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ANPUH-Brasil – 31º Simpósio Nacional de História

Rio de Janeiro/RJ, 2021


A institucionalização da História por meio de Introdução ao Estudo da História na
Faculdade de Filosofia de Natal (1960-1968)

Matheus Oliveira da Silva

Programa de Pós-Graduação em História/UFRN

matheus.oliveira.silva.701@ufrn.edu.br

Pretendo, através deste trabalho, apresentar a pesquisa “Saberes da disciplina,


saberes da profissionalização: uma leitura sobre a institucionalização da História por meio
de Introdução ao Estudo da História na UFRN (1960-1968)”, a qual passei a desenvolver
no presente ano no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (PPGH/UFRN), a nível de mestrado, sob orientação da Prof.ª Dr.ª
Margarida Maria Dias de Oliveira. Conto, ainda, com o financiamento da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

A partir da segunda metade da década de 1950 e ao longo da década de 1960, um


importante cenário referente à institucionalização da História, por meio dos cursos
superiores1, foi se constituindo no Brasil. Num primeiro momento, seria consensual do
ponto de vista historiográfico explicitar tal cenário mediante a fundação de diversas
faculdades (de Filosofia), que em sua maioria abrigaram os cursos de História. Contudo,
além disso, gostaria de ressaltar outro elemento sintomático e, portanto, caracterizador
desse período: o não por acaso surgimento em rede da disciplina Introdução ao Estudo da
História (IEH).

Observando os dados abaixo, poderemos ter uma noção mais panorâmica desse
processo2.

CIDADE ANO
Porto Alegre/RS 1955

1
Ao mencionar “os cursos” ou “os cursos superiores” me referirei aos cursos superiores de História.
2
O levantamento de datas apresentado foi construído a partir do acesso aos seguintes trabalhos: BENFICA
(2016), BEZERRA (2007), BORGES (2006), CARVALHO (2010), OLIVEIRA (2011), PEREIRA (2010),
PORTO (2009) e RODRIGUES (2002). Portanto, reconheço que pode haver alguma experiência não
registrada aqui. Além disso, optei por utilizar o nome das cidades, pois é assim que quase todos esses
trabalhos se referem quando tratam dos seus respectivos recortes.
ANPUH-Brasil – 31º Simpósio Nacional de História
Rio de Janeiro/RJ, 2021
São Paulo/SP 1955
João Pessoa/PB 1958
Natal/RN 1960
Curitiba/PR 1961
Aracajú/SE 1963
Ponta Grossa/PR 1963
Goiânia/GO 1968
Corumbá/MS 1970
Tabela 1 – Surgimento da disciplina IEH pelo Brasil
Produzido pelo autor

Então, para além das décadas dos cursos superiores, o surgimento de IEH poderia
caracterizar tal período como um corte no ensinar, aprender e formar História e
historiadores, uma vez que concordemos que as disciplinas são testemunhas de
concepções de História, para não falar ainda das disputas dentro do campo. Tendo em
vista o momento inicial da pesquisa, levanto algumas hipóteses para elucidar o fenômeno
das IEH.

Em boa parte dos locais onde surgem os cursos, não havia instituições que já
formassem professores de História a ponto de fornecer para as faculdades um quadro
profissional consolidado. Assim, muitos deles possuíam formação em outras áreas. Uma
delas, talvez a mais comum, fosse Direito, curso que contava historicamente com
disciplinas de introdução – Introdução ao Estudo do Direito, Introdução ao Direito
Romano etc. Portanto, a ideia de construir uma Introdução a não seria tão nova ou tão
exclusiva da História. Este é o caso, por exemplo, de João Wilson Mendes Melo, criador
de IEH no curso de História da Faculdade de Filosofia de Natal, sobre quem me deterei
posteriormente3.

