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Filosofia da Ciência e

Boas Práticas Científicas


O Desenvolvimento Científico de Relevantes Conceitos
da Física da Modernidade aos Dia Atuais

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Ana Lucia Nogueira Junqueira

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
O Desenvolvimento Científico de
Relevantes Conceitos da Física da
Modernidade aos Dia Atuais

• Uma Breve Contextualização;


• Alguns Expoentes Críticos do Conhecimento Científico;
• A Física do Século XIX Ao Século XX;
• As Descobertas Experimentais do Final do Século XIX;
• Os Problemas Teóricos do Final do Século XIX;
• O Século XX Até os Dias Atuais.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Apresentar as novas discussões sobre a verificabilidade da validade de pesquisas científicas,
como falsificacionismo de Popper e a mudança de paradigma de Kuhn, para evidenciar as
mais recentes visões sobre o conhecimento científico e validade de suas teorias;
• Apresentar as mais relevantes teorias científicas da Física Moderna aos dias atuais sob esse
ponto de vista.
UNIDADE O Desenvolvimento Científico de Relevantes Conceitos
da Física da Modernidade aos Dia Atuais

Uma Breve Contextualização


A História da Ciência mostra que em um contexto de grandes transformações na
Sociedade europeia, no período que se estende do início do século XVII até o final
do século XIX, houve significativas mudanças na Filosofia Natural.
Esse período, concernente àquela que chamamos de Ciência Moderna, caracte-
rizou-se, principalmente, pela nova forma de produção do conhecimento, num pro-
cesso que pretendia criar um caminho seguro para a obtenção de supostas verdades.
Vimos, nesse período, os trabalhos dos que participaram da Revolução Científica,
tais como Nicolau Copérnico (1473-1543), Galileu Galilei (1564-1642), Johannes Kepler
(1571-1630), René Descartes (1596-1650) e, principalmente, Isaac Newton (1643-1727).
Segundo Brito (2014), os trabalhos de Newton mereceram atenção especial, visto
que, apesar de não se limitarem à Filosofia Natural – já que escreveu sobre Alqui-
mia, Teologia e sobre muitos outros assuntos, hoje, não são considerados científicos,
apresentam um universo preciso, com medidas exatas e determinações rigorosas,
características do período pós-Revolução.
Ainda segundo Brito (2014), a partir do século XVIII, consolida-se uma valoriza-
ção da atividade científica e, no final desse século, a visão de Natureza newtoniana
já se encontrava como o paradigma dominante na Ciência. O Iluminismo dominou o
pensamento Europeu do século XVIII, e esse conjunto de ideias, valores e conceitos
foi compartilhado em diversos países pelas mais variadas correntes filosóficas.
Nesse sentido, alguns preceitos defendidos pelos iluministas, como o liberalismo
social, político e econômico, acabaram culminando na Revolução Política francesa e
na Revolução Industrial inglesa, do final do século XVIII e início do século XIX.
Vale registrar que, no século XVII, a Física ainda não se constituía em uma
‘‘Ciência’’, na acepção Moderna do termo.
De acordo com Rosa (2012), os fatos em si não constituem a Ciência, pois esta
consiste na sistematização dos fatos segundo leis gerais. E seus vários ramos atuais,
referentes aos diversos fenômenos físicos (como Calor, Eletricidade, Som, Luz, Ener-
gia) não se encontravam perfeitamente estruturados e, até em alguns casos, nem
estavam sendo pesquisados.
O conhecimento da época era esparso e algumas vezes precário ou incipiente,
caso da própria Óptica que se encontrava ainda em fase incipiente de formulação de
alguns princípios e de definição das propriedades da luz.
Na realidade, a Mecânica, recém-formada por Galileu e Newton, era a única área
razoavelmente conhecida e estruturada.
Nascida sob a égide da Matemática, a Mecânica se desenvolveu com os estudos e
pesquisas de matemáticos (Galileu, Descartes, Huygens, Newton, Euler, Bernoulli e
Lagrange, entre outros) estando intimamente ligada ao progresso em outros campos
da Ciência matemática, como a Álgebra, a Geometria e o Cálculo.

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Entretanto, um grande número de cientistas atesta em seus trabalhos o desen-
volvimento favorável do pensamento científico e de grandes atividades no campo
teórico e experimental nessa época.
No século XIX, além da contribuição relevante de vários matemáticos, outros
aspectos importantes da Ciência devem ser assinalados por significarem desenvolvi-
mentos que virão a caracterizar o Mundo da Ciência na etapa histórica atual.
O primeiro aspecto, segundo Rosa (2012), seria o da quebra da subordinação da
Ciência à Religião, o que se tornou patente com a separação do Estado e da Religião
no século seguinte, bem como o predomínio de uma mentalidade laica e positiva no
meio científico.
Outro aspecto da Ciência, no século XIX, é seu caráter fundamentalmente eu-
ropeu, vez que os EUA despontariam, somente no final do século, como centro de
relativa importância de estudos e investigação em algumas áreas, como Geologia,
Astronomia, Botânica, Física e Biologia.
Na verdade, a Ciência só teria real atividade de âmbito mundial a partir do
século XX, intensificando-se um clima favorável à cooperação internacional, que se
traduziria em conferências em vários campos, como os da Matemática, da Botânica,
da Biologia, da Química, da Astronomia, da Geodésia e da Medicina.

Você sabe o que é Geodésia? Pesquise, então, para conhecer.

Além disso, com a estruturação das diversas Ciências básicas, aliadas à utilização
de metodologias adequadas e à definitiva afirmação do pensamento científico, esta-
vam criadas as condições para a evolução das Ciências em novas e revolucionárias
bases, representando o início do período da Ciência Contemporânea, cujos funda-
mentos, não tanto metafísicos, são de ordem racional e positiva.

Alguns Expoentes Críticos


do Conhecimento Científico
David Hume (1711-1776)
Foi filósofo, historiador, ensaísta e diplomata escocês, um dos mais importantes
filósofos modernos do Iluminismo.
Seus pensamentos foram revolucionários o que o levou a ser acusado de heresia
pela Igreja Católica por ter ideias associadas ao Ateísmo e ao Ceticismo.
Inspirado nas Correntes Filosóficas do Empirismo e do Ceticismo, Hume foi um
crítico do racionalismo cartesiano, cujos fundamentos apregoavam que os conheci-
mentos estavam associados à razão.
Suas ideias foram inspiradoras para diversos filósofos posteriores, como Immanuel
Kant e Augusto Comte.

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Auguste Comte e o Positivismo


Iniciando no século XIX, o Positivismo é um conceito que abrange vários
significados, englobando visões filosóficas e científicas dos séculos XIX e XX. 

Auguste Comte (1798-1857) foi quem deu o ponto de partida para esse novo
conceito e muitos de seus ensinamentos ainda prevalecem válidos até hoje.

