Você está na página 1de 93

ALFARRÁBIOS

DE
MASZAFY

Uma coletanea de informações, que formam um panorama espiritualista

Wagner Linares

1
Apresentação...

Meus caros irmãos, humildemente venho oferecer o material que está nestas páginas, como
uma contribuição ao conhecimento de cada um, que por ventura venha ler estas linhas. Advirto de
antemão, que este conteúdo não é de verdades absolutas e definitivas; porém são factuais, no que se
refere, à diversidade teológica e filosófica dentro da crença que abraçamos.

Sinceramente, acredito que uma visão mais ampla e uma linha de pensamentos alternativa
serão reações, que de alguma forma, sendo tomadas positivamente no âmbito de um raciocínio livre
de amarras ortodoxas, poderão trazer esclarecimentos mais abrangentes da Umbanda.

2
Índice

Introdução......................................................4
Uma passagem...............................................5
Uma breve história........................................ 6
Gabriel Malagrida.........................................10
A História da Umbanda: outra abordagem....13
Cumprimentos...............................................19
Preceitos........................................................20
Pontos Riscados............................................21
Cavalos, Entidades, Guias e Banhos.............26
O Terreiro......................................................33
A Defumação................................................ 35
Pontos Cantados............................................37
Amalás e Amacís...........................................41
Diversidade de rituais umbandistas...............43
São várias as versões dos mitos dos orixás...47
Os Orixás.......................................................49
Caboclos na Umbanda...................................54
Caboclo Pena Branca.....................................55
Linhas e Povos...............................................56
Exú e Pomba-Gira....................................... ..64
O arquétipo de Exu........................................66
A Armadilha do Tempo Passado....................72
Salve povo!....................................................77
Tradição.........................................................79
Bom o seguinte esse......................................80
Crônica..........................................................82
Orações..........................................................84
Assim era Umbanda.......................................88
K y r i é E l é i s o n......................................89

3
Introdução...

Muitos autores afrmam que a Umbanda, é uma colcha de retalhos religiosa. Como não
poderia dexar de ser, ao possuir como premissa primordial a liberdade; seja em seus elementos
religosos; quanto em suas manifestações, em seu público e em seus praticantes?

Imaginando uma colcha de retalhos, também é possível afrmar que não existem duas
exatamente iguais. Pois os trapos, que a constituem também diferem entre sí; seja nas dimensões,
cores, qualidade e consistência; formando desenhos distintos entre cada uma delas. Assim,
considerando o a linha de pensamento destes notáveis irmãos, que se disporam a conduzir o estudo
da Umbanda, como uma missão de aprofundamento do conhecimento, temos que humildemente
concordar. Entretanto esta aceitação, deve ser confrontada com nossa própria experiênca e
conhecimento, para que ocorra a transformação da informação em sabedoria.

Ao cabo da leitura das páginas que se seguem, será percebido a diversidade de fontes;
algumas até antagonicas, outras com variações de interpretações; mas este é o objetvo primário. A
reflexão, o debate e a conclusão, são as etapas que seguem um caminho linear de informação,
estudo, conhecimento e culminando, com o aproveitamento de sua essência, em sabedoria.

Será uma viagem, transitando pela história, mitologia, ritualística, dogmas e depoimentos;
que permitirão, ao menos, as perguntas: por que e como. E estas são as questões, que fazem da
curiosidade a chave do estudo. Não tome estas páginas, como fundamentalmente verdadeiras, mas
como sendo o conhecimento, que algum outro irmão utiliza, para professar a mesma fé que a sua.

Boa Leitura!

4
Uma passagem...

“Entrementes os seus discípulos lhe rogavam, dizendo:


 Rabi, come.
Ele, porém, respondeu:
 Uma comida tenho para comer que vós não conheceis.
Então os discípulos diziam uns aos outros:
 Acaso alguém lhe trouxe de comer?
Disse-lhes Jesus:
 A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra. Não
dizeis vós: ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Ora, eu vos digo: levantai os
vossos olhos, e vede os campos, que já estão brancos para a ceifa. Quem ceifa já está
recebendo recompensa e ajuntando fruto para a vida eterna; para que o que semeia e o
que ceifa juntamente se regozijem. Porque nisto é verdadeiro o ditado: “Um é o que
semeia, e outro o que ceifa”. Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhaste; outros
trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.”

João IV – 31a 37

5
Uma breve história...
Texto encontrado em pesquisa, durante periódo de desenvolvimento mediúnico, para estudo e
aprendizagem das origens da religião. Foi escrutinado e debatido entre os irmãos e os dirigentes espirituais
da casa. Foi considerado fidedigno ao ocorrido.

Zélio Fernandino de Moraes, nasceu no dia 10 de abril de 1891, no distrito de Neves,


município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Aos dezessete anos, quando estava se preparando para
servir as Forças Armadas, através da Marinha, aconteceu um fato curioso: começou a falar em tom
manso e com um sotaque diferente da sua região, parecendo um senhor com bastante idade.
À princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou ao
seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande.
Após alguns dias de observação e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica,
sugeriu à família que o encaminhassem a um padre, para que fosse feito um ritual de exorcismo,
pois desconfiava que seu sobrinho, estivesse possuído pelo demônio. Procuraram, então também um
padre da família, que após fazer ritual de exorcismo não conseguiu nenhum resultado.
Tempos depois Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os médicos
não conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente, Zélio ergueu-se
do seu leito e declarou:

 "Amanhã estarei curado".


No dia seguinte, começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico
soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma
curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava, e que incorporava o
espírito de um preto velho chamado Tio Antônio. Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas
rezas, lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com caridade.
O Pai de Zélio de Moraes Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de não freqüentar
nenhum centro espírita, já era um adepto do espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura
espírita. No dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado a
Federação Espírita de Niterói. Chegando na Federação e convidados por José de Souza, dirigente
daquela Instituição, sentaram-se a mesa. Logo em seguida, contrariando as normas do culto
realizado, Zélio levantou-se e disse que ali faltava uma flor. Foi até o jardim, apanhou uma rosa
branca e a colocou no centro da mesa onde realizava-se o trabalho. Tendo-se iniciado uma estranha
confusão no local, ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns presentes
apresentaram incorporações de caboclos e pretos velhos. Advertidos pelo dirigente do trabalho, a
entidade incorporada no rapaz perguntou:

 “Porque repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir
suas mensagens. Seria por causa de suas origens sociais e da cor?”
Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava, perguntou:

 “Porque o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação
de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados?”

 “Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e
a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?”

6
Ele responde:

 “Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei
na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios, poderão dar sua
mensagem e assim cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que
falará aos humildes, simbolizando a igualdade, que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e
desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque
não haverá caminhos fechados para mim.”
O vidente ainda pergunta:

 “Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?”


Novamente ele responde:

 “Colocarei uma condessa em cada colina, que atuará como porta-voz, anunciando o
culto que amanhã iniciarei.”
Depois de algum tempo, todos ficaram sabendo que o jesuíta visto pelo médium, através
dos resquícios de sua veste no espírito, em sua última encarnação, foi o Padre Gabriel Malagrida.
No dia 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30 – Neves – São Gonçalo –
RJ, aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os membros da Federação Espírita,
parentes, amigos e vizinhos e do lado de fora uma multidão de desconhecidos. Pontualmente as
20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas desceu e usando as seguintes palavras iniciou o
culto:

 “Aqui inicia-se um novo culto, em que os espíritos de pretos velhos africanos, que
haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das
seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria; e os
índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer
que seja a cor, raça, credo ou posição social. A pratica da caridade no sentido do amor fraterno, será
a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como Mestre Supremo
Cristo.”
Após estabelecer as normas que seriam utilizadas no culto e com sessões diárias das
20:00 às 22:00 horas, determinou que os participantes deveriam estar vestidos de branco e o
atendimento a todos seria gratuito. Disse também que estava nascendo uma nova religião e que
chamaria Umbanda. O grupo que acabara de ser fundado recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa
Senhora da Piedade e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as seguinte palavras:

 “Assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a tenda acolherá aos que a ela
recorrerem nas horas de aflição, todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles
espíritos que souberem mais e ensinaremos àqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as
costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai.”
Ainda respondeu perguntas de sacerdotes que ali se encontravam em latim e alemão. O
caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que
haviam neste local, praticando suas curas. Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado
Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com
palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com
os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras:

7
 “Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco
e nêgo deve arrespeitá”
Após a insistência dos presentes fala:

 “Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nêgo.”
Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa
na reunião pergunta, se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:

 “Minha caximba., nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque buscá.”
Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a
solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antônio também a primeira
entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada
de “Guia de Pai Antônio”.
No outro dia formou-se verdadeira romaria em frente a casa da família Moraes. Cegos,
paralíticos e médiuns que eram dados como loucos, foram curados. A partir destes fatos fundou-se a
Corrente Astral de Umbanda. Após algum tempo manifestou-se um espírito com o nome de Orixá
Malé, este responsável por desmanchar trabalhos de baixa magia, espírito que, quando em demanda
era agitado e sábio destruindo as energias maléficas dos que lhe procuravam.
Dez anos após a fundação da Tenda Nossa Senhora da Piedade (registrada como tenda
Espírita, porque não era aceito na época, o registro de uma entidade com especificação de
Umbanda), o Caboclo das Sete Encruzilhadas declarou que iniciava a segunda parte de sua missão:
a criação de sete templos , que seriam o núcleo do qual se propagaria a religião da Umbanda.
Em 1935, estavam fundados os sete templos idealizados pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas - Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade; Tenda Espírita Nossa Senhora da
Conceição; Tenda Espírita Santa Bárbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá; Tenda
Espírita São Jorge e Tenda Espírita São Jerônimo - sendo curiosa a fundação do sétimo templo.
Faltava um dirigente adequado ao mesmo, quando numa noite de quinta feira, José
Alvares Pessoa, espírita e estudioso de todos os ramos do espiritualismo, não dando muito crédito
ao que lhe relatavam sobre as maravilhas ocorridas em Neves , resolveu verificar pessoalmente o
que se passava. Logo que assomou à porta da sala em que se reuniam os discípulos do Caboclo das
Sete Encruzilhadas, este interrompeu a palestra e disse :

 “Já podemos fundar a Tenda São Jerônimo. O seu dirigente acaba de chegar.”
O Sr. Pessoa ficou muito surpreso, pois era desconhecido no ambiente. Não anunciara a
sua visita e viera apenas verificar a veracidade do que lhe narravam. Após breve diálogo, em que o
Caboclo das Sete Encruzilhadas demonstrou conhecer a fundo o visitante, José Alvares Pessoa
assumiu a responsabilidade de dirigir o último dos sete templos que a entidade criava.
Dezenas de templos e tendas porém, seriam criados posteriormente, sob a orientação
direta ou indireta do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em 1939, o Caboclo das Sete Encruzilhadas
determinou que se fundasse uma federação (que posteriormente passou à denominação de União
Espírita de Umbanda do Brasil, segundo relata Seleções de Umbanda n.º 7 1975), para congregar
templos umbandistas e que deveria ser o núcleo central desse culto, em que o simples uniforme
branco de algodão, dos médiuns estabelecia a igualdade de classes e a simplicidade do ritual
permitida.

8
As sete linhas que foram ditadas para a formação da Umbanda são: Oxalá, Iemanjá,
Ogum, Iansã, Xangô, Oxossi, e Exu. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de
10.000 tendas a partir das acima mencionadas. Zélio nunca usou como profissão a mediunidade,
sempre trabalhou para sustentar sua família e muitas vezes para manter os templos que o Caboclo
fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que
segundo dizem parecia um albergue. Nunca aceitara ajuda monetária de ninguém; era ordem do seu
guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele. O ritual sempre foi simples. Nunca foi
permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques ou qualquer outros objetos e adereços.
Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas
pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu
ritual até hoje. As guias usadas eram apenas as determinadas pelas entidades que se manifestavam.
A preparação dos médiuns era feita através de banhos de ervas e do ritual do amaci, isto é, a
lavagem de cabeça onde os filhos de Umbanda afinizavam a ligação com a vibração dos seus guias.
Após 55 anos de atividade, entregou a direção dos trabalhos da Tenda Nossa Senhora da
Piedade a suas filhas Zélia e Zilméia. Mais tarde junto com sua esposa Maria Isabel de Moraes,
médium ativa da Tenda e aparelho do Caboclo Roxo fundaram a Cabana de Pai Antônio no distrito
de Boca do Mato, município de Cachoeira do Macacú – RJ. Eles dirigiram os trabalhos enquanto a
saúde de Zélio permitiu. Faleceu aos 84 anos no dia 03 de outubro de 1975.

9
Gabriel Malagrida...

Texto encontrado em pesquisa, durante periódo de desenvolvimento mediúnico, para estudo e


aprendizagem das origens da religião. Vale ressaltar, os fatos relatados quanto a vida terrena do Frei
Gabriel Malagrida, como foco principal da pesquisa. Foi escrutinado e debatido entre os irmãos e os
dirigentes espirituais da casa. Foi considerado fidedigno ao ocorrido.

Gabriel Malagrida foi um missionário italiano jesuíta, nascido em Mennagio a 5 de


Dezembro de 1689 e falecido em Lisboa, a 21 de Setembro de 1761 garrotado e queimado na
fogueira. Malagrida tornou-se jesuíta em 23 de Outubro de 1711, tendo partido para as missões no
Brasil, em 1721. Evangelizou os índios do Brasil, sobretudo nas regiões do Maranhão e do Pará.
Prosélito da fé e inflamado pregador, ficou afamado como o “Apóstolo do Brasil”, tendo passado
pelo Maranhão, Pará, a Bahía e Pernambuco.
Malagrida voltou a Lisboa em 1750 e tendo aí assistido aos últimos momentos da vida
do rei D. João V, tendo permanecido nessa cidade até 1751. Neste ano, regressou de novo ao
Maranhão tendo aí estado até 1754, ano em que regressou definitivamente para Portugal a rogo de
D. Mariana de Áustria. Este foi talvez o maior erro da sua vida, como veremos.
Muito religioso, aproveitou o terremoto de 1755 para exortar os lisboetas à reforma dos
seus costumes. Acicatado pela explicação das causas naturais da catástrofe, que circulou em folheto
mandado publicar pelo poderoso ministro do rei D. José I, o Marquês de Pombal, escreveu uma
pequena obra chamada Juízo da verdadeira causa do terremoto (1756) em que este se reputava de
castigo divino e em que defendia que o infortúnio dos desalojados, se consolava com procissões e
exercícios espirituais.
O Marquês de Pombal, contudo, não gostou do que Malagrida escreveu e dando-se
como aludido naquela obra, ele que não gostava de ser criticado, decidiu desterrá-lo para a cidade
de Setúbal. Nesse desterro, Malagrida era visitado por muitas pessoas, e entre elas por membros da
família Távora, tão odiada pelo marquês de Pombal. O suposto atentado de 3 de Setembro de 1758,
e o processo dos Távoras que se lhe seguiu, proporcionou a Pombal a ocasião para perseguir
Malagrida ainda com mais severidade e denunciá-lo à Inquisição como falso profeta, impostor e,
pior de tudo, de ser um herege, o que equivalia à morte na fogueira. Septuagenário, alquebrado
pelos trabalhos passados e pela prisão doentia, tornou-se demente, continuando a defender
obstinadamente as suas crenças. Entregue à Inquisição de Lisboa e após um processo, considerado
por vários historiadores de algo grotesco, foi acusado de herege e posteriormente foi condenado ao
garrote e fogueira no auto-de-fé de 21 de Setembro de 1761, tendo sido queimado no Rossio, a
praça principal de Lisboa.
No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz com 17 anos de idade,
que preparava-se para ingressar na carreira militar na Marinha, começou a sofrer estranhos
"ataques". Sua família, conhecida e tradicional na cidade de Neves, estado do Rio de Janeiro, foi
pega de surpresa pelos acontecimentos. Esses "ataques" do rapaz, eram caracterizados por posturas
de um velho, falando coisas sem sentido e desconexas, como se fosse outra pessoa que havia vivido
em outra época. Muitas vezes assumia uma forma que parecia a de um felino lépido e
desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas da natureza. Após examiná-lo durante vários
dias, o médico da família recomendou que seria melhor encaminhá-lo a um padre, pois o médico
(que era tio do paciente), dizia que a loucura do rapaz não se enquadrava em nada que ele havia

10
conhecido. Acreditava mais, era que o menino estava endemoniado.
Alguém da família sugeriu que "isso era coisa de espiritismo" e que era melhor levá-lo à
Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza. No dia 15 de novembro, o
jovem Zélio foi convidado a participar da sessão, tomando um lugar à mesa. Tomado por uma força
estranha e alheia a sua vontade, e contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer
dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse:

 “Aqui está faltando uma flor.”


Saiu da sala indo ao jardim e voltando após com uma flor, que colocou no centro da
mesa. Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes. Restabelecidos os trabalhos,
manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios. O diretor
dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e advertiu-os com aspereza, citando o “seu atraso
espiritual” e convidando-os a se retirarem. Após esse incidente, novamente uma força estranha
tomou o jovem Zélio e através dele falou:

 “Por que repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas
mensagens? Será por causa de suas origens sociais e da cor?”
Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e
afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura. Um médium vidente
perguntou:

 “Por quê o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de
espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente
atrasados? Por quê fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um
jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?”

 “Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para
mim, não haverá caminhos fechados. O que você vê em mim, são restos de uma
existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria
fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha
última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo
brasileiro.”
Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral:

 “Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de
novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em
que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano
Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a
igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”
O vidente retrucou:

 “Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?”


Perguntou com ironia. E o espírito já identificado disse:

 “Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã
iniciarei.”

11
Para finalizar o caboclo completou:

 “Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico
ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais na morte, mas vocês, homens
preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar
essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Porque não podem nos
visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas
socialmente importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?”

No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se
aproximar a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para
comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos,
amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos. Às 20:00 h, manifestou-se o
Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um novo culto, em que
os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não
encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas em
sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria; e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar
em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição
social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto,
que teria por base o Evangelho de Jesus.
O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam
chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias, das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam
uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento
Religioso que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a Caridade.
A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da
Piedade, porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como
filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto. Ditadas as bases do culto, após responder
em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas
passou a parte prática dos trabalhos. O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado.
Passou a atender outras pessoas que haviam neste local, praticando suas curas.

12
A História da Umbanda: outra abordagem...

Texto encontrado em pesquisa, durante periódo de desenvolvimento mediúnico, para estudo e


aprendizagem das origens da religião.

Vários cultos até hoje praticados no Brasil começaram na África, muito antes do período da
escravidão, onde basicamente predominavam três religiões: cristianismo, islamismo e religiões
tribais ou primais. Na realidade, os cultos afro-brasileiros vêm da prática religiosa politeísta das
tribos. Por isso, cada uma tem a sua forma peculiar de chamar o nome de Deus, promover seus
cultos, estruturar sua organização, celebrar seus rituais, contar sua história e expressar as suas
concepções através dos símbolos.
Os cultos afros, inicialmente, eram ritos de preservação cultural dos grupos étnicos.
No Brasil, eles associam-se à vinda de escravos negros trazidos de lugares como Nigéria, Benin e
Togo. E também estão profundamente ligados à preservação da cultura, da arte e da religião dos
negros. Em diferentes momentos da história, aos poucos, as religiões afro-brasileiras foram se
formando nas mais diversas regiões e estados. É justamente por isso que elas adotam diferentes
formas e rituais, diferentes versões de cultos.
A Umbanda, historicamente, além de possuir suas raizes na África, possui também, por
escala, raízes no Egito Antigo. A adoração aos Nétheres egípcios é a mesma realizada pela
Umbanda aos Caboclos e Caboclas. Seus rituais são como uma canção às qualidades divinas. Estes
rituais cultuam estas qualidades tão bem expressas pela “Árvore da Vida” kabalística. Segundo
especialistas, “a Umbanda é uma grande colcha de retalhos”. Retalhos colhidos nas mais diversas
tradições religiosas: Candomblé, Catolicismo, Judaísmo, Kardecismo, Budismo, Hinduísmo,
Pajelança, Lamaísmo e outras mais. A tudo isto soma-se a pitada do brasileiro já tão mesclado em
sua raça. Esta é a Umbanda, religião genuinamente brasileira, renascida em terras brasileiras.
Por isso, afirmam que a Umbanda apresenta-se codificada de tal forma que permite
dicussões sobre seus conceitos e sobre a maneira em que são apresentados.
Como religião organizada a Umbanda surgiu por volta de 1920, em Niterói, Rio de Janeiro,
registrada oficialmente pelo capitão José Álvares Pessoa.
Datas históricas:

 15 de novembro de 1908 - Zélio de Moraes, naquela época muito jovem, se reúne pela
primeira vez com o presidente da Federação Espírita de Niterói, José de Souza e demais
membros da diretoria. Ali, tomado por uma força espiritual, ele recebeu os primeiros sinais
do Caboclo das Sete Encruzilhadas, embora não tivesse havido incorporação.

 16 de novembro de 1908 - Primeira sessão de Umbanda na casa de Zélio de Moraes. Ele


reuniu a família, vizinhos e amigos em Neves, Estado do Rio de Janeiro, no Brasil, e às 20
horas dessa noite, recebeu o espírito do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que conduziu o
processo de fundação da Umbanda até seu registro oficial em cartório, por José Pessoa.

 1939 - Foi fundada a federação União Espírita de Umbanda do Brasil, que tinha como meta
congregar os templos umbandistas e se tornar o centro da Umbanda.

13
Fundamentação Doutrinária:
Conceitos de Umbanda:
A Umbanda é uma religião natural que segue minuciosos ensinamentos de várias vertentes
da humanidade. Ela traz lições de amor e fraternidade sendo cósmica em seus conceitos e
transcendental em seus fundamentos.A essência, os conceitos básicos da Lei de Umbanda
fundamentam-se no seguinte:

 Existência de um Deus único.

 Crença de entidades espirituais em evolução.

 Crença em orixás e santos chefiando falanges que formam a hierarquia espiritual.

 Crença em guias mensageiros.

 Na existência da alma.

 Na prática da mediunidade sob forma de desenvolvimento espiritual do médiun.


Essas são as principais características fundamentais das Leis de Umbanda, uma religião que
prega a Paz, a União e a Caridade.
A origem da palavra Umbanda perde-se no tempo. São várias as definições que já foram
apresentadas a respeito deste nome tão sagrado. Na verdade, quando o vocábulo Umbanda começou
a ser introduzido pelos praticantes daquela nova religião, todos, de um modo geral, humildes o
bastante para permitirem serem instrumentos daqueles que iriam fazer grandes revelações, não
tiveram a preocupação de captar a verdadeira palavra mântrica que lhes estava sendo passada.
A origem do vocábulo está na raiz sânscrita AUM que, na definição de Helena Petrovna
Blavatsky, em seu Glossário Teosófico, significa a sílaba sagrada; a unidade de três letras; daí a
trindade em um. É uma sílaba composta pelas letras A, U e M (das quais as duas primeiras
combinam-se para formar a vogal composta O). É a sílaba mística, emblema da divindade, ou seja,
a Trindade na Unidade (sendo que o A representa o nome de Vishnu; U, o nome de Shiva, e M, o de
Brahmâ); é o mistério dos mistérios; o nome místico da divindade, a palavra mais sagrada de todas
na Índia, a expressão laudatória ou glorificadora com que começam os Vedas e todos os livros
sagrados ou místicos.
Já a palavra Bandha, também de origem sânscrita, no mesmo glossário significa laço,
ligadura, sujeição, escravidão. A vida nesta terra. Assim, analisando as duas palavras, podemos
definir a Umbanda como sendo o elo de ligação entre os planos divino e terreno. Infelizmente, na
época da revelação da Umbanda em terras brasileiras, não houve a preocupação em se manter a
integridade do vocábulo. A palavra mântrica Aumbandha foi sendo passada de boca a ouvido e
chega até nós como Umbanda.
Pelo seu uso, o termo Umbanda, hoje já consagrado, ganhou força mântrica. Mas não
devemos nos esquecer desta origem tão sagrada. A Umbanda, em síntese, é o elo de ligação entre a
divindade e os seres humanos! É a manifestação do plano divino no plano físico. É o despertar de
Deus no coração dos homens. No entanto, a Umbanda não crê em entidades tutelares de forças
naturais. Esta é a concepção do Candomblé. A Umbanda crê em forças ou qualidades divinas que ao
penetrarem no campo áurico do planeta, sentem-se atraídas por determinados habitat’s da natureza.
As entidades cultuadas pela Umbanda, denominadas de Caboclos, Crianças, Pretos-Velhos,

14
Exus e Pomba-Giras, citando somente os mais cultuados, não são espíritos tutelares de forças
naturais. São seres como nós, que já viveram e estiveram encarnados, exatamente como nós,
diferenciando-se pelo seu elevado grau de espiritualização.
A Umbanda presta culto a todos os grandes Avatares como Jesus, Buddha e Krishna. Assim,
não somente o Mestre Jesus é o Mestre Supremo da Umbanda. Pela sua característica sincrética, a
Umbanda cultua todos estes grandes seres, devotando-Lhes posição especial.
Organização:
Em 1939, foi fundada a federação União Espírita de Umbanda do Brasil, com o objetivo de
congregar os templos umbandistas e se tornar o centro de referência da Umbanda. Com o avanço da
sociedade brasileira, a partir da segunda metade do século XX, diminuiu a diferença entre os cultos
afros, indígenas e europeus, e a Umbanda passou a ser praticada também por pessoas de outras
raças, tornando-se muito popular em todo o território nacional.
Na Umbanda o responsável pela coordenação dos “trabalhos” é o Dirigente Espiritual ou
Diretor Espiritual. Esse não possuem todos os conhecimentos como Babalorixá ou Yalorixá, bem
como não passa por todo o processo de preparação e aprontamento, visto que na Umbanda somente
é permitido o uso de ervas e jamais sangue (com exceção dos Exús).
A Umbanda se divide em 07(sete) linhas que são assim classificadas:
1ª Linha de Oxalá ou Linha de Santo: Nesta linha as falanges são de Santo Antônio, São Cosme e
Damião, Santa Rita, Santa Catarina, Santo Expedito e São Francisco de Assis. Esta linha é
responsável por desmanchar os trabalhos de magia.
2ª Linha de Yemanjá: Tem falanges das sereias que tem por chefe Oxum. Ainda nessa linha temos a
falange das ondinas chefiada por Nanã; falange das caboclas do mar; Indaiá da falange dos Rios;
Yara dos marinheiros e Tarimã das Calugas-Caluguinha da Estrela-guia.
3ª Linha do Oriente: Subdividida pelas falanges do Hindus, dos médicos, dos árabes, chineses,
oriente, romanos e outra raças européias.
4ª Linha de Oxosse: Dividida nas falanges de Urubatão, Arariboia, Caboclo das Sete Encruzilhadas,
Caboclo Sete Flechas, Águia Branca e muitos outros índios chefes falangeiros que protegem contra
magia, dão passes e ensinam o uso das plantas medicinais.
5ª Linha de Xangô: Dividida nas seguintes falanges: falange de Yansã, do Caboclo do Sol, Caboclo
da Lua, Caboclo da Pedra Branca, Caboclo do Vento e Caboclo Treme-Terra.
6ª Linha de Ogum: Dividida nas falanges de Ogum Beira-Mar, Ogum Iara, Ogum Megê, Ogum
Naruê, Ogum Rompe-Mato, esta linha protege os filhos contra as brigas, lutas e demandas.

7ª Linha Africana: Dividida nas falanges do Povo da Costa, Pai Francisco, Povo do Congo, Povo de
Angola, Povo de Luanda, Povo de Cabinda e Povo de Guiné, eles prestam caridades e orientam os
fiéis para a prática do bem.
Povo de Rua (Exú e Pomba-Gira): Povo de rua, compadres e comadres são denominações usadas na
Umbanda para classificar entidades que trabalham num plano astral evolutivo. Estas entidades em
alguns casos equivaleriam aos Exus das casas de Candomblé, frizo, em alguns casos, pois na
verdade estas entidades trabalham e se portam de forma especial em seções particulares para elas
(veja a página Os Exús).

15
Cultos e rituais:
A Umbanda é uma das mais lindas expressões religiosas existentes. Religião que tem por
base a prática da caridade e tem em uma de suas funções a elevação espiritual do médiun e das
entidades que governam o próprio médiun. A Umbanda é uma grande expressão religiosa nacional
com maiores laços com o Rio de Janeiro. Irradiou-se para os Estados de Minas Gerais, São Paulo,
Rio Grande do Sul e demais estados do Brasil e até nos E.U.A existem casas de Umbanda.
É um culto popular aceito em todas as camadas sociais e de fácil acesso. A Umbanda, embora tenha
origens em diversas raças e nações, torna-se simples à medida que o médiun adentra em seus
conhecimentos. Dentre muitas entidades que baixam nos inúmeros terreiros de Umbanda existentes,
cito como exemplo: Caboclos e Pretos-Velhos, que são considerados como tendo muita luz
espiritual, força e sabedoria. Em verdade, o ritual de Umbanda é uma variação de outros cultos,
baseada no espiritismo e como disse, tendo por base a caridade.

 Exú: preto e vermelho

 Ogum: vermelho e verde

 Oxósse: verde ou verde com branco

 Xangô: marrom

 Oxum: amarelo claro ou ouro

 Iemanjá: azul claro ou azul claro com branco

 Iansã ou Oiá: marrom ou marrom com vermelho

 Oxalá: branco
A Dedicação do Médiun de Umbanda:
A Umbanda apresenta como mensagem religiosa a prática da caridade pura, o amor
fraternal, a paz e a humildade. Ela também se propõe a produzir, pela magia, modificações
existenciais que permitam a melhoria de vida do ser humano. Através do ato da caridade e
dedicação espiritual é que o médiun de Umbanda vai adquirindo elevação e consciência do valor de
seu dom mediúnico, que na verdade foi lhe dado por Zambi para que se aprimorasse aqui na terra.
As incorporações, os passes e descarregos feitos pelo médiun de Umbanda são todo o
conjunto de afazeres espirituais que dia a dia fazem parte da vida do médiun. Portanto, o médiun é
patrimônio maior desta maravilhosa religião que é a Umbanda.
As sete forças de um Médium:
1 - O AMOR - É O Supremo Incriador, o Poder Absoluto que gerou a natureza e todas as outras
coisas É a força eterna, fonte do tudo e do nada. O amor é a base de tudo, envolve a estrutura de
todos os fatos no desenvolvimento.
2 - A PIEDADE - É o sentimento de devoção e de dar auxílio, ajudar, compadecer do sentimento
alheio. Bondade para com o próximo, que causa para o médium um bem-estar no ato. É a força
doada pelo Criador do Céu e da Terra, exemplificada na criação do Universo astral, como segunda
via de evolução para voltar ás origens.

