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Traduzido do original em Inglês

The Vision of Dry Bones


By R. M. M'Cheyne

Extraído da obra original, em volume único:


The Sermons of the Rev. Robert Murray M'Cheyne
Minister of St. Peter's Church, Dundee.

Via: Books.Google.com.br

Tradução por Camila Almeida


Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Dezembro de 2014

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

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A Visão de Ossos Secos
por Robert Murray M'Cheyne

“Veio sobre mim a mão do SENHOR, e ele me fez sair no Espírito do SENHOR, e me pôs
no meio de um vale que estava cheio de ossos. E me fez passar em volta deles; e eis que
eram mui numerosos sobre a face do vale, e eis que estavam sequíssimos. E me disse:
Filho do homem, porventura viverão estes ossos? E eu disse: Senhor DEUS, tu o sabes.
Então me disse: Profetiza sobre estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do
Senhor. Assim diz o Senhor DEUS a estes ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito, e
vivereis. E porei nervos sobre vós e farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei
pele, e porei em vós o espírito, e vivereis, e sabereis que eu sou o Senhor. Então profetizei
como se me deu ordem. E houve um ruído, enquanto eu profetizava; e eis que se fez um
rebuliço, e os ossos se achegaram, cada osso ao seu osso. E olhei, e eis que vieram nervos
sobre eles, e cresceu a carne, e estendeu-se a pele sobre eles por cima; mas não havia
neles espírito. E ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize ao
espírito: Assim diz o Senhor DEUS: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre
estes mortos, para que vivam. E profetizei como ele me deu ordem; então o espírito entrou
neles, e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo. Então me disse:
Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que dizem: Os nossos ossos
se secaram, e pereceu a nossa esperança; nós mesmos estamos cortados. Portanto
profetiza, e dize-lhes: Assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu abrirei os vossos sepulcros, e
vos farei subir das vossas sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. E sabereis
que eu sou o Senhor, quando eu abrir os vossos sepulcros, e vos fizer subir das vossas
sepulturas, ó povo meu. E porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos porei na vossa
terra; e sabereis que eu, o SENHOR, disse isto, e o fiz, diz o SENHOR” (Ezequiel 37:1-14).

No início da vida o profeta Ezequiel havia sido testemunha de cercos e campos de batalha;
ele próprio experimentara muitos dos horrores e calamidades da guerra; e isso parece ter
marcado o seu caráter natural, de tal forma que suas profecias, mais do que quaisquer ou-
tras, estão cheias de imagens terríveis e visões de coisas temíveis. Com estas palavras,
temos a descrição de uma visão que, por sua grandeza e terrível sublimidade, é, talvez,
inigualável em qualquer outra parte da Bíblia.

Ele se descreve como posto por Deus no meio de um vale que estava cheio de ossos. Era
como se ele estivesse colocado no meio de algum espaçoso campo de batalha, onde
milhares e dezenas de milhares foram mortos, e ninguém deixado para trás para enterrá-
los. As águias haviam muitas vezes se reunido sobre os cadáveres, e ninguém as havia
repelido, e os lobos das montanhas tinham comido a carne daqueles homens fortes, e

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bebido o sangue dos príncipes. As chuvas do céu tinham branqueado tais ossos, e os
ventos que sopravam sobre o vale aberto os tinham desnudado; e um intenso sol de verão
havia embranquecido e secado os ossos. E enquanto o profeta esteve em redor e por perto
de modo a ver a triste cena, esses dois pensamentos surgiram em sua mente: “Eis que
eram mui numerosos sobre a face do vale, e eis que estavam sequíssimos”.

Se o local não fosse um vale aberto, poderia ter parecido ao seu olhar admirado algum vas-
to sepulcro, como se os túmulos de todos os Faraós fossem desvelados por algum choque
da natureza, pelos fortes ventos do céu; como se a mão arbitrária da violência houvesse
saqueado os vastos cemitérios do Egito, e lançado os ossos mumificados de outras eras
para clarear e branquear à luz do céu. Quão expressivas são as breves palavras do profeta:
“Eis que eram mui numerosos sobre a face do vale, e eis que estavam sequíssimos”.

Sem dúvida, houve um terrível silêncio propagado sobre esta cena de desolação e morte;
mas a voz do seu Guia celeste rompe em seu ouvido: “Filho do homem, porventura viverão
estes ossos?”.

