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artigo

O trabalho com equipes reflexivas: revisão


de literatura

Working with reflective teams: literature review

Resumo: A concepção de equipe reflexiva surgiu Abstract:The conception of reflective teams Milena Carolina
na década de 1990, consoante com a influência appeared in the 1990s, with the influence of So- Fiorini
dos pressupostos do Construcionismo Social, cial Constructionism assumptions, which started Psicóloga e doutoranda
que passaram a nortear a prática das terapias sis- to guide the practice of postmodern systemic do Programa de Pós-
têmicas pós-modernas. Com foco nessa temáti- therapies. Focusing on this theme, this article is Graduação em Psicologia
ca, este artigo trata de uma revisão integrativa de a integrative literature review conducted through da Universidade Federal
literatura, realizada por meio da coleta de estudos the collection of national and international stu- de Santa Catarina – UFSC.
nacionais e internacionais. A análise dos traba- dies. The analysis of the works found allowed milenacf.psicologa@gmail.
lhos encontrados permitiu constatar que a gran- us to find that the vast majority used qualitative com
de maioria utilizou métodos qualitativos. Houve methods. There was a prevalence of researches
prevalência de pesquisas que abordaram, como that addressed, as one of the main themes, the Luciane Guisso
uma das principais temáticas, a avaliação da evaluation of participation in reflective teams by Psicóloga e doutoranda
participação em equipes reflexivas por parte de clients and/or therapists. With the same number do Programa de Pós-
clientes e/ou terapeutas. Com o mesmo número of studies found, the theme regarding the reflecti- Graduação em Psicologia
de trabalhos encontrados, a temática referente à ve team as a resource used in other professional da Universidade Federal
equipe reflexiva como recurso utilizado em outros fields was also preponderant. In spite of the pre- de Santa Catarina – UFSC.
campos profissionais também foi preponderante. dominance of positive reviews regarding the par- lucianeguisso@gmail.com
Apesar do predomínio de avaliações positivas ticipation in reflective teams, many studies agree
em relação à participação nas equipes reflexivas, on the need for further theoretical and technical Maria Aparecida
muitos estudos concordam com a necessidade exploration of the theme, so that researchers and Crepaldi 
de maior exploração teórica e técnica da temáti- professionals can combine theory and practice, Psicóloga, doutora em
ca, afim de que os pesquisadores e profissionais adopting a coherent approach to the original pre- saúde mental e professora
consigam aliar teoria e prática, adotando uma mises of reflective work. do Programa de Pós-
postura coerente com as premissas originais do graduação em Psicologia
trabalho reflexivo. Keywords: reflective teams, reflective proces- da Universidade Federal
ses, Social Constructionism, Systemic Family de Santa Catarina – UFSC.
Palavras-chave: equipes reflexivas, proces- Therapy. maria.crepaldi@gmail.com
sos reflexivos, construcionismo social, terapia
familiar sistêmica.

A terapia familiar sistêmica emergiu em meados da década de 1950, abordando


aspectos do relacionamento presente no sistema familiar (Vidal, 2006) e propondo
uma abordagem da psicoterapia sob um enfoque relacional e processual (Cerveny,
1994). Ao longo do desenvolvimento de estudos e da prática familiar sistêmica,
formaram-se diferentes escolas que, por sua vez, adotaram algumas perspectivas
distintas, embora com uma base comum. A partir de 1990, algumas abordagens,
então denominadas teorias pós-modernas, passaram a adotar os pressupostos do
construcionismo social (Grandesso, 2000). As principais contribuições do cons-
trucionismo social se articulam em torno de quatro pontos principais: a ênfase na
cultura e na história enquanto forma de se conhecer o mundo; a importância dos
Recebido em: 25/06/2016
relacionamentos, entendida como fonte de produção e sustentação de conheci- Aprovado em: 06/10/2016

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mento; a conexão entre conhecimento problema, as narrativas dominantes
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e ação; e a valorização da postura críti- podem ser vistas de outras formas.
ca (Burr, 1995; Gergen, 1999). São os chamados eventos extraordi-
Na prática da terapia familiar sistê- nários, que surgem quando se fazem
mica, o construcionismo social assina- perguntas com o intuito das pessoas
lou uma mudança de postura do tera- recuperaram histórias anteriormen-
peuta, que deixou de assumir o papel te ignoradas em suas vidas (White &
de especialista para adotar a conduta Epston, 1990).
do “não saber”. Essa nova maneira de A abordagem colaborativa enfati-
atuar valorizou o poder da interação za o carácter criativo da linguagem
social na geração de significados para na busca de atenção aos processos de
as pessoas, a postura de co-construção produção de sentido. Para Anderson
entre terapeuta e cliente, o foco na (1997), o sistema terapêutico é um
ação, a atenção às potencialidades do sistema linguístico que se desenvol-
cliente e a conversação como principal ve nas conversações associadas ao
prática de intervenção (Rasera & Ja- problema que gerou determinado
pur, 2004). quadro. Quem participa do sistema
Existem discussões em torno das são aqueles que estão no contexto
perspectivas que podem ser conce- linguístico do problema, aqueles que
bidas como próprias ao construcio- conversam, descrevem, narram e pro-
nismo social. Porém, apontamentos duzem o problema. A responsabili-
recentes indicam que algumas pro- dade do terapeuta é gerar um novo
postas são mais solidificadas enquan- contexto comunicacional, que seja
to pertencentes a esse campo (Rasera coerente para estabelecer um proces-
& Japur, 2004). Considera-se, nesse so de redefinição do problema. Dessa
contexto, a terapia narrativa de White forma, é no contexto de conversação
e Epston (1990), a abordagem colabo- dialógica que acontece o processo de
rativa de Harlene Anderson (1997) e mudança, por meio de uma relação
as equipes reflexivas de Tom Ander- colaborativa.
sen (1995). As equipes reflexivas foram conce-
Na terapia narrativa, há uma ênfase bidas por Andersen (1995), em decor-
em relação à metáfora textual. Com- rência de certo desconforto do autor
preende-se que “as pessoas, no esforço e de sua equipe em relação às inter-
de dar sentido às suas vidas, organi- venções terapêuticas predominantes
zam sua experiência em sequências até meados da década de 1980. Es-
temporais, construindo um relato co- sas intervenções eram representadas
erente de si próprias e do mundo” (Ra- principalmente pela Equipe de Milão
sera & Japur, 2004, p.432). Por meio (Palazzoli, Boscolo, Cecchin, & Prata,
do relato, as pessoas conseguem con- 1980), que enfatizava as hipóteses e in-
tar a sua história e compô-la com um terpretações do terapeuta em relação
senso de continuidade. As narrativas ao cliente como formas exclusivas de
são, portanto, compreendidas como enxergar o problema, configurando
constitutivas e modeladoras das vidas uma posição de assimetria em relação
das pessoas, fornecendo sentido às vi- à posição da família em terapia (Rase-
vências individuais, sendo que a cada ra & Japur, 2004). Hoger et al. (1994)
nova versão, novas possibilidades de descrevem a equipe reflexiva como
se reescrever as histórias são verifi- um modelo de intervenção baseado
cadas. Por meio da externalização do na prática narrativa e orientado pelo

