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DE EDUCAÇÃO
POLÍTICA
ANTIRRACISTA
•2021•
CRÉDITOS
Organização e Planejamento
Janaína Melchionna, Márcio Chagas e Vander Duarte.
AUTORES(AS)
Adriano Viaro, Ana dos Anjos, Bryan Rodrigues, Carla Zanella, Fabrício Sanches,
Fernanda Melchionna, Fran Lasevitch, Fran Rodrigues, Gilvandro Antunes, Janaína
Melchionna, Leandro Soares, Lorena Duarte, Marçal Carvalho, Marcelo Carvalho,
Márcio Chagas da Silva, Paola Rodrigues, Patrick Veiga, Priscila Vaz, Rafa Rafuagi, Tirza
Medeiros Moraes e Vander Duarte.
Revisão
Paola Rodrigues
Gabinete | Brasília
Câmara dos Deputados - Gabinete 621 - Anexo IV - Brasília/DF
(61) 3215-5621
Escritório | Porto Alegre
Rua Lima e Silva, 264/401 - Cidade Baixa
(51) 3779-5059
Cadastre-se para receber o Caderno: www.fernandapsol.com.br/cadernofeminista
ÍNDICE
Editorial Coleção de Cadernos de Educação Política ......................5
APRESENTAÇÃO ....................................................................................7
5
Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
Roger Zaballa
“o colonialismo de
mais de 350 anos não
conseguiu calar a
negritude, que segue
resistindo até hoje. não
será o bolsonarismo
que o fará. a NOSSA
MILITÂNCIA ESTÁ A SERVIÇO
DA LUTA PARA COLOCAR A
extrema-direita NA LATA
DO LIXO DA HISTÓRIA”
Fernanda melchionna
deputada federal (PSOL/RS)
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Editorial Coleção de Cadernos de
Educação Política
Vivemos tempos conturbados e de de ação coletiva, organizada e cons-
grande polarização social e políti- ciente. Esta Coleção de Cadernos de
ca. Tempos como este são também Educação Política tem por objetivo
aqueles em que os debates e visões ajudar no trabalho de politização e
de mundo, ao confrontarem-se na organização popular, disponibilizando
prática, precisam passar na prova de maneira didática um conjunto de
da teoria. conceitos que nos permitam compre-
ender a realidade em que vivemos
A chegada da pandemia do corona- e, sobretudo, transformá-la. É um
vírus trouxe tristeza, lutos e lições. A desafio grande. Tudo que é humano
Covid-19 escancarou a desigualdade é passível ao erro, mas geralmente
social produzida pelo capi- quanto mais coletivo se é,
talismo global e a cadeia de
injustiças que dela decorre. “A VIDA SE menos se erra. Por isso,
estes cadernos são pro-
Escancarou a falência do
modo de vida que coloca o lu- RESOLVE duto de trabalho coletivo.
Grupos de Trabalho, com
cro acima das vidas. Escanca-
rou que vivemos uma crise de NA LUTA centenas de pessoas, que
debateram e se dedica-
dimensões humanitárias em
nosso país e no mundo. Por
CONCRETA, ram a elaborar e selecio-
nar o conjunto de textos
tudo isso, colocou uma per-
gunta na cabeça de milhões:
E A TEORIA que aqui estão.
se este mundo está cami-
nhando para um rumo errado,
nos serve Quando dizemos que
a construção de uma
qual rumo se deve tomar? como uma sociedade realmente jus-
ta, na qual a maioria do
Se você pegou este
caderno para ler, deve ter
ferramenta povo controla a política
e a economia necessita
essa pergunta em mente. É a
pergunta que marca nossos
para ação de ferramentas teóricas,
não estamos afirmando
tempos, mas ela só pode ser
respondida recorrendo aos
coletiva.” que os problemas que
vivemos se resolvem
recursos teóricos acumulados pela hu- apenas em um terreno abstrato de
manidade em sua história. Desde já, “muita teoria para pouca prática”,
alertamos que não apresentaremos como se diz. A vida se resolve na luta
aqui nenhuma receita de bolo para o concreta. Entretanto, se a política
mundo novo. Seria reconfortante, mas tem a tarefa de apresentar respostas
ela não existe. As respostas à crise aos problemas práticos, a teoria tem
que passamos (e estamos passando) e a importância de fazer as perguntas
a construção de uma saída necessitam corretas, que orientam as respostas
7
políticas. A teoria é ainda mais que as questões e proposições aqui
isso, ela permite que nos adiantemos desenvolvidas, portanto os textos
aos acontecimentos, pois nos fornece aqui apresentados respiram lutas. Os
ferramentas conceituais para apreen- Cadernos vêm de um lugar de lutas
der as tendências reais e como a rea- e para esse lugar buscam ser úteis -
lidade não é estanque nem imutável, foram pensados para serem materiais
a teoria nos serve como uma ferra- de suporte às inúmeras reuniões de
menta para ação coletiva. Tal como militantes atuantes nos movimentos
um martelo não pode ser usado para sociais e políticos espalhados pelo
apertar um parafuso, a teoria que país. Esperamos, com esta iniciativa,
quer conservar ou distorcer a realida- contribuir para socializar conhecimen-
de não serve para transformá-la. tos e, especialmente, para a educação
política de nosso povo, tão necessá-
Por isso, estes Cadernos são uma ria neste momento grave de nossa
iniciativa de nosso mandato e assumi- história. Um povo que conhece sua
mos a inteira responsabilidade pelo história, que pensa com sua própria
conteúdo aqui publicado, embora, cabeça, que acredita em suas próprias
felizmente, eles tenham sido constru- forças e que luta para mudar a vida é
ídos em conjunto com os diferentes invencível. Como dizia Freud, a razão
movimentos sociais e com intelec- pode falar baixo, mas ela nunca se
tuais e militantes que se dedicam às cala. Venceremos.
lutas do nosso tempo, o que os torna
muito mais ricos. Agradecemos muito Boa leitura!
tal disposição de todas, todos e todes.