Que estranha pergunta foi esta feita em relação aos ossos branqueados e secos! Quando
Jesus disse da menina: “Não está morta, mas dorme” [Lucas 8:52], eles riram dEle, com
escárnio; mas aqui não eram corpos recém-mortos, mas ossos, ossos descobertos, bran-
queados; não, eles nem mesmo eram esqueletos, pois cada osso estava separado de seu
osso; no entanto, Deus pergunta: “viverão estes ossos?”. Se Ele tivesse feito esta pergunta
ao mundo, eles teriam rido como uma altíssima risada de desprezo; mas Ele perguntou a
alguém que, embora uma vez tenha estado morto, havia sido vivificado por Deus; e ele
respondeu: “Senhor DEUS, tu o sabes”. Eles não podem viver por si mesmos, pois eles
estão mortos e secos; mas se Tu puseres o Teu Espírito de vida neles, eles viverão. Assim,
então, só Tu o sabes.

Recebendo esta resposta de fé do profeta, Deus ordena a ele que profetize sobre aqueles
ossos, e lhes diga: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor DEUS a
estes ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito, e vivereis. E porei nervos sobre vós e
farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei em vós o espírito, e
vivereis, e sabereis que eu sou o Senhor”. Tivesse o profeta caminhado pela vista, e não
pela fé, ele teria duvidado da promessa, por causa da incredulidade. Se ele tivesse sido um
adorador da razão, ele teria argumentado: Estes ossos não têm ouvidos para ouvir, por que
eu deveria pregar-lhes: “Ouvi a palavra do Senhor?”. Mas não, ele creu em Deus mais do
que em si mesmo. Ele havia sido ensinado “a suprema grandeza do seu poder”; e, portanto,
ele obedeceu: “Então profetizei como se me deu ordem”.

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Se a cena que Ezequiel primeiramente viu era sombria e desolada, a cena que agora apare-
cia aos seus olhos era mais sombria, ainda mais terrivelmente chocante: “E houve um ruído,
enquanto eu profetizava; e eis que se fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, cada osso
ao seu osso. E olhei, e eis que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne, e estendeu-se
a pele sobre eles por cima; mas não havia neles espírito”. Se foi uma visão horrível antes,
ver o vale cheio de ossos, todos lavados pelas chuvas e ventos, e clareados nos sóis de
verão, quanto mais horrível agora, ver aqueles mortos, osso unido ao seu osso, tendões,
carne e pele sobre eles; mas nenhum fôlego neles! Aqui estava um campo de batalha, de
fato, com seus milhares de mortos insepultos, massas de carne sem respiração, frias e
imóveis, prontas apenas para apodrecerem, cada mão rígida e imóvel, cada seio, sem um
suspiro, todos os olhos lustrosos e sem vida, toda língua fria e silenciosa como um túmulo.

Mas a voz de Deus novamente quebra o silêncio: “Profetiza ao espírito (ou fôlego), profetiza,
ó filho do homem, e dize ao espírito: Assim diz o Senhor DEUS: Vem dos quatro ventos, ó
espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam”.

Antes, Ezequiel se inclinara sobre os ossos secos, mortos, e pregou a eles, uma congrega-
ção vasta, porém sem vida, mas agora ele levanta a cabeça e levanta os olhos; porque a
sua palavra é ao Espírito do Deus vivo. A incredulidade pode ter sussurrado a ele: “A quem
você está indo profetizar agora?”. A razão poderia ter argumentado: “que sentido há em
falar com o Espírito invisível, a alguém a quem você não vê”; pois está escrito: “O Espírito
de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece” [João 14:17].
Mas ele não duvidou da palavra por incredulidade: “E profetizei como ele me deu ordem;
então o espírito entrou neles, e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em
extremo”.

A primeira aplicação feita sobre esta visão é a restauração dos Judeus.

1. Ele ensina que, neste momento eles são como ossos secos no vale aberto, espalhados
por todas as terras, muitos e sequíssimos, destituídos da vida de Deus.

2. Isso ensina que a pregação de Jesus, apesar de ser loucura para o mundo, deve ser o
meio de seu despertar, e que a oração ao Espírito todo-vivificante deve ser o meio de sua
nova vida.