A palavra ‘‘positivismo’’ teve seu sentido mudado ao longo desses anos, incorpo-
rando diferentes sentidos, sendo muitos deles opostos e contraditórios entre si.

Para Comte, o Positivismo era uma doutrina de característica sociológica, filo-


sófica e política, que surgiu como desenvolvimento sociológico do Iluminismo, das
crises sociais e morais do fim da Idade Média e do surgimento da Sociedade da in-
dústria, que foi marcado com a Revolução Francesa.

O Positivismo de Comte negava à Ciência qualquer possibilidade de investigação das


causas dos fenômenos naturais e sociais, pois considerava esse tipo de pesquisa inacessí-
vel e sem utilidade, era mais válido se voltar para o estudo e descoberta das Leis.

Entretanto, acabou sendo um primeiro e frustrado lance dessa ambição imperial


que, no entanto, nos anos vinte e trinta do século XX, foi retomado pelo Empirismo
Lógico do Círculo de Viena, por meio de uma perspectiva que, ao combinar os clás-
sicos preceitos positivistas com a inspiração do modelo de análise lógica proposto
por Russell, deveria permitir não só uma organizada unificação da Ciência como a
sua blindagem em relação às suas tentações metafísicas.

Karl Popper e Thomas Kuhn devem ser lembrados como dois dos mais desta-
cados pensadores da Ciência do século XX. Ambos deram grande contribuição ao
pensamento científico e fomentaram um prolongado debate em torno de suas ideias
e também foram críticos das ideias positivistas, por razões distintas.

Karl Popper (1902-1994)


Filósofo e professor austro-britânico, foi um crítico feroz ao Positivismo. Ampla-
mente considerado um dos maiores filósofos da Ciência do século XX, Popper é
conhecido por sua rejeição às visões indutivistas clássicas sobre o método científico
em favor do falsificacionismo.

Para Popper, o Positivismo foi mais do que uma Filosofia precisa, a matriz dos
dogmatismos e das ortodoxias que, em todos os domínios, ele procurou combater.

No cerne dessa matriz, Popper descobriu uma concepção secular, a que identifica
a Ciência como uma atividade estritamente indutiva que, a partir de umas tantas
observações e experiências, avança hipóteses e formula leis sobre fenômenos, pro-
cedendo depois à sua generalização e verificação.

Para ele, foi essa concepção que a ingênua epistemologia da Modernidade con-
sagrou como paradigmática no âmbito das Ciências naturais e, depois, pretendeu

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exportar para o conjunto dos saberes e disciplinas. Popper sustenta que a Ciência
não é de ordem indutiva, mas conjectural – e que, por isso, se devem trocar as exi-
gências da verificabilidade pelas da falsificabilidade.

Popper analisa os fundamentos lógicos do procedimento indutivo concluindo que,


por maior que seja o número de observações particulares, não há justificativa racio-
nal para a sua generalização a todos os casos.

Como diz Popper, mesmo que se tenham observado milhares de cisnes brancos,
nada nos autoriza a afirmar que ‘‘todos os cisnes são brancos’’ e bastará uma única
observação de um único cisne negro para refutar aquela proposição.

As inferências indutivas não conferem ao conhecimento nem necessidade lógica


nem validade universal, portanto, para Popper, a Ciência não é mais do que um
conhecimento conjectural e, dessa forma, em vez de indução, propõe que se fale em
conjecturação, em vez de verificação, em falsificabilidade.

Para ele, não há forma de se provar a verdade de uma Teoria Científica; por mais
corroborada que seja, não está livre de crítica e no futuro poderá se mostrar proble-
mática e poderá ser substituída por outra.

A História da Ciência mostra Teorias que, durante certo período de tempo, foram
corroboradas e, apesar disso, acabaram se tornando problemáticas. O exemplo mais
impressionante é o da Mecânica Newtoniana que, durante mais de duzentos anos foi
corroborada espetacularmente.

A possibilidade de uma Teoria ser refutada constituía para o filósofo a própria


essência da natureza científica.

Assim, uma Teoria só pode ser considerada científica se for falseável ou refutável.
As Teorias de Gravitação Universal de Newton são científicas, pois, além de propo-
rem equações simples que descrevem os modelos cósmicos gravitacionais, também
é possível fazer previsões acertadas com base nelas.

Mas elas também são falseáveis, tanto que o foram, quando Albert Einstein com
sua Teoria da Relatividade demonstrou que a Mecânica Newtoniana não era válida
em velocidades próximas à da luz.

Thomas Kuhn (1922-1996)


Foi um físico e filósofo da Ciência estadunidense. Seu trabalho incidiu sobre His-
tória da Ciência e Filosofia da Ciência, tornando-se um marco no estudo do processo
que leva ao desenvolvimento científico.

Kuhn, ao contrário de Popper, afirma que a Ciência se desenvolve a partir de


Revoluções Científicas que ocorrem em intervalos específicos (geralmente grandes)
de tempo, provocando mudança de paradigma.

Para Kuhn, a Ciência segue um certo tipo de dogmatismo nesses intervalos, pois
se comporta e se desenvolve de acordo com o paradigma vigente.

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Esse paradigma engloba um conjunto de valores, teorias e métodos que irão in-
fluenciar e servir de ‘‘modelo’’ para uma ou várias comunidades científicas.
Com as Revoluções Científicas, os paradigmas se renovam e os ‘‘velhos” paradig-
mas são substituídos depois de um período de crise dentro da própria Ciência.
As crises se manifestam a partir de controvérsias ao redor de Metodologias, Teo-
rias, Valores e conceitos no campo científico.
Quando surgem novas concepções paradigmáticas, dá-se início a um período
de transição. Nesse período, há muito o que ser feito, pois a ansiedade pelo novo é
muito mais forte do que a tentativa de revigorar o velho paradigma.
Assim, as grandes revoluções científicas passaram por períodos de transição va-
riados e, dessa maneira, seguiram seus respectivos períodos de vigência enquanto
paradigmas. Pode-se citar como alguns dos representantes dessas revoluções cientí-
ficas: Copérnico, Galilei, Newton, Darwin e Einstein.
As Revoluções Científicas, quando tratadas por um espírito científico revolucioná-
rio e não-revolucionário, tornam-se extremamente complexas.
Kuhn afirma que os cientistas são dogmáticos ao avaliarem o próprio desenvolvi-
mento científico.
A criatividade tão apregoada como necessária e substancial ao recém-cientista é
reduzida a manuais ou cartilhas científicas no momento de qualquer avaliação – a
isso ele define como espírito revolucionário desativado ou em inércia.
Isso não significa que a criatividade esteja relacionada diretamente às Revoluções
Científicas, pois pode haver espíritos tanto criativos quanto potencialmente revolu-
cionários, sendo deles que parte a iniciativa para as Revoluções Científicas.
Portanto, em vez do enfoque no evento da descoberta em si, propõe-se a análise
de um contexto não como mito, segundo Popper, mas como um importante agregado
à construção científica.
Ter-se-ia um panorama científico que se desenvolve a partir de revoluções e de
espíritos revolucionários, podendo ocorrer de tempos em tempos, segundo Kuhn, ou
a todo momento, segundo Popper, ou ainda das duas maneiras concomitantemente.

