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ARTE, APROPRIAÇÃO E HIBRIDISMO NOS ROSÁRIOS

DO TAMBOR DE MINA DO MARANHÃO: UMA ANALISE


DE RESSIGNIFICAÇÕES SIMBÓLICAS DA ARTE AFRO-
BRASILEIRA. Rosiane Cardoso*

Resumo: O texto analisa os diversos símbolos que compõem os rosários (objeto


artístico do Tambor de Mina) inseridos na Cultura maranhense em meados do século XVII
em uma atmosfera de opressão e repressão dos signos originários da cultura africana,
possibilitando assim, reconfigurações hibridas e seus desdobramentos com a tradição
clássica ocidental nos domínios da arte afro-brasileira.

Palavras- chave: Tradição Clássica, Arte afro-brasileira, Hibridismo, Tambor de Mina,


Rosários

Abstract: The text examines the various symbols that make rosaries (artistic object Tambor
de Mina) inserted in Maranhão Culture in the mid-seventeenth century in an atmosphere of
oppression and repression of signs originating from African culture, thus enabling hybrid
reconfigurations and its consequences with Western classical tradition in the fields of
african-Brazilian art

Keywords: Classical Tradition, african-Brazilian Art, Hybridity, the Drum, Rosaries

*Orientanda do prof. Drº Roberto Conduru;

Mestranda do programa de Pós graduação em Artes, bolsista CAPES –UERJ.


1 Apropriações simbólicas e identidade nos Rosários do tambor de Mina

O Tambor de Mina de acordo com Mundicarmo Ferretti (2000, p.61)” é um


culto a entidades espirituais africanas “ Voduns e orixás” que baixam na cabeça de seus filhos, nos
“toques”( rituais públicos, com tambor).” Os cultos do Tambor de mina no Maranhão têm sua
origem na Casa das Minas e na Casa de Nagô ambos localizam-se no Centro Histórico de São Luís.

A historiografia oral e escrita narra que o processo de fundação dessas casas teve
a participação fundamental das africanas “N’agontimé” na primeira casa e Josefa e Joana na
segunda.

O termo mina deriva do Forte de São Jorge da Mina, na costa


do ouro, atual República do Gana, um dos mais antigos
empórios Portugueses de escravos na África Ocidental.É
também o nome de um dos grupos étnicos absorvidos pelo
tráfico de escravos.No Brasil o termo mina é atribuído
genericamente a escravos procedentes da região do Golfo de
Benim na África Ocidental. (FERRETTI. S, 1996, p.11)

A Mina “Nagô” desde sua fundação no Maranhão realiza seus toques com entidades
africanas, nobres europeus e caboclos. A classificação das entidades por nações apresenta-se da
seguinte forma: entidades africanas “(Ogum, Olokum, Averequete, Olodô, Akoveré, Xapanã, etc.)”
entidades nobres (Dom Luís, Dom Carlos, Rei Sebastião, Rainha Rosa etc) entidades caboclas (João
do Leme, Tapindaré, Joãozinho, Morro de Areia, João de Guará, etc.)1
Na Mina “Jeje” os rituais acontecem em homenagem às famílias de voduns, que de
acordo com Ferretti agrupam-se em número de cinco:
 “Davice” (reúne os voduns nobres, zomadonu e Dadarro).

 “Savalunue Aladanu” (família de voduns hóspedes da casa).

1
FERREIRA, Euclides M. (Talabyan) Itan de dois Terreiros Nagô. Casa Fanti – ashanti, São Luís: 2008.
 “Dambirá” (família que corresponde ao panteão da terra, vodus que combatem as doenças
e as pestes).

 “Quevioçô” (família nagô entre os jeje, composta por Liça, Loco, Abe e averequete).

Na Mina do Maranhão os fios de conta são conhecidos como rosários, fazendo uma
alusão ao sincretismo católico. Na casa das Minas cada família corresponde a um conjunto de
preceitos, onde cada membro dessa família tem um ritual próprio, indumentária e rosários
diferentes.