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que Andersen (1995) denominou de priorizados nas pesquisas, apontando O trabalho com equipes
processos reflexivos. A finalidade ini- limitações e possibilitando novos cam- reflexivas 87
Milena Carolina Fiorini
cial da equipe reflexiva era oferecer pos de investigação. Luciane Guisso
Maria Aparecida Crepaldi
aos sujeitos, aos casais e às famílias
novas perspectivas de abordar os pro-
blemas ou situações difíceis (Lebenso- Método
hn-Chialvo, Crago, & Shisslak, 2000;
Chang, 2010). Este artigo trata-se de uma revisão in-
Os pressupostos fundamentais da tegrativa de literatura, sobre a temática
equipe reflexiva sustentam-se nos pro- “equipes reflexivas”. A coleta de dados
cessos reflexivos como ferramentas foi realizada por meio de uma pesqui-
para mobilizar os clientes a compre- sa bibliográfica de artigos científicos
enderem o problema, sob diferentes nas seguintes plataformas: Portal de
perspectivas e, consequentemente, a Periódicos CAPES, PEPSIC (Portal de
elaborarem novos significados para a Periódicos Eletrônicos de Psicologia) e
situação que vivenciam. Uma equipe SCIELO (Scientific Electronic Library
de terapeutas compartilha impressões, Online). Em relação à data de publi-
ideias e perguntas com a família, que, cação, delimitou-se a busca por artigos
por sua vez, é convidada a refletir so- publicados a partir de 1990, tendo em
bre as dificuldades expostas na sessão vista que foi a partir desse momento
(Chang, 2010). A estrutura da equipe que o construcionismo social passou a
reflexiva pode apresentar variações influenciar a terapia familar sistêmica
em seu modo de funcionamento, po- de forma mais evidente. A coleta não
rém prevê, basicamente, um ou alguns restringiu a utilização de metodologias
momentos da sessão terapêutica em específicas, abarcando tanto artigos
que tanto o(s) terapeuta(s) quanto o(s) teóricos quanto de natureza empírica.
cliente(s) ouvem as reflexões dessa Para a busca na plataforma internacio-
equipe que assiste à sessão. nal (CAPES), foi empregado o termo
Tendo em vista a escassez de pes- “reflecting team”. Nas plataformas na-
quisas sobre equipes reflexivas, es- cionais (PEPSIC e SCIELO), optou-se
pecialmente no cenário brasileiro, pela combinação dos termos “equipe”
buscou-se, por meio desse trabalho, e “reflexiva” (intercalados pelo opera-
realizar uma revisão integrativa de li- dor booleano “e”).
teratura a respeito da temática. A bus- O total de artigos científicos encon-
ca de material bibliográfico, para dar trados foi de 96 (74 na CAPES, 5 na
início ao estudo, revelou quatro revi- PEPSIC e 17 na SCIELO). O procedi-
sões de literatura sobre equipes reflexi- mento inicial contemplou a leitura dos
vas (Brownlee, Vis, & McKenna, 2009; resumos dos 96 artigos. Como critério
Pender & Stinchfield, 2012; Rhodes, de inclusão, foram selecionadas ape-
2012; Willotta, Hattonb, & Oyebode, nas as publicações que atendiam ao
2012). Embora com focos diferencia- objetivo deste estudo, resultado em 72
dos, os trabalhos foram unânimes em trabalhos. Excluindo-se os artigos que
apontar a necessidade de maior explo- apareceram de forma repetida nas pla-
ração da temática. Diante do exposto, taformas (total de 8), restaram 64, dos
pretende-se apresentar a produção quais 5 não estavam disponíveis para
científica brasileira e internacional consulta. Os 59 trabalhos restantes
sobre equipes reflexivas, fomentando foram lidos na íntegra, categorizados
uma discussão a respeito dos assuntos de acordo com as temáticas centrais