É a partir da elaboração daquelas e Lute pelos seus direitos e conte
daqueles implicados na luta real pela com nosso mandato e com o PSOL.
transformação social que emergem
APRESENTAÇÃO
Nos últimos anos, estamos viven- escolar e universitário. Fazer com que
ciando um abismo racial no mundo, a lei 10639, de 2003, seja aplicada nas
a partir de lideranças e governos que escolas para dar o real significado e
legitimam a segregação com discur- importância do povo africano na cons-
sos de ódio e intolerância. trução da história do Brasil. Cobrar da
justiça que os crimes de racismo não
No Brasil, o racismo se constituiu caiam mais como injúria para ameni-
como algo natural e nunca foi assunto zar o criminoso.
prioritário quando proposto pelo mo-
vimento negro, sempre com a alega- Na Constituição de 1988, o crime
ção de que vivemos numa democracia de racismo se tornou imprescritível e
racial e que o problema seria social inafiançável, porém é um crime que
para essa desigualdade histórica. nunca prendeu ninguém, e os casos
de racismo são sempre tratados como
Estatisticamente, sabe-se que a isolados e não como ação criminosa.
cada vinte e três minutos, morre uma
pessoa negra no Brasil, na maioria das O Brasil é país mais negro fora do
vezes, vitimadas pelo Estado. continente africano, com mais de 56%
da população autodeclarada, e onde
É muito sério e preocupante a manei- estão os negros nos espaços de poder
ra como as abordagens policiais aconte- como protagonistas?
cem quando são pessoas negras e não
negras. A brutalidade e a truculência, A estrutura racista faz com que os
muitas vezes, resultam em mortes. A tataranetos dos senhores escravagis-
alegação de legítima defesa imaginária tas se perpetuem no poder valendo-
se tornou a justificativa aceita pela jus- -se da velha máxima meritocracia.
tiça, o que faz com que as vidas negras,
que já eram descartáveis, tornem-se Precisamos construir uma nova
desprezíveis para o sistema. perspectiva para que os negros e
negras tenham oportunidades de se
Com o objetivo de trazer à pauta a desenvolverem para ocupar seus de-
luta antirracista, nós, do mandato da vidos espaços na sociedade e atingir-
Deputada Federal Fernanda Mel- mos a tão sonhada equidade.
chionna, construímos esse caderno de
formação política antirracista junto a Com a colaboração de vocês, quere-
diversos colaboradores e apoiadores. mos construir um Brasil radicalmente
diferente do atual, e o compromisso
A luta é para agora. Não há mais do nosso mandato é que, através
tempo para que outros, como George deste caderno, possamos refletir e
Floyd, João Alberto, Gustavo Amaral, avançar juntos nesta construção.
tenham sua vida ceifada pelo racismo.
Queremos dialogar com os gover- Como diz Ângela Davis: “Não
nadores, prefeitos e principalmente basta não ser racista, é preciso ser
pautar essa discussão no ambiente antirracista.”
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
CLEONICE GONÇALVES
Empregada doméstica, primeira vítima
da covid-19 no brasil
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1. Racismo, Desigualdade e Preconceito
no Brasil: uma questão para a luta e a
organização negras
Gilvandro Antunes relação entre indivíduos apenas. Mas
que todas as estruturas econômicas,
Quando assistimos fatos, envolven- sociais e institucionais são permeadas
do agressores e vítimas de racis- pela prática da discriminação racial.
mo, em telejornais, em notícias de Vejamos alguns números do racismo
veículos de comunicação via internet estrutural no Brasil.
ou nas redes sociais, percebemos que
elas são bastante comuns. Todos os Desigualdade salarial 1
anos, milhares de denúncias são feitas
nas delegacias em todo o Brasil. A renda média de uma pessoa ne-
gra representa só 59% de uma pessoa
Infelizmente, poucos casos se tor- branca.
nam denúncias efetivas de racismo.
Em muitos casos, sequer o inquéri- 75% das pessoas que vivem em
to cita injúria racial, mas somente situação de pobreza são negras.
calúnia. A relação entre esta quanti- Em média, uma mulher negra rece-
dade imensa de denúncias e o modo be menos da metade do salário de um
ineficaz como as mesmas são tratadas homem branco.
pela polícia, pelo Ministério Público e
pelo Poder Judiciário são a prova do 64% das pessoas desempregadas
racismo estrutural que há no Brasil. são negras.
Ou seja, excluir, ofender e violentar
pessoas negras é algo estabeleci- Violência de gênero e
do como comum em um país onde Desigualdade no mercado de
54% da população é negra (preta ou trabalho 2
parda). Quando se fala que o racis-
mo é estrutural no Brasil queremos Na média percentual anual, 66%
dizer que ele não se restringe a uma das mulheres que sofreram agressão
sexual ou física são negras.
“excluir, ofender e
A cada três mulheres assassinadas
violentar pessoas negras por feminicídio no Brasil, em 2020,
é algo estabelecido como duas são negras.
1.
Dados: Ipea
11
No entanto, quando se trata de cole- brasileira sob o jugo de uma exclusão
tores de resíduos orgânicos ou reciclá- que visa dominar os corpos negros.
veis a taxa é de 70% de pessoas negras. Mantendo-os de forma subjugada,
facilitando assim, sua exploração.
Violência institucional 3 Ao mesmo tempo em que o racismo
se esconde através de discursos que
A cada 10 pessoas mortas pelas
negam o seu próprio racismo, fala-se
polícias, 7 são negras.
em meritocracia para o ingresso em
66% dos presos no Brasil são universidades e serviços públicos, em
negros. possibilidade de escolha de caminho
alternativo à criminalidade, em esfor-
Nos últimos 15 anos, a população ço individual para garantir diferentes
carcerária branca diminuiu 19%, en- possibilidades de renda. O fato é que
quanto a negra cresceu 14%. o racismo persiste porque há um inte-
Somente 15,6% dos juízes federais resse em sua manutenção.
ou estaduais no Brasil são negros. Por isso, a organização popular em
Desses 14,2% se autodeclararam par- torno de uma pauta antirracista, que
dos e só 1,4% pretos. defenda a vida de pessoas negras, é
fundamental, pois nada será dado por
Assim, é possível ver que as desi-
essa elite que lucra com a exploração e a
gualdades econômica, social e insti- morte de nossos corpos. Assim, é preci-
tucional, variantes essas do racismo so denunciar o racismo e lutar contra ele
estrutural, têm a função de manter todos os dias. Com racismo não haverá
parte significativa da população nem igualdade e nem liberdade plena.
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
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3. Quais as principais
diferenças entre
os crimes de Injúria
Racial e Racismo e
como denunciá-los?
Leandro Soares e Marçal Carvalho
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Caderno de Educação PolíticA ANTIRRACISTA • 2021 •
Delegacia de Polícia de
Combate à intolerância
Endereço: Av. Presidente
Franklin Roosevelt, 981 - Bairro
São Geraldo - Porto Alegre
E-mail: dpgv-dpci@pc.rs.gov.br
Telefone: (51)3224-6086
(51) 3338-6440
16
ser considerado como manifestação
de liberdade de expressão. Consti-
tuem por sua vez, crimes previstos em
lei, na logica do Estado Democrático
de Direito.
A Polícia Civil do Estado do Rio
Grande do Sul já conta com uma
delegacia especializada para apurar e
encaminhar ao judiciário delitos desta
natureza.