Paul Feyerabend (1924-1994)


A obra Contra o Método, de Paul Feyerabend, é um marco nas reflexões da
Filosofia e História das Ciências. Nela, o autor critica a defesa de um modelo racio-
nal universalista para a Ciência e revela novos possíveis caminhos de interação de
padrões abstratos com a multiplicidade da prática científica.

A primeira ideia-chave presente em Contra o Método é o anarquismo epistemo-


lógico que é uma crítica direta ao Racionalismo compreendido em termos de obe-
diência a padrões fixos, traduzidos em algo como o método da Ciência e que tenha
por pretensão demarcar o que seja científico.

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Apesar dessa postura, o anarquismo epistemológico apresentado por Feyerabend
não se converte simplesmente em uma análise negativa da Ciência e de seu racionalismo.

O anarquismo feyerabendiano não envolve a recusa de todo princípio, de todas


as regras e critérios na orientação de uma pesquisa, mas a recusa de um princípio
absoluto que oriente todas as pesquisas.

Feyerabend foi um crítico a qualquer determinação que pretendesse julgar a qua-


lidade das teorias científicas pela comparação delas a fatos. Segundo ele, uma teoria
estabelecida poderia influenciar a interpretação natural dos fenômenos observados.

Os cientistas fazem, necessariamente, suposições implícitas quando comparam


Teorias Científicas aos fatos que observam. As suposições precisam ser mudadas de
maneira a tornar uma nova Teoria compatível com as observações.

O principal exemplo da influência das interpretações naturais que Feyerabend


fornece é o ‘‘argumento da torre”, uma das maiores objeções contra a Teoria do
Movimento da Terra.

Os Aristotélicos supunham que o fato de uma pedra ser jogada de uma torre e cair
exatamente abaixo dela demonstraria que a terra é estacionária, pois se a terra se
movesse enquanto a pedra estivesse caindo, ela cairia em posição contrária à do mo-
vimento, os objetos cairiam inclinados em relação ao solo em vez de verticalmente.

Como isso não ocorre, os aristotélicos pensaram que essa seria uma evidência de
que a Terra não se movia.

Se alguém utilizasse as antigas Teorias de Impulso e Movimento Relativo, a teoria


copernicana certamente pareceria ter sido falsificada pelo fato de que objetos caem
verticalmente na Terra.

Essa observação requereu uma nova interpretação para torná-la compatível com
a Teoria de Copérnico.

Galileu foi capaz de elaborar certa mudança a respeito da natureza do impulso e


do movimento relativo.

Antes que essas Teorias fossem articuladas, Galileu teve de lançar mão de alguns
métodos e proceder de maneira indutiva. Assim, hipóteses ad hoc, atualmente, têm
função positiva: elas fazem uma nova Teoria ser temporariamente compatível com
os fatos até que a Teoria a ser defendida possa ser suportada por outras teorias.

A Física do Século XIX Ao Século XX


Obviamente, vários conceitos que vamos tratar aqui já vinham sendo abordados
em épocas anteriores e outras Teorias foram sendo criadas no percurso da evolução
temporal das investigações científicas. Nesse sentido, por vezes, retomamos pesqui-
sas feitas anteriormente por cientistas já mencionados ou não.

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Nessa direção, vamos tratar do desenvolvimento científico de alguns grandes


campos da Física, por vezes imbricados com outras áreas da Ciência.

Obviamente, serão abordagens sintéticas, mas que tentam dar uma ideia dos prin-
cipais conceitos e teorias dentro desses campos e sem a pretensão de cobri-los em
sua totalidade, o que seria impossível por vários motivos.

Ótica e luz
Nenhum trabalho original de relevância sobre ótica e luz surgiu na Europa até a
Renascença, segundo Rooney (2013).
Vimos que, nos séculos XVI e XVII, cientistas renomados como Copérnico, Ga-
lileu, Kepler e Newton desmantelaram o modelo aristotélico do Universo que havia
dominado o pensamento por quase dois mil anos, estabelecendo Leis da Mecânica
e da Ótica que permaneceram inalteradas por alguns séculos.
Dentre eles, Kepler e Newton foram os mais importantes para a Ótica, sem des-
cartar os trabalhos de Galileu com seu telescópio e os de Descartes, que mostravam
como os raios de luz chegavam aos olhos e essa informação era transmitida para a
glândula pineal.
O trabalho de Descartes descrevia o funcionamento do olho e sugeria aprimora-
mento aos telescópios. Usava analogias mecânicas para derivar muitas propriedades
da luz, como reflexão e difração, não aceitava a existência do vácuo, acreditando
num fluido intersticial fino, o éter, preenchendo todos os espaços e cuja pressão
desse fluido sobre a luz do Sol produziria a visão.
Já Newton dividiu com sucesso a luz branca em seu espectro constituinte e com-
binou os raios coloridos na luz branca, produzindo um espectro claro. Usou uma
pinhole de tela preta para deixar um fino feixe de luz penetrar e usou um prisma de
vidro lapidado com precisão para dividir o feixe, captando a imagem sobre uma tela
há vários metros de distância.
Nesse tipo de experimento, Newton sobrepôs seu rival Hooke, e para amenizar a
rivalidade, por pressão da Royal Society, Newton escreveu em carta pública a frase
célebre: “Se eu vi além, foi por me apoiar em ombros de gigantes”.

Uma câmera pinhole ou câmera estenopeica é uma máquina fotográfica sem lente.
A designação tem por base o inglês, pin-hole, “buraco de alfinete”, e é usada para referir a
fotografia estenopeica.
Esse tipo de fotografia é uma prática econômica e simples, pois utiliza uma caixa qualquer
em que a luz não penetre.

Uma coisa é reconhecer que a luz branca é um composto da luz colorida, mas isso
levantou a questão: do que é feita a luz colorida?

Opiniões divergentes defendiam que era composta de partículas ou seria algum


tipo de onda.