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apresentadas e analisados em relação de casos e pesquisas etnográficas. En-
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ao ano de publicação e à abordagem tende-se que o predomínio do método
metodológica. Na sequência, seguem qualitativo pode estar relacionado a
descritos os resultados e as discussões duas questões. Primeiramente, fenô-
acerca dos dados obtidos menos ainda pouco explorados, como
é o caso da equipe reflexiva, necessi-
tam de investigações de caráter mais
Resultados e Discussão exploratório, para que, em primeira
instância, sejam compreendidos e in-
Referente às datas de publicação, fo- terpretados (Siebra, 1999/2000). Em
ram encontrados 8 artigos publicados segundo lugar, considera-se que estu-
entre 1990 e 1999; 28 artigos entre dos qualitativos, de fato, apresentam
2000 e 2009; e 23 artigos de 2010 até a maior coerência com a própria epis-
data da coleta. Ressalta-se que os 3 ar- temologia vinculada ao pensamento
tigos nacionais foram publicados entre sistêmico. Temáticas embasadas na
2005 e 2007, o que indica uma concen- teoria familiar sistêmica e, especial-
tração da produção na última década e mente, no construcionismo social ten-
a consequente atualidade do tema. dem a seguir uma linha metodológica
No que diz respeito aos métodos voltada à integração de níveis simbó-
utilizados nos estudos, a grande maio- licos, subjetivos e contextuais. Esteves
ria dos artigos apresenta delineamen- de Vasconcellos (2002) esclarece essa
to qualitativo (45 artigos ou 76,27%). premissa, ao compreender a família
Além de 4 revisões de literatura como um sistema complexo, instável e
(6,77%), foram identificados 8 ensaios intersubjetivo.
teóricos (13,55%), ou seja, artigos que Os artigos analisados foram classi-
se caracterizam por analisar alguma ficados em 10 temáticas, apresentadas
questão, de forma reflexiva, argumen- na Tabela 1.
tativa e interpretativa (Meneghetti, Em relação à temática 1 (Utilização
2011). Apenas 2 apresentaram méto- do modelo de equipe reflexiva por dife-
do experimental (3,38%). Destaca-se, rentes áreas, profissionais e contextos),
portanto, a predominância de pesqui- foram avaliados 8 estudos. O trabalho
sas qualitativas, por meio do emprego de Lebensohn-Chialvo, Crago e Shis-
de observações, entrevistas, estudos slak (2000) apontou o uso da equipe

Tabela 1: Temáticas Centrais dos Artigos Pesquisados


Temáticas Nº de Artigos

1. Utilização do modelo de equipe reflexiva por diferentes áreas, profissionais e contextos (que não a psicologia) 8
2. Funcionamento, estrutura e características gerais da equipe reflexiva, a partir de estudos de caso ou relatos de experiência
5
/ intervenção
3. Revisão de literatura sobre equipes reflexivas 4
4. Avaliação da participação de clientes e/ou terapeutas em equipes reflexivas 9
5. Experiência de casais na participação em equipes reflexivas 7
6. Utilização do modelo de equipe reflexiva com grupos específicos, portadores de doenças crônicas ou com algum tipo de
6
deficiência
7. Questões epistemológicas, éticas, culturais, de cuidado e de relações de poder no campo da Teoria Familiar Sistêmica e
6
das equipes reflexivas
8. Utilização do modelo de equipe reflexiva como recurso didático para aprendizagem de terapeutas familiares sistêmicos
6
iniciantes
9. Supervisão com base no modelo de equipe reflexiva 5
10. Estudos de caso / relatos de experiência de equipes reflexivas com crianças e seus familiares, utilizando de recursos
3
metafóricos, lúdicos e/ou contribuições de diferentes teorias

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reflexiva por médicos residentes de Por fim, o modelo de equipe refle- O trabalho com equipes
famílias, para aprendizagem de habi- xiva foi apresentado como possibi- reflexivas 89
Milena Carolina Fiorini
lidades clínicas, além de capacitação lidade de refletir sobre o teatro, por Luciane Guisso
Maria Aparecida Crepaldi
e segurança para lidar com demandas meio da troca recíproca entre atores e
das famílias que atendiam. No estudo público. Goodwin (2004) comparou a
desenvolvido por Rhodes (2011), o experiência do teatro ao que aconte-
modelo de equipe reflexiva também ce numa sessão terapêutica de equipe
foi utilizado pela área da medicina, reflexiva. Justificou que, ao se assistir
enquanto técnica com pacientes diag- uma peça de teatro, é necessário pen-
nosticados com comportamentos cha- sar na apresentação principal como
mados desafiadores. se fosse uma família na terapia, na
A ideia de equipe reflexiva foi uti- qual os atores desempenham papéis
lizada também como um recurso di- e funções. Na terapia familiar, segun-
dático educacional, em diversas áreas do Goodwin (2004), a família está em
de atuação. Griffith (1999) descreveu a cena, representando os seus dramas
experiência da utilização de narrativas e seus problemas por meio do relato.
e da equipe reflexiva para melhorar a Quando a luz da sala escura acende,
formação dos alunos de pós-gradua- o palco muda, sendo que o público,
ção na área de gestão e negócios, em representado pelos terapeutas, discu-
termos de habilidades para negocia- te abertamente o que vê acontecendo
ção e pensamento crítico. A prática foi com a família.
considerada pelo autor como contrá- Os estudos apresentados na temá-
ria ao método tradicional de ensino, tica 1 demonstram que o modelo de
geralmente baseado em hierarquia e equipe reflexiva vem sendo usado por
competição. Bañez, Hawley e Mos- diversas áreas profissionais, para fins
tade (2003) destacaram que a equipe educativos. O formato de equipe refle-
reflexiva pode servir como uma técni- xiva tem sido, portanto, considerado
ca de treinamento para trabalhos em um recurso que possibilita pensar no-
grupo, ao fornecer um componente vas formas de aprendizagem e reflexão
experiencial para os alunos. A pesqui- entre as pessoas envolvidas em contex-
sa de Morrison (2009) descreveu que tos de aprendizagem.
esse modelo de trabalho ajudou alunos Foram analisados 5 artigos que ex-
de enfermagem a refletirem sobre do- ploraram aspectos referentes ao fun-
ença mental além dos estereótipos da cionamento, estrutura e características
mídia. Swann e York (2011) relataram gerais da equipe reflexiva, a partir de
um trabalho realizado por assistentes estudos de caso ou relatos de experiên-
sociais com cuidados a crianças. Nesse cia / intervenção, compondo assim a
contexto, o modelo de equipe reflexiva temática 2 deste estudo. Curtis et al.
teve como objetivo a busca de soluções (2002) descreveram uma única sessão
para os problemas que os profissionais de atendimento familiar no modelo da
encontravam na instituição que traba- equipe reflexiva. Os autores destaca-
lhavam. O estudo de Garven (2012) ram que as principais características
propôs o modelo da equipe reflexiva que tornam esse modelo assertivo tra-
como uma abordagem para ajudar as tam-se do enfoque narrativo, que de-
equipes multidisciplinares a encontrar nota grande importância à descoberta
formas de construir novos significa- de eventos extraordinários, do cuida-
dos em conjunto, tendo em vista as do na utilização de conotações posi-
diferentes perspectivas dos membros. tivas durante a conversação com a fa-

