o efeito que deveria produzir. Na simulação, as duas partes se unem para enganar um
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
terceiro ou a sociedade (Ex. Casamento só pra conseguir visto). É chamada de vício social porque
objetiva iludir terceiros ou violar a lei. Se divide em simulação absoluta ou relativa.
Simulação absoluta: as partes criam um jogo de cena, vale dizer, celebra-se negócio
jurídico destinado a não produzir efeito algum. Ex. Simula empréstimo para excluir bens da
partilha.
Simulação relativa: cria-se um negócio jurídico para encobrir outro negócio cujos efeitos
são proibidos por lei. Ex. Simulação de uma doação para uma pessoa para que essa doe à
concubina.
Obs. Não confundir simulação com dissimulação, embora em ambas haja o propósito de enganar.
Na simulação procura-se aparentar o que não existe; na dissimulação se oculta o que é verdadeiro.
É nulo o negócio simulado, mas, poderá ser aproveitado o que se dissimulou se for válido na
constituição ou na forma (princípio da conservação do negócio jurídico).
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou,
se válido for na substância e na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais
realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do
negócio jurídico simulado.
IMPORTANTE!!! No CC/16, o art. 104 proibia que um dos simuladores alega-se a simulação
contra o outro. Ocorre que o CC/02 não reproduziu esse artigo, porque trata a simulação como
NULIDADE ABSOLUTA, que pode ser alegada por qualquer um, a qualquer tempo.
TÍTULO II
DOS ATOS JURÍDICOS LÍCITOS
Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se,
no que couber, as disposições do Título anterior.
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TÍTULO III
DOS ATOS ILÍCITOS
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes. (abuso de direito – responsabilidade objetiva)
TÍTULO IV
DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
CAPÍTULO I
DA PRESCRIÇÃO
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
1- INTRODUÇÃO
No dia 21/12/08, Tício e Caio celebram um negócio jurídico, pelo qual Caio se torna credor
de R$100 e Tício devedor de R$100. O termo fixado para o vencimento da obrigação é o dia
12/04/08. Chegado esse dia, Ticío frustra seu dever de pagar. Surge nessa data, o poder para Caio,
de coercitivamente, exigir o cumprimento da obrigação (surge a pretensão). Porém, o ordenamento
jurídico só confere esse poder coercitivo dentro de um certo prazo (o prazo prescricional). A
pretensão nasce no dia da violação do direito e morre no fim do prazo.
A prescrição tem como requisitos: a) a inércia do titular ante a violação de um direito seu; b)
decurso do tempo fixado em lei.
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue,
pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.
Obs. Os prazos prescricionais só estão nos artigos 205 e 206 do CC (se estiver fora desses artigos, o
prazo será decadencial).
IMPORTANTE!!! Vencido o prazo prescricional ainda subsiste o direito de ação. Ora, isso é
simples, O DIREITO DE AÇÃO É AUTÔNOMO, é o direito de ir a juízo. Se o exercício do
direito de ação for efetivado após o prazo prescricional, simplesmente a ação será improcedente (o
direito de ação não é o direito a um provimento jurisdicional positivo, como diziam os concretistas).
No direito tributário, nos termos do art. 40 da lei de execução fiscal, modificado pela lei
11.051/04, admite-se o reconhecimento da prescrição intercorrente (contra a fazenda).
O art. 205. Trata do prazo prescricional máximo de 10 anos e o art. 206 trata dos prazos
prescricionais especiais. De acordo com esses artigos, tem se em vista que não há ações
imprescritíveis. Entretanto a doutrina aponta várias pretensões imprescritíveis. Sendo assim a
prescritibilidade é a regra e a imprescritibilidade a exceção.
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A PRECLUSÃO consiste na perda de uma faculdade processual, por não ter sida exercida
no momento próprio. Só produzem efeitos dentro do mesmo processo. A preclusão pode ser:
Temporal, referente ao tempo; Consumativa, quando o ato já se consumou, não podendo fazê-lo
novamente; Lógica, quando se pratica determinado ato que o impeça de fazê-lo de outra forma.
Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, aquela se extingue pela prescrição,
nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206 CC, única e exclusivamente. A exceção prescreve nos
mesmos prazos (direito de defesa).
O que se procura evitar com este dispositivo é que prescrita a pretensão, o direito com
pretensão prescrita possa ser utilizado perpetuamente a título de exceção como defesa.
O art. 191 do CC não admite a renúncia prévia da prescrição, isto é, antes que se tenha
consumado. Não se admite a renúncia prévia nem da prescrição em curso.
Art. 191. A RENÚNCIA DA PRESCRIÇÃO pode ser expressa ou tácita, e só
valerá, sendo feita, SEM PREJUÍZO DE TERCEIRO, DEPOIS QUE A
PRESCRIÇÃO SE CONSUMAR; tácita é a renúncia quando se presume de fatos
do interessado, incompatíveis com a prescrição.
A lei 11.280/06 alterou o CPC de 73 para permitir que o juiz pronuncie de ofício a
prescrição (como forma de desafogar o judiciário). O que antes era exceção tornou-se regra.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
Em respeito ao caráter defensivo da prescrição, e nos termos do art. 191, cumulado com o
enunciado 295 da 4ª jornada, o juiz deve, antes de pronunciar de ofício a prescrição, abrir prazo
para manifestação das partes (princípio da cooperatividade).
IMPORTANTE!!! Todo prazo prescricional decorre da lei, por isso mesmo, é que NÃO
podem ser alterados pelas partes (art. 192 CC). A prescrição em curso não cria direito adquirido,
podendo seu prazo ser reduzido ou ampliado por LEI superveniente.
Dispõe o art. 193 CC que a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição,
pela parte a quem aproveita. Pode ser arguida em qualquer fase ou estado da causa, em primeira
ou em segunda instância. Não significa a renúncia tácita, a falta de invocação da prescrição na
primeira oportunidade em que falar no processo.
Obs. Nada impede que o STJ ou STF declarem a prescrição de oficio uma vez admitido o recurso,
porém, devem, anteriormente, intimar as partes a se manifestarem sobre a prescrição ou decadência.
Atenção!!! Entretanto, este artigo NÃO abrange os absolutamente incapazes, mencionados no art.
3º CC, por que contra estes não corre a prescrição.
Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu
sucessor.
Assim, o herdeiro do de cujus disporá apenas do prazo faltante para exercer a ação quando
esse prazo iniciou-se com o autor da herança. O prazo desse modo não se inicia novamente com a
morte desse.
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Os prazos prescricionais, em regra (art. 197 a 202 CC), e os decadenciais, só por exceção
(art. 26 CDC: reclamação do consumidor ao fornecedor e instauração de inquérito civil), podem se
submeter à causas impeditivas, suspensivas ou interruptivas.
Causa impeditiva/suspensiva: art. 197 a 199 do CC. O mesmo acontecimento pode ser ou
causa impeditiva (impede que comece), ou causa suspensiva (impede que prossiga), depende do
momento que ocorre.
Nas duas primeiras hipóteses o terceiro ainda não se tornou exigível, não sendo possível,
pois, se falar em prescrição. Se o terceiro propõe ação de evicção, fica suspensa a prescrição até o
desfecho final.
Dispõe o art. 200 que “quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo
criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.”
Dispõe ainda o art. 201 “que suspensa a prescrição em favor de um dos credores
solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.” A prescrição é beneficio
pessoal e só favorece as pessoas taxativamente mencionadas, mesmo na solidariedade. Assim,
existindo três credores, de dívida em dinheiro, sendo um deles absolutamente incapaz, a prescrição
fluirá normalmente contra os outros dois credores, ficando suspensa apenas em relação ao menor.
Se se tratar, porém, de direito indivisível a prescrição somente começará a fluir para todos quando
o incapaz completasse 16 anos. Sendo o direito indivisível, a suspensão aproveita a todos os
credores.