Já em 1961, com o I Simpósio de Professores Universitários de História, realizado


em Marília, identifico uma demanda coletiva pela conformação de um currículo
específico para os cursos superiores, sendo uma de suas pautas a instituição de IEH. Os
professores Guy de Hollanda e Maria Yeda L. Linhares, por exemplo, em suas exposições

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Não desconheço a possível influência de currículos da USP ou da FNFi, que já possuíam IEH. Minha
intenção é chamar atenção a outras parâmetros explicativos sobre os quais podemos pensar fora desse eixo.
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como simposistas defendiam, com objetivos diferentes4, a implementação de IEH no
primeiro ano dos cursos de História.

Ainda no mesmo evento, ao se discutir quais matérias poderiam servir à formação


do profissional de História, concebidas como matérias e técnicas auxiliares, propunha-
se “a entrada no curso de História de dois dêsses cursos [...], um, que receberia a
denominação de Introdução aos Estudos Históricos e que daria especial cuidado à crítica
histórica, com exercícios práticos abundantes” (I Simpósio de Professores de História do
Ensino Superior, 1961, p. 243).

Reconheço que as discussões que aparecem no Simpósio talvez já viessem de


antes, mas recorro a esse fato em função do problema de acesso a fontes sobre os cursos
superiores e a tendência historiográfica em recorrer à experiência da USP como chave
explicativa da área, o que desacelera a produção de novas narrativas e nos lega lugares
comuns para a história dos cursos superiores. Além disso, fiz questão de registrá-lo aqui
muito mais pelo fato de nele encontrarmos participantes de diversos locais do Brasil do
que por esse lugar comum que ele se tornou.

Nomes como Cid José Teixeira Cavalcanti (BA), Nara Saletto da Silva Santos
(ES), Pedro José Martins de Mello (PA), José Denizard Macêdo de Alcântara (CE),
Edigardo Ferreira Soares (PB) e Paulo de Albuquerque (AL) são significativos por
mostrar como havia uma inserção regional consideravelmente plural naquele momento.
Assim, como diante da comprovação de que na década de 1960 a História como campo
já contava com centros em diferentes lugares do Brasil, poderíamos ainda tomar como
ponto de partida para a história dos cursos superiores as experiências do eixo Rio-São
Paulo? É no confronto destas questões que a experiência do curso de História da
Faculdade de Filosofia de Natal emerge.

Dentre os professores que estavam no I Simpósio de Professores Universitários


de História em 1961, João Wilson Mendes Melo e Moacir de Goes representavam o Rio
Grande do Norte5, indicando que a Faculdade de Filosofia de Natal não estava alheia à

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Hollanda pensava IEH para “a abordagem de problemas conceituais, Crítica Histórica, além de breve
síntese da História”, enquanto Linhares pensava que a disciplina deveria voltar-se em sua maior parte para
a história da historiografia (I Simpósio de Professores de História do Ensino Superior, 1961, p.149).
5
Nos Anais do Evento, o professor João Wilson está registrado como participante advindo do estado do
Paraná. Pressuponha que tal registro foi um erro técnico, uma vez que até o momento não encontrei na
documentação com a qual trabalho indícios que o coloquem, naquele momento, em alguma instituição ou
de alguma forma vinculado a tal estado. Ao contrário, é sabido que a Faculdade de Filosofia de Natal
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década dos cursos superiores, ao contrário, estava inserida nela6. Conforme algumas das
poucas narrativas sobre o curso da Faculdade de Filosofia, o nome do professor João
Wilson é associado à origem do curso em Natal, à uma memória, a um mito fundador. É
isso que nos mostra Galvão.

A 12/03/1955 a associação dos professores do Rio Grande do Norte criava a


faculdade de filosofia de Natal por iniciativa de seu presidente o professor
Joaquim de Farias Coutinho. instalada a 27 de dezembro do ano seguinte teve
como primeiro diretor o professor Edgard Barbosa. João Wilson foi o primeiro
professor a ministrar uma aula de história em nível superior no Rio Grande do
Norte. Sua disciplina era história da antiguidade idade média com uma parte
dedicada a filosofia da história e a introdução ao estudo da história (GALVÃO,
2018, p. 77).