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mília e do uso de cartas como recurso Ao considerar os resultados das pes-
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terapêutico. Outro artigo (Wahlström, quisas sintetizadas nessa temática (2),
2006) também utilizou como exemplo destaca-se a possibilidade do emprego
o relato de uma sessão de terapia fa- de diferentes recursos, técnicas e fer-
miliar no formato de equipe reflexiva. ramentas por parte dos profissionais
O autor discorreu sobre a conversação que atuam nos moldes da equipe refle-
entre terapeuta e cliente, bem como as xiva. Essa gama de alternativas tende a
transformações ocorridas nas constru- tornar o processo terapêutico flexível,
ções das narrativas ao longo do aten- e, ao mesmo tempo, primoroso. Além
dimento, ressaltando a importância da disso, alguns autores chamam a aten-
externalização do problema e do uso ção para cuidados pontuais, essenciais
das metáforas para a efetividade da à aplicação desses recursos.
equipe reflexiva. Na temática 3 (Revisão de literatura
Lange (2010) empregou o modelo sobre equipes reflexivas), foram inclu-
de equipe reflexiva aliado à troca de ídos 4 estudos. O primeiro foi desen-
papéis entre membros da família e volvido por Brownlee, Vis e McKenna
terapeuta, seguida de uma avaliação (2009), com o objetivo de explorar a
por pares sobre a forma como cada importância das equipes reflexivas no
um enxergava o problema. A pesqui- contexto da terapia familiar. Os auto-
sa constatou que os membros da fa- res relataram, por meio da análise dos
mília apresentam maior capacidade estudos coletados, que, embora grande
para avaliar o comportamento do que parte das famílias aprecie a equipe re-
a própria pessoa, fornecendo, assim, flexiva, nem todos os clientes a consi-
recursos para a autoavaliação de cada deram como uma abordagem positiva,
integrante, no contexto da terapia. devido, especialmente, a certa intimi-
Uma investigação realizada por Cue- dação. Outra revisão de literatura, rea-
vas-Escorzaa e Garrido-Fernández lizada por Pender e Stinchfield (2012),
(2012) explorou episódios de choro destacou que a maior parte da produ-
de clientes durante um processo de ção científica sobre equipes reflexivas
terapia familiar com equipes reflexi- centrou-se na teoria dos processos re-
vas. Dentre os resultados do estudo, flexivos. Além disso, as autoras apre-
concluiu-se que o choro pode repre- sentaram dados referentes à carência
sentar uma boa aliança terapêutica, na de pesquisas empíricas que explorem
medida em que reflete a capacidade as experiências e percepções dos clien-
do cliente de expressar a sua vulnera- tes que participam desse formato de
bilidade e necessidade de ajuda. Uma terapia familiar.
pesquisa mais recente, executada por Rhodes (2012) discutiu o papel da
Parker e O’Reilly (2013), analisou os pesquisa em terapia familiar, com refe-
riscos e benefícios das interrupções rência para seu uso futuro na Austrália.
da equipe reflexiva durante processos Ao longo de sua análise, citou a equipe
de terapia familiar, concluindo que reflexiva com um modelo contempo-
necessitam de uma gestão cuidado- râneo de atuação, porém o foco do ar-
sa por parte do terapeuta. As autoras tigo foi a terapia familiar sistêmica, de
destacam a importância de certa regu- modo geral. O autor argumentou que
laridade nas interrupções, bem como essa prática entrou em uma nova era
uma apresentação adequada do for- desde a década de 1990, consolidan-
mato da terapia, a fim de administrar do-se como um campo maduro e pre-
as expectativas da família. parado para a investigação. No entan-

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to, o autor também considerou que há em um estudo piloto para analisar um O trabalho com equipes
necessidade de desenvolver pesquisas processo terapêutico familiar com uso reflexivas 91
Milena Carolina Fiorini
mais consistentes com os valores e as da equipe reflexiva, cuja demanda era Luciane Guisso
Maria Aparecida Crepaldi
práticas em terapia familiar presentes a psicose de uma criança. Esse modelo
na Austrália. Já a revisão de literatura permite descrever o processo de mu-
realizada por Willotta, Hattonb e Oye- dança terapêutica, sugerindo que to-
bode (2012) apresentou informações das as experiências determinam traços
sobre a exploração ainda insuficiente de comportamento, que, ao reativados
da temática relativa à equipe reflexiva. em terapia, podem ser assimilados e
Os autores defenderam que em muitos suprimidos. Os resultados indicaram
estudos não há sustentação empírica que o tratamento terapêutico foi ade-
plausível e que, em determinados mo- quado, tornando as mudanças mais
mentos, a abordagem qualitativa aca- compreensíveis à família.
ba ocupando um lugar marginalizado. O trabalho realizado por Denton
Sugeriram que um diálogo mais amplo e Michie (2006), em um serviço de
em torno do entrelaçamento entre a atendimento em saúde mental, evi-
prática, a teoria e a pesquisa pode ser denciou que a equipe reflexiva trou-
útil para adotar uma postura coerente xe bons resultados para o processo
de trabalho na área. terapêutico, sendo que por meio do
As revisões de literatura sintetizadas modelo, os participantes tiveram a
na temática 3 promovem uma reflexão oportunidade de verem a si mesmos
acerca da necessidade de ampliação a partir de uma perspectiva diferente.
das pesquisas sobre a eficácia e a ade- Porém, alguns pacientes avaliaram o
quação do uso das equipes reflexivas, momento como desconfortável, em
além de recomendar a preparação de- função da distância entre a equipe re-
talhada de seu formato nos processos flexiva e eles ou do impacto relativo
de terapia familiar. ao fato de estarem sendo observados.
Referente à temática 4 (Avaliação da Outra pesquisa (Mitchella, 2014) ex-
participação de clientes e/ou terapeutas plorou a percepção de famílias em
em equipes reflexivas), 9 artigos foram atendimento psicológico, comparan-
analisados. No estudo de Hoger et al. do benefícios e limitações entre o
(1994), famílias relataram que o mo- modelo de equipe terapêutica da Es-
delo de equipe reflexiva foi eficiente, cola de Milão e o de equipe reflexi-
indicando melhoras dos sintomas. A va no modelo de Tom Andersen. Do
pesquisa desenvolvida por Brownlee ponto de vista teórico, o estudo iden-
et al. (1995) também sugeriu uma ava- tificou que as famílias apresentaram
liação positiva por parte dos clientes, uma experiência positiva em ambos
que relataram resolução dos proble- os modelos de equipe. Os autores res-
mas apresentados. A equipe reflexiva saltaram que a escolha pela aborda-
foi percebida como um catalisador de gem deve ser realizada a partir de um
mudanças na dinâmica familiar, atu- ponto de vista reflexivo do terapeuta,
ando de forma respeitosa e ajudando respeitando as necessidades específi-
a considerar outros pontos de vista a cas de cada família.
respeito das dificuldades apresentadas. Um estudo realizado no Brasil por
Laitila e Aaltonen (1998) retrataram a Barbosa e Guanaes-Lorenzi (2015)
aplicação do modelo de assimilação buscou compreender os sentidos pro-
(com aplicação da Escala de Assimi- duzidos por familiares atendidos em
lação de Experiências Problemáticas) terapia familiar sistêmica, com base