Cada filha que dança na casa recebe um rosário com as


marcas ou símbolos de seu “vodum”. O rosário é do vodum e
não da pessoa e, por isso, não é despachado quando a pessoa
morre, ficando guardado na casa para ser usado por outra
filha que recebe o mesmo vodum. Os rosários só são usados
nos dias de festa e são colocados no pescoço logo que o vodum
chegue ou um pouco antes (...) As filhas mais velhas usam
rosários com seis pernas, outras usam com quatro pernas. A
cor predominante nas miçangas ou contas menores no rosário
da Casa das Minas é a marrom, chamada “gongeva ou
hongeva”, que as filhas dizem ser a marca da nação” Jeje” (...)
Há também as marcas das famílias de voduns. Os rosários do
povo de Davice têm pernas marrons, sem mistura de cores. (...)
Em geral os rosários do pessoal da Casa das Minas têm contas
pequenas, com cores escuras e sóbrias. Muitos são feitos com
contas antigas, não mais encontradas no comercio e que dizem
foram importadas (FERRETTI, 1996, p. 194).

Os fios de conta são elementos de identificação dos iniciados, dos pais e mães de santo,
dos simpatizantes com determinado terreiro ou entidade, servindo ainda para identificar a nação
(grupo étnico) de origem da religião pertencente. O fio de conta é, na opinião de Lody, um emblema
social e religioso que marca um compromisso ético e cultural entre o homem e o santo. É um objeto
de uso cotidiano, público, situando o indivíduo na sociedade do terreiro.
Os rosários compõem-se de um texto visual que nos permite assimilar uma série de
informações formais, estéticas e éticas existentes na atmosfera dos terreiros. Simbolizam a entidade
que está em terra, sua nação. Indica também os avanços nos processos iniciáticos religioso da filha
ou filho de santo. São objetos de uso exclusivo dos rituais não podendo ser usado nas práticas
sexuais por exemplo. Os voduns são proprietários diretos e intransferíveis dos rosários de seus
“cavalos” restando a eles apenas produzir, zelar e porta-los na hora certa.
O processo de produção dos rosários está inteiramente atrelado ao sistema simbólico
religioso da Mina, a criatividade é toda do santo que mostra o rosário em sonhos para seus filhos ou
filhas prontinho. Ao mediún cabe apenas a compra dos materiais e dispô-los no fio (naylon).

A entidade diz de quantas pernas, quais cores, quais


cabos colocar na cangoteira e na ponta”. Ela também segue
um ritual para produzir seus rosários. É muito simples eu
compro as contas, com o náilon e coloco velas tomo um banho
coloco uma roupinha branca, com um pano virgem branco
coloco as contas e teço ele. (Informação Verbal)2.

No mesmo sentido a filha de “Averequete” dona Domingas (filha da Casa há trinta e um


anos) diz que: A inspiração é toda atribuída às entidades.

Eles mostram no sonho, dão detalhes e ai a gente


compra as contas e faz e na hora de fazer pego um pano
branco, bota uma luz e vai enfiar, confere conta por conta
cinco de um lado ,cinco do outro. As entidades nos dizem de
quantas pernas quer de quantas não quer. Termina lava com
cachaça, defuma pra poder usar. Aprendi no sonho.
(Informação Verbal) 3

Dessa forma, a criação artística dos rosários de Averequete fica restrita somente aos
materiais que ele solicita. Se a marcação dele é marrom a criação fica por conta do uso dos
materiais em formas diferentes nos tons de marrom.

Na Mina Jeje os rosário de maior destaque são runjeve e a manta das tobossis ou ahungele.
A manta da Tobossis de acordo com Lody (2001, P.110):

É um tipo de rede, gola, peça que cobre a região do colo até o


inicio do busto. É feita de miçangas de diferentes tamanhos e
cores, pequenas contas redondas, corais e outros tipos que
fazem uma das peças mais tradicionais e significativas do Mina
Jeje do Maranhão. O “Ahungelé” é distintivo das “Tobossis”
ou Tobossas, princesas crianças, membros da família real
fundadora do famoso terreiro conhecido como Casa das Minas,
terreiro dedicado a “Azamadonu”, todos “vondus” do
“Daomé”, atual Benin.

2
Entrevista concedida por Dona Fátima Filha de Iansã e de Averequete, Entrevista I. no Terreiro Mamãe
Oxum e Pai Oxalá em12/12/2012. Entrevistadora: Rosiane Cardoso. São Luís 2012. Mp3 (30 min).
3
Entrevista concedida por Dona domingas.Entrevista II. No Terreiro Mamãe Oxum e Pai Oxalá
em12/12/2012. Entrevistadora: Rosiane Cardoso. São Luís 2012. Mp3 (30 min).
A manta desempenha diversas funções nos rituais do Tambor de Mina. No ritual
exclusivamente feminino denominado baião de princesas ou descida das Tobossis, funciona como
objeto representativo e complementar da força contida nas tramas do saber feminino africano e afro-
brasileiro. A manta no ritual de despedida4 em caso de morte de uma pessoa que incorpore uma
entidade feminina africana ou seja, uma Tobossi passa por um processo de desconstrução de suas
tramas, quando morre uma das tobossis as miçangas que compõem a manta da “Gonjaí” falecida
serão utilizadas para aumentar as ordens ou fileiras de miçangas das mantas das Gonjaís vivas.
Desta forma cada cor agregada simboliza consequente uma Gonjaí morta, uma ancestral.