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Christian Huygens (1629-1695) desenvolveu a teoria de ‘‘frente de ondas”. Base-
ado em experimentos, explicava como as ondas evoluem e como se comportam ao
encontrar um obstáculo: sendo refletidas, refratadas ou difratadas.
As opiniões se dividiram quanto à descoberta desse princípio: se teria sido um lam-
pejo de genialidade ou sorte de ter chegado à resposta certa por razões equivocadas.
Durante o século XIX, vários cientistas de diferentes países europeus estabeleceram
a Teoria de que a luz é uma onda transversal, vibrando em um ângulo reto ou per-
pendicular à direção de propagação da onda.
Em 1817, o físico Augustin-Jean Fresnel (1788-1827) apresentou sua própria
Teoria e, em 1821, ele mostrou que a polarização podia ser explicada somente se a
luz abrangesse as ondas transversas, sem vibração longitudinal.
Isso respondia à objeção de Newton sobre a luz como onda. Fresnel é conhecido
como o inventor das lentes que levam seu nome, destinadas a aumentar o feixe que
brilha nos faróis.
Em 1801, o físico, médico e egiptólogo britânico Thomas Young (1773-1829) con-
duziu um experimento que parecia provar definitivamente a natureza ondulatória da luz.
Ele usou vários orifícios e notou um padrão complexo de difração, causado pela
interferência da luz nos orifícios. Young também propôs que cores diferentes de luz
são o resultado de diferentes comprimentos de onda, um passo para o que iria acon-
tecer, ao final do século XIX, de que a luz que vemos é apenas uma parte de um
Espectro de Radiação Eletromagnética (EMR).
Graças, principalmente, aos estudos de Fresnel e Young, os físicos foram se con-
vencendo de que era necessário abandonar a teoria corpuscular da luz, e o modelo
ondulatório se tornou uma unanimidade.
Para o estudo dos fenômenos ondulatórios da luz, foram desenvolvidos métodos
matemáticos bastante complicados. Foi também durante o século XIX que foram
estudadas as radiações infravermelha e ultravioleta, duas radiações semelhantes à
luz, porém invisíveis.
Assim, a óptica se ampliou, passando a abranger não apenas aquilo que vemos,
mas também certos tipos de “luz invisível” e, atualmente, sabe-se que esse espec-
tro abrange também raios gama, raios X, luz ultravioleta, luz visível, infravermelha,
micro-ondas, ondas de rádio e ondas longas.

Espectro eletromagnético, disponível em: https://bit.ly/3modghs

O eletromagnetismo
A eletricidade e o magnetismo, segundo Martins que antes de 1800 eram consi-
derados apenas fenômenos curiosos sem muita importância, sofreram um importan-
te avanço durante o século XIX.

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da Física da Modernidade aos Dia Atuais

Além disso, tivemos a invenção da pilha elétrica por Alessandro Volta (1745-
1827), químico, físico e pioneiro da eletricidade e da potência, creditado como o
inventor da bateria elétrica e o descobridor do metano.

A invenção da pilha elétrica permitiu pela primeira vez a produção de correntes


elétricas duradouras e de grande intensidade, abrindo o caminho para estudos com-
pletamente novos – como a descoberta da eletrólise.

Nas primeiras décadas do século XIX, Oersted e Faraday descobriram a possibili-


dade de produzir efeitos magnéticos utilizando a eletricidade, e vice-versa, nascendo,
assim, o eletromagnetismo. Houve um intenso estudo experimental dessa nova área,
seguido por desenvolvimentos teóricos que culminaram com a Teoria Eletromagné-
tica de Maxwell.

Foi James Clerk Maxwell (1831-1879) quem mostrou pela primeira vez que a
radiação eletromagnética consiste em ondas transversais de energia que se movem
com a velocidade da luz.

Além disso, que os diferentes tipos de radiação eletromagnética, incluindo a luz e


ondas de rádio, são caracterizados por diferentes comprimentos de onda.

Vamos registrar que o físico inglês Michel Faraday (1791-1867) já tinha demons-
trado a ligação entre eletromagnetismo e luz, em 1845, quando mostrou que um
plano de polarização de um feixe de luz sofre rotação por um campo magnético.

Em 1873, Maxwell publicou o Tratado sobre Eletricidade e Magnetismo, livro


que continha todas as suas ideias sobre esse tema e que condensa todo o trabalho
que fez ao longo dos anos.

Ficou conhecido por ter dado forma final à Teoria Moderna do Eletromagnetismo,
que une a Eletricidade, o magnetismo e a Ótica.

Essa é a teoria que surge das equações de Maxwell, assim chamadas em sua hon-
ra e porque foi o primeiro a escrevê-las juntando a Lei de Ampère, modificada por
Maxwell, à Lei de Gauss e a Lei de indução, de Faraday.

Os trabalhos de Maxwell em Eletromagnetismo deram base para a relatividade


restrita de Einstein e seus trabalhos em Teoria Cinética de Gases foi fundamental ao
desenvolvimento posterior da mecânica quântica.

A lei de Gauss foi elaborada em 1835, mas só foi publicada após 1867. Carl Friedrich Gauss
(1777-1855), matemático alemão que fez importantes contribuições para a Teoria dos Nú-
meros, a Geometria e a Probabilidade, tendo também contribuições em Astronomia e na
medição do tamanho e do formato da Terra.
A lei de Gauss estabelece a relação entre o fluxo do campo elétrico por meio de uma super-
fície fechada com a carga elétrica que existe dentro do volume limitado por esta superfície.
É uma das quatro equações de Maxwell.

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Ainda de acordo com Martins (2001), embora inicialmente o Eletromagnetismo
fosse apenas um assunto para pesquisa científica, logo levou a resultados práticos
importantes, como a construção de dínamos que produziam eletricidade a partir do
movimento, e nas duas últimas décadas do século XIX, foram construídas grandes
usinas termoelétricas para a geração de eletricidade.

Dessa forma, o uso doméstico e industrial da Eletricidade começou a se tornar


possível: as lâmpadas elétricas substituíram, gradualmente, os lampiões e a ilumina-
ção a gás.

Os motores elétricos começaram a ser utilizados para várias finalidades, por


exemplo, nos primeiros elevadores.

A Eletricidade também revolucionou as comunicações, primeiramente, por meio


do telégrafo (que já permitia a troca de mensagens de um continente para outro), e
depois pelo telefone.

Antes de 1900, já era possível fazer ligações interurbanas entre muitas cidades na
Europa e nos Estados Unidos.

Termodinâmica
O desenvolvimento da Termodinâmica também levou a uma outra síntese. Se-
gundo Martins (2001), embora os fenômenos térmicos possam ser estudados sob o
ponto de vista puramente macroscópico (daquilo que se observa e mede), os físicos
começaram a imaginar modelos microscópicos para explicar os fenômenos gasosos
e, assim, nasceu a Teoria Cinética dos gases, na qual a temperatura passa a ser uma
indicação da energia cinética média das moléculas do gás e é possível relacionar o
calor específico dos gases à sua composição molecular.