16
3 - A HUMILDADE - É o sentimento de simplicidade nas expressões a si mesmo; submissão á
força superior; conhecimento de sua razão e respeito á do outro. Pedir com devoção conhecendo o
seu valor e o da fonte superior. Conhecer o seu lugar, o seu eu, a sua missão, para seguir o seu
caminho com resignação.
4 - A FÉ - É o sentimento da crença, do crédito, do valor recebido, a confiança, a graça alcançada
vinda de “cima”, das forças superiores. É também, complemento da força da humildade.
5 - A FIRMEZA - Esta é a força adquirida pela sabedoria. O equilíbrio de forças adquirido através
da pesquisa, do interesse, na busca dos conhecimentos das Leis Sagradas. Conhecendo estas Leis,
terá forças para saber como agir e porque agir. É saber pagar o que deve, para receber o que merece.
6 - A SEGURANÇA - Forca adquirida pelo conhecimento da origem das coisas. Só se sente seguro
em determinado lugar quem conhece profundamente este lugar. Quando estamos numa ponte, só
nos sentimos seguros quando vemos as suas estrutura, suas bases, o material de que é feita, quem a
fez e com que finalidade. Conhecendo a origem da ponte, então nos sentimos seguros. E nós, o que
somos?, Como nos sentimos seguros de nós mesmos sem conhecer a nossa origem!
7 - A FORÇA - É o conhecimento dos rituais e da magia. A força do médium depende de seus
conhecimentos da mística espiritual. Estes conhecimentos são adquiridos á medida que são
merecidos e dados ou autorizados pelo Pai de Coroa (guia de frente), seja ele de uma banda ou de
outra. Se o médium conhece as Leis Sagradas, ele sabe a que caminho leva uma banda ou outra, se
está na banda de Luz (quem conhece a Luz, também conhece as trevas e por isso prefere a Luz), seu
caminho será conduzido pela Luz. Se a força do médium é adquirida pelas trevas (quem vive nas
trevas é porque não conhece a Luz), seu caminho será conduzido pelas trevas. O símbolo da força
de um médium é o próprio ponto de força de seu Pai de Coroa
Conselhos para os Médiuns:
1º - Conserve sua saúde psíquica, vigiando seu aspecto moral:
a) não alimente vibrações negativas de ódio, rancor, inveja, ciúme, etc.;
b) não fale mal de ninguém, pois não é juiz, e via de regra, não se pode chegar às causas pelo
aspecto grosseiro dos efeitos;
c) não julgue que o seu guia ou protetor é o mais forte, o mais sabido, mais, muito mais do que o de
seu irmão, aparelho também;
d) não viva querendo impor seus dons mediúnicos, comentando, insistentemente, os feitos do seu
guia ou protetor. Tudo isso pode ser bem problemático e não se esqueça de que você pode ser
testado por outrem e toda a sua conversa vaidosa ruir fragorosamente.Dê paz ao seu protetor, no
astral, deixando de falar tanto no seu nome.Assim você está se fanatizando e aborrecendo a
Entidade, pois, fique sabendo, ele, o Protetor, se tiver mesmo “ordens e direito de trabalho” sobre
você, tem ordens amplas e pode discipliná-lo, cassando-lhe as ligações mediúnicas;
e) quando for para a sua sessão, não vá aborrecido e quando lá chegar, não procure conversas fúteis.
Recolha-se a seus pensamentos de fé, de paz e, sobretudo, de caridade pura, para com o próximo.
2º - Não mantenha convivência com pessoas más, invejosas, maldizentes, etc. Isso é importante
para o equilíbrio de sua aura, dos seus próprios pensamentos. Tolerar a ignorância não é partilhar
dela. Assim:
a) faça todo o bem que puder, sem visar recompensa ou agradecimentos;

17
b) tenha ânimo forte, através de qualquer prova ou sofrimento, confie e espere;
c) faça recolhimentos diários, a fim de meditar sobre suas ações;
d) não conte seus “segredos” a ninguém, pois sua consciência é o templo onde deverá levá-los à
análise;
e) não tema a ninguém, pois o medo é uma prova de que está em débito com sua consciência;
f) lembre-se de que todos nós erramos, pois o erro é humano e fator ligado à dor, ao sofrimento e
conseqüentemente, às lições com suas experiências. Sem dor, lições, experiência, não há carma, não
há humanização nem polimento íntimo, o importante é que não erre mais, ou melhor, que não caia
nos mesmos erros. Passe uma esponja no passado, erga a cabeça e procure a senda da reabilitação:
para isso, “mate” a sua vaidade e não se importe, de maneira alguma, com o que os outros disserem
ou pensarem a seu respeito. Faça tudo para ser tolerante, compreensivo, humilde, pois assim só
poderão dizer boas coisas de você.
3º - Zele por sua saúde física com uma alimentação racional e equilibrada:
a) não abuse de carnes vermelhas, fumo, álcool ou quaisquer excitantes;
b) no dia da sessão, não use carne, álcool ou qualquer excitante mais de uma vez;
c) de véspera e após a sessão, não tenha contato sexual;
d) mensalmente, na fase de lua crescente, use esse poderoso tônico neuropsíquico, sempre à noite:
uma colher de sopa de sumo de agrião, batido com duas colheres de sopa de mel de abelha. Pode
usá-lo antes de cada sessão em que for trabalhar;
e) todo mês deve escolher um dia para ficar em contato com a natureza, especialmente uma mata,
uma cachoeira, um jardim silencioso, etc. Ali deve ficar lendo ou meditando, pois assim ficará a sós
com sua própria consciência, fazendo revisão de tudo que lhe pareça ter sido positivo ou não, em
sua vida material, sentimental e espiritual.

18
Cumprimentos...

Transcrição de parte de uma palestra doutrinária, realizada por entidade espiritual incorporada.

Bom, em primeiro lugar no meu tempo nós nos cumprimentavamos da seguinte forma: os
irmão de santo apertando a mão e dizendo saravá, e ao pai ou mãe de santo, beijando sua mão e
pedindo a bença. Isto é claro na Umbanda.

Hoje em dia, damos as mãos e dizemos: “Salve!”, para irmãos e tomamos a bença do pai ou
mãe de santo (antes eles eram chamados de madrinha e padrinhos).

No candomblé de de Bosse-Alaketo (casa de Bará) o certo é chegar ao ilê, se despachar com


água, aguardar uns 20 minutos e jocarmos aos zeladores e demais cargos presentes e pedir-lhes a
bença (Mutumbá) pegando as mão deles e fazendo o sinal da cruz e depois beijando suas mãos
frente e verso, onde escutaremos a voz deles respondendo: “Mutumbá laxé”.

Sr. Zé do Coco

19
Preceitos...

Texto doutrinário da Fraternidade São Bartolomeu e utilizado para orientação aos irmão de fé.

Como em todo e qualquer dogma, a Umbanda também faz uso de preceitos específicos e
predeterminados. Na Umbanda os preceitos são abstenções voluntárias em benefício da positivação
ou negativação de cada um, e se dividem em 3 grupos distintos, à saber: Primordial, Opcional e
Ocasional
PRIMORDIAL: é o preceito indispensável à todos os médiuns sem exceção como
preparativo para os trabalhos mediúnicos nas sessões de terreiro, e se dividem em 7 itens:

 Isenção de sexo, pelo menos 8 horas antes do início dos trabalhos mediúnicos.
 Isenção de ingestão de produto animal que dependa do sacrifício do mesmo, inclusive
peixes, isenção esta à partir de 24 horas antes do trabalho mediúnico.
 Isenção nas 12 horas anteriores ao trabalho mediúnico, de maus pensamentos (ódio, orgulho,
inveja, vaidade).
 Uso de roupa apropriada e predeterminada para o trabalho mediúnico.
 Banho de descarga, conforme determinado a cada um.
 Pontualidade ao início da corrente fraterna.
 Entregar-se ao trabalho espiritual sem a preocupação com a hora do término do mesmo.

OPCIONAL: é o preceito que, em adendo ao primordial, é determinado pelo Orientador


Espiritual ou pelo Chefe do terreiro, para determinados médiuns:

 Isenção de produtos animais, mesmo que não dependam do sacrifício dos mesmos.
Exemplo: manteiga, queijo, ovos, leite, etc.
 Banhos de descarga especiais e específicos.
 Firmeza extraordinária do Anjo de Guarda.

OCASIONAL: é o preceito de emergência, o que é praticado em caso de emergência,


quando necessário ao trabalho mediúnico, fora da corrente fraterna.

 Firmar os Anjos de Guarda; o seu e da pessoa a ser atendida.

 Exigir no local o mais absoluto silêncio e concentração.

 Pedir licença e salvar o Orixá TEMPO.

 Mentalizar o Divino Nazareno, invocando à Ele a permissão do trabalho sem os preceitos


normais e rogando-lhe o auxílio do Astral Superior.

Independente de todos estes preceitos, todo médium deve abster-se durante o trabalho
mediúnico de jóias, bijuterias, objetos metálicos e dinheiro; enfim o médium deve procurar estar o
mais puro possível para ingressar na corrente .

20
Pontos Riscados...

Texto doutrinário extraído da apostíla de Pontos Riscados do Núcleo da Mata Verde, utilizado para estudos e
debates entre os irmão de fé com intermediação de entidade espiritual dirigente incorporada.

A Umbanda trabalha com linhas de trabalhos espirituais, qualquer trabalhador espiritual da


Umbanda sempre estará vinculado a uma linha. Uma linha de trabalho é formada por um conjunto
de falanges espirituais.
As sete linhas da Umbanda:
Como mencionamos acima, todos os trabalhadores espirituais da Umbanda sempre estão
vinculados a linhas espirituais de trabalho. Estas linhas de trabalhadores da Umbanda são
conhecidas como sete linhas da Umbanda. O conceito das sete linhas da Umbanda é muito antigo,
mas até hoje muito pouco compreendido.Vários foram os autores e pesquisadores umbandistas que
tentaram explicar este conceito das sete linhas da Umbanda, infelizmente interpretações
equivocadas acabaram gerando uma grande confusão. Atualmente existem muitas “sete linhas da
Umbanda”, algumas versões com 10, 14 e até 21 linhas. Para que todos possam entender de forma
bem simples, acreditamos que precisamos voltar a origem da Umbanda no principio do século XX.
A primeira codificação das sete linhas:
A primeira codificação das sete linhas da umbanda foi apresentada em 1932, pelo escritor
Leal de Souza. Leal de Souza era dirigente de uma das sete primeiras Tendas de Umbanda criadas
pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em 1932, Leal de Souza publica o livro “O Espiritismo, a
Magia e as Sete Linhas de Umbanda” onde apresenta pela primeira vez as Sete Linhas da Umbanda.
Observando as várias entidades espirituais que se manifestavam nos terreiros de umbanda
daquela época, Leal de Souza agrupou todas as entidades nas seguintes linhas: Linha de Oxalá,
Linha de Ogum, Linha de Oxossi, Linha de Xangô, Linha de Iansã, Linha de Iemanjá e a Linha das
Almas.
Em 1941 no primeiro congresso de umbanda estas sete linhas foram ratificadas como as sete
linhas da Umbanda. Na doutrina dos sete reinos sagrados adotamos exatamente estas sete linhas de
trabalho, como as sete linhas da umbanda.
Entrecruzamento energético:
Como já estudamos existem sete forças primordiais na natureza que estão vinculadas aos
sete reinos sagrados e que possuem propriedades físicas, etéricas, mentais, emocionais e espirituais.
Estas sete forças primordiais se mesclam na natureza e na dimensão espiritual formando os pontos
de força. A este processo chamamos de Entrecruzamento energético.
Pontos de força:
Pontos de força são regiões espirituais onde as sete forças primordiais se cruzam, formando
regiões energéticas vibracionais com as características das forças constituintes. A imagem abaixo
apresenta os pontos de forças espirituais e os entrecruzamentos energéticos. Para facilitar o
entendimento as sete forças primordiais foram numeradas e desenhadas com as cores
correspondentes. Linhas horizontais e linhas verticais e no cruzamento os diversos pontos de força,

21
para ajudar no estudo adicionamos os números de cada reino sagrado e os orixás regentes. À partir
das Sete Linhas da Umbanda encontramos quarenta e nove (49) pontos de forças As falanges
espirituais:
Falanges são agrupamentos de espíritos que possuem afinidades espirituais e vibracionais.
Cada pontinho preto da imagem acima é um ponto de força e a cada ponto de força vibracional se
associam as falanges espirituais. Em cada ponto de força podem existir varias falanges associadas
àquela natureza vibracional espiritual. Uma linha de trabalho espiritual nada mais é do que um
conjunto de pontos de força espiritual. Da geometria sabemos que uma linha é definida como um
conjunto de pontos, da mesma forma na umbanda, cada uma das sete linhas da umbanda é formada
por um conjunto de pontos de forças onde existem as várias falanges de trabalho.
Vamos exemplificar, descrevendo em detalhes a Linha de Ogum.
A linha de Ogum é uma das sete linhas da Umbanda e é representada na imagem pela linha
vermelha horizontal.
Formação espiritual da linha de Ogum:
Para facilitar o entendimento as forças primordiais foram numeradas de um (1) a sete ( 7). A
linha de número um (1), que tem a cor vermelha representa a força primordial Tatá pyatã, que é uma
força vinculada ao reino do fogo e tem como regente o orixá Ogum. É fácil perceber que a linha
vermelha se cruza com as demais linhas, formando os diversos pontos de forças (entrecruzamento
energético) e de onde são formadas as diversas falanges espirituais.
(1,1) Ponto de força formado pela força tatá pyatã pura Este ponto de força dará formação às
falanges de Oguns, que comandam a linha de Ogum na Umbanda. São falanges deste ponto de
força: Ogum Sete Espadas, Ogum sete Escudos, Ogum Sete lanças etc... Estas falanges atuam com a
energia primordial pura do reino do fogo que é regida pelo Orixá Ogum.
(1,2) Ponto de força formado pela força tatá pyatã e yby pyatã Este ponto de força dará
formação a falanges de Oguns, que atuam no reino da terra. São falanges deste ponto de forças
aquelas que se identificam como Ogum das pedreiras, Ogum sete pedreiras, Ogum sete montanhas,
Ogum das Cavernas, Ogum de Lei etc... São as falanges de Ogum que trabalham no reino de
Xangô. Os pontos cantados falam de Ogum e Xangô e os pontos riscados possuem sinais que

22
identificam os dois orixás. São falanges de espíritos que trabalham sob a supervisão de Ogum e
Xangô.
(1,3) Ponto de força formado pela força tatá pyatã e ybytu pyatã. Este ponto de força dará
formação a falanges de Oguns, que atuam no reino do ar. São falanges deste ponto de força aquelas
que se identificam como Ogum ventania, Ogum dos Ventos, Ogum Tempestade, Ogum sete raios
etc... São falanges de Ogum que trabalham no reino de Iansã. Os pontos cantados falam de Ogum e
Iansã e os pontos riscados possuem sinais que identificam os dois orixás. São falanges de espíritos
que trabalham sob a supervisão de Ogum e Iansã.
(1,4) Ponto de força formado pelas força tatá pyatã e y pyatã. Este ponto de força dará
formação a falanges de oguns, que atuam no reino das águas. Iemanjá é a regente deste reino, é
responsável pelas águas salgadas e oxum pelas águas doces. São falanges deste ponto de força
aquelas que se identificam como Ogum Iara, Ogum Beira Mar, Ogum Sete Ondas etc... São
falanges de Ogum que trabalham no reino de Iemanjá (Oxum). Os pontos cantados falam de Ogum
e Iemanjá (oxum) e os pontos riscados possuem sinais que identificam os dois orixás. São falanges
de espíritos que trabalham sob a supervisão de Ogum e Iemanjá.
(1,5) Ponto de força formado pelas forças tatá pyatã e Caá pyatã. Este ponto de força dará
formação a falanges de oguns, que atuam no reino das matas. São falanges deste ponto de força
aquelas que se identificam como Ogum Rompe Mato, Ogum das Matas etc... São falanges de Ogum
que trabalham no reino de Oxossi. Os pontos cantados falam de Ogum e Oxossi e os pontos
riscados possuem sinais que identificam os dois orixás. São falanges de espíritos que trabalham sob
a supervisão de Ogum e Oxossi.
(1,6) Ponto de força formado pelas forças tatá pyatã e Abá pyatã. Este ponto de força dará
formação a falanges de oguns, que atuam no reino da humanidade. São falanges deste ponto de
força aquelas que se identificam como Ogum Sete Estrelas, Ogum Matinata, Ogum de Malê etc...
São falanges de Ogum que trabalham no reino de Oxalá. Os pontos cantados falam de Ogum e
Oxalá e os pontos riscados possuem sinais que identificam os dois orixás. São falanges de espíritos
que trabalham sob a supervisão de Ogum e Oxalá.
(1,7) Ponto de força formado pelas forças tatá pyatã e Anga pyatã. Este ponto de força dará
formação a falanges de oguns, que atuam no reino das Almas. São falanges deste ponto de força
aquelas que se identificam como Ogum Megê, Ogum de Ronda, Ogum Naruê, Ogum Xoroquê etc...
São falanges de Ogum que trabalham no reino de Omulu (Obaluae). Os pontos cantados falam de
Ogum e Obaluae (ou Omulu) e os pontos riscados possuem sinais que identificam os dois orixás.
São falanges de espíritos que trabalham sob a supervisão de Ogum e Omulu.
A linha de Ogum que é uma das sete linhas da Umbanda possui portanto sete pontos de
forças, que darão formação a várias falanges. Este raciocínio é entendido a todas as sete linhas da
Umbanda, totalizando 49 pontos de energia vibracional. Uma linha de trabalho na Umbanda é
formada, portanto por falanges de espíritos que possuem afinidades espirituais com aquela energia
da linha.
Nomes de trabalho:
Todos os espíritos que trabalham na umbanda possuem um nome de trabalho. Este nome não
é o nome que aquele espírito utilizava quando viveu no planeta. O nome de trabalho é um nome que
identifica a falange que aquele espírito está ligado, e é também o nome da falange que pertence. Por
exemplo, um Ogum Sete Ondas pertence a falange de Ogum Sete Ondas. O nome de trabalho,
portanto irá identificar a linha, qual orixá está vinculado, quais suas ordens de trabalho, forças

23
espirituais que movimenta e qual a falange que está vinculado.
Por exemplo, um Caboclo que se identifica com o nome de Caboclo Pedra Preta, significa
que está vinculado aos orixás Xangô e Obaluae (omulu), aos reinos da terra e das almas e
movimenta as forças Yby Pyatã e Anga Pyatã. O termo Pedra identifica o reino da Terra (Xangô) e
o termo Preta a cor do sétimo reino (Omulu/Obaluae). Lembrando que o Caboclo Pedra Preta
pertence a falange dos Caboclos Pedra Preta.

Além do nome de trabalho os espíritos utilizam os Pontos Riscados para se identificarem.


Organização espiritual da Umbanda:
É importante registrar que para entendermos os pontos riscados das entidades que trabalham
na Umbanda será necessário conhecer bem os princípios seguidos por aquele Terreiro onde a
entidade se manifesta. Em nosso caso estamos apresentando os conceitos referentes a doutrina dos
sete reinos sagrados. Os princípios fundamentais da doutrina já foram apresentados acima e agora já
podemos partir para estudar os sinais riscados.
O ponto riscado de identificação de um espírito irá mostrar de forma semelhante ao nome de
trabalho, embora mais elaborado, as informações de trabalho daquele ser espiritual. O ponto riscado
da entidade irá apresentar qual sua linha de trabalho, sua falange, qual orixá está vinculado e quais
suas ordens de trabalho ou forças espirituais que movimenta. Para que possamos entender estes
sinais riscados será necessário que se conheça, muito bem, a organização espiritual da umbanda.
São conceitos importantes:

 Reinos: Fases da formação do planeta terra e que são utilizadas para identificação das
hierarquias espirituais.

 Hierarquias: Um conjunto de seres espirituais de diversos graus evolutivos.

 Linhas: Um conjunto de falanges espirituais, ligadas ao orixá regente daquela linha.

 Falanges: Um grupo de espíritos ligados por afinidades a um ponto de força.

 Pontos de força: Pontos de energia vibracional espiritual formado pelo entrecruzamento das
forças primordiais das sete linhas da Umbanda.

 Espírito: Uma consciência que já viveu encarnada no planeta e agora atua como trabalhador
da umbanda, podendo ser um Guia ou um Protetor espiritual.
Aruanda e o Conselho dos Morubixabas:
Aruanda é uma região existente no plano espiritual de onde provêm todos os trabalhados da
Umbanda. Quando falamos em trabalhadores estamos falando naqueles que estão encarnados
(médiuns, cambones e ogans) e também de todos os demais espíritos que se manifestam nos
Terreiros. Aruanda é comandada pelo Conselho dos Morubixabas, órgão maior formado pelos
espíritos ancestrais que dirigem as atividades de Aruanda e de todos os Terreiros de Umbanda.
Embora nem todos os médiuns e dirigentes umbandistas tenham consciência (se recordem), todos
nós viemos com ordens, instruções e orientações do Conselho dos Morubixabas para trabalharmos
espiritualmente na umbanda.

24
Os Pontos Riscados:
Existem diversos tipos de pontos riscados e com diversas finalidades.
Neste curso iremos estudar somente os Pontos de Identificação das entidades que trabalham
na Umbanda. Os conceitos básicos serão apresentados neste curso, e num segundo curso iremos
apresentar os outros tipos de pontos riscados utilizados na magia da Umbanda.
Pemba:
É um giz utilizado para riscar os pontos de identificação. Sua origem é africana.

Estudando os Pontos Riscados:


Para entendermos bem os pontos riscados será necessário conhecermos bem os sinais que
identificam as sete linhas da Umbanda. Também será necessário saber onde e como estes sinais
estão grafados. Os pontos riscados podem ser abertos ou fechados, os pontos de identificação das
entidades na sua maioria são fechados. Ponto fechado é aquele onde os diversos sinais se encontram
dentro de um circulo.
Os sinais e as sete linhas:

 A linha de Ogum, vinculada ao primeiro reino tem como símbolos as espadas, lanças,
escudos e em alguns casos uma bandeira.

 A linha de Xangô, vinculada ao segundo reino tem como símbolos o machado de dois lados,
montanhas, pedreiras um triangulo.

 A linha de Iansã, vinculada ao terceiro reino tem como símbolos o raio e a espiral.

 A linha de Iemanjá, vinculada ao quarto reino tem como símbolos o coração e as ondas do
mar.

 A linha de Oxossi, vinculada ao quinto reino tem como símbolos o flechas, folhas, arco e
flechas.

 A linha de Oxalá, vinculada ao sexto reino tem como símbolo a estrela de cinco pontas.

 A linha de Omulu, vinculada ao sétimo reino tem como símbolo a cruz, cruzeiro das almas.
Lembre-se que os conceitos apresentados até este momento, são conceitos definidos na
doutrina dos sete reinos sagrados. Infelizmente muitos Terreiros não possuem estudos para seus
membros, o que acaba gerando uma grande confusão. Ao pesquisarmos os diversos tipos de pontos
riscados existentes, nem sempre iremos encontrar uma concordância doutrinária com os princípios
da doutrina dos sete reinos sagrados. A falta de estudos, o animismo existente em muitos médiuns, e
até a má fé de algumas pessoas ajudaram a criar este clima de confusão existente em relação aos
Pontos Riscados de identificação das entidades.

CONFORME PRINCÍPIOS DA DOUTRINA DOS SETE REINOS SAGRADOS


Manoel Lopes
2015

25
Cavalos, Entidades, Guias e Banhos...

Síntese de pesquisa na rede mundial, para uso em debates durante desenvolvimento mediúnico,
com intermediação de entidade espiritual incorporada.

A Mediunidade
Na Umbanda, a mediunidade assume a característica de dom sagrado. Sem este dom, na
realidade, não existiria a Umbanda na Terra. Mas o que vem a ser mediunidade? Por definição, é a
capacidade humana de perceber a realidade dos seres e coisas que normalmente não são percebidas
pelos nossos 5 (cinco) sentidos.
Todos os seres humanos a possuem, em graus variáveis de sensibilidade, mas, no momento,
são poucos os seres humanos que a possuem em grau suficiente para poder utilizá-la, como
instrumento ou meio de contato entre as duas realidades: a visível e a invisível. Quero dizer que
todos os seres humanos são influenciáveis pelos espíritos, mas nem todos precisam desenvolver ou
cumprir missão. Como distinguir uns dos outros ?
A mediunidade é um dom natural naqueles em que se manifesta espontaneamente. Causa
primeiramente uma série de distúrbios de caráter variável: mental, emocional ou físico. Ou ainda
através de insucessos na vida pessoal, nas áreas afetivas ou produtivas. Estes distúrbios já são o
indício da faculdade e obrigam o indivíduo a procurar ajuda. Durante o processo de receber esta
ajuda, podem se iniciar as manifestações das Entidades Espirituais ou não. Basicamente, a própria
manifestação espontânea do dom e o seu grau são o parâmetro.
Na Umbanda, nós consideramos que o próprio karma individual do ser humano o conduz e
faz a mediunidade aflorar ou não. Mesmo nestes casos de mediunidade aflorada, existem pessoas
que não tem karma missionário. Nestes casos, a mediunidade é considerada “de provação”.
Algumas vezes, esta provação termina e surge o karma missionário. Em outras, o indivíduo suporta
a sua prova durante toda a vida. Em casos raros, certos médiuns de mediunidade ostensiva
convivem com ela de forma harmoniosa, o que demonstra progresso realizado em vidas passadas.
Na realidade, a maioria dos médiuns com dom ostensivo, passa por fases diversas. Normalmente,
ele se inicia com o karma probatório e depois passa para o karma neutro. Após inúmeros esforços
verdadeiros e abnegados, caso se torne digno, entra no karma missionário, nesta ou em outras vidas.
À cada fase da missão, estes três karmas ressurgem em graus variáveis. Entre os que têm
dom ostensivo e karma missionário, existem aqueles que cumprirão sua missão na Umbanda e
aqueles que cumprirão em outras realidades, sendo que o próprio karma e o próprio dom os leva e
direciona, a uma ou outra realidade. Talvez agora nós perguntemos a nosso próprio respeito:
Será que estamos no lugar certo? Temos alguma missão real ?
Dentro de tantas variáveis, estas dúvidas são justas e estarão presentes durante algum tempo.
Só existe um meio de saber: “consultar a voz do teu coração”. Ela não te enganará. Observa se
realmente tens vocação, se te sentes feliz e impulsionado pelo teu Eu Interno a seguir o caminho.
Porque eu te digo:

– “Se tens uma missão, ela por si te chamará. Por Amor ou pela Dor, Tu encontrarás o
caminho. A Lei do Karma não falha.”

26
O desenvolvimento, na prática, é utilização, experimentação e educação. Na Umbanda exige
ainda iniciação e preparação ritualística. Dom mediúnico na Umbanda é verdadeiro caminho de
Evolução e Libertação. É um caminho difícil, que exige verdadeira vocação e coragem, além de
muito altruísmo, para ir até o fim.
Continuando a falar sobre mediunidade, a próxima pergunta, naturalmente, deverá ser sobre
os PERIGOS. Realmente eles existem e são de diversas naturezas, dependendo da tua formação
Moral e do teu Karma. Os primeiros perigos são aqueles, aos quais toda a humanidade está exposta,
uma vez que a faculdade é geral e consiste na atuação das forças ignorantes e hostis de encarnados e
desencarnados, que buscam nos dominar e usar, depois escravizar e destruir.
Os PERIGOS vindos do desenvolvimento são mais graves ainda. Os mais ocorrentes são
advindos do mau desenvolvimento, porque o progresso da mediunidade significa, maior
sensibilidade e exposição à atuação externa. Portanto, é dever de todo médium, além de desenvolver
o dom, realizar a sua Reforma Íntima a qualquer preço. Ter humildade para acatar a orientação do
seu desenvolvedor e de seu Guia espiritual. Verificar, antes de entregar a tua cabeça ao preparo, se o
teu preparador é Digno e tem para isso preparo e conhecimento.
Relembra o ensinamento de Jesus nesta hora: “Pelos frutos se conhece a árvore”. Mas, o pior
perigo é desviar este dom divino para o mau uso: magia negra, exibicionismo, exploração de
entidades para fins egoístas. isto é verdadeiro suicídio psíquico. Conforme a gravidade da falta,
pode ocorrer a morte da alma, além de acarretar ao eu divino, pesado karma.
Existem diversas modalidades de mediunidade ou dons. Elas variam, conforme as Entidades
utilizam seus médiuns, ou pela variação dos próprios médiuns. Existem médiuns que as possuem
em todas as modalidades e em graus elevados. São raríssimos e dentre eles, o mais conhecido é o
Sr. Chico Xavier, mas podemos usar uma classificação simples e mais acessível para facilitar a
compreensão de tema tão complexo:
1. Atuação Mental Intuitiva:
Pode ser percebida ou não pelo médium. No seu grau mais elevado, o médium recebe na sua
mente, da mente do Ser Comunicante, as idéias que expõe de forma consciente. É um estado de
transe, onde a mente do médium está hiper-consciente e ele se sente de posse aparente do seu corpo.
Neste estado podem ocorrer ou não os fenômenos de vidência e audição. Este tipo exige do médium
maior preparo moral e cultural, uma vez que ele deve possuir linguagem e conteúdo para passar a
mensagem da melhor forma possível, e distinguir o falso do verdadeiro.
2. Incorporação:
É uma atuação mental intuitiva que envolve os fenômenos orgânicos apreciáveis e sensíveis
pelos observadores e pelo próprio médium. Neste tipo ou fase, os organismos físico e mental
recebem fluídos mais densos em abundância. Eles dão origem aos fenômenos orgânicos,
coexistindo também com a atuação de complexos energéticos mentais, próprios a cada médium no
seu subconsciente. A transferência das idéias é por via mental e a fala é quase que automática,
variando esta transmissão de acordo com o grau de entrega ou resistência do médium.
Normalmente, o médium tem consciência do que o cerca, mas não tem domínio completo
sobre si mesmo. Esta consciência varia em graus até a inconsciência total, o que é raríssimo:
1/1.000.000. No momento do transe, o foco de consciência está interiorizado e parcialmente atuado
pelo Espírito Comunicante. Após o transe, o que se sente normalmente, é a sensação de ter passado
por um sono leve e ter sonhado. Logo tornamos a ter domínio total sobre nós mesmos e as
lembranças do que aconteceu durante o transe, vagarosamente se apagam ou se confundem como

27
em um sonho normal.
Observação: Nas duas modalidades, o médium percebe não apenas uma única Entidade
Comunicante, mas, muitas vezes percebe várias Entidades. Nas duas modalidades, a Entidade pode
comunicar-se pela escrita ou pela linguagem. Durante os transes de um mesmo médium, numa
mesma sessão, com a mesma Entidade, os fluídos variam em intensidade e a comunicação é
intermitente, variando também o comunicante. Em todas as modalidades, quaisquer que sejam os
médiuns, estes podem ser usados por entidades boas ou más.
3. Indução Hipnótica à distância:
Esta modalidade é a preferida pelos obsessores e pelas forças das trevas. Sua intensidade
varia e aquele que a sofre não se apercebe, até que seja tarde demais. Ela pode também ser usada à
distância. Esta é a faculdade geral da humanidade que, pelo seu atraso moral e excessivo
materialismo, é presa fácil dos mais cruéis inimigos encarnados e desencarnados. A vítima, em sua
consciência, está num estado entre o sono e a vigília, como se estivesse drogado ou alcoolizado. Sua
vontade é dominada e nesse estado, comete os piores desatinos, crimes e loucuras, muitas vezes
chegando ao assassinato ou suicídio. Também valem-se deste estado, os espíritos ligados à magia
negra para atuar sobre os seus escravos humanos.
Recordo que todas as modalidades, na realidade coexistem no mesmo médium e podem ser
utilizadas, tanto por bons quanto por maus espíritos, com o conhecimento e aceitação dos médiuns
ou não. Mesmo durante a incorporação do Guia de maior Luz, no melhor médium, pode ocorrer a
interferência de um mau espírito ou das próprias tendências inferiores e ilusões do médium. A
mistificação pode ser combatida e reconhecida pelo próprio médium ou por aqueles que o assistem.
Portanto, esteja alerta e seja humilde quando alguém te alertar do que aconteceu. Mesmo os maiores
e mais iluminados Mestres da humanidade atual foram tentados pelos maus espíritos.
Recorda a história de JESUS e do Senhor Buda. Medite sobre isto! Tenha esta verdade
sempre presente, verifique sempre se o conteúdo da mensagem obedece o Evangelho de JESUS. Se
os fluídos que te envolvem são bons e se teu próprio comportamento diário obedece o próprio
Evangelho. Na Umbanda, sabemos que são as nossas imperfeições que nos tornam vulneráveis.
Temos inúmeras técnicas para nos defender, mas são terapias de alívio e socorro. Apenas a Reforma
Íntima, a oração, a vigilância e a prática da caridade pura nos tornarão quase imunes. Portanto, se
meditares, compreenderás que a melhor forma de te defenderes, é conhecer o perigo e dele te
afastar.
Reconhecendo o perigo e imediatamente percebendo o ataque, poderás mais facilmente
proteger-se. Então, o trabalho na Umbanda também é um processo de auto-cura e auto-
aperfeiçoamento, na medida em que o teu trabalho abnegado com o teu dom, alivia e esclarece
carnados e descarnados. Enquanto você aprende, é aliviado, tornando-se cada vez mais consciente
da vida e de si próprio, das Leis que regem o Universo e os Seres.
Levando-se em conta que, a princípio, o dom mediúnico espontâneo, foi um dos
responsáveis pelos distúrbios que te trouxeram até aqui, conclui-se que educando o dom e
praticando a Espiritualidade e a Caridade, você novamente irá se harmonizar, estando bem mental,
emocional e fisicamente: Isto não impede que você continue sujeito às lutas da vida (cumprir
missão não dá privilégios, nem poderes extraordinários). Porém, lutará com forças redobradas, com
mais alegria e mais fé. Compreendendo a justiça das tuas dores, saberá se resignar e superá-las: A
cada dia, teu Amor a DEUS crescerá e com ele a tua autoconfiança, recebendo ainda auxilio da
Hierarquia Espiritual a qual você abraça.

