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Para se entender com clareza a noção de contato em Gestalt-terapia, é

fundamental ter em mente “a noção de campo, que é o lócus no qual o contato


ocorre, e de ciclo, que é o modo humano como os humanos fazem o ciclo através do
contato” (RIBEIRO, 2007, p. 9). Sendo assim contato se torna significativamente
num jeito de existir.
A partir dos elementos colocados acima – campo e ciclo – é podemos iniciar
nossa caminhada para se entender contato. Ribeiro (2007, p. 11) infere que é “pelo
contato com o outro que me percebo como existente. Contato é emoção
experienciada, é movimento à procura de mudança, é energia que transforma, é vida
acontecendo, é consciência dando sentido à realidade”.
Com isso em mente, nota-se que para se aperceber como existente na
relação com o outro, isso se dá na dinâmica do campo relacional estabelecido.
Inclusive é essa dinâmica que marcará o tipo de contato feito. Como diz Riberio
(2007, p. 12) “campo é o lugar do contato; é nele que tudo acontece, permitindo que
todos os seres em relação, ao se definirem pelo tipo de contato que os distingue, se
individualizem e possam ser reconhecidos”
Essa individualização e reconhecimento ocorrem no campo. Esse “campo é
composto de microáreas físicas e psicológicas e nele existem fronteiras e contornos”
(RIBEIRO, 2007, p. 12). E é a fronteira e o contorno que possibilita e onde se dá o
encontro das diferenças entre mim e o outro. E isso determina o contato a ser
realizado.
E o contato realizado, pode referir-se ao contato consigo mesmo, com o outro,
com o mundo, o mundo conosco. E como aclara Ribeiro (2007, p. 13) “esses níveis
de contato são fruto, primeiro, da percepção subjetiva que a pessoa tem de como se
relaciona com o outro e, segundo, de como a realidade objetiva é capta da pela
nossa subjetividade”. Dessa forma, podemos afirmar que todo e qualquer contato
necessariamente implica numa relação eu-mundo. Ou seja, inicialmente o ser existe,
depois sente, pensa, faz e por fim fala. Noutras palavras, primeiro o ser percebe a
realidade fora de si, em seguida percebe o percebido e então, percebe que
percebeu (RIBEIRO, 2007).
E com isso, o contato tal como exposto acima, se configura e se transforma
no instrumento básico que cria o significado e o sentido das coisas. E esse sentido e
significado possuem relação direta com as microáreas físicas e psicológicas
constituídas pelas fronteiras e contornos pertinentes ao campo. E se condensarão
formando o que se conhece por espaço vital. Nas assertivas de Ribeiro (2007, p. 14)
o “espaço vital é resultado de uma rede de contatos que fiz nos vários momentos da
minha vida, e talvez eu possa dizer que ele é fruto das mil experiências dos mil
campos em que experimentei estar em relação comigo e com o outro”. E no campo
permeado pelo espaço vital, se constrói camadas de “memórias/impressões” que
gestarão estilos de contato. Por fim, podemos asseverar juntamente com Ribeiro
(2007) que o espaço vital é dinâmico, refazendo-se e ao mesmo tempo renovando-
se a cada contato que ocorre.
A estrutura e constituição do self relacional, é um dos elementos que
perfazem a Teoria do Ciclo do Contato de Jorge Ponciano Ribeiro. Como veremos o
self é um integrante que permite a experiência direta e concreta do contato.
Na verdade, é através do self, como ensina Ribeiro (2007, p. 16) que

se pode visualizar como o contato funciona, quando experienciado no


encontro humano. Ele é, ao mesmo tempo, um processo estruturante do
contato ou uma estrutura processual que se expressa pelo movimento que
regula o pensar, o sentir, o fazer e o falar humanos