Podemos destacar, ainda, no final do século XIX, o desenvolvimento da mecânica


estatística, que aplicou Leis Probabilísticas ao estudo dos movimentos das partículas
da matéria, permitindo explicar a Segunda Lei da Termodinâmica a partir de um
modelo mecânico.

Conseguiu-se, assim, uma síntese entre a Mecânica e a Termologia.

Portanto, no final do século XIX, os físicos podiam perceber grandes avanços e


importantes sucessos.

Novos fenômenos haviam sido descobertos, novas Leis haviam sido estabelecidas,
e havia resultados teóricos novos muito gerais.

A Eletricidade e o Magnetismo haviam se unido, depois o Eletromagnetismo e a


Óptica haviam se fundido, a Mecânica e a Termodinâmica também estavam produ-
zindo uma síntese teórica.

Diante de tanto sucesso, no desenvolvimento científico da Física até o final do século


XIX, indagava-se se ainda haveria novas descobertas ou a Física já estaria completa.

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da Física da Modernidade aos Dia Atuais

De acordo com Martins (2001), Lord Kelvin, matemático e físico britânico, reco-
mendou que os jovens não se dedicassem à Física, pois faltavam apenas alguns de-
talhes pouco interessantes a serem desenvolvidos, como o refinamento de medidas
e a solução de problemas secundários.

Kelvin mencionou que existiam ‘‘duas pequenas nuvens” no horizonte da Física:


os resultados negativos do experimento de Michelson e Morley (que haviam tentado
medir a velocidade da Terra por meio do éter) e a dificuldade em explicar a distribui-
ção de energia na radiação de um corpo aquecido.

No entanto, foram essas duas ‘‘pequenas nuvens” que desencadearam o surgi-


mento das duas teorias que revolucionaram a Física no século XX: a Teoria da Rela-
tividade e a Teoria Quântica.

William Thomson (1824-1907), também conhecido como Lorde Kelvin, título dado em ho-
menagem às suas realizações, foi um físico-matemático e engenheiro britânico considerado
um líder das Ciências Físicas do século XIX. Fez importantes contribuições na análise mate-
mática da Eletricidade e Termodinâmica, e fez muito para unificar as disciplinas emergentes
da Física em sua forma moderna. É conhecido por desenvolver a escala Kelvin de tempera-
tura absoluta (onde o zero absoluto é definido como 0K). Numa escala progressiva, o zero
absoluto seria a temperatura de menor energia possível.
• Sendo assim, o zero absoluto Kelvin ficou localizado a -273,15°C, da escala
Celsius, que tem como referencial nulo o ponto de congelamento da água, o que
equivale a -459,67°F, na escala Fahrenheit (Veja na Figura 1)
Entretanto, o zero absoluto não existe nem no espaço externo, cuja temperatura ambiente
é de 2,7°K, vez que a radiação básica da micro-onda cósmica – o calor resultante do Big
Bang – está presente em todo espaço. A área mais fria encontrada até agora é na nebulosa
de Bumerangue, uma nuvem escura de gás a 1K. A temperatura mais baixa atingida artifi-
cialmente num laboratório do MIT foi de 0,5 bilionésimo de um Kelvin.

VAPOR D’ÁGUA 373 K 100 ºC 212 ºF

GELO 273 K 0 ºC 32 ºF

ZERO ABOLUTO 0K -273 ºC -459 ºF

Kelvin Celsius Fahrenheit


Figura 1
Fonte: Adaptado de Getty Images

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As Descobertas Experimentais
do Final do Século XIX
Nas últimas décadas do século XIX, foram estudadas descargas elétricas em
gases rarefeitos.
William Crookes (1832-1919), químico britânico, descobriu os raios catódicos ana-
lisando esses fenômenos a baixas pressões e, em 1895, investigando os raios catódi-
cos, o físico e Engenheiro Mecânico alemão Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923)
descobriu os raios X.
Foi uma descoberta inesperada, pois nenhuma Teoria previa a existência de radia-
ções invisíveis penetrantes como aquelas.
Os raios X logo foram empregados na Medicina e se mostraram muito úteis, mas à
época não se sabia exatamente o que eles eram: alguns pensavam que se tratava de uma
radiação semelhante ao ultravioleta, outros imaginavam que eram ondas eletromagnéti-
cas longitudinais, outros ainda pensavam que eram partículas de alta velocidade.
Segundo Martins (2001), no final do século XIX, os estudos dos físicos franceses
Henri Becquerel (1852-1908) e do casal Pierre Curie (1859-1906) e Marie Curie
(1867-1934) levaram à descoberta da radioatividade e de estranhos elementos que
emitiam energia de origem desconhecida, como o polônio e o rádio (os três ganha-
ram o prêmio Nobel de Física em 1903).
A Unidade que levou o nome becquerel em homenagem ao cientista corresponde
a uma desintegração nuclear por segundo.
Mas, na época, ninguém sabia direito o que produzia esses fenômenos, e apenas
vários anos depois é que se começou a desvendar a natureza da radioatividade.
O que eram as radiações emitidas pelos corpos radioativos? De onde saía sua
energia, que parecia inesgotável?
Outras questões também intrigavam e ficaram sem respostas convincentes no
final do século XIX, como as referentes à energia cinética média das moléculas em
gases dependente apenas da temperatura.
Ainda segundo Martins (2001), numa mistura de gases, a energia se distribui por
todos os tipos de moléculas, e as moléculas de menor massa (como o hidrogênio) têm
maior velocidade média do que as de maior massa.
A Teoria previa, assim, uma ‘‘equipartição de energia” por todos os tipos de
partículas e de movimentos possíveis. Ela previa bem o calor específico dos gases,
supondo que as moléculas eram simples ‘‘bolinhas’’.
Mas se os gases são capazes de emitir espectros luminosos descontínuos, essas
moléculas devem ser sistemas complexos. Por que, então, a Teoria funcionava?
Havia, na verdade, um enorme número de nuvens no horizonte da Física, uma
verdadeira tempestade que ameaçava derrubar tudo.

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da Física da Modernidade aos Dia Atuais

Os Problemas Teóricos
do Final do Século XIX
Um dos grandes problemas teóricos no final do século XIX era compreender a
interação entre matéria e radiação.

Como funcionam os materiais luminescentes? Por que os sólidos emitem um es-


pectro luminoso contínuo, e os gases emitem espectros descontínuos?

Apesar dos avanços da Teoria Cinética dos gases, não se compreendia ainda mui-
ta coisa sobre a estrutura da matéria.

O único estado da matéria para o qual havia uma boa teoria era o gasoso. Ainda
era incompreensível como os átomos podiam formar corpos sólidos, pois sabia-se
(pelo Eletromagnetismo) que era impossível produzir um sistema estável de partículas
em repouso que se mantivesse apenas por forças eletromagnéticas.

Existiriam outras forças desconhecidas agindo dentro da matéria?