28
As Entidades
O sucesso da Umbanda entre a população, principalmente as camadas mais desvalidas,
apoia-se essencialmente nas entidades com que seus seguidores se comunicam: são espíritos que,
sob a forma de índios, antigos escravos negros e Erês (crianças) apresentam-se e conversam com os
adeptos em pé de igualdade, sem qualquer indício de postura hierárquica. Quem são, afinal, estas
entidades?
São espíritos de índios e negros, que durante um longo ciclo de reencarnações adquiriram
mérito espiritual para, deixando de voltar ao mundo com um corpo, continuarem seu processo de
evolução ajudando a humanidade. Os chamados Erês são índios, negros e mestiços na mesma
situação, mas sob a entidade de crianças. Isto não quer dizer que essas entidades, em sua última ou
últimas encarnações, tenham sido um índio, ou um negro, antigo escravo.
É fácil reconhecer nos Caboclos, Pretos Velhos e Erês as três faixas etárias básicas do
homem: a de adulto, a da velhice e da infância, cada uma delas marcada por um aspecto da
personalidade - vigor e severidade, prudência e inocência. A essas entidades, mais do que seu papel
de curandeiros, de detentores de segredos das ervas, raízes, frutos e da magia, coube a tarefa de
conselheiros e orientadores da comunidade urbana que crescia. Com palavras simples e diretas nos
dão, ainda hoje, exemplos de acuidade psicológica e fraternidade, paciência e consolo.
O exemplo de um Preto Velho:
Com a implantação de fazendas de gado e cultura em solo Brasileiro, muitas vezes, ou quase
sempre sacerdotes do culto Africano chegavam trazidos como escravos pelos navios de
contrabandistas que ganhavam a vida destruindo a de outros. Entre estes chegava, então, um jovem
que estava predestinado a ensinar amor e sabedoria. Ainda, menino foi introduzido no trabalho
árduo e sem trégua. Por sua bondade e sabedoria logo cativou a todos, até mesmo seus senhores,
que, percebendo sua condição de tratar com animais feridos ou doentes, solicitavam sempre seus
serviços, logo estando, este que seria um sacerdote em sua terra, curando e tratando pessoas a
pedido de seus senhores. Era ele, então, tratado diferente em meio a tanta crueldade.
Com esta oportunidade tinha então, condição de cuidar dos seus, como predisse um escravo
já velho que morrerá em suas mãos: seria ele chamado de Pai pelos outros, por sua bondade de
empenho em socorrer a todos, não importando se era escravo ou branco. Todos eram socorridos por
Pai Preto, como era chamado pelos brancos. A fama de Pai Preto correu longe em solo brasileiro,
tanto que chegou, sem tardar, ao conhecimento dos missionários, vindos para catequizar os povos
da nova terra.
Pai Preto tinha, então, 85 anos, já velho e quase não mais conseguia andar, o que não
impedia de continuar com suas curas e benzeduras. Mas chegou a ordem, e a orientação: Pai Preto
era "feiticeiro" e devia morrer como todos de sua época. Os seus antigos senhores não tiveram
coragem de cumprir a missão e então combinaram de esconder Pai Preto e este ficaria assim até a
morte, cuidando, é claro, dos interesses de seus senhores. Mas Pai Preto, que nunca soube dizer não
ou se intimidar por qualquer perigo, não se deteve e continuou com suas mirongas, suas rezas e sua
caridade sem fim.
Logo a notícia correu, seria um fantasma ou quem sabe ele teria ressuscitado para desafiar
quem mandava? Nova ordem chegou: então o "feiticeiro" deveria ser desenterrado e sua cabeça
arrancada do corpo e enterrada em outro local, somente assim o "mal" deixaria de existir. Aqueles
que tentaram esconder Pai Preto, agora com medo, decidiram matá-lo e cumprir o que lhes foi

29
ordenado. Tendo assim, aos 86 anos, Pai Preto deixado o plano físico para trabalhar com suas
mirongas em planos mais elevados.
Hoje nós que aprendemos a amar a Umbanda, com toda sua sabedoria, aprendemos
sempre um pouco com aqueles que deixaram esta grande lição de vida e humanidade. Pai Preto é
hoje para nós pai Jeremias do Cruzeiro, que, ao lado de Omulú, traz a cura para os sofredores dos
dois planos.
Pai Jeremias recebeu de Oxossi o direito de trabalhar em sua vibração, o que para nós é
motivo de mais felicidade, pois como raizeiro e conhecedor das matas levou para o plano espiritual
este conhecimento para a benção dos filhos da terra. Salve Pai Jeremias! Salve todos os Pretos
Velhos! Salve Nossa Querida Umbanda!

Mensagem recebida por Wagner Melo Simões em 15 de junho de 1998

As Guias
Os colares usados na Umbanda são pólos de irradiação, pára-raios, defesa, patuás, bentinhos,
terços ou qualquer nome que queira dar, conforme crença, região ou língua. Na Umbanda há as
guias (colares), as pulseiras, braçadeiras (contra-eguns), patuás e outros elementos obedecendo os
seguintes preceitos:
Usa-se somente produtos naturais como: sementes, pedras, conchas, pedras preciosas e
semipreciosas (mesmo que lapidadas), cristais e outros.

• Jamais usa-se plástico ou outro produto artificial.

• Usa-se metal apenas quando o Guia Espiritual ou Orixá pede.

• Usam-se peles, partes de animais (dentes, guizos, unhas, etc.) sempre em harmonia com a
entidade a quem se oferta a guia.

• Dá-se preferencia a cordão de algodão (barbante cru) encerados (Fio de nylon somente em
último caso).

• As contas, sementes e outras peças devem formar múltiplos de 3, 7 ou 9. Todo material


pronto (Guia já fechada) deve ser cruzada.

• O cruzamento é feito pelo chefe do Terreiro (Mãe/Pai de santo) ou pelos Guias Espirituais.
Para montar uma guia, deve-se montar tranqüilo, sem agitação externa. Dependendo da
doutrina de cada terreiro deve ser feita uma firmeza no conga (ascendendo uma vela por exemplo)
antes de montar a guia. Lembre-se que cada peça da guia (conta, concha, semente, etc.) vai ter uma
oração dirigida a ela. Essas orações dadas pelos guias são para proteção, defesa, e aumentar a
vibração do médium que a usa. A guia é uma peça benta com força e irradiação para nos proteger e
aumentar nossa força, nossa vibração.
Os Banhos
Desde épocas remotas é conhecida a forma mágica das plantas e ervas medicinais. Daí os
banhos serem considerados veículos de purificação do corpo e da mente, incluindo-se no processo
de mediunidade dentro dos centros e terreiros de Umbanda e também de Candomblé. O banho de

30
descarga é um descarregamento dos fluídos pesados de uma pessoa. O banho de descarga mais
usado é feito com ervas positivas, variando de acordo com os fluídos negativos acumulados que
uma pessoa está carregando, e de acordo com os orixás que a pessoa traz em sua cabeça.
O banho de descarga com ervas deve ser tomado após o banho rotineiro, de preferência com
sabão da costa, sabão neutro ou sabão de coco. Um banho de descarga não deve ser jogado
brutalmente pelo corpo e sim suavemente, com o pensamento voltado para as falanges que vibram
naquelas ervas ali contidas. Por exemplo: se tomamos um banho com espada-de-são-jorge devemos
elevar o pensamento a Ogum Guerreiro. Se tomamos um banho de rosas brancas, mentalizamos as
águas de Oxalá, imaginamos Oxum e a falange do mar. E assim sucessivamente.
Ao tomarmos o banho de descarrego podemos também entoar um ponto cantado, chamando
os guias que vibram com aquelas ervas ali maceradas. Ao terminarmos o banho de descarga,
devemos recolher as ervas e "despachá-las" em água corrente ou na praia. Muitas Entidades pedem
ao final do banho, que deve ser acesa uma vela branca e rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria para
que Deus possa abençoar o corpo e a alma assim purificados.
Mas, não são apenas os banhos de ervas os usados para descarga, há outros, que são fortes
descarregos de maus fluídos. Por exemplo: os banhos de cachoeira, de mar, de água de Mina, de
chuva (axé de Nanã), de rio, etc. Hoje em dia há banhos de descarga que são comprados prontos,
mas não os recomendamos inteiramente, pois muitos não são preparados com o rigor que deveriam
ser. Pois para preparar um banho, devemos colher as ervas certas, caso contrário, não há efeito
positivo e/ou completo. Nesse sentido, é fundamental conhecer a época, dia e hora em que devemos
colher as ervas sagradas, bem como o modo de prepará-las e a sua real utilidade dentro do processo
de iniciação ou liturgia.
Nos candomblés quem colhe as ervas é o Mão-de-Ofã, ou Olofá, que antes de entrar na mata
saúda Ossãe (orixá das ervas e folhas) e oferece-lhe um cachimbo de barro, mel, aguardente e
moedas. Esse sacerdote que se dedica às folhas, nos cultos de Nação, é o babalossaim, e ele usa seus
dotes a cura, para a preparação de amacis e feitura de Santo no candomblé.
Na Umbanda, os Pais e Mães de Santo tem o conhecimento do uso das ervas e no preparo
delas. Mas, para nossos banhos de descarga, nós mesmos podemos comprar e/ou colher as folhas
(desde que você as conheça), e prepará-las em água fervendo. NÃO SE DEVE COZINHAR AS
ERVAS, e sim, colocá-las em águas fervendo, como uma infusão. Não se deve também deixar que
outras pessoas coloquem a mão no seu banho, ou seja, que preparem o banho para você (salvo a
situação em que uma Entidade Espiritual ou seu Pai ou Mãe de Santo autorize que outra pessoa faça
o banho no seu lugar).
O banho é a renovação do corpo e da alma, pois quando o corpo se sente bem e se acha
refeito do cansaço, a alma fica também apta a vibrar harmoniosamente. Os antigos hebreus já
usavam as abluções, que não deixavam de ser banhos sagrados. Moisés, o grande legislador hebreu,
impôs o uso do banho em seus seguidores. O batismo nas águas ministrado por São João Batista, no
Rio Jordão, era um banho sagrado, pois o batismo nas águas senão o banho mais natural (e porque
não o primeiro banho purificador do ser humano nos dias de hoje, afinal, se batizam crianças ainda
pequenos) que conhecemos, purificador do espírito, mente e do corpo.
Os banhos sempre foram um potente integrante do sentimento religioso, haja visto os povos
da Índia milenar serem levados a banhar-se nas águas do rio sagrado, o Ganges, cumprindo assim
parte de um ritual que, para eles, é indispensável e sagrado. Há em toda a época antiga um Rio
Sagrado, no qual os povos iam se banhar para purificar-se física ou mentalmente. Na África, a água
é tida como de grande poder de força e de magia. Vemos até hoje nos candomblés as Águas de

31
Oxalá. Águas nos potes e tigelas, além de mirongas com água e axé. E quem nunca viu ou ouviu
falar em lavar com água-de-cheiro as ESCADARIAS DO SENHOR DO BONFIM, em Salvador na
Bahia ?
Para nossos índios, hoje os Caboclos da Umbanda, o banho de Rio era alegria, prazer, lazer,
satisfação e descarga. O rio Paraíba é um rio sagrado para os Tupinambás. Nele os índios faziam
(ou fazem) seus rituais secretos.
A Utilização dos Banhos:
Em qualquer época, nos Centros e Terreiros de Umbanda, os banhos tem sido de grande
importância na fase de iniciação espiritual; por isso, torna-se necessário um grande conhecimento
do uso das ervas, raízes, cascas, frutos e plantas naturais. E como já sabemos, os banhos de ervas
devem ser preparados por pessoas especializadas dentro dos terreiros ou por você mesmo(a). Se
forem preparados por outra pessoa , que ela esteja com o seu corpo físico e seu corpo astral
purificados, pelo menos pelo banho de uma erva, e livres de excitações sexuais; nem por mulheres
na fase de menstruação (corpo liberto).
A orientação e o uso das ervas são atribuições dos GUIAS ESPIRITUAIS, das
ENTIDADES e dos ORIXÁS, através dos Chefes de Terreiros (Pais e Mães de Santo). Os banhos
de ervas, são classificados normalmente em três tipos: Banho de Descarga, Banho de Ritual e o
Banho de Iniciados. Todos os banhos de descarga devem ser tomados do pescoço para baixo; só se
deve jogar o banho na cabeça quando for indicado pelo Orixá Chefe do Terreiro, ou autorizado pelo
Babalaô ou Mãe de Santo. As folhas que caem dos banhos de ervas devem ser recolhidas e
despachadas (jogadas) nos locais apropriados; em geral, vasos grandes de plantas, jardins, num rio
ou mata, mas nunca no lixo e nem nas ruas. Há banhos para todos os Orixás e Entidades e sempre
que tiver dúvida consulte-os ou consulte um Pai ou Mãe de Santo sobre o banho a ser tomado.
Muitos banhos tem dia e hora para tomar, portanto, consulte um Pai ou Mãe de Santo se tiver
dúvidas.

32
O Terreiro...

Síntese de pesquisa na rede mundial, para uso em debates durante desenvolvimento mediúnico,
com intermediação de entidade espiritual incorporada.

A Gira
Há dois tipos de sessões ou giras: de desenvolvimento e de trabalho ou caridade. As giras de
trabalho são sessões públicas, onde os guias incorporam nos médiuns para atender ao público.
Quando você entra num terreiro de Umbanda, você estará pisando num local sagrado, num templo,
e cheio de energias, portanto a primeira coisa que se deve fazer é praticar o silêncio e a meditação.
Lembre-se também que num terreiro muitas energias são usadas, portanto evite o excesso de metais
no corpo (colares, pulseiras, relógios). As giras podem variar de terreiro para terreiro, sendo que
cada terreiro determina os dias e o horário, mas em geral podemos padronizar as giras da seguinte
forma:
Despachar Exu - antes de começar (abrir) a gira são cantados pontos para os exus, afim de
que estes entrem no terreiro (não há incorporação nessa parte) e retirem todos os pontos negativos,
inclusive retirando os zombeteiros (exus não doutrinados para trabalhar e ajudar) e protegendo a
porta (porteira) de cada pessoa, uma vez que deixaram suas casas para estar no terreiro.
Abertura da gira - Começa com o ponto cantado de Abertura de Gira e são feitas as
saudações a Oxalá. Em alguns centros é cantado o hino da Umbanda, em outros o hino é deixado
para o final. Muitos terreiros utilizam uma cortina para o conga, quando há a abertura da gira é
aberta a cortina. Depois da saudação, são puxados os pontos de cada orixá e entidade, sendo que o
primeiro ponto é de Oxalá. Enquanto são cantados os pontos, velas são acesas no congá, a atenção
fica por conta do Ogan, que deve acompanhar os pontos com o ponto firmado pela vela.
A Oração - Quando todas as velas estão acesas e todos foram saudados, então é feita a prece
que oficializará a abertura dos trabalhos. Essa prece é feita com um Pai-Nosso e uma Ave-Maria
seguida de um pronunciamento de fé do Pai ou Mãe de Santo. No momento da oração, todos devem
estar ajoelhados e nenhuma atabaque toca. O silêncio e a concentração na hora da oração é
imprescindível.
Defumação - Logo após a oração vem a defumação. A defumação é feita nos quatro cantos
do terreiro, no congá, na guia da Mãe/Pai de santo, passando pelos mesmos, daí segue a corrente:
Médiuns, fiscais e auxiliares, assistência.
Bater cabeça - Esse é o ato submissão em que nos abaixamos diante de Jesus e todos os
orixás, pedindo sua proteção. O médium se abaixa e toca suavemente a testa no chão, sim
suavemente, mostrando respeito pela terra que toca e sendo humilde ao se abaixar diante de Deus.
Em primeiro lugar são os pais de santo, depois pai e mãe pequeno do terreiro, seguidos dos
médiuns, cambones e tabaqueiros. O ponto de bater cabeça é tocado, porém existe um ponto
especifico para a Mãe/Pai de santo e outro para os demais. Após o ato de bater cabeça, todos estão
prontos para receber os orixás.
Os trabalhos (A incorporação, passes, consultas) - São chamadas as linhas que virão para
trabalhar nesse dia, em muitos terreiros há a separação do passe da consulta, ou seja, virá uma linha
para dar o passe e depois uma outra só para a consulta. Essa é, sem dúvida, a parte mais longa da

33
gira. Se for dia de homenagem a algum orixá, a homenagem será antes dos passes e das consultas.

Nem tudo é apenas paz e amor. As sessões em que os pretos-velhos, caboclos, crianças,
boiadeiros, baianos ou marinheiros descem para fazer o bem, ajudar as pessoas, contrapõem-se
outras práticas que recebem o nome de DEMANDA. Muitas vezes os problemas que as pessoas
enfrentam (desavenças familiares e conjugais, doenças, dificuldades nos trabalhos, etc.) são
atribuídas à inveja, e mais concretamente, a trabalhos que seus inimigos encomendam a
determinados espíritos.
Os guias de luz não aceitam esse tipo de solicitação, geralmente creditada a Exus e Pombas-
Giras zombeteiros, espíritos pouco evoluídos que, em troca de oferendas, não hesitam em fazer o
mal. Sabemos que esses exus e pomba giras que aceitam esse tipo de *serviço* são chamados de
zombeteiros. Para enfrentar essas demandas é preciso pedir ajuda às entidades que só trabalham na
direita, que irão coordenar os exus que são doutrinados e que trabalham no terreiro para o bem. A
Linha de Ogum, que ostenta o título de "Vencedor de Demanda", é a mais solicitada, uma vez que
Ogum é Chefe de Exu e orixá da Direita. Os despachos nas esquinas, por conseguinte, constituem
formas de manifestações e tentativas de resolução dos conflitos que são transpostos para a esfera
dos espíritos, encarnados por intermediários.
Fechamento - Após o atendimento, é feito o fechamento com uma oração (Pai-Nosso e Ave
Maria e um pronunciamento de fé sobre o trabalho) que oficializará o fechamento dos trabalhos e da
corrente. Muitos terreiros utilizam uma cortina para o congá, quando há o fechamento da gira é
fechada a cortina. Após a oração é cantado um ponto de fechamento de giras (trabalhos). Assim é
dado os trabalhos por encerrado nesse dia.

34
A Defumação...

Síntese de pesquisa na rede mundial, para uso em debates durante desenvolvimento mediúnico,
com intermediação de entidade espiritual incorporada.

Os antigos sábios eram muito cautelosos e minuciosos em relação aos rituais, na preparação
do ambiente, dos elementos de concordância, do incenso e dos ingredientes apropriados que tenham
relação com o astro que rege o dia, com os aromas que interfiram na nossa aura e com o meio
ambiente em que vivemos. Os incensos, usados de maneira correta, criam uma atmosfera no
ambiente, de energia, equilíbrio e harmonia, que ajuda o ser humano a sintonizar mais facilmente
com os planos superiores.
Como ainda hoje acontece, em épocas passadas o incenso era usado para quatro finalidades:
1) Para Agradar aos Deuses: Acreditava-se que o cheiro agradável e aromático que o próprio
homem sentia agradaria aos deuses ou à divindade. Vamos chamá-lo de função de oferenda do
incenso.
2) Meio de Oração: O incenso era visto como um meio para a oração. Acreditava-se que a
fumaça ascendente levaria aos deuses as petições daqueles que queimavam o incenso. Por causa de
seu cheiro agradável acreditava-se que deveria ser um meio ao qual os deuses não podiam se fechar.
3) Meio de Neutralização: O incenso era queimado para mascarar ou neutralizar o mau
cheiro oriundo de imolações (animais e outros materiais). Pela mesma razão também era usado nos
funerais.
4) Meio de Influência Inter-Humana:O aroma e as vibrações do incenso sintonizam aquele
que o queima com uma determinada finalidade ou dão um determinado estado de ânimo às diversas
pessoas que se encontram no ambiente onde o incenso é queimado. O aroma e as vibrações
despertam em todas as pessoas determinadas sensações e lembrança e sintonizam a psique e a
mente com certos objetivos.
Uso da Defumação na Umbanda:
O incenso tem a incumbência de levar a prece para o céu. Seu uso é universal, associando o
homem à divindade, o finito ao infinito, o mortal ao imortal. Relacionado ao elemento ar, representa
a percepção da consciência que (no ar) está presente em toda parte. Os diferentes perfumes
desempenham um papel de purificação, facilitando a ancoragem.
Os incensos devem sempre ser acesos com fósforos, por ser natural, nunca apagados com
um sopro, para que não seja passado para ele as impurezas do nosso corpo. Quando sentir que o
astral de sua casa está um pouco denso, ande com o incenso por todos os ambientes, chamando pelo
nome do seu anjo, ou então repita a oração: "Cada casa tem um canto, cada canto tem um anjo. Em
Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém."
Uma resina aromática extraída de determinadas árvores, cascas, condimentos, folhas, flores,
frutos...é denominada incenso. O resultado destas defumações de ambientes tem um significado
mágico-religioso que e adotado desde tempos remotos, pelos povos orientais como os chineses,
tibetanos, indianos e notadamente no Egito. Ao queimarmos incensos estamos ativando o plano
mental-intelectual que se manifestam no poder dos elementares do ar, e intensificando o fluxo de

35
comunicação com o universo e com as pessoas.
*Importante*
O ritual de queimar incenso não deve ser corriqueiro, principalmente quando envolve
pedidos de dinheiro e proteção. Mas se desejar usá-los com freqüência tenha o cuidado de escolher
aqueles de características calmantes ou espirituais.
No ritual de Umbanda:
Existem muitas formas de se defumar um terreiro de Umbanda. Pode ser usado os turíbulos
para as sessões (giras) ou então os tabletes (aqueles triângulos vendidos em caixinhas) para
defumação de sessões para atendimento pessoal (consulta fora dos dias de gira). Aqui
exemplificamos dois tipos de ritual para defumação:

Primeiro se defuma o congá (01); em seguida os atabaques e seus curimbeiros (02); depois
se cruza o terreiro saindo do canto esquerdo (03) do terreiro para o canto direito (04); logo em
seguida do canto direito (05) para o canto esquerdo (06); depois se defuma os médiuns* (07) - que
podem ficar em seus lugares ou podem se deslocar até o centro, onde está o Chefe do Terreiro. Após
a defumação de seus médiuns, defuma-se as pessoas que vieram ao centro - enfim o público (08) e
por fim, a Mãe/pai de Santo(09).
*Os médiuns devem esperar a defumação antes de colocarem suas guias. Ou seja, devem aguardar
descarregar as guias pela defumação antes de colocarem no pescoço.
Outro tipo de ritual, também encontrado em terreiros de Umbanda mais ligados a linha do
Kardecismo, podemos encontrar uma defumação da seguinte forma: primeiro defuma-se o congá
(01); em seguida defuma-se a Mãe/Pai de Santo e seus médiuns, incluindo os atabaques e seus
curimbeiros (02) e por fim o público (03), que pode adentrar ao círculo até o centro do Terreiro ou
então aguardar em seu lugar onde de fileira em fileira será passado o turíbulo para defumar. Em
geral a defumação na Umbanda limpa o terreiro e prepara a todos para receber a caridade. A
defumação é sempre acompanhada de pontos cantados específicos para defumação.

36
Pontos Cantados...

Síntese de pesquisa na rede mundial, para uso em debates durante desenvolvimento mediúnico,
com intermediação de entidade espiritual incorporada.

Dentro da ritualística de Umbanda, os pontos cantados são indispensáveis. São verdadeiras


preces cantadas, que expressam a fé, a mística, a magia da Umbanda. Mas hoje em dia,
infelizmente, existe muita adulteração. Antigamente – e mesmo hoje, em raros templos de Umbanda
– nossos mentores os ensinavam, cantando-os durante as giras. Quando uma Entidade Espiritual
(Caboclo, Pai-Velho, etc.) ensina um ponto cantado, dizemos que o mesmo é de raiz.
Hoje em dia os pontos cantados de raiz são raros. O que há é muito ponto cantado sem pé
nem cabeça, identificando o nível espirítico de quem os canta. Sim, temos observado, de há muito,
pontos cantados de uma pobreza franciscana no verso e na musicalidade, que acabam por fornecer
subsídios aos nossos mais fortes detratores. Este equívoco de muitos Irmãos em Fé já está sendo
corrigido e entendido em muitos lugares, pois os verdadeiros Umbandistas são pessoas simples,
honestas e bem intencionadas , que buscam de todas as formas melhorar seus rituais para melhor
atender-se ao objetivo e finalidade máxima da Umbanda, qual seja a prática da caridade, em todas
as suas formas e expressões. Deixemos para trás esses pontos desconexos, barulhentos, esquisitos,
jungidos às coisas do baixo mundo astral e que foram "feitos" por "veias poéticas" profanas de
visionários e fanáticos...pelo dinheiro!
Os verdadeiros pontos cantados são, como já dissemos, os de raiz, dados que foram por uma
Entidade Espiritual de fato e de direito. Expressam, de maneira sublime, uma mensagem, uma
emoção, um sentimento, uma imagem, um alerta, etc. Como podemos observar ao ouvi-los, além de
ativarem o misterioso fogo renovador da fé e do puro misticismo, movimentam uma linguagem
metafísica onde cada um entende, segundo seu alcance, várias mensagens. Com eles as Entidades
impregnam certas energias e desimpregnam outras, dependendo do ponto cantado no momento.
Antes de citarmos e traduzirmos um ponto cantado de raiz, vejamos como devem ser os
pontos e o que expressam, segundo cada uma das 7 Linhas Espirituais. Os pontos devem ser
entoados não apenas com a boca, mas sim, muito principalmente, pelo coração, ou seja, devem ser
sentidos, interiorizados.
A "corrente espiritual" de um terreiro, ou seja, os guias, os protetores, esperam que todos
entendam que os pontos cantados em verdade são o "roteiro vibratório" da gira. É o caminho
vibratório por onde uma gira vai encaminhar-se. Pontos cantados adequados e harmonicamente
cantados tornarão a gira tranqüila, proveitosa e organizada, dando-se o contrário quando os pontos
cantados forem inadequados e inabilmente entoados. Como já dissemos, os "verdadeiros" pontos
despertam a fé, a harmonia, o bom ânimo, o ajuste, etc.
Jamais os pontos cantados devem ser "gritados", entoados a plenos pulmões, ferindo a
sensibilidade astral de quem a tenha e mesmo de quem não a tenha. Pontos cantados altos, gritados,
ativam o ardor guerreiro, atávico, fetichista, atraindo esta classe de correntes de pensamento e
espíritos. Repetimos que os pontos cantados são verdadeiras preces, quando bem cantados, em cujas
letras realmente há imagens positivas, que elevam o tônus vibracional (energético) de todos,
facilitando a atuação das Entidades Espirituais em determinados médiuns e mesmo nos consulentes.
O ponto cantado de raiz (dado por uma verdadeira Entidade) não se limita a atuar em certas

37
pessoas através de reflexo condicionado. É importante que entendamos que a música é uma
combinação harmoniosa de sons. Como sabemos pela ciência oficial, todo som tem freqüência
peculiar, tendo cor e emitindo, atraindo ou dissipando certas energias. Além dos aspectos místicos, o
ponto cantado movimenta a magia de Umbanda.
"Procure entoar os pontos cantados adequadamente, sentindo-os e não apenas cantando-os.
Sinta-os em sua alma e verá, surpreso, como você canta bem, como você está bem. O ponto cantado
é o caminho vibratório por onde "anda" a gira. É o verbo sagrado, portanto entoe-os
adequadamente, harmoniosamente..."
Meu congá tem guiné...
pode pegar quem quiser!
Meu congá tem mironga...
só pega quem puder!
Quando "Pai Velho" diz "meu congá tem guiné...pode pegar quem quiser", está se referindo
às coisas que todos podem ver, às coisas externas, às coisas materiais. Continuando, quando diz
"Meu congá tem mironga...,só pega quem puder", esta frase diz que há coisas que os olhos da carne
não enxergam, mas há aqueles que enxergam o oculto, o real, o verdadeiro, o espiritual.
Simplificando, o congá mostra aquilo que todos querem ver ou ouvir, mas também mostra àqueles
que têm olhos e ouvidos que outros não têm. No congá há a forma, mas também há a essência, e
esta só pega quem puder.
Sequencia de Abertura
Corre gira pai Ogum Lá na porteira eu deixei um sentinela
Filhos quer se defumar Eu deixei seu Exú Tronqueira
Umbanda tem fundamento Tomando conta da cancela
Cheira incenso e benjoin, alecrim e alfazema Eu deixei seu Exú Tronqueira
Oi defuma filhos de fé com as ervas da Jurema Tomando conta da cancela
Defuma com arruda e guiné Lá na porteira eu deixei um sentinela
Alecrim, benjoim e alfazema Lá na porteira eu deixei um sentinela
Vamos defumar filhos de fé Eu deixei seu Exú 7 Encruzilhadas
Defuma Tomando conta da cancela
Defuma com arruda e guiné Lá na porteira eu deixei um sentinela
Alecrim, benjoim e alfazema Lá na porteira eu deixei um sentinela
Vamos defumar filhos de fé Eu deixei seu Exú 7 Encruzilhadas
Tomando conta da cancela
Vou abrir minha Jurema Lá na porteira eu deixei um sentinela
Vou abrir meu Juremá Lá na porteira eu deixei um sentinela
Vou abrir minha Jurema Eu deixei Maria Molambo
Vou abrir meu Juremá Tomando conta da cancela
Com a licença de Mamãe Oxum e de nosso pai Oxalá Eu deixei Maria Molambo
Com a licença de Mamãe Oxum e de nosso pai Oxalá Tomando conta da cancela
Lá na porteira eu deixei um sentinela
Lá na porteira eu deixei um sentinela Lá na porteira eu deixei um sentinela
Lá na porteira eu deixei um sentinela Eu deixei Maria da Estrada
Eu deixei seu Tranca Ruas Tomando conta da cancela
Tomando conta da cancela Eu deixei Maria da Estrada
Eu deixei seu Tranca Ruas Tomando conta da cancela
Tomando conta da cancela Lá na porteira eu deixei um sentinela
Lá na porteira eu deixei um sentinela Lá na porteira eu deixei um sentinela
Lá na porteira eu deixei um sentinela Eu deixei Exú Mirim
Eu deixei seu Exú Veludo Tomando conta da cancela
Tomando conta da cancela Eu deixei Exú Mirim
Eu deixei seu Exú Veludo Tomando conta da cancela
Tomando conta da cancela Lá na porteira eu deixei um sentinela
Lá na porteira eu deixei um sentinela Lá na porteira eu deixei um sentinela

38
Eu deixei todos Exús Antes de raiar o dia
Tomando conta da cancela Minha promessa irei pagar
Eu deixei todos Exús Vou saldar minha rainha
Tomando conta da cancela Vou jogar flores no mar
Salve, salve Iemanjá laia laia
Oxalá meu pai
Tem pena de nós Lá no cruzeiro das almas
Tenha dó Aonde as almas vão rezar
Oxalá meu pai Pois elas rezam, rezam de alegria
Tem pena de nós Quando os seus filhos combinam
Tenha dó Mas choram de tristeza
Se as voltas do mundo é grande Quando seus filhos não querem combinar
Seus poderes são maior
Se as voltas do mundo é grande Quem vence demanda é Ogum Megê
Seus poderes são maior Quem rola as pedras é Xangô Kaô
Flecha de Oxossi é certeira é
Ogum em seu cavalo corre É, é, é
E a sua espada reluz Oxalá é meu senhor
Ogum em seu cavalo corre Ô, ô, ô, ô
E a sua espada reluz Sete linhas na Umbanda
Ogum, Ogum Megê Sete linhas ei de vencer
Sua bandeira cobre os filhos de Jesus É na fé de Oxalá
Ogum, Ogum Megê Ninguém pode perecer
Sua bandeira cobre os filhos de Jesus Tem Oxum nas cachoeiras
Iemanjá, deusa do mar
Xangô, morreu com a idade E para nos defender
Morreu sentado numa pedra Tem Ogum para demandar
Foi ele quem escreveu a Justiça A, a, a, a
Quem deve paga
Quem merece, recebe Refletiu a luza divina
Em todo seu esplendor
Caboclo lindo da pele morena Vem do reino de Oxalá
Ele é Oxossi, caçador lá da Jurema Onde há paz e amor
Caboclo lindo da pele morena Luz que refletiu na terra
Ele é Oxossi, caçador lá da Jurema Luz que refletiu no mar
Mas ele é meu pai Luz que vem lá de Aruanda
Mas ele é meu guia Para tudo iluminar
Mas ele vai baixar A Umbanda é paz e amor
Na fé de Deus e da Virgem Maria Um mundo cheio de luz
É a força que nos dá vida
Eu vi mamãe Oxum na cachoeira A grandeza que nos conduz
Sentada na beira do rio Avante filhos de fé
Eu vi mamãe Oxum na cachoeira Como a nossa lei não há
Sentada na beira do rio Levamos ao mundo inteiro
Colhendo lírios, lírio ê A bandeira de Oxalá
Colhendo lírios, lírio â
Colhendo lírios, para enfeitar nosso congá Abre a porta, ó gente
Que aí vem Jesus
Iansã deusa maior Ele vem cansado
Iansã é moça rica Com o peso da Cruz
Iansã deusa maior Vem de porta em porta
Iansã é moça rica Vem de rua, em rua
Iansã é deusa dos ventos Para salvar as almas
Saravá moça bonita Sem culpa nenhuma
Iansã é minha mãe
Rainha do jacutá Já abri minha Jurema
Iansã é minha mãe Já abri meu Juremá
Rainha do jacutá Já abri minha Jurema
Vem gritando Eparrei ô Já abri meu Juremá
Roda que eu quero ver Com a licença de Mamãe Oxum e de nosso pai Oxalá
Filhos de Umbanda não tem querer Com a licença de Mamãe Oxum e de nosso pai Oxalá

Eu vou Vai, vai, vai


Eu vou levar Aos pés do Nosso Senhor
Um presente para Iemanjá laia laia Vai bater cabeça iaô
Um anel de pedraria Que Oxalá mandou
Para ela irei levar O iaô

39
Bate a cabeça Baba É pemba
Venha pedir a proteção para os seus filhos não cair
Bate a cabeça Baba Pai nosso que estais no céu
Venha pedir a proteção pros seus filhos não cair Santificado seja o vosso nome
Mas é babalaô, babalaô de Orixá Venha a nós o vosso reino
Mas é babalaô, babalaô de Orixá Seja feita a tua vontade
Assim na terra como no céu
Oi salve a pemba O pão nosso de cada dia nos daí hoje
Também salve a toalha Perdoai as nossas ofensas
Oi salve a pemba Assim como nos perdoamos
Também salve a toalha Aqueles que nos tem ofendido
Salve a coroa Não nos deixai cair em tentação
É de nosso santo Mas livrai-nos de todo mal
É maior Amém

Santo Antônio de Pemba Quem vem


Segura o terreiro, segura o congá Quem vem lá de tão longe
Pemba São nossos guias que vem trabalhar
Somos filhos de pemba Quem vem
E filhos de pemba Quem vem lá de tão longe
Não podem tombar São nossos guias que vem trabalhar
Pemba Oi, dá licença pelo amor de Deus
Mas como clareou Meu Pai
Pemba Oi, dá licença nos trabalhos meus
Mas como clareou Oi, dá licença pelo amor de Deus
Pemba Meu Pai
Santo Antônio de Pemba Oi, dá licença nos trabalhos meus

40
Amalás e Amacís...

Texto de pesquisa obtido na rede mundial e utilizado para estudo e debate entre os irmão de fé, com
intermediação dos dirigentes espirituais.