3. Isso ensina que, quando esses meios são utilizados com eles, o antigo povo de Deus
deve levantar-se ainda, e ser um exército grande em extremo, serão como eles costuma-
vam ser quando eles marchavam através do deserto, quando Deus ia adiante deles na
coluna de nuvem; de forma que eles serão, então, levados de volta para a sua terra, e plan-

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tados em sua própria terra, e não mais arrancados. Mas outra, e para nós mais importante,
aplicação desta visão, é para as almas não-convertidas em nosso meio. Sigamos por este
ponto de vista.

I. Almas não-convertidas são como ossos secos: mui numerosas e sequíssimas.

1. Elas são muitas. Quando uma alma é primeiramente trazida a Cristo, ela goza de uma
paz na crença que ela nunca havia conhecido antes; e não somente isso, mas ela é vivifica-
da da morte em delitos e pecados para uma vida que ela nunca conheceu anteriormente;
ela conhece a bem-aventurança de viver para Deus. Porém, mesmo com toda essa alegria,
há um sentimento terrível de solidão; pois quando ela olha em volta do mundo, ela se sente
exatamente como Ezequiel, colocada em meio a um vale cheio de ossos secos.

O homem agora está vivo, mas este mundo, que uma vez foi toda a sua alegria, parece
agora com algum antigo campo de batalha, onde os restos dos mortos estão todos lançados
expostos em campo aberto; e ele se sente algo solitário em um mundo de mortos. Este
mundo agora aparece como um vasto sepulcro, onde gerações inteiras de mortos se
encontram, e são misturadas; todos semelhantemente apropriados apenas para a queima;
e ele se sente vivo e solitário, movendo-se sobre as pilhas de mortos. Ele se sente como
Elias no monte de Deus, quando ele reclamou: “Senhor Deus dos Exércitos... mataram os
teus profetas à espada, e só eu fiquei” [1 Reis 19:10]. Ele se sente como nosso bendito
Senhor, que era uma luz que brilha nas trevas, e as trevas não O compreenderam. Ele se
sente “como astros no mundo; retendo a palavra da vida” [Filipenses 2:15-16], como uma
lâmpada suspensa na mais densa escuridão, cujo óleo é totalmente fornecido pela graça
do alto, e cujos raios parecem apenas fazer a escuridão mais visível. Ele se sente como
Paulo em Atenas; pois o seu espírito se comovia por ele ver o mundo inteiro entregue à ido-
latria. Ele se sente como Paulo em Roma, quando ele declarou: “Porque a ninguém tenho
de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso estado; porque todos buscam o que
é seu, e não o que é de Cristo Jesus” [Filipenses 2:20-21]. Ele se sente como João, quando
ele disse tão docemente, porém também mui tristemente: “Sabemos que somos de Deus,
e que todo o mundo está no maligno” [1 João 5:19].

Para o olho dos sentidos, oh, como este mundo é vivo e feliz, com as suas lojas e mercados;
seus cumprimentos e empresas; as visitas de cerimônia e visitas de bondade; sua alegria
e sua melodia! Quão vivo e realista é o mundo inteiro, desde o raiar da manhã até a meia-
noite. Mas, para os olhos da fé, que deserto solitário é este mundo! Pois, “todo o mundo
está no maligno”. Não é assim, irmãos crentes? Ele não é como Egito, naquela noite terrível,
quando um grito foi ouvido em cada habitação; porque não havia uma casa onde não

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houvesse um morto? Oh! Isso é mais sombrio agora; pois em cada casa há muitas almas
mortas, e ainda assim, não há nenhum clamor.

Olhe para a sua própria família; olhe entre as famílias dos seus vizinhos; olhe para a sua
cidade natal; não há nestes muitos mortos, almas mortas? A maioria são ossos mortos,
secos. Não, olhe para a Igreja Cristã; olhe entre os nossos guardadores do Sabath, e aque-
les que participam nos sacramentos; oh, irmãos! não é verdade que, como Sardes, a maior
parte das pessoas têm um nome quem vive, e está morta? A maioria de vocês não vive
uma vida de deleites? e não está escrito: “Mas a que vive em deleites, vivendo está morta”?
[1 Timóteo 5:6] Não é verdade que a maioria de vocês não demonstra amor pelos irmãos?
e não está escrito: “Aquele que não ama a seu irmão, permanece na morte”? Oh, sim, a
maioria são ossos secos! Verdadeiramente, então, “eis que eram mui numerosos”.

2. Eles são sequíssimos. Ossos secos estão muito além de toda a possibilidade de viver.
(1) Eles são desprovidos de qualquer carne ou beleza. (2) Eles não têm qualquer medula
ou espírito. (3) Elas não apresentam qualquer atividade ou poder de se moverem. E, oh!
Não é esta a própria imagem das pobres almas não-convertidas, “eis que estavam sequís-
simos”?

