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DEDUZIMOS AS INTENÇÕES A PARTIR DO IMPACTO SOBRE NÓS

Boa parte do primeiro erro pode ser observada a partir de um equívoco básico: atribuímos algo às intenções da
outra pessoa com base no impacto de suas ações sobre nós. Ficamos magoados, portanto, sua intenção foi nos
magoar. Sentimo-nos menosprezados, portanto, sua intenção foi menosprezar. Nosso pensamento é tão automático
que nem tomamos consciência de que nossa conclusão é apenas uma dedução. Ficamos tão tomados pela nossa
versão sobre a intenção delas que nem imaginamos que poderiam ter outras intenções.

Deduzimos o pior. As conclusões que tiramos sobre as intenções baseadas no impacto das ações dos outros sobre
nós raramente são positivas. Quando um amigo chega atrasado ao cinema, não pensamos: "Meu Deus, aposto que
ele precisou ajudar alguém." Provavelmente pensaremos: "Ele não se importa em me fazer perder o início do filme."
Quando ficamos magoados com o comportamento de alguém, deduzimos o pior.

Margaret caiu nesse padrão. Ela se submeteu a uma intervenção cirúrgica na bacia realizada por um cirurgião
famoso, um homem ríspido, com quem ela achava difícil conversar. Quando chegou mancando para a primeira
consulta depois da cirurgia, a recepcionista disse que o médico havia prolongado as férias. Margaret imaginou,
zangada, seu saudável médico se divertindo no Caribe com a esposa ou namorada, se sentindo muito importante e
sem a menor consideração para voltar ao trabalho na data prevista. A cena aumentou sua raiva.

Quando Margaret foi finalmente ao médico uma semana depois, ela lhe perguntou rispidamente como haviam sido
suas férias. Ele respondeu-lhe que haviam sido maravilhosas. "Aposto que sim", disse ela, imaginando se deveria
falar o que pensava. No entanto, o médico continuou: "Foram férias de trabalho. Eu estava ajudando a organizar um
hospital na Bósnia. As condições lá são horríveis."

Saber o que o médico realmente estava fazendo não amenizou o inconveniente pelo qual Margaret passou.
Contudo, saber que ele não havia sido motivado pelo egoísmo e sim pela generosidade fez Margaret se sentir muito
melhor por ter esperado mais uma semana.

Atribuímos intenções aos outros o tempo todo. Como os negócios e até as relações pessoais são, cada vez mais,
conduzidas por e-mails, secretárias eletrônicas, faxes e telefonemas por conferência, em geral temos de ler nas
entrelinhas para imaginarmos o que as pessoas de fato queriam dizer. Quando um cliente escreve "Acho que você
ainda não atendeu meu pedido..." ele está sendo sarcástico? Está zangado? Ou tentando dizer que sabe que você
está ocupado? Sem o tom de voz para nos guiar, é fácil deduzir o pior. Somos mais generosos conosco. O que é
irônico - e também humano - sobre nossa tendência de atribuir más intenções aos outros é que quando se trata de
nós mesmos, a coisa é diferente.

Quando o marido se esquece de pegar a roupa na lavanderia, ele é irresponsável. Quando você se esquece de fazer
as reservas aéreas é porque está sobrecarregada e esgotada. Quando uma colega critica o seu trabalho na frente dos
colegas do departamento, ela está tentando depreciar você. Quando você dá sugestões aos outros na mesma
reunião, está tentado ajudar. Quando somos nós que agimos, sabemos que, na maioria das vezes, não queríamos
chatear, ofender ou sermos pretensiosos com os outros. Estamos envolvidos em nossas histórias, e não percebemos
que exercemos algum impacto negativo sobre os outros. Contudo, quando somos alvos das ações, nossa história
facilmente se desvia para as de más intenções e mau-caratismo. As más intenções nunca existem? É claro que
algumas vezes nos sentimos magoados porque alguém de fato teve a intenção de nos magoar. A pessoa com quem
lidamos é sórdida ou não tem consideração, quer nos deixar em maus lençóis ou roubar nosso melhor amigo. Mas
tais circunstâncias são mais raras do que imaginamos e, sem escutar a própria pessoa, não podemos saber suas
intenções.

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