Estamos falando da Delegacia
de Polícia de Combate à intolerân-
cia (DPCI), junto ao Departamento
Estadual de Proteção a Grupos
Vulneráveis.
inafiançável e imprescritível:
STF equipara injúria racial a
crime de racismo
A limitação do direito penal bra-
sileiro não deve ser um balizador
para enfrentamento de todas as
formas de racismo no Brasil. O
entendimento firmado pelo Su-
premo Tribunal Federal – STF no
dia 28/10/2021 foi correto e as
decisões futuras que envolverão
expressões racistas terão trata-
mento adequado dentro do siste-
ma penal brasileiro. Não há mais
espaços para o racismo no Brasil e
a imprescritibilidade do crime de
injúria racial é um marco histórico
para o combate desta forma de ra-
cismo que infelizmente, permeia
o dia a dia da grande maioria da
população negra no Brasil.
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
Lélia Gonzalez
1.
GONZALEZ, Lelia. O movimento negro na última década. In: Lugar de negro. Rio de
Janeiro: Marco Zero, 1982
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5. Nossa negra
embora essa dura realidade tenha
sido imposta a todas as mulheres,
há não obstante aquelas que vivem
feminilidade realidades ainda mais cruéis. O que se
vê nas periferias do Brasil é o exemplo
ainda resiste nas dessa desigualdade. Essas localidades
são formadas em sua maioria por
comunidades famílias compostas de pessoas negras
e pardas. Para ser mais precisa, 66.1%
são mulheres negras responsáveis
Priscila Vaz sozinhas por 26% dessas famílias, en-
Desde os mais remotos tempos, quanto mulheres brancas de periferias
houve uma imposição às pessoas de alcançam apenas 11.7% e homens
sexo feminino que as responsabilizava brancos chefiam somente 21.3%
por todo trabalho que fosse domésti- desses lares. Essa realidade é ainda
co, considerado como “não essencial”; agravada atualmente devido à crise
ou seja, ficava a cargo das mulheres sanitária mundial pela qual estamos
– não por decisão própria delas, é pre- passando, que, atingindo sobretudo
ciso dizer – todas as tarefas de casa: as mulheres moradoras de periferia,
lavar, cozinhar, arrumar, cuidar dos principalmente negras, tem eviden-
filhos. Cuidados esses que se iniciam ciado desde março de 2020 o abismo
tão logo se tenha certeza da concep- social que existe neste país.
ção deles até que fossem (ou, ainda As mulheres pretas e pardas que
hoje, sejam) considerados adultos pro- vivem na periferia estão ainda mais
dutivos pela sociedade, além do fato expostas às violências domésticas,
de as mulheres serem responsáveis que se acentuaram com a crise de
pela reprodução da força de trabalho, covid-19, o que também está dificul-
como por todo o trabalho mental que tando ainda mais o acesso a serviços
gerir uma família também exige. básicos de saúde, já tão precarizados.
No geral, ainda hoje pouco se O desemprego as atingiu em maior es-
avançou nesse debate (ainda que não cala, principalmente, porque são elas
por falta de engajamento na luta por que ainda realizam os tais serviços
direitos e deveres iguais por parte das “não essenciais”. De acordo com o
mulheres), mas sim porque as classes Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
dominantes ganham com a superex- cada (Ipea), hoje a participação das
ploração de nossos corpos, e essa mulheres no mercado de trabalho é a
lógica mantém viva toda a engrena- menor em 30 anos. O percentual de
gem que move o sistema machista e mulheres que estavam trabalhando
patriarcal. Desde os primórdios da his- ficou em 45,8% no terceiro trimestre
tória humana todas as mulheres vêm de 2020 - o nível mais baixo desde
sendo exploradas ininterruptamente 1990, quando a taxa era de 44,2%. E
pelo patriarcado. pior, além de mais mulheres desem-
pregadas, muitas também deixaram
Observa-se, além disso, que, de buscar uma vaga de emprego,
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
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6. 13 de maio não
é dia de negro -
Sempre resistimos
Lorena Duarte
Uma grande parte do pensamento
social brasileiro – historiográfico,
econômico, antropológico e socioló- artística e intelectual. O aumento de
gico – popularizou e conseguiu crista- pesquisadores e intelectuais negros
lizar no nosso senso comum algumas nas universidades nas duas últimas
ideias muito enganosas sobre a histó- décadas, em razão da implementação
ria dos trabalhadores e trabalhado- das ações afirmativas, tem mudado
ras negras no Brasil (sejam escravi- esse quadro, tanto pela produção de
zadas ou livres). A primeira delas, e pesquisas inovadoras e críticas sobre
talvez a mais persistente, é a de que a história negra no Brasil, quanto pelo
o Brasil é fruto de uma escravidão de resgate da produção artística e inte-
certa forma paternalista, que permitiu lectual negras que foram apagadas no
com que a mistura de raças aconte- último século.
cesse de maneira natural, criando
uma democracia racial. Uma outra é a O Brasil não é uma democracia
de que negros e negras contribuíram racial. Existe um fosso profundo entre
para a formação do Brasil apenas de as condições de vida da população
forma pontual, com aspectos linguís- branca e a não-branca no Brasil. Opor-
ticos e culturais, retratados com o tunidades de educação e emprego,
folclore. Uma outra, esta das mais nível salarial, acesso à moradia e à
graves, é a de que negros e negras es- cidade são distribuídos de maneira
cravizados aceitaram de bom grado o desigual entre esses dois grupos. A
tráfico de seus corpos; o roubo de sua violência que nos atinge a todos tam-
língua, de seus nomes, de sua religião bém atinge de formas diferentes essas
e de sua liberdade: a mentira de que duas parcelas da população. Dados do
nós não resistimos. Ipea1 revelam que a 77% das vítimas
de homicídio no Brasil são negras e
Em primeiro lugar, é preciso dizer que 66% das mulheres assassinadas
que essas inverdades só foram tidas no país são negras. Mulheres negras
como verdades durante tanto tempo são as que recebem, em média, os sa-
porque ao mesmo tempo em que lários mais baixos no país e têm maior
havia um esforço deliberado de afas- dificuldade em sair do desemprego,
tar-nos da academia, da literatura, das enquanto homens brancos recebem
ciências, de forma que não pudés- na média as mais altas remunerações
semos contar a nossa própria histó- e ficam menos desempregados. A vio-
ria, havia também uma ignorância lência racial no Brasil é, além de todas
generalizada sobre a nossa produção as outras formas, econômica.
1.
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
os conhecimentos,
“A liberdade não foi uma hábitos, línguas, re-
ligião e costumes de
concessão, mas uma África, considerados
conquista alcançada na diabólicos ou selva-
gens pelo coloniza-
luta travada por essas dor europeu. Outras
ocorriam em campo
pessoas antes de nós. ” aberto e tinham
como objetivo a
A contribui- luta pela liberdade.