No final do século XIX, o estudo de alguns desses problemas e as tentativas de con-


tinuar a unificar a Física levaram a problemas teóricos complicados, segundo Martins
(2001), desencadeando a criação da Teoria da Relatividade e da Teoria Quântica.

As dificuldades surgiram basicamente quando se procurou unificar a mecânica


com o Eletromagnetismo (daí surgiu a teoria da relatividade) e a Termodinâmica com
o Eletromagnetismo (daí se originou a Teoria Quântica).

O Século XX Até os Dias Atuais


Na história da evolução da Física, o século XX corresponde ao início de uma nova
era, chamada de Física moderna, em sucessão à Física clássica, originada no começo
do século XVII, com os trabalhos de Galileu no campo da Dinâmica.

Na história da Física, segundo Rosa (2012a), dois são os anos chamados de ‘‘mi-
lagrosos’’, por seu especial significado: o de 1666, quando Newton teria concebido
suas grandes formulações (gravitação universal, Leis do Movimento, propriedades da
luz e da cor), e desenvolvido o Cálculo infinitesimal, bases de suas principais obras:
Principia (1686) e Opticks (1704), e o ano de 1905, quando Einstein publicou no
número 17 da Revista Annalen der Physik, quatro Artigos, um sobre o movimento
browniano, outro sobre geração e conversão da luz, o terceiro sobre dimensão mo-
lecular, e um quarto Artigo a respeito da Eletrodinâmica dos corpos em movimento
(Teoria Especial da Relatividade), e mais um, no número 18 da mesma Revista, no
qual apresentou sua famosa fórmula da equivalência da energia e massa (E = mc2).

Em 1916, seria publicada a Teoria da Relatividade Geral, com sua redefinição


de gravitação.

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A reformulação ou a inovação de conceitos para lidar com os fenômenos físicos
daria nascimento à chamada Física Moderna, cujos dois pilares seriam a/as:
1. Teoria quântica, de Planck, que introduziria o caráter descontínuo da
energia e viria a se transformar em base teórica para o estudo dos fenô-
menos físicos em escala microscópica;
2. Teorias da relatividade especial e geral de Einstein, que estabeleceriam,
entre outras, a relatividade do Tempo e do Espaço, a equivalência da
energia e massa, a velocidade constante da luz, a inexistência do éter, e a
gravitação como resultado de uma deformação do Espaço-Tempo, devido
à presença da massa dos objetos.

Teoria quântica
A crença de que os átomos eram blocos construtores da matéria é antiga, remonta
à Antiguidade, mas, embora, o atomismo tenha ficado em descrédito durante muito
tempo, foi o modelo que prevaleceu, apoiado pela experimentação e observação.
Mas a ideia de que os átomos são a menor partícula indivisível da matéria provou
ser incorreta, pois os átomos são formados por partículas subatômicas.
Coube a Ernest Rutherford (1871-1937), um físico-químico neozelandês naturali-
zado britânico, chegar a uma nova estrutura do átomo.
Antes dele, em 1803, John Dalton (1766-1884) havia descrito sua teoria atômica,
na qual os elementos são formados por átomos idênticos que se combinam em razões
de números inteiros para formar composto químicos, como , a molécula da água.
E o físico inglês Joseph John Thompson (1856-1940) descobriu o elétron em
1897, durante um trabalho com raios catódicos.
O conceito de que o elétron fazia parte do átomo e que podia se liberar sozinho
anulou a teoria de indivisibilidade do átomo. Ele recebeu o prêmio Nobel em 1906,
mas a importância de sua pesquisa não ficou clara de imediato.
O modelo de Rutherford era composto de um núcleo minúsculo, denso, cercado
de muito espaço vazio e pontuado por elétrons em órbita.
Rutherford ficou conhecido como o pai da Física Nuclear: em um trabalho no iní-
cio de carreira, descobriu o conceito de meia-vida radioativa (tempo que um material
radioativo leva para reduzir sua massa à metade) e provou que a radioatividade causa
a transmutação de um elemento químico em outro.
Também distinguiu e nomeou as radiações alfa e beta. Premiado com o Nobel
de Química em 1908, Rutherford realizou sua obra mais famosa após ter recebido
esse prêmio.
Em 1911, ele defendeu que os átomos têm sua carga positiva concentrada em um
pequeno núcleo e, desse modo, criou o modelo atômico de Rutherford, por meio da
descoberta e da interpretação da dispersão de Rutherford em seu experimento da
folha de ouro.

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da Física da Modernidade aos Dia Atuais

A ele é amplamente creditada a primeira divisão do átomo, em 1917, liderando a


primeira experiência de ‘‘dividir o núcleo” de uma forma controlada por dois alunos
sob sua direção, John Cockcroft e Ernest Walton.

Modelo atômico de Rutherford, disponível em: https://youtu.be/NkQQdp1nNWs

O físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962), segundo Rooney (2013), aperfei-


çoou o modelo de Rutherford, em 1913, de tal forma que os elétrons conseguiam
permanecer em órbita: ao invés de vagar aleatoriamente, são restritos a determina-
das órbitas e incapazes de emitir radiação constantemente (o que poderiam fazer se
as Leis da Física Clássica se aplicassem).

Bohr acreditava que as órbitas eram circulares e fixas, dando um modelo planetá-
rio para o átomo – sendo os elétrons os planetas e o núcleo o Sol.

O elétron não emite radiação enquanto permanece numa mesma órbita do áto-
mo e absorve ou libera um único fóton ou energia quântica somente quando dá um
‘‘salto quântico” entre órbitas.

A quantidade de energia absorvida ou liberada seria determinada pela órbita:


quando se desloca de um nível de maior energia (órbita mais distante do núcleo, na
qual a energia cinética do elétron tende a diminuir enquanto sua energia potencial
tende a aumentar, mas sua energia total aumenta) para outro de menor energia (ór-
bita menos distante, na qual sua energia cinemática tende a aumentar e sua energia
potencial tende a diminuir. Mas, sua energia total diminui).

Parecia perfeito, mas ao testar sua Teoria, descobriu que os átomos do hidrogênio
emitem energia ao comprimento de onda previsto por seus cálculos matemáticos,
desde que os elétrons possam saltar entre suas órbitas prescritas, ou seja, as órbitas
não se localizariam a quaisquer distâncias do núcleo, pelo contrário, apenas algumas
órbitas seriam possíveis, cada uma delas correspondendo a um nível bem definido
de energia do elétron.

A transição de uma órbita para a outra seria feita por saltos pois, ao absor-
ver energia, o elétron saltaria para uma órbita mais externa (conceito quantum) e,
ao emiti-la, passaria para outra mais interna (conceito fóton).

Cada uma dessas emissões aparece no espectro como uma linha luminosa
bem localizada.