Amalá
A comida que se oferece ao Orixá é o Amalá e é um grande campo de força. Muita gente
pensa que a finalidade de um amalá é dar de comer aos espíritos. Erro grosseiro porque o espírito de
luz não tem nenhuma necessidade de comidas humanas, por não terem mais o corpo físico. O amalá
é um ritual que se faz com elementos que vibram na sintonia dos espíritos, que eles usam para criar
um campo de força. O amalá reúne a força do médium, do Orixá e dos espíritos que vêm aceitar e se
comprometer a executar o trabalho. Muitos pais-de-santo que por um motivo ou outro não possuem
terreiro, trabalham com muita eficiência somente através das entregas aos Orixás.
Em momentos de dificuldade, para a cura da saúde, o equilíbrio e a paz familiar, levantar as
forças pela energia, e muitas outras necessidades, um amalá bem feito e direcionado à entidade certa
resolve o problema. Pela quantidade de situações fica difícil enumerá-las nesta oportunidade. Cada
objetivo tem que haver um trabalho certo, com a entidade especialista, e tudo isso ainda sob a
inspiração de uma intuição. Essa matéria deve ser analisada quando estivermos mais aprofundados
nessas nossas conversações.
Vou fazer uma observação de grande importância: o umbandista pela sua religião que
manipula e usa a natureza como para seus trabalhos é um ecologista em potencial. Qualquer
material não biodegradável não deve ser deixado no local da entrega do amalá, exceto as velas que
se queimam e derretem. Se isso não for possível a pessoa tem a obrigação de ir um dois dias após
levantar toda a entrega feita. Os materiais usados nos amalás são: velas, charutos, cigarros, fumo,
caixa de fósforos entreaberta, frutas, comidas e bebidas. Todo esse material são biodegradáveis. O
alguidar que é onde se deposita a comida, segundo algumas correntes, forma uma ligação do amalá
com o elemento terra por ser feito de barro. Mas se a entrega for feita no chão, o contato se dá
mesma forma, razão porque recomendo que ao invés do alguidar, que se faça um canto bonito com
folhas naturais, como folha de bananeira e outras de forma larga, e que se use uma porunga
substituindo o alguidar de barro. Deixar ponteiro e facas que não têm nenhum efeito no amalá choca
com a natural energia ecológica do umbandista. Copos de vidro ou copos de plásticos também caem
no absurdo e no erro, por não terem nenhuma energia. Para a bebida deve ser usado um coitê e o
que sobrar na garrafa deve ser jogado em círculo em volta do trabalho. Não vejo necessidade das
fitas coloridas, se o trabalho pode ser cercado com raízes de folhagens extraídas do próprio mato.
Todo amalá deve ter um objetivo específico. Não se faz um amalá só por fazer. O termo
comumente usado para a feitura do amalá é “entrega”, o que não está errado considerando que
estamos depositando materiais para os espíritos os transformarem em um campo de força. Deve-se
imaginar que durante a construção de uma entrega o amor e carinho daquele que o está construindo,
de certa forma transmite sua energia. As vibrações do Orixá ajudam a aumentar a energia do
trabalho que será somado com a do espírito que for utiliza-lo.
A intuição deve fazer parte da construção de um amalá. Existem receitas das entregas de
cada Orixá ou espírito, mas ele não deve ser somente uma cópia. Alguns elementos que devem ser
acrescentados nos amalás, desde que não fuja da vibração do orixá a quem se entrega, vem por
intuição. O médium só se tornará independente, ou seja não vai depender da orientação de um
espírito incorporado, quando ele souber manipular os elementos que constroem um campo de força

41
através do amalá.

Quando estivermos falando sobre os elementos usados na Umbanda, como o fundango, ponteiros,
pembas e outros, vamos descobrir que eles dificilmente devem ser usados em uma entrega. Quem
faz uma entrega com materiais que possam agredir a natureza não deixa de ser um baita egoísta que
não se importa com a humanidade e o semelhante.
Amaci
É o batismo do médium na Umbanda, através de um ritual que integra o filho a religião. A
partir deste momento, alguns compromissos são firmados: do médium com suas entidades e do
médium com a Umbanda.
Neste ritual a cabeça do médium é lavada com ervas e bebidas do seu Orixá com o objetivo
de conectar o filho ao seu pai de cabeça. Um pano branco é utilizado para condensar a energia
despejada na coroa. A bebida utilizada é guardada numa espécie de pratinho de barro chamado
alguidar, que é alimentado pelos pais de santo e representa a firmeza do filho na casa.

Terreiro de Umbanda do Pai Maneco

42
Diversidade de rituais umbandistas...

Integra do texto de orientação doutrinária do Núcleo da Mata Verde.

É muito comum ouvirmos de pessoas que não são umbandistas, que a umbanda é uma
grande confusão. Algumas chegam a falar que a umbanda é “casa da mãe Joana”, onde cada um faz
o que quer. Não conseguem entender o motivo de um Terreiro não utilizar atabaques enquanto
outros utilizam; outros usam roupas coloridas enquanto outros usam somente o branco, outros não
trabalham com exus, enquanto outros fazem questão de trabalharem, outros criticam com rigor o
uso de sangue e sacrifícios de animais, enquanto outros utilizam estes elementos.
Chamamos isto de Diversidade de Rituais.
Foi a partir desta experiência que percebemos o grande preconceito existente entre os
umbandistas. A Internet veio facilitar o contato, o estudo e a divulgação das várias formas de se
trabalhar na Umbanda. A diversidade de rituais era desconhecida por muitos, e tivemos
oportunidade nestes 12 anos de presenciar terríveis disputas e choques entre umbandistas, cada um
querendo afirmar que a “sua” umbanda era a verdadeira umbanda. Em alguns momentos as
agressões chegavam ao extremo, passando de agressões verbais para processos judiciais. Quando
iniciamos nossa caminhada na umbanda na década de setenta, tivemos oportunidade de visitarmos
alguns terreiros e naquela época já percebemos a grande diferença existente entre os rituais de cada
Terreiro. Infelizmente existia naquela época um grande preconceito, e eram comuns comentários de
que determinada casa não era de umbanda, outros falavam que determinada casa era mais forte que
a outra, o estudo era muito raro e na maioria das vezes desprezado pelos dirigentes.
O tempo passou e por volta de 1997 começamos um trabalho de divulgação da umbanda
pela internet através da lista de debates Saravá Umbanda. Com o passar do tempo e com o convívio
nas listas, algumas pessoas passaram a entender que a umbanda, embora seja única, não possui uma
única doutrina. Que não existe umbanda melhor ou mais forte que outra. Estas pessoas começaram
então a respeitar e entender a diversidade de rituais existentes em nossa religião.
Em 2006 criamos a RBU que atualmente possui mais de 14.600 integrantes (maio/2010) e é
com tristeza que continuamos a verificar que a grande maioria das pessoas ainda desconhece esta
realidade de nossa religião. Este pequeno texto tem a finalidade de mostrar para as pessoas de uma
maneira simples e racional como que entendemos a Diversidade de Rituais existentes na umbanda.
O conteúdo deste texto é apresentado no curso de doutrina umbandista “Umbanda Os Sete Reinos
Sagrados” que desenvolvemos de forma gratuita no Núcleo Mata Verde e agora através do portal
EAD do Núcleo Mata Verde (www.mataverde.org/ead), no curso a distancia é cobrada uma pequena
taxa para ajudar na manutenção do site.
Qual a diferença entre a Umbanda e as demais religiões tradicionais?
O que é uma estrutura piramidal hierárquica autoritária?

43
Repare na figura abaixo:

Várias organizações possuem como forma de organização e comando uma estrutura


autoritária (centralizadora). Podemos citar como exemplo, a Igreja Católica que segue rigidamente
as orientações de Roma, do Vaticano e que possui no Papa o chefe da igreja. Outro exemplo é o dos
militares (Forças Armadas), que possuem uma hierarquia rígida e um comando único. Podemos
enquadrar dentro desta estrutura hierárquica autoritária aquelas religiões ou filosofias que possuem
uma doutrina rígida. Normalmente seguem algum livro ou livros e possuem muita dificuldade em
fazer qualquer alteração doutrinária em função do modelo hierárquico autoritário. Por exemplo, o
“Espiritismo” (chamado popularmente de Kardecismo)
No ápice da Pirâmide está a "doutrina", o Pentateuco Kardequiano, e que por condição dos
próprios espíritos que apresentaram a doutrina, não pode ser alterado em hipótese alguma sem a
“concordância universal dos espíri-tos”. A doutrina espírita é do século XIX ( 1857). Este
autoritarismo doutrinário se reflete em várias situações. É do conhecimento público os vários
autores espíritas que ficaram proibidos de publicarem suas obras por serem considerados “não
doutrinários”. Espíritos foram taxados de enganadores e mistificadores e seus livros psicografados
deixaram de ser considerados espíritas. Não vamos citar os nomes, mas basta realizarem uma
pesquisa na Internet e encontrarão vários casos.
O uso de recursos como cromoterapia, uso de cristais, incensos, banhos, equilíbrio dos
chakras, magia, apometria, reiki, e muitos outros assuntos não são considerados “doutrinários”,
portanto os Centros que utilizam alguns deste recur-sos não são casas espíritas, podendo no máximo
serem chamados de centros espiritualistas.
O que é Estrutura em rede?
Desde a década de 20, quando os ecologistas começaram a estudar teias alimentares, o
padrão de rede foi reconhecido como o único padrão de organização comum a todos os sistemas
vivos: “Sempre que olharmos para a vida, olhamos para redes” (Fritjof Capra - A Teia da Vida). As
redes, basicamente descritas como conjuntos de itens conectados entre si são observadas em
inúmeras situações, desde o nível subatômico até as mais complicadas estruturas sociais ou
materiais concebidas pela humanidade.

44
Átomos ligam-se a outros na formação de moléculas, seres vivos dependem de intrincadas
redes de reações químicas e de interações protéicas. Vasos sangüí-neos e neurônios formam redes
essenciais para organismos complexos. Construções humanas como a distribuição de água, energia
elétrica e telecomunicações podem ser vistas como redes, da mesma forma que estradas, rotas
marítimas e aéreas, percursos feitos para entrega de bens e serviços. Relações sociais e negócios
conectam pessoas e organizações segundo os mais variados padrões. Computadores, bancos de
dados, páginas web, citações bibliográficas e tantos outros elementos compõem suas redes
cotidianamente. Foi a partir destes conceitos que criamos em 2006 a RBU – Rede Brasileira de
Umbanda. (www.rbu.com.br). Se estudarmos com mais detalhes, verificaremos que a umbanda se
organiza desta maneira, repare na figura abaixo:

Todos sabem que a umbanda possui vários fundamentos, entre eles: Fundamentos Africanos,
Espíritas, Católicos, Indígenas, Teosóficos, Hinduístas, etc...
“A Umbanda é uma religião universalista”.
Vamos voltar nossa atenção para a imagem acima. Fizemos um desenho de uma rede plana e
para ilustrar o que foi dito acima incluímos somente quatro funda-mentos básicos de nossa religião:
Africano, Católico, Espírita e Indígena. Reparem que existem alguns “pontinhos” escuros nesta
rede, são os “nós” da rede e que representam os diversos Terreiros de Umbanda existentes. Cada
“nó” ou Terreiro tem um conjunto diferente de fundamentos, o que acaba refletindo no ritual
seguido pelo Templo. Por exemplo:
Terreiro (1)
O Terreiro identificado por (1) tem uma forte influência Católica. São Terreiros que possuem
no congá muitas imagens de Santos, Anjos, Arcan-jos, Jesus, Espírito Santo, etc... É comum nestes
Terreiros as procissões para São Jorge, Nossa Senhora Apare-cida e demais Santos Católicos. Os
Pontos Cantados sempre relacionam os Orixás aos Santos, e muitos chegam a afirmar que o Santo e
o Orixá são a mesma coisa. As cerimônias são semelhantes aos da igreja católica: Batismo,
Confirmação (Crisma), Casamento etc... Sempre lembrando as cerimônias católicas. Algumas casas
não trabalham com Exú, algumas chegam a identificar o Exú ao demônio.
Terreiro (2)

45
O Terreiro identificado como (2) está bem próximo dos fundamentos africanos, isto significa
que naquele Terreiro os rituais africanos estão presentes de forma significativa. São Terreiros de
umbanda que tem uma forte influência do Candomblé e do Culto Omoloko, alguns cultuam os
Orixás de forma bem próxima ao do Candomblé, oferecem animais, usam inclusive sangue em
alguns rituais, alguns chegam a afirmar que não são cristãos. Possuem rituais como: borí, deitada,
mão de pemba, mão de faca, etc.. Exú é cultuado como um Orixá. O uso dos atabaques é
imprescindível.
Terreiro (3)
Os Terreiros identificados como (3) tem uma forte influência da doutrina espírita. A doutrina
espírita é estudada pelos seus integrantes. Caboclos, Pretos Velhos, Baianos, Exús, etc... são
considerados espíritos em evolução e que já estão libertos do ciclo reencarnatório. No congá não
fazem uso do sincretismo religioso, ou seja, não existem imagens de Santos; normalmente Orixás
são entendidos como espíritos de muita evolução, sendo considerados pura energia. Orixás nunca
incorporam. De forma alguma aceitam o uso de sangue ou sacrifício de animais como oferenda para
os Orixás. Nestes Terreiros utilizam somente roupa branca; rituais de origem africana são
totalmente desconhecidos nestes Terreiros. Conceitos como mediunidade, passes, vibrações,
obssessores são muito comuns. Em alguns os Caboclos e Pretos Velhos fazem uso do fumo.
Terreiro (4)
Nestes Terreiros a presença de rituais de origem indígena é muito forte. Normalmente
Caboclos comandam todos os Trabalhos, é comum o uso de charutos para defumação ou pajelança.
Em alguns os nomes utilizados internamente são de origem Tupy antigo, e valorizam muito a
tradição indígena brasileira.
Conclusão:
Como podem verificar não esgotamos as possibilidades, os fundamentos exis-tentes na
umbanda são muitos e naturalmente que não se apresentam de forma única como descrevemos
acima, eles se fundem em proporções diferentes e dão as características de cada Terreiro, a
egrégora, a vida, o axé de cada casa. Não podemos de maneira alguma aceitar os absurdos que
muitas vezes acabam na coluna policial dos jornais, mas precisamos neste momento em que existe
uma grande intolerância para com a nossa religião nos unirmos e respeitarmos a maneira de
trabalhar de cada Terreiro. Se estudarmos a história do Movimento Umbandista, verificaremos que
embora os homens tenham insistido, durante vários anos, em enquadrar a Umbanda dentro de um
sistema hierárquico autoritário (através de Federações, doutrinas, códigos etc...), ela sempre resistiu
mantendo sua estrutura em rede.
Precisamos entender que a Umbanda é uma religião nova, brasileira e que os Orixás nos
presentearam com esta maravilhosa religião. Podemos afirmar categoricamente que:
A UMBANDA é uma religião do futuro, uma religião que permite que cada um busque
aquele Terreiro que fale mais alto ao seu coração sem deixar de ser umbandista. Se lembrarmos as
palavras do Caboclo das 7 Encruzilhadas, veremos que os alicerces da Umbanda são a liberdade e a
igualdade, gerando as mesmas oportunidades para todas as pessoas e espíritos virem trabalhar e
evoluir.
Manoel Lopes – Dirigente do Núcleo Mata Verde
www.mataverde.org
e-mail: ead@mataverde.org
São Vicente, 30/08/2009

46
São várias as versões dos mitos dos orixás...

Texto extraído do material de estudo doutrinário da Fraternidade São Bartolomeu.

São várias as versões dos mitos dos orixás e, como em todos os mitos, algumas são
incompatíveis entre si; mas a essência dos orixás pode ser perfeitamente absorvida através destas
narrativas. Para os iorubás, a melhor representação do mundo é uma cabaça dividida ao meio, uma
das metades constituindo o céu (orum, Obatalá), e a outra a terra (ayê, Odudua). No princípio de
tudo, entretanto, não havia a terra, e os orixás viviam no orum, ao redor de Olorum, o senhor do
Universo, secundado por Obatalá. Obatalá uniu-se a Odudua e tiveram dois filhos: Aganju, a terra
firme, e Iemanjá, as águas dos oceanos.

Outro mito diz que a terra era então um vasto oceano e os orixás desejavam conhecê-lo.
Obatalá encarregou Oxalá de descer ao ayê, a metade inferior da cabaça, e espalhar o pó preto que
formaria a terra firme. Entregou a ele o saco com o pó preto e uma galinha. Oxalá então partiu em
viagem, mas no meio do caminho sentiu sede. Exu, vendo que Oxalá sentia sede, ofereceu-lhe
vinho de palma e Oxalá bebeu. E tanto vinho que Oxalá bebeu que embriagou-se e caiu em sono
profundo. Exu tomou de Oxalá o saco da criação e o levou a Obatalá, a quem contou que Oxalá
beberá e negligenciara sua tarefa.

Obatalá então entregou o saco a Odudua, que com ele desceu à terra, jogou o pó preto sobre
o oceano e tornando-se ela mesma uma galinha, ciscou o pó preto até que se formaram os
continentes e toda terra firme que há. Essa terra firme é Aganju, filho de Odudua e Iemanjá. Obatalá
então criou um grande dendezeiro, pelo qual desceram à terra todos os orixás, cada um escolhendo
uma parte do mundo que lhe agradava, e que passou a ser de seu domínio.

Assim, Oxum e Obá escolheram as águas doces; Iansã quis os ventos; Xangô os trovões e as
cachoeiras; Obaluaiê à terra firme; Nanã a lama dos fundos dos rios e os abismos; Ogum quis as
montanhas e os minérios; Oxossi as matas e florestas; Oxumarê o arco – íris; Ewá os horizontes.
Apenas Exu não sabia o que escolher, pois tudo e nada lhe agradava. E considerou-se assim dono de
tudo um pouco, com que os demais orixás concordaram. Desse modo o mundo foi criado e dividido
entre os orixás, e é por isto que cada um detêm o domínio de uma parte da natureza.

Outro mito narra que Obatalá reuniu todos os materiais necessários à criação do mundo e
mandou a estrela da manhã convocar todos os orixás. Apenas Orunmilá apareceu. Por isso Obatalá
o recompensou, permitindo que apenas ele conhecesse os segredos da criação e do porvir. E foi
assim que a estrela da manhã revelou a Orunmilá que todos os segredos e materiais da criação se
encontrava numa concha de caramujo, dentro de um vaso que ficava entre as pernas de Obatalá.
Orunmilá tornou-se então, dono dos segredos, das magias e conhecedor do futuro, das vontades,
aquele que sabe a vontade de Obatalá e de todos os orixás, o que sabe com que matéria o homem foi
feito.
Outro mito narra que tendo tido o conhecimento das matérias da criação, teria sido Orunmilá
e não Odudua o criador da terra, aquele a espalhar o pó preto sobre as águas. Orunmilá então é
considerado o amigo de Obatalá. Quis então Obatalá criar os homens. Ajalá, o orixá oleiro foi
incumbido de moldar as cabeças dos rios e outros elementos da natureza.

Ajalá moldava as cabeças e as punha para assar em seu forno. Mas Ajalá tinha o hábito de

47
embriagar-se enquanto cozia o barro e criou muitas cabeças defeituosas, queimando algumas e
deixando outras com o barro cru. Depois que Ajalá terminava de fazer os oris (cabeças) Obatalá
soprava nelas e lhes dava eni, a vida.
Assim surgiram a terra e os homens, sob o domínio dos orixás. Cada orixá viveu então
episódios diversos em sua história, dos quais narraremos aqui apenas alguns, pois a quantidade de
versões dos mitos é praticamente infinita.

Fraternidade São Bartolomeu

48
Os Orixás...

Texto de pesquisa obtido na rede mundial e utilizado para estudo e debate entre os irmão de fé, com
intermediação dos dirigentes espirituais.

Uma das mais impressionantes marcas do estudo da Umbanda é a influência que os orixás
exercem em seus filhos, ou seja, aqueles que nasceram sob o manto da vibração do Orixá, o que não
se pode saber por data de nascimento, mas por rituais próprios da religião. Apesar de cada região
cultuar diferentes Orixás e sincretizar com determinados Santos Católicos descreveremos os que
cultuamos em nosso terreiro, as suas datas de comemoração e os arquétipos dos seus filhos. Isto não
quer dizer que os outros terreiros estejam fazendo seus cultos erroneamente. Também informaremos
algumas ervas que podem ser usadas para os banhos de cada um e suas respectivas entregas.
OXALÁ
O filho de Oxalá é pessoa normalmente tranqüila, de andar sereno, sem afobação, com
tendência ao sofrimento, quando o busca. Gosta de transmitir seu gênio calmo, quer as coisas sem
demonstrar, atingindo seus objetivos de forma bem natural. É teimoso. Na teimosia não gosta de
impor suas idéias, mas não cede em seu ponto de vista. De todos os Orixás, o filho de Oxalá talvez
seja o mais organizado, no dia a dia, escritórios e papéis. Não é líder mas não se submete facilmente
a liderança de outro, ou seja, não manda e não gosta de ser mandado. Não é agressivo e quando
agredido prefere demonstrar superioridade. Tem um tendência muito forte para a solidão, buscando
pelo isolamento um encontro com a harmonia universal.
Para que o filho de Oxalá tenha uma vida melhor, deve procurar despertar em seu interior a
alegria pelas coisas que o cerca e tentar ceder à sua natural teimosia.
Oxalá é o Orixá maior e por isso mesmo não atua diretamente em elementos do planeta,
fazendo isso por intermédio dos outros Orixás.
COR: branca
AMALÁ: - 14 velas brancas, água mineral, canjica branca dentro de alguidar de louça branca, fitas
e flores brancas. O local de entrega deve ser muito bonito e cheio de paz, como uma colina limpa,
ou junto de uma entrega para Iemanjá, na praia.
ERVAS – Poejo – Camomila – Chapéu de Couro – Erva de Bicho - Cravo – Coentro – Gerânio
Branco – Arruda – Erva Cidreira – Era de S.João – Alecrim do Mato – Hortelã -Alevante – Erva de
Oxalá (Boldo) – Folhas de Girassol – Folhas de Bambu.
IANSÃ
Iansã, a Senhora dos Ventos e das Tempestades, a Deusa Guerreira. Seu filho é conhecido
por seu temperamento explosivo. Está sempre chamando a atenção por ser inquieto e extrovertido.
Sempre a sua palavra é que vale e gosta de impor aos outros a sua vontade. Não admite ser
contrariado, pouco importando se tem ou não razão, pois não gosta de dialogar. Em estado normal é
muito alegre e decidido. Questionado torna-se violento, partindo para a agressão, com berros, gritos
e choro. Tem um prazer enorme em contrariar todo tipo de preconceito. Passa por cima de tudo que
está fazendo na vida, quando fica tentado por uma aventura. Em seus gestos demonstra o momento
que está passando, não conseguindo disfarçar a alegria ou a tristeza. Não tem medo de nada.

49
Enfrenta qualquer situação de peito aberto. Ciumento demonstra um certo egoísmo porque não se
importa com que os outros sofram pelo seu gênio reconhecidamente mal-humorado. É leal e
objetivo. Sua grande qualidade, a garra, e seu grande defeito, a impensada franqueza, o que lhe
prejudica o convívio social. Por ser tão marcante seu gênio, se este fosse controlado, o que não é
difícil, seria pessoa muito mais feliz e querida.
Para definir bem a influência dos orixás nas pessoas vou contar uma estória engraçada: eu
explicava para um grupo as influências dos Orixás nas pessoas. Simulei um fato. Duas pessoas
brigando. Passando um filho de Ogum, ou ele passa direto e nem olha, ou já vai se meter na briga.
Um filho de Xangô para, fica olhando, e já começa a reclamar. Coitado do baixinho! Por que será
esta briga? Acho que aquele alto não tem razão. E pior, nem sabe brigar. É um fraco. E fica
questionando. Um filho de Oxóssi para, senta no chão e, rindo, fica assistindo e se deleitando com a
briga. Deu a entender ter terminado. Achei sugestiva sua explicação. Alguém indagou qual seria o
comportamento das filhas do povo da água. Diante da minha negativa, alguém se propôs a
completar. Bem, disse, uma filha de Iemanjá chamaria os dois, colocaria suas cabeças em seu colo e
os acalmaria recomendando paz. Uma filha de Iansã já reclamaria e chamaria a polícia. E parou. De
propósito, o esperto. Bem, perguntou alguém, e uma filha de Oxum, que faria? Nada, respondeu.
Nem poderia. Os dois estavam brigando por causa dela...
AMALÁ DE IANSÃ - 7 velas brancas e 7 amarelo escuro, água mineral, acarajé ou milho em
espiga coberto com mel ou ainda canjica amarela, fitas branca e amarelo escuro e flores. Local de
entrega em pedra ao lado de um rio.
ERVAS - Catinga de mulata – Cordão de frade – Gerânio cor-de-rosa ou vermelho, Acúcena –
Folhas de Rosa Branca – Erva de Santa Bárbara.
OGUM
Ogum é o Orixá da guerra, da demanda, da luta. Seu filho carrega em seu gênio todos os
seus característicos. É pessoa de tipo esguio e procura sempre manter-se bem fisicamente. Adora o
esporte e está sempre agitado e em movimento. A sua impaciência é tão marcante que não gosta de
esperar. É afoito. Tem decisões precipitadas. Inicia tudo sem se preocupar como vai terminar e nem
quando. Está sempre em busca do considerado o impossível. Ama o desafio. Não recusa luta e
quanto maior o obstáculo mais desperta a garra para ultrapassá-lo. Como os soldados que
conquistavam cidades e depois a largavam para seguir em novas conquistas, os filhos de Ogum
perseguem tenazmente um objetivo: quando o atinge, imediatamente o larga e parte em procura de
outro. É insaciável em suas próprias conquistas. Uma marca muito forte de seu Orixá, é tornar-se
violento repentinamente. Seu gênio é muito forte. Não admite a injustiça e costuma proteger os
mais fracos, assumindo integralmente a situação daquele que quer proteger. Leal e correto, é um
líder. Sabe mandar sem nenhum constrangimento e ao mesmo tempo sabe ser mandado, desde que
não seja desrespeitado. Adapta-se facilmente em qualquer lugar. Come para viver, não fazendo
questão da qualidade ou paladar da comida. Por ser Ogum o Orixá do Ferro e do Fogo seu filho
gosta muito de armas, facas, espadas e das coisas feitas em ferro ou latão. É franco, muitas vezes até
com assustadora agressividade. Não faz rodeio para dizer as coisas. Não admite a fraqueza,
falsidade e a falta de garra. O ?difícil? é a sua maior tentação.
Nenhum filho de Ogum nasce equilibrado. Seu temperamento, difícil e rebelde, o torna,
desde a infância, quase um desajustado. Entretanto, como não depende de ninguém para vencer suas
dificuldades, com o crescimento vai se libertando e acomodando-se às suas necessidades. Quando
os filhos de Ogum conseguem equilibrar seu gênio impulsivo com sua garra, a vida lhe fica bem
mais fácil. Quando ele consegue esperar ao menos 24 hs. para decidir, evitaria muitos revezes,
muito embora, por mais incrível que pareça, são calculistas e estrategistas. Contar até 10 antes de

50
deixar explodir sua zanga, também lhe evitaria muitos remorsos. Seu maior defeito é o gênio
impulsivo e sua maior qualidade é que sempre, seja pelo caminho que for, será sempre um
Vencedor.
COR : vermelha e branca
AMALÁ DE OGUM - 14 velas branca e vermelha ou 7 brancas e 7 vermelhas, cerveja branca em
coité, 7 charutos, peixe de escama e de água doce, ou camarão seco, amendoins e frutas, de
preferência, dentre elas,. uma manga (melhor a espada), fitas vermelha e branca. Local de entrega,
uma campina.
ERVAS - Aroeira – Pata de Vaca – Carqueja – Losna – Comigo Ninguém Pode – Folhas de Romã –
Espada de S. Jorge – Flecha de Ogum – Cinco Folhas – Macaé – Folhas de Jurubeba.
XANGÔ
Xangô, o Deus da Justiça, Senhor das pedreiras, exerce uma influência muito forte em seu
filho. Todos os Orixás, evidentemente, são justos, e transmitem este sentimento aos seus filhos.
Entretanto, em Xangô, a Justiça deixa de ser uma virtude, para passar uma obsessão, o que faz de
seu filho um sofredor, principalmente porque o parâmetro da Justiça é o seu julgamento, e não o da
Justiça Divina, quase sempre diferente do nosso, muito terra. Esta análise é muito importante.
O filho de Xangô apresenta um tipo firme, enérgico, seguro e absolutamente austero. Sua
fisionomia, mesmo a jovem, apresenta uma velhice precoce, sem lhe tirar, em absoluto, a beleza ou
a alegria. Tem comportamento medido. É incapaz de dar um passo maior que a perna e todas as suas
atitudes e resoluções baseiam-se na segurança e chão firme que gosta de pisar. É tímido no contato
mas assume facilmente o poder do mando. É eterno conselheiro, e não gosta de ser contrariado,
podendo facilmente sair da serenidade para a violência, mas tudo medido, calculado e
esquematizado. Acalma-se com a mesma facilidade quando sua opinião é aceita. Não guarda rancor.
A discrição faz de seus vestuários um modelo tradicional.
Quando o filho de Xangô consegue equilibrar o seu senso de Justiça, transferindo o seu
próprio julgamento para o Julgamento Divino, cuja sentença não nos é permitido conhecer, torna-se
uma pessoa admirável. O medo de cometer injustiças muitas vezes retarda suas decisões, o que, ao
contrário de lhe prejudicar, só lhe traz benefícios. O grande defeito dele é julgar os outros. Se
aprender a dominar esta característica, torna-se um legítimo representante do Homem Velho, Senhor
da Justiça, Rei da Pedreira. Por falar em pedreira, adora colecionar pedras.
AMALÁ DE XANGÔ - 7 velas marrons e 7 velas brancas, cerveja preta (mesmo [principio já
explicado para Ogum e Oxóssi), camarão, quiabo, fitas marrom escuro e branca. Local de entrega
na pedreira ou sobre uma pedra grande e bonita.
ERVAS – Folhas de Limoeiro – Erva Moura – Erva Lírio – Folhas de Café – Folhas de Mangueira –
Erva de Xangô –
IEMANJÁ
Iemanjá, a Senhora do Mar. A grande força, com indiscutível domínio no gênio e
personalidade de seu filho. O fato de Iemanjá ser a Criação, sua filha normalmente tem um tipo
muito maternal. Aquela que transmite a todos a bondade, confiança, grande conselheira. É mãe.
Sempre tem os braços abertos para acolher junto de si todos aqueles que a procuram. A porta de sua
casa sempre está aberta para todos, e gosta de tutelar pessoas. Tipo a grande mãe. Aquela mulher
amorosa que sempre junta os filhos dos outros com os seus. O homem filho de Iemanjá carrega o