Pode-se perceber assim, que é através do self, que se dá o processo de


percepção subjetiva do ser, que se constitui pelo pensar, sentir, fazer e falar. Ou
seja, o self é a expressão da subjetividade primária do contato – do encontro com o
outro.
E essa expressividade da subjetividade por meio do self, institui a identidade
do ser no aqui e agora dentro do campo onde o contato se efetiva. Portanto o self é
função do campo de contato no espaço e no tempo, no aqui e agora. Como
demonstra Ribeiro (2007, p. 16) “ao falar em self, portanto, não estamos falando
dele em si, mas de como o contato se estrutura através das três funções: id, ego e
personalidade. Self é uma função espacial e temporal do contato”.
Neste ponto, o próprio Ribeiro (2007, p. 17) adverte que expõe “uma Teoria
do Contato através de modelos geograficamente apresentados como círculos, que
expressam ciclos de movimentos processuais em forma de contato explicitados por
meio das funções do self”. Esses modelos explicitam a estrutura do self, enquanto
manifestação do contato no aqui e agora, dentro do campo fenomenológico da
expressividade subjetiva da personalidade do ser.
Este modelo contempla: 1) O ciclo tradicional do contato, que envolve bloqueios e níveis de Contato,
expressão de nosso tipo de ação no ciclo da vida-como-um-todo. 2) Os três sistemas de
funcionamento humano: motor, cognitivo e sensório-afetivo. 3) O SELF, um existencial, que é uma
propriedade estrutural, inerente à essência da pessoa humana, e está permanentemente, em
dinâmica mudança pela conjugação das variáveis (Eu, ld e Personalidade) que interferem no seu
movimento. Existindo na pessoa e sendo um centro de processamento de dados da personalidade
humana, juntamente com o Eu, este SELF cria as individualidades existenciais e a multiplicidade
fenomênica que caracteriza todo ser humano. Este modelo contempla o "Todo” -Self o “Todo“
-Sistemas e o “Todo” -Global ciclo do contato, as quais, dinamicamente intra e inter-relacionados,
formam o "Todo” - Pessoa. A energia interna, que os atualiza sempre, chama-se holismo (RIBEIRO,
2007, p. 22).

Nesta figura, o self é o eixo central a partir da qual o contato emerge e


procede. Como explica Ribeiro (2007, p. 19-20) a esse respeito temos que:

“o self é um centro operacional de controle da energia em forma de contato,


de tal modo que o self é o retrato de como a pessoa funciona, em dado
campo. [...]. O self é como o negativo de uma fotografia. Ele existe, mas
precisa ser revelado, se se quer vê-lo mais claramente, e o preparado
químico que o torna visível é o contato. Assim, sem as cinco, sete ou nove
formas de contato ou de bloqueio de contato que aparecem no ciclo, não se
poderia "visualizá-lo". Os mecanismos de mudança ou de cura e seus
bloqueios são elos que dá visibilidade existencial ao self.

Depreende-se daí que a visibilidade existencial se transfigura em novas


figuras, portanto, em novas necessidades, e estas por sua vez, somente serão
satisfeitas com novos estilos de contato, consigo, com o outro e com o mundo.
Uma questão sine qua non neste estudo que estamos a realizar, é o conceito
de formação e destruição de figuras em gestalt-terapia no processo do contato –
representação do self relacional. Uma vez que este nos remete ao seguinte
raciocínio: figuras surgem de necessidades de contato, e estas por seu turno são
cíclicas. E como veremos, a terminologia formação e destruição de figuras, não se
mostra adequada. A esse respeito, Ribeiro (2007, p. 19) apresenta a seguinte
recomendação:
Parece, portanto, inadequado dizer: "Formação & destruição de figura. Toda
figura nasce de uma necessidade entre dois seres em contato, a qual, após
completar seu ciclo, ou seja, satisfazer seu objetivo, se retira à espera da
emergência de uma nova necessidade. [...]. A formação, portanto, de uma
nova figura não implica a destruição da anterior, mas supõe a anterior como
base para um passo à frente. A expressão correta, portanto, parece ser, em
vez de "Formação e destruição de figura", "Formação e transformação de
figura. [...]. E as consequências para a clínica são imediatas, pois a
transformação de necessidades leva a pessoa a uma sensação interna de
continuidade e, portanto, de percepção de si mesma.

Dessa forma, constata-se pelas assertivas pontuadas nos parágrafos


anteriores, que em cada e qualquer ciclo, que tenha sua necessidade atendida,
necessariamente passa pelo contato e “o organismo ‘transformado’ pelo contato que
se completou se prepara para um novo ciclo. Daí o nome ciclo do contato ou ciclo
das necessidades satisfeitas, uma vez que é por meio do contato que as
necessidades se satisfazem” (RIBEIRO, 2007, p. 19).
A partir do que foi delineado detalhadamente nesta seção secundária, acerca
da relação self e Ciclo de Contato, ou seja, ciclo das necessidades atendidas, é que
podemos articular a próxima temática designada por Fatores de cura: reconstrução
do estilo de contato na estrutura do self.

CURA
Para um entendimento mais completo acerca do tópico em questão, traremos
a contribuição uma fonte renomada, que tecerá explanações sobre esse conceito.
Ribeiro (2007, p. 56) afirma que fatores de cura

é um processo por meio do qual a pessoa experiencia, em dado momento,


uma sensação de que algo novo, portador de mudança e de bem-estar,
penetrou no seu universo cognitivo, e, através de uma consciência
emocionada, provocada pela percepção de uma totalidade dinamicamente
transformadora, sente se inclinada, motivada, fortalecida para mudar.
Para abordamos acerca da temática Fatores de cura: reconstrução do estilo
de contato na estrutura do self, inicialmente é fundamental entendermos acerca da
natureza do contato. Sobre isso Ribeiro (2007, p. 48) compartilha que

não é possível pensar o conceito de contato sem pensar nos conceitos de


união e separação. O modo como as pessoas se encontram ou se
desencontram revela a profundidade de seu engajamento na relação, que
torna visíveis o grau e o nível de equilibração organísmica que elas
codividem, e procede do processo de união e separação que se relacionam.
Se se conhece o modo como alguém faz contato, conhece-se também o
nível de encontro e separação com que se aproxima das coisas ou pessoas.