Assim, Bohr explicava por que o hidrogênio – e todos os elementos – produz uma
absorção e um espectro de emissão únicos.

Veja a transformação dos modelos atômicos no vídeo a seguir: O átomo.


Disponível em: https://youtu.be/TKEOWch5kXE

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Quando Max Planck (1858-1947) falou de quanta, pacotes com quantidades fixas
de energia, como uma forma de mover pequenas quantidades de energia, era apenas
uma solução teórica que ele supunha que pudesse ser substituída em breve, assim
que alguém fizesse os cálculos matemáticos para explicar o que acontecia realmente,
segundo Rooney (2013).

Contudo ele chegara a algo que parecia verdadeiro, apesar de improvável. E não
só era verdadeiro como serviu de base para um novo tipo de física que opera num
mundo ‘‘bizarro’’ das partículas subatômicas.

A mecânica quântica, que responde pelo comportamento das partículas em uma


escala ínfima, da mesma forma que a mecânica newtoniana explica o comporta-
mento de Sistemas maiores, foi, na verdade, iniciada com as soluções rápidas de
quanta dadas por Planck. Atualmente, um quantum (singular de quanta) é chamando
de fóton.

Além disso, esse cientista forneceu uma função que permitia determinar a ra-
diação das partículas oscilantes que emitem radiação em um corpo negro – objeto
hipotético que absorve toda a radiação eletromagnética que nele incide, nenhuma luz
o atravessa e nem é refletida.

Assim, a energia do fóton é dada por , sendo a constante de Planck e a frequência


de radiação emitida.

A constante de Planck é uma das mais importantes constantes do mundo quân-


tico, pois é fundamental para o entendimento de vários conceitos e interpretações
físicas e químicas.

Max Planck é considerado o pai da Teoria Quântica, o que lhe valeu o Prêmio
Nobel de Física, em 1918.

Essa teoria mostra que a radiação de frequência pode ser regenerada somente
se um oscilador de tal frequência tiver adquirido a energia mínima necessária para
iniciar a oscilação.

Em baixas temperaturas, não há energia suficiente disponível para induzir as os-


cilações de altas frequências.

Dessa maneira, o objeto não regenera radiação ultravioleta, acabando com a ca-
tástrofe do ultravioleta (falha da Teoria Clássica do Eletromagnetismo para explicar
a emissão eletromagnética de um corpo em equilíbrio térmico com o ambiente ou
um corpo negro).

Einstein usou essa hipótese de Max Planck para explicar os resultados obtidos em
seus trabalhos sobre o efeito fotoelétrico, em 1905.

Inicialmente considerada pelo próprio Planck uma mera hipótese, sua formulação
do quantum passaria à categoria de Teoria quando Einstein a utilizou para explicar
o efeito fotoelétrico, outro fenômeno para o qual a Física até então não oferecia uma
explicação adequada.

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UNIDADE O Desenvolvimento Científico de Relevantes Conceitos
da Física da Modernidade aos Dia Atuais

Desdobramentos da Teoria Quântica. QUARKS, o que são? Eletrostática.


Disponível em: https://youtu.be/bkaA24pdxp0
Bósons e férmions. Disponível em: https://youtu.be/0wniWqjwt_8
O Princípio da Incerteza. Disponível em: https://youtu.be/-1adyZ-TRM0

Teoria da Relatividade de Einstein


A teoria da Relatividade, desenvolvida no início do século XX, comporta duas
etapas, segundo Paty (2009).

A primeira, a relatividade restrita, nasceu da necessidade de compatibilizar


duas Ciências estabelecidas: a mecânica dos corpos materiais e a dinâmica dos
campos eletromagnéticos.

Ela expressa a invariância das Leis Físicas nos movimentos retilíneos uniformes
(Lei da Inércia), o que corresponde a uma modificação em relação às definições acei-
tas desde Newton dos conceitos de espaço e de tempo, independentes e absolutos,
para uma nova concepção de espaço-tempo, como uma noção de simultaneidade,
relativas a esse novo referencial de coordenadas espaciais e de tempo, sob um con-
ceito físico-matemático de quatro dimensões.

Além disso, a massa é uma forma de energia traduzida na sua célebre equação,
cuja verificação e utilização se deu nas reações nucleares.

A segunda etapa, a Teoria de Relatividade Geral, resultou de duas considerações


principais: a arbitrariedade na restrição das invariâncias físicas aos movimentos iner-
ciais, o que poderia sugerir a possível extensão delas aos movimentos acelerados,
e a igualdade da aceleração local dos corpos em um campo gravitacional (a Lei de
Galileu da queda livre dos corpos) erigida por Einstein em Princípio de Equivalência
entre um campo de gravitação e um movimento acelerado:
A teoria, desenvolvida sobre essa base com a ajuda do formalismo ma-
temático do espaço-tempo e do cálculo diferencial absoluto – cálculo
tensorial –, permite expressar uma nova teoria relativista generalizada
de gravitação. Essa fornece a estrutura do espaço-tempo para espaços
físicos doravante não euclidianos e tempos não uniformes: a curvatura é
determinada pelas massas que o espaço-tempo contém e pelos campos
gravitacionais dos quais essas massas são fonte. (PATY, 2009, p. 29-30)

Para Pires (2011), há muitos mitos sobre a Teoria da Relatividade: um deles é que
ela é muito difícil e entendida por poucos, o que não é verdade.

Outro é o mito de que Einstein teria dito que tudo é relativo, outra inverdade.
A ideia da relatividade do movimento já tinha surgido com Galileu e uma afirmação
absoluta da Teoria de Einstein é que a velocidade da luz é a mesma em qualquer
Sistema de Referência.

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Albert Einstein (1879-1955) foi um brilhante físico teórico alemão, que além de ter
lançado as bases da Teoria Atômica com a explicação do movimento browniano, e
da Física Quântica, com a Teoria do Efeito Fotoelétrico, contribuiu, ainda, com várias
outras áreas da Física.

Segundo Pires, ele publicou mais de 350 Artigos e registrou 45 patentes. Foi indica-
do diversas vezes ao Prêmio Nobel, mas só o recebeu em 1922, pelo efeito fotoelétrico.

Quer saber sobre a vida e os trabalhos desse brilhante cientista? Leia a matéria “Einstein –
O homem que mudou o Mundo”, disponível em: https://bit.ly/3bZu4qb

E como surgiu a Teoria da Relatividade? Einstein escreveu em sua biografia, se-


gundo Pires (2011), que desde os 16 anos perguntava a si mesmo o que aconteceria
se ele perseguisse de forma imaginária um raio luminoso, tendo ele mesmo a velo-
cidade da luz. Concluiu que observaria esse feixe como um campo eletromagnético
ondulatório em repouso, mas isso lhe parecia impossível, pois na ausência de cargas
elétrica e de ímãs não existem campos elétricos e magnéticos imóveis na Natureza.

