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O Lobo e o Cordeiro

@isabelabveras
Matava a sede um cordeiro
Nas águas cristalinas de um ribeiro
Chega um lobo em jejum. Viera ali, com certeza,
Trazido pelo faro, em busca de água e presa.
“Por que me turvas a água assim, cordeiro ousado?”
Pergunta o lobo exasperado.
“Como ousa causar-me essa temeridade?”
O cordeiro responde: “Majestade,
Não se deixe de cólera exaltar
Convém antes do mais considerar
Que estou bebendo na corrente
@isabelabveras

Vinte passos abaixo e, consequentemente,


Não posso deste ponto a linfa turvar.”
“Turva-a sim!” Disse o lobo brutalmente.
“E falou mal de mim, bem sei, o ano passado.”
“Como, se eu não nascera ainda então?”
Eu nem sequer estou de todo desmamado!”
“Se não falou você, falou seu irmão.”
“Não tenho irmão.” “Alguém dos seus, é certo,
Falou de mim. Ouvi. Estava perto.
Vocês, seus cães e seus pastores
@isabelabveras

De mim falam horrores.”


E, isso dizendo, sem maior razão,
O lobo ataca e arrasta o pobre cordeiro
Ao fundo da floresta e, num desvão,
Matou-o sem nenhuma compaixão
E devorou-o prazenteiro.

La Fontaine
Versão de Luiz Gonzaga Ffleury

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