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Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil

Faculdade STBNB
Bacharelado em Teologia
Disciplina: Teologia Sistemática 1
Prof. (a) Ronaldo Robson
Aluno (a): Cláudio Henrique Caldas Mattos

FICHAMENTO 08
Em conexão com uma obra divino-humana como a Bíblia, pode-se esperar que
se apresentem dificuldades por si mesmas insolúveis. Contudo, até onde se sustenta
sua inspiração pela competente e suficiente evidência, tais dificuldades não podem
com justiça impedir nossa plena aceitação da doutrina, senão como uma desordem e
mistério na natureza garantem-nos o abandono das provas da sua autoria divina. Tais
dificuldades diminuem com o tempo; algumas já desapareceram; muitas podem ser
devidas à ignorância e podem ser removidas daqui em diante; as que são
permanentes podem pretender estimular a pesquisa e disciplinar a fé.
É notável que as objeções comuns à inspiração se apresentam, não tanto
contra o ensino religioso das Escrituras, como contra certos erros em assuntos
seculares que se supõe entrelaçados com ela. Mas se se provar que na verdade são
erros, isto não derrotará necessariamente a doutrina da inspiração; só nos compelirá
a dar maior lugar ao elemento humano na composição das Escrituras e considerá-las
mais exclusivamente como um livro-texto de religião. Como regra de fé e prática
religiosas elas ainda são a infalível palavra de Deus.
A Bíblia deve ser julgada como um livro cujo único alvo é livrar o homem do
pecado e reconciliá-lo com Deus, e nestes respeitos achar-se-á um registro de
verdade substancial. Isto aparecerá mais plenamente se observarmos as objeções
uma a uma. Não admitimos a existência de erro científico na Escritura. O que se acusa
como tal apresenta-se em formas populares e impressionantes. A mente comum
recebe uma ideia mais correta dos fatos não familiares quando narrados em
linguagem fenomenal e resumida do que quando descritos em termos abstratos e no
pormenor exato da ciência.
Não é necessário ao ponto de vista próprio da inspiração supor que os autores
humanos tivessem em mente a apropriada interpretação científica dos eventos
naturais que registraram. Basta que esteja na mente do Espírito inspirador. Através
das concepções relativamente estreitas e da linguagem inadequada dos escritores
bíblicos, o Espírito da inspiração pode ter garantido a expressão da verdade em tal
forma germinal a ser inteligível nos tempos em que foi publicada e ainda capaz de
expansão na medida em que a ciência avança.
No quadro miniatural da criação no primeiro capítulo de Gênesis e em seu
poder de ajustar-se a cada progresso na investigação científica temos forte prova da
inspiração. Pode-se dizer com segurança que a ciência ainda não mostrou que
qualquer passagem da Escritura bem interpretada seja in verídica. Com relação à
antiguidade da raça, podemos dizer que, devido às diferenças de leitura entre a
Septuaginta e o texto hebraico há lugar para dúvida se qualquer das cronologias
recebidas tem a sanção da inspiração. Apesar de que a ciência tomou provável a
existência do homem na terra num período anterior às datas designadas nestas
cronologias, nenhuma afirmação da Escritura inspirada por isso se prova falsa.
O que é atacado como tal são frequentemente simples equívocos na
transcrição e não tem nenhuma força como argumento contra a inspiração, a não ser
que primeiro se possa demonstrar que os documentos inspirados são pelo mesmo
fato de sua inspiração isentos da operação das leis que afetam a transmissão de
outros documentos antigos.
Outros assim chamados erros devem ser explicados como um uso permissível
de números redondos que não podem ser negados aos escritores sagrados a não ser
apoiados no princípio de que a precisão matemática é mais importante que a
impressão geral a ser garantida pela narrativa. Diversidade de relatos do mesmo
evento no que não se refere a nenhuma verdade substancial pode dever-se à
pequenez da narrativa e pode-se explicar plenamente se algum simples fato, ora não
registrado, é somente conhecido. Explicar estas aparentes discrepâncias não só
estaria além do propósito do registro, mas destruiria uma valiosa evidência da
independência dos diversos escritores ou testemunhas.
Enquanto a descoberta histórica e arqueológica em muitas importantes
particularidades sustenta a correção geral das narrativas da Escritura e nenhuma
declaração essencial do ensino moral e religioso da Escritura foi invalidado, a
inspiração ainda é consistente com muita imperfeição no pormenor histórico e suas
narrativas “não parecem estar isentas das possibilidades de erro”.
Os que são acusados como tal são, às vezes, os atos maus e palavras dos
homens bons - palavras e atos não sancionados por Deus. Estes são narrados pelos
escritores inspirados como simples matéria de história e os resultados subsequentes,
ou deixa-se que a própria história aponte a moral do conto. Onde os maus atos
parecem à primeira vista ser sancionados, frequentemente há alguma intenção correta
ou virtude inerente, em vez do ato em si, sobre o qual a determinação é concedida.
Sancionam-se algumas determinações ou atos como relativamente justas
expressões de justiça tais como a época poderia compreender e devem ser julgadas
como partes de um sistema desdobrado de moralidade cuja chave e clímax temos em
Jesus Cristo. A já s esta soberania de Deus fornece a chave para outros eventos. Ele
tem o direito de fazer o que ele quer com o que lhe pertence e punir o transgressor
quando e onde quer; e ele pode com justiça tomar os homens predito rês ou
executores dos seus propósitos. Outras aparentes imoralidades se devem a
interpretações não garantidas. O símbolo é, às vezes, tomado como um fato literal; a
linguagem da ironia é entendida como afirmação sóbria; o ardor e a liberdade da
descrição oriental são julgados pelo estilo desapaixonado da literatura ocidental; o
apelo aos motivos inferiores é tomado como se excluísse, ao invés de preparar para
os mais elevados.
Os que são acusados como tais devem geralmente ser explicados como
argumento válido expresso na forma altamente condensada. A aparência de erro pode
ser devida à supressão de um ou mais elos do raciocínio. Onde não podemos ver a
propriedade das conclusões tiradas das premissas dadas, há m maior razão para
atribuir nossa falha à nossa ignorância da lógica divina do que à acomodação ou
argumentos ad hominem da parte dos escritores da Bíblia.
A adoção dos métodos judaicos de raciocínio, até onde se pode provar, não
indicaria erro da parte dos escritores da Bíblia, porém, ao invés disso, uma sanção
inspirada do método aplicado àquele caso em particular. Se, contudo, parece em
investigação posterior que os métodos rabínicos foram erroneamente empregados
pelos apóstolos em sua argumentação, podemos ainda estabelecer distinção entre a
verdade que eles procuram transmitir e os argumentos pelos quais eles a sustentam.
Pode-se conceber a inspiração como a verdade que se toma conhecida e ainda deixa
a expressão da verdade para a dialética humana assim como para a retórica humana.
O que se acusa como tal são comumente interpretações do sentido da Escritura
original pelo mesmo Espírito que no começo a inspirou. Onde se cita uma aparente
falsa tradução da Septuaginta, a sanção da inspiração se dá expressando pelo menos
uma parte da plenitude do sentido contido no original divino - plenitude de significado
que duas traduções variantes não esgotam em certos casos.
A liberdade destas interpretações inspiradas, contudo, não nos garante igual
liberdade de interpretação no caso de outras passagens cujo sentido, com autoridade,
não se tornou conhecido. Conquanto não admitimos que os escritores do Novo
Testamento, em qualquer sentido próprio, tenham citado ou interpretado
erroneamente o Velho Testamento, não consideramos a correção absoluta a estes
respeitos como essencial à sua inspiração.
O que se acusa como tal pode frequentemente explicar-se lembrando-se de
que boa parte da profecia ainda não se cumpriu. As conjecturas pessoais dos profetas
quanto ao sentido das profecias que eles registraram podem ter sido incorretas,
enquanto, contudo, as próprias profecias são inspiradas. Os mais antigos
pronunciamentos do profeta não podem ser separados dos mais tardios que os
elucidam, nem da revelação toda da qual eles são uma parte. É injusto proibir ao
profeta que explique o seu próprio sentido. O caráter da profecia como um rude
esboço geral do futuro, na mais elevada linguagem figurada e sem qualquer
perspectiva histórica torna peculiarmente provável que o que à primeira vista parece
ser erro deve-se à nossa falsa interpretação, o que confunde o acessório com a
substância, ou aplica sua linguagem a eventos a que não têm nenhuma referência.
Esta acusação pode mostrar-se que, em cada caso, apoia-se numa falsa
apreensão do alvo e do método do livro e sua conexão com o restante da Bíblia
juntamente com uma estreiteza da natureza ou do ponto de vista que impede a crítica
de apreciar as carências da classe peculiar de homens a que o livro especialmente se
presta. O testemunho da história da igreja e a geral experiência cristã quanto à
utilidade e divindade dos livros em discussão é de maior peso do que as impressões
pessoais dos poucos que os criticam.
Descrições da experiência humana podem estar compreendidas na Escritura,
não como modelos a serem imitados, mas como ilustrações das dúvidas, lutas e
necessidades da alma. Nestes casos a inspiração pode atestar, não a correção dos
pontos de vista expressos pelos que assim descrevem a sua história mental, mas só
a correspondência da descrição relativa ao fato verdadeiro, e sua utilidade ensinando
indiretamente importantes lições morais. A verdade moral pode ser posta pelos
escritores bíblicos em forma parabólica ou dramática e os ditos de Satanás e dos
perversos podem formar partes de tal produção. Em tais casos, a inspiração pode
atestar, não a verdade histórica, muito menos a verdade moral de cada declaração
em separado, mas só a correspondência do todo com o fato ideal; em outras palavras,
a inspiração pode garantir que a história é verdadeira para a natureza e é valiosa
contendo a instrução divina.

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