(1) Elas são desprovidas de qualquer beleza. Elas não veem a beleza em Cristo, e Cristo
não vê beleza nelas; as suas almas são magras e desfavorecidas. O homem foi feito perfeito
em beleza, a princípio; pois ele foi feito à imagem dAquele que é a perfeita beleza; mas
uma alma caída, não-convertida não tem beleza; é como um belo edifício em ruínas; é como
uma bela estátua inteiramente quebrada, não há nenhuma boa característica preservada;
é como um corpo bonito ferido pela morte, apodrecendo no túmulo.

(2) Elas não têm qualquer medula ou espírito. O homem foi feito para ser uma habitação de
Deus através do Espírito; e é somente quando somos guiados pelo Espírito que somos
vivos para Deus. Mas a alma não-convertida é “sensual, não têm o Espírito” [Judas 1:19].
A Bíblia diz: “O mundo não pode receber o Espírito Santo, porque não o vê, nem o conhece”.
Eles não têm nenhuma obra do Espírito no seu coração; nenhuma obra de despertamento;
nenhum convencimento da justiça; nenhuma obra de santificação; nenhum selo da alma;
nenhum andar no Espírito; nenhum amor no Espírito; nenhuma oração no Espírito Santo.

(3) Almas não-convertidas não apresentam qualquer atividade ou poder de se moverem em


direção a Deus. Se nós pregamos a Palavra do Senhor para elas, as mesmas não têm cora-
ção para atender às coisas que são faladas; ossos secos não têm ouvidos. Se nós lhes
dizemos sobre a ira de Deus, que está vindo contra elas, elas não se comovem a fugir;
ossos secos não podem correr. Se nós lhes dizemos sobre a beleza do Senhor Jesus, como

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Ele se oferece para ser seu completo Salvador, ainda assim elas não são levadas a abraçá-
lO; pois, ossos secos não podem estender os braços. Ah! estes ossos secos estão sequís-
simos.

Irmãos, não é possível fazê-los ansiosos a respeito de suas almas? Vocês podem perma-
necer e ouvir quão mortos e secos eles são, e ainda irem embora e esquecer tudo isso?
Vocês podem suportar carregar convosco uma pedra morta em vosso seio, em vez de um
coração? Vocês podem suportar terem tal coração frio, gelado, perverso, que não vê nenhu-
ma desejabilidade no encantador Salvador; nenhuma beleza nAquele que está estendendo
as mãos para vocês todo o dia, o “primeiro entre dez mil”, o “totalmente desejável”? Oh, ir-
mãos! se vocês vão embora impassíveis; e, sem dúvida, isso pode acontecer com centenas
de vocês; que necessidade temos de testemunhas? Vocês mesmos são a única evidência
que precisamos de que as almas não-convertidas são “mui numerosas”, e “estavam sequís-
simas”.

II. A segunda lição que aprendemos a partir desta visão é que a pregação é o instrumento
de Deus para despertar os não-convertidos.

Todo homem inteligente no meio de vocês ficou intrigado em um momento ou outro por
uma aparente contradição que atravessa toda a Bíblia. Está escrito em um lugar: “Ninguém
pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” [João 6:44], e ainda assim, toda a
Bíblia completamente ordena que todos venham a Cristo. Novamente, está escrito: “Ora, o
homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” [1 Coríntios
2:14], e ainda assim, o que estamos pedindo continuamente a vocês, senão que recebam
as coisas do Espírito de Deus? Mais uma vez, Deus abriu o coração de Lídia para atender
às coisas que Paulo dizia, o que deixa claro que nenhum coração natural pode compre-
ender, e ainda assim, não fazemos nada, senão instar essas coisas à vossa atenção. Por
natureza, os seus corações são tão duros quanto diamante, e até mesmo a sua demons-
tração não vos fará fugir do inferno; ainda assim, “sabendo o temor que se deve ao Senhor,
persuadimos os homens”. Por natureza, vocês não podem sequer compreender a beleza e
graciosidade do Senhor Jesus; e ainda assim, estamos determinados a nada saber entre
vocês, a não ser “Cristo e este crucificado”. Oh! que grande contradição há aqui; e ainda
assim, com que facilidade isso é resolvido! Aqueles ossos estavam mortos, secos, sem
espírito, sem vida, sem carne, sem ouvidos para ouvir; no entanto, Deus diz: “Profetiza
sobre estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor”. Exatamente assim,
meus amigos não-convertidos, suas almas são como esses ossos secos, mortas, secas,
sem espírito, sem vida, sem ouvidos para ouvir, sem coração para atender às coisas que

