Você está na página 1de 7

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO 2º JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DE BRASÍLIA-DF

Processo nº XXX

SUZIDARLE ALMEIDA, qualificada nos autos em epígrafe vem,


respeitosamente, perante Vossa Excelência, nos termos do Art. 41º da Lei nº 9.099/95,
interpor:

RECURSO INOMINADO

em face da EMPRESA AÉREA VOEALTO requerendo que, após obedecidas as


demais formalidades legais, seja o mesmo remetido para Câmara Recursal dos Juizados
Especiais, para apreciação e julgamento.

Nestes termos,

Pede deferimento.

BRASÍLA/DF, 28/04/2020

LISA MARIA BARBOSA BRITO FERREIRA DE ARAÚJO

OAB/DF Nº XXX
EGRÉGIA TURMA RECURSAL,

APELANTE: SUZIDARLE ALMEIDA

APELADO: EMPRESA AÉREA VOEALTO

Data máxima vênia, merece reforma a r. sentença proferida pelo M.M Juízo ‘a
quo’ que julgou improcedente o pleito autoral, conflitando diretamente ao
ordenamento jurídico pátrio a respeito da matéria e decisões tomadas pelo Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e Territórios acerca de cláusulas abusivas.
Cumpre informar que decisão desta natura macula a honra da pessoa e contraria
o princípio constitucional da dignidade humana, princípio da razoabilidade e
proporcionalidade, abrindo precedentes para a ilegalidade, dentre a omissão,
negligência, visto a Recorrida poderá abusar do direito, no intuído de não mais cumprir
a legislação no que tange à vedação de cláusulas abusivas.

I – DAS RAZÕES RECURSAIS


A) DA TEMPESTIVIDADE
Com fulcro no artigo 42 da Lei nº 9.099/95, o prazo para interpor o presente
recurso é de 10 dias. Assim, considerando que a decisão fora publicada no dia xxx e
tendo sido a advogada recorrente intimada da mesma no dia posterior,
reconhecidamente o recurso é tempestivo e merece acolhimento.

B) DO PREPARO E DO RECOLHIMENTO DAS CUSTAS


De acordo com o artigo 42, §1º, da Lei nº 9.099/95 e com o Documento 1 (em
anexo), comprova-se que houve o recolhimento do preparo, cuja guia corresponde ao
valor de R$ xxx,xx (xxx), em atendimento às normas deste Tribunal.
II – DA BREVE SÍNTESE RECURSAL
Suzidarle, servidora pública responsável por fiscalização de agentes
epidemiológicos do MS, ajuizou ação indenizatória no 2º Juizado Especial Cível de
Brasília em face da empresa aérea VOEALTO. Isso porque Suzidarle iria viajar a
trabalho no dia 13/03/2020 para a cidade de Manaus/AM, num voo às 05h20, com
passagem comprada pelo Ministério da Saúde. O avião permaneceu no solo por
aproximadamente 2h e meia após o horário de embarque, sendo que os tripulantes
justificaram ser devido a aeronave estar abastecendo. Contudo, não houve atenção para
com os passageiros e após exigências desses, a representante da companhia ré anunciou
que a aeronave não embarcaria devido a um drone na pista do aeroporto de Brasília/DF
e os voos estavam suspensos.
Após bastante confusão no aeroporto, Suzidarle foi realocada em um voo da
companhia aérea AIRHIGH às 05h20 do dia 14/03/2020, saindo de Brasília, com escala
em Viracopos/SP e Boa Vista/RR para poder desembarcar em Manaus/AM. A empresa
VOEALTO não disponibilizou hotel ou refeição para Suzidarle e essa requereu
indenização por danos morais no valor de R$5.000,00, mas em 22/03/2020, o Juízo da
primeira instância julgou improcedente alegando que, em decorrência do surto de
COVID-19 e do Decreto 40509/20, do Governo do DF, as pessoas deveriam ficar em
isolamento domiciliar, além de sustentar Suzidarle não poderia demandar a ação.