2 Fios de Contas representativos do Maranhão

[ Foto 1]: Manta das Tobossis ou Ahungele

Fonte: Pesquisa de Campo


Lody (2001, p.110) descreve o rosário Ahunguelé, manta das tobossis ou
tarrafa enquanto um colar em forma de rede que cobre a região do colo ao
inicio do busto. É feita de misangas de diferentes tamanhos e cores,
pequenas contas redondas, corais e outros tipos que fazem uma das peças
mais tradicionais e significativas do mina Jeje do Maranhão. A manta das
Tobossis como o próprio nome diz é emblemático do ritual “arrambam” ou
descida das Tobossis.
4
Para Ferretti, Sérgio. Querebentã de Zomadonu: etnografia da Casa das Minas do Maranhão, Rio de
Janeiro: Pallas, 2009, p. 163. - Tambor de choro ou Zelim é o ritual de despedida por morte de uma dançante ou tocador
do Tambor de Mina Jeje.
As “Tobossis” fazem parte do grupo das divindades infantis,
exclusivamente femininas, que brincavam como crianças e
falavam em língua africana. [...] eram chamadas de
sinhazinhas durante as feitorias.[...] Elas eram consideradas
como filhas de Voduns.
Na Casa de Nagô, a chefe delas é tida como Iemanjá e elas não
usam manta de miçangas como na Casa das Minas, mas
usavam muitos colares e pulseiras. As filhas atuais dizem quem
as Tobossis tinham mais coisas. Tinham mais afinidade com o
corpo e permitiam uma ligação mais direta do que os voduns,
que são adultos. Não tinham falhas e não se irritavam, seu
papel, no culto era só brincadeiras. Eram espíritos mais
perfeitos e elevados. (FERRETTI, 1996, p.77)

A diferença entre a manta e o hongeve está em que o primeiro simboliza um ritual (descida
das tobossis) e o hungeve é a marca ou símbolo da vertente religiosa afro-brasileira no Maranhão
conhecida como Mina. Em termos técnicos o Anngulé é mais elaborado, possui uma trama de
entrelaçamento que divide os planos a partir das cores. O hungeve é uma guia de uma “perna” só,
sem variação de cor. Ambos não possuem em suas composições elementos simbólicos como figas,
búzios, cruzes etc.

3.Outros rosários, outras entidades espirituais, outras identidades e apropriações


simbólicas culturais

No Terreiro de Mina Mamãe Oxum e Pai Oxalá, lócus da pesquisa existe


mais de duzentas entidades catalogadas entre caboclos, voduns, Orixás e
Gentis, além dos que representam as Nações e alguns rituais do referido
espaço sagrado. No entanto analisaremos nessa ocasião um rosário do
Vodun averequete, dois orixás (Exu e Yemanjá), um caboclo (Zezinho),
uma representação de Nação (Turquia), uma representação de ritual (Cura).
[Figura 2]: Acabamento do rosário de Averequete

Fonte: Jorrimar de Sousa

Nesse rosário a simbologia das cores remete ao Vodum Averequete;


conhecido também como Verequete, entidade africana que chefia os
terreiros de Mina no Maranhão, é ele quem vem na frente chamando os
outros voduns. Averequete é um Vodum da família de Queviosô que é Nagô
mas ele é muito bem vindo em terreiro de outras nações5

A cor marrom é a cor emblemática do rosário ( runjeve) no Tambor de Mina


maranhense. Essa cor também faz referencia à África Ocidental (Benin) e,
por conseguinte a um tipo de entidade denominada Vodun. No caso dos
rosários de Averequete a variação do marrom com os tons azuis turqueza e
marinho, ocorre devido às famílias que pertencem. Averequete faz parte do
clãn de Quevioço; família nagô entre os jejes, composta por Liça, Loco e
Abe. Esses Voduns são componentes do panteão dos astros, ou seja,
averequete é a estrela – guia; Liça é o astro sol; Loco domina as
tempestades; Abe é uma sereia.

