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Manuscrítica § n.

29 • 2015 Fac-símile
revista de crítica genética

O caderno 44 de Proust
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Philippe Willemart

 Marcel Proust, Cahier 44, edição estabelecida, apresentada e anotada por Francine Goujon, Yuji Murakami e
Eri Wada. Turnhout: Brepols Publishers et Bibliothèque Nationale de France. Coll. Cahier 1 à 75 de la
Bibliothèque Nationale de France, 2014 (2 vols.).

A EDIÇÃO DO CADERNO 44 faz parte do Projeto internacional coordenado por Nathalie Mauriac Dyer (ITEM-
CNRS) que visa a publicação integral dos 75 cadernos de rascunhos de Marcel Proust. Três equipes trabalham
neste projeto: a francesa, a japonesa e a brasileira. Esta última é composta atualmente por Carla Cavalcanti e
Silva (Unesp-Assis), Guilherme Ignácio da Silva (Unifesp), Samira Murad (Laboratório do Manuscrito
Literário), Henriete Karan (UFRG), Alexandre Bebiano e Philippe Willemart (USP).
Cada caderno é editado em dois volumes, o primeiro compreende o fac-símile do Caderno segundo a
paginação da Biblioteca Nacional da França e o diagrama das unidades textuais – o objetivo do diagrama não é
elucidar a ordem na qual Proust as redigiu, mas facilitar sua leitura no fac-símile e na transcrição. No segundo
volume, consta a introdução, o protocolo de transcrição, a transcrição diplomática, as observações sobre cada
folio (notas) e a análise que segue o diagrama das unidades textuais. Foram publicados até 2015, os cadernos 54
(2008), 71 (2009), 26 (2010), 53 (2012).
No Caderno 44, conservado sob a cota Nouvelles Acquisitions Françaises 16684, constam 63 fólios que
totalizam 126 páginas (reto e verso) decifradas. Redigido entre dezembro de 1912 e dezembro de 1913, o
caderno é a terceira versão do terceiro volume de A busca do tempo perdido, intitulado O Caminho de
Guermantes I, seguindo o caderno 31 (1909) e o 39 (1910). Quase totalmente consagrado à Manhã no salão da
marquesa de Villeparisis, o caderno 44 reúne todos os Guermantes que aparecem neste salão “démodé” por
obrigação familial, mas permite ao herói conhecê-los e conversar rapidamente pela primeira vez com a duquesa
de Guermantes com quem se apaixonou. Segundo Francine Goujon, que assina a excelente introdução, “pelo viés
da teatralização, o caráter misturado do salão Villeparisis encontra uma expressão dinâmica, ausente das versões
anteriores [...] as conversações opõem, a maioria das vezes, aristocratas e plebeus [...] oposições tratadas no
modo cômico que lembram a comédia clássica [...] a ironia dos Guermantes sublinha a ignorância dos plebeus
em mateira de costumas mundanas [...], várias personagens são deslumbrados por uma paixão (esnobismo da
marquesa, o amor de St-Loup)” (Goujon, Introduction, p. XXIX). Bloch, personagem típica de farsa, introduz a
discussão sobre Dreyfus e o processo Zola, e força seus interlocutores a tomar posição, o que situa o Caderno nos
debates Dreyfus e anti-Dreyfus na época.

O Caderno 44 pode ser consultado na Biblioteca proustiana mantida na sala 20 do Bloco de Letras (FFLCH-
USP) na Monitoria da Área de francês.

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Universidade de São Paulo - USP. E-mail: plmgwill@gmail.com

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