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nos pressupostos do construcionis- as avaliações por parte dos terapeutas
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mo social, destacando o uso da equi- declararam falta de clareza teórica re-
pe reflexiva. Como principais fatores lativa ao modelo da equipe reflexiva.
positivos da terapia com emprego da Pode-se destacar, a partir dessa te-
equipe reflexiva, as famílias aponta- mática (4), que o uso da equipe refle-
ram o deslocamento dos problemas de xiva foi considerado, de modo geral,
uma perspectiva individual para uma positivo, embora, em alguns casos, os
relacional e a valorização de maneiras clientes citaram aspectos como des-
diversificadas de compreensão em re- conforto por serem observados ou
lação à demanda que traziam para a certo distanciamento em relação aos
terapia. terapeutas. Os terapeutas apontaram
Já em relação à avalição de terapeu- a importância do respeito entre os
tas sobre a participação em equipes membros da equipe, a possibilidade
reflexivas, James et al. (2004) reali- de maior percepção dos problemas
zaram uma pesquisa etnográfica que dos clientes e a busca de estratégias
explorou os pontos de vistas e as per- mais adequadas para trabalharem com
cepções de terapeutas narrativos que as demandas das famílias. Citaram,
pertenciam a uma equipe reflexiva. ainda, a necessidade de haver maior
Os resultados da pesquisa indicaram, aprofundamento teórico e treinamen-
em primeiro lugar, que o modelo foi to técnico em relação a assuntos mais
considerado útil e bem sucedido pelos delicados, como violência familiar.
terapeutas. Os participantes aponta- Na temática 5 (Experiência de casais
ram como razões para esse sucesso: o na participação em equipes reflexivas),
respeito, a co-construção e a aquisição foram analisados 07 artigos. Os resul-
de maior capacidade dos clientes para tados de estudo de Johnson et al. (1997)
lidar com seus problemas. Como limi- sugeriram que a equipe reflexiva for-
tações, os terapeutas relataram a ne- neceu ganhos a um casal, uma vez que
cessidade de um treinamento especia- a diversidade da composição, formada
lizado e a dificuldade para lidar com por pessoas de ambos os sexos, idades
questões de violência familiar. No tra- e culturas diferenciadas, ampliaram as
balho de Sparks (2011), a experiência possibilidades de análise da demanda.
de quatro terapeutas apontou aspectos No estudo de Watts e Peluso (2005),
importantes que devem ser considera- membros imaginários foram incor-
dos na prática das equipes reflexivas: porados à sessão. Esse procedimento
confiança mútua entre os terapeutas; auxiliou os casais a criarem perspec-
aperfeiçoamento da escuta; demons- tivas alternativas para seus problemas.
tração de grande interesse em relação Outra pesquisa (Shurts et al., 2006)
ao tema trazido pelo outro integrante; apresentou a integração entre a equipe
e utilização da metáfora como apoio reflexiva e o role-play (desempenho de
para elaboração dos temas da terapia. papéis) no trabalho com casais. Esse
Apenas um artigo (Chang, 2010) formato beneficiou os participantes,
explorou tanto a percepção dos clien- promovendo um ambiente interativo.
tes quanto dos terapeutas participan- Barbaro (2008) descreveu um atendi-
tes de equipes reflexivas. A perspecti- mento com grupos de casais em crise,
va de ambos destacou a conversação, a utilizando como recurso o que deno-
participação e o relacionamento como minou de multi-famílias, cuja propos-
os três principais elementos que con- ta era que os próprios participantes
ferem utilidade à terapia. No entanto, atuassem como equipe reflexiva dos