51
mesmo temperamento: é o protetor. Cuida de seus tutelados com muito amor. Geralmente é calmo e
tranqüilo, exceto quando sente-se ameaçado na perda de seus filhos, isto porque não divide isto com
ninguém. É sempre discreto e de muito bom gosto. Veste-se com muito capricho. É franco e não
admite a mentira. Normalmente fica zangado quando ofendido e o que tem como ajuntó (o segundo
santo masculino) o orixá Ogum, torna-se muito agressivo e radical. Diferente é quando o ajuntó é
Oxóssi. Aí sim, é pessoa calma, tranqüila, e sempre reage com muita tolerância. O maior defeito do
filho de Iemanjá é o ciúme. É extremamente ciumento com tudo que é seu, principalmente das
coisas que estão sob sua guarda.
COR : Azul
AMALÁ DE IEMANJÁ - 7 velas brancas e 7 azuis, champanhe, manjar branco, fitas azuis e rosas
brancas ou outro tipo de flor branca. Local de entrega, na praia.
IEMANJÁ – Pata de Vaca – Folhas de Lágrima de N.Senhora – Erva Quaresma – Trevo e chapéu
de couro.
OXUM
O filho ou filha de Oxum, a Rainha da Água doce, dona dos rios e das cachoeiras, carrega todo o
tipo de Iemanjá. A maternidade é sua grande força, tanto que quando uma mulher tem dificuldade
para engravidar, é à Oxum que se pede ajuda (pelo Amalá). A diferença maior é a vaidade. Filho de
Oxum ama espelhos (a figura de Oxum carrega um espelho na mão), jóias caras, ouro, é impecável
no trajar e não se exibe publicamente sem primeiro cuidar da vestimenta e a mulher do cabelo e da
pintura. Normalmente tem uma facilidade muito grande para o choro. É muito sensível a qualquer
emoção. Talvez ninguém tenha sido tão feliz para definir a filha de Oxum como o pesquisador da
religião africana, o francês Pierre Fatumbi Verger.
OXÓSSI
Oxóssi é a Natureza, especificamente nas matas e no reino animal. É o conhecedor das ervas
e o grande curador. É a essência da nossa vida. Seu filho tem um tipo calmo, amoroso, encantador,
preocupado com todos os problemas. Um grande conselheiro pelo seu gênio alegre, muito embora
com forte tendência à solidão. Incapaz de negar qualquer ajuda à alguém, sabe, como poucos,
organizar o caminho para as soluções complicadas. Com respeito à sua própria organização familiar,
é muito apegado as suas coisas e à sua família, à qual dedica atenção total no sentido de provê-la e
encaminhá-la. Diante as dificuldades próprias é muito hesitante, mas acaba vencendo, sustentado
pelo seu interior alegre e otimista. É carente. Não assume o problemas dos outros, mas fica lado a
lado ajudando-os. Ama a Liberdade e a Natureza. O mato, as águas, os bichos , as estrelas, o sol e a
lua, são a bússola de sua vida. Não discute a fé. Acredita e é fiel seguidor da religião que escolheu.
Não é ciumento e muito menos rancoroso. Quando atacado custa revidar. Quando o faz se torna
perigoso. É, neste particular, ladino como os índios. Pisa macio, mas é certeiro. Tem um gosto
refinado. Gosta das coisas boas, veste-se bem e cuidadosamente.
O filho de Oxóssi é talvez o mais equilibrado. Para que sua vida melhore, deve despertar
aquele gigante que habita sua essência, o que o tornaria mais disposto a encarar as suas próprias
dificuldades.
ERVAS - Malva Rosa – Mil Folhas – Sete Sangrias – Folhas de Aroeira – Folhas de fava de
Quebrante – Folhas de Samambaia – Folhas de Palmeira – Folhas de Laranjeira- Erva Cidreira –
Folhas de Jurema – Folhas de Maracujá – Folhas de Palmito – Folhas de Abacateiro
AMALÁ DE OXÓSSI - 7 velas verdes e 7 brancas, a mesma bebida de Ogum, 7 charutos, peixe

52
com escama de água doce ou uma moganga bem assada com milho dentro coberto com mel, fitas
verde e branca. Local de entrega na entrada da mata. obs. a mesma de ogum.
A magia dos Exús
Acho desnecessário falar sobre a força e o poder dos mensageiros dos orixás. Toda a
Umbanda não teria equilíbrio sem a participação dos exus. O Pai Maneco, falando da importância
dos exus, apontou uma lâmpada acesa e disse: "aquela luz é o resultado do perfeito encontro do
positivo e do negativo". Gosto de identificar o exu como o sargento no exército. Têm poder sobre os
soldados e acesso ao alto comando militar. São os sargentos, como os exus, dotados de uma dupla
função. Mandam e trocam idéias com os superiores, o que lhes garante um poder enorme. O exu faz
o tipo da entidade semelhante aos encarnados. Brincam, brigam, dizem palavrões, são dóceis e
amorosos mas podem repentinamente se irritar, no caso de não gostar de uma intimidade excessiva
ou um gesto desrespeitoso. Por sua livre vontade resolveram trabalhar nesta linha.
Muitos deles, em vidas anteriores, foram personalidades de destaque no meio social ou
político. São inteligentes e amigos. Fazem o tipo que queremos. São nosso retrato. Mas não são
maus. Muitos menos demônios. Não têm chifres nem patas de bode. Sua aparência no cascão
espiritual é muito bonita. As estúpidas imagens vermelhas e feias cultuados pelos não menos
estúpidos adeptos da Umbanda, inclusive eu, não têm nada a ver com suas bonitas figuras. Suas
capas são campos energéticos para nossa proteção. Não fazem o mal. Os maldosos não são
verdadeiros, muito menos exus. Só na cabeça tapada de quem acredita.
O exu Tranca Ruas das Almas é muito bonito. Corpulento, cabelos claros, olhos azuis e
muito marcantes, veste-se muito bem, camisa de seda, sapatos impecáveis, gesto sereno mas frio.
Dificilmente emociona-se. É poderoso como todos os exus. São fiéis soldados dos Orixás com
missão bem definida de nos proteger e ganhar sua evolução espiritual. Vejam uma consulta com o
exu Tiriri. Uma senhora pediu-lhe para ele tirar um inquilino de seu apartamento, porque pretendia
alugar por preço superior. Recebeu a seguinte resposta: está bem, minha filha. Vou procurar te
atender. Mas antes tenho que encontrar uma moradia melhor e mais barata para teu inquilino?. É
mole?

Terreiro de Umbanda do Pai Maneco

53
Caboclos na Umbanda...

Texto de pesquisa obtido na rede mundial e utilizado para estudo e debate entre os irmão de fé, com
intermediação dos dirigentes espirituais

Caboclos são entidades que se apresentam como indígenas e incorporam também no


Candomblé de caboclo. As entidades assim denominadas que se apresentam nos terreiros de
umbanda são espíritos com um certo grau espiritual de evolução. São considerados espíritos de
índios que já morreram e que viraram guias de luz que voltam à Terra para prestar a caridade ao
próximo. Ou almas de pessoas que assumiram a roupagem fluídica de caboclo como instrumento de
ideal. São da Linha das Matas.
Apresentam-se altaneiros, dando o seu grito de guerra e gesticulando como se lançassem
suas flechas. Normalmente seus conselhos visam a melhorar o ânimo dos mais necessitados. A
imagem quase sempre condiz com a figura do bom selvagem romantizado, belo, puro, nobre e
arrojado. São espíritos sérios e bastante contidos. Normalmente os consulentes os tratam com muito
respeito e até algum temor.
Geralmente se utilizam de charutos para provocar a descarga espiritual de seu médium e
também do seu consulente. Alguns assoviam, outros bradam no ato da incorporação. Costumam ser
bastante sérios nos seus conselhos. São considerados, portanto, grandes trabalhadores dos terreiros.
Nomes de alguns caboclos da Umbanda:
Caboclo 18 Flechas Caboclo Ubirajara peito de aço;
Caboclo 7 encruzilhadas; Caboclo Guaracy;
Caboclo 7 flechas; Caboclo Tupã;
Caboclo 7 Pedreiras; Cacique Aimoré;
Caboclo 7 Montanhas Caboclo Cipó;
Caboclo Tamandaré: Caboclo Arruda;
Caboclo Pena Branca; Cabocla Jurema;
Caboclo Pena-Marrom; Cabocla Juçara;
Caboclo Cobra Coral; Cabocla Diana das matas;
Caboclo Tupinambá; Cabocla Jupira.
Caboclo Araribóia; Cabola Jandira da Pedreira
Caboclo Tupi-guarani; Cabocla Tayara

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

54
Caboclo Pena Branca...

Texto de pesquisa e utilizado para estudo e debate entre os irmão de fé, com intermediação dos
dirigentes espirituais. .

Nasceu em aproximadamente 1425, na região central do Brasil, hoje, entre Brasília e Goiás,
onde seu pai era o Cacique da tribo. Era o filho mais velho de seus pais e desde cedo se mostrou
com um diferencial entre os outros índios da mesma tribo, era de uma extraordinária inteligência.
Na época não havia o costume de fazer intercâmbios e trocas de alimentos entre tribos,
apenas algumas faziam isto, pois havia uma cultura de subsistência, mas o Cacique Pena Branca foi
um dos primeiros a incentivar a melhora de condições das tribos, e por isso assumiu a tarefa de
fazer intercâmbios com outras tribos, entre elas a Jê ou Tapuia, e Nuaruaque ou Caríba.
Quando fazia uma de suas peregrinações ele conheceu na região do nordeste brasileiro (hoje
Bahia), uma índia que viria a ser a sua mulher, chamava-se “Flor da Manhã” a qual foi sempre o seu
apoio. Como cacique, foi respeitado pela sua tribo de tupis, assim como por todas as outras tribos e
continuou, apesar disso, seu trabalho de itinerante por todo o Brasil na tentativa de fortalecer e unir
a cultura indígena.
Certo dia Pena Branca estava em cima de um monte na região da atual Bahia, e foi o
primeiro a avistar a chegada dos portugueses nas suas naus, com grandes cruzes vermelhas no leme.
Esteve presente na 1ª missa realizada no Brasil pelos jesuítas, na figura de Frei Henrique de
Coimbra. Desde então procurou ser o porta-voz entre índios e os portugueses, sendo precavido pela
desconfiança das intenções daqueles homens brancos que ofereciam objetos, como espelhos e
pentes, para agradá-los. Aprendeu rapidamente o português e a cultura cristã com os jesuítas.
Teve grande contato com os corsários franceses que conseguiram penetrar (sem o conhecimento dos
portugueses) na costa brasileira - muito antes das grandes invasões de 1555 - aprendeu também a
falar o francês.
Os escambos, comércio de pau-brasil entre índios e portugueses, eram vistos com reservas
por Pena Branca, pois ali começaram as épocas de escravidão indígena e a intenção de Pena Branca
sempre foi a de progredir culturalmente com a chegada desses novos povos, aos quais ele chamava
de amigos. Morre com 104 anos de idade, em 1529, o Cacique Pena Branca, deixando grande
saudade em todos os índios do Brasil, sendo reconhecido na espiritualidade como servidor na
assistência aos índios brasileiros, junto com outros espíritos, como o Cacique Cobra Coral.
Apesar de não ter conhecido o Padre José de Anchieta em vida, já que este chegou ao Brasil
em meados de 1554, Pena Branca foi um dos espíritos que ajudou este abnegado jesuíta no seu
desligamento desencarnatório.

55
Linhas e Povos...

Texto de pesquisa e utilizado para estudo e debate entre os irmão de fé, com intermediação dos dirigentes
espirituais. O material referente aos Marinheiros fo transmtido por entidade espiritual incorporada

Marinheiros
"Eu sou o marinheiro José Silva. Desencarnei durante a II Guerra Mundial, em um ataque
que houve... Optei por trabalhar na Umbanda, como marinheiro, na linhagem de Yemanjá."
(Comunicação de um Marinheiro durante uma gira de Umbanda em São Paulo).
Uma falange de entidades costumeiramente fora da visão limitada e obtusa de muitos pais-
de-santo é a que costuma se chamar de MARINHEIROS ou MARUJOS. São desconhecidos do
público carioca, apesar de termos uma histórica zona portuária, tivemos a famosa "Revolta da
Armada" contra o governo de Floriano Peixoto, e foi uma rebelião dos marinheiros. Uma
contradição difícil de explicar, contudo ocorre que estes estão totalmente fora da Umbanda carioca
ao contrário de São Paulo, onde possuem giras próprias. Infelizmente no Rio de Janeiro, o Brasil
ainda dorme em berço esplêndido, apesar das inúmeras rajadas de tiroteios nos morros e bailes
funk. Em São Paulo, o país já começou a caminhar lentamente. Vários dirigentes ignoram
totalmente o trabalho dessas entidades e muitos tampouco ouviram falar na sua existência.
Os poucos que já ouviram falar nos MARINHEIROS, talvez vendo-os em algum terreiro
que visitaram há cem anos atrás, colocam erradamente que são caboclos da Linha d'água. É o
mesmo que dizer que todo italiano canta bem. É uma definição totalmente incompleta. Essa legião é
bastante complexa e abrangente. Engloba diversas classificações que conhecemos. Um Marinheiro,
por exemplo, pode ser um caboclo ligado ao mar e virá gira destes, se for um caboclo de frente.
Também pode ser um Exu das praias e virá comumente na gira destes, se for um Exu de frente. Por
que condiciono esse "se"? Porque normalmente nos nossos terreiros, como são limitados apenas a
consultas, há somente espaço para a incorporação do guia de frente do médium. Desse modo, a
presença desses amigos do mar está cada vez mais escassa, pois muitas vezes eles estão presentes
nas pessoas, mas não de frente, diminuindo ainda mais a possibilidade de trabalho nas casas de
caridade. Muitos incorporandos nem ao menos sabem que carregam um marinheiro.
Pensando nisso, pois paulista parece ser mais esperto do que carioca, pelo menos em matéria
de Umbanda, tiveram eles a brilhante idéia de fazer giras só para marinheiros, na humilde e
verdadeira tentativa de pô-los nos terreiros para trabalhar, gesto esse que deveria sempre ser imitado
e espalhado por todos os terreiros de Umbanda. São também chamados de Povo d'água, portanto
sob a égide de Yemanjá e Oxum. Também são frequentes nos filhos dessas divindades quando estas
não incorporam. Eles assumem uma forma de representação desses orixás. Costumo sempre dizer,
que se o bolo é grande (a nossa Umbanda) porque não dividir os pedaços igualmente entre todos?
Precisamos ter a visão unificadora e integrante, jamais escludente e segregada do que quer que seja.
Há várias falanges e ramificações de marinheiros e agregados a estes: MARTIM
PARANGOLÁ, MARTIM PESCADOR, MARINHEIRO, SETE ESTRELAS DE YEMANJÁ,
EXU DO MAR, MALANDRO DA PRAIA, ZÉ DA PRAIA, MALANDRO DA PRAIA DO
PEIXE, etc. Também são ligados à artilharia. É uma gira bastante descontraída. Eles bebem, fumam
mas trabalham muito. Faria bastante sucesso aqui no Rio, pois lembra um pouco às de Exu, pela
alegria reinante e que costuma atrair um número maior de pessoas.

56
Diz o ogã Dr. Reginaldo Prandi da USP: "Outro tipo social elevado à categoria de entidade
de culto foi o marinheiro. Num país em que as viagens de longa distância, sobretudo entre as
capitais da costa, eram feitas por navegação de cabotagem, o marinheiro era figura muito
conhecida e de inegável valor. O marinheiro podia representar a mobilidade, a capacidade de
adaptação a cenários múltiplos, o amor pela aventura de descobrir novas cidades e outras gentes.
Cada tipo um estilo de vida, cada personagem um modelo de conduta. São exemplos de um vasto
repertório de tipos populares brasileiros, emblemas de nossa origem plural, máscaras de nossa
identidade mestiça. Uma vez escrevi que a umbanda não é só uma religião, ela é um palco do
Brasil (Prandi, 1991: 88). Não estava errado."
Os marinheiros são realmente espíritos de antigos piratas, marujos, guardas-marinhos,
pescadores e capitães do mar ou se afinizam com essa vibração. São ótimos para casos de doenças,
para cortar demandas e para descarregar os locais de trabalhos espirituais. As guias são geralmente
azul e branca. A marujada coloca seus bonés e, enquanto trabalham, cantam, bebem e fumam.
Bebem Whisky, Vodka, Vinho, Cachaça, e mais o que tiver de bom gosto. Fumam charuto, cigarro,
cigarrilha e outros fumos diversos. Em seus trabalhos são sinceros e ligeiramente românticos,
sentimentais e muito amigos. Gostam de ajudar àqueles e àquelas que estão com problemas
amorosos ou em procura de alguém, de um "porto seguro".
Que os Marinheiros ajudem nossos dirigentes a abrirem a cabeça e pensarem na integração
de todos os povos de Umbanda para o nosso próprio deleite e para que também eles possam se
redimir dos erros pretéritos. Uma comunhão que precisa acontecer.
MEUS CARANGUEJINHOS DAS ONDAS DO MAR,
EU TRAGO OURO,
EU TRAGO PRATA,
DINHEIRO PARA GASTAR!
OI QUEM DE MIM PERGUNTAR
EU SOU MARTIN PESCADOR.
QUANDO OS MEUS FILHOS ME CHAMAM
VENHO CORRENDO AJUDAR!
A linha ou falange dos marinheiros tem sua origem na linha de Iemanjá e são chefiados por
uma entidade conhecida por Tarimá. São espíritos de pessoas que em vida foram marinheiros. São
muito brincalhões e normalmente bebem muito durante os trabalhos, por esse motivo a sua
evocação não é muito freqüente, o plano espiritual superior os evoca para descarga pesada do
templo, desta forma a eles podemos pedir coisas simples, eles não são muito dados a falar ou dar
consultas. A descarga de um terreiro uma vez efetuada será enviada ao fundo mar com todos os
fluidos nocivos que dela provem. Os marinheiros são destruidores de feitiços, cortam ou anulam
todo mal e embaraço que possa estar dentro de um templo, ou ainda, próximo aos seus
freqüentadores. Nunca andam sozinhos, quando em guerra unem-se em legiões, fazendo valer o
principio de que a união faz a força, o que os torna imbativeis nesse sentido. Na linha dos
marinheiros tem-se noticias de que alguns fazem curas e operações espirituais, nunca conhecemos
nenhum deles que agissem dessa forma de modo correto e nesse tipo de situação toda precaução é
sempre necessária. Aprendemos que a atuação dessa linha sempre foi à descarga pesada de um
terreiro e de seus médiuns.

57
Ciganos
Esta linha de trabalhos espirituais já é muito antiga dentro da Umbanda, e “carregam as
falanges” ciganas juntamente com as falanges orientais uma importância muito elevada, sendo
cultuadas por todo um seguimento espírita e que se explica por suas próprias razões, elegendo a
prioridade de trabalho dentro da ordem natural das coisas em suas próprias tendências e
especialidades. Assim, numerosas correntes ciganas estão a serviço do mundo imaterial e carregam
como seus sustentadores e dirigentes aqueles espíritos mais evoluídos e antigos dentro da ordem de
aprendizado, confundindo-se muitas vezes pela repetição dos nomes comuns apresentados para
melhor reconhecimento, preservando os costumes como forma de trabalho e respeito, facilitando a
possibilidade de ampliar suas correntes com seus companheiros desencarnados e que buscam no
universo astral seu paradeiro, como ocorre com todas as outras correntes do espaço.
O povo cigano designado ao encarne na Terra, através dos tempos e de todo o trabalho
desenvolvido até então, conseguiu conquistar um lugar de razoável importância dentro deste
contexto espiritual, tendo muitos deles alçado a graça de seguirem para outros espaços de maior
evolução espiritual, juntamente com outros grupos de espíritos, também de longa data de
reencarnações repetidas na Terra e de grande contribuição, caridade e aprendizado no plano
imaterial. A argumentação de que espíritos ciganos não deveriam falar por não ciganos ou por
médiuns não ciganos e que se assim o fizessem deveriam faze-lo no idioma próprio de seu povo, é
totalmente descabida e está em desarranjo total com os ensinamentos da espiritualidade sua doutrina
evangélica, até as impossíveis limitações que se pretende implantar com essa afirmação na evolução
do espírito humano e na lei de causa e efeito, pretendendo alterar a obra divina do Criador e da
justiça divina como se possível fosse, pretendendo questionar os desígnios da criação e carregar
para o universo espiritual nossas diminutas limitações e desinformação, fato que nos levaria a
inviabilização doutrinária. Bem como a eleger nossa estada na Terra como mera passagem e de
grande prepotência discriminatória, destituindo lamentavelmente de legitimidade as obras divinas.
Outrossim, mantêm-se as falanges ciganas, tanto quanto todas as outras, organizadas dentro dos
quadros ocidentais e dos mistérios que não nos é possível relatar.
Obras existem, que dão conta de suas atuações dentro de seu plano de trabalho, chegando
mesmo a divulgar passagens de suas encarnações terrenas. Agem no plano da saúde, do amor e do
conhecimento, suportam princípios magísticos e tem um tratamento todo especial e diferenciado de
outras correntes e falanges. Ao contrário do que se pensa os espíritos ciganos reinam em suas
correntes preferencialmente dentro do plano da luz e positivo, não trabalhando a serviço do mau e
trazendo uma contribuição inesgotável aos homens e aos seus pares, claro que dentro do critério de
merecimento, tanto quanto qualquer outro espírito teremos aqueles que não agem dentro desse
contexto e se encontram espalhados pela escuridão e a seus serviços, por não serem diferentes de
nenhum outro espírito humano. Trabalham preferencialmente na vibração da direita e aqueles que
trabalham na vibração da esquerda, não são os mesmo espíritos de ex-ciganos, que mantêm-se na
direita, como não poderia deixar de ser, e, ostentam a condição de Guardiões e Guardiãs. O que
existe são os Exus Ciganos e as Moças Ciganas, que são verdadeiros Guardiões à serviço da luz nas
trevas, como todo Guardião e Guardiã dentro de seus reinos de atuação, cada um com seu próprio
nome de identificação dentro do nome de força coletivo, trabalhando na atuação do plano negativo à
serviço da justiça divina, com suas falanges e trabalhadores, levando seus nomes de mistérios
coletivos e individuais de identificação, assunto este que levaria uma obra inteira para se abordar e
não se esgotaria. Contudo, encontramos no plano positivo falanges diversas chefiadas por ciganos
diversos em planos de atuação diversos, porém, o tratamento religioso não se difere muito e se
mantêm dentro de algumas características gerais. Imenso é o número de espíritos ciganos que
alcançaram lugar de destaque no plano espiritual e são responsáveis pela regência e atuação em

58
mistérios do plano de luz e seus serviços, carregando a mística de seu povo como característica e
identificação.
Dentro os mais conhecidos, podemos citar os ciganos Pablo, Wlademir, Ramirez, Juan,
Pedrovick, Artemio, Hiago, Igor, Vitor e tantos outros, da mesma forma as ciganas, como
Esmeralda, Carme, Salomé, Carmensita, Rosita, Madalena, Yasmin, Maria Dolores, Zaira,
Sunakana, Sulamita, Wlavira, Iiarin, Sarita e muitas outras também. É imprescindível que se afirme
que na ordem elencada dos nomes não existe hierarquia, apenas lembrança e critério de notoriedade,
sem contudo, contrariar a notoriedade de todos os outros ciganos e ciganas, que são muitos e com o
mesmo valor e importância. Por sua própria razão diferenciada, também diferenciado como
dissemos é a forma de cultuá-los, sem pretender em tempo algum estabelecer regras ou esgotar o
assunto, o que jamais foi nossa pretensão, mesmo porque não possuímos conhecimento de para
tanto. A razão é que a respeito sofremos de uma carência muito grande de informação sobre o
assunto e a intenção é dividir o que conseguimos aprender a respeito deste seguimento e tratamento.
Somos sabedores que muitas outras forças também existem e o que passamos neste trabalho
são maneiras simples a respeito, sem entrar em fundamentos mais aprofundados, o que é bom
deixar induvidosamente claro. É importante que se esclareça, que a vinculação vibratória é de axé
dos espíritos ciganos, tem relação estreita com as cores estilizadas no culto e também com os
incensos, pratica muito utilizada entre ciganos. Os ciganos usam muitas cores em seus trabalhos,
mas cada cigano tem sua cor de vibração no plano espiritual e uma outra cor de identificação é
utilizada para velas em seu louvor. Uma das cores, a de vinculação raramente se torna conhecida,
mas a de trabalho deve sempre ser conhecida para prática votiva das velas, roupas, etc.
Os incensos são sempre utilizados em seus trabalhos e de acordo com o que se pretende
fazer ou alcançar. Para o cigano de trabalho se possível deve-se manter um altar separado do altar
geral, o que não quer dizer que não se possa cultua-lo no altar normal. Devendo esse altar manter
sua imagem, o incenso apropriado, uma taça com água e outra com vinho, mantendo a pedra da cor
de preferencia do cigano em um suporte de alumínio, fazendo oferendas periódicas para ciganos,
mantendo-o iluminado sempre com vela branca e outra da cor referenciada.
Da mesma forma quando se tratar de ciganas, apenas alterando a bebida para licor doce. E
sempre que possível derramar algumas gotas de azeite doce na pedra, deixando por três dias e
depois limpá-la. Os espíritos ciganos gostam muito de festas e todas elas devem acontecer com
bastante fruta, todas que não levem espinhos de qualquer espécie, podendo se encher jarras de vinho
tinto com um pouco de mel. Podendo ainda fatiar pães do tipo broa, passando em um de seus lados
molho de tomate com algumas pitadas de sal e leva-los ao forno, por alguns minutos, muitas flores
silvestres, rosas, velas de todas as cores e se possível incenso de lótus. As saias das ciganas são
sempre muito coloridas e o baralho, o espelho, o punhal, os dados, os cristais, a dança e a música,
moedas, medalhas, são sempre instrumentos magísticos de trabalho dos ciganos em geral.
Os ciganos trabalham com seus encantamentos e magias e os fazem por força de seus
próprios mistérios, olhando por dentro das pessoas e dos seus olhos. Uma das lendas ciganas, diz
que existia um povo que vivia nas profundezas da terra, com a obrigação de estar na escuridão, sem
conhecer a liberdade e a beleza. Um dia alguém resolveu sair e ousou subir às alturas e descobriu o
mundo da luz e suas belezas. Feliz, festejou, mas ao mesmo tempo ficou atormentado e preocupado
em dar conta de sua lealdade para com seu povo, retornou à escuridão e contou o que aconteceu. Foi
então reprovado e orientado que lá era o lugar do seu povo e dele também. Contudo, aquele fato
gerou um inconformismo em todos eles e acreditando merecerem a luz e viver bem, foram aos pés
de Deus e pediram a subida ao mundo dos livres, da beleza e da natureza. Deus então, preocupado
em atende-los, concedeu e concordou com o pedido, determinando então, que poderiam subir à luz
e viver com toda liberdade, mas não possuiriam terra e nem poder e em troca concedia-lhes o Dom

59
da adivinhação, para que pudessem ver o futuro das pessoas e aconselha-las para o bem.
É muito comum usar-se em trabalhos ciganos moedas antigas, fitas de todas as cores, folha
de sândalo, punhal, raiz de violeta, cristal, lenços coloridos, folha de tabaco, tacho de cobre, de
alumínio, cestas de vime, pedras coloridas, areia de rio, vinho, perfumes e escolher datas certas em
dias especiais sob a regência das diversas fases da Lua...”
Trecho extraído do livro "Rituais e Mistérios do povo Cigano" de Nelson Pires Filho Ed.Madras
Boiadeiros
Uma coisa que sempre escutei ao longo da vida trilhada nos terreiros do Brasil inteiro, onde
tive oportunidade de estar, de alguns felizmente, é que o Boiadeiro seria uma modalidade de
caboclo. Mas na verdade não é bem assim.
Para começar, não preciso aqui discorrer sobre as diferenças entre um vaqueiro, um homem
que lida com gado, e um índio. Se alguém se lembrar da clássica figura do Lampião, famoso
cangaceiro, certamente que não encontrará semelhanças com a imagem de um silvícola. Porém há,
sim, uma relação entre as duas entidades, por vezes as falanges são totalmente agregadas, por vezes
completamente separadas, como irei explicar a seguir.
Há varias falanges da entidade que conhecemos como BOIADEIRO. Diversas modalidades
que pertencem à linhas diferentes. Irei citar algumas que contabilizei ao longo de trabalhos de
pesquisas em terreiros e livros: BOIADEIRO DA JUREMA, BOIADEIRO DO SERTÃO,
BOIADEIRO NAVIZALA, BOIADEIRO DA BAHIA, BOIADEIRO SETE NÓS, BOIADEIRO
DA CAMPINA, BOIADEIRO SANTA FÉ, ZÉ BOIADEIRO, MANÉ BOIADEIRO, SEU
VAQUEJADA, JOÃO DA SERRA, BOIADEIRO DO PIAUÍ, BOIADEIRO DO SOBRADO,
BOIADEIRO DE SÃO VICENTE, BOIADEIRO DA ESTAÇÃO DA LEOPOLDINA,
BOIADEIRO VIRA SOL, QUERÊNCIO DO GRAVATÁ, KATU MANDARÁ, CARREIRO,
VENÂNCIO, etc. Observem agora este ponto:
DE ONDE VEM O CABOCLO DE PENAS?
ELE VEM DO SEU JUREMÁ!
DE ONDE VEM O SEU BOIADEIRO, MINHA GENTE?
ELE VEM DO REINO BENDITO DE OXALÁ!
Trata-se de uma falange de Boiadeiros ligada à Jurema, a formosa Cabocla que em Umbanda
é tão cultuada, mas que vem de longe, de outras paragens. A Jurema é proveniente de uma cultura
indígena, assim como a Iracema, de muitos séculos atrás, o que prova a sua força e a sua existência
como entidade de muita luz, também ela com muitas falanges e desdobramentos.
Voltando à análise do ponto acima. Vemos que este Boiadeiro é um caboclo, neste caso sim.
Tem uma forte ligação com as matas e com a entidade que lhe comanda, a Jurema.
Porém na grande parte dos casos, os outros, esses grandes amigos da espiritualidade não
possuem relação com a caboclada. Muitos perguntaram o motivo deles baixarem então nas giras de
caboclos, e lhes respondo que por falta de opção. Felizmente alguns terreiros em São Paulo, onde
parece o Brasil querer se levantar (no Rio ainda ronca), já fazem giras separadas para
Boiadeiros/Marinheiros/Baianos/Mineiros. E eu acho isso imprescindível. Sou da mentalidade que
se o bolo é grande (a nossa Umbanda) temos que dividir com todos. É uma falange que quer
trabalhar e precisamos abrir espaço sempre.

