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EVITAÇÃO

Pedro precisava fazer uma aula de oratória como requisito da escola. Ele se sentia muito ansioso
quando se imaginava falando em frente à sua turma. Em consequência, sempre que pensava em
trabalhar em seu discurso, procrastinava e fazia outras coisas para evitar sentir-se ansioso. Quando,
em vez de trabalhar no discurso, saía com seus amigos, imedia- tamente se sentia melhor, porque
os pensamentos sobre o discurso eram substituídos pelo foco nos amigos. No entanto, conforme as
semanas foram passando, Pedro foi ficando cada vez com mais medo em relação à hora do discurso
que estava se aproximando. Além disso, nunca falava durante as aulas. Cada vez que tinha algo
para dizer, ele sentia que sua ansiedade aumentava. Quando decidia não falar, sua ansiedade
diminuía imediatamente. Cada vez que evitava falar, Pedro se sentia melhor, o que tornava mais
provável que ele continuasse com aquele comportamento de evitação.

Embora a evitação de Pedro o ajudasse a sentir-se menos ansioso no momento, isso, na verdade,
piorava sua ansiedade com o passar do tempo. A evitação de tarefas ou situações geralmente
aumenta a ansiedade por quatro razões: (1) ao não nos aproximarmos e sabermos mais sobre o
que nos assusta, não temos a oportunidade de aprender novas formas de tolerar a ansiedade; (2)
não aprendemos formas de lidar com a situação que nos amedronta; (3) não temos a
oportunidade de saber que a situação pode não ser tão ruim ou perigosa quanto tememos; e (4)
não temos a oportunidade de descobrir se já somos capazes de lidar bem com a situação.

Marcos, outro aluno da turma de Pedro, também se sentia ansioso com a ideia de fazer um
discurso. No entanto, em vez de evitar trabalhar em seu discurso, tomou as medidas necessárias
para reduzir sua ansiedade. Primeiramente, Marcos perguntou aos outros alunos sobre o professor
e sobre a aula de oratória para descobrir o quanto os padrões de exigência seriam altos. Ficou
sabendo que o professor era rígido ao dar uma nota, mas incentivava os alunos, contanto que se
esforçassem para participar nas aulas. Marcos se sentiu ansioso quando se sentou para preparar
seu discurso, mas persistiu e percebeu que sua ansiedade diminuiu um pouco quando começou a
anotar os possíveis tópicos e ideias. Ele começou a preparar seu discurso com antecedência e
praticou dezenas de vezes. Descobriu que sua ansiedade diminuía com a prática e a preparação.

Marcos também fez comentários nas discussões em aula para praticar como se expressar no grupo.
Essas experiências aumentaram sua confiança de que seria capaz de falar em público e lidar com a
situação de ter todos olhando para ele. Certo dia, um membro da turma discordou de uma de suas
ideias e zombou dele. Ele sentiu seu rosto ruborizar, mas depois se deu conta de que aquilo não era
o fim do mundo e se sentiu bem pela forma como lidou com a situação. Outra colega de classe
disse que achou que aquela crítica tinha sido muito rude; isso ajudou Marcos a perceber que,
mesmo que cometesse alguns erros ou que alguém discordasse do que estava dizendo, outras
pessoas ainda teriam uma opinião positiva sobre ele.

Muitas pessoas que costumam procrastinar não acreditam serem boas o suficiente, serem muito
exigente consigo mesmas. Podem muitas vezes apresentar um pensamento de que são uma fraude.
Sendo assim, a procrastinação ligada à sensação de incapacidade e medo do fracasso pode ser
entendida como uma estratégia de proteção à autoestima quando se entra em contato com uma
tarefa aversiva, a qual pode revelar a própria “incapacidade” do indivíduo.

Desta forma, adia-se com frequência atividades percebidas como desagradáveis a fim de prevenir
avaliações negativas sobre seu próprio desempenho. Esse comportamento procrastinatório está
muito ligado a um tipo de perfeccionismo social, ou seja, à ideia de que os outros esperam o
melhor do indivíduo e que, se ele não corresponder a essas expectativas (irreais), não provará ser
bom o suficiente.

Uma das coisas que podemos aprender com os exemplos de Pedro e Marcos é que a evitação traz
alívio imediato, mas aumenta a ansiedade com o passar do tempo. O enfrentamento de nossos
problemas com frequência causa angústia inicialmente, porém nos ajuda a superar a ansiedade
com o tempo. Se você sente ansiedade, deve estar evitando inúmeras situações e experiências. Que
coisas você tem evitado devido à ansiedade?

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