Outro problema que considerou e foi tema de seu primeiro Artigo sobre relativi-
dade, diz respeito às equações de Maxwell-Lorentz e acabou por concluir que essas
equações eram verdadeiras, tanto para Sistemas de Coordenadas de corpos em
movimento como no vazio, mas esta invariância estava em conflito com a regra de
adição de velocidades de Galileu.

Foi assim que se deu conta de que o tempo não podia ser definido de forma
absoluta. Em seu Artigo, comenta sobre tentativas frustradas para detectar um mo-
vimento da Terra em relação ao éter, mas isto parece ter tido papel secundário na
criação de sua teoria.

Dois postulados são essenciais na Teoria especial da relatividade:


• Princípio da relatividade: As leis da Física são as mesmas em todos os sistemas
inerciais de referência;
• Princípio da constância da velocidade da luz: A velocidade da luz no vácuo
é constante para todos os sistemas de referência inerciais, qualquer que seja seu
movimento ou o da fonte luminosa.

Ao contrário da Mecânica newtoniana, que defendia poder um objeto se mover


a uma velocidade ilimitada desde que acelerado por uma força suficiente, Einstein
sustentava que a velocidade da luz é constante medida no vácuo e é também limite,
que não pode ser superada, nem mesmo igualada, por nenhum corpo. A constân-
cia da velocidade da luz, independente do sistema de referência inercial, explicava
o resultado negativo da experiência Michelson-Morley que, por sua vez, mostrava a
inutilidade da noção do éter, que deveria ser abandonada.

Dessa forma, Einstein rejeitaria, igualmente, o princípio de um referencial absoluto


e de um espaço estacionário absoluto.

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A Teoria Geral da Relatividade mudaria completamente o conceito de espaço,


cuja estrutura é influenciada pela massa gravitacional. Einstein provou que o espaço
fica distorcido pela presença de uma grande massa, o que ocasiona a gravidade, e
que no espaço curvo a distância mais curta entre dois pontos não ocorre ao longo de
uma reta, mas de uma linha curva, chamada geodésica.

A visão newtoniana da gravidade como força de efeito instantâneo conflitava,


também, com a Teoria Especial (ou relativa) da relatividade, estabelecendo que nada
pode ultrapassar a velocidade da luz.

Em essência, a Teoria Geral mostra que inércia e gravidade são equivalentes, o


espaço deve ser pensado em quatro dimensões, e o espaço-tempo é curvo, por
influência de grande massa, sendo a curvatura o campo gravitacional.

A gravidade não é, assim, uma força, mas é causada por inclinações e curvas
feitas no espaço pelos objetos, portanto, é uma manifestação do efeito da matéria no
espaço-tempo à sua volta.

A curva elíptica descrita pela Terra em órbita do Sol é resultado da distorção da


Geometria do espaço-tempo causada pela massa do Sol, o que torna a elipse uma
geodésica, ou seja, o caminho mais curto no espaço-tempo, e não o resultado de
uma ‘‘atração à distância’’.

Entretanto, se a força gravitacional não for muito intensa, por exemplo, a da Terra,
a Teoria da Gravidade de Einstein é irrelevante para a curvatura do espaço-tempo,
daí a Teoria Gravitacional de Newton se aplica perfeitamente aos movimentos dos
planetas, com exceção de Mercúrio que, por estar mais próximo do Sol, sofre mais
fortemente o efeito da distorção provocado pela massa deste.

Figura 2
Fonte: Getty Images

Você poderá entender melhor a Teoria da Relatividade e campos de Higgs assistindo aos
vídeos nos links a seguir:
• Teoria da relatividade: o tempo. Disponível em: https://bit.ly/35zyy5C
• Teoria da relatividade: o espaço. Disponível em: https://bit.ly/33rz0QT
• O que é o Bóson de Higgs? Disponível em: https://youtu.be/o-TzAibSy0k

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Assim, chegamos ao fim desta Unidade, mesmo sabendo que muitos conceitos e
temas ficaram de fora.

Entretanto, espero que tenha servido para deixar uma boa noção da evolução dos
conceitos e teorias aqui tratados.

Você pode também aprofundar alguns desses assuntos por meio do Material
Complementar.

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UNIDADE O Desenvolvimento Científico de Relevantes Conceitos
da Física da Modernidade aos Dia Atuais

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Eletromagnetismo Avançado
Equações de Maxwell em meios materiais.
https://youtu.be/iYyHm5p_Yvs
Marcelo Gleiser – A partícula de Deus
https://youtu.be/6WUq2cYoMks;
Marcelo Gleiser – Do Big Bang à vida inteligente: as quatro eras da astrobiologia
https://youtu.be/_0smSz1FfoE

 Leitura
A filosofia da Ciência de Karl Popper
https://bit.ly/2DZu6BM
A mudança de paradigma de Kuhn
https://bit.ly/3iyzbjq
Resenha de As estruturas da Revoluções Científicas, de Thomas Kuhn
https://bit.ly/33pBAa4
Equações de Maxwell
https://bit.ly/32up9KP
O Bóson de Higgs na mídia, na Física e no Ensino da Física
https://bit.ly/3bUWIsy

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Referências
BRITO, N. B. de et al. História da física no século XIX: discutindo natureza da Ciên-
cia e suas implicações para o ensino de física em sala de aula. Revista Brasileira de
História da Ciência. Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, dez. 2014, p. 214-31.
BYNUM, W. Uma breve história da Ciência. Tradução de Iuri Abreu. São Paulo:
LP&M, 2013 (e-book). Disponível em: <https://portalconservador.com/livros/
William-Bynum-Uma-breve-historia-da-ciencia.pdf>. Acesso em: 27/01/2020.
MARTINS, R. de A. A Física no final do século XIX: modelos em crise. Ar-
tigo on-line atualizado em 2001. Disponível em: <http://www.comciencia.br/dos-
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PATY, M. A Física do Século XX. Aparecida: Ideias & Letras, 2009.
PIRES, A. S. T. Evolução das ideias da Física. 2.ed. São Paulo: Livraria da
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ROSA, C. A. P. História da Ciência: a Ciência moderna. 2.ed. Brasília: FUNAG,
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________. A Ciência e o triunfo do pensamento científico no mundo contem-
porâneo. 2.ed. Brasília: FUNAG, 2012a. v. 3.
ROONEY, A. A História da Física: da filosofia ao enigma da matéria negra. São
Paulo: M. Books do Brasil Ltda., 2013.

Sites Visitados
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MAÇONARIA. A 20 de Março de 1916 – Albert Einstein publica a teoria da rela-
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PHILOSHOPHY.PRO. A crítica ao positivismo: Popper e Kuhn. Disponível em:
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WIKIPEDIA. Paul Feyerabend. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_
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