ção negra para O livro “Rebeliões de Senzala”, do
a formação do Brasil grande marxista negro brasileiro Clóvis
é imensa, incalculável. Os africanos Moura, conta histórias dessas diversas
trazidos para o Brasil como mercado- formas de resistência. Foram muitas
ria e como força de trabalho trouxe- as rebeliões, revoltas, guerrilhas,
ram consigo todo o conhecimento dentro e fora dos milhares de qui-
que os seus povos detinham em lombos que se espalharam pelo Brasil
África. Política, técnicas de agricultu- ao longo de todo o longo período de
ra, culinária e economia, assim como duração da escravidão negra no Brasil.
conhecimentos matemáticos, astro- Especialmente a Bahia do século XIX
nômicos e militares, língua, religião, foi palco de diversos levantes de ne-
música, filosofia. No Brasil, seja no gros livres e escravizados, que lutavam
trabalho sob julgo da escravidão, seja pela abolição da escravidão e da ex-
de forma remunerada, trabalhadores ploração, e o fim da violência. O mais
e trabalhadoras negras exerceram famoso desses levantes talvez seja
inúmeras atividades profissionais ao a Revolta dos Malês, liderados por
longo dos séculos e contribuíram para trabalhadores negros (livres e escravi-
a formação territorial, econômica e zados) em Salvador, no ano de 1835,
cultural do país, frequentemente sob que reivindicavam o fim da escravidão,
grande violência. da perseguição religiosa e da imposi-
ção do catolicismo e a criação de uma
Negros e negras africados trazidos república, entre outras reivindicações.
à força para as Américas resistiram à Foi uma revolta violenta, em que cerca
escravidão, à exploração e à violência de 70 rebeldes foram assassinados e
desde os primeiros navios negreiros outros quase 300 presos e degreda-
que aportaram aqui. Há registros de dos. Esta, no entanto, é apenas uma
que os primeiros quilombos no Brasil das inúmeras revoltas lideradas por
tenham se organizado poucos anos trabalhadores e trabalhadoras negras
depois da chegada dos primeiros ao longo do período sangrento da
trabalhadores africanos. Ao longo dos escravidão.
séculos, muitas foram as formas de
resistência dos trabalhadores escra- O 13 de maio, data da assinatura da
vizados. Algumas, mais silenciosas, Lei Áurea, que acabou com o instituto
tinham como objetivo manter vivos jurídico da escravidão no Brasil, foi
24
celebrada durante muitas décadas foi assassinado Zumbi do Quilombo
como o dia da libertação dos trabalha- de Palmares, como uma data a ser
dores escravizados. De certa forma, celebrada pela negritude brasileira,
a celebração dessa data tem uma condizente com a sua história de
relação íntima com a visão do fim da resistência à escravidão. E é com isso
escravidão como uma concessão gene- em mente que o belo afoxé “Quilombo
rosa de uma princesa branca cheia de axé”, composto pelo músico baiano
compaixão a uma multidão de pessoas Mestre Zumbi e eternizado pelo grupo
escravizadas que aceitavam de bom Afoxé Oyá Alaxé, diz:
grado o destino infeliz que receberam.
Esta é uma visão distorcida da história. “Eu vou pegar minha viola. Eu sou
Ela ignora o papel ativo e combativo um negro cantador. A negra canta,
de luta e resistência que essa massa deita e rola é na senzala do senhor. Vou
imensa e diversa de pessoas negras – tocar fogo no engenho, meu pai, onde o
africanas e brasileiras -, em relação de negro apanhou.
íntima solidariedade com indígenas e (...)
trabalhadores brancos, exerceram em
território brasileiro. A liberdade não Irmãos e irmãs, assuma sua raça,
foi uma concessão, mas uma conquista assuma sua cor. Essa beleza negra
alcançada na luta travada por essas Olorum que criou. Vem pro Quilombo
pessoas antes de nós. Reconhecendo Axé dançar o Nagô. Todos unidos num
esse papel e a necessidade de resgatar só pensamento, levando a origem desse
essas histórias silenciadas, é que o carnaval, desse toque colossal. Pra
Grupo Palmares, de Porto Alegre, em denunciar o racismo. Contra o Apar-
1971, passou a reivindicar a data do 20 theid Brasileiro. 13 de Maio não é dia de
de novembro, em que no ano de 1695 negro. 13 de Maio não é dia de negro.”
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
luiza mahin
líder da revolta dos malês
(1835) na bahia
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7. RACISMO ESTRUTURAL: COMPREENDENDO
O CONCEITO E O LEVANDO ÀS ÚLTIMAS
CONSEQUÊNCIAS
Patrick Veiga
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
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pressupostos do discriminação. A
racismo científico
serviram para em-
“parte da luta do diferença é que
a discrimina-
basar as barbáries movimento negro consiste ção pressupõe
cometidas pelo na- poder. Dessa
zismo na Alemanha em questionar e denunciar forma, tanto
no século XX. o mito da democracia o preconceito
racial quanto
Após passar racial, demonstrando que a discrimina-
brevemente pelo
histórico da consti- negros, negras e indígenas ção racial são
manifestações
tuição do conceito
de raça, é possível
sofrem e sofreram um do racismo. A
diferença é que
voltar à discussão processo de segregação e o racismo é a
sobre racismo. Já
foi dito que o ra- discriminação que até hoje forma sistemá-
tica de discrimi-
cismo constitui-se
enquanto processo
faz com que a população nação que tem a
raça como fun-
político e histórico negra seja a maioria nos damento. Não
no qual determina-
dos grupos são pri- presídios, favelas e postos se trata de casos
isolados, mas
vilegiados, enquan-
to outros sofrem
de trabalho precarizados” de um conjun-
to de práticas
desvantagens. É discriminatórias
preciso ainda, diferenciar racismo de cometidas pelos indivíduos e institui-
preconceito e de discriminação racial. ções recorrentemente, consciente ou
O preconceito racial é o juízo baseado inconscientemente.
em estereótipos acerca de indivíduos
que pertencem a um determinado Mas por que as pessoas e as
grupo racializado. Por exemplo, achar instituições são racistas? A respos-
que um negro é mais inclinado para ta está na concepção do racismo
ações criminosas ou que mulheres ne- estrutural. Este conceito é importante
gras são sempre mais raivosas. A dis- porque é o único que dá conta de
criminação racial, diferentemente do explicar como o racismo é produzido
preconceito racial, é a atribuição de e reproduzido nas relações sociais,
tratamento diferenciado a membros econômicas e políticas. Acima, foi
de grupos racialmente identificados. descrito como o conceito de raça foi
Para seguir o exemplo, acima, quando fundamental para justificar o colo-
uma pessoa atravessa a rua por ver nialismo e a escravidão, tornando-se
um homem negro se aproximando e um conceito fundamental para a
achando que poderia ser assaltada, formação da sociedade contemporâ-
está cometendo preconceito. Quando nea. Uma sociedade fundada sobre
a polícia aborda esse homem negro a exploração brutal de negros e
violentamente somente pelo fato de indígenas só poderia formar institui-
parecer suspeito, está cometendo ções e formular uma ideologia que
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
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8. IV Conferência Nacional
de Promoção da Igualdade
Racial e Paralelos
históricos
Rafa Rafuagi
Políticas
Em 2017 fui eleito um dos mais jo- de Igualda-
vens Delegados do movimento negro de Racial.