Isso posto, podemos perceber e descobrir que, à medida que a pessoa vai se
relacionando intrapessoalmente consigo mesma, consegue desfrutar de maior
conhecimento acerca do modo como faz contato, e, portanto, está em condições de
ter consciência mais ampliada, acerca do nível de encontro e separação com os
quais se faz próxima/presentificada ou não das coisas, pessoas e situações. Noutras
palavras, consegue decifrar-se e compreender-se em contato ou bloqueio o contato.
É nesse ponto que o processo psicoterapêutico ganha intensa
expressividade. Pois, traz à tona os mecanismos e processos inerentes ao
crescimento. como veremos, crescimento é uma função que se desdobra a partir do
contato.
“Não se podendo pensar contato sem que, implicitamente, se pense em
crescimento. Para que isto ocorra, é preciso deixar-se levar pelo fluxo do encontro
com o outro, [...], e acreditar no contato como gerador de mudanças e de
possibilidades novas” (RIBEIRO, 2007, p. 49). Com isso, o contato leva a pessoa ao
encontro de si mesma, de sua esfera íntima, até reconhecer-se possível e viável
dentro das novas possibilidades de contato.
Assim estamos diante de um processo gerador de mudanças, pois, o mesmo,
parte dos meandros e interstícios da intrapessoalidade. Como pontua sabiamente
Ribeiro (2007, p. 49) “contato é um ato de autoconsciência totalizante, envolvendo
um processo no qual funções sensoriais, motoras e cognitivas se unem, em
complexa interdependência dinâmica, para produzir mudanças na pessoa e na sua
relação com o mundo”. E esse processo detectado por nós, prescinde de dois
fatores pessoais: a intencionalidade e a responsabilidade.
O que explica o processo da mudança mobilizada, está assentado no
seguinte fato: nosso estilo de contato atual, é fruto das matrizes de contatos
realizadas, que se converteram em introjetos no mundo inconscientemente. E isso
se torna molde para as ações (na verdade de estilos de contato manifestos) que

são necessariamente resultado de valores anteriormente aceitos ou


rejeitados, que, de algum modo, dão sentido a percepção de nossa
realidade externa e à nossa percepção imediata enriquecida agora da
totalidade fenomênica introjetada. Isto nos permite ressignificar a realidade
encontrada como fruto a priori de nossos valores e da pluralidade de
relações própria da natureza percebida no aqui e agora imediatos
(RIBEIRO, 2007, p. 50).

Neste sentido, o processo de psicoterapia tem por finalidade, “facilitar um


processo de diferenciação da realidade, com abertura total de horizontes, no qual a
pessoa pense diferente, deseje diferente, se sinta diferente e aprenda a correr
riscos, de tal modo que crie, em sua vida, formas de contato mais nutritivas e
eficientes” (RIBEIRO, 2007, p. 52). Como fruto da psicoterapia, notabiliza-se que,
pouco a pouco a pessoa vai ganhando awareness de sua condição de estabelecer
contato. E isso vai desencadeando momentos ricos de aprendizado, no qual a
pessoa vai aprendendo a fazer novos tipos de contatos reais, e com isso, ela
consegue gradativamente selecionar o que é bom para si mesma. Nesse ínterim,
como denota Ribeiro (2007), refazer o caminho para se estabelecer o contato e a
mudança, são ingredientes basilares qualquer forma de psicoterapia. Isso só se
efetivará quando a pessoa fizer contato consigo mesmo, com suas potencialidades e
suas totalidades. Não apenas contactando com seus sintomas.
Pois o contato com as potencialidades e as totalidades é profundamente
imprescindível. Assim como veremos em Ribeiro (2007, p. 53) “essa totalidade é,
muitas vezes, quebrada pelo cotidiano, pela rotina, porque, habituados a dar sempre
as mesmas respostas, terminamos por não discriminar mais o que sentimos,
fazemos ou dizemos”. Sendo assim, a pessoa simplesmente repete padrões já
conhecidos. Muitos destes, já se cristalizaram em comportamentos corriqueiros,
presentes nos contatos na forma de resistências ou mecanismos de defesa. Se
tornou uma forma de contato da pessoa. Cabe então buscarmos pelos fatores de
cura.
Esses fatores de cura prescindem da obra de Martin Buber, por meio do
diálogo autêntico, no qual estão presentes as seguintes condições: a) Abertura:
eliminar as barreiras para o encontro, b) Reciprocidade: disponibilidade e entrega
para o intercâmbio das subjetividades, c) Presença: permissão para ser quem se é,
aceitação de quem o outro é e d) Responsabilidade: contribuir com uma visão do
outro como vejo a mim, ofertando respostas espontâneas (RIBEIRO, 2007).
Esta ponte diálogo e contato nos remeter ao processo de fluidez do mesmo
ou bloqueio. Por isso necessário realizar o diálogo autêntico da pessoa para si
mesma. Ou seja, resgatar o contato da pessoa consigo mesmo por meio dos quatro
elementos acima demarcados: abertura, reciprocidade, presença e
responsabilidade.
Um ponto inexorável, é que o diálogo autentico nos remete aos fatores de
cura aplicados como mecanismos para contatos mais saudáveis. Para isso Ribeiro
(2007, p. 55) nos orienta acerca das três condições necessárias:

1. que a pessoa sinta sua singularidade, veja-se como diferente do outro e


até, numa dimensão maior, perceba-se como única, singular, no
universo; 2. que a pessoa se sinta no aqui e agora e perceba que o
tempo e o espaço podem se tornar algo concretamente disponível para
ela; 3. que a pessoa se perceba inteira, como consciência de sua
própria realidade e da realidade do outro.

Com esses elementos integrando sua gestalt no contato, a pessoa desperta o


mecanismo de awareness, um dar-se conta plena, e com isso é possível desvelar
novos contornos e fronteiras no campo do contato. Dissolvendo-se ou remanejando-
se assim os mecanismos de defesa/bloqueios de contato.
A respeito desses bloqueios de contato, a literatura gestáltica abalizada sobre
o tema, nos fala num total de nove. Neste trabalho realizado por nós, em relação aos
bloqueios de contato, assumimos a postura defendida na Teoria do Ciclo de
Contato. Diante desta referência, Ribeiro (2007, p.56) explicita que:

O Ciclo do Contato, visto por nós como ciclo dos fatores de cura e bloqueios
do contato, nos dá uma visão das diversas formas que o contato assume
em um processo pleno, com começo, meio e fim. Mostrando a dinâmica da
polaridade saúde e seus bloqueios. Cada momento do ciclo é visto como
passos de saúde, ou na direção da saúde definida por nós como a mais
completa e plena forma de contato. Esses passos ou processos são
chamados, indistintamente na literatura, de fatores de cura, mecanismos de
cura ou fatores psicoterapêuticos.
O próprio Ribeiro (2007) comenta que esses fatores de cura ou fatores
psicoterapêuticos, assim que oportunizados no processo de psicoterapia, ganham
potencial sui generis para engendrarem mudanças, modificar comportamentos,
inclusive afetar a natureza da personalidade. Entendemos também que cada passo
do ciclo de contato, permite à pessoa, se rever como um ser no mundo e também
como ser do mundo para uma posição plena de ser para o mundo.
Continuando nossa exposição, falaremos de um ponto central para o manejo
relativo aos fatores de cura em psicoterapia dos bloqueios de contato. Estamos
falando de três elementos básicos: 1. Operacionalização do universo cognitivo: trata-
se de se descrever para si a próprio a realidade vivenciada. “A pessoa precisa
localizar-se na sua relação com o sintoma, sobretudo por que a mudança ocorre
como resultado de uma procura interessada, constante e inteligente, pois, quando
não se procura, não se encontra” (RIBEIRO, 2007, p. 57), 2. Presença de
consciência emocionada. “Não basta só o pensar. O pensar com emoção ajuda o
descobrir e, juntos, pensamento, emoção e ação possuem a força da mudança”
(RIBEIRO, 2007, p. 57), 3. Percepção da totalidade/globalidade dinamicamente
transformadora. “A totalidade precede sempre à consciência plena. Uma vez
alcançada a totalidade, esta leva à consciência, que por sua vez, provoca a
intencionalidade que predispõe para a mudança” (RIBEIRO, 2007, p. 58).
Para elucidar detalhadamente como se dá esse processo na clínica
psicológica, faremos abaixo a transcrição pormenorizada do quadro
“Operacionalização dos bloqueios de contato e fatores de cura”, presente em Ribeiro
(2007, p. 63-66).

