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8 DA DESAPROPRIAÇÃO

A desapropriação é um procedimento administrativo realizado pela


Administração Pública Direta como forma de intervenção na propriedade privada, desde
que comprovado o interesse público, em respeito à Constituição Federal, no que tanto
aos princípios da supremacia do interesse público e da função social da propriedade.
O desrespeito à função social da propriedade autoriza, desde que
comprovado o interesse público, a desapropriação, por parte do Estado, da propriedade
particular. O fundamento legal da desapropriação encontra-se firmado no art. 5º, XXIV,
em síntese, que “a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade
ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição” (BRASIL, 1988)
Por se tratar de uma norma de eficácia limitada, tal instituto é
regulamentado pela Lei nº 4.132/62 (interesse social) e pelo Decreto Lei nº 3.365/41
(utilidade e necessidade pública), ambos recepcionados pela Constituição de 1988.
A Lei 4.132/62 dispõe, em seu artigo 2º, acerca da desapropriação por
interesse social, que seria, por definição, o meio adequado para a justa distribuição da
propriedade ou o condicionamento do seu uso ao bem-estar social. Nesse sentido, o art.
2º considera como interesse social as seguintes situações:
Art. 2º Considera-se de interesse social:
I - o aproveitamento de todo bem improdutivo ou explorado sem
correspondência com as necessidades de habitação, trabalho e consumo dos
centros de população a que deve ou possa suprir por seu destino econômico;
II - a instalação ou a intensificação das culturas nas áreas em cuja exploração
não se obedeça a plano de zoneamento agrícola, VETADO;
III - o estabelecimento e a manutenção de colônias ou cooperativas de
povoamento e trabalho agrícola:
IV - a manutenção de posseiros em terrenos urbanos onde, com a tolerância
expressa ou tácita do proprietário, tenham construído sua habilitação,
formando núcleos residenciais de mais de 10 (dez) famílias;
V - a construção de casa populares;
VI - as terras e águas suscetíveis de valorização extraordinária, pela
conclusão de obras e serviços públicos, notadamente de saneamento, portos,
transporte, eletrificação armazenamento de água e irrigação, no caso em que
não sejam ditas áreas socialmente aproveitadas;
VII - a proteção do solo e a preservação de cursos e mananciais de água e de
reservas florestais.
VIII - a utilização de áreas, locais ou bens que, por suas características, sejam
apropriados ao desenvolvimento de atividades turísticas.  (BRASIL, 1962)

Por outro lado, o Decreto Lei nº 3.365/41 dispõe sobre a desapropriação


guiada pela manutenção da segurança nacional e defesa do Estado.
O procedimento de desapropriação divide-se em duas fases: declaratória e
executiva. A primeira se trata de uma etapa meramente administrativa, por meio da qual
o Poder Público, mediante decreto de lavra, declara a necessidade, utilidade pública ou
interesse social naquele bem, sendo esses os motivos autorizadores da intervenção
estatal na propriedade. Passando por essa etapa, o poder público ingressa na fase
executiva, em que se realiza a desapropriação e a propriedade privada passa a integrar
definitivamente no patrimônio público.
Esse processo pode se dar por meio de acordo entre as partes, sem a
necessidade de judicializar a questão. Entretanto, é raro que o particular aceite de bom
grado a intervenção estatal na propriedade, razão pela qual a maioria das
desapropriações são judicializadas.
Há, é claro, uma indenização a ser paga pelo Poder Público ao particular
cuja propriedade foi desapropriada. Tal indenização é geralmente calculada por meio de
perícia.
Existem, ainda, quatro tipos de desapropriação, sendo estes: a)
desapropriação direta; b) desapropriação indireta; c) desapropriação confiscatória; d)
desapropriação sancionatória.
A desapropriação direta é a clássica desapropriação, motivada por interesse
ou utilidade públicos. A desapropriação indireta ocorre por ato abusivo do poder
público, sem que seja observado o procedimento legal. A desapropriação confiscatória é
compulsória, como quando o poder público desapropria a gleba em que se é plantado
psicotrópicos. Por outro lado, a desapropriação sancionatória decorre do mau uso da
propriedade urbana ou rural, que enseja a interferência do poder público.

8.1 Desapropriação municipal


O Município, sendo ente da Administração Pública Direta, tem o poder de
desapropriar a propriedade particular, dentro dos limites acima discutidos. Sobre isso,
discorre Paulo Francisco Rocha Lago:
Quando o Município necessita de determinado bem móvel ou imóvel,
para utilizar no serviço público, pode escolher entre o método de direito
privado (a compra) e o método de direito público (a desapropriação). O
primeiro vai depender da vontade do proprietário em realizar o negocio; o
segundo independe por completo dessa vontade, pois o Município poderá
através dessa desapropriação, obter a propriedade do bem por sentença
judicial, valendo a sentença como titulo. (1986)

Há também a necessidade de se observar a hierarquia política das entidades


federadas. Isto é, o ente municipal jamais poderá desapropriar bens do Estado ou da
União, podendo, entretanto, ter seus bens desapropriados por eles.
Acrescenta-se, ainda, a necessidade de o Município utilizar-se de certas
motivações que atestem a necessidade da desapropriação, sendo esse atestado emitido
por ato administrativo. Por meio deste, deverá ser declarada a utilidade, necessidade
pública ou interesse social envolvido na desapropriação.
De forma análoga, o art. 182 da Constituição Federal assevera:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder
Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem- estar de seus habitantes.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para
área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de
até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real
da indenização e os juros legais. (BRASIL, 1988)

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição(1988). Constituição da República Federativa do Brasil .
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui
%C3%A7ao.htm. Acesso em: 29 jul. 2021

________. Decreto-Lei nº 3.365, de 21 de junho de 1941. Dispõe sobre


desapropriações por utilidade pública. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3365.htm. Acesso em: 29 jul. 2021.

_________. Lei nº 4.132, de 10 de setembro de 1962. Define os casos de


desapropriação por interesse social e dispõe sobre sua aplicação. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4132.htm. Acesso em: 29 jul. 2021

LAGO, Paulo Francisco Rocha. A Desapropriação. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro


de Administração Municipal – Ibam, 1986.

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