do Estado do Rio Grande do Sul para Só é possí-
a IV Conferência Nacional de Promo- vel discutir,
ção da Igualdade Racial - CONAPIR implantar e
com o tema “O Brasil na década dos ampliar políticas
afrodescendentes (2015 a 2024): públicas para a população negra se
reconhecimento, justiça, desenvolvi- tivermos o compromisso dos prefei-
mento e igualdade de direitos”. A IV tos, gestores e governadores com
CONAPIR aconteceu entre os dias 27 essas políticas. Para acessar o Sistema
e 30 de maio de 2018, em Brasília, Nacional, o estado ou o município
seis meses depois do previsto para precisa ter um órgão de igualdade
ocorrer entre os dias 5 e 7 de novem- racial e um conselho (municipal ou
bro de 2017, sendo adiada devido ao estadual) de igualdade racial criado.
contexto político de luta contra o gol- Com a adesão, torna-se possível bus-
pista Michel Temer, Eduardo Cunha car recursos federais para políticas de
e toda corja que compactuou com igualdade racial nessas localidades.
a injusta e ilegal criminalização da Porém, é preciso estarmos atentos(as)
guerreira Presidenta Dilma Rousseff, às mutações do racismo estrutural
impeachmada em 2016. e institucional durante as décadas
ou séculos, e entendermos que os
A meta da IV CONAPIR foi discutir poucos avanços obtidos pela popula-
e efetivar políticas públicas voltadas ção negra brasileira de 2013 até 2018
para população negra e combater a entre as conferências foram sistema-
discriminação racial, evidenciando ticamente pensados, como alguns
que é obrigação de todos os governos, paralelos históricos que escreverei a
independentemente de ideologia seguir para enegrecer o raciocínio e
política, agir acerca deste tema. Além fortalecer a luta antirracista no país.
de cobrar a realização de conferências
nos municípios e estados. É preciso o Uma das principais estratégias de
envolvimento dos estados e municí- neutralização das negras e dos negros
pios na formulação e implementação do Partido dos Panteras Negras duran-
de políticas públicas, começando te as décadas de 60, 70 e 80 utilizada
pela adesão ao Sistema Nacional de pelo governo norte-americano foi a
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
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9. RefLexões
autoafirmação de nada serve.
Mas voltemos ao ponto do auto-
sobre o papel da diagnóstico, pois parece-me que este
sim não só é válido como necessário:
branquitude e a luta nós, enquanto pessoas brancas, somos
oriundos de uma sociedade racista,
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
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Pegando o gancho no parágrafo
“A educação anterior, creio que passe também por
antirracista, a partir aí a responsabilidade da branquitude:
mostrar às pessoas brancas as mais
da perspectiva de diversas situações do dia a dia, além,
é claro, de uma educação voltada a
papel da branquitude, não aceitação de piadas e estereó-
tipos com pessoas negras, em seus
precisa, primeiramente, mais diversos espaços de convivência,
a começar pelo seio familiar. Outro
ser ressignificada aspecto importante, está no enten-
de “papel” para dimento, reconhecimento e reivin-
dicação para que as tropas policiais
“responsabilidade.” tratem a população com equidade
de protocolos, atitudes e respeito.
Não podemos esquecer que as forças
policiais cumprem papel fundamental
também carecem de tal consciência na manutenção do racismo estrutural
(basta lembrar da natureza endêmica em nosso país, assim como a famige-
do racismo e do fato de que um curso rada Guerra às Drogas, que tem sido
de licenciatura não é nenhum tipo de usada historicamente para encarcerar
processo de canonização) – mas sim a juventude negra do nosso país.
de toda pessoa branca da nação.
Dito isso, e lembrando Ângela Davis,
Quando falamos em processo, não basta não ser racista, precisamos
já temos a impressão de que tudo ser antirracistas. Porém, de forma
levará tempo, mas que quanto mais efetiva e eficaz e não apenas cumprin-
protelarmos, mais teremos prorro- do protocolos sociais de convivência
gada a solução desta que é a maior ao afirmarmos nosso pretensioso “não
mácula, ou mancha branca, de nossa racismo” – enquanto calamos diante
história. Outro aspecto importante na das injustiças sociais praticadas contra
responsabilidade da branquitude, é o a população negra ao usufruirmos de
entendimento concreto de seus privi- nossos privilégios em posturas típicas
légios, desde as ruas de seu bairro até de Pôncio Pilatos. A educação antirra-
as dimensões mais expressivas de sua cista passa pela branquitude também
vida social. O trânsito livre pelas ruas – entender seus privilégios e usar essa
sem causar constrangimento ou pânico educação para enfrentar o racismo.
em quem vem na direção oposta; o Não se pode usar o legítimo debate so-
lugar que não fica vago ao seu lado bre lugar de fala para silenciar e ajudar
no transporte público; o filho que não na reprodução sistêmica do racismo.
recebe a recomendação de cortar o ca- Evidente, que os principais protogonis-
belo ou se sentar no fundo da sala de tas da luta antirracista são os negros e
aula, entre outros, são situações que a negras, mas é nosso dever, nossa obri-
pessoa branca pode não perceber, pois gação, nossa responsabilidade e nosso
lhe são absolutamente normativas. compromisso moral ser parte da luta.
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
GUSTAVO AMARAL,
PRESENTE!
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10. Ações
afirmativas, acesso
e permanência na
universidade
Bryan Rodrigues e Fran Rodrigues
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1
https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2019/07/90-da-nota-do-enem-e-in-
fluenciada-por-fatores-economicos-e-culturais-indica-analise-feita-por-gauchazh-com-uso-de-inteli-
38 gencia-artificial-cjyk4u1jq054u01msvn171rj2.html
11. O racismo no
assevera o quanto o quadro é preocu-
pante, pois estamos relatando apenas
a ponta do iceberg que são os insultos
futebol brasileiro e xingamentos.