BLOQUEIOS DE CONTATO FATORES DE CURA


FIXAÇÃO ("Parei de existir."): FLUIDEZ: processo pelo qual me
processo através do qual me apego movimento, localizo-me no tempo e no
excessivamente a pessoas, idéias ou espaço, deixo posições antigas, renovo-
coisas e, temendo surpresas diante do me, sinto-me mais solto e espontâneo e
novo e da realidade, sinto-me incapaz com vontade de criar e recriar minha
de explorar situações que flutuem própria vida.
rapidamente, permanecendo fixado
em coisas e emoções, sem verificar as
vantagens de tal situação. Tenho
medo de correr riscos.
DESSENSIBILIZAÇÃO ("Não sei se SENSAÇÃO: processo através do qual
existo."): processo através do qual me saio do estado de frieza emocional, sinto
sinto entorpecido, frio diante de um melhor a mim mesmo e às coisas, estou
contato, com dificuldade para me mais atento aos sinais que meu corpo me
estimular. Sinto uma diminuição manda ou produz, sinto e até procuro
sensorial no meu corpo, não novos estímulos.
diferenciando estímulos externos e
perdendo o interesse por sensações
novas e mais intensas.
DEFLEXÃO ("Nem ele nem eu CONSCIÊNCIA: processo através do qual
existimos."): processo através do qual me dou conta de mim mesmo de maneira
evito contato pelos meus vários mais clara e reflexiva, estou mais atento
sentidos, ou faço isso de maneira ao que ocorre à minha volta, percebo-me
vaga e geral, desperdiço minha relacionando com mais reciprocidade com
energia na relação com o outro, pessoas e coisas.
usando um contato indireto,
palavreado vago, excessivo ou polido
de mais, sem ir diretamente ao
assunto. Sinto-me apagado,
incompreendido, pouco valorizado,
afirmando que nada dá certo em
minha vida. Nunca sei por que as
coisas me acontecem como
acontecem.
INTROJEÇÃO ("Ele existe, eu não."); MOBILIZAÇÃO: processo através do qual
processo através do qual obedeço e sinto necessidade de me mudar, de exigir
aceito opiniões arbitrárias, normas e meus direitos, de separar minhas coisas
valores que pertencem a outros, das dos outros, de sair da rotina, de
engolindo coisas sem querer e sem expressar meus sentimentos exatamente
conseguir defender meus direitos por como sinto e de não ter medo de ser
medo da minha própria agressividade diferente.
e da agressividade dos outros. Desejo
mudar, mas temo minha própria
mudança, preferindo a rotina,
simplificações e situações facilmente
controláveis. Penso que as pessoas
sabem melhor do que eu o que é bom
para mim. Gosto de ser mimado.
PROJEÇÃO ("Eu existo, o outro eu AÇÃO: processo através do qual expresso
crio.") processo através qual eu, tendo mais confiança nos outros, assumo
dificuldade de identificar o que é meu responsabilidades pelos meus próprios
ar outros, ao mau tempo, coisas de atos, identifico em mim mesmo as razões
que não gosto em mim, bem com a de meus problemas, ajo em nome próprio
responsabilidade pelos meus sem medo da minha ansiedade.
fracassos, desconfiando de todo
mundo, como prováveis inimigos.
Sinto-me ameaçado pelo m em geral,
pensando demais antes de agir,
identificando facto nos outros
dificuldades e defeitos semelhantes
aos meus e tendo dificuldade de
assumir responsabilidade pelo que
faço, gosto que façam as coisas no
meu lugar.
PROFLEXÃO ("Eu existo nele."); INTERAÇÃO: processo através do qual
processo através do qual desejo que me aproximo do outro sem esperar nada
os outros sejam como eu desejo que em troca, ajo de igual para igual, dou pelo
eles sejam, ou desejo que eles sejam prazer de dar, convivo com as
como eu mesmo sou, manipulando-os necessidades do outro sem esperar
a fim de receber deles aquilo de que retribuição, sinto que estar e relacionar-me
preciso, seja fazendo o que eles com o outro me ajuda a me perceber
gostam, seja submetendo-me como pessoa.
passivamente a eles, sempre na
esperança de ter algo em troca.
Tenho dificuldade de me reconhecer
como minha própria fonte de nutrição,
e lamento profundamente a ausência
do contato externo e a dificuldade do
outro em satisfazer minhas
necessidades
RETROFLEXÃO ("Ele existe em CONTATO FINAL processo através do
mim."); processo através do qual qual sinto a mim mesmo como própria
desejo ser como os outros desejam fonte de prazer, nutro-me do que gosto e
que eu seja, ou desejo que eu seja do que quero sem intermediários,
como eles próprios são, dirigindo para relacionando-me com as pessoas de
mim mesmo a energia que deveria maneira direta e clara, e uso minha
dirigir a outrem. Arrependo-me com energia para usufruir com os outros o
facilidade, por me considerar prazer do momento.
inadequado nas coisas que faço, por
isso as faço e refaço várias vezes,
para não me sentir culpado depois.
Gosto de estar sempre ocupado e
acredito que posso fazer melhor as
coisas sozinho do que com a ajuda
dos outros. Deixo de fazer coisas com
medo de ferir e ser ferido. Sinto que,
muitas vezes, sou inimigo de mim
mesmo.
EGOTISMO ("Eu existo, eles não."); SATISFAÇÃO: processo através do qual
processo através do qual me coloco vejo que o mundo é composto de
sempre como o centro das coisas, pessoas, que o outro pode ser fonte de
exercendo um controle rígido e contato nutritivo, que o prazer e a vida
excessivo no mundo fora mim, podem ser co-divididos, que pensar em
pensando em todas as possibilidades possibilidades é pensar em crescimento,
para prevenir futuros fracassos ou que é possível desfrutar compartilhando e
possíveis surpresas. Imponho tanto que mundo fora de nós pode ser fonte de
minha vontade e desejos que deixo de prazer.
prestar atenção ao meio à minha
volta, usufruindo pouco e sem
vibração o resultado de minhas
manipulações. Tenho muita
dificuldade em dar e em receber.
CONFLUENCIA ("Nos existimos, eu RETIRADA: processo através do qual saio
não"): processo através do qual me das coisas no momento em que sinto que
ligo fortemente aos outros, sem devo sair, percebendo o que é meu e o
diferenciar o que é meu do que é que é dos outros, aceito ser diferente para
deles; diminuo as diferenças para ser fiel a mim mesmo, amo o "Eu" e aceito
sentir-me melhor e semelhante aos o "nós quando me convém, procuro o
demais e, embora com sofrimento, novo e convivo com o velho de maneira
termino obedecendo a valores e crítica e inteligente.
atitudes da sociedade ou dos pais
Gosto de agradar aos outros, mesmo
não tendo sido solicitado e, temendo o
isolamento, amo estar em grupo,
agarrando-me firmemente aos outros,
ao antigo, aceitando até que decidam
por mim coisas que me desagradam