Na composição do rosário de averequete, mais precisamente no acabamento


encontra-se um búzio africano. Os búzios são pequenas conchas de forma

5
FERRETTI,M.(2000) São formas de agrupar as entidades espirituais da Mina (Jeje, Nagô, Cambinda, Fanti-
Ashanti), podem também ser classificadas por linhas associadas a dominios da natureza(água salgada, mata, água doce,
astral) ou ainda por região (povo da Bahia, de Codó, do Pará, do Ceará, de Caxias etc.)
ovalada com uma saliência arredondada de um lado e uma fenda serrilhada
do outro. Recebe o nome cientifico de (cyproea moneta) e o popular de
Caurim ou cauri. No passado foi usado como moeda na África e em países
orientais. No Brasil assim como na África é usado para as oferendas, jogos,
e enfeites de adereços rituais. As conchas são identificadas como machos ou
fêmeas, pelo tamanho e pela serrilha. Os búzios em um contexto diaspórico
simboliza na composição do acabamento do rosário o continente de origem
da religião Mina. A tradição africana, nesse caso foi conservada no tocante
ao significado que remete a própria África.

[ Figura 3]: rosário de Cura6

Fonte: Pesquisa de Campo


Nos rosário de Cura Brinquedo ou “Toque” de Maracá as contas são
predominantemente naturais e especifica como a lágrima de nossa senhora.
Segundo CACCIOTORE, (1988) essa semente recebe o nome científico de
(Croton antiriphiliticum ou Ophtalmoblatum pendecular Muell e Arg. –

6
Cura é um ritual público e festivo da pajelança cabocla do norte realizado em muitos terreiros de São Luís,
onde o pajé (ou curador), incorporando entidades espirituais de diversas linhas, canta, dança e toca maracá a noite toda.
[...realizando “passagens” de entidades espirituais da linha de água doce, possibilitando sua permanência na terra. O
trabalho de passagem é também denominado brinquedo. A Cura incorpora muitos elementos do catolicismo popular(
santos, rezas, benzimentos, devoção a Nossa senhora e da cultura indígena(presença de Maracá, transe com animais
encantados, uso de ervas medicinais, fumo e cigarro de tauri. FERRETTI (2000) pp. 226, 227.
euforbiácea) planta usada em oftalmia. Dá florinhas azuis, sendo por isso
dedicada a Yemanjá. (P. 192).

Os rosários de Cura geralmente trazem na ponta uma estrela de Davi


ou de São Salomão. O selo de São Salomão é constituído por dois triângulos
entrelaçados de modo que dão lugar a uma estrela de seis pontas.

De acordo com Cirlot (1978, p. 402) A estrela de Davi simboliza a


alma humana como conjunção da consciência e o inconsciente, significados
pelo fogo. (triângulo) e a água (triângulo invertido) em interpenetração. Esta
forma interpenetrada representa o principio imaterial chamado azoth visto a
partir da imaginação por um ponto central da forma. A origem da estrela de
Davi remonta ao século IV, nesse período esse símbolo não possuía um
caráter místico, era usado como forma ornamental das sinagogas e lápides
no Sul da Itália.

[Figura 4]: rosários representativo da nação Turca e de Yemanjá.

Fonte: Ribamar Nascimento

Esses rosários são emblemáticos do Terreiro Mamãe Oxum e Pai Oxalá.


O rosário de Yemanjá (entidade representante do poder feminino ou Nossa
Senhora da Conceição no sincretismo da Mina) comporta as cores azuis
celestes e brancas, sendo as contas menores azul e as firmas contas maiores
que intercalam os intervalos entre as contas pequenas na cor branca. O
fechamento é articulado com uma firma branca e uma mini placa de
madeira contendo uma escavação do símbolo cruz. Os rosários compostos
pelas cores verde, amarelo e vermelho são representativos das entidades
oriundas da nação Turca.

Os Turcos segundo Ferretti, M. (2000, p.128) entraram na Mina no final do


século XIX, (antes da abolição da escravidão no Brasil) em terreiros abertos
por africanos. Rei da Turquia é talvez o chefe da maior família de entidades
caboclas do tambor de Mina e a entidade espiritual mais conhecida fora dos
cultos afro-brasileiros.

Ainda sobre os turcos, Oliveira, (1941, P.47) Diz que os turcos constituem
uma família de Voduns, turcos mauritanios de influência islâmica. São
encantados comumente chamados de Mouros, chefiados por João Buralaia.