60
Esta parte colocada pelo nosso colega a divergencia em nossa casa pois podemos ter varias
linhas atuando ao mesmo tempo não precisamos ter chamadas especificas.
Há outras falanges de Boiadeiro que são ligadas à Chapada, são os chamados Gentileiros.
Muita gente nem sabe disso. Já ouviu falar mas não se informa a respeito do termo nem o que pode
significar. São espíritos que viveram nesses lugares, em vida, ou que se afinizam com esses locais.
Não possuem nenhuma ligação com a Jurema, ou com os índios.
O Boiadeiro da Bahia já inclusive se apresentou para mim uma vez, em sonho. É
completamente diferente da figura do índio e do vaqueiro clássico. É um menino escuro sentado
num cavalo. Chega a parecer demais com a figura do Negrinho do Pastoreio.
O Boiadeiro Navizala me consta que seja de Nação. O Boiadeiro Katu Mandará é traçado
com Exu, O Boiadeiro do Sertão, a exemplo de vários outros, tem a mítica figura do
cangaceiro/vaqueiro, também não é ligado aos caboclos mas sim às Almas. O Sr. João da Serra é de
sertão, porém das serras, que são muito comuns no interior do Rio Grande do Norte, tive
oportunidade de conhecê-lo num terreiro que funcionava nessas paragens, quando lá estive. O
Carreiro é um Boiadeiro traçado com Preto-Velho, soube de sua existência poucos dias após
escrever este artigo. E por aí vai, meus amigos. De Norte a Sul há Boiadeiros com formas, linhas e
apresentações diferentes. Dizer, de uma forma geral, que Boiadeiro é Caboclo é o mesmo que dizer
que todo italiano canta bem, e isso sabemos que não é bem assim.
Abramos espaço nos nossos terreiros para essas entidades!!!
Giras só para Boiadeiros/Marinheiros/Baianos/Mineiros. Para terminar esta mensagem.
Então como classificaremos BOIADEIRO? Eu classifico BOIADEIRO como BOIADEIRO.
BAIANO como BAIANO. MARINHEIRO como MARINHEIRO. MINEIRO como MINEIRO e
fim de papo!!!!

Baianos
Muita dúvida ainda paira a respeito da diferença entre a entidade conhecida como Baiano e
Preto-Velho. Muitos pais-de-santo, ainda ignorantes, dizem que é tudo a mesma coisa e na verdade
não é bem assim. Caem no mesmo erro de dizerem, sem averiguação, que Boiadeiro é Caboclo.
Dirão, sem dúvida também, que todo italiano canta bem. Vamos tentar esclarecer as diferenças
mediante explicações que, espero, sejam proveitosas para todos.
Entidades que são menos conhecidas na Umbanda, os Baianos normalmente estão
associados erroneamente aos Pretos-Velhos, pois são comumente evocados nas giras e nas festas
destes com pontos como “Bahia ou África, vem cá vem nos ajudar...”. Isso ocorre porque ambos são
da Linha que conhecemos como Linha das Almas. Possuem ligações ou traçamentos com os
Boiadeiros, daí a existir o Boiadeiro da Bahia, que em tese também é um Baiano. Mas se para
alguns, Baiano e Velho é a mesma coisa, então por que há sessões (giras) separadas em alguns
terreiros pelo Brasil, principalmente em São Paulo, destes e daqueles? Qual a diferença do Preto-
Velho da Bahia e um Baiano? Todas essas dúvidas tentaremos responder a seguir.
Muitos seriam, em vida, filhos dos escravos que foram trazidos da África para o Brasil,
outros seriam pessoas desencarnadas que tiveram vida na Bahia ou que se afinizam espiritualmente
com o local. Trazem a descontração como marca, o aprendizado de como trabalhar as adversidades,
a alegria, a magia, a brincadeira sadia. Assim, médiuns que são geralmente introspectivos, quando
incorporados, soltam-se liberando a sua alegria interna. Outros já são comunicativos por natureza e
desenvolvem outras qualidades com o seu Baiano, como a flexibilidade diante das situações, como
amparar o irmão com alegria e trazer alívio para as dores do próximo. Uma coisa poderão perguntar,

61
mas e o Preto-Velho da Bahia é Baiano? Sim, este se poderá considerar como tal pela sua origem,
porém o mesmo não se dará no contrário. Todo Velho da Bahia é Baiano, mas nem todo Baiano é
Preto-Velho. Essa é a premissa. E é daí que vem a confusão.
Um dos mistérios que envolve essa falange é a clássica e mítica figura do Zé Pelintra.
Muitos equivocadamente pensam que é um Exu, mas seu Zé é um dos Mestres da Jurema do
Catimbó. Trata-se de um ENCANTADO, termo agora muito em moda que designa todas as
entidades "excluídas" de uma classificação genérica, ou seja, não são Caboclos, Exus, Crianças,
Pretos-Velhos, etc. Quando tiver dúvida acerca de uma falange que não se enquadra em determinada
classificação poderá ver que é um ENCANTADO. Ex: Cigano. O que é Cigano? Exu? Não!
Caboclo? Errou feio!!! Preto-Velho? Tampouco!!! A resposta é essa, ENCANTADO!!!!
Perceberam????
Mas em se tratando de Zé Pelintra, há alguns que “viram” nas giras de Baianos (na direita) e
como Zés originalmente nas giras de Malandros e/ou Exus (esquerda) e até como Marinheiros.
Como Baiano, seu Zé fuma cigarro de palha, bebe batida de côco, pinga, coquinhos ou
simplesmente cachaça, sempre com a sua tradicional vestimenta. O argumento é reforçado por
aqueles que defendem que a falange desse malandro não é de fato à de Exu. Acredita-se que muitos
estariam ligados à Bahia e seriam por isso Baianos. Um dos exemplos é o Malandro da Baixa do
Sapateiro, o Malandro do Pelourinho, seu Zé do Côco, Zé Baiano, etc. Há muitas falanges de
Baianos, citarei algumas que contabilizei em trabalhos de pesquisa em livros e na observação em
terreiros que estive em São Paulo: Zé Baiano, Baiano Severino, Zé Ligeiro, Maria Baiana, Baiana
do Balaio, Maria do Balaio, Zé do Côco, Baiana Sete Saias, João Baiano, Boiadeiro da Bahia, Pai
Mané Baiano, Maria Quitéria Baiana, Pai Zé Baiano, entre muitos outros.
Exu-Mirim
Uma vítima dos pais-de-santo ignorantes é a entidade conhecida como Exu Mirim por
muitas vezes ignoradas ou banidas nos terreiros de Umbanda. Aqui colocamos o Mirim como
qualquer exuzinho pequeno, um traçamento de erê (criança) com exu. Digo isso porque há uma
corrente que defende que o Exu Mirim nada mais é do que um adulto que viveu na cidade de Mogi-
Mirim contrariando a tese de um exu criança. Irei investigar a questão mais fundo posteriormente.
Em se tratando deste artigo, classifico-o como qualquer exu menino. Há diversas falanges e
procurarei enumerar algumas.
Para começo de conversa, a célebre imagem que vende nas lojas de umbanda do país inteiro
prejulga a sua aparência. Representaria muito bem o personagem Brasinha, o amiguinho do
Gasparzinho dos desenhos animados. É fruto da falta de capacidade daqueles que fazem imagens de
santos, muitas vezes completamente diferentes do que a realidade propõe. A apresentação deles é
variada conforme a linha e conforme a irradiação. Afinal de contas, uma criança nunca pode ser
igual a outra.
Carrego um Exu Mirim que se apresentou uma vez para mim como Joãozinho Navalha, um
malandrinho. Me disse que me ajudaria em um concurso que fazia naquela ocasião para Belo
Horizonte. Tinha o intuito de ficar com minha esposa, que na época lá residia. O danado, me
atendendo, me deu inclusive a colocação que teria. Pediu um trabalho muito simples com doces, eu
fiz, e a coisa realmente deu certo. Eu de fato consegui passar naquela prova e fui chamado. Ele
errou a colocação por muito pouco. Meu deu o décimo-quinto lugar e eu fiquei um pouco abaixo,
décimo-nono. Possivelmente ele me julgou menos burro do que realmente sou. Tal fato para mim
teve enorme importância pois percebi o quanto eles trabalham e para o bem. A mediunidade, no
meu entender, é fé raciocinada. Não podemos acreditar em nada sem comprovação. Kardec, por
exemplo, quando fez o Livro dos Espíritos, consultou diversos médiuns e por conseguinte suas

62
entidades, para assim responder as perguntas as quais tinha dúvida. Haveria de existir uma
coerência entre as respostas variadas de pessoas que não se conheciam, caso contrário, não seria
possível a realização da obra. O mesmo ocorre conosco. Precisamos investigar a nós e aos outros e
assim estaremos pesquisando e comprovando os fatos.
Mas infelizmente há diversos dirigentes de terreiros que discordam que sejam eles grandes
trabalhadores. A própria figura da Criança, do Erê, é vítima de preconceito nas casas umbandistas. A
sua presença é reduzida a uma festa ao ano, quando assim incorporam. No restante ninguém se
lembra que existem. Os exus por seu turno, são muitas vezes também discriminados. Muitos os
classificam como seres malignos, traidores, rabos de encruza, eguns e outras classificações piores.
Portanto imaginem juntar uma coisa na outra, ou seja, Exu com Criança, o que pode dar na cabeça
das pessoas preconceituosas e obtusas? O pior possível! Soube que vários pais-de-santo não
permitem a sua incorporação em terreiros alegando que são espíritos embusteiros, bagunceiros e
obsessores. Muitas vezes, devido a essa imbecilidade, são tratados de forma ruim e grosseira
quando incorporam, e acabam por conseguinte por fazerem arruaças. Advem daí a sua má
interpretação.
As formas são diversas. Alguns são Malandrinhos, outros Caveirinhas, outros se apresentam
como pequenos faunos. As variantes são inúmeras. Exu Mirim nada mais é que o travesso das
dimensões negativas, que com sua irreverência resolve qualquer mal entendido e desmancha as
confusões. Guardião de todas as Linhas trabalha junto a Exus e Pomba Giras. Ajuda a abrir
caminhos, desfazer os malfeitos e incentiva o trabalho social para resgatar os que estão na
marginalidade. Fazem par com os erês nas dimensões negativas pois erês também o são. Muitos
tiveram vida na terra como meninos de rua. Outros como travessos, o fato é que se afinizam com a
forma de Criança e são muitas vezes os que ajudam esses marginais para que encontrem o caminho
certo. Entre as falanges há: Exu Menino, Exu Mirim, Exu Caveirinha Menino, Exu Veludinho,
Joãozinho Navalha, Zezinho da Calunga, Malelê, entre outros.
Em alguns terreiros há a incorporação dessas entidades em giras de Crianças. O pensamento
reinante diz que não é muito aconselhado, mas nas casas que tive a oportunidade de estar, não
presenciei qualquer tipo de incidente, transcorrendo tudo na mais absoluta paz e tranquilidade. Se
existe amor e o propósito da caridade, Deus está presente, portanto não há o que se temer. Umbanda
é amor, e caridade mas também responsabilidade. Havendo corrente tudo irá acontecer de maneira
satisfatória.
Que a Umbanda se abra para essas entidades. "Bem aventurados os humildes pois estes
herdarão a Terra”.
Salve!
Ele é Exú
É Exú mirim!
Não me nega nada
Sempre me diz sim!

63
Exú e Pomba-Gira...

Texto pesquisado na rede mundial, e utlzado para debates entre os irmãos de fé, com
intermediação de dirigente espritual incorporado, durante o desenvolvimento mediúnico.

Sem dúvida que existe muitas histórias sobre a linha da esquerda (exús e pombas-giras), mas
claro que muitas dessas não conferem, e em muitos centros de Umbanda é difícil de se ver trabalhos
sérios com essa linha. Os exús e pombas-giras são entidades que em muitas vezes não têm noção do
que estão fazendo aos outros e a si próprios, sendo assim consideradas como "crianças" que fazem
tudo que você pedir, mas é claro que nesse “pedir” existe uma cobrança de algo material, a final
estão mais próximos das coisas terrenas. E a nossa missão quando chegam a um Terreiro pela
primeira vez, é doutrina-las para fazerem somente o Bem, sem jamais prejudicar qualquer pessoa
que seja, e dai em diante trabalham sob o comando das entidades de luz, que conhecem as
necessidades e urgências.
Como dissemos um Exú é uma entidade que quando ainda na sua ignorância faz o que lhe
for pedido e pago, mas as coisas não param só nisso. Ao executar um trabalho maldoso, ela passa a
cobrar cada vez mais a pessoa que solicitou e ao entender que aquela tarefa era errada, então se vira
contra o solicitante e é nessa etapa que as coisas complicam. Por isso, que em um Terreiro tudo é
feito sob o comando das entidades chefes, caboclos e pretos-velhos, pois as permissões vêm deles.
O que os levam para lá ? Muitos são os fatores contribuintes para tal, pois quando
encarnados podem ter feito coisas erradas, ou mesmo depois de desencarnado pode não ter aceito a
situação e ter ido para as trevas. Mas de lá não saem mais? Claro que saem, tudo nessa vida é
mutável, para tudo tem estágios. Assim são eles, uma vez nas trevas começam uma caminhada para
a evolução espiritual, que dará luz, paz, felicidade, crescimento, lições de nosso Pai, e tudo mais
que vem D'Ele. Um exemplo: Exu de duas cabeças: apesar do nome, não quer dizer que tenha as
duas cabeças, mas significa que pode trabalhar tanto pelo bem como pelo mal, e na Umbanda só faz
pelo bem.
É fundamental trabalhar com a esquerda ?
Claro. A esquerda dentro de um terreiro, é quem segura a tronqueira, pois é feito o
firmamento de um Exú como chefe da esquerda e sob o comando dele trabalha todas as outras
entidades da esquerda do terreiro, não podendo jamais fazer algo que contrarie a Lei. O Exú
firmado como chefe além de obedecer as entidades de luz chefes do terreiro, ainda trabalham sob o
comando de Ogum (Lei), e se sair da linha “dança”.
Veja que tudo é uma corrente e uma coisa só, a Umbanda trabalha sob a Lei que o Pai
deixou escrita na Bíblia, representa a humildade, fé, caridade, esperança, perdão, etc...
As primeiras informações registradas sobre a Umbanda datam dos anos 20 deste século e
vêm de Niterói, no Rio de Janeiro, Estado onde, em 1941, organizou-se o Primeiro Congresso do
Espiritismo de Umbanda. Estas primeiras notícias, no entanto, faziam já menção à “Macumba”, no
intuito de diferenciar-se dela, denotando, portanto, a pré-existência de práticas afins. Múltiplas
iniciativas, livres de controles hierárquicos, potencializavam a comunicação entre elementos do
catolicismo, do Espiritismo Kardecista e das tradições afro-brasileiras. Uma nova linhagem
religiosa emergiu deste turbilhão simbólico, apresentando-se dividida, contudo, entre os nomes de

64
“Umbanda” e “Quimbanda” ou, mais vulgarmente, “Macumba”. Embora compartilhando um
mesmo conjunto de crenças, estes nomes alternativos indicam uma divisão de sentido.
Supostamente, a Umbanda trabalharia “para o bem”, enquanto a Quimbanda se distinguiria
pela sua intenção de trabalhar “para o mal”. Esta é uma interpretação simplista, no entanto, pois a
ambivalência entre o bem e o mal parece ser, na verdade, característica dos fundamentos míticos
desta corrente religiosa. Concebe-se inserida num ambiente cósmico dividido entre diversas facções
que se relacionam através de ataques e defesas místicas. Como ocorre nas disputas de amor e
noutras situações competitivas, o bem de uma parte pode ser o mal de outra, e vice-versa.
A mitologia umbandista tem um claro sentido hierarquizante. As entidades religiosas
distribuem-se por sete “Linhas”, comandadas por um orixá ou santo católico. As linhas subdividem-
se em “Falanges” e “Legiões”, pelas quais distribuem-se espíritos desencarnados em vários estágios
de evolução. O altar principal, chamado “Congá”, costuma ser enfeitado com uma grande
quantidade de imagens e objetos, ilustrando a complexidade do panteon umbandista. Estes altares
podem ter imagens de Cristo, o Guia do Terreiro, Nossa Senhora, santos como São Lázaro, São
Jorge, Cosme e Damião, orixás, pretos velhos, caboclos, velas, colares, flores e por vezes ícones
cívicos, como a bandeira nacional. A Umbanda surgiu no entre guerras, momento de forte afirmação
do Estado nacional, e se assume como religião patriótica.
O culto é feito numa “Gira”, composta de música e dança sagradas. Os atabaques marcam o
ritmo, os médiuns cantam o “ponto” sob a liderança da Mãe ou Pai de Santo, dançam em roda, e
recebem os guias espirituais, funcionando como seus “cavalos” ou “aparelhos”. Além de se
expressarem dançando a sua energia vital, como ocorre no Candomblé, os guias da Umbanda se
apresentam para dar conselhos aos fiéis que se aproximam. Orientam os fiéis e purificam-nos
através de “passes”, protegendo-os dos ataques místicos de que são vítimas.
A Mãe e algumas filhas de santo mais desenvolvidas costumam receber fiéis para consultas,
o que fazem incorporadas pelos seus guias. Os terreiros de Umbanda tornam-se, assim, centros de
avaliação e de resolução de uma infinidade de pequenos conflitos que afligem as pessoas em seu
cotidiano. São especialistas na identificação das causas dos infortúnios, profundos conhecedores da
psicologia social local. Ajudam a conformá-la, inclusive, emprestando-lhe um sentido maior. As
competições cotidianas, cujos resultados desiguais semeiam a inveja e o ressentimento, resultam na
produção de feitiços, ou mesmo na simples geração de negatividades que fazem mal. O povo da
Umbanda (dir-se-ia o povo brasileiro, em larga escala) leva a sério o “mau olhado”.
Invenção cultural notável, a Umbanda traz, para a interpretação e resolução de conflitos,
personagens “marginais” da hierarquia simbólica dominante: caboclos afoitos, que representam os
espaços não domesticados das matas; pretos velhos, escravos já à margem do trabalho, que têm a
sabedoria realista de uma vida sofrida; Exús e Pombas Giras, identificados a personagens das ruas,
que não se escondem atrás de máscaras sociais bem comportadas e que se movem com facilidade
pelos meandros perversos dos conflitos humanos; crianças, que ainda não entraram na idade da
razão. São estes os guias para a proteção e o aconselhamento. Distantes das autoridades oficiais,
sejam seculares ou sagradas, possuem os poderes que se acumulam nas margens das estruturas
burocráticas e simbólicas. São poderes usualmente descartados pelas ideologias oficiais, que
encontram abrigo na Umbanda e podem, através dela, dar um sentido positivo à sua experiência e
ao seu destino.

65
O arquétipo de Exu...

Texto publicado na rede mundial, sobre uma reunião de doutrinamento, com perguntas e respostas
a uma entidade espiritual incorporada.

O arquétipo de Exu é muito comum em nossa sociedade, onde proliferam pessoas com
caráter ambivalente, ao mesmo tempo boas e más, porém com inclinação para a maldade, o
desatino, a obscenidade, a depravação e a corrupção. Pessoas que têm a arte de inspirar confiança e
dela abusar, mas que apresentam, em contrapartida, a faculdade de inteligente compreensão dos
problemas dos outros e a de dar ponderados conselhos, com tanto mais zelo quanto maior a
recompensa esperada. As cogitações intelectuais enganadoras e as intrigas políticas lhes convêm
particularmente e são, para elas, garantias de sucesso na vida.
Qual a diferença entre os chamados “Exu-quiumba” e “Exu-de-Lei/-batizado”?
Essa será uma resposta simples, clara, mas eu deixo a você um dia, ou dois, ou três... porque
para responder a sua primeira pergunta de 40, eu poderia falar por três horas... porque quando se vai
falar sobre o Exu-quiumba ou o Exu-de-Lei, nós temos que voltar na história da demonologia
Mesopotâmica, a 4.000 anos antes de Cristo, onde tudo começou.
Bom, até eu chegar ao Exu-quimba, eu fico ao seu dispor... Agora, você anota e os outros
lêem depois. A diferença entre o Exu quiumba e o Exu-de-Lei é que os Exu-quimba são espíritos
que se prestam a serviços tanto do mal quanto do bem, porque não sabem o que fazem, para eles
não existe diferença entre mal e bem, porque o conceito de mal e bem está longe da consciência, da
sua razão. O Exu-quimba é aquele usado pelos feiticeiros, pelos magos, que trabalham com Exu...
ou outros espíritos fazendo o mal, não necessariamente chamados Exu (porque se você estuda as
profundezas da magia, da bruxaria, não se tem o nome “Exu”. “Exu” é um termo yorubá, que veio
da África.). O mal na mesma base, na mesma vibração (da magia feita com um Exu-quimba) é feito
em várias seitas diferentes, com o mesmo potencial - na bruxaria européia, no voodu, na alta magia,
e em várias outras seitas. O Exu-quiumba é esse Exu que se presta a esses serviços, que atende os
pedidos quando recebe o material. Ele só tem os olhos no material que ele recebeu, é como se ele
fosse um pistoleiro: você paga, ele mata; ele recebeu, ele faz; ele não tem noção (do bem e do mal).
Posso acrescentar aí que no dia que ele tiver a noção do que o pai-no-santo ou outra pessoa
que está usando ele, está fazendo com ele; o dia em que ele pensar em progredir e querer descobrir
as faltas horríveis que ele cometeu, e que ele foi usado... ai, ai, ai... É aí que ele vai cair em cima da
pessoa que usou dele, e vai cair muito, porque ele é vingativo. Esse é o Exu-quimba. Através dos
Exus-de-Lei, é feito uma mescla entre os Exus-quimba e os Exus-de-Lei dentro dos terreiros para
dar uma oportunidade que os Exus-quimba se melhorem. Em qualquer terreiro, tenha ele qualquer
intenção, seja ele de qualquer origem da criação que o pai-no-santo ou a mãe-no-santo (o babalorixá
ou a ialorixá) recebeu.
Às vezes o pai-no-santo tem um bom coração, uma boa índole, mas ele teve aquela criação
de que “o Exu dá o que se pede”. Mas tendo um bom coração ele tem uma boa escora e um bom
Exu-de-Lei, mas é colocado nesse meio o Exu-quiumba para fazer o trabalho sujo que por ventura é
solicitado, mas nessa mistura eles (os Exus-quimba) vão crescendo, estando em paz. Não sei se isso
responde a uma outra pergunta, mas o Exu-quimba não vê diferença no Exu-de-Lei; eles pensam
que são todos iguais; em uma lei onde não manda a lei do amor, mas a lei do mais forte, a lei do
respeito imposto pelo braço, pela maldade. É por isso que os Exus-de-Lei se apresentam muito

66
poderosos sobre eles, e eles têm que respeitar. O papel da sua escora é impedir que outro Exu lhe
faça mal - por isso você “entrega” para Exu.
A sua escora é um amigo de todas as horas, um iluminadíssimo, que além do bom coração
que tem e do conhecimento profundo da magia, se dispôs a cuidar de você; e ele vai tratar de Exu
como um Exu. Um (Exu-quiumba) não sabe quem é o outro (Exu-de-Lei), e ele (Exu-quiumba) não
sabe porque está mergulhado nessa ignorância, nessa cristalização mental.
Todos nós temos um grau de cristalização mental. Às vezes nós não queremos enxergar o
que é necessário fazer, mudar, para que possamos ser mais felizes. Às vezes nós sabemos, no
“fundinho” nós sabemos, e a voz da consciência, e a voz determinante desse Exu compadre, dessa
escora, está sempre nos alertando, porque ele está totalmente ligado às fraquezas humanas, aos
vícios da matéria e aos vícios do coração. O Exu-de-Lei se dispõe a trabalhar, seja qual for a seita,
para que essa transformação seja realizada; para que seja feita a vontade do Senhor, nos novos
tempos que virão. Essa falange de espíritos, que entra em todas as seitas, a fim de, aos pouquinhos,
ir mudando a concepção das idéias, dos preceitos, e do coração. Vai chegar o dia que o Exu-
quiumba não vai ter acesso aos terreiros, no dia em que o coração das pessoas mudarem, o ponto de
vista mudar: o que é mexer e lidar com um ser espiritual. As pessoas materializam muitos os
espíritos... isso vai mudar. Nesse dia a Umbanda vai mudar também.
Porque existe a “lei de Exu”, segundo a qual todo trabalho necessita de um
pagamento? No caso em que esse pagamento se dá através de objetos materiais, como
conciliar essa forma de trabalho com a essência da Umbanda, que é a prática e o exercício da
caridade verdadeira, através do exercício do amor livre de interesses?
Primeiramente, o fato de pagar Exu não foge da lei da caridade. Pagar Exu, ou seja “pagar o
chão” é uma lei que a quimbanda conhece. Se os Exus-de-Lei trabalham mesclados com os Exus-
quimba para a evolução deles (dos Exus-quiumba)... tudo bem que eles (os Exus-quiumba) são
ignorantes, mas eles não são burros. Essa é a lei da pemba, a lei da Umbanda, a lei da Quimbanda,
dessa área da magia. O Exu-de-Lei, que nunca fez ou não faz a maldade (porque você pode pedir a
maldade para o Exu-de-Lei, mas não vai ser ele que vai fazer e, sim, você mesmo, junto com outras
forças.). Bom, você tem que pagar o chão. Infelizmente o chão sai caro em muitas casas... Mas
“pagar o chão” é uma moeda, uma moeda de um centavo, é o simbolismo. Infelizmente, as pessoas
procuram esse “simbolismo” de acordo com a cara da pessoa: “esse tem dinheiro, é tanto; esse não
tem, vai ser tanto; desse eu vou cobrar muito dinheiro, mas como esse outro não tem eu vou cobrar
10; o chão foi pago. A paga do chão é uma necessidade - você vai entender o porquê agora. Se um
quiumba vira para mim e fala “você está fazendo o bem”. Eu viro pra ele e falo na mesma hora: eu
recebo não é para fazer o que me pagam? Não importa se é o bem ou se é o mal. “Não é essa a
lei?”; “Ah! Mas você não é um Exu porque você só pratica o bem...”, eu falo: “Não, eu recebo para
fazer o que me pedem, o que me pedem eu tenho que cumprir.”
Se você paga o Exu para ter o ouro, você vai ter o ouro. Se você paga o Exu para ter a
mulher que você escolheu, você pode pedir em 3, 7, ou 21 dias e ela vai ser sua. Se o pai-no-santo
for “bom”, se a energia for bem colocada, o seu emprego, a sua mulher, o seu carro... tudo, você vai
ter na sua mão, porque esses (Exus-quiumba) são espíritos profundos conhecedores da lei material e
longe da lei do coração. A paga do chão é essa: eu tenho direito de fazer o que você me pedir, pois
você está me pagando. Eu estou aqui trabalhando para você, não estou fazendo caridade. É a lei da
quimbanda: paga, recebe.
Como cada médium deve “cuidar” do seu Exu?
Primeiro, com respeito. Eu estou cansado de ver bons médiuns, com bons Exus, que, quando

67
alguém faz alguma coisa contra eles, jogam o bom amigo e companheiro de todas as horas contra
quem fez. O Exu, ou guardião, abaixa a cabeça, faz uma prece, pede perdão por ele... Mas esse
médium vai ter quem faça. O pessoa que mexe com a quimbanda tem que ter cuidado até com seus
pensamentos, porque ela joga. Não queira que o meu cavalo tenha raiva de você; não é pra passar
medo para você, mas para exemplificar a força que ele tem, o potencial de “jogar”. É assim que
funciona e é assim que é: cada um é responsável pelos seus atos e cada um colhe o que planta,
sempre.
Respeito e carinho: é a melhor maneira de tratar do seu Exu. Ele não vai lhe cobrar, ele quer
ver você feliz. Ele vai lhe cobrar se você andar errado, mas quando eu falo “ele vai lhe cobrar” eu
falo o que o Exu intimamente significa, a lei da causa-e-efeito. Porque mesmo os quiumbas são
utilizados, na sabedoria do cordeiro de Deus, para que seja realizada a lei da ação-e-reação. Eles são
utilizados sem saber, para que essa lei se cumpra; assim como vários espíritos são utilizados nos
processos da natureza, no desabrochar e no crescer das flores, das plantas, na chuva, no vento, na
terra, no fogo; as ondinas, no mar, os elementais, os gnomos... todas as expressões de inteligência,
todos os processos evolutivos em crescimento mental, mesmo que ele possa estar dormindo na fase
mineral, ou despertando na fase animal, ou tendo sensações nessa mesma... eles estão sempre sendo
manipulados pela lei do Criador.
Para trabalhos que atingem esse nível, graças a esse mesmo Criador, existem vocês, na
Umbanda. Em alguns terreiros, o desenvolvimento mediúnico se dá primeiramente através
dos trabalhos com Exus. Por que em nossa Casa não é assim? Por que, em nossa Casa, Exu
não se manifesta em sessões públicas?
Primeiro, por causa do pai-de-terreiro de vocês. Ele não quer e nós temos que respeitar a
decisão dele. Por um lado, ele está correto e pode ser que no futuro ele venha a mudar os
pensamentos. Por mais que eu esteja 100% no médium, que é o coisa mais rara e quase impossível
de acontecer (o espírito estar 100% incorporado no seu cavalo - porque por mais que ele esteja
assentado e com as rédeas na mão do espírito, o cavalo é quem está caminhando, os olhos do
cavalo, a percepção dos sentidos de olfato, de audição vem na frente da pessoa que está montada
nele). Então, por mais que nós estejamos 100%, nós ainda respeitamos essa decisão dele. Essa
decisão pode ser consciente ou inconsciente.
Eu vou tentar explicar o que eu tenho aqui, nessa casa mental (do médium). Por muitos anos,
e pelos muitos erros relacionados com a confusão que as pessoas fazem de Exu, ele (o médium) não
quer pelo medo do que as pessoas vão pedir para Exu, e ele não quer também, como ele leva o
trabalho muito pelo lado Kardecista - pelo choque material, porque o Exu trabalha muito na
matéria, porque o Exu é o agente da matéria. Por elevar o trabalho a um nível, a uma estrutura, a um
conhecimento, a uma base, ele acha que o Exu vai entrar em choque com os ensinamentos. Além
disso, ele sabe que Exu pode trabalhar espiritualmente. Mas se eu desço na Terra, eu ponho fogo no
meu caldeirão, eu empunho a minha espada, e pego a minha capa, o meu vinho e o meu charuto.
Isso não significa que o terreiro tenha mais ou menos força, porque embora ele não abra sessões de
atendimento para Exu, ele cuida de Exu como tem que ser cuidado, a segurança é muito bem feita,
ele faz a parte dele e Exu está cumprindo o papel que tem que ser cumprido; isso não altera em nada
nos trabalhos do terreiro. Se submetidos a uma análise superficial, os hábitos e forma de expressão
de algumas entidades da Umbanda parecem não estar em sintonia com um trabalho que visa a
espiritualização do Ser. Por exemplo, no caso dos Exus, o atendimento com o fumo, a bebida,
vestimentas, palavrões, arrotos etc. Uma reflexão maior nos indica que esses hábitos podem ter 3
causas, as quais podem, teoricamente, atuar em conjunto ou não. São elas:

 Esses hábitos são necessários e fazem parte dos fundamentos da Umbanda. Nesse caso, eles
estão sob uso consciente e voluntário da entidade. Cabe aos médiuns estudar e procurar

68
entender os fundamentos da Umbanda e o motivo pelo qual as entidades possuem uma
forma determinada de expressão;

 Esses hábitos são resquícios de hábitos arraigados nas entidades; estão sob uso consciente e
voluntário da entidade, mas não são necessários e/ou parte do fundamento da Umbanda.
Nesse caso, seria responsabilidade do médium tentar alterá-los, através de uma
“doutrinação”;

