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matheus.oliveira.silva.701@ufrn.edu.br
Observando os dados abaixo, poderemos ter uma noção mais panorâmica desse
processo2.
CIDADE ANO
Porto Alegre/RS 1955
1
Ao mencionar “os cursos” ou “os cursos superiores” me referirei aos cursos superiores de História.
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O levantamento de datas apresentado foi construído a partir do acesso aos seguintes trabalhos: BENFICA
(2016), BEZERRA (2007), BORGES (2006), CARVALHO (2010), OLIVEIRA (2011), PEREIRA (2010),
PORTO (2009) e RODRIGUES (2002). Portanto, reconheço que pode haver alguma experiência não
registrada aqui. Além disso, optei por utilizar o nome das cidades, pois é assim que quase todos esses
trabalhos se referem quando tratam dos seus respectivos recortes.
ANPUH-Brasil – 31º Simpósio Nacional de História
Rio de Janeiro/RJ, 2021
São Paulo/SP 1955
João Pessoa/PB 1958
Natal/RN 1960
Curitiba/PR 1961
Aracajú/SE 1963
Ponta Grossa/PR 1963
Goiânia/GO 1968
Corumbá/MS 1970
Tabela 1 – Surgimento da disciplina IEH pelo Brasil
Produzido pelo autor
Então, para além das décadas dos cursos superiores, o surgimento de IEH poderia
caracterizar tal período como um corte no ensinar, aprender e formar História e
historiadores, uma vez que concordemos que as disciplinas são testemunhas de
concepções de História, para não falar ainda das disputas dentro do campo. Tendo em
vista o momento inicial da pesquisa, levanto algumas hipóteses para elucidar o fenômeno
das IEH.
Em boa parte dos locais onde surgem os cursos, não havia instituições que já
formassem professores de História a ponto de fornecer para as faculdades um quadro
profissional consolidado. Assim, muitos deles possuíam formação em outras áreas. Uma
delas, talvez a mais comum, fosse Direito, curso que contava historicamente com
disciplinas de introdução – Introdução ao Estudo do Direito, Introdução ao Direito
Romano etc. Portanto, a ideia de construir uma Introdução a não seria tão nova ou tão
exclusiva da História. Este é o caso, por exemplo, de João Wilson Mendes Melo, criador
de IEH no curso de História da Faculdade de Filosofia de Natal, sobre quem me deterei
posteriormente3.
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Não desconheço a possível influência de currículos da USP ou da FNFi, que já possuíam IEH. Minha
intenção é chamar atenção a outras parâmetros explicativos sobre os quais podemos pensar fora desse eixo.
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como simposistas defendiam, com objetivos diferentes4, a implementação de IEH no
primeiro ano dos cursos de História.
Nomes como Cid José Teixeira Cavalcanti (BA), Nara Saletto da Silva Santos
(ES), Pedro José Martins de Mello (PA), José Denizard Macêdo de Alcântara (CE),
Edigardo Ferreira Soares (PB) e Paulo de Albuquerque (AL) são significativos por
mostrar como havia uma inserção regional consideravelmente plural naquele momento.
Assim, como diante da comprovação de que na década de 1960 a História como campo
já contava com centros em diferentes lugares do Brasil, poderíamos ainda tomar como
ponto de partida para a história dos cursos superiores as experiências do eixo Rio-São
Paulo? É no confronto destas questões que a experiência do curso de História da
Faculdade de Filosofia de Natal emerge.
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Hollanda pensava IEH para “a abordagem de problemas conceituais, Crítica Histórica, além de breve
síntese da História”, enquanto Linhares pensava que a disciplina deveria voltar-se em sua maior parte para
a história da historiografia (I Simpósio de Professores de História do Ensino Superior, 1961, p.149).
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Nos Anais do Evento, o professor João Wilson está registrado como participante advindo do estado do
Paraná. Pressuponha que tal registro foi um erro técnico, uma vez que até o momento não encontrei na
documentação com a qual trabalho indícios que o coloquem, naquele momento, em alguma instituição ou
de alguma forma vinculado a tal estado. Ao contrário, é sabido que a Faculdade de Filosofia de Natal
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década dos cursos superiores, ao contrário, estava inserida nela6. Conforme algumas das
poucas narrativas sobre o curso da Faculdade de Filosofia, o nome do professor João
Wilson é associado à origem do curso em Natal, à uma memória, a um mito fundador. É
isso que nos mostra Galvão.
