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Abstract: The text examines the various symbols that make rosaries (artistic object Tambor
de Mina) inserted in Maranhão Culture in the mid-seventeenth century in an atmosphere of
oppression and repression of signs originating from African culture, thus enabling hybrid
reconfigurations and its consequences with Western classical tradition in the fields of
african-Brazilian art
A historiografia oral e escrita narra que o processo de fundação dessas casas teve
a participação fundamental das africanas “N’agontimé” na primeira casa e Josefa e Joana na
segunda.
A Mina “Nagô” desde sua fundação no Maranhão realiza seus toques com entidades
africanas, nobres europeus e caboclos. A classificação das entidades por nações apresenta-se da
seguinte forma: entidades africanas “(Ogum, Olokum, Averequete, Olodô, Akoveré, Xