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Material Complementar
Curso Começando do Zero

Professor Henrique Correia


Procurador do Trabalho
Professor de Direito do Trabalho do CERS on line (www.renatosaraiva.com.br)
Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm
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COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

TEXTO RETIRADO DO LIVRO


DIRETO DO TRABALHO PARA OS CONCURSOS DE ANALISTA DO TRT, TST E MPU – 12ª EDIÇÃO/2018
EDITORA JUSPODIVM.

6. COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA (ARTIGOS 625-A ATÉ 625-H DA CLT)

Artigos 625-A até 625-H da CLT

Inicialmente, cabe destacar que essa matéria poderá ser exigida tanto em Direito do Trabalho, como em Processo
do Trabalho. Como o objetivo desse livro é tornar o estudo o mais completo possível para o candidato ao cargo de
Analista do TRT, será abordado o tema nesse capítulo.

O objeto principal da Comissão de Conciliação Prévia é tentar a solução dos conflitos fora do Poder Judiciário, por-
tanto de forma extrajudicial. Como não há presença do Estado nessa pacificação, pois o conflito é resolvido na pró-
pria empresa ou no sindicato, é chamada de autocomposição (solução pelas próprias partes envolvidas).

Ao tratar de renúncia e transação, alguns editais abordam o art. 625-A da CLT, que prevê as Comissões de Conci-
liação Prévia. Como havíamos tratado do Princípio da Irrenunciabilidade das normas trabalhistas, o tópico referen-
te às Comissões será abordado nesta parte inicial, pois há possibilidade, segundo a CLT, de o empregado transa-
cionar direitos trabalhistas perante a Comissão de Conciliação Prévia. Essa Comissão poderá conciliar apenas
conflitos individuais de trabalho, ou seja, não tem atribuição para resolver conflitos coletivos, que serão soluci-
onados por mediação, arbitragem, acordo ou convenção coletiva, ou ainda dissídio coletivo.

Aliás, juntamente com o processo de homologação de acordo extrajudicial criado pela Reforma Trabalhista (art.
855-B a 855-E da CLT), as CCP são as únicas formas, previstas em lei, de transação individual (entre empregado
e empregador) de verbas trabalhistas. Ademais, passou-se a admitir a resolução dos conflitos por arbitragem para
o empregado cuja remuneração seja superior a duas vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do
Regime Geral de Previdência Social (art. 507-A da CLT – Reforma Trabalhista). Para os demais empregados,
permanece a impossibilidade de utilização da arbitragem como meio de solução de conflitos individuais.

Em resumo, portanto, as Comissões de Conciliação Prévia foram criadas como forma de tentar solucionar os con-
flitos existentes entre empregados e empregadores. Poderão1 ser criadas pelas empresas ou pelos sindicatos e,
caso existam, na mesma localidade e para a mesma categoria, Comissão de Empresas e Comissão Sindical, o
interessado deve optar por uma delas. De acordo com o art. 625-A da CLT:

Art. 625-A da CLT. As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia, de composição

1
. Importante destacar que o empregador não está obrigado a criar essas Comissões. Trata-se de uma opção / faculdade.

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paritária, com representantes dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os confli-
tos individuais do trabalho.

Parágrafo único. As Comissões referidas no caput deste artigo poderão ser constituídas por grupos de empresas
ou ter caráter intersindical.

6.1. Composição da Comissão de Conciliação Prévia criada em âmbito da empresa

A composição dos membros da Comissão de Conciliação Prévia no âmbito da empresa será paritária, ou seja, o
mesmo número de representantes dos trabalhadores e de representantes do empregador. O número de membros
será de, no mínimo, 2 e, no máximo, 10 membros. O mandato, tanto de titulares como suplentes, é de 1 ano, per-
mitida uma recondução (mandato com prazo máximo de 2 anos).

Importante destacar que os representantes dos trabalhadores serão eleitos em votação secreta 2. Em razão disso,
para que não haja perseguição, titulares e suplentes possuirão garantia provisória de emprego (estabilidade),
desde a eleição até 1 ano após o fim do mandato, salvo se cometerem falta grave 3. O art. 625-B, § 1º, da CLT não
prevê essa estabilidade a partir do registro da candidatura. Portanto, nas provas objetivas, importante memorizar
nos exatos termos da lei. De acordo com Sérgio Pinto Martins:

A garantia de emprego não se inicia com a candidatura, mas desde a posse, pois a lei nada menciona nesse sen-
tido, como ocorre, por exemplo, com o parágrafo 3º do artigo 543 da CLT, no que diz respeito aos dirigentes sindi-
cais4.

Cabe destacar que os membros da Comissão representantes dos empregadores não gozam de estabilidade. Eles
serão diretamente indicados pelo empregador.

Outro ponto importante, diz respeito ao período que o membro for convocado para atuar como conciliador. Nesse
caso, durante a atuação na Comissão, será computado como tempo de trabalho efetivo, configurando, portanto,
hipótese de interrupção do contrato de trabalho.

A composição da Comissão em âmbito sindical terá sua constituição e normas definidas em acordo ou conven-
ção coletiva. Logo, as regras acima, como número de membros, eleição secreta etc, serão decididas em negocia-
ção coletiva.

COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA


– Constituição em âmbito empresarial: composição e funcionamento es-
tão sujeitos às normas previstas na CLT (art. 625-A a 625-H).
– Constituição em âmbito sindical: composição e funcionamento estão
sujeitos à previsão em instrumentos coletivos (art. 625-C).
Obs. Prevenção: Em caso de existir CCP no âmbito empresarial e sindical,
estará preventa a primeira que conhecer do pedido de conciliação.

6.2. Necessidade de submeter a demanda à Comissão de Conciliação Prévia

Nas localidades onde houver Comissão de Conciliação Prévia, a demanda será submetida à tentativa de concilia-
ção antes de ingressar com a reclamação trabalhista na Justiça do Trabalho.

2
. O art. 625-B da CLT prevê escrutínio secreto, ou seja, forma de votação secreta.

3
. Para as provas de Analista TRT, deve-se adotar o posicionamento no sentido de que não há necessidade de prévio Inquérito para
apuração de falta grave (art. 853 a 855 da CLT) para os membros da CCP.

4
. MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 686.

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Havia discussão sobre a obrigatoriedade de submeter a demanda à Comissão de Conciliação Prévia, antes de
ingressar na Justiça do Trabalho. O Supremo Tribunal Federal – STF5 – proferiu decisão no sentido de que é fa-
cultativo ao trabalhador a tentativa de conciliação perante a CCP, ou seja, ele poderá ingressar diretamente na
Justiça do Trabalho. Cabe frisar, entretanto, que nos concursos de Analista do TRT há exigência da memorização
nos exatos termos da lei, isto é, a demanda “será submetida”, lembrando a ressalva do entendimento do STF:

Art. 625-D. Qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na
localidade da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da
categoria.

Antes dessa decisão do STF, caso o empregado ingressasse diretamente na Justiça sem a prévia tentativa de
conciliação, se existisse a Comissão de Conciliação Prévia na empresa, o juiz não resolveria o mérito, com base
no art. 485, VI do NCPC. Nesse caso, o empregado não teria atendido uma das condições da ação expressamen-
te previstas em lei (art. 625-D da CLT). Hoje esse entendimento está superado. A presença na Comissão poderá
ser feita sem a presença de advogado. Note-se que, nos termos do art. 625-D da CLT supramencionado, não há
obrigatoriedade de selar o acordo, mas apenas a tentativa.

6.3. Consequências da conciliação firmada perante a CCP

Ao submeter a demanda à Comissão, há um prazo de 10 dias para realizar a sessão de tentativa de conciliação.
Durante esse prazo, a prescrição ficará suspensa. Se não houver conciliação, será fornecida às partes declara-
ção da tentativa conciliatória frustrada, que deverá ser juntada à futura reclamação trabalhista.

Se as partes aceitarem a conciliação, será lavrado termo de conciliação. Esse termo apresenta duas caracterís-
ticas de extrema importância para o Direito do Trabalho:

a) Terá eficácia liberatória geral, ou seja, o empregado não poderá rediscutir as matérias objeto de conciliação
na Justiça do Trabalho, pois já houve acordo entre as partes. Há exceção, entretanto, no tocante às parcelas ex-
pressamente ressalvadas. Assim sendo, caso não haja ressalvas, o trabalhador terá dado quitação total6 das par-
celas do contrato. Exemplo: durante a conciliação das verbas rescisórias, se as partes não chegaram ao consenso
sobre o pagamento das horas extras, estas ficaram ressalvadas, no termo, como não conciliadas. Logo, as horas
extraordinárias poderão ser objeto de futura ação judicial (reclamação trabalhista). Segue quadrinho com as prin-
cipais informações a respeito da eficácia liberatória do empregador em relação à homologação das verbas traba-
lhistas:

EFICÁCIA LIBERATÓRIA DO CONTRATO

– Comissão de Conciliação Prévia: eficácia liberatória geral, com exce-


ção das parcelas expressamente ressalvadas (art. 625-E, parágrafo único,
CLT e Informativo 29 TST).
– Programa de Demissão Voluntária (PDV): eficácia liberatória somente
em relação às parcelas expressamente consignadas (OJ nº 270 da SDI-I
do TST). Na existência de acordo ou convenção coletiva, terá eficácia libe-
ratória geral (art. 477-B da CLT – acrescentado pela Lei nº 13.467/2017).
– Quitação anual das verbas trabalhistas: A celebração de termo de
quitação anual das obrigações trabalhistas perante o sindicato profissional
tem eficácia liberatória em relação às parcelas expressamente especifica-
das (art. 507-B da CLT).
– Homologação em juízo: De acordo com a OJ nº 132 da SDI-II do TST,
é possível que, mediante acordo judicial, seja conferida eficácia liberató-
ria geral das verbas trabalhistas. Nesse sentido, o acordo judicial em que

5
. ADIN 2139-DF, Relator Ministro Marco Aurélio.

6
. Informativo nº 29 do TST (confira texto integral ao final do capítulo)

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o empregado daria plena e ampla quitação, sem nenhuma ressalva, al-
cançaria todos os direitos decorrentes do contrato de trabalho. Com a
vigência da Lei nº 13.467/17, há necessidade de alteração dessa orienta-
ção jurisprudencial, uma vez que o novo art. 855-E prevê que apenas há
a suspensão do prazo prescricional com relação aos direitos nela espe-
cificados. Assim, os direitos decorrentes do contrato de trabalho que
não forem expressamente objeto do acordo extrajudicial não terão a
prescrição suspensa, podendo, consequentemente, ser objeto de nova
reclamação trabalhista. Possibilita-se, portanto, que a parte ingresse com
reclamação trabalhista para a discussão dos direitos que não estiverem
expressamente integrados ao acordo extrajudicial, sem que isso viole a
coisa julgada.
Obs.: Recibo de quitação ou instrumento de rescisão: O recibo de
quitação deve especificar as parcelas paga ao empregado, sendo válida a
quitação apenas quanto às parcelas especificadas (art. 477, § 2º, da CLT).
Ressalta-se que, com a Reforma Trabalhista, não há mais homologação
das verbas trabalhistas no final do contrato de trabalho. O recibo de quita-
ção não assegura eficácia liberatória, podendo o empregado discutir em
juízo os valores e as parcelas pagos.

b) Será título executivo extrajudicial7, isto é, poderá ser executado diretamente na Justiça do Trabalho. A título
de exemplo, o termo de conciliação vale como “cheque” dado pelo empregador: se não for pago, será executado.

Na reclamação trabalhista, há necessidade de juntar provas (documentos, testemunhas etc.), por isso o processo
é mais demorado. Já na execução, o processo é rápido, pois a instrução é realizada com o título executivo.

Na área trabalhista, não raros os casos de título executivo extrajudicial. Diante da importância dessa matéria, para
que o candidato lembre as outras hipóteses de títulos extrajudiciais, segue abaixo:

1. TAC – Termo de Ajustamento de Conduta firmado no Ministério Público do Trabalho


2. Termo firmado na Comissão de Conciliação Prévia (art. 625-E da CLT)
3. Multa lavrada pelos Auditores Fiscais do Trabalho (art. 114 da CF/88)
4. Cheque e nota promissória emitidos em reconhecimento de dívida inequivocamente de natureza trabalhista
(Arts. 784, I, do NCPC e 13 da IN nº 39/2016 do TST).

7
. O procedimento para impugnar esse termo de conciliação é ação anulatória e não ação rescisória.

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