Também é simbólico o professor João Wilson, quando da ocasião da


comemoração dos 30 anos do curso de História da UFRN, ter escrito o primeiro artigo da
revista que comemorava tal fato. Intitulado “O começo de uma história”, o professor
procura fornecer uma narrativa fundadora ao curso, utilizando sobretudo de sua memória
e suas práticas como docente que acompanhara, naquele momento, os 30 anos do curso.

Até aqui, o fato da origem do curso em Natal estar envolto em uma memória
fundadora não parece fugir de uma tendência historiográfica (OLIVEIRA; SOUZA,
2020). O que é no mínimo salutar para esta pesquisa é o fato de que para a disciplina IEH
também há uma memória estabelecida e ela é muito mais singular por ter como seu
epicentro não necessariamente um grupo ou um processo coletivo, mas uma pessoa: o
próprio professor João Wilson.

Em uma entrevista a Lima (2002), Melo afirma que

Ensinei no curso de História desde a primeira turma, em 1957. Aliás a primeira


aula do curso foi dada por mim. Inicialmente eu ensinava as disciplinas
História Antiga e História Medieval, depois passei a ministrar a disciplina de
Didática Especial da História. O esforço diário para preparar aulas foi me
tomando um professor de História cada vez mais comprometido com a
disciplina. (...) Com o tempo fui aumentando minha experiência e verificando

financiou viagens para professores, na década de 1960, para que participassem de eventos, o que endossaria
a tese que apresente nesta nota (MEDEIROS, 2006).
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Outra ratificação a isso seria o fato de que IEH surge no curso da Faculdade de Filosofia antes mesmo do
Simpósio em Marília, como pode ser constatado na Tabela 1.
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que era necessário uma outra disciplina para introduzir o aluno nos estudos da
História. Isso porque, a nossa idéia inicial era a de que Antiga e Medieval já
seriam suficientes para realizar essa introdução. Percebi que o conteúdo dessas
duas disciplinas era muito extenso e resolvi propor à congregação da Faculdade
de Filosofia a criação de uma terceira disciplina introdutória: Introdução ao
estudo da História. A proposta foi aceita e eu fiquei com a disciplina de
Introdução e indiquei dois ex-alunos para ocuparem as disciplinas de História
Antiga e de Idade Media (LIMA, 2002, p. 25).

Percebamos que, segundo o relato acima, IEH seria fruto da percepção e


experiência do próprio professor João Wilson. Este relato como construção de uma
memória torna-se mais aparente quando o contrastamos às informações contextuais já
expostas aqui, como o surgimento em rede da mesma disciplina em outros lugares do
país, a existência de disciplinas Introdução de nos cursos dos quais muitos professores
universitários na década de 1960 eram oriundos e a demanda coletiva posta no I Simpósio
de Professores Universitários.

Até aqui minha narrativa tentou circundar dois espaços distintos, a saber, o curso
superior e uma disciplina acadêmica. Minha ideia é que as disciplinas não emergem, ou
não deveriam emergir, nos trabalhos sobre os cursos para apenas caracterizá-los. Na
tentativa de contar a história de um curso, é muito comum se recorrer aos currículos e às
disciplinas na tentativa de responder o que se ensinava e o que se aprendia. A
historicidade desses cursos estaria, então, guardada nos processos de disputas e relações
entre pessoas, grupos e instituições. Minha proposição é que as disciplinas, elas mesmas,
também explicam o curso em seus aspectos políticos, administrativos e teóricos. Tal
proposição se converte em um processo de institucionalização, compreendido por ser

dimensão material de uma organização com suas estruturas, comitês, pessoal


e financiamento. Por outro lado, abrange uma dimensão social e simbólica na
medida em que as instituições estabelecem normas e regras e fornecem
orientação; são também locais de processos de negociação social, trabalho e
estruturas de comunicação; e eles moldam as estruturas cognitivas das
atividades que ocorrem dentro deles” (LINGELBACH, 2011, p.78, tradução
livre).
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Observemos, por exemplo, um trecho do programa da disciplina de IEH de 19637.