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Discriminações
Brasil (Racial, 20 41 35 69 80 136 58
LGBTFobia, Machismo
e Xenofobia)
Discriminações
Exterior (Racial, 8 9 7 8 8 18 8
LGBTFobia, Machismo
e Xenofobia)
Total
28 50 42 77 88 154 76
40
lazer, entre os mais variados espaços. orientação sexual:
A luta por espaços das chamadas gays e lésbicas.
minorias (negros, homossexuais, Invibilizando,
mulheres, transgêneros, entre outros) dessa manei-
tem seu reflexo no futebol, seja no ra, bissexuais,
aumento dos incidentes ou no cresci- transsexuais
mento das denúncias. e pessoas não-
-binárias, por
A partir do Relatório 2017, passa- exemplo. Sendo
mos a utilizar o termo LGBTfobia no assim, a utilização
lugar de homofobia. Decidimos por de LGBTfobia é no
essa alteração porque homofobia diz sentido de trazer
respeito à homossexualidade, sendo também essas questões de identidade
“fobia”, a aversão, e o “homo”, igual; de gênero que extrapolam a questão
portanto diz respeito especificamente da sexualidade, para que se fale tam-
a relações entre pessoas da mesma bém sobre outras vivências.
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
41
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
Educação Antirracista
HISTORICIDADE DIREITOS
- Apresentar conceitos histó- - Dialogar sobre a importância
ricos demonstrando a influência da Lei 10.039/03 para a educa-
da etnia afrodescendente e afri- ção antirracista;
cana na constituição da socieda-
de brasileira; - Questionar os estudantes
sobre a sua visão referente ao
- Demonstrar através de tex- racismo dentro da escola;
tos, documentários e imagens os
primeiros processos de resistên- - Propor atividades que
cias dentro do Rio Grande do exponham a Lei, distribuir pela
Sul. Ex.: formação dos guetos, escola, após esta retomar o
associações culturais; diálogo para analisar a aceitação
da atividade;
- Propor práticas de aprendi-
zado com ênfase nas culturas - Propor debate de experiên-
afrodescendentes. cias vividas e/ou compartilhadas
referente ao racismo.
RESISTÊNCIA
- Apresentar os processos de resistência históricos demonstrando como
ainda estão presentes na atualidade;
- Possibilitar a inserção de movimentos culturais e /ou políticos ligados à
luta antirracista;
- Expor em atividades estas pluralidades convidando a comunidade onde
a escola esteja inserida a participar;
- Exemplo: propor uma semana integrada sobre antirracismo, estando
presente estes movimentos sociais bem como culturais.
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13. DICAS de
O leão e a jóia (Wole Soyinka)
Obra reunida (Oliveira Silveira)
obras literárias E Cadernos negros (Contos
afro-brasileiros)
AUDIOVISUAIS negras Racismo Estrutural (Silvio Almeida)
e indígenas: Racismo Recreativo (Adilson
Moreira)
Meus contos africanos (Seleção
Nelson Mandela) Peles Negras, Máscaras Brancas
(Frantz Fannon)
Menina bonita do laço de fita (Ana
maria Machado) O avesso da pele (Jeferson Tenório)
O menino Nito (Sonia Rosa) Marrom e Amarelo (Paulo Scott)
Caderno de rimas do João e Cader- Tornar-se Negro (Neusa Santos)
no de rimas da Maria (Lázaro Ramos)
Manual Antirracista (Djamila Ribeiro)
A semente que veio da África (He-
loisa Pires Lima) FILMES
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8. A dar com pau de outra forma, como “morena” ou
“mulata”, embranquecendo a pessoa,
Expressão originada nos navios “amenizaria” o “incômodo”.
negreiros. Muitos dos capturados
preferiam morrer a serem escravizados 13. Negro(a) de traços finos
e faziam greve de fome na travessia
entre o continente africano e o Brasil. A mesma lógica do clareamento
Para obrigá-los a se alimentar, um “pau se aplica à “beleza exótica”, tratando
de comer” foi criado para jogar angu, o que está fora da estética branca e
sopa e outras comidas pela boca. europeia como incomum.
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
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leis, PROJETOS E INICIATIVAS do mandato
(2019-2021)
para perseguir os movimentos sociais,
2021: opositores e censurar o contraditório.
Leis de autoria da deputada O projeto permite a interferência do
Executivo na Abin, na Polícia Federal,
Fernanda Melchionna (PSOL/RS)
no GSI e nas próprias Forças Armadas,
Lei 14128/21: Mais que palmas aos ou seja, no sistema único de seguran-
profissionais da saúde. A lei garante ça pública. E o mais grave, cria sistema
indenização de R$ 50 mil a dependen- paralelo de inteligência e secreto do
tes de profissionais e auxiliares da saú- governo, com grande influência do Po-
de incapacitados ou aos familiares de der Executivo, para vigiar, controlar de
trabalhadores da saúde vítimas da Co- forma ilimitada e criminalizar ativis-
vid-19. Construído junto ao movimento tas, organizações da sociedade civil e
Mais do Que Palmas, mobilizado pelo movimentos sociais.
ator Gregório Duvivier e o Nossas. (O
Ação no STF para assegurar a gra-
PL 1826/20 foi aprovado e Bolsonaro
tuidade no ENEM 2021: O PSOL assi-
acionou o STF para vetar a lei)
nou, conjuntamente a outros partidos
Lei 14171/21: Prioridade do auxílio e entidades, a ADPF no STF para pedir
emergencial às mulheres chefes de mudanças na regra para gratuidade do
família. A lei garantiu prioridade à Exame Nacional do Ensino Médio para
mulher provedora e chefe de família beneficiar candidatos de baixa renda
no recebimento do auxílio emergen- em 2021. A ação foi uma iniciativa da
cial no valor de R$ 600. (Originalmen- Educafro em conjunto com a UNE,
te PL 2508/20, vetado por Bolsonaro e UBES, OAB e a Frente Antirracista.
o veto foi derrubado) Além disso, o PSOL já havido pedido
providências ao Ministério Público Fe-
Outras iniciativas: deral após o governo federal dificultar
o pedido de isenção da taxa de inscri-
Denúncia contra o PL 1595/19 ção vedando o direito dos estudantes
(Ações Terroristas) no Alto Comissa- brasileiros, sobretudo os mais vulne-
riado da ONU: o projeto é uma reedi- ráveis, ao Enem, principal instrumento
ção da proposta apresentada por Jair de acesso ao ensino superior.
Bolsonaro, quando deputado federal,
em 2016, e visa criar mecanismos de REQ 87/21: requereu ao Ministro da
repressão a supostas “ameaças terro- Educação informações sobre a imple-
ristas” no Brasil, em que na história mentação da Lei nº 10.639, de janeiro
recente, não há registros de atenta- de 2003, que inclui no currículo oficial
dos ou tentativas. Sob pretexto de da Rede de Ensino a obrigatoriedade
combater o terrorismo, o projeto cria, da presença da temática “História e
na verdade, um Estado de exceção Cultura Afro-Brasileira e Africana”.