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O art. 202 do CC diz que o prazo prescricional só pode ser interrompido UMA VEZ
(para evitar abusos), e também nos diz as hipóteses de interrupção. De acordo com seu parágrafo
único, “a prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do
último ato do processo para a interromper.”
A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado (art. 203 CC). Incluindo
terceiros que tenham legitimo interesse.
Art. 202. A interrupção da prescrição, que SOMENTE PODERÁ OCORRER
UMA VEZ, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em
concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato
que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.
LEMBRAR SEMPRE!!! No direito civil a citação interrompe a prescrição, já no direito penal NÃO!
Art. 240 do NOVO CPC. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo
incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o
devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei no 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil).
§ 1o A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação,
ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura
da ação.
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preciso também que a citação seja válida, isto é, que não seja nula por inobservância das
formalidades legais.
Obs. Tem se admitido que a citação ordenada em processo anulado é idônea para se interromper a
prescrição, não tendo a nulidade sido decretada exatamente por vício de citação.
Como a fiança é contrato acessório, este segue o destino do principal. A recíproca não é
verdadeira.
A maioria dos prazos do Código Civil foi reduzida. Qual é o prazo prescricional da
pretensão de reparação civil? Para a famosa ação de perdas e danos era de 20 anos. Hoje é de 3
anos. O STJ tem reafirmado a seguinte tese, caso: um determinado ato ilícito, acidente que derivou
uma vítima, o credor, titular da pretensão que tinha prazo de 20 anos para formular a pretensão em
juízo. O credor não fez isso. Deixou o prazo correr. No 12º ano do prazo, entrou em vigor o Código
de 2002 que havia reduzido o prazo de 20 para 3 anos. O prazo prescricional era de 20, o credor não
se movimentou. #Faltariam quantos anos para a prescrição? 3 anos, pelo código novo ou 8
anos para totalizar 20, pelo código velho? Apesar de o código não ter sido muito minucioso,
adotou uma regra geral sobre isso. A resposta a essa pergunta (quantos anos faltariam para a
prescrição) encontra-se no art. 2028, do Código Civil:
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e
se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.
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O prazo foi reduzido? Sim. De 20 para 3 anos. Então, se no concurso cair uma questão desta,
a primeira pergunta que se deve fazer é se o prazo foi reduzido. Tendo sido reduzido, você aplica o
2.028: se decorreu mais da metade do prazo da lei velha, continua a aplicar a lei velha.
Faltariam, no exemplo, quantos anos para a prescrição? 8 anos.
#Esses três anos, que é o prazo da lei nova, se conta da consumação do ilícito ou da entrada
em vigor do código novo?
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CAPÍTULO II
DA DECADÊNCIA
1- CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
Conceito: é a perda do direito potestativo pela inércia do seu titular no período determinado
em lei.
Obs. O prazo para o exercício de um direito potestativo, será sempre um prazo decadencial.
Dispõe o art. 207, “salvo disposição legal em contrário, NÃO se aplicam à decadência as
normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.”
Prazo decadencial legal: direito de anular um negócio jurídico por vício, dolo por exemplo
(o que se quer é a anulação do negócio, não quer nada da outra parte).
Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por
lei (DECADÊNCIA LEGAL).
Entretanto,
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O art. 208 CC determina que se aplique a “decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso
I”. Que dizem respeito aos incapazes.
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TÍTULO V
DA PROVA
1- CONCEITO E INTRODUÇÃO
É o meio empregado para demonstrar a existência do ato ou negócio jurídico. Deve a prova
ser admissível (não proibida por lei), pertinente (adequada a demonstração dos fatos em questão) e
concludentes (esclarecedora dos fatos controvertidos).
