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Material Complementar
Curso Começando do Zero
Inicialmente, cabe destacar que essa matéria poderá ser exigida tanto em Direito do Trabalho, como em Processo
do Trabalho. Como o objetivo desse livro é tornar o estudo o mais completo possível para o candidato ao cargo de
Analista do TRT, será abordado o tema nesse capítulo.
O objeto principal da Comissão de Conciliação Prévia é tentar a solução dos conflitos fora do Poder Judiciário, por-
tanto de forma extrajudicial. Como não há presença do Estado nessa pacificação, pois o conflito é resolvido na pró-
pria empresa ou no sindicato, é chamada de autocomposição (solução pelas próprias partes envolvidas).
Ao tratar de renúncia e transação, alguns editais abordam o art. 625-A da CLT, que prevê as Comissões de Conci-
liação Prévia. Como havíamos tratado do Princípio da Irrenunciabilidade das normas trabalhistas, o tópico referen-
te às Comissões será abordado nesta parte inicial, pois há possibilidade, segundo a CLT, de o empregado transa-
cionar direitos trabalhistas perante a Comissão de Conciliação Prévia. Essa Comissão poderá conciliar apenas
conflitos individuais de trabalho, ou seja, não tem atribuição para resolver conflitos coletivos, que serão soluci-
onados por mediação, arbitragem, acordo ou convenção coletiva, ou ainda dissídio coletivo.
Aliás, juntamente com o processo de homologação de acordo extrajudicial criado pela Reforma Trabalhista (art.
855-B a 855-E da CLT), as CCP são as únicas formas, previstas em lei, de transação individual (entre empregado
e empregador) de verbas trabalhistas. Ademais, passou-se a admitir a resolução dos conflitos por arbitragem para
o empregado cuja remuneração seja superior a duas vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do
Regime Geral de Previdência Social (art. 507-A da CLT – Reforma Trabalhista). Para os demais empregados,
permanece a impossibilidade de utilização da arbitragem como meio de solução de conflitos individuais.
Em resumo, portanto, as Comissões de Conciliação Prévia foram criadas como forma de tentar solucionar os con-
flitos existentes entre empregados e empregadores. Poderão1 ser criadas pelas empresas ou pelos sindicatos e,
caso existam, na mesma localidade e para a mesma categoria, Comissão de Empresas e Comissão Sindical, o
interessado deve optar por uma delas. De acordo com o art. 625-A da CLT:
Art. 625-A da CLT. As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia, de composição
1
. Importante destacar que o empregador não está obrigado a criar essas Comissões. Trata-se de uma opção / faculdade.
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paritária, com representantes dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os confli-
tos individuais do trabalho.
Parágrafo único. As Comissões referidas no caput deste artigo poderão ser constituídas por grupos de empresas
ou ter caráter intersindical.
A composição dos membros da Comissão de Conciliação Prévia no âmbito da empresa será paritária, ou seja, o
mesmo número de representantes dos trabalhadores e de representantes do empregador. O número de membros
será de, no mínimo, 2 e, no máximo, 10 membros. O mandato, tanto de titulares como suplentes, é de 1 ano, per-
mitida uma recondução (mandato com prazo máximo de 2 anos).
Importante destacar que os representantes dos trabalhadores serão eleitos em votação secreta 2. Em razão disso,
para que não haja perseguição, titulares e suplentes possuirão garantia provisória de emprego (estabilidade),
desde a eleição até 1 ano após o fim do mandato, salvo se cometerem falta grave 3. O art. 625-B, § 1º, da CLT não
prevê essa estabilidade a partir do registro da candidatura. Portanto, nas provas objetivas, importante memorizar
nos exatos termos da lei. De acordo com Sérgio Pinto Martins:
A garantia de emprego não se inicia com a candidatura, mas desde a posse, pois a lei nada menciona nesse sen-
tido, como ocorre, por exemplo, com o parágrafo 3º do artigo 543 da CLT, no que diz respeito aos dirigentes sindi-
cais4.
Cabe destacar que os membros da Comissão representantes dos empregadores não gozam de estabilidade. Eles
serão diretamente indicados pelo empregador.
Outro ponto importante, diz respeito ao período que o membro for convocado para atuar como conciliador. Nesse
caso, durante a atuação na Comissão, será computado como tempo de trabalho efetivo, configurando, portanto,
hipótese de interrupção do contrato de trabalho.
A composição da Comissão em âmbito sindical terá sua constituição e normas definidas em acordo ou conven-
ção coletiva. Logo, as regras acima, como número de membros, eleição secreta etc, serão decididas em negocia-
ção coletiva.
Nas localidades onde houver Comissão de Conciliação Prévia, a demanda será submetida à tentativa de concilia-
ção antes de ingressar com a reclamação trabalhista na Justiça do Trabalho.
2
. O art. 625-B da CLT prevê escrutínio secreto, ou seja, forma de votação secreta.
3
. Para as provas de Analista TRT, deve-se adotar o posicionamento no sentido de que não há necessidade de prévio Inquérito para
apuração de falta grave (art. 853 a 855 da CLT) para os membros da CCP.
4
. MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 686.
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Havia discussão sobre a obrigatoriedade de submeter a demanda à Comissão de Conciliação Prévia, antes de
ingressar na Justiça do Trabalho. O Supremo Tribunal Federal – STF5 – proferiu decisão no sentido de que é fa-
cultativo ao trabalhador a tentativa de conciliação perante a CCP, ou seja, ele poderá ingressar diretamente na
Justiça do Trabalho. Cabe frisar, entretanto, que nos concursos de Analista do TRT há exigência da memorização
nos exatos termos da lei, isto é, a demanda “será submetida”, lembrando a ressalva do entendimento do STF:
Art. 625-D. Qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na
localidade da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da
categoria.
Antes dessa decisão do STF, caso o empregado ingressasse diretamente na Justiça sem a prévia tentativa de
conciliação, se existisse a Comissão de Conciliação Prévia na empresa, o juiz não resolveria o mérito, com base
no art. 485, VI do NCPC. Nesse caso, o empregado não teria atendido uma das condições da ação expressamen-
te previstas em lei (art. 625-D da CLT). Hoje esse entendimento está superado. A presença na Comissão poderá
ser feita sem a presença de advogado. Note-se que, nos termos do art. 625-D da CLT supramencionado, não há
obrigatoriedade de selar o acordo, mas apenas a tentativa.
Ao submeter a demanda à Comissão, há um prazo de 10 dias para realizar a sessão de tentativa de conciliação.
Durante esse prazo, a prescrição ficará suspensa. Se não houver conciliação, será fornecida às partes declara-
ção da tentativa conciliatória frustrada, que deverá ser juntada à futura reclamação trabalhista.
Se as partes aceitarem a conciliação, será lavrado termo de conciliação. Esse termo apresenta duas caracterís-
ticas de extrema importância para o Direito do Trabalho:
a) Terá eficácia liberatória geral, ou seja, o empregado não poderá rediscutir as matérias objeto de conciliação
na Justiça do Trabalho, pois já houve acordo entre as partes. Há exceção, entretanto, no tocante às parcelas ex-
pressamente ressalvadas. Assim sendo, caso não haja ressalvas, o trabalhador terá dado quitação total6 das par-
celas do contrato. Exemplo: durante a conciliação das verbas rescisórias, se as partes não chegaram ao consenso
sobre o pagamento das horas extras, estas ficaram ressalvadas, no termo, como não conciliadas. Logo, as horas
extraordinárias poderão ser objeto de futura ação judicial (reclamação trabalhista). Segue quadrinho com as prin-
cipais informações a respeito da eficácia liberatória do empregador em relação à homologação das verbas traba-
lhistas:
5
. ADIN 2139-DF, Relator Ministro Marco Aurélio.
6
. Informativo nº 29 do TST (confira texto integral ao final do capítulo)
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o empregado daria plena e ampla quitação, sem nenhuma ressalva, al-
cançaria todos os direitos decorrentes do contrato de trabalho. Com a
vigência da Lei nº 13.467/17, há necessidade de alteração dessa orienta-
ção jurisprudencial, uma vez que o novo art. 855-E prevê que apenas há
a suspensão do prazo prescricional com relação aos direitos nela espe-
cificados. Assim, os direitos decorrentes do contrato de trabalho que
não forem expressamente objeto do acordo extrajudicial não terão a
prescrição suspensa, podendo, consequentemente, ser objeto de nova
reclamação trabalhista. Possibilita-se, portanto, que a parte ingresse com
reclamação trabalhista para a discussão dos direitos que não estiverem
expressamente integrados ao acordo extrajudicial, sem que isso viole a
coisa julgada.
Obs.: Recibo de quitação ou instrumento de rescisão: O recibo de
quitação deve especificar as parcelas paga ao empregado, sendo válida a
quitação apenas quanto às parcelas especificadas (art. 477, § 2º, da CLT).
Ressalta-se que, com a Reforma Trabalhista, não há mais homologação
das verbas trabalhistas no final do contrato de trabalho. O recibo de quita-
ção não assegura eficácia liberatória, podendo o empregado discutir em
juízo os valores e as parcelas pagos.
b) Será título executivo extrajudicial7, isto é, poderá ser executado diretamente na Justiça do Trabalho. A título
de exemplo, o termo de conciliação vale como “cheque” dado pelo empregador: se não for pago, será executado.
Na reclamação trabalhista, há necessidade de juntar provas (documentos, testemunhas etc.), por isso o processo
é mais demorado. Já na execução, o processo é rápido, pois a instrução é realizada com o título executivo.
Na área trabalhista, não raros os casos de título executivo extrajudicial. Diante da importância dessa matéria, para
que o candidato lembre as outras hipóteses de títulos extrajudiciais, segue abaixo:
7
. O procedimento para impugnar esse termo de conciliação é ação anulatória e não ação rescisória.
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