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
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12 meses. Com colaboração de Luana instituiu a isenção de taxas para re-
Pires e Débora Diniz. (Em tramitação) tificação de nomes civis e de gênero
de pessoas transgênero, travestis,
PL 3791/2020: Prioridade na tes- intersexuais ou não-binárias e tam-
tagem para COVID-19 às mulheres bém a isenção das taxas para geração
cuidadoras: garante prioridade para de segunda via de documento após a
mulheres de baixa condição sócio-e- mudança do nome. (Em tramitação)
conômica e que ocupam o posto de
cuidadoras das famílias e comunida- Outras iniciativas
des na testagem para a COVID-19.
Com colaboração de Luana Pires e Emenda de Plenário: garantiu o
Débora Diniz. (Em tramitação) duplo benefício (R$ 1200) do auxílio
emergencial às mulheres chefes de
PL 1267/20: Ampliação da divulga- família monoparentais (Aprovada e
ção do Disque 180 na pandemia. O ficou em vigor até março/21)
projeto prevê ampliação e divulgação
do Disque 180 para proteção da vida PDL 286/20: anula a portaria do
das mulheres em situação de violên- MEC que acabou com cotas em pós-
cia. (Em tramitação) -graduação. O projeto pede a revoga-
ção da portaria que anulou a política
PL 5208/20: Ampliação da pro- de cotas voltada para a população ne-
teção social às vítimas de crimes gra, indígena e pessoas com deficiên-
sexuais. O projeto altera a Lei Maria cia em programas de pós-graduação
da Penha para ampliar a proteção das universidades federais.
às vítimas de crimes sexuais, esten-
dendo às vítimas de crimes contra REQ 1861/20: requer a constituição
a dignidade sexual o atendimento de Comissão Externa com a finalidade
especializado que hoje é dado às de acompanhar as graves denúncias
mulheres sobreviventes de violên- de violência policial, uso despropor-
cia doméstica. Foi proposto no Dia cional da força e letalidade policial em
Internacional pela Eliminação da comunidades periféricas no país no
Violência Contra as Mulheres e faz ano de 2020.
referência ao caso da influenciadora
REQ 2287/20: requereu a urgência
digital Mariana Ferrer, que foi vítima
da aprovação do projeto que ratifica
de abuso sexual e, durante a audiên-
a Convenção Interamericana contra
cia judicial que analisava o caso, teve
o Racismo, a Discriminação Racial e
seus direitos humanos violados. (Em
Formas Correlatas de Intolerância,
tramitação)
adotada na Guatemala, por ocasião da
PL 4399/20: Dia Nacional da Visibi- 43ª Sessão Ordinária da Assembleia
lidade Lésbica. O projeto institui o dia Geral da Organização dos Estados
29 de agosto como o “Dia Nacional da Americanos. (A articulação foi realiza-
Visibilidade Lésbica”. (Em tramitação) da através dos membros da Comissão
Externa da Câmara dos Deputados, da
PL 3667/20: Isenção de taxas para qual Fernanda fez parte, que acom-
transexuais, travestis e intersexuais panhava as ações de investigação da
na retificação de nome. O projeto morte de João Alberto Silveira Freitas,
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Caderno de Educação PolíticA aNTIRRACISTA • 2021 •
espancado até a morte em uma uni- publicação de lista pública das em-
dade do supermercado Carrefour, em presas machistas no site do Ministério
Porto Alegre) da Economia. (Em tramitação)
PL 878/19: Combate à violência
obstétrica. O projeto dispõe sobre o
2019: atendimento humanizado no parto e
Projetos pós-parto para combater a violência
obstétrica. (Em tramitação)
PL 173/19: Trabalho Igual, Salário
Igual. O projeto institui o Programa Outras iniciativas
Nacional de Igualdade de Gênero
nas relações salariais e de trabalho, Representação na Procurado-
criando instrumentos para combater ria-Geral da República para anular
a desigualdade salarial entre homens nomeação de presidente da Fundação
e mulheres e cria o Selo Nacional Palmares Sérgio Camargo por atacar
Empresa Machista para as empre- o Movimento Negro brasileiro, suas
sas que não respeitarem a regra e a bandeiras e lideranças.
EMENDAS PARLAMENTARES
Sempre construímos nosso trabalho
parlamentar junto ao povo e aos mo-
2021:
vimentos sociais e encaramos nosso
mandato como um megafone das R$ 345.600: Oficinas culturais Casa
lutas sociais. Não seria diferente com da Cultura Hip Hop de Esteio e IFSul
a definição da destinação das nossas Sapucaia do Sul (A casa é a primeira
emendas parlamentares. Do total de iniciativa do gênero no sul do país. As
nossos recursos anuais, 50% são de atividades culturais serão voltadas à
investimento mínimo obrigatório para prevenção e redução da vitimização
área da saúde. Priorizamos o repasse letal da população negra e promoção
para locais de atendimento 100% SUS dos direitos humanos das juventudes)
pelo nosso compromisso com a garan- R$ 500 mil: Plano Municipal do
tia da saúde pública. As demais foram Livro e Leitura de Porto Alegre
distribuídas em diferentes áreas, vi-
sando fortalecer a construção de uma R$ 150 mil: Biblioteca Comunitária
sociedade menos desigual, que amplie do Arquipélago (Primeira Casa de leitu-
o acesso ao livro, à leitura e à cultura ra de Porto Alegre, localizada nas Ilhas
aos mais desfavorecidos, principalmen- do Guaíba para promoção de atividades
te à população negra e moradores de como empréstimos de livros, saraus,
periferia, e iniciativas que impulsionem mediações de leitura e palestras)
a luta antirracista e ajudem no comba-
R$ 500 mil: Espaço Transcender
te a outras formas de discriminação:
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- Policlínica do Rosário (primeiro Guarani (Tekoa Nhundy - Aldeia Gua-
ambulatório para atendimento da rani da Estiva)
população trans em Santa Maria)
R$ 1 milhão: Apoio à Regularização
R$ 1,5 milhão: Teatro Popular Ter- Fundiária da Comunidade Vida Nova
reira da Tribo (fomentar a arte pública
através da realização de atividades R$ 522 mil: Compra de 3 viaturas
culturais focadas em quatro eixos: ter- para a Patrulha Maria da Penha para
ritório, memória, formação e criação) acolhimento e monitoramento a mu-
lheres vítimas de violência (Alegrete,
R$ 170 mil: Projeto Lendo para o Guaíba e Novo Hamburgo)
Amanhã (acesso à leitura e a literatu-
ra a crianças e aos adolescentes) 2020:
R$ 242,3 mil: Laboratórios de Ro-
R$ 500 mil: Luta contra o Racismo
bótica Include (compra de ferramen- e em defesa dos direitos dos Povos
tas de ensino de robótica e material Tradicionais de Matriz Africana.