Até aqui, o fato da origem do curso em Natal estar envolto em uma memória
fundadora não parece fugir de uma tendência historiográfica (OLIVEIRA; SOUZA,
2020). O que é no mínimo salutar para esta pesquisa é o fato de que para a disciplina IEH
também há uma memória estabelecida e ela é muito mais singular por ter como seu
epicentro não necessariamente um grupo ou um processo coletivo, mas uma pessoa: o
próprio professor João Wilson.
financiou viagens para professores, na década de 1960, para que participassem de eventos, o que endossaria
a tese que apresente nesta nota (MEDEIROS, 2006).
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Outra ratificação a isso seria o fato de que IEH surge no curso da Faculdade de Filosofia antes mesmo do
Simpósio em Marília, como pode ser constatado na Tabela 1.
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que era necessário uma outra disciplina para introduzir o aluno nos estudos da
História. Isso porque, a nossa idéia inicial era a de que Antiga e Medieval já
seriam suficientes para realizar essa introdução. Percebi que o conteúdo dessas
duas disciplinas era muito extenso e resolvi propor à congregação da Faculdade
de Filosofia a criação de uma terceira disciplina introdutória: Introdução ao
estudo da História. A proposta foi aceita e eu fiquei com a disciplina de
Introdução e indiquei dois ex-alunos para ocuparem as disciplinas de História
Antiga e de Idade Media (LIMA, 2002, p. 25).
Até aqui minha narrativa tentou circundar dois espaços distintos, a saber, o curso
superior e uma disciplina acadêmica. Minha ideia é que as disciplinas não emergem, ou
não deveriam emergir, nos trabalhos sobre os cursos para apenas caracterizá-los. Na
tentativa de contar a história de um curso, é muito comum se recorrer aos currículos e às
disciplinas na tentativa de responder o que se ensinava e o que se aprendia. A
historicidade desses cursos estaria, então, guardada nos processos de disputas e relações
entre pessoas, grupos e instituições. Minha proposição é que as disciplinas, elas mesmas,
também explicam o curso em seus aspectos políticos, administrativos e teóricos. Tal
proposição se converte em um processo de institucionalização, compreendido por ser
7
A disciplina IEH era anual e, por isso, contava com seis unidades, assim intituladas: Iniciação; a História
e o meio geográfico; ciências auxiliares da História; História e pesquisa; a crítica histórica; a interpretação
histórica.
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Estes anos marcam, respectivamente, o surgimento de IEH no curso e a Reforma Universitária, que viria
instituir um outro tipo de universidade, diferente daquele em que surgiu IEH.
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Filosofia dos anos de 1957 a 19639, para visualizar quais seriam os saberes transformados
em disciplinas para constituir uma formação, atentando ao momento em que a disciplina
‘Introdução ao estudo da história’ foi inserida, o que significa observar as mudanças
nesses currículos, disponíveis na Revista de Comemoração dos 30 anos do Curso de
História da UFRN (1987), na resolução 59/68 do Conselho Universitário (CONSUNI) e
em Lima (2002).
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Apesar do recorte inicial ser 1960, a disponibilidade dos currículos anteriores me proporciona a
oportunidade de compreender qual era o perfil do curso no qual IEH foi inserido. Por outro lado,
documentos que registrem os currículos para os anos de 1964 a 1968 não foram ainda localizados. Uma das
hipóteses para isso é que esses currículos não teriam sofrido alterações em relação aos anteriores.
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Decreto 62.380 de 1968, que federaliza a Faculdade; ou ainda o Decreto-Lei n. 55 de
1966, que fixa princípios e normas de organização para as universidades federais.
No atual estágio da pesquisa, desenvolvo uma leitura flutuante, uma das primeiras
etapas de caráter exploratório, propostas pela análise de conteúdo. A partir de um
levantamento inicial dos conteúdos do programa de 1963, por exemplo, pude constatar
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que introdução à História significava (dentre outras coisas) uma introdução ao saber fazer
História, o que é reforçado por tópicos como técnicas históricas, heurística e
procedimentos e crítica, que aparecem distribuídos ao longo do documento.
Finalmente, espera-se que por meio dos indícios levantados até aqui e das fontes
que deles despontam, determinar qual teria sido a contribuição de IEH para o processo de
institucionalização da História em Natal, através de uma disciplina, possa servir para
ratificar que podemos e devemos falar não de institucionalização da História no Brasil,
mas sim de institucionalizações.
REFERÊNCIAS
GALVÃO, Cláudio. João Wilson Mendes Melo: vivendo e ensinando. Natal: EDUFRN,
2018.
LIMA, Maria Helena Oliveira de. Uma história do curso de história em Natal: 1957-
1968. Monografia (Licenciatura e Bacharelado em História) – Departamento de História,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2002.