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demais. Os resultados sugeriram que o sas culturas, as reflexões possibilitam O trabalho com equipes
modelo promoveu uma quebra do cír- pensar novas estratégias, baseadas no reflexivas 93
Milena Carolina Fiorini
culo vicioso de acusações entre o casal, respeito, na imparcialidade e na cons- Luciane Guisso
Maria Aparecida Crepaldi
auxiliando-os a buscaram uma comu- trução conjunta do espaço de terapia.
nicação mais positiva para solucionar Em relação à temática 6 (Utilização
seus problemas. do modelo de equipe reflexiva com gru-
Egel et al. (2014) exploraram o pa- pos específicos, portadores de doenças
pel da esperança de casais que partici- crônicas ou com algum tipo de defici-
pavam de equipes reflexivas. Os casais ência), foram analisados 6 artigos. No
indicaram que houve fortalecimento estudo de Combs e Freedma (2002),
da esperança durante e após a partici- a temática do trabalho por meio das
pação. O estudo de caso relatado por equipes reflexivas foi verificada como
Pender e Stinchfield (2014) sugeriu uma prática respeitosa, que gerou a
que os casais apreciaram a utilização possibilidade do terapeuta trabalhar
da equipe reflexiva como modelo te- com o relacionamento ao invés dos li-
rapêutico, enfatizando como caracte- mites, ampliando o olhar para os mo-
rísticas importantes: a imparcialidade, dos de pensar das pessoas, conforme a
a natureza colaborativa e o profissio- proposta da terapia familiar sistêmica.
nalismo. Em relação às suas reações, Oropeza (2003) explorou o emprego
citaram que os atendimentos foram da equipe reflexiva com pacientes que
respeitosos e promoveram esperança e vivem com HIV. A pesquisa apontou
engajamento no processo. que as famílias participantes sentiram-
Uma pesquisa realizada por Garri- -se potencializadas para lidar com a
do-Fernández, Jaén-Rincón e Garcia- doença de uma forma mais positiva.
-Martínez (2014) comparou dois mo- Relataram que a equipe ajudou a mini-
delos diferentes de atendimentos com mizar o impacto da doença e ampliou
casais (equipes reflexivas e grupos de o reforço da sua capacidade para re-
autoajuda) com o intuito de analisar as solver os problemas a ela relacionados.
mudanças no estilo cognitivo de um No trabalho de Munro, Knox e Lowe
cônjuge diagnosticado como jogador (2008), a equipe reflexiva foi usada
compulsivo, bem como os resultados com clientes surdos, por meio da lin-
do processo para o casal. A equipe re- guagem de sinais. A análise dos resul-
flexiva mostrou-se mais efetiva, pois tados propôs que o modelo de equipe
abordou diretamente a resolução dos reflexiva é um recurso potencial para
problemas da relação do casal e per- oferecer um serviço terapêutico apro-
mitiu-lhes o desenvolvimento de uma priado aos clientes surdos, oferecendo
imagem mais positiva de si e seu am- segurança, conforto e abertura para fa-
biente, enquanto que o grupo de auto- lar dos problemas e sentimentos.
ajuda focou apenas na questão indivi- O modelo de equipe reflexiva tam-
dual de cada membro do casal. bém foi utilizado para trabalhar com
Ao avaliar as pesquisas abarcadas esposas de maridos que lutavam na
pela temática 5, pode-se considerar guerra (Davis, Ward, & Storm, 2011).
que o uso da equipe reflexiva também Foi possível constatar que as equipes
apresenta bons resultados no atendi- reflexivas incentivaram as esposas a
mento de casais. Em função de as equi- compartilhar suas experiências com
pes terem entre seus membros pessoas o grupo, possibilitando que se sentis-
com idades variadas, experiências di- sem apoiadas e em segurança. Anslow
versas e serem provenientes de diver- (2013) descreveu a participação de

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adultos com dificuldades de aprendi- psicoterapêutica sistêmica, sugerindo
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zagem em equipes reflexivas. Os par- que a influência contemporânea do
ticipantes destacaram a importância pós-modernismo e do pensamento
das diversas perspectivas apresenta- hermenêutico reforça essa tendência.
das pela equipe em relação à temáti- A autora defendeu que elementos im-
ca apresentada, extraindo múltiplos portantes na prática sistêmica, exem-
pontos de vista para refletir em suas plificando com o modelo de equipe
vidas. A participação de famílias que reflexiva, apontam para uma formula-
tinham uma criança com câncer em ção diferente de ética, concentrada nos
equipes reflexivas foi explorada por processos de comunicação. O estudo
West et al. (2015). Seus relatos enfa- de Fine (2003) sugeriu a compreensão
tizaram que a equipe possibilitou a do ambiente e das relações de poder e
todos os membros a sensibilização e competição como fundamental para o
a diminuição do sofrimento frente à processo de terapia. O autor concluiu
doença, bem como novas interpreta- que relações colaborativas promovem
ções desse sofrimento por meio das mais conexão entre os envolvidos do
reflexões realizadas. que práticas solidárias.
Com base dos estudos sintetiza- Uma pesquisa brasileira desenvolvi-
dos na temática 6, é possível ampliar da por Pietroluongo e Resende (2007)
o olhar voltado ao uso da equipe re- debateu aspectos relativos aos proces-
flexiva no atendimento a diversas de- sos reflexivos no trabalho de psicólo-
mandas de famílias, ao longo do ciclo gos que atuam com visitas domiciliares
de vida. Algumas dessas demandas em saúde mental. As autoras argumen-
apresentam-se como estressores de- taram que o psicólogo, por meio da
senvolvimentais, não predizíveis, que postura do não saber e da reflexivida-
demandam novas adaptações (Carter de, pode contribuir para ressignificar
& McGoldrick, 1995). Nesse sentido, a discursos naturalizados e conceitos in-
participação dessas famílias em equipe capacitantes pela família e pelo usuá-
reflexivas possibilita novas reflexões e rio. Hopkins e Reed (2008) realizaram
formas diferentes para lidar com as di- uma reflexão acerca dos impactos que
ficuldades apresentadas. podem ser causados na terapia fami-
Para a temática 7 (Questões episte- liar sistêmica e na equipe reflexiva, de-
mológicas, éticas, culturais, de cuida- vido a diferenças culturais, de sotaque,
do e de relações de poder no campo da dialeto e vocabulário, tanto da família
teoria familiar sistêmica e das equipes quanto do(s) terapeuta(s). Os autores
reflexivas), 6 artigos foram conside- destacaram que os fatores linguísticos
rados. O artigo de Feixas (1990) tra- podem provocar certo distanciamento
tou da temática “equipe reflexiva” de social entre os participantes da equipe
forma mais indireta. O autor abordou reflexiva, impedindo o desenvolvi-
os diferentes níveis em que a terapia mento de significados comuns entre
pode atuar (individual, familiar) e su- o terapeuta e a família, fato que deno-
geriu a teoria da construção pessoal ta grande importância ao cuidado do
como um quadro construtivista que terapeuta. Hutchby, O’Reilly e Parker
integra esses níveis, oferecendo um re- (2012) discutiram os riscos, benefícios
pertório flexível e amplo para fins de e questões éticas envolvidas no uso de
investigação. Já Donovan (2003) anali- vídeos em sessões de equipes reflexi-
sou o contexto histórico para a margi- vas. A análise dos resultados demons-
nalização do discurso ético na prática trou que a utilização das gravações não