[ESTRUTURA DO SELF É MUDANÇA DE PERCEPÇÃO SUBJETIVA E


RELAÇÃO OBJETIVA. COM A MUDANÇA DE PERCEPÇÃO SUBJETIVA
RECONSTRÓI/RECONDUZ O ESTILO DE CONTATO, POIAS AS microáreas
físicas e psicológicas e nele existem fronteiras e contornos GANHAM NOVAS
POSSIBILIDADES, DENTRO DA PLASTICIDADE DO MUNDO EMOCIONAL.
NOVAS FRONTEIRAS SÃO ERIGIDAS/ESTABELECIDAS NO FLUXO DE
CONTORNOS (BIOPSÍQUICO) QUE SE EXPANDIRAM. SE CONFIGURAM COMO
ESTRUTURAS DE MEMÓRIA AFETIVA-RELACIONAL CONSTITUINDO-SE EM
UMA NOVA GESTALT QUE POSSIBILITA UMA NOVA FORMA DE EXPRESSAR A
SUBJETIVIDADE DO SELF.

[CONTATO CONSTITUI-SE DA RELAÇÃO CONTÍGUA ENTRE ESPAÇO E


TEMPO. PORTANTO FALAMOS DO AQUI-AGORA]

, [ ] o contato é relação e essa relação significa realidade experienciada [NO


ESPAÇO-TEMPO PELOS SENTIDOS QUE CRIAM A PERCEPÇÃO-SIGNIFICADO
E DETERMINAM/DEFINEM O NÍVEL DE CONTATO E PORTANTO O ESTILO DE
RELAÇÃO/CONTATO SE COM BLOQUEIOS (NÃO PERMISSÕES/RESTRIÇÕES)
OU SE COM FATORES DE CURAS (PERMISSÃO, ABERTURA,
CONECTIVIDADE)
Os fatores de cura e/ou os bloqueios de contato são, portanto, algumas das muitas
possíveis formas de contato que dão visibilidade funcional ao self. Sem essas
formas de funcionar, o self se transforma numa abstração, num construto vazio, num
processo descaracterizado.

Devo esclarecer que, quando digo "diagnóstico, estou me referindo a um olhar


fenomenológico descritivo de um flash de uma situação experimental de uma pessoa
na sua relação com o mundo que pode ser captada, no aqui e agora. Não estou
falando de um diagnóstico definitivo, estrutural, mas apenas descrevendo um
processo que, naquele momento da vida da pessoa no mundo, pode ser descrito
como um processo introjetor.

Quando falamos de contato, de ciclo ou ciclos de contato, frequentemente deixamos


de lado os processos grupais de contato. Vivemos em grupo e no grupo nossas
relações de contato se tornam extremamente complexas, eu diria até que nossas
disfunções de contato grupal são as mais responsáveis pelos nossos desequilíbrios
e quebra de autorregulação. Embora não queira aprofundar as relações de contato
grupais, não poderia deixar de mencionar a importância de estarmos atentos aos
modos como bloqueamos nossos contatos, quando em relações grupais.

pensando fenomenologicamente um modelo que nos aproxime da experiência vivida


pelos nossos clientes.

