O escritor Bartolomé Clavero inicialmente explicita a dificuldade da ciência do Direito
como objeto de estudo,sendo que coloca em dúvida se o Direito é ordenamento gerado pela História ou objeto da própria História. Dessa maneira o autor não se apressa em distinguir o que é Direito e o que é História,mas utilizará uma metodologia para defini-lo. Nesse sentido como palavra manifestada durante o tempo, o termo Direito é facilmente igualado com justiça, embora não pertence a raiz etiologia direidico e sim de justo de justiça. Mas podemos sem prejuízo de entendimento qualificar o Direito como justiça, pois aquele que o domina não é chamado de direitista e sim de jurista. Outro sentido importante é a utilização do termo como faculdade, ou seja, “liberdade de cada um”.Essa afirmação já contempla uma derivação do termo Direito pois colocamos em prática a forma onde é e como é estabelecida a liberdade entre indivíduos, sem a ocorrência de supremacias de grupos ou nações. Uma vez onde “Há Direito” temos como consequência um ordenamento, uma norma. Esta norma facilitará a ocorrência das liberdades em convívio, o que mais uma vez será remetido ao termo Direito. Nos dias de hoje como base e objetivo a liberdade, temos como derivação a constituição. Quando nos referimos a constituição é inevitável conotarmos com o elemento lei, remetendo ao conceito natural do Direito, sendo o conjunto de normas sociais estabelecida por entidade competente considerando o bem comum e visando a convivência social. Agora o Direito como norma pública sendo imposto por autoridade referida interferirá na liberdade dos indivíduos em sociedade. O Direito como ciência torna-se objeto de estudo e perícia deflagrando Universidades e doutores no assunto. Mas o autor como essência não trata o Direito como direito à liberdade, ordenamento, nem como lei e tampouco ciência. O mesmo na questão científica faz um alerta sobre uma possível profanação quando reduzimos o Direito a simples estudos de leis, e fosse assim porque tantos anos de estudo do Direito? Salienta também que a existência de faculdades de Direito remetem ao processo científico de estudo. Enquanto ciência o Direito expande o conhecimento além das leis e nos direciona a questões referentes ao direito Objetivo e o direito Subjetivo. Nesse sentido o autor salienta a questão ortográfica de forma fundamental na distinção dos conceitos, sendo o Direito com letra maiúscula tratar-se de ordenamento da liberdade consonantemente superior ao subjetivo como explicitado na “maiusculidade” ortográfica. Esse processo de diferenciação do direito segundo Bartolomé acontece para os leigos de forma natural inserindo que há conhecimento do direito antes mesmo de aprendê-lo, porque vivemos em uma cultura que o alimenta como liberdade e o transmite como liberdade. Apresentando de forma divertida o autor coloca as premissas do plural relacionado ao Direito, afirmando que naturalmente conseguimos distinguir o termo direito civil dos direitos civis e que percebemos não se tratar de um plural do outro e sim matérias distintas, enquanto o direito civil é um ordenamento, os direitos civis relaciona-se as liberdades. Nesse momento basta o plural para distinguir e é o plural que o distingue, tornando-se mais útil e lógico que as maiúsculas. O Direito como entidade cultural nos remete a pensar que o mesmo está além de ser isoladamente liberdade, ou exclusivamente ordenamento, Bartolomé brilhantemente afirma que o Direito é uma ordem que conecta as coisas e essas coisas nada mais são que a História. História que gera um processo cinético contínuo onde o Direito está conectado e conectando, deixando-o tão desafiante, misterioso e socialmente dinâmico. Presumidamente o Direito não pertence a uma norma ou a um jurista e sim a uma mentalidade social, produtos de cultura. E nesse turbilhão cultural nos direciona ao termo ius, latino, oriundo da antiguidade romana. Esse termo romano fruto de um longo processo histórico refere-se ao ius civile, direito civil ou dos cidadãos. Mas este ordenamento a princípio está ligado ao mos, substancialmente religioso de caráter moral, sacerdotalmente aplicado. A iusridicto ainda estava a sombra dos primórdios romanos, Romulo e Remo haviam a pouco desmamados da loba. A cinética deste ordenamento vem ocorrer na República romana com a iurisprudentia, a prudência do direito, nesse caráter surgi a necessidade de tornar público, edictum, édito, onde ocorria a transmissão entre os juristas. Temos o nascimento do consulting romano, a obra do iurisconsulti , assessores de direito também chamados de iurisprudentes. Segundo Bartolomé estes juristas apresentavam uma autoridade não política e social, mas estavam lá transmitindo habilidades entre poucos, ao mesmo tempo que realizavam consultas públicas e privadas. O autor afirma a dificuldade de definir a figura do jurisprudente, sendo mais fácil definir o que ele não era, mas afirma categoricamente a produção de um capital intelectual gerado por eles e nesse sentido modestamente aluno incipiente que sou, arriscaria dizer que estava aí plantada a semente do Direito Ocidental. Infelizmente por uma limitação espacial encerro as descrições, deixo de explanar alguns temas desse espanhol, senhor CLAVERO, tão bem escritos e que me ajudaram a entender um pouco essa herança romana.
FONTE: CLAVERO, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito. Tradução de João Luiz Ribeiro Araújo. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2018, Temas I e II;