Imagem 1 – Programa da disciplina Introdução ao Estudo da História (163)


Fonte: Laboratório de História e Memória da Educação (LAHMED)

No fragmento acima, podemos depreender que o historiador possui uma atividade


(pesquisa), ele também tem objetos de estudo determinados e que possui métodos para se
debruças sobre ele. Consideremos agora o fato de IEH ter se tornado, a partir de 1960,
componente do primeiro ano de curso na Faculdade de Filosofia. Isso me leva a pensar
que o experienciar a formação de professor de História naquela faculdade pode ter
ganhado uma outra perspectiva. Em outras palavras, outras áreas do curso podem ter
ganhado um novo trato por parte de alunos e professores na medida em que uma
comunidade passa a entender, concordar e incorporar determinados postulados de um
campo, como os propostos por IEH. Vejo nesta possibilidade o moldar de estruturas
cognitivas das atividades do curso em função dessa disciplina específica, como apontou
Lingelbach. É por isso que procurei destacar, até aqui, o curso de História da Faculdade
de Filosofia de Natal e a disciplina Introdução ao Estudo da História.

Este percurso resulta na indagação se, de fato, a disciplina Introdução ao Estudo


da História teria contribuído para a institucionalização da História no curso de História
da Faculdade de Filosofia de Natal, entre 1960 e 19688. Consequentemente, uma vez
constatada tal contribuição, também passa a me interessa como este processo teria
ocorrido. Esta é a questão central da pesquisa que aqui apresento.

Pretendo articular um primeiro conjunto de fontes, que já estavam previstas no


momento de elaboração da pesquisa. Começo pelos currículos do curso da Faculdade de

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A disciplina IEH era anual e, por isso, contava com seis unidades, assim intituladas: Iniciação; a História
e o meio geográfico; ciências auxiliares da História; História e pesquisa; a crítica histórica; a interpretação
histórica.
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Estes anos marcam, respectivamente, o surgimento de IEH no curso e a Reforma Universitária, que viria
instituir um outro tipo de universidade, diferente daquele em que surgiu IEH.
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Filosofia dos anos de 1957 a 19639, para visualizar quais seriam os saberes transformados
em disciplinas para constituir uma formação, atentando ao momento em que a disciplina
‘Introdução ao estudo da história’ foi inserida, o que significa observar as mudanças
nesses currículos, disponíveis na Revista de Comemoração dos 30 anos do Curso de
História da UFRN (1987), na resolução 59/68 do Conselho Universitário (CONSUNI) e
em Lima (2002).

Entre 1958 e 1959, o currículo do curso permaneceu inalterado, com sete


disciplinas anuais, de acordo com a seguinte disposição: 1ª Série – História da
Antiguidade e História da Idade Média; 2ª Série – História Moderna e História do Brasil;
3ª Série – História Contemporânea, História do Brasil (Moderna e Contemporânea) e
História da América (MEDEIROS, 1987, p. 18). Contudo, esse currículo foi alterado em
1960, com a inserção de várias disciplinas de caráter optativo e obrigatório, como Pré-
História, Metodologia do trabalho científico, Cartografia e, agora, Introdução ao estudo
da História.

Somado aos currículos, almejo utilizar os programas da disciplina Introdução ao


estudo da História, de 1963, 1964, 1967 e 1968, pois são neles onde se encontram
detalhadamente quais os tópicos abordados, indicando quais conhecimentos eram
compreendidos como basilares à introdução de futuros profissionais na História. Esses
programas, elaborados pelo professor João Wilson Mendes Melo, serviram como base na
estrutura de um manual por ele publicado em 1988, intitulado também “Introdução ao
estudo da História”, e que também é uma das fontes deste trabalho. É nessa obra que estão
sistematizados os saberes desenvolvidos na disciplina ao longo de mais de duas décadas,
uma vez que considero que os capítulos do livro correspondam às aulas que o professor
João Wilson ministrava.