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são faladas. Vocês têm suas consciências embotadas, de forma que nenhuma palavra
minha pode movê-los a fugirem da ira vindoura; vocês têm esses corações ímpios, duros,
de modo que nenhuma palavra minha pode persuadi-los a abraçar o suplicante Salvador,
e ainda assim, é pela loucura da pregação que agrada a Deus salvar os que creem; e
embora as nossas palavras não tenham poder, contudo Deus pode trabalhar de forma toda-
poderosa através delas; e esta é a Sua mensagem para vocês: “Ossos secos, ouvi a palavra
do Senhor”.

Eu sinceramente rogo àqueles de vocês que pouco se importam em compreender a prega-


ção da Palavra. Vocês podem dizer, e dizer com verdade, que a pregação parece um instru-
mento fraco e tolo para tal tipo de obra, o próprio Deus a chamou de “a loucura da pregação”
[1 Coríntios 1:21]. Vocês podem dizer, e dizem de fato, que os ministros são apenas vasos
de barro, que são homens, de natureza semelhante a vossa, o próprio Deus os chamou as-
sim antes de vocês. Mas vocês não podem dizer que esta não é a maneira de Deus para
converter almas; e é com risco às suas próprias almas que vocês a desprezam. Man-
tenham-se afastados da casa de Deus e selem a sua Bíblia, e afastarão de vocês os únicos
instrumentos pelos quais Deus pode chegar às vossas almas moribundas.

III. A terceira e última lição que aprendemos a partir desta visão é que a oração deve ser
adicionada à pregação, de outra forma a pregação é vã.

Os efeitos produzidos pela profecia de Ezequiel aos ossos secos foram muito notáveis. Os
ossos se achegaram, osso ao seu osso; a carne, os nervos, a pele veio sobre eles, e os
cobriu; mas ainda não havia neles o espírito, eles estavam tão mortos como sempre. E, oh!
quão semelhantes são aos efeitos que muitas vezes seguem a pregação da Palavra. Quão
frequentemente um povo é aparentemente reformado! Em vez de quebrar o Sabath, há a
observância do Sabath; em vez de embriaguez, há sobriedade; existe forma de piedade,
mas nenhum poder; os ossos, os tendões, a carne e a pele da piedade estão ali, mas não
há nada do sopro vital da piedade. Ah! meus amigos, não é exatamente esta a forma de
nossas congregações atualmente? há abundância de conhecimento intelectual, mas, ah!
onde está o coração humilde que ama o Salvador? Há abundância de ortodoxia e de
argumentação, mas, ah! onde está a fé simples no Senhor Jesus e amor por todos os
santos? Não diz o Salvador quando Ele olha para baixo, para as nossas Igrejas: “mas não
havia neles espírito”? Oh! então, irmãos, vamos todos e cada um de nós dar atenção ao
segundo comando para o profeta: “Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize
ao espírito: Assim diz o Senhor DEUS: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre
estes mortos, para que vivam. E profetizei como ele me deu ordem; então o espírito entrou

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neles, e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo”. Aprendam duas
lições a partir disso.

Primeiro. Amigos não-convertidos, que corações mortos vocês devem ter; toda a pregação
do mundo não pode colocar a vida neles. Que corações duros vocês devem ter; o martelo
mais pesado que nós podemos erguer não pode quebrá-los. Nós falamos os argumentos
mais fortes em seu ouvido, ainda assim, nem isso tudo lhes moverá. Temos que levantar a
nossa voz, e profetizar ao Espírito; devemos clamar ao Espírito Todo-Poderoso antes que
possamos tocar o seu coração. Tentamos convencê-los do pecado; demonstramos como
vocês quebraram a Lei, e que: “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas
que estão escritas no livro da lei, para fazê-las” [Gálatas 3:10]; que vocês devem estar sob
a maldição, que vocês não serão capazes de suportar essa maldição, que esmagou um
Salvador à terra, e vos esmagará até as profundezas do inferno. Vocês estão um pouco
impressionados, e esperamos que o seu coração seja tocado; mas suas impressões são
como impressões na areia quando a maré está baixa, e a próxima maré do mundo apaga
tudo. Tentamos convencê-los da justiça. Nós lhes falamos sobre o amor do Salvador, como
ele excede todo o entendimento; como havia um oceano de amor naquele seio que nenhu-
ma corda poderia sondar, amor por pecadores perdidos como vocês; como Ele esteve no
lugar dos pecadores, obedecendo à Lei por nós; como Ele sofreu no lugar de pecadores,
levando a maldição por nós. Nós dizemos a vocês que creiam nEle, e sejam salvos; vocês
são derretidos, e lágrimas escorrem por seus rostos; mas, ah! isso é “como a nuvem da
manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” [Oséias 6:4].

