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QUILOMBOLA NO CONTEXTO
DAS RELAÇÕES
ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL
Resumo
O objetivo deste trabalho é discorrer sobre a emergência da Educação
Escolar Quilombola no contexto da Lei 10.639/03, buscando compreender
as práticas curriculares desenvolvidas em escola situada na comunidade
quilombola de Conceição das Crioulas-PE, práticas estas referenciadas na
LDB e na Resolução Nº 8, de 20 de novembro de 2012 que define Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola. O trabalho
toma por referencial a teoria crítica do currículo, as Africanidades
Brasileiras em diálogo com os Estudos Pós-Coloniais de vertente Latino-
Americana e as Epistemologias do Sul. O trabalho é de tipo etnográfico e
utilizamos a técnica de análise de conteúdo para a análise dos dados.
Enquanto resultados preliminares é possível afirmar que: i. o debate sobre
currículo escolar quilombola está silenciado no GT 12- referente a currículo
tanto na ANPEd, quanto no EPENN na década 2002-2011; ii. identidades
culturais e ancestralidade são experiências carregadas de sentidos em
escolas quilombolas; iii. diálogo da experiência dos movimentos sociais
negros com a escola imprime processos para assegurar direitos
educacionais para quilombolas.
Abstract
Uma das críticas que autores desse campo têm apresentado é a de que
o conhecimento-científico, que é apenas um tipo de conhecimento, ao
conquistar a hegemonia no campo do conhecimento científico-
acadêmico, assumiu para si o poder de validar o que é ciência como
sinônimo de conhecimento e verdade. Ora, como afirma
NASCIMENTO (2009. p. 206) a ideia de uma ciência histórica pura
e universal está ultrapassada. O conhecimento científico de que os
afrodescendentes necessitam é aquele que os ajude a formular
teoricamente - de forma sistemática e consistente- sua experiência de
quase quinhentos anos de opressão. Portanto é neste contexto de
quebra do paradigma anglo-saxão que vai se firmando em diversos
campos de conhecimento epistemologias africanas, indígenas,
feministas, dentre outras, que rompem a subalternidade geopolítica do
conhecimento.
Ao analisar a hegemonia do Ocidente sobre o Oriente, Lopes e
Macedo (2012,p. 162) afirmam que fica claro que a cultura científica
se construiu como possibilidade de explicar o mundo, deslegitimando
possibilidades já existentes e dificultando o aparecimento de tantas
outras. Esta referência ajuda a entender porque as teses de Diop e
Fanon foram inicialmente recusadas. Diop comprovou na Sorbone a
origem africana da humanidade num contexto científico adverso sobre
a capacidade intelectual do africano. Fanon na Martinica, colônia
francesa, estudou as formas de dominação mental que levam homens
negros a projetar serem brancos na sociedade colonizada. De acordo
com Fanon (2008) o paradigma anglo-saxão hegemônico de
conhecimento produziu epistemicídio em povos e culturas que
sofreram processos de colonização. Assumimos a referência teórica
de currículo como experiência, considerando a trajetória histórica dos
quilombos e como esses quilombolas foram se forjando professores
quilombolas num contexto de formação inicial adverso à sua realidade
sócio-política-econômica e cultural. As práticas curriculares desses
104 Centro de Educação | Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
professores tem indicado um enfrentamento das ausências de suas
vidas nos conteúdos curriculares, para ganhar centralidade na práxis
pedagógica, identificamos uma relação escola-família-comunidade
viva de compartilhamentos e significados. Currículo como experiência
implica no reconhecimento de que todo conhecimento tem origem na
experiência social e essa compreensão é mais do que uma questão
epistemológica, é uma questão política e pedagógica. (ARROYO,
2013, p. 121). Política porque refere-se a uma trajetória de uma
população historicamente subalternizada por mais de três séculos e
que desde sempre buscou meios de fraturar o sistema sob diversas
formas. Pedagógica porque a educação sempre foi uma bandeira de
luta dos movimentos sociais negros e quilombolas, tendo no século
XXI conquistado referenciais legais que orientaram para políticas e
práticas afirmativas, onde há explicitamente o reconhecimento da
trajetória e do legado que a experiência da organização nacional de ser
quilombola tem construído no Brasil.
Nossa pesquisa, ao utilizar o referencial teórico-metodológico situado
nas africanidades brasileiras e nos pós-coloniais latino-americanos,
assume um posicionamento de contribuir a partir desse lugar do Sul,
com uma produção do conhecimento crítica, que não se propõe a
negar o conhecimento hegemônico, mas afirmar que existem formas
outras de produzir conhecimento
V. Considerações finais