III – DO MÉRITO
A) DO DESVIO DE FINALIDADE
É notório que o caso em questão se trata de uma relação de consumo, em que de
um lado tem-se a consumidora – a apelante (artigo 2º, do Código de Defesa do
Consumidor) – e do outro a fornecedora de serviços – empresa aérea VOEALTO (artigo
3º, do Código de Defesa do Consumidor). Assim, nota-se uma inegável relação de
consumo.
Apesar das passagens terem sido compradas pelo órgão para qual trabalha a
apelante, foi ela própria, não o órgão, que sofreu com a condição de consumidora e teve
que desviar das suas competências para resolver um percalço causado pela apelada.
Invés de ter viajado para trabalhar, a apelante se despiu de representante do órgão para
se representar e buscar por direitos que lhe eram cabíveis, o que caracteriza um desvio
de finalidade.
Para que esteja caracterizado tal desvio, é fundamental ler o comentário abaixo
do criador da teoria:
“o desvio produtivo caracteriza-se quando o consumidor, diante de uma
situação de mau atendimento, precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as
suas competências — de uma atividade necessária ou por ele preferida —
para tentar resolver um problema criado pelo fornecedor, a um custo de
oportunidade indesejado, de natureza irrecuperável”. (DESSAUNE,
Marcos. Desvio Produtivo do Consumidor: o prejuízo do tempo
desperdiçado. Vol 1. Ed. Revista dos Tribunais, 2011).

Logo, Suzidarle deixou de ser, no caso em questão, funcionária pública de


agentes epidemiológicos de MS para ser apenas uma consumidora, afastando o estado
do MS da relação consumerista, a luz da teoria do desvio de finalidade, o que a legitima
como parte e permite que pleiteie e ganhe danos morais.

B) DA LEGITIMIDADE
Não há defeito de representação da parte autora, em contraponto ao que foi
estabelecido pelo magistrado em decisão de primeira instância. Caso o fosse, a apelante
não poderia pleitear pelos pedidos de danos morais, mas, na situação em questão, ela
não estava como representante dos agentes epidemiológicos do MS, mas sim como uma
consumidora, isso a luz da teoria do desvio de finalidade. Nesse sentido,
“Parte legítima é aquela que se encontra em posição processual (autor e réu)
coincidente com a situação legitimadora, ‘decorrente de certa previsão legal,
relativamente àquela pessoa e perante o respectivo processo litigosos’.”
(DIDIER JR. Fredie. Curso Processual Civil. Vol. 1. 19ª ed. Editora
JusPodvim, 2017. p. 387).

Assim, equivocadamente entendeu o magistrado do juízo ad quo acerca da


ilegitimidade da apelante no presente feito.

C) DOS DANOS MORAIS


Conforme demonstrado pelos fatos narrados, documentos acostados e prova
testemunhal produzida, o dano moral fica perfeitamente caracterizado pelo Autor ao ter
sido ludibriado que a espera seria um mero reabastecimento do avião e somente depois
de muito insistir – uma espera que demorou mais de duas horas – soube a real verdade
dos fatos, qual seja a que não poderia decolar, ainda teve que se prestar a uma situação
vexatória para conseguir embarcar em outra aeronave, mas apenas no dia seguinte,
expondo o autor a um constrangimento ilegítimo, gerando o dever de indenizar,
conforme estabelece o artigo 186 do Código Civil: “Art. 186. Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
E, no mesmo sentido, estabelece a Constituição Federal em seu artigo 5º:
“Artigo 5º - (...) X – são invioláveis (...), a honra, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Diante dos fatos e dos
mencionados artigos, coaduna-se, ainda, tal julgado:
“[...] Dizer que é presumido o dano moral nas hipóteses de atraso de voo
é dizer, inevitavelmente, que o passageiro, necessariamente, sofre abalo
que maculou a sua honra e dignidade pelo fato de a aeronave não ter
partido na exata hora constante do bilhete – frisa-se, abalo este que não
precisa sequer ser comprovado, porque decorreria do próprio atraso na
saída da aeronave em si.” (STJ. REsp 1.584.465/MG, min. rel. Nancy
Andrighi, 3ª Turma, j. em 13/11/2018. O entendimento consagrado neste
acórdão foi confirmado no REsp 1.796.716/MG, min. rel. Nancy Andrighi,
3ª Turma, j. em 27/06/2019, demonstrando que a despatrimonialização do
direito civil não é uma tendência efêmera).