Não basta alegar, é preciso provar (nada alegar e alegar e não provar quer dizer a mesma
coisa). O que se prova é o fato alegado, não o direito a aplicar, pois é atribuição do juiz conhecer e
aplicar o direito. Por outro lado, o ônus da prova incumbe a quem alega o fato e não a quem o
contesta, sendo que os fatos notórios independem de prova.
O art. 212 enumera os meios de prova. Esse rol, porém, é exemplificativo e não taxativo.
2- MEIOS DE PROVA
2.1 CONFISSÃO
Pode ser judicial (em juízo) ou extrajudicial (fora do processo), espontânea ou provocada,
expressa ou presumida.
Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do direito a que
se referem os fatos confessados. Se feita a confissão por um representante, somente é eficaz nos
limites em que este pode vincular o representado.
2.2 DOCUMENTO
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Pode ser público ou particular. Tem função apenas probatória. Público são os elaborados
por autoridade publica no exercício de suas funções. Particulares quando elaborados por
particulares.
Art. 216. Farão a mesma prova que os originais as certidões textuais de qualquer
peça judicial, do protocolo das audiências, ou de outro qualquer livro a cargo do
escrivão, sendo extraídas por ele, ou sob a sua vigilância, e por ele subscritas, assim
como os traslados de autos, quando por outro escrivão consertados.
Art. 217. Terão a mesma força probante os traslados e as certidões, extraídos por
tabelião ou oficial de registro, de instrumentos ou documentos lançados em suas
notas.
2.3. TESTEMUNHA
Podem ser instrumentárias ou judiciárias. Estas são as que prestam depoimento em juízo.
Aquelas são as que assinam um instrumento.
Art. 442 do NOVO CPC. A prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei
de modo diverso.
Importante observar quem não pode ser admitido como testemunha, e em quais casos
ninguém pode ser obrigado a depor (respectivamente arts. 228 e 229 CC):
Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:
I - os menores de dezesseis anos;
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes;
V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro
grau de alguma das partes, por consangüinidade, ou afinidade.
§ 1o Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o
depoimento das pessoas a que se refere este artigo.
§ 2o A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições
com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia
assistiva. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
Art. 447 do NOVO CPC. Podem depor como testemunhas todas as pessoas,
exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas.
§ 1o São incapazes:
I - o interdito por enfermidade ou deficiência mental;
II - o que, acometido por enfermidade ou retardamento mental, ao tempo em
que ocorreram os fatos, não podia discerni-los, ou, ao tempo em que deve
depor, não está habilitado a transmitir as percepções;
III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos;
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IV - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes
faltam.
§ 2o São impedidos:
I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau e
o colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou
afinidade, salvo se o exigir o interesse público ou, tratando-se de causa relativa
ao estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova que o juiz
repute necessária ao julgamento do mérito;
II - o que é parte na causa;
III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal
da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham assistido
as partes.
§ 3o São suspeitos:
I - o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo;
II - o que tiver interesse no litígio.
4o Sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento das testemunhas
menores, impedidas ou suspeitas.
§ 5o Os depoimentos referidos no § 4o serão prestados independentemente de
compromisso, e o juiz lhes atribuirá o valor que possam merecer.
Como pode se ver, os arts. 447, §1º, inc. I do Novo CPC e o art. 228, §2º, do CC, se
contradizem. A posição majoritária é que deve prevalecer o conteúdo do art. 228, §2º, do CC,
tendo em vista a superveniência do Estatuto Protetor dos Deficientes.
2.4 PRESUNÇÃO
Podem ser legais (são as que decorrem da lei) ou comuns (os que se baseiam no que
ordinariamente acontece).
As presunções legais se dividem em ABSOLUTA (JURIS ET JÚRI), que são as que não
admitem prova em contrario. E RELATIVAS (JÚRIS TANTUM) são as que admitem prova em
contrario.
2.5 PERÍCIA
Exame: apreciação de alguma coisa, por peritos, para auxiliar o juiz a formar sua convicção.
Obs. Sumula 301 STJ, “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se a exame de
DNA, induz presunção júris tantum (relativa) de paternidade”.
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