Ah! Irmãos, que corações duros, de aço, vocês devem ter, quando tudo o que o homem
possa fazer não lhes derreterá. Seus corações são duros demais para nós; e nós temos que
voltar lamentando para o nosso Senhor, dizendo: “Quem creu em nossa pregação?”. Em
todas as outras coisas vocês poderiam ser persuadidos com argumentos. Se os seus cor-
pos estivessem doentes, poderíamos persuadi-los a enviá-los ao médico; se vossa proprie-
dade fosse estorvada, poderíamos convencê-los a serem diligentes por suas famílias. Oh!
quão prontamente vocês nos obedeceriam; mas quando mostramos que vocês são os
herdeiros, alma e corpo, de um inferno eterno, vocês não despertarão de modo algum.
Mesmo se nós pudéssemos mostrar-lhes o próprio Senhor Jesus Cristo, o Salvador san-
grante, suplicante, seus corações ímpios não se apegariam a Ele. Vocês precisam dAquele
que criou os seus corações, para quebrar e dobrar os mesmos. Então, vocês não irão
embora, cada um de vocês, batendo no peito e dizendo: “Deus, tenha misericórdia de mim,
pecador?”.

Aprendam, em segundo lugar, irmãos crentes, que necessidade vocês têm de orar.

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Quando Deus, no capítulo anterior (36) promete dar um novo coração e um novo espírito a
Israel: “tirarei da sua carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne” [v. 26],
acrescenta, no versículo 37: “Ainda por isso serei solicitado pela casa de Israel, que lho
faça”. E quando Deus promete dar os Gentios a Cristo por Sua herança, Ele apenas pro-
mete isso em resposta à oração: “Pede-me, e eu te darei” [Salmos 2:8]. E exatamente assim
é aqui, quando Ele quer dar vida àqueles cadáveres que jazem no vale aberto, Sua palavra
é: “Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem”.

Oh, irmãos crentes! Que instrumento é este que Deus tem colocado em suas mãos! A ora-
ção move Aquele que move o universo. Oh, homens de fé e oração! Israelitas, que lutam
com Deus, e prevalecem! Homens retos, justos, cujas orações podem muito em seus
efeitos! Vocês podem ser um pequeno rebanho, porém estejam suplicantes para que não
deem descanso ao Senhor. Oh, orem para que o Espírito “assopre sobre estes mortos, para
que vivam”. E vós, cristãos egoístas, se é que tal contradição pode existir; vocês, que se
aproximam do trono de Deus apenas por si mesmos; vocês, cujas petições do início ao fim
são somente por si mesmos; que não pedem por dons, exceto para a vossa paz e alegria.
Vão e aprendam o que significa: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” [Atos
20:35]. “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus” [Filipenses 2:5].

Dundee, 25 de Dezembro de 1836.

Sola Scriptura!
Sola Gratia!
Sola Fide!
Solus Christus!
Soli Deo Gloria!

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 Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A — Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.
Jeremiah Burroughs Owen
 Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação  Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink
dos Pecadores, A — A. W. Pink  Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.
 Jesus! – C. H. Spurgeon Downing
 Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon  Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan
 Livre Graça, A — C. H. Spurgeon  Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de
 Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield Claraval
 Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry  Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica
 Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill no Batismo de Crentes — Fred Malone
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— Sola Fide • Sola Scriptura • Sola Gratia • Solus Christus • Soli Deo Gloria —
2 Coríntios 4
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Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
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Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
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na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se ainda o nosso evangelho está
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encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
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de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
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Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
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para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
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Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
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Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
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se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
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nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
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por isso também falamos. Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
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também por Jesus, e nos apresentará convosco. Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
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Deus. Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
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interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação
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produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se
não veem são eternas. Issuu.com/oEstandarteDeCristo

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