Assim, conforme entendimento do STJ, para configuração do dano moral em


atraso de voo, restaram-se configuradas as elementares: i) a averiguação acerca do
tempo que se levou para a solução do problema, isto é, a real duração do atraso – que
dentro da aeronave extrapolou duas horas e ainda teve de se esperar para embarcar
novamente apenas no dia seguinte; e, ii) se a companhia aérea ofertou alternativas
para melhor atender aos passageiros – a VOEALTO só ofertou outra alternativa após
a apelante se humilhar por uma vaga em um novo voo, que acabou por ser em outra
empresa aérea, devido ao compromisso que não podia ser desmarcado.
Ademais, são necessários, também, iii) se foram prestadas a tempo e modo
informações claras e precisas por parte da companhia aérea a fim de amenizar os
desconfortos inerentes à ocasião – a apelada mentiu, inicialmente, acerca da demora,
e depois cancelou o voo por muita pressão interna dos passageiros que queria uma
resposta acerca da demora; iv) se foi oferecido suporte material (alimentação,
hospedagem, etc.) quando o atraso for considerável – a apelada não ofereceu
qualquer insumo para compensar o atraso, pelo contrário, a apelada pagou as custas
com seu próprio dinheiro; e v) se o passageiro, devido ao atraso da aeronave, acabou
por perder compromisso inadiável no destino, dentre outros – o atraso fez com que a
apelante chegasse quase na hora do seu compromisso e qualquer atraso poderia
ocasionar no seu não comparecimento.
Quanto à desculpada sustentada pela apelada de que o atraso foi decorrente a
um drone que estava na pista e pelo decreto nº 40509/20, estes dois são infindáveis. É
sabido que qualquer drone que adentre a área dos aeroportos é derrubado por
sistemas próprios e o decreto em questão foi promulgado no dia 11/03/2020 e a
viagem da apelante ocorreria apenas no dia 13/03/2020, sendo que tal lapso temporal
permitiria o cancelamento do voo. Ademais, o decreto não suspendeu os voos entre
os estados.
Logo, a indenização por danos morais se mostra fundada e cabível, e, quanto à
fixação do quantum indenizatório, tratando-se de dano moral, o conceito de
ressarcimento abrange duas forças: uma de caráter punitivo, visando a punir o causador
do dano, pela ofensa que praticou; outra, de caráter compensatório, que proporcionará à
vítima algum bem em contrapartida ao mal por ela sofrido. No caso em tela, tem-se que
o valor pedido, qual seja de R$5.000,00 (cinco mil reais), serve para reparar o mal
causado e ainda impede que a empresa aérea atente contra o direito de outrem, ou
mesmo que faça alguém se expor ao ridículo a fim de resolver uma situação por pura
desídia da apelada.

IV – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer a Vossa Excelência que:
a) seja recebido o presente recurso, nos termos do artigo 43 da Lei nº 9.099/95 e,
no final, que seja julgado pela total procedência para reformar, por completo a r.
sentença de primeiro grau;
b) seja intimado o apelado para se manifestar querendo, nos termos do artigo 1.010
do CPC;
c) Juntada das novas provas documentais, por essas terem sido confeccionadas
após a instrução processual dos presentes autos, conforme o artigo 397 do CPC;
d) Seja condenado o apelado ao pagamento integral das custas processuais e
honorários advocatícios em 20% do valor da condenação e nas demais
cominações legais;

Protesta provar o alegado por todos os meios em Direito admitidos, sem


exceção, e mais especificamente, pela prova documental, testemunhal, técnica e
depoimento pessoal das partes, sob pena de confissão.
Requer, por fim, que todos os atos sejam publicados em nome da advogada
LISA MARIA BARBOSA BRITO FERREIRA DE ARAUJO, OAB/DF nº XXXXX,
sob pena de nulidade.

Termos em que,
pede deferimento.

BRASÍLIA/DF, 28/04/2020
LISA MARIA BARBOSA BRITO FERREIRA DE ARAÚJO
OAB/DF Nº XXX

Você também pode gostar