Na composição artística deste rosário representativo da nação Turca, o


acabamento porta uma figa um signo que desde a antiguidade vem sendo
atualizado e ressignificado por várias culturas. O origem do termo em latim
“fícus” remonta a árvore figueira cuja madeira era confeccionada pelos
Europeus este amuleto. A figa de origem europeia compõe o arremate do
rosário afro-brasileiro.

A figa é um amuleto em forma de mão humana fechada, com o


dedo polegar entre o indicador e o médio. Tem finalidade
protetora, contra mal olhado, feitiços, doenças etc. Sua origem
é antiguíssima e aparece na maioria dos povos, tendo sido
trazida para o Brasil provavelmente pelos europeus. A técnica
de construção da figa é executada nos materiais de coral,
azeviche, marfim e madeira, especialmente a branca chamada
Guiné (CACCIOTORE, 1988, p. 126).

No Brasil conforme narra a autora, esse signo é usado nos acessórios dos
toques de tambor por recomendações dos Pais e Mães de Santo enquanto
um elemento protetor para uma infinidade de dificuldades humanas. A
incorporação desse amuleto na indumentária brasileira se deu por iniciativa
das africanas escravizadas que o portavam em busca de proteção espiritual.
Para os Italianos esse amuleto está relacionado á fertilidade e a abundância
devido ao fruto (figo) representar em sua cultura o órgão sexual feminino.
Entre os Turcos a figa significa ato obsceno referindo-se ao ato sexual.Para
as entidades do Panteon Turco no Tambor de Mina as figas simbolizam
também proteção espiritual de parte da entidade ao filho (a) de santo.

[Figura 5]: rosário do caboclo Zezinho

Fonte: Pesquisa de campo

Os rosários do caboclo Zezinho traz a harmonia das cores amarelo, marrom e o branco intercaladas
por firmas marrom e amarelas. A ponta traz um símbolo clássico representativo do cristianismo; a
cruz. A cruz ratifica o sentido histórico do cristianismo quando se apresenta em forma de crucifixo
ou seja, o cristo sobre a cruz.

“El madero horizontal corresponde al principio pasivo,


al mundo de la manifestación. El sol y la luna son lós
representantes cósmicos de esse dualismo, que se
repite em la contraposión de sexos entre el discípulos
amado y la santa madre, que, además, exponem el
consecuente y antecedente de la vida y obra de Jesús
y, por ello, El passado e y el futuro. Los dos ladrones
constituyen el binário de la contraposición em ló moral,
ES decir, lãs dos actitudes posibles del nombre:
penitencia y salvación, prevaricación y condenación’’.

(CIRLOT,1978, p.154)

Em um contexto diásporico brasileiro a cruz foi incrustada a partir dos Jesuítas nas Santas missões
aos nativos indígenas nos primeiros momentos da colonização Portuguesa e em um segundo
momento aos africanos escravizados. A esses últimos a cruz foi incorporada a ambientação dos
terreiros onde reproduzem um altar carregado de santos católicos e no centro o cristo
crucificado.Em geral a cruz reúne uma conjugação de contrários, antagonismo básicos da existência
humana; positivo e negativo, superior, inferior, a vida e a morte, construção e destruição,
possibilidades e impossibilidades.”Na arte africana, os motivos crucíferos, com as linhas ou as
folhas de mandioca, são numerosos e ricos de significado. A cruz tem um sentido cósmico; indica
os quatros pontos cardeais; significa a totalidade do cosmo. Basta acrescentar um circulo em cada
extremidade e ela passa a simbolizar o sol e seu curso.encruzilhada representa também os caminhos
da vida e da morte”. (CACCIOTORE, 1988, p.191).
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os terreiros são lugares de arte, educação e ciência, valorizar o terreiro enquanto espaço de
conhecimentos tradicionais da cultura afro-brasileira nos permite ampliar as possibilidades
artísticas. Na contemporaneidade onde o conceito, o significado e a ideia são requisitos elementares
à criação, que enxergue na atualidade à riqueza e as lacunas da produção do “passado”. O terreiro
enquanto um centro educativo pode nos ensinar a sermos solidários, cooperativos e a viver o real
sentido de família. Ao falar, ao fazer o terreiro de mina também ensina o respeito às diferenças, a
partir da integração de diferentes classes, gêneros e idades. Ainda sim alguns terreiros de Mina do
Maranhão mesmo com tanta ciência, saberes e potencial educativo ainda tem um longo caminho no
que diz respeito a sistematizar seus conhecimentos, no intuito de contribuir com o extermínio de
equívocos, distorções e preconceitos sobre suas práticas.