Gestalt pode ser definida como uma Terapia do Contato em ação, no sentido de que
terapeuta e cliente estão atentos aos modos pelos quais o cliente procura satisfazer
suas necessidades, em dado campo. Somos os contatos que fizemos e continuamos
a fazer. O processo terapêutico recapitula, mostra o modo como o cliente faz
contatos no mundo
Cap 2

O CAMINHO TERAPÊUTICO-GESTÁLTICO NO CICLO DE CONTATO

Após apresentarmos nas seções secundárias acima, as temáticas vinculadas


e que dão embasamento à Teoria do Ciclo de Contato de Jorge Ponciano Ribeiro,
faremos ponderações do campo prático da mesma, uma vez que esta proposta se
alinha inexoravelmente com a psicoterapia gestáltica dos estilos de contato.
A psicoterapia gestáltica se apresenta neste contexto como uma possível
função do contato. E para que esta função do contato possa emergir e ocorrer com
acurácia, pertinente se faz no contexto psicoterapêutico três elementos, a saber:
totalidade, consciência e o próprio contato. Na totalidade, o paciente é visto na sua
inteireza, na sua globalidade relacional consigo, com ou outro e com a realidade
fenomênica do mundo. Na consciência, temos o elemento que assegura o estado de
presentificação do paciente na falar, no sentir, no pensar e no agir, configurando os
possíveis campos dos insights e awareness. E no contato, o paciente adentra a
esfera da possibilidade e da permissão de abertura para sua dimensão subjetiva,
tendo o terapeuta por acompanhante. Esses três elementos se entrelaçam e
transformam-se no tripé da mudança. “Quando falta um destes elementos na relação
terapêutica, rompe-se o processo de mudança e ocorre a fragmentação, tornando o
contato inoperante” (RIBEIRO, 2007, p. 31).
Com a percepção acima, afirmamos peremptoriamente que, no contato
psicoterapêutico, diversas figuras por parte do paciente afluirão e irão compor a
partitura de inúmeras e inusitadas gestalten que emergem. E é neste movimento que
o terapeuta se faz presente, ofertando no aqui e agora a possibilidade do paciente
caminhar seu caminho. Um caminho composto de permissão e destemor para co-
criar o ciclo da mudança na sua vida. Ciclo este que, cabalmente, oferece e convida
para um nível de entendimento, apreensão e compreensão dos campos em que o
paciente se moveu, está ainda se movendo e aqueles que quer mover ainda. Isso é
primordial em psicoterapia.
Como alumia Ribeiro (2007, p. 35)

A psicoterapia não tem necessariamente a ver com a cura, mas sim com a
mudança, a qual pode levar à cura. Mudar significa ressignificar coisas,
pessoas, e, sobretudo, a própria existência. Não é um ato da vontade
apenas, é um ato integrado, envolvendo a pessoa na sua relação com o
mundo como uma totalidade consciente.
Este processo de mudança dentro da perspectiva gestáltica aqui postulada,
se vale do Ciclo Integrado Dos Sistemas, Níveis E Funções Do Contato (ver figura 1
na seção 3.10.3 Self e Teoria do Ciclo de Contato). Pois este ciclo, nos auxilia a ter
a seguinte percepção acerca do self relacional: 1. o possível bloqueio de contato
presente (fixação, dessensibilizarão, deflexão, introjeção, projeção, proflexão,
retroflexão, egotismo, confluência) com seu respectivo fator de cura (fluidez,
sensação, consciência, mobilização, ação, interação, contato final, satisfação,
retirada), 2. os três sistemas básicos da personalidade (cognitivo, sensório-afetivo,
motor) e 3. as funções do self envolvidas (id, ego, personalidade). E é baseado na
dinâmica operativa e operacional desses constituintes assinalados, que o
mecanismo de mudança floresce no self. Pois todos eles, são expressões do self na
sua instancia relacional, ou seja, no seu processo de contato.
A partir do que foi veiculado, podemos inextricavelmente afirmar que, a
mudança embrionariamente, no processo psicoterapêutico gestáltico, se dá e ocorre
nos três níveis seguintes: sensório, motor e cognitivo. Pois, como defende Ribeiro
(2007, p. 35) “a interdependência deles gera emoções e afetos que são
determinantes poderosos no surgimento e na compreensão do comportamento”.

Figura 2 - O ciclo de Mudança. Fonte: Ribeiro (2007).