No decorrer das investigações, desde o início das atividades junto ao


PPGH/UFRN, um outro conjunto de fontes aflorou. Primeiro, uma série de legislações,
como o Decreto 46.868 de 1956, que reconhece os cursos da Faculdade de Filosofia; o

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Apesar do recorte inicial ser 1960, a disponibilidade dos currículos anteriores me proporciona a
oportunidade de compreender qual era o perfil do curso no qual IEH foi inserido. Por outro lado,
documentos que registrem os currículos para os anos de 1964 a 1968 não foram ainda localizados. Uma das
hipóteses para isso é que esses currículos não teriam sofrido alterações em relação aos anteriores.
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Decreto 62.380 de 1968, que federaliza a Faculdade; ou ainda o Decreto-Lei n. 55 de
1966, que fixa princípios e normas de organização para as universidades federais.

Em segundo lugar, 32 programas de outras disciplinas do curso de História da


Faculdade de Filosofia, que vão de 1962 a 1968. Esses programas fornecem informações
como o nome e conteúdo da respectiva disciplina, em qual unidade estava alocada
(Faculdade de Filosofia, Faculdade de Educação, Centro de Ciências Sociais) e seu
respectivo professor.

Para operacionalizar a análise dessas fontes, recorro à análise de conteúdo, que


segundo Laurence Bardin é

um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter por


procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrições de conteúdos das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) desta mensagem (BARDIN, 2011, p.42)

Tal opção se dá por entender que é no conteúdo do manual Introdução ao estudo


da história, assim como no programa da disciplina, que se encontram ideias e concepções
de história, relacionadas ao objetivo de fornecer aos alunos e professores de graduação
uma síntese didática do que seria fundamental ensinar e aprender para iniciar uma
compreensão da História. Por isso, a natureza e razões de uso de ideias, conceitos e
proposições, bem como estes conformam um ser historiador, não estão dados.

A análise de conteúdo oferece, portanto, ferramentas para identificar e interpretar


essas questões. Quais são, por exemplo, as principais ideias vinculadas a noção de
interpretação utilizadas no manual Introdução ao estudo da história? Aliás, qual o papel
da interpretação na tarefa historiadora? A frequência de aparição de termos e ideias indica
algo? O autor pensa que a teoria tem maior peso do que a metodologia? Para isso, é
necessário não só quantificar, mas qualificar dados e informações que, por sua vez,
contribuirão para a construção de uma reposta à problemática apresentada no início deste
projeto.

No atual estágio da pesquisa, desenvolvo uma leitura flutuante, uma das primeiras
etapas de caráter exploratório, propostas pela análise de conteúdo. A partir de um
levantamento inicial dos conteúdos do programa de 1963, por exemplo, pude constatar
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que introdução à História significava (dentre outras coisas) uma introdução ao saber fazer
História, o que é reforçado por tópicos como técnicas históricas, heurística e
procedimentos e crítica, que aparecem distribuídos ao longo do documento.

Considero que o olhar sobre as fontes indicadas em sua própria historicidade é


uma prática que depõe sobre um conjunto de experiências, as escolhas, os conteúdos e as
intenções acumuladas ao longo do tempo, sobre estruturas de um passado que, quando
relacionadas e analisadas, podem permitir a reconstrução de um processo histórico
(GADDIS, 2003, p.51, 52).

Finalmente, espera-se que por meio dos indícios levantados até aqui e das fontes
que deles despontam, determinar qual teria sido a contribuição de IEH para o processo de
institucionalização da História em Natal, através de uma disciplina, possa servir para
ratificar que podemos e devemos falar não de institucionalização da História no Brasil,
mas sim de institucionalizações.

REFERÊNCIAS

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