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representa um problema para grande O estudo destacou a importância do O trabalho com equipes
parte dos clientes, desde que ocorra desenvolvimento de um nível de con- reflexivas 95
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uma negociação conjunta. Os autores fiança dos estagiários, para atuarem Luciane Guisso
Maria Aparecida Crepaldi
constaram que o uso do vídeo é va- especialmente nas duas primeiras
lioso no processo terapêutico, tendo sessões terapêuticas, e conseguirem
em vista que a câmera capta alguns mobilizar os processos de morfogê-
aspectos da sessão que permitem uma nese no sistema familiar. McGovern e
análise mais minuciosa por parte do Harmsworth (2010) descreveram uma
terapeuta. experiência de treinamento da prática
É possível observar, a partir da aná- sistêmica, empregando o modelo de
lise dos trabalhos compilados na te- equipes reflexivas, com alunos inician-
mática 7, a importância da discussão tes do doutorado. A pesquisa ressaltou
epistemológica e ética referente ao uso a relevância da prática dos estudan-
da equipe reflexiva. Também consi- tes, que, ao participarem ativamente
dera-se relevante o trabalho na for- da equipe reflexiva, experimentam a
mação do terapeuta, voltado para um utilização terapêutica coerente com a
olhar mais colaborativo. Assim, o uso teoria aprendida.
da equipe reflexiva implica em pensar Harrawood, Parmanand e Wilde
diversas questões para assegurar que (2011) desenvolveram uma pesquisa
esse espaço agregue à formação do cujo propósito foi analisar as emoções
terapeuta e à resolução das demandas experimentadas por consultores em
dos clientes. treinamento na área de terapia fami-
Em relação à temática 8 (Utilização liar sistêmica, a partir do desempe-
do modelo de equipe reflexiva como nho de diferentes papéis no contexto
recurso didático para aprendizagem de equipes reflexivas (role-play), como
de terapeutas familiares sistêmicos ini- prática de aprendizagem. Essa técni-
ciantes), foram classificados 6 estudos. ca foi identificada pelos participantes
Hawley (2006) explorou a formação como um meio de ampliar a com-
de “conselheiros” para trabalhar em preensão da experiência dos clientes,
equipes reflexivas. Apontou que o foco mostrando-se, portanto, como um
do trabalho é o desenvolvimento de recurso de intervenção adequado no
habilidades sociais no futuro terapeu- contexto educacional de futuros tera-
ta, a fim de proporcionar uma grande peutas sistêmicos.
variedade de alternativas para garantir Uma investigação realizada no Bra-
a formação e a eficácia terapêutica. A sil relatou uma experiência de estágio
apresentação de um caso clínico de curricular de um curso de psicologia,
terapia familiar em um congresso na que utilizou o modelo de equipe re-
área de psicologia (Tseliou, 2007) pos- flexiva na prática de atendimentos em
sibilitou diversas formas de interação, psicoterapia de grupo (Rasera et al.,
denominadas pela autora como poli- 2006). A pesquisa enfatizou as contri-
fonia, sendo que a troca possibilitou buições da perspectiva construcionista
aos presentes um aprendizado útil em social, que permitiu o desenvolvimen-
terapia familiar sistêmica. to de habilidades para atendimento in-
Um artigo escrito por Rhodes dividual e de grupo; o reconhecimento
(2008) buscou fornecer a estagiários da importância da postura do tera-
de psicologia uma série de diretrizes peuta no processo de mudança, por
que integram vários modelos de te- meio da reflexão; e a criação de novos
rapia familiar focados na narrativa. valores na relação terapeuta-cliente,