Os estudos das Tradições Clássicas de maneira geral admite analisar a Arte sem restringir-se à
cronologia dos estilos ou movimentos artísticos. Amplia as perspectivas de observações e relações
possíveis com a política, religião e formas. Em um contexto de Arte afro-brasileira as variadas
tradições clássicas ocidentais apresentam-se nos rosários do Tambor de Mina questionando o
contexto socioeconômico em que esses símbolos foram inseridos. Renovando significados e
finalidades eventualmente distintas, como por exemplo o elemento Figa que em seu lócus de origem
- Itália representa a fertilidade e o erotismo.

Porém no Brasil configura-se um elemento simbólico religioso significando proteção contra as


energias negativas, mal olhado, etc. Desta forma, os elementos que compõem os rosários do
Tambor de mina são originados de tradições internacionais, mas que foram reinterpretados ao longo
da história do escravismo e da colonização brasileira enquanto símbolos de identidades, resistência
e luta.

Nesse sentido, estudar a composição dos rosários nessa perspectiva de tradições Clássicas significa
repensa-los enquanto objeto artístico hibrido carregado de encruzilhadas culturais, simultaneamente
também demarca as crenças e valores ressignificados em cada sistema simbólico. Possibilita
discutir os aspectos de pureza e essencialidade presente nas obras de arte afro-brasileira.
Considerações em processo

Os estudos das Tradições Clássicas de maneira geral admite analisar a Arte sem restringir-se à
cronologia dos estilos ou movimentos artísticos. Amplia as perspectivas de observações e relações
possíveis com a política, religião e formas. Em um contexto de Arte afro-brasileira as variadas
tradições clássicas ocidental apresenta-se nos rosários do Tambor de Mina questionando o contexto
sócio-econômico em que esses símbolos foram inseridos. Renovando significados e finalidades
eventualmente distintas, como por exemplo o elemento Figa que em seu lócus de origem - Itália
representa a fertilidade e o erotismo.

Porém no Brasil configura-se um elemento simbólico religioso significando proteção contra as


energias negativas , mal olhado, etc. Desta forma, os elementos que compõem os rosários do
Tambor de mina são originados de tradições internacionais, mas que foram reinterpretados ao
longo da história do escravismo e da colonização brasileira enquanto símbolos de identidades,
resistência e luta.

Nesse sentido, estudar a composição dos rosários nessa perspectiva de tradições Clássicas significa
repensa-los enquanto objeto artístico hibrido carregado de encruzilhadas culturais,
simultaneamente também demarca as crenças e valores ressignificados em cada sistema simbólico.
Possibilita discutir os aspectos de pureza e essencialidade presente nas obras de arte afro-brasileira.
Referências

CONDURU, Roberto. Arte Afro-brasileira. Belo Horizonte:C/Arte, 2007.


CACCIOTORE,Gridolle, O. Dicionário de cultos afro-brasileiros: Com a indicação da origem
das palavras. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.
FERRETTI, Sergio Figueiredo. Querebentan de Zomadonu: etnografia da Casa das Minas. São
Luís: Edufma,1986.
LODY, Raul. Jóias de Axé: fios-de-conta e outros adornos do corpo: a joalheria afro-brasileira.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
OLIVEIRA, Jorge Itaci.Orixás e voduns nos terreiros de Mina. São Luís:VCR Produções e
Publicidades, 1987.

OXALA,Paulo de. Figa, seu uso no dia a dia. Disponivel em: http://extra.globo.com/noticias/religiao-e-
fe/pai-paulo-de-oxala/figa-seu-uso-no-dia-dia-9753291.html acesso em 04 de abril de 2014.

RAMOS, Menezes, R. Gonçalves, T. Estudos da tradição clássica: Atualização e heterogeneidade.


Disponivel em: http://historiadaarte50anos.wordpress.com/artigos/estudos-da-tradicao-classica/ acesso
em: 17 de agosto de 2013.
SANTOS, Maria do Rosário Carvalho. Boboromina: Terreiros de São Luís; uma interpretação
sócio-cultural. São Luís: SECMA/SIOGE,1989.
SILVA, Vagner Gonçalves da. “Arte religiosa afro-brasileira - As múltiplas estéticas
da devoção brasileira”. In: A Divina Inspiração Sagrada e Religiosa – Sincretismos
(Catálogo), São Paulo, Museu Afro Brasil, 2008. P. 118-205.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrela_de_Davi# Origem_do_s. C3.ADmbolo_entre_os_israelitas

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