 Eles são frutos de hábitos e experiências do médium e são usados pelas entidades devido as
limitações impostas pelo uso do veículo mediúnico. Nesse caso, como no anterior, tais
hábitos não seriam necessários e/ou parte do fundamento da Umbanda. O médium teria a
responsabilidade, assim, de se educar e alterar suas crenças e hábitos para não influenciar
tanto na forma de expressão das entidades.
Para exercer uma mediunidade responsável e dentro dos fundamentos da Umbanda,
precisamos saber distinguir entre essas alternativas. Como proceder para distinguí-las?
Primeiramente, esquecendo da Umbanda, vamos analisar o veículo mediúnico de uma forma
geral. O espírito trabalha no médium sem a necessidade de qualquer veículo físico para que o
mesmo trabalho, com a mesma qualidade, se processe. Eu mesmo, quando eu desço, eu tento
manter a feição do médium como ele é; a voz, o jeito de olhar, a aparência, para mostrar que o
médium não precisa mudar a sua postura e que o que vale é a mensagem que sai pela boca. Poderia
não ser eu, poderia ser ele aqui falando; isso não interessa, o que interessa é o aprendizado que está
sendo transposto.
O médium, ao longo do tempo, vai aprendendo a lidar com ele mesmo, sempre para melhor.
Mas se você analisar o sentido da lei da quimbanda, a maneira com que as entidades descem, e a
maneira na qual elas trabalham, eu já respondi essa pergunta para você, quando estava falando de
quiumba e Exu-de-Lei.
A maneira na qual o espírito trabalha não altera o produto, a qualidade da comunicação, mas
se ele trabalha com um linha assim, uma linha de quimbanda, ele tem que trabalhar de acordo. Isso
não significa que todo o Exu necessita do fumo ou do álcool ou dos paramentos. Isso vai depender
do compromisso dele com o médium e do compromisso da carga que ele vai jogar em cima do
médium; isso não significa que um Exu que beba muito álcool seja “melhor” ou “pior” que um Exu
que beba água. A diferença é o trabalho que um ou o outro realiza. Porque às vezes, o médium pode
estar com um Exu que está bebendo muito e um outro médium, com um Exu que está bebendo água
está realizando muito mais do que o Exu que está bebendo muito. Aí entra o sério perigo, um risco
muito grande, do médium consigo mesmo. O médium tem que ter a consciência, a responsabilidade
de saber até que ponto ele está treinado para o trabalho. Porque se ele não está completamente
sintonizado com o energia do Exu, e esse Exu bebe e fuma, ele vai acabar absorvendo os resíduos
negativos que o vício contém. Isso vai atrapalhar o físico dele, a mente dele, e ele vai acabar
entrando em sintonia com entidades que necessitam desse vício.
É por isso que eu respeito o meu cavalo na decisão de não desenvolver a linha de Exu,
porque vocês ainda não chegaram no ponto de entender que o que vale é a essência, que a cura se dá
através da imposição das mãos. “Ah! Mas porque é assim com ele? Porque é que o Pinga-fogo
desce, bebe e fuma?”
Eu estou jogando as 3 alternativas juntas, tá? É do espírito? É. É do médium? Também.
Cada caso é um caso que se deve analisar olhando muito tempo atrás. Quem sabe a quantos e
quantos séculos ele vem trabalhando nessa rotina? Ou quem sabe ele não fez mal uso do álcool e do

69
fumo no passado e os mesmos se apresentam na mediunidade para que ele possa trabalhar e
santificar esse vício? Vê-se, então, que cada médium é um médium e cada caso é um caso; não
existe diferença de um para o outro, nunca. Mas o médium tem que ter a consciência e a
responsabilidade. O trabalho é realizado da mesma maneira.
Os ingredientes, durante o trabalho, são utilizados no sentido de trabalhar na mesma faixa
vibratória, na mesma onda na qual os espíritos ignorantes trabalham. É claro que nós mudamos
completamente o sentido. O fumo é um vício, mas, ao mesmo tempo, quando eu o uso, eu faço uma
quebra físico-psíquica no ar, que destrói, que corrói todas as larvas, bacilos, fungos, projetados
pelas formas-pensamento, projetados pela infecção, poluição, sujeira mental que todos nós
acumulamos no nosso dia-a-dia, em nossas auras, em nosso psíquico, de uso não só individual, mas
com as próprias entidades. Eu uso desse mecanismo para o bem. Cada Exu vai canalizar esse
mecanismo para o sentido do trabalho que desenvolve.
Por que crianças (na matéria) e mulheres menstruadas não podem ficar perto de Exu
(incorporado)? Por que a menstruação impede alguns trabalhos mediúnicos?
As pessoas tem a idéia errada de que o Exu não tem a vibração boa e, por isso, as crianças
não podem estar perto de Exu, porque são “puras”. Mas é a forma na qual o Exu vem que choca as
crianças. Não é pela pureza, mas é porque a criança não entende. Às vezes, certo tipo de trabalho
choca vocês, quanto mais uma criança... Então, em respeito a essa entidade que está em fase de
amadurecimento terreno, formação psicológica de suas idéias e concepção a respeito do mundo, dos
pais, família, sociedade, circunstâncias, crescimento... É um choque para as crianças. Você não pode
colocar uma criança na presença de Seu Tranca-Ruas; vai ser criado um medo na criança. Isso não
tem nada a ver com vibração. Infelizmente, todos têm essa idéia errônea sobre vibração,
principalmente sobre Exu.
Quanto à menstruação, Exu trabalha com o símbolo mais específico da matéria, da vida: o
sangue ou, como muitos Exus dizem, a “menga”. “Menga” é um termo nagô, provindo da
sociedade yorubá, originária da África. Sangue é vida e quando a mulher está menstruada ela está
liberando muito sangue e Exu trabalha com sangue. Quando eu bebo, eu recupero toda a glicose que
estava sugando do meu cavalo. E se o meu cavalo não pudesse beber? É claro que eu recuperaria de
outra maneira. Mas é por aí, a questão do elemento sangüíneo. Podem haver exceções. Se o Exu
fala “ela está menstruada, mas ela fica na jira”, ele vai bloquear a pessoa, ele vai preparar a pessoa
espiritualmente e isso acontece muito no terreiro de vocês. Como o trabalho (da jira) é raro,
mensal , as pessoas menstruadas são preparadas porque se elas perderem o trabalho só vão
participar de um outro em 2 meses.
Qual o trabalho espiritual e físico desempenhado pelo Tronqueira? Por que é
necessário que um médium específico tenha essa função?
A casa tem um tronqueira espiritual. O tronqueira de vocês é o mestre Tranca-Ruas, o
responsável pela segurança da casa embora ele trabalhe com uma falange imensa de Exus e não-
Exus que colaboraram para que o processo se passe - desde a segurança de vocês até os problemas
que vão ser encaminhados nas mãos de vocês. Por agora, por exemplo, todos nós já sabemos, para
os próximos 50 anos, as pessoas que vão chegar, o dia que vão chegar, a hora que vão chegar,
porque vão chegar, como vão chegar e como serão resolvidos os casos. Cada caso é um caso e cada
caso tem uma maneira de se lidar. Seu Tranca-Ruas, na coroa do meu cavalo, é o responsável pela
tronqueira espiritual.
O tronqueira , ou o ogã (porque o ogã é todo aquele que presta serviço material no terreiro,
não só no atabaque; a palavra “ogã” se usa muito para os tocadores de atabaque porque são os que

70
mais aparecem) tem a finalidade de representar Exu na matéria. Para complementar, o tronqueira,
pela lei da pemba, pela lei da Umbanda, da Quimbanda, não incorpora. Nós não permitimos que o
tronqueira abra o seu psíquico, porque ele tem que estar bem, ele tem que estar firme, equilibrado,
controlado, ciente de seus próprios pensamentos, das suas emoções. Porque ele é a representação
material e se a porta da mediunidade não é aberta, ele tem mais segurança para agüentar os
trabalhos pesados que caem sobre ele. Esse é o papel do tronqueira.
Alguém tem que ser o tronqueira. Porque, nessa casa, o tronqueira é o meu filho? O papel
dentro de uma casa não significa nem destaca uma pessoa sendo melhor do que a outra. Ele é o
tronqueira porque, além de ser o tronqueira da casa, ele é o tronqueira do meu cavalo. Aonde o meu
cavalo vai, ele vai atrás; aonde meu cavalo pisa, ele pisa atrás. Há 12 anos, quando meu cavalo teve
a manifestação com o Caboclo Tupinambá, ele estava do lado, já exercendo o papel de segurança
física. Pela lei do santo, o tronqueira tem que passar por 7 anos, 10, 15, dependendo da nação, para
chegar a esse nível... mas a preparação é antiga, e só é dado a cada um o que cada um consegue
realizar.

Exú Pinga Fogo

71
A Armadilha do Tempo Passado...

Integra de carta aberta publicada na rede mundial, e utilizada para estudos e debates entre os
irmão de fé, com a mediação dos dirigentes espirituais. Cabe aqui uma breve explanação:

Na mitologia Yoruba, Orunmilá é um orixá, e divindade da profecia, identificado no jogo do


merindilogun pelo odu ejibe. Ele é reconhecido como "Ibi Kejì Olodumare" (segundo só a Olodumare
(Olorum, Deus)) e "Èléri Ípìn" (testemunha da criação). O título ibikeji não pertence apenas a ỌỌrúnmìlà, mas
também a Ọbàtálá, e por extensão, a todos os Òrìṣà que possuem o Poder Delegado de Olódùmarè (Deus).
A forma completa deste título (oríkì) é: Aláàṣẹ Igbákẹjì Olódùmarè. Sobre elerí ìpin a melhor tradução é:
testemunha, aquele que viu (ẹlẹẹẹỌrí), da escolha individual (ìpin:nun), isto é, "a testemunha do que a pessoa
escolheu". Em resumo, ẹlẹẹẹỌrí ìpin quer dizer que Òrúnmìla sabe o que a pessoa escolheu, por ela mesma,
para vir fazer no mundo.

Orunmilá também é às vezes chamado Ifá que é de fato a incorporação do conhecimento e


sabedoria e a forma mais alta da prática de adivinhação entre os Yorubas. Embora Orunmilá não seja de
fato Ifá, a associação íntima existe, porque ele é o que conduz o sacerdócio de Ifá.

Ifá é o nome de um Oráculo dos Yorubás na Nigéria. Os sacerdotes de Ifá são chamados Babalawo
(o pai dos segredos).

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

Desde cedo, eu experimentei junto a mim a “presença” do Orisa Orunmila, ao qual hoje sou
devotado. Mas, sentia-me confuso quanto a isso especialmente quando me achava entre
espiritualistas meus confrades e com eles discutia a essência de nossa própria forma de louvação
bem brasileira aos Orixás: a Umbanda Esotérica.
Freqüentemente, nesses momentos, quando eu respeitosamente questionava meus maiores
com relação às origens de certos rituais dos Orixás cultuados na Umbanda Esotérica,
paradoxalmente eu esbarrava em um forte preconceito cultural anti-africano, o qual classificava tais
origens pejorativamente como "africanismo" e que era mais sucintamente expressado pelo
pensamento de que os conhecimentos africanos estavam 300 anos fora de sintonia e que, agora,
éramos “nós” os que atualmente detinham os reais segredos do poder místico.
E a origem desta minha interrogação era que o nome do Orisa Orunmila Ifa não estava
incluído dentre os sete nomes principais que atribuíamos aos Orixás Ancestrais na Umbanda
Esotérica: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xango, Yemanjá, Yori e Yorimá. Tal relação de nomes
hierárquicos era a honrada convicção daquele grupo a aquele tempo e tudo em nome de uma
Sabedoria que consideravam mais antiga ainda do que a Africana: a Sabedoria Esotérica. Eu
acabava por me conformar com tal “convicção”, mas sentia-me um prisioneiro no quarto fechado
do conhecimento alheio. Um dia rebelei-me espiritualmente contra tudo e todos! Decidi iniciar
minha própria jornada à procura de conhecimentos, mas não tinha parâmetros definidos. Eu só tinha
dúvidas que me atormentavam:
Por que um Orisa que não era cultuado na Umbanda Esotérica “gritava” em minha cabeça
tradições que não eram as de meus ancestrais raciais?
Por que um adivinho que não era da religião afro-brasileira, afirmara que eu era um
Babatunde (um Pai que retornou), sem que nenhum de nós dois soubéssemos, à aquela época, o que
tal palavra significava?

72
Por que uma Entidade Espiritual da Umbanda, insistia que eu fosse submergido na Eerupee,
a Lama, quando nenhum de meus mestres conhecia um tal ritual?
Então, em minha jornada que pensei solitária, pois, na verdade, eu estava sendo guiado por
mestres espirituais desencarnados, deparei-me novamente com um aforismo esotérico que antes me
parecia banal: conhece a ti mesmo!
E, desta vez, fez-se luz em minha mente: como eu poderia conhecer o mistério dos Orixás se
eu não havia ainda decifrado o enigma de mim mesmo?
A reflexão sobre este ponto fez-me assumir o problema de minha própria alteridade bem
brasileira: se eu acreditava na reencarnação, tinha que assumir que dentro de mim eu carregava as
marcas do destino de meus antepassados índios espoliados, de negros escravizados e de brancos
opressores! No entanto, eu aceitara como verdadeira a supremacia da herança espiritual helena-
semítica, consubstanciada na Sabedoria Esotérica, em detrimento de todas as outras.
E esta minha jornada à procura de conhecimentos levou-me a explorar, descobrir e assimilar
as convicções de raiz das etnias africanas Bantu e Sudanesa, bem como também as convicções de
raiz da raça Tupi-Guarani brasileira e as dos Egípcio-Heleno-Semita que realmente compõem os
Três Pilares da Umbanda Esotérica, constituindo-se na Filosofia das Forças Vitais da Natureza.
E, assim, eu que já era um Mestre de Linha da Umbanda, forjei-me também em Babalawo,
Pajé e Místico Esotérico!
Foi então que pude preencher a lacuna da existência do Orisa Orunmila Ifa na Umbanda
Esotérica por compreender que sob a denominação de "Yorimá", o qual, neste credo, é "patrono" da
Falange dos "Pretos-velhos", primeiramente existia a figura do Orisa Obaluaiye, o Senhor da Terra
da Vida, e, acima dele, a do Orisa Orunmila Ifa, o Senhor dos Destinos Humanos. Da mesma forma,
a denominação "Yori" atribuída à Falange das "Crianças" da Umbanda e cujos "patronos" são São
Cosme e São Damião, havia eclipsado os Gêmeos Sagrados Ibeji, chamados Taiwo e Kehinde!
Também os Ere e os Tobossi africanos haviam sido sincretizados no terceiro gêmeo africano -
Idowu - aquele que, na Umbanda, é conhecido por "Doum"!
Axé! Eu havia realizado minha própria síntese esotérica!
A partir dessa síntese, confirmei a mim próprio o que já presentia: que em termos de
Umbanda Esotérica, as denominações Tupan, Zambi, Olorun e Jeovah são nomes diferentes nos
quais diferentes raças expressam o mesmo conceito de Deus Único, Onipotente e Onipresente!
E quer os chamemos por Guaracy, Yacy e Rudá - Xangô, Yemanjá e Yori - São Gerônimo,
N.S. da Conceição e São Cosme e São Damião, todos são Seres Espirituais de Origem Divina para
os que assim os chamam e que todos eles, incluídos os demais restantes, eu posso agrupar sob a
denominação genérica e atual de Orixás Ancestrais, sem com isso estar ofendendo, por diminuir ou
engrandecer, nenhuma corrente religiosa. O ponto de semelhança entre eles é inquestionável em sua
grandeza: Deus!
Passou-se o tempo e, nos dias atuais, eu esperava que todos nós praticantes da Filosofia das
Forças Vitais da Natureza já tivéssemos crescido em conhecimentos e que, após 30 anos,
pudéssemos enfocar as semelhanças básicas daquilo em que cada um acredita e desta forma ter
respeito pelas diferenças críticas em nossas práticas religiosas individuais. Mas, a pouco tempo
atrás, eu senti, melhor dizendo, eu li, nas palavras de um Ifa Babalawo altamente educado e
respeitado, missionário africano baseado na Califórnia - EUA, quase o mesmo antigo preconceito
cultural que havia tentado me enjaular no passado, só que em sentido inteiramente oposto.

73
Em sua honrada convicção, ele generosamente estendia sua mão aos descendentes daqueles
que haviam sido exilados de suas pátrias pela diáspora da escravidão, expressando em forma de
parábola a convicção de que o conhecimento místico atual das religiões de origem Afro, na América
do Norte e América Latina, era como “águas barrentas”: este conhecimento místico tinha tido seu
valor na sustentação da crença nos Awon Orisa no período de provações, mas agora era dispensável
porque, através daquele que assim se expressava e de seus confrades, todos poderiam beber a “água
límpida” da Antiga Sabedoria Africana.
Esta é a honrada e generosa convicção daquele Babalawo e seus confrades. Mas, após quase
400 anos de sangue, suor e lágrimas para ter o direito de expressar livremente nossas crenças
religiosas neste Brasil, não pude aceitar a implicação, subentendida em suas palavras, de que as
convicções de cunho exclusivamente africano são as únicas de real valor ou sabedoria. E, então,
meditando sobre todos esses desencontros espirituais, passados e presentes, operou-se em mim nova
síntese suplementar: eu resolvi, sem abrir mão dos títulos de Mestre Itaoman e o de Babalawo
Babatunde por mim conquistados na Umbanda Esotérica, adotar os simples nomes espirituais de
Oberefun Si Okojumide (Yoruba) e Piron (Tupi-Guarani) e que me foram outorgados e mandados
usar por meus Mestres Espirituais como sêlos de proteção e penhor de perdão alcançado por meus
erros passados, através de meus méritos passados, presentes e futuros.
O primeiro nome - o africano - me foi revelado num Jogo de Búzios por um “Preto Velho”,
Pai Vicente de Angola (etnia Bantu), mas é expresso em Yoruba (etnia Sudanesa) significando
“Aquele que rezava para o navio aportar logo”, tamanho fôra seu sofrimento e horror a bordo do
navio negreiro, horror e sofrimento estes que foram comuns a todos na Diáspora. Louvo aqui àquele
Babalawo que “A da Ifa fun” ou “criou Ifá para mim naquele Jogo de Búzios, o mais correto e
imparcial que já ví em toda minha vida.
O segundo deles - o indígena - significando “Falcão”, revelou-me diretamente meu Mestre
Xamânico Espiritual Caboclo Pedra Preta, em uma visão astral na contra-partida espiritual de nossa
Cachoeira Sagrada na “Terra da Pedra da Cruz de Fogo”, que é o que significa o topônimo
“Itacuruçá”, cidade berço e sede da T.U.O. - Tenda Umbandísta Oriental aonde pontificou meu
Mestre Yapacani na Corrente das Santas Almas Benditas do Cruzeiro Divino.
Adotei-os porque eles representam a angústia e o desespêro, mas também toda esperança
daqueles que tiveram de fazer a longa travessia do oceano para serem escravizados em terras
estranhas e aí aprender e aceitar as individualidades religiosas ancestrais de cada grupo étnico já
aqui existentes, também massacrados e espoliados de seus direitos, mesclando seus conceitos
espirituais em uma nova forma religiosa momentânea que lhes desse um ponto de resistência
comum, transformando-a assim em semente de sobrevivência espiritual para seus descendentes. E
assim o fiz porque senti que em ambos os casos anteriormente relatados, separados por quase 30
anos, a fraqueza humana que precisa sentir que o seu próprio modo é o melhor ou o único modo,
diminui o potencial do Mana, da Benção, da Mandinga e do Axé de todas as Divindades, porque
exclui o conhecimento ou a sabedoria de qualquer outra pessoa ou grupo diferente daqueles que se
erigem em árbitros da Espiritualidade.
Se eu também me colocasse nessa posição de árbitro do que vale a pena ou não, nunca
poderia avaliar o trabalho de outros, cujas prática e ritual podem diferir honestamente do modo
como encaro a Realidade Paralela, porque agir desta forma seria o mesmo que auto questionar a
própria autoridade absoluta da qual eu pudesse me sentir investido.
E, assim, aumentei meu conhecimento espiritual sobre mim mesmo, pois resolvi não ficar
congelado em minha prática ritual, recusando-me a usar sempre e sempre as mesmas experiências
passadas dos outros, sem nunca acrescentar nada de bom ao Porvir. Pois, esta posição de árbitro da

74
Espiritualidade me faria, em vez de navegante do Rio do Conhecimento, um náufrago, não em
“águas barrentas”, mas em águas estagnadas!
E eis o que o conhecimento de mim próprio me ensinou:
Acredito em Deus: Único, Absoluto, Onipresente e Onisciente seja qual for o Nome que a
Humanidade Lhe atribua através dos Tempos e Lugares.
Tenho como minha verdade que Ele reflete sua Infinita Bondade pelo Universo de sua
Criação, através de Seres Espirituais de Origem Divina a quem denomino de Orixás Ancestrais.
Compreendo o Mana, a Benção, a Mandinga e o Axé (Força Espiritual) dos Orixás
Ancestrais como energia vivente, atuante e onipresente em nome de Deus por todo o Universo, não
como estórias dos Contos da Carochinha de qualquer origem!
Tenho como Básico que a Espiritualidade pode se expressar de muitas formas.
Aceito que grupos diferentes que, por diferentes razões, começaram a usar este "feixe" de
energias de modos diferentes, agem de modo perfeitamente lógico: simplesmente é um
reconhecimento das condições e realidades atuais donde eles praticam as suas convicções.
Acredito que todas as Entidades Espirituais Superiores entendem as mudanças de
comportamento, meios e palavras que foram impostas aos descendentes de seus antigos fiéis por
meios sociais adversos como conquista, escravidão e colonização, não ficando passivas e
ferreamente agarradas ao Passado como se fossem seres humanos.
Afirmo que Elas são o Eterno Presente, seja de que forma esse Presente se afigure a cada um
dos humanos!
Decidi que em vez de enfocar meus esforços nas diferenças em ritual, palavras, idioma ou
oferendas, prefirei sempre enfocar o fato de que, se o que se pratica é feito com carinho e devoção,
com caráter e consideração, os resultados serão realizados!
Assim, vidas podem ser melhoradas; enfermidade pode tornar-se saúde; pobreza pode dar
vez à abundância; ignorância pode ser mudada em conhecimento. Em última instância, importa aos
beneficiários destas transformações que palavras e em que língua, que ritual ou quais oferendas
realizam essas benesses???
Mas, ainda hoje, cada grupo religioso atual tende a rejeitar muita coisa de outro grupo por
causa das diferenças que lhes foram impostas pela realidade do cotidiano, cada um achando que a
“sua” própria maneira é a “única” correta, e, muito freqüentemente, os homens põem em
julgamento não os resultados, mas sim se eles foram obtidos pelos meios que eles acham os únicos
corretos. Se esses meios não refletirem seus próprios modos, serão capazes de negar que aqueles
resultados foram propiciados pelas Divindades e dirão, do alto de sua Antiga Sabedoria: pura sorte!
Fé na Essência da Sabedoria Divina dos Orixás Ancestrais, prefiro eu dizer! Pois, se nós
aprendermos a utilizar e trabalhar com estas energias viventes da Realidade Paralela na Realidade
em que hoje nós vivemos, para mim, os modos antigos já mudaram: eles já não são mais Sabedoria
Antiga e sim, simplesmente, Sabedoria. E, desta forma, conhecendo a mim próprio, resolvi o
paradigma de minha crença pessoal: a Sabedoria dos Orixás Ancestrais não é algum Mistério
Antigo, congelado ou encapsulado no tempo. Ela é eterna e infinita, sempre pertinente ao tempo e
condições em que é aplicada.
Assim, o Odu de um Jogo de Ifá “lançado” para um indivíduo em 2000 tem pouquíssima

75
referência com a forma “específica” deste mesmo Odu à 500 anos atrás em uma cultura totalmente
diferente: deste Odu, só me resta aceitar a “essência de sua Sabedoria”. Ou seja, os Odu, viventes e
atuais, devem ser aplicados e interpretados em relação a energia de um ser humano que vive no
tempo presente e em relação à forma cultural a que ele pertence. O mesmo se aplica a seus rituais e
orações. E isto é saber aplicar a Essência da Sabedoria dos Odu de Ifa, quando nos diz no Odu
Ogunda Meji:

 “Ifá, quem é capaz de levar alguém ao Infinito e estar sempre acompanhando esta
pessoa?”
E da compreensão de todas essas Essências dos Odus, adveio-me o auto conhecimento que o
Orisa Orunmila Ifa me concedeu, pois hoje eu sei que quando minha Ori Orun (“cabeça-no-além”)
se “ajoelhou” perante o Todo Poderoso e Misericordioso Olorun foi para pedir-Lhe que me
concedesse a honra de poder tornar-me um Ancestral do Futuro, por ser um dos compiladores do
marco atual brasileiro de uma nova maneira de sentir, pensar, traduzir e expressar a Sabedoria dos
Orixás Ancestrais, trazendo-a para a compreensão deste povo, neste tempo, neste dia e nesta hora.
E, ao estender a todos os que aqui lêm a oportunidade de Auto Conhecimento, através deste
“Espelho Mágico Virtual”, eu estarei bem cumprindo o meu Destino nesta Terra-da-Vida. Que tu
procures bem cumprir o teu, se ele for, como o meu, o de estar sempre aprendendo, uma vez que
aquele que só sabe ensinar é porque nada aprendeu!

Mana, Aché e Bençãos.


Piron
Itaoman
Babatunde Oberefun Si Okojumide

76
Salve povo!...

Integra de mensagem postada no newsgroup Fraternidade São Bartolomeu, e utilizada para


debates entre os irmão de fé.

Estive meio desaparecido devido a problemas técnicos que a informática de vez em quando
atinge a seus usuários. Agora com esse obstáculo vencido, estou de volta para contribuir com meus
pitacos nos assuntos em pauta, colocados pelos irmãos do grupo.
Como o número de e-mails era elevado; e os li todos, pude apurar uma visão global sobre as
opiniões e pensamentos sobre a "teosofia" manifestada pelos participantes.
Para iniciar fica aparente o continuo debate em relação ás doutrinas e dogmas que cada
terreiro utiliza em seus trabalhos. Mas como escrever sobre doutrina sem falar da firmeza ou da
falta dela entre os médiuns. E está evidente que tonica do assunto está em sua falta, devido a
vaidades e ciúmes provocando desentendimentos e até encerramento das atividades do Centro.
Alias, falando sobre vaidade é interessante verificar a importância que é dada naquele diploma de
“Pai de Santo” que fica escancaradamente exposto em alguns terreiros mostrando que foi concedido
após conclusão de um tal curso, principalmente quando a assinatura do concedente é de algum
desses autores famosos que perambulam pelo mercado editorial. Eu nunca vi um caboclo ao ser
coroado receber diploma.
Em um dos e-mails encontrei uma passagem interessante dita por um Exu, que vou
reproduzi-la textualmente:
“Lixo é esse livro que você andou lendo! Ganga é uma corruptela do termo Nganga, do tronco lingüístico bantu. Quer
dizer "o mestre”, aquele que domina algo. O termo foi usado por muitos, desde sacerdotes até mestres na arte da caça,
da guerra, da magia, etc. Algo parecido com o Kimbanda, mas esse, mais relacionado diretamente a cura e a prática
de Mbanda. A linha de Exus Ganga é formada por antigos sacerdotes e guerreiros negros. É isso! Vê se queima a
porcaria do livro onde você leu essa besteira de “lixo”...

O que me chamou a atenção foi o fato de que havia sido feita uma pergunta para a entidade e
ela devolveu a resposta sobre o assunto questionado; mas parece que hoje em dia é preferível sair
buscando literaturas, de procedência desconhecida ou duvidosa ao invés de se ter humildade,
ajoelhando-se aos pés de, por exemplo, um velhinho que fica sentadinho pitando seu cachimbo,
pedir licença e fazer uma pergunta sobre um assunto de Umbanda. O fato é que, voltando a falar
sobre vaidade, existem zeladores que preferem a quantidade à qualidade do corpo mediúnico do
terreiro; onde em alguns casos os próprios zeladores não passaram por uma preparação adequada.
Atualmente existem zeladores com três anos de terreiro, quando há tempos atrás, era normal esse
período de preparação ser de no mínimo sete anos. Em outros casos preferências pessoais
interferem no desenvolvimento do corpo mediúnico da casa, provocando as fofocas, ciúmes e
desentendimentos entre os irmãos. E qual o resultado disso?! Aquele irmão um pouco mais antigo,
mas ainda despreparado, resolve sair do terreiro e abrir sua própria casa. Isto é, torna-se um ciclo
negativo que dá margem para acontecimentos bizarros e absurdos, que vão do comercialismo ao
fanatismo mais descabido.
Um outro ponto importante e muito salutar é o intercambio de informações com outras
vertentes do espiritualismo, é interessante tomar contato, compartilhar conhecimentos e até traçar

77
paralelos, tomando sempre cuidado em não confundir os elementos que formam a base de cada uma
dessas seitas que tem sua devida importância na vida espiritual das pessoas. Porém, é muito
significativo citar que todas essas vertentes fluem da mesma fonte que é o animismo, a mais antiga
forma religiosa praticada pela humanidade e quanto mais no aprofundarmos no conhecimento dos
mecanismos da mediunidade, incluindo análises com base científica isso propiciará uma melhor
compreensão das energias ou vibrações emanadas durante uma gira. Um exemplo disso é uma
sessão de cura feita na Umbanda, pois verifiquei que se tem falado muito de Apometria, sem
desmerecer o trabalho realizado pelos irmãos de outras seitas, mas é um assunto que não tem sido
explorado pelo grupo.
Ao contrário disso é o debate anual sobre as giras durante a Quaresma onde alguns terreiros
tradicionalmente interrompem seus trabalhos e outros continuam trabalhando normalmente. Na
minha opinião a questão se inicia no ponto em que absolutamente ninguém é obrigado a participar
de uma gira, principalmente se não está devidamente preparado para desempenhar um trabalho de
tamanha responsabilidade. Na seqüência gostaria de saber a Umbanda é uma religião cristã (e isso
não quer dizer que seja católica)? Se a resposta for afirmativa, devemos então obedecer aos
preceitos cristãos onde se inclui a Quaresma. Um outro aspecto que é necessário ser exposto é que,
talvez algum irmão mais atento aos trabalhos tenha já percebido, durante determinadas épocas do
ano e não somente na Quaresma, as entidades ficam um período sem vir em terra, mas não todos
simultaneamente; sendo assim torna-se possível atender aos necessitados de caridade. O que
acontece é que alguns terreiros tradicionalmente tem como doutrina não trabalhar durante esses
quarenta dias.
Concluindo posso dizer, que não basta dizer que Umbanda é fé, amor e caridade; concordo
que são pilares da nossa religião, mas antes de tudo temos que ter muita seriedade e
responsabilidade em nossos pensamentos, atitudes e atos, pois somos instrumentos que canalizam
energias sutis que atuam sobre o intimo das pessoas e como para toda ação a uma reação...
Queridos irmãos já escrevi tudo o que gostaria de compartilhar com vocês, agora vou
preparar o descarrego (ou como foi escrito, limpeza energética) do meu computador e depois vou
acender uma vela feita de parafina com pigmento dourado, mas que sempre dá uma chama amarela
de combustão com excesso de oxigênio; como qualquer outra vela.

Que Oxalá abençoe a todos!


Wagner – Maszafy

78
Tradição...

Integra de mensagem postada no newsgroup Fraternidade São Bartolomeu, e utilizada para


debates entre os irmãos de fé.

A Umbanda, sendo uma religião ou seita, o termo em sí é o menos importante, que talvez
seja a mais recente na história da humanidade, já sofre com as tradições que foram desenvolvidas à
partir de seu nascimento. No momento atual em que vivemos, algumas vozes se levantam dizendo
que a Umbanda não é a mesma de tempos atrás. São incluídos elementos religiosos que até então,
seriam considerados estranhos, se comparados com a Umbanda em seus primeiros passos; e é aí que
reside a tradição.
Se voltarmos nossa atenção ao Candomblé, veremos que a tradição é um dos pilares dessa
religião; incluindo a genealogia de seus Zeladores como guardiões dessas tradições, sem nos
esquecermos que não há padronização de seus cultos, levando em conta as diferenças entre as
nações. Traçando um paralelo à nossa amada Umbanda, é notório que hoje em dia permeiam em
nosso meio, senhores que alegam a detenção do conhecimento, da dominação dos assuntos
umbandistas e de possuir a solução mágica ou a mais profunda verdade. Mas pergunto, quem são
esses senhores, qual sua formação, quem foram seus Zeladores, qual é a sua tradição ou será que
são criações de chocadeira?

79
Bom o seguinte esse...

Transcição de depoimento concedido, por entidade incorporada, como material de estudos e


debates na Fraternidade São Bartolomeu.

Vamos começar pelo começo, certo? O que é a Umbanda?

A grande dúvida de quem se diz praticante da Umbanda, é que a Umbanda, nada mais e
nunca foi mais além, do que uma conduta moral; aonde as pessoas, dentro da prática religiosa e no
seu dia a dia praticam PAZ, AMOR e CARIDADE, não necessariamente nessa ordem. Diga-se para
todo esse povo, que a Umbanda é onde voce está buscando Deus, o Criador, a Origem, O que criou
tudo e aonde tudo começou.