Na figura 2, “o contato com o self no centro é a expressão mais afirmativa de
seu aspecto relacional e da totalidade visível nas diversas formas que o contato
assume como expressão da pessoa humana” (RIBEIRO, 2007, p. 46).
Dessa forma, nota-se que no processo psicoterapêutico, o paciente tem a
oportunidade de se perceber diferente, perscrutar suas necessidades, questionar-se,
encontrar-se consigo no seu campo emocional e comportamental. Neste âmbito, vai
conseguindo aperceber-se das estruturas constitutivas que construíram seu estilo de
encontro com o outro. E assim, consegue tangenciar o modo de que seu self se vale
para entrar e estar em contato. E é dessa forma que, psicoterapeuticamente, vai-se
emergindo “uma consciência emocionada, de onde nasce o processo de mudança
real” (RIBEIRO, 2007, p.35).
Neste ponto desses estudos que estamos a realizar, importante trazermos a
seguinte contribuição, envolvendo o processo psicoterapêutico gestáltico do self e o
contato, pois ambos redundam na mudança. Essa contribuição vem nas mãos de
Ribeiro (2007, p. 39) que expõe que

Enquanto gera gestos e sinais, o contato é figura e pode ser visto, descrito.
Como fundo, é expressão de nossas introjeções acumuladas ao longo dos
anos e simbolizadas pelo nosso modo de estar no mundo. O contato é,
portanto, um jeito de ser e um jeito de se expressar.

O contato como jeito de ser e de se expressar, na verdade, acaba por tornar


visível e concreto aos outros a estruturação do self. Uma vez que o contato é, e se
torna agente promissor do self. O contato é um agente de expressão que revela e
desvela o self, e como como afirma Ribeiro (2007, p.39) “ele me faz visível aos
outros e me remete à camada mais profunda de mim mesmo, quando tento percebe
o porquê do meu jeito de ser”. Congruente e complementando estas asseverações
feitas, Ribeiro (2007, p. 39-40) anunciam que

Estas duas realidades, são resultados de uma correlação de variáveis, que


procede de diversos campos que atuam na sua formação e no modo de sua
elaboração com relação ao mundo exterior. O contato não surge de uma
elaboração intrapsíquica, tipo pensamento-vontade. É uma elaboração fruto
da relação dinâmica existente na relação pessoa-mundo, em um dado
espaço vital. O surgimento de um modo de ser, que se faz visível no modo
como fazemos contato, é operacionalizado pelos três sistemas básicos de
nossa estrutura vital: o sensório, o cognitivo e o motor, os quais, em Intima
relação com os diversos campos em que nos movemos, somos e existimos,
fazem surgir nosso self visível.
E assim, o caminho terapêutico-gestáltico vai ganhado forma. De maneira
emotivo-artesanal, terapeuta e paciente vai singrando juntos pelos campos do
contato. E conjuntamente, vão aprendendo que, a forma com que se faz contato,
procede de inúmeras combinações que, ao longo do tempo se relacionando, pouco
a pouco converteram-se nas respostas e condutas mais habituais do self aos
estímulos de fora. E o self foi se tecendo nas tecituras dos campos vividos e
introjetados. “Fica claro, nesta posição, que o self é um processo figural em
permanente mudança, [...], constitui a individualidade e identidade da pessoa,
fazendo que sejamos a cara dos contatos que fizemos ao longo do tempo”
(RIBEIRO, 2007, p. 43). Por isso, é função da psicoterapia descobrir os meandros
por onde o paciente passou, que gradativamente compuseram seu repertório de
bloqueio de contato.
E com esse repertório em mãos, na presença da consciência, dos insights, de
awareness e da totalidade do paciente, compor novas notas de uma nova melodia.
Uma sinfonia com mais funcionalidade na partitura do contato, sob a regência
excelsa e expressa do self. E assim, o paciente terá condições de compor e de se
compor de novos estilos na musicalidade do contato.
E finalizamos apontando que o self é contato que fazemos. Como diz Ribeiro
(2007, p. 47) “O self é um sistema central, interior, como uma coluna vertebral. É o
lugar onde ocorrem as emoções, as sensações mais profundas. É a síntese daquilo
em que nos tornamos ao longo da vida. É nossa auto-imagem”. Quando nos damos
conta disso, de que o self é nossa autoimagem, percebemos que o self é o retrato
que fazemos de nós mesmos ao longo do tempo, pelos campos de contatos que
passamos. Quando em psicoterapia, a relação dialógica paciente-terapeuta, mobiliza
os ingredientes integrantes da autoimagem relacional do paciente, notadamente
mudanças reais e efetivas ocorrem. Ou seja, ocorre reconstrução do estilo de
contato na estrutura do self.
Na sequência desta exposição, iremos conversar sobre a reconstrução do
estilo de contato na estrutura do self dentro das relações familiares.

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