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com o uso na narrativa. Os principais ausência de clareza teórica acaba re-
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desafios enfrentados pelos estagiários sultando no emprego divergente dos
foram referentes: à aprendizagem da princípios teóricos originais. Outra
postura de não saber; à utilização de pesquisa, executada por Reichelt e
perguntas conversacionais; às pré-con- Skjerve (2013), também questionou
cepções dos clientes em relação ao pa- a assertividade da aplicação do mo-
pel do terapeuta e dos terapeutas sobre delo de equipe reflexiva como forma
os clientes; à superação do modelo do de supervisão em grupos. Dentre os
profissional como especialista; à habi- principais resultados do estudo, cons-
lidade de confiar nas reflexões da equi- tatou-se que os supervisores, de modo
pe, ao invés de se apoiar em hipóteses; geral, ficaram satisfeitos com essa prá-
e à necessidade de respeito pelo tempo tica. Por outro lado, grande parte dos
de reflexão do outro. supervisionados não apresentaram a
Com base na análise dos trabalhos mesma satisfação em relação à super-
compilados na temática 8, considera- visão recebida.
-se que a equipe reflexiva pode ser Com o propósito de analisar e com-
bastante proveitosa para a aprendiza- parar duas perspectivas diferentes de
gem de terapeutas sistêmicos inician- supervisão clínica sistêmica (colabo-
tes, tendo em vista o benefício que o rativa e hierárquica), Selicoff (2006)
modelo proporciona, de aliar a teoria sugeriu que ambos os modelos apre-
à prática terapêutica. sentam aspectos positivos. O primeiro,
Na temática 9 (Supervisão com base representando principalmente pelas
no modelo de equipe reflexiva), foram equipes reflexivas, permite a proativi-
localizados cinco artigos. Os resulta- dade na própria experiência de apren-
dos de um estudo realizado por Ro- dizagem, além de múltiplos pontos de
berts, Winek e Mulgrew (1999) des- vista. O segundo, por sua vez, ao utili-
tacaram os benefícios de utilizar o zar uma abordagem mais diretiva, es-
modelo da equipe reflexiva no proces- clarece objetivos e riscos para a forma-
so de supervisão, sendo que os super- ção de terapeutas menos experientes.
visionados passam por um processo O autor concluiu que uma supervisão
dialético de crescimento cognitivo e ideal deve contar com uma estrutura
emocional. Anderson, Rigazio-Diglio hierárquica, porém permitindo a ex-
e Kunkler (2001) afirmaram que o em- pressão aberta de ideias, incorporada
prego da equipe reflexiva em proces- em uma relação colaborativa entre os
sos de supervisão ainda é muito recen- participantes da equipe.
te, constatando que ainda não há um Percebe-se, de modo geral, que as
conhecimento consolidado referente pesquisas focadas na temática 9 não
aos estilos e métodos mais eficazes apresentam conclusões definitivas a
de supervisão baseada nesse modelo. respeito da aplicação do modelo de
Chang (2010) concordou com essa equipe reflexiva em processos de su-
afirmação, reconhecendo que a uti- pervisão. Em sua maioria, os autores
lização da equipe reflexiva como um declaram que é fundamental ampliar
modelo de supervisão é um processo as pesquisas sobre a temática, a fim de
inovador. Segundo o autor, ainda não avaliar a sua real eficácia.
existe nenhuma abordagem uniforme Na décima e última temática (Estu-
para as ênfases, o conteúdo, os temas dos de caso / relatos de experiência de
e os estilos de reflexões da equipe, no equipes reflexivas com crianças e seus
desenvolvimento da supervisão. Essa familiares, utilizando de recursos me-

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tafóricos, lúdicos e/ou contribuições de As pesquisas abarcadas pela temáti- O trabalho com equipes
diferentes teorias), foram encontrados ca 10 ressaltam a importância de con- reflexivas 97
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3 artigos. Uma das pesquisas, de Lai- templar as necessidades específicas Luciane Guisso
Maria Aparecida Crepaldi
tila et al. (1996), relatou um estudo de das crianças, no contexto da terapia
caso cuja queixa relacionava-se a pro- familiar. Para tanto, os autores suge-
blemas psiquiátricos de uma criança rem a utilização integrada de diversas
da família. Os resultados das sessões técnicas, especialmente a utilização de
destacaram a importância de realizar a recursos lúdicos.
integração entre técnicas verbais e não
verbais, especialmente quando se trata
de psicopatologias infantis. Ressaltou Considerações finais
que ferramentas lúdicas possibilitaram
que as conotações negativas observa- O desenvolvimento das equipes refle-
das no sistema familiar fossem passí- xivas foi fortemente influenciado pelos
veis de ressignificações, contribuindo princípios do construcionismo social,
para o processo de mudança na famí- configurando-se como uma prática
lia. Laitila e Aaltonen (1998) realiza- colaborativa, com ênfase na ressigni-
ram um estudo piloto com o objetivo ficação das demandas dos clientes a
de analisar um processo terapêutico partir da narrativa. No âmbito da tera-
familiar de um menino de 10 anos, pia familiar sistêmica, a utilização da
diagnosticado como psicótico. A in- equipe reflexiva tem sido avaliada, de
vestigação utilizou o formato da equi- modo geral, de forma positiva, tanto
pe reflexiva aliado ao modelo de assi- por terapeutas quanto por casais e fa-
milação. Os resultados indicaram que mílias. Clientes e terapeutas compar-
o procedimento mostrou-se adequa- tilham a ideia de que o modelo tende
do, tornando as mudanças mais com- a ampliar as perspectivas diante dos
preensíveis e fornecendo informações problemas, potencializando as pessoas
sobre a eficácia das técnicas de terapia a encontrarem novas soluções frente
familiar. Por fim, Fredman, Christie às dificuldades, de maneira respeitosa,
e Bear (2007) discutiram cinco dile- segura e relacional. Além de seu em-
mas éticos relacionados à inclusão de prego como recurso de aprendizagem
crianças nas sessões de equipe refle- para terapeutas iniciantes e processos
xiva: como fazer para que se sintam de supervisão clínica, outros profissio-
ouvidas e não julgadas; como atender nais têm se apropriado dos benefícios
aos sentimentos das crianças sem fa- da equipe reflexiva em diversos cam-
zer delas o foco dos problemas; como pos de atuação.
criar um contexto no qual podem Diante da multiplicidade de pers-
expressar-se quando não conseguem pectivas, a equipe reflexiva tem sido
encontrar palavras; como garantir um utilizada por diferentes profissionais
tempo adequado, um lugar e um bom com fins também diferentes. Desse
relacionamento para as crianças fala- modo, considera-se fundamental que,
rem; e como criar um contexto segu- no âmbito da terapia familiar sistêmi-
ro e respeitoso entre o terapeuta, dos ca, novos estudos possam ser desen-
diferentes pontos de vista da criança e volvidos, principalmente na realidade
dos adultos. As autoras defendem que, brasileira, com o intuito de aprofundar
por meio da equipe reflexiva, toda a as pesquisas referentes às percepções
família ouve novas perspectivas sobre dos clientes que são atendidos nesse
sua demanda, inclusive a criança. formato, bem como estudos relacio-

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nados à participação de supervisio- terapêutico em terapia familiar. Psi-
98 NPS 57 | Abril 2017
nandos em equipe reflexivas. Estudos cologia Clinica, 27(2),15-38.
como estes ainda são escassos em Brownlee, K., Vis, J., & McKenna, A.
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