Nós praticantes do espiritualismo, os que são chamados de cristãos, os evangélicos, os


kardecistas, os Zambia e a Ciência que chama de Big Bang o principio de tudo; isso é Deus. Deus
está dentro de mim, está dentro do meu menino, está dentro de você, está dentro dessa flor que está
aqui, está dentro do cachorro que está ali e está dentro do passarinho. Agora o que acontece, é que o
povo quer explicar com palavras bonitas o que não tem explicação, porque entender Deus é ter fé;
explicar Deus é usar de má fé. Desculpe o trocadilho.

Então agora o povo fala o que é a Umbanda. Não tem o que se falar, não tem o que o que se
dogmatizar, não tem o que doutrinar ou fundamentar ou estabelecer regras. A Umbanda foi criada
em 1908, num Centro kardecista, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas que diz o seguinte:

 “Está criado a partir de hoje, o local onde se pratica caridade, onde se procura Deus e
onde todos aqueles espíritos que não cabem aqui, que não cabem no Candomblé, que
não cabem no Catimbó, que não cabem no Xambá e que não cabem no Xangô; vão ter
um lugar para se manifestar.”

Por isso se diz que a Umbanda é um território livre. A Umbanda é paz e amor, é o mundo
cheio de luz, é a força que nos da vida e a grandeza que nos conduz. Está escrito num jornaleco aí, o
nome de quem fez o hino da Umbanda e não foi essa pessoa quem fez; porque quem escreveu o
hino, foi uma mulher que era do Primado de Umbanda. Mas a Umbanda é isso. A Umbanda é um
caminho e isso já foi dito por Tiago, Mateus, Lucas e Paulo; está em Corintos e quem disse foi o
Filho do Homem:

 “Nem todos aqueles que pregam o nome do meu Pai herdarão o reino dos céus”.

Nesse momento, nessa parábola Ele não disse que todas as religiões, todas as seitas que
crêem em Deus, tem fé em Deus; vão herdar o reino dos céus. Não é todo mundo que pratica essa
ou aquela ou aquela outra que vão herdar. Vão herdar não é quem faz parte, mas quem pratica.
Porque não são todos aqueles que dizem o nome de meu Pai é que vão herdar o reino dos céus. Vão
herdar aqueles que praticam, aqueles que acreditam.

E deixo aqui, antes de continuar a definir a Umbanda uma mensagem para os letrados dentro
da Umbanda, para os espíritos que psicografam, não estou falando que não existe psicografia;

80
catamilhografia, como chamam os Marinheiros dessa casa. Falem bem, ou falem mal, mas foi
dentro da minha casa que é no tempo que surgiu a catamilhografia. As pessoas podem não acreditar,
podem achar que o que eles estão lendo é balela, mas foi dentro da minha casa numa conversa entre
dois Marinheiros que surgiu essa história; ou psicodigitação como chamam os espíritos mais
elaborados, ou mais sofisticados quer queira o povo ou não.

Eu sou do tempo que se sentava num banquinho. Como eu ia lá no Catimbó e no Catimbó eu


sentava num toco, e do lado do toco havia um punhado de fumo num potinho de madeira e o
cachimbo. O médium sentava, o espírito virava e se servia, botava brasa no seu pito tomava uma
cachaça, cangibrina, manguassa, água que passarinho não bebe, conversava e dava consulta.
Somente depois é que fui me aventurar nas veredas da Umbanda - o culpado disso é um baiano
chamado Zé Baiano que arrumou para minha cabeça - para ver como é que é e para ver como é que
fica. Aí eu passei a sentar num banquinho que tinha uma gavetinha contendo pito e fumo. Ao lado
uma vela de cera; não era dessas velas moderna, já firmada no pé e um quadradinho de madeira
para cuspir. Porque eu não conheço um preto-velho que fuma cachimbo e não cospe.

Como depois houve a necessidade de uma conversa mais aberta em face de uma mente mais
enegrecida, putreficada que se diga o diabo não existe; o diabo como o povo prega é a ausência de
Deus. Não existe o inimigo, não existe alguém que está contra Deus existe e sim a falta D’ele.
Uma pessoa que não crê Nele de modo algum; por mais que Ele seja bondoso, por mais que Ele
ame o que fez, Ele não vai castigar. Ele não vai desamparar, mas essa pessoa fica tão repulsiva tão
negativa que nem sua energia consegue chegar perto dessa pessoa.

Agora ser umbandista voltando, a vaca fria é ter fé, não no caboclo, no cigano, no preto
velho, no marinheiro, no Exu, na Pombo gira mas ter fé em Deus, no Criador. Se você crer no
Criador você vai ter fé, se você tem fé no Criador, você tem fé na criatura e se você tem fé na
criatura vai acreditar não só nos espíritos, mas vai crer no seu semelhante. Ai nesse momento está a
maior arma, por que Deus não tem nada contra ninguém, Deus cria desafios, cria barreiras; não
porque Deus é sacana. É porque tudo que é conquistado é mais gostoso nós valorizamos os desafios,
portanto a vida é um desafio.

Senhor Zé do Côco

81
Crônica...

Texto escrito para atividade de reflexão e questionamentos durante os trabalhos de


desenvolvimento mediúnico.

Após nascer fui batizado como católico, durante a minha vida sempre convivi com a
Umbanda, mas também conheci outras seitas e religiões, bem como pessoas que professavam outras
religiões. Freqüentei e fui discípulo por alguns anos de um centro Kardescista, o abandonei por
opção pessoal. Resolvi definitivamente me desenvolver e fazer parte de um terreiro umbandista. È
onde me encontro hoje.
O que sei da Umbanda? Mas será que esse conhecimento é o mais importante? As
hierarquias, os rituais; são importantes, não tenho dúvidas, mas é o mais importante? Os
fundamentos, a doutrina também tem um grau de importância, mas ainda assim persiste a dúvida.
Somando-se a esse amontoado de incertezas, veio o envolvimento com o Candomblé; que por sinal
eu admiro e respeito muito, pelas suas raízes fincadas nos tempos mais remotos da história da
humanidade, mas que sinceramente eu somente participo, pois sou obrigado. Enfim são
experiências de vida e espirituais que aumentam o meu conhecimento, mas não definem sua
importância dentro do universo de informações que absorvo.
O que possuo como verdades são: acredito no Criador, em Deus Pai, sou antes de tudo
cristão e tento ser umbandista. A partir daí é que começam as dúvidas. Sei que ser umbandista é ter
fé, amar, ser humilde e praticar a caridade. Dentro desses quatro pilares, talvez o mais fácil seja
praticar a caridade, não que a pratique na condição ideal. Sendo assim os outros três pilares tornam-
se ainda mais frágeis e por conseqüência a sustentação da minha condição espiritual torna-se
comprometida. E entre as inúmeras dúvidas que possuo surge uma verdade: tenho que mudar. Para
que essa transformação aconteça, acho que primeiramente tenho que analisar alguns dos paradoxos
que fazem parte de mim.
A fé. Como posso ter fé se tenho dúvidas, mas acredito no Criador e nos espíritos que
mantenho contato e isso não tenho dúvida. Acreditar é ter fé? Acho que a confiança é um termo que
está mais próximo da fé do que a crença. E confio plenamente, como também tenho certeza da
confiança que depositam em mim, mas tenho medo de desapontá-los e isso me torna inseguro.
O amor. Eu já amei, sei o que é o amor. Amo o próximo? Não, tanto quanto gostaria;
acho que isso acontece porque até hoje ainda não consegui ter a certeza de que fui amado. Com
certeza me protejo, me fecho, pois não quero sofrer. E aí sofro ainda mais.
A humildade. Não sou humilde. A insegurança é um ácido que corrói mais rápido e mais
profundo que qualquer produto químico conhecido. Tenho medo que as pessoas confundam a
humildade com fraqueza.
Por tudo que escrevi até agora, usando alguma lógica, posso concluir que não sou
umbandista porque tenho medo de mim mesmo e que o mais importante da Umbanda é ter
coragem!
Acho que o primeiro passo corajoso que é possível dar, é admitir que ser Umbandista, na
plena acepção da palavra, não é fácil e que para se tornar Umbandista é necessário uma reforma
intima intensa e profunda. Mas como ser racional o suficiente, para que tal transformação ocorra
envolvendo sentimentos tão intensos e contraditórios da nossa vida carnal? Afinal a bagagem de
experiências que acumulamos, durante nossa passagem pela Terra, são sensações e sentimentos. O
conhecimento apreendido é acumulativo, mas não quer dizer que se torne em sabedoria. Acredito
que a chave para abrir a porta da transformação intima; é utilizar como desacelerador da velocidade
das reações, a experiência e a sabedoria através do raciocínio claro à respeito das ações que venham

82
a ser tomadas.
É facil falar, eu sei mas, será que é possivel transformar em prática cotidiana esse
raciocínio?
Particularmente acredito que sim, mas antes gostaria de discutir o que vem a ser uma
reforma intima. Primeiramente vou tomar como exemplo, a reação que é tomada ao tocar algum
objeto que esteja muito quente. Sendo que muito quente, é uma indicação abstrata, variando de
intensidade de pessoa para pessoa. A reação de afastamento em relação ao objeto que transmite essa
sensação também irá variar com a mesma intensidade. De modo geral a consequencia do
afastamento será o alívio ou a cessação da dor provocada pelo contato; entretanto a reação será
instintiva, mecanica; isto é independente do raciocinio para que aconteça. Para a pessoa que passou
por esta experiencia, a consequencia da reação foi benéfica, devido a proteção que gerou ao orgão
que manteve o contato.
Portanto ao reagirmos aos acontecimentos cotidianos, procuramos as consequencias que nos
sejam benéficas com sensações resultantes que também nos tragam alívio, cessação de dor ou
sentimentos mais elevados como: alegria, amor, satisfação pessoal ou material. A diferença reside,
que através da mecanica ou das reações istintivas nem sempre conseguimos atingir a benesse dos
sentimentos mais elevados. Ao contrário, podemos ser levados aos sentimentos mais baixos ao
permitirmos que somente o instinto ou o ato mecanico comandem nossa reações e as consequencias
serão: o arrependimento, o remorso e o rancor, entre outras.
A conclusão dessa análise evidencia que o domínio das reações possa ou deva ser
considerado o primerio passo para iniciar a transformação das pessoas em busca dos sentimentos
mais elevados.

Wagner – Maszafy

83
Orações...

Coletânea de orações utilizadas pelos irmão de fé. Em especial, a última prece, que foi ditada
diretamente por entidade espiritual

Pai Nosso da Umbanda


Pai nosso que estais nos céus, nas matas, nos mares e em todos os mundos habitados.
Santificado seja o teu nome, pelos teus filhos, pela natureza, pelas águas, pela luz e pelo ar que
respiramos. Que o teu reino, reino do bem, do amor e da fraternidade, nos una à todos e a tudo que
criastes, em torno da sagrada cruz, aos pés do divino salvador e redentor. Que a tua vontade nos
conduza sempre para o culto do amor e da caridade. Dai-nos hoje e sempre a vontade firme para
sermos virtuosos e úteis aos nossos semelhantes. Dai-nos hoje o pão do corpo, o fruto das matas e a
água das fontes para o nosso sustento material e espiritual. Perdoa, se merecermos, as nossas faltas
e dá o sublime sentimento do perdão para os que nos ofendam. Não nos deixeis sucumbir, ante a
luta, dissabores, ingratidões, tentações dos maus espíritos e ilusões pecaminosas da matéria. Enviai-
nos, pai, um raio de tua divina complacência, luz e misericórdia para os teus filhos pecadores que
aqui habitam, pelo bem da humanidade, nossa irmã.
Assim seja...
Oração dos Pretos Velhos
Ao Sagrado Princípio do Todo invocamos, do mais íntimo de nossa Consciência, em sinal de
reverência à Verdade, ao Amor e à Virtude, propositando cooperar junto às Legiões de Pretos
Velhos, Índios, Hindus e Caboclos, para os serviços que são chamados a desempenhar na Ordem
Doutrinária.
Ao Cristo apelamos, como Diretor Planetário e Senhor dos Sete Escalões em que se distribui
a Humanidade Terrestre, composta de encarnados e desencarnados, desejando oferecer colaboração
eficiente, de caráter fraterno, em defesa da Verdade e da Justiça, contra aqueles que, contrariando os
Sagrados Objetivos da Vida, se entregam aos atos que contradizem a Lei de Deus.
Conscientes da integridade da Justiça Divina, afirmamos a mais fiel e intensa observância
dos Mandamentos da Lei, conforme o Divino Exemplo do Verbo Exemplar, para todos os efeitos
invocativos. Acima de alternativas constituirá barreira contra o Mal, em qualquer sentido em que se
apresente, venha de onde vier, seja contra quem for, conquanto que, em defesa da Verdade, do Bem
e do Bom.
Conseqüentemente, que aos bondosos Pretos Velhos seja dado refletir, em seus trabalhos, os
sábios e santos desígnios daqueles que, traduzindo a Divina Tutela do Cristo Planetário, assim
determinarem das Altas Esferas da Vida.
Que as legiões de Índios, simples, espontâneas e valorosas, sempre maravilhosamente
ligadas à natureza exuberante, possam agir sob a direção benévola e rigorosa dos Altos Mentores da
Vida Planetária. Lutando pela Ordem e pelo Bem, pelo progresso no seio do Amor, que tenham de
Deus as graças devidas.
Que às numerosas legiões de Hindus, profundamente ligadas às mais remotas Civilizações
do Planeta, formando portanto nas Altas Cortes da Hierarquia Terrestre, sejam concedidas pelo

84
Senhor Planetário as devidas oportunidades, para que forcem, sustentem e imponham a Suprema
Autoridade. Que nesta hora cíclica, em que a Terra transita de uma para outra Era, as Mentes
humanas possam receber os eflúvios da Pureza e da Sabedoria, a fim de que sintam os Divinos
Apelos do Cristo, em favor dos Santos Desígnios do Pai amantíssimo, que é a divinização de todos
os filhos.
Que as legiões de Caboclos, humildes e bondosos, tão ligadas aos que peregrinam a
encarnação, para efeito de expiações, missões e provas, a todos possam envolver, proteger e
sustentar, desde que se esforcem a bem da Moral, do Amor, da Revelação, da Sabedoria e da
Virtude, pois que, fora dessa Ordem Doutrinária, não há Evangelho.
Prece a Xangô
Poderoso orixá de umbanda, pai, companheiro e guia. Senhor do equilíbrio e da justiça.
Auxiliar da lei do carma, só tu tens o direito de acompanhar pela eternidade, todas as causas, todas
as defesas, acusações e eleições, promanadas das ações desordenadas, ou dos atos impuros e
benfazejos que praticamos.
Senhor de todos os maciços e cordilheiras, símbolo e sede da tua atuação planetária no físico
e astral. Soberano senhor do equilíbrio, da eqüidade, velai pela inteireza do nosso caráter. Ajude-nos
com sua prudência. Defenda-nos das nossas perversões, ingratidões, antipatias, falsidades,
incontenção da palavra e julgamento indevido dos atos dos nossos irmãos em humanidade só tu és o
grande julgador.
Kaô Kabecile Xangô!
Prece ao Caboclo Sete Flechas
Salve Zambi, Pai e criador de todo o universo!
Salve Oxóssi, rei da mata e chefe de todos os caboclos!
Salve seu Sete Flechas e sua falange guerreira!
Sete flechas, baixai sobre nós um jato da vossa divina luz, iluminando os nossos espíritos
para que possamos entrar em comunicação com esta centelha de luz divina que emana das vossas
sagradas flechas, defendendo e amparando-nos neste mundo terreno.
Salve as sete flechas que vos foram dadas espiritualmente, para defender-nos de todas as
provas que não nos vêm de Zambi. Bendito seja Oxóssi que vos o colocou sobre o vosso braço
direito a flecha da saúde para que derrame sobre nós os bálsamos curadores. Bendito seja Ogum,
que colocou sobre vosso braço esquerdo a flecha da defesa para que sejamos defendidos de todas as
maldade materiais e espirituais. Bendito seja Xangô que vos cruzou uma flecha em vosso peito para
defender-nos das injustiças da humanidade. Bendita seja a grande mãe Yemanjá que colocou uma
flecha em vossas costas para defender-nos das traições de nossos inimigos. Bendito seja Oxalá que
vos colocou uma flecha sobre vossa perna direita para cobrir os nossos caminhos materiais e a
senda da espiritualidade. Bendita sejam as Santas Almas que vos botaram uma flecha sobre vossa
perna esquerda, para lavar os nossos caminhos, iluminando os nossos espíritos e defendendo-nos de
todas as forças contrárias à vontade de Deus. Bendito sejam os Ibejis que entregaram em vossas
sagradas mãos a flecha do astral superior, para dar à humanidade a divina força da fé e da verdade.
Zambi foi quem ordenou, os Orixás as flechas vos entregou. com as forças das sete flechas,
Seu Sete Flechas me abençoou.

85
Prece aos médiuns
Deus todo-poderoso, permiti que, nas comunicações que solicito, eu seja assistido por bons
espíritos. Preservai-me da presunção de me julgar isento da influência dos maus espíritos; do
orgulho ou vaidade que me cegaria, iludindo-se quanto ao valor das comunicações que obtenha; de
todo e qualquer sentimento contrário ao espírito de caridade para com todos os meus irmãos e
especialmente para com os outros médiuns.
Se eu for induzido ao erro, inspirai a outrem o pensamento de me avisar, e a mim a
humildade para aceitar com reconhecimento a advertência e tomar para mim mesmo os conselhos e
instruções que me ditarem os vossos bons espíritos.
Permiti que eu nunca seja levado a abusar ou, de qualquer modo, a envaidecer-me com a
faculdade que, para meu benefício, fizeste a graça de me conceder; antes, eu vo-lo peço, meu Pai,
me retireis do que consistais que seja desviada do seu fim providencial, que é o bem de todos e o
meu próprio adiantamento moral.
Prece de Exú
Sou Exú, senhor. Pai, permite que assim te chame, pois, na realidade, Tu o és, como és meu
criador. Formaste-me da poeira Ástrica, mas como tudo que provém de Ti, sou real e eterno.
Permite Senhor, que eu possa servir-Te nas mais humildes e desprezíveis tarefas criadas
pelos teus humanos filhos. Os homens me tratam de anjo decaído, de povo traidor, de rei das trevas,
de gênio do mal e de tudo o mais em que encontram palavras para exprimir o seu desprezo por
mim; no entanto, nem suspeitam que nada mais sou do que o reflexo deles mesmos. Não reclamo,
não me queixo porque esta é a Tua vontade.
Sou escorraçado, sou condenado a habitar as profundezas escuras da terra e trafegar pelas
sendas tortuosas da provação. Sou invocado pela inconsciência dos homens a prejudicar o seu
semelhante. Sou usado como instrumento para aniquilar aqueles que são odiados, movido pela
covardia e maldade humanas sem contudo poder negar-me ou recorrer.
Pelo pensamento dos inconscientes, sou arrastado a exercer a descrença, a confusão e a
ignominia, pois esta é a condição que Tu me impuseste. Não reclamo, Senhor, mas fico triste por
ver os teus filhos, que criaste à Tua imagem e semelhança, serem envolvidos pelo turbilhão de
iniqüidades que eles mesmos criam, e eu, por Tua lei inflexível, delas tenho que participar.
No entanto, Senhor, na minha infinita pequenez e miséria, como me sinto grande e feliz
quando encontro n'algum coração, um oásis de amor e sou solicitado a ajudar na prestação de uma
caridade. Aceito sem queixumes, Senhor, a lei que, na Tua infinita sabedoria e justiça, me
impuseste, a de executor das consciências, mas lamento e sofro mais porque os homens até hoje,
não conseguiram compreender-me.
Peço-Te, Oh Pai infinito, que lhes perdoe. Peço-Te, não por mim, pois sei que tenho que
completar o ciclo da minha provação, mas por eles, os teus humanos filhos. Perdoa-os, e torna-os
bons, porque somente através da bondade do seu coração, poderei sentir a vibração do Teu amor e a
graça do Teu perdão.
Oração aos Amigos
Planta Senhor esta primavera, uma árvore dentro do meu coração, e nela pendurai, ao invés
de flores, os nomes de todos os meus Amigos!

86
Os amigos que nos fazem sorrir e às vezes chorar, que emprestam-nos seus ouvidos, que
dividem palavras de conforto. Os amigos de longe e os amigos de perto Os amigos reais e os
amigos virtuais. Os amigos antigos e os recentes. Os que vejo cada dia e os que raramente encontro.
Os sempre lembrados e os que às vezes ficam esquecidos.Aqueles das pontas dos galhos, mas
quando o vento sopra, sempre aparecem entre uma folha e outra. Os das horas difíceis e os das
horas alegres. Os amigos jovens, os amigos velhinhos, as crianças amigas. Os que sem querer
magoei, e os que sem querer me magoaram. Amigos que murcharam e caíram, mas que continuam
por perto seguindo alimentando a nossa raiz com alegria. Lembranças maravilhosas de quando
nossos caminhos se cruzaram. Amigos sempre dispostos... sempre Amigos.
Senhor, no silêncio desta oração, venho pedir-te a Paz, a Sabedoria, a Força e a Beleza.
Quero sempre olhar o mundo com os olhos e o coração cheios de Amor. Quero ser paciente,
compreensivo e prudente. Quero ver muito além das aparências... assim mesmo como Tu nos vês...e
assim Senhor, ver somente o bem em cada um deles.
Pai...fecha os meus ouvidos a todas as asneiras; guarda a minha língua de todas as
maldades ... para que só de bênçãos se encha a minha alma. Que eu seja bom e alegre em todos os
dias de minha existência. E como um eterno aprendiz, nesta vida aprendi que com um amigo :
”A Amizade é a união de dois espíritos afins criando entre eles um laço de ternura e de afeto, onde
cada um moverá montanhas pelo outro sem que se sinta o peso da terra.”
Pai...conserve o meu coração livre do ódio e minha mente livre da ansiedade. Quero
simplesmente viver, esperando pouco e dando muito. Quero encher a vida de Amor, espalhar a Luz,
a Alegria, a Beleza e a Felicidade !
Quero ser o Amigo que curará as feridas , sem fazê-las doer. E como Tu, permanecer quando
todos os outros tiverem partido...

O tempo passa... a primavera e o verão se vão, o outono e o inverno se aproximam e


perdemos algumas de nossas flores. Algumas nascerão e outras por muitas estações permanecerão.
É o ciclo da vida ! Pai ... quero ser aquele amigo que diz: “Eu te Amo” sem qualquer medo de má
interpretação, pois Amigo é quem AMA ... “E PRONTO”. Senhor, meu Grande Amigo, reveste-me
de tua beleza e que todos que de mim se aproximarem, sintam a tua presença.
Amém !!!
Prece de Encerramento da Cura
Meu Pai Celestial;
Nós todos aqui presentes, humildes servos de sua infinita benevolência, agradecemos aos
Guardiães que designaste para proteger-nos em nossa senda de caridade; realizada nesta casa,
dedicada ao atendimento daqueles que buscam a cura em seu corpo bem como em sua alma.
Agradecemos também meu Pai, às Entidades que aqui vieram cumprir sua missão de
caridade, despejando a luz que Tu concedes como bençãos, ungindo esses irmãos necessitados e
removendo os miasmas de que padecem. E por fim meu Pai Celestial agradecemos a permissão que
nos deste, a servir de instrumentos, para a realização de mais esta missão no dia de hoje.
E assim como, aqui bem chegamos; daqui bem iremos, em nome de Deus.
Que assim seja..........
Marinheiro Sete Ondas 09/06/2008 20:27h

87
Assim era Umbanda...

Texto transmitido, por entidade incorporada, para estudos e debates durante o desenvolvimento
mediúnico.

A Umbanda era uma coisa que ninguém conhecia, porque existia espiritismo, candomblé,
catimbó, catolicismo seitas evangélicas. Um dia um espírito disse que ia fundar um local aberto
para quem quisesse, manifestar seja para aprender, seja para ajudar.
Esse homem foi um caboclo, mas na verdade era um frade e fez que surgisse uma seita que
pudesse aceitar quem quer que seja, sem distinção de cor posição social ou grau de conhecimento.
Para quem viesse dar sua mensagem, mostrando a situação que estava naquele momento, e o que
necessitava para alcançar a luz.
Assim nasceu a Umbanda com 07 linhas, e os povos para atender a quem precisar e quem
quiser conhecer o outro lado fora da carne.
Assim era a Umbanda.
Assim era a Umbanda e não é mais.

Marinheiro Sete Ondas

88
K y r i é E l é i s o n...

Transcrição, na íntegra da apresentação, recebida por e-mail, para reflexão dos irmão de fé.
Uma breve jornada, oportunidades, legados que ficarão.
Qual o mundo que deixaremos para trás
para as próximas gerações,
quando partirmos?
Que herança lhe destinaremos?
O futuro dependerá do que agora fizermos.
E, certamente, há muito por se fazer...
O futuro dependerá do que agora fizermos.
E, certamente, há muito por se fazer...

Cabul, Afeganistão

Três anos depois da queda do regime Talebã, - num país dilacerado pela guerra e onde as
oportunidades de trabalho, alimentação e necessidades básicas são escassas, crianças disputam
migalhas de carvão que caem dos sacos transportados por caminhões da Cruz Vermelha, de modo a
garantir seu próprio sustento e de suas famílias.

Karkhla, Paquistão

Crianças com idade entre 4 e 6 anos, em sua maior parte provenientes de famílias afegãs
refugiadas da guerra civil que acomete seu país natal, trabalham em fábricas de tijolos. O seu
desgastante trabalho consiste em virar os tijolos para que sequem mais rapidamente ao sol. O seu
peso de criança permite que realizem seu penoso trabalho sem amassar os tijolos em que se apóiam.

Tegucigalpa, Honduras

Abutres e crianças disputam as sobras que encontram num aterro sanitário da capital
hondurenha. Juan Flores e outras crianças reviram o lixo a fim de encontrar qualquer coisa que
possa ser comido ou vendido.

Congo, África Central

A avó de Chantis Tuseuo, de nove anos de idade, estende a mão para sua neta, gravemente
desnutrida, que aguarda atendimento num posto de saúde nos arredores de Kinshasa. No mundo,
segundo dados do UNICEF, estima-se que 55% das mortes de crianças estão associadas à
desnutrição, à fome que debilita lentamente.

Siliguri, Índia

Ruksana Khatun, de nove anos de idade, quebra pedras na periferia da cidade. Pequenas
mãos calejadas em troca de um salário irrisório. Segundo a Organização Internacional de Trabalho,
OIT, mais de 220 milhões de crianças trabalham no mundo, mais da metade delas em funções
perigosas e em condições e horários precários, com jornadas de trabalho de até 17 horas.

San Vicente, Colombia

89
Na entrada de um bordel, adolescente aguarda o próximo cliente. Dados divulgados pelo
Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF, revelam que milhões de crianças são vítimas da
exploração sexual em todo o mundo. A cada ano, um milhão e duzentas mil crianças são vítimas de
tráfico e venda. Triste mundo que assim trata as suas crianças.
Mais de 100 mil meninas são vítimas de exploração sexual no Brasil, conforme dados da
Organização Internacional do Trabalho, OIT.
O filme “Anjos do Sol” aborda a cruel realidade que cerca o tema. Conforme relatos da
equipe de produção, a exploração sexual de crianças e adolescentes no país ocorre em duas frentes:
- nas cidades litorâneas, estando ligado ao turismo sexual realizado por estrangeiros; - e nas cidades
do interior das regiões Norte e Nordeste, onde a necessidade desesperada de renda criada pela
pobreza leva os pais a venderem suas filhas. O filme expõe algumas das práticas que envolvem a
exploração sexual infanto-juvenil, como o leilão de meninas virgens, e os personagens que lucram
com esse mercado: aliciadores (que compram as meninas de suas famílias), donos de boates,
cafetões, coronéis e políticos. Dentre as tantas histórias tristes que inspiraram o roteiro do filme está
a da pequena menina apelidada de R$ 0,50, por ser este o preço que ela cobrava por programa.

Recife, Brasil

A Organização Mundial da Saúde, OMS, estima existirem 100 milhões de crianças vivendo
nas ruas do mundo subdesenvolvido ou em desenvolvimento, das quais 10 milhões no Brasil. A
maioria dessas crianças abusa das drogas, que as ajudam a negar, a fugir da realidade, a matar a
fome, e a se aquecer. Muitas destas crianças mantêm algum tipo de laço familiar, porém despendem
a maior parte do tempo nas ruas, - pedindo esmola, vendendo coisas de pouco valor, engraxando
sapatos, lavando vidros de carros -, a fim de complementar o ganho familiar. Não raro, se envolvem
em pequenos furtos. Outras vivem de fato nas ruas, em grupos, dormindo em prédios abandonados,
debaixo de pontes e viadutos, e em parques públicos. Nos dois grupos, os meninos são maioria. As
meninas têm por destino a prostituição.

Califórnia, Estados Unidos

Não muito distante da Disneylândia, a Terra da Fantasia, crianças, filhos de pais viciados em
drogas, catam latas a fim de complementar o orçamento familiar, e ajudam, como podem, nos
afazeres domésticos. Segundo dados do Escritório das Nações Unidas de Combate às Drogas e ao
Crime, UNODC, o uso de drogas ilícitas no mundo vem crescendo, apesar dos esforços mundiais de
controle. Os EUA permanecem como os principais consumidores de maconha e cocaína no mundo

O aumento no consumo das drogas sintéticas - como a anfetamina e estimulantes similares


ao ecstasy - é considerado preocupante pela facilidade com que elas são produzidas, já que, ao
contrário das drogas tradicionais, não são necessárias grandes áreas de plantações, sendo produzidas
com produtos químicos facilmente obtidos, em laboratórios muitas vezes improvisados, tornando o
combate mais difícil. Segundo o UNODC, a questão das drogas sintéticas exige uma redefinição das
abordagens adotadas, devendo-se mudar o paradigma em torno da questão do combate às drogas,
com a prevenção ganhando uma importância muito maior do que a repressão.

Talvez seja hora dos políticos e governantes incluírem “compaixão social” nas suas pautas e
agendas de trabalho. Tão perversas quanto persistentes, as desigualdades sociais e a pobreza
atingem particularmente a população infanto-juvenil no país. Estudos têm mostrado que as
condições de vida das crianças é mais severa em lugares onde a infra-estrutura escolar é de baixa
qualidade. Faz-se necessário, portanto, criar condições que estimulem um aumento na freqüência

90
escolar, com a consequente ampliação dos seus horizontes e o desenvolvimento das suas
potencialidades. As políticas destinadas a acabar com o trabalho infantil também devem procurar
eliminar a necessidade da família pela renda da criança.

A insanidade das guerras…

 Irlanda do Norte, décadas de 80 e 90


 Chechênia, 1997
 Kosovo, 1999
 África, desde sempre
 Faixa de Gaza, Palestina, 2004
 Iraque, 2005
 Israel, 2006
 Líbano, 2006
 etc, etc etc...

até quando?

É no coração da noite, que desponta o dia.


Qual o mundo que pretendemos deixar para as futuras gerações?
Um mundo mais justo, certamente...
O Reino de Deus não irá despencar sobre nossas cabeças da noite para o dia,
se somos sinceros no nosso desejo de que ele venha até nós, temos que fazer a nossa parte.
O Reino de Deus, a idade áurea marcada pela justiça,
não descerá dos céus, ele soerguer-se-á do chão em que pisamos,
regado pelo sagrado suor dos que se importam com o próximo.
A sua chegada depende de pequenos atos de bondade,
de heróicos gestos de compaixão.

Qual o mundo que deixaremos para as crianças de hoje, para as que ainda nascerão?

Misericórdia

A palavra misericórdia, de origem latina, surge da junção de misereo / miséria, e cor /


coração. Ela representa, portanto, um sentimento de empatia, colocar a miséria do próximo no nosso
próprio coração. A misericórdia se refere ao coração que se compadece e age.

O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença.


Érico Veríssimo

Kyrié Eléison

Antiga invocação grega que significa:


Senhor, envia Teu Sopro,
envia Tua Misericórdia.
Estou precisando do Teu Sopro,
da Tua Força,
da Tua Misericórdia.

91
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Sermão da Montanha

Há muito por ser feito ainda. Quem semear, colherá...

Deus move o céu inteiro naquilo que o ser humano é incapaz de fazer. Mas não move uma palha
naquilo que a capacidade humana pode resolver.
Antigo ditado oriental

O Peregrino

92
93

Você também pode gostar