metodológico para viabilização de (Construída conjuntamente ao Fórum
laboratórios) Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional dos Povos Tradicionais e
R$ 260 mil: Primeira Incubadora de
Matriz Africana, a verba destinada será
Empreendimentos Econômicos Solidá-
para a promoção da saúde, da Sobe-
rios (em parceria com a Unipampa de
rania e da Segurança Alimentar dos
Santana do Livramento. Com recursos da
Povos Tradicionais de Matriz Africana e
emenda projetos também serão desen-
para o combate ao Racismo)
volvidos em Dom Pedrito e São Gabriel)
R$ 200 mil: Projeto Periferia Brasi-
R$ 1,5 milhão: Reforma Campus
leira de Letras (fomento à promoção
Faculdade de Direito da UFRGS
do livro, da leitura e da criação literária
R$ 439,9 mil: Núcleo de Gerência nas favelas e periferias de Porto Alegre
de Equidade e Inclusão da Saúde da em parceria com a Fiocruz)
população negra
R$ 350 mil: Laboratório de produção
R$ 700 mil: Centro de Referência audiovisual Odilon Lopez (Iecine/RS)
LGBTIA+ da UFRGS (criação do primei- - em homenagem ao cineasta negro
ro centro de referência à comunidade pioneiro do cinema gaúcho
LGBTI+ de Porto Alegre - espaço de
R$ 200 mil: Projeto Embolamento
acolhimento das demandas da comu-
Cultural Pela Juventude Viva! para re-
nidade e encaminhamento para os
alização de atividades culturais em três
órgãos de Estado)
bairros de maior vulnerabilidade social
R$ 500 mil: Construção de Restau- de Porto Alegre (Cruzeiro, Rubem Berta
rante Comunitário na Comunidade e Restinga) e Centro Histórico
Vida Nova, na Restinga em Porto Alegre
R$ 250 mil: Assistência Estudantil do
R$ 250 mil: Aquisição de terras Instituto Federal Sul-Rio-Grandense
para uso da aldeia indígena Mbya (Pelotas)
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SOBRE OS(as) aUTORes(AS)
Adriano Viaro é Mestre em História pela UPF. Pesquisador de Palmares e Zum-
bi. (twitter: @prof_viaro)
Ana dos Anjos é pedagoga. Das Letras. Especialista em Educação Indígena.
Ativista antirracista, feminista e integrante das Rodas de Cuidado e Autocuidado
entre mulheres ativistas e MVNI. (@anacristinadosanjose | teacheranaanjos@
gmail.com)
Bryan Rodrigues é estudante de economia na UFRGS e militante do coletivo
Juntos! (@bryanrodrigs)
Carla Zanella é socióloga e coordenadora da Emancipa Mulher - Escola Fe-
minista e Antirracista em Porto Alegre. (@carlinha.zanella | carlinha.zanellas@
gmail.com)
Fabrício Sanches é professor de biologia, dicente no Mestrado em Educação
da Ufpel, militante do MES e Juntos! Pelotas e membro do DCE UFPel. (@euofa-
bricio | euofabricio@gmail.com)
Fernanda Melchionna é deputada federal pelo PSOL e ex-líder da bancada do
PSOL na Câmara dos Deputados. (@fernandapsol | dep.fernandamelchionna@
camara.leg.br)
Fran Lasevitch é é artista visual e publicitária, especialista em design gráfico.
(@ella.mascara)
Fran Rodrigues é graduanda em Direito na UFRGS e militante do Coletivo
Juntos! (@franrodriguespsoll)
Gilvandro Antunes é sociólogo, ativista antirracista e integrante do Movimen-
to Vidas Negras Importam. (@gilvandroantunes | vidasnegrasimportamrs@
gmail.com)
Janaína Melchionna é graduada em Administração de Empresas com Habili-
tação em Marketing, Especialista em Gestão. (@janamelchionna | janamelmot-
ta@gmail.com)
Leandro Soares é advogado, mestrando em Ciências Criminais pela PUCRS.
Membro da Comissão de Direitos Humanos Sobral Pinto - OAB/RS. (@leandro-
soaresadv | leandro@leandrosoaresadv.com.br)
Lorena Duarte é advogada e assessora jurídica do mandato da deputada fede-
ral Fernanda Melchionna. (@ldguarda)
Marçal Carvalho é advogado criminalista, Mestre em Ciências Criminais -
PUC/RS, Especialista em Ciências Penais - PUC/RS, Professor de Direito Penal,
Processo Penal e Criminologia. (@marcal_carvalho.adv)
Marcelo Carvalho é diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial
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no Futebol (@mmcarvalho8)
Márcio Chagas da Silva é professor de Educação Física, especialista em Pe-
dagogias do Corpo e da Saúde e Jornalismo Esportivo e ex-árbitro de Futebol.
(@_omarciochagas)
Paola Rodrigues é jornalista, militante do PSOL, especialista em Designer Grá-
fico e coordenadora de comunicação do mandato da Deputada Federal Fernan-
da Melchionna. (@paola_mocka)
Patrik Veiga é graduando em História na UFRGS e membro do Grupo de Tra-
balho Nacional do Juntos! (@patrickv_50)
Priscila Vaz é bacharelanda em Direito e Ativista Social. (@vaz_priscila)
Rafa Rafuagi é Mc do grupo Rafuagi, Fundador da Casa da Cultura Hip Hop de
Esteio, Museu da Cultura Hip Hop RS e Universidade Popular dos Movimentos
Sociais Vozes da Periferia, Consultor do BID, Diretor do Festival Cuida Natura BR,
Membro do HeForShe, Acadêmico de Direito na FMP RS, Formado no Curso de
Epistemologias do Sul pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coim-
bra e Publicitário. (@rafuagi | rafarafuagi@gmail.com)
Tirza Medeiros Moraes é professora de Filosofia, educadora popular pelo
Emancipa Pelotas, monitora de escola pela rede municipal de Pelotas, militante
do Juntos e do MES/PSOL. (@tirzamoraes | tirzamedeirosmoraes@gmail.com)
Vander Duarte é professor Historiador, Mestre em Patrimônio Cultural, Bacha-
rel em Arquivologia, Especialista em Ética e Educação em Direitos Humanos.
(@profvanderduarte)
56
George fLoyd
HOMEM NEGRO NORTE-AMERICANO
ASSASSINADO POR UM POLICIAL
BRANCO EM Minneapolis (EUA)
57
/fernandapsol (51) 98925-0864 dep.fernandamelchionna@camara.leg.br
www.fernandapsol.com.br