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Preservar Não É Tombar - Carlos Santos
Preservar Não É Tombar - Carlos Santos
pesquisa
renovar não é pôr tudo abaixo urbanos e os submeteu às suas lógicas em meados do
século XIX. A partir daí, tudo vira mercadoria negociá-
vel por quem mais possa pagar. Não escapam a terra
e, numa esfera muito mais abstrata, as diversas locali-
zações intra-urbanas, valorizadas de forma diferente no
tempo pelos vários grupos que vivem nas cidades. Meu
mercado aqur é mais amplo. Para começo de história,
sua meta principal é promover, através do estabeleci-
Texto Cartos Nelson F. dos Santos mento de uma cadeia de obrigações de reciprocidade,
o máximo de equilíbrio na estrutura social. Quer redis-
a sua história. Não há maneira de pensar espaço signi- tribuir, não acumular. Em vez da mesquinha óptica da
Este artigo foi encomendado (e pago ...) para publica-
ção na Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Na- ficativo desacompanhado de história que o explique produtividade, permite as múltiplas ordens da criativi-
cional. (quando se trata dos chamados "povos sem história" dade. Por suposto, sempre foi mais idealizado que rea-
substitua-se história por mito ...). Da mesma forma, é im- lizado, mas, através da história, com a cidade e na ci-
Quando ficou pronto, foi vetado pelo editor, sob o pre- dade, foi se concretizando através das práticas possí-
possível imaginar história ou mito não referenciados a
texto de que ofendia os brios da arquitetura nacional. veis. Até que, por força dos individualismos da cultura
espaços reais ou imaginários.
Procedimento dos mais estranhos, em se tratando de desagregadora do Ocidente moderno, teve seu papel
trabalho assinado, escrito e desenhado no capricho, 2. Desde que, há uns 10 000 anos, a cidade surge na apequenado, foi reduzido. Ficou tudo mais fácil de usar
após insistentes convites. Não sei, não... deve ter ido história, coroando a revolução do neolítico, passa a ser e mais eficiente, é bem verdade. O preço. pago, porém,
muito direto ao alvo. Paciência. Carrego a honra de ter o lugar preferencial para realização (e percepção ...) da foi a esquizofrenia de que, hoje em dia, o mundo intei-
sido censurado pela Nova República bem antes de Go- própria história. ro parece atacado.
dard (Rio, 1984).
Há cidades que param. Deixam de se transformar atra- A cultura burguesa praticou o feito inédito: submeteu
Toda cidade resulta da agregação de trabalho humano vés dos diálogos, nem sempre mansos, entre espaço as outras que lhe eram contemporâneas. Na maioria dos
a um suporte natural. Isto quer dizer que, uma vez fun- e tempo. A rigor, não deveriam mais ser chamadas de casos, destruiu-as por completo. Apropriou-se de tu-
dadas, as cidades vivem se refazendo, jamais estão cidades. No dizer de Oriol Bohigas, viram museus, ce- do, simplificando significados complexos. O que inte-
prontas. Talvez esse enfrentamento do espaço e do tem- mitérios, cenários de turismo, o que se quiser ... Não me- ressava era aplainar caminhos para a existência e ope-
po através de ações sociais se pudesse chamar com recem mais ser consideradas centros urbanos reais. Ele ração de empresas e do Estado nacional... Entidades
mais propriedade de história - de história urbana pelo entende bem do que está falando: além de eminente totalizadoras que se esforçam por "descomplicar" o que
menos. De todas as formas, estou quase convencido arquiteto urbanista, é cidadão de Barcelona. Justo a Es- podem, para melhor controlar ou melhor mandar. As ci-
de duas coisas: panha foi um dos países onde, nas últimas décadas, dades, indispensáveis à difusão e implantação dessas
houve mais controvérsias sobre o muito que preservar novas ordens desde o renascimento europeu, foram
1. A história do homem acaba sendo enquadrada pe- e o muito que destruir, face a novas imposições da so- suas grandes vítimas.
los espaços que inventou para que neles acontecesse ciedade e de suas atividades econômicas.
A cidade/mercado do capitalismo está longe, porém, de
15 existir como um absoluto. Além da principal razão de
~ ser - produtividade de mercadorias e disciplinas -, con-
~ tinua abrigando muitas outras vocações. Técnicos, es-
i> pecialistas e o status quo de um modo geral costumam
.g classificar essa persistência como anacrônica e desvian-
~ te. São desordens frente à ordem que sonham existirá
~ um dia, perfeita e imutável. Não percebem que são os
espaços fora das convenções, as atividades econômi-
cas fora de controle e as relações sociais fora dos mo-
delos aceitos oficialmente que permitem e viabilizam
seus ideais de ordem. Em síntese, só pode haver um
positivo à custa de muitos negativos. Aqui no Brasil en-
tão, país de poucos recursos e inúmeros problemas no
cenário urbano, que deu um salto espetacular em no-
venta anos, só algumas áreas chegam mais perto do
ideal. Fazem-no, entretanto, à custa de outras que es-
poliam. A regra é que nos bairros cêntricos se promo-
va a concentração de benesses urbanísticas para uso
cada vez mais exclusivo dos mais ricos e das ativida-
des mais nobres. O resto, a maioria das pessoas e de
suas ações, vai se distribuindo como pode em espa-
ços tanto mais pobres e desprovidos quanto mais dife-
renciados dos núcleos cheios de privilégios.
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ensaio &:. pesquisa
i6 (um conhecer ...) tão bom como outro qualquer, com a
~ vantagem de ser muitíssimo acessível. Os espaços ur-
~ banos são livros abertos, que a cada instante dizem aos
~ que estão neles não só onde estão, mas quem são e
:§ quem são os outros. Uma jornada comum, que implica
~ deslocamentos, passagens por ambientes dos mais pri-
~ vados aos mais públicos, ida a lugares onde se produz,
se consome, se circula, se descansa, equivale a uma
carga informativa das mais completas. A diversidade
complementar de atividades é a matéria-prima da idéia
de cidade. Faz com que se modelem determinadas ex-
pressões físicas enquanto se estampa, se expõe e é
transformada através delas.
Eis por que, quanto maior a diferenciação de lugares
e de edificações no meio urbano, melhor. Mais do que
isso: tudo o que facilite intercâmbio, mistura e reformu-
lação é bem-vindo. Graças a Deus, começam a ser su-
perados os tempos em que pensadores e executivos
A excepcionalidade, a consideravam que o melhor a fazer era separar, organi-
sacralidade mesma do zar e deixar transparente. O lé-com-Ié e o cré-com-cré
momento.
das tentativas de zoneamento das cidades brasileiras
ao longo do século XX só produziu empobrecimentos
e rupturas. Com os pretextos da renovação, do progres-
so, da higiene, das razões do mercado, da circulação
ete., foram quebradas continuidades, sob todos os pon-
tos de vista (exceto o do arbítrio de minorias) expressi-
vas e desejáveis. Urbànístas e arquitetos chegam ao fi-
nal de quase noventa anos de "revoluções" goradas bas-
tante desencantados. Já perceberam que foram coni-
ventes. Com as técnicas e ideologias "inovadoras" que
touxeram para cá ajudaram a destruir o irrecuperável.
Entre as muitas novidades urbanísticas de que fomos
apóstolos no início do século está a idéia da preserva-
ção de sítios e monumentos urbanos. De repente, ar-
quitetos e outros intelectuais notáveis (e sonhadores ...)
descobriram que até já tínhamos alguma história e que
ela se exibia, sem proveito, através de edificações des-
prezadas, caindo aos pedaços ou (pensavam ...) conser-
vadas 'por milagre. É tempo de estranhos surtos nacio-
nalistas carregados de internacionalismo, tudo bem en-
A avenida Presidente caixado no grande sonho do país jovem, empenhado
Vargas ainda está cheia de em realizar seu grande futuro e em fixar alguma identi-
terrenos desocupados. dade que lhe irradiasse um passado pouco ealorizado,
Da descoberta à prática bastou um passo. Os pionei-
muitas articulações possíveis dos diversos elementos lugares ordenados segundo convenções que, para os ros partiram para a cruzada, bem-sucedida, aliás, co-
em cada sítio constituem uma linguagem peculiar. Da membros daquele grupo, são referências estruturais. mo quase tudo em que se meteram. Era um campo de
perspectiva analítica, o fenômeno não é muito fácil de Muito bem. Se, nos espaços urbanos, as formas físi- idéias articuladas que visavam e lograram uma virada
registrar e entender. Os produtos arquitetônicos e ur- cas falam das formas econômicas e das sociais, não de cabeças na elite e depois no conjunto da sociedade
banísticos por si mesmos permitem poucas precisões, haverá dificuldades de tradução? Termos irredutíveis, brasileira: arte moderna, arquitetura e' urbanismo racio-
são ambíguos; talvez excessivamente poéticos. Mas é tempos e objetivos diversos, divergentes até? Há sim. nalistas, nova música, nova literatura e... nova interpre-
aí que reside sua maior força - nessa resistência à frag- A melodia não é harmônica, nem cantam todos no mes- tação de velharias.
mentação. Os conjuntos urbanos costumam ter gran- mo diapasão. De um campo para outro existem super- As novidades fizeram boa carreira dos anos 30 para cá.
de poder expressivo. São sínteses fortes. Mesmo para posições, é verdade, mas são abundantes os desencon- Hoje já existe alguma consciêracia sobre o assunto.
quem conhece pouco uma determinada cidade é fácil tros e as autonomias. Creio mesmo que nessas faltas Quando se pensa em preservar, alguém logo aparece
fazer demarcações a partir de balizamentos sumários. de precisão contraditórias se estabeleçam os domínios falando em patrimônios e tombamentos. Também se
Habituar-se a um território desconhecido implica clas- de um quarto código, indispensável para que nas cida- consagrou a crença de que cabia ao governo resguar-
sificar lugares: onde há confusão; onde há calma; on- des coexistam, com o mínimo de desgaste, os outros dar o que valia a pena. Como? Através de especialistas
de se trabalha; onde há segurança; onde vão os ricos; três. As falhas, as brechas, os brancos são o território que teriam o direito (o poder-saber) de analisar edifí-
onde se adquirem bens úteis ou supérfluos ... e assim dos entendimentos políticos. Nosso modelo urbano J cios e pronunciar veredictos. Esses técnicos praticariam
por diante. a polis ocidental dos cidadãos e de suas assembléias uma espécie de ação sacerdotal. Atribuíam caráter dis-
A síntese espacial urbana tira das relações metafóricas representativas e equalizadoras - exige que existam. Eles tintivo a um determinado edifício e logo tratavam de
sua maior eficiência. Os lugares, por serem como são, servem para explicar o ininteligível, conciliam a intole- sacralizá-lo frente aos respectivos contextos profanos.
dizem de uma só vez uma porção de coisas para um rância das ópticas exclusivas, tornam a ambigüidage útil. Como ninguém é seguro o suficiente para inventar ri-
monte de gente. Apresentam conformações cumulati- Mais do que isso: fazem dela um instrumento de acer- tuais a partir do nada, trataram de seguir o caminho mais
vas. Estão no presente, mas podem demonstrar como tos. Quando o coro de mil vozes consegue o encontro fácil: impuseram as suas mãos sobre o que, por outras
já foi e como, talvez, será. Assim, não só com-formam. da assembléia, tenta se afinar, se ajeita para dar chan- razões, já estava consagrado. Não foi muito difícil de-
Também in-formam. Disse, um pouquinho antes, que ce aos timbres mais fracos, respeitando as limitações clarar dignos de preservação COnventos, mosteiros, igre-
na cidade o espaço fala. Fala de quê? De uma organi- e racionalidades da maioria e permitindo os solos na jas, palácios, fortalezas, sedes de fazenda ... De raro em
zação econômica, sem dúvida. Esta, por sua vez, se re- hora certa. Há outras possibilidades também: criar uma raro uma pequena construção antiga justificada como
fere a uma estruturação social que se realiza através falsa e fácil disciplina da exclusão; fazer com que qua- "curiosa": capelinhas. casas rurais, hesitantes exceções
de um modo de vida característico. A última expressão se todos se calem e conceder o privilégio da expres- confirmadoras da regra cômoda. Os símbolos do po-
pode, sem favor, ser substituída por cultura. A cultur~ são a um grupo que pode tudo. Quando esse excesso der não eram, por natureza, distintos? Não foram pro-
é constituída por esses milhares de obviedades que todo de autoritarismo acontece, é raro que os resultados se- postos como contrapontos desde o começo? Não ex-
mundo tem de saber, se deseja sobreviver, se não qui- jam bons para as cidades, não importando abeleza ou plicitavam quem mandava? Para não comprometer a no-
ser ser um Kaspar Hauser,*_ incapaz de dizer de onde o alcance das vozes. Já diziam os homens da Idade Mé- breza das boas intenções com estes aspectos menos
veio e a que veio no ambiente em que deveria se senti dia que o ar urbano era bom porque nele se respirava excelsos, .decidiu-se esfriá-Ios com a antiguidade. Quan-
à vontade. Pois é, participar de uma cultura é "estar em. liberdade. Percebiam bem duas coisas naqueles tempos: to mais perto dos séculos XVII ou XVI melhor, porque
casa" dentro dela. Isto corresponde a dominar uma certa 1. que a meíhõr maneira de viver consistia em reafir- assim as relações entre a forma e aqueles outros códi-
quantidade de códigos classificatórios que, quanto mais mar as semelhanças e compreender as diferenças em gos ficavam mais amenizadas. Não é por outra razão
gerais e abrangentes sejam, mais básicos são. Entre os conjunto (o que equivalia a trocar experiências); 2. que que, ainda há bem pouco tempo, era difícil provar o va-
conhecimentos básicos que permitem a convivência de a liberdade estava embutida nas ações de todos os dias lor de edificações do século XIX. No nosso prój)rio sé-
milhares de pessoas e interesses, nos espaços tão re- e que nelas se revigorava. culo, então, só o que já nascesse sob o signo da eter-
duzidos das cidades modernas, está a atribuicão de um Pensar na cidade e no que expressa li partir de suas nidade, isto é, como expressão definitiva e irrecorrível
mínimo de significados coincidentes a uma coleção de formas e lugares é ser morto-lógico. Um entendimento da transcendência do poder.j-' '.
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Corredor Cultural
Projeto de Revitalização de
Quarteirão (autor: arquiteto
Augusto Ivan Freitas
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das: frontões acrescentados, ornamentos art-nouveau, de tentar retribuir-Ihes o favor, dignificando os espaços de lazer. Naturalmente juristas e financistas terão tam-
geometrismos art-déco, perqulados modernos. Não era em que vivem e trabalham, sem espoliá-los, bém de contribuir para resolver os problemas de pro-
incomum que nas partes superiores aparecessem esti- priedade, de empréstimos, de relações entre senhorios
los ao gosto dos anos 50 e 60. O que era extraordiná- As soluções possíveis são muitas. No Brasil quase to- e inquilinos ... E os governos municipais e estaduais te-
rio é que os ritmos se preservaram. Onde havia arcos das são apenas hipóteses. Um bom caminho seria o uso rão de estar muito dispostos. Existem experiências exi-
de portadas de granito embaixo, se fazia uma varanda do estatuto da preservação ambiental. Este instrumento tosas no estrangeiro que podem servir de exemplo, Aqui
com arcos de alvenaria por cima. Onde corriam mol- seria um desafio para os urbanistas que deveriam bus- mesmo já foram tentadas algumas.
duras e platibandas, elas eram repetidas em versões car propostas físicas, jurídicas e fiscais que harmoni-
atualizadas. Os cheios e vazios eram renovados ou re- zassem sítios e edificações preexistentes com novas O gue disse a respeito de habitação também sé aplica
produzidos, mantidas as proporções de antes. Sendo obras. Usando a preservação ambiental, teriam de le- a outros fins. Há usos institucionais que cabem muito
as paredes mais velhas revestidas de azulejos azuis e var em consideração os laços entre os espaços e as ati- bem em edifícios ou quarteirões recuperados. Secreta-
brancos, o padrão foi perpetuado através do tempo. vidades econômicas e sociais que já suportam, antes rias, institutos, universidades ... Ah, se, em lugar dos iso-
Quem teve menos recursos pintou nessas cores. Quem de pensar no que se deseja para o futuro. Teriam, por- lados e inviáveis centros administrativos e cidades uni-
pôde mais usou azulejos mesmos, incluindo prosaicos tanto, de observar com cuidado como é a vida onde que- versitárias de que nossas capitais estão cheias, tivés-
azulejos de banheiro e cozinha. O resultado é bonito, rem intervir e entrar no seu fluxo. Isto significa enorme semos as unidades soltas, entremeadas com outras
comovente. Os moradores conseguiram manter o "es- contato com moradores e usuários, esclarecendo-os, le- construções em bairros velhos que valesse a pena con-
pírito" de sua rua, sem deixar nunca de lhe dar contri- vando-os a descobrir e cultivar os valores do lugar, per- servar! Desde que haja cuidado em não criar guetos,
buições. Como o fizeram? Vivendo nela e gostando do mitindo que participem das decisões. é ótimo conjugar muitos usos (trabalho, lazer, residên-
que possuíam. Eram todos descendentes de açorianos, cia) em uma única área. O que é de todo indesejável
alguns há cinco ou seis gerações no Brasil. Faziam a Uma última observação: todos sabem que nossos pro- é que as soluções urbanísticas sempre gerem conflito,
sua festa do Divino durante quarenta dias, todos os blemas habitacionais são sérios. As tentativas oficiais agridam a paisagem e a arquitetura remanescente de
anos. Memória, festa, casa, rua, família, vida armavam de resolver a moradia dos mais pobres e mesmo da clas- outras épocas e prejudiquem a população. Que sejam,
um campo único de significados. se média levaram a um impasse. As cidades estão cheias em suma, violências, produtos bem ou mal-intenciona-
de bairros velhos que constituem um excelente esto- dos de insensibilidade cultural. •
É pena que, em geral, quando se pensa em "preservar" que, na maioria dos casos em uso. Destruí-Io equivale
uma área urbana qualquer, tudo o que se invente logo a destruir riqueza, prática absurda em um país onde nem
Nota - Agradeço as idéias e sugestões do arquiteto Augusto lvan de
implique tirar aquela gente pobre que está lá, encardindo, sequer são produzidas casas suficientes para atender Freitas Pinheiro. cujo excelente trabalho no Corredor Cultural no Rio
incomodando. Ninguém pensa que seções inteiras de ao acréscimo da demanda. Arquitetos e engenheiros po- de Janeiro é um exemplo do que deveria ser feito no centro das gran-
nossas cidades não estariam aí, em pé, se não fossem dem encontrar nesse campo terreno fértil para experi- des cidades.
usadas por hoteizinhos, oficinas, lojinhas, prostitutas, mentações. Palacetes e mansões podem ser desmem- Carlos Nelson F. dos Santos formou-se pela Universidade do Brasil. em
bares, depósitos, manufaturas, clubes e associações, brados internamente como edifícios de apartamentos. 1966. É mestre em antropoloqia social e doutor em planejamento ur-
bano.. Atualmente é chefe do Centro de Pesquisas Urbanas do Institu-
cabeças-de-porco ... Pardieiros sim, mas vivos, funcio- Casinhas mínimas podem ser intercomunicadas, segun- to Brasileiro de Administração Municipal e professor.da Universidade
nando. Se alguém quiser saber a diferença, deixe uma do padrões não convencionais, resultando unidades Federal Fluminense.
casa nova em folha vazia, sem uso nenhum por uns cin- maiores. Vilas e avenidas particulares podem ser rea-
"Célebre personagem que surge na sociedade alemã do século XIX,
co anos. Virará uma ruína. Temos de agradecer, portanto, bilitadas. Os pátios internos podem ser desimpedidos, já adulto, sem ter sido devidamente socializado. A procedência desco-
às camadas mais pobres. Há quase duzentos anos são virando praças públicas ou semipúblicas, integradas ao nhecida e a falta de domínio dos códigos de comportamento criam em
os maiores guardiães do nosso patrimônio. Já é tempo desenho do bairro, servindo a atividades de trabalho e torno -dele um clima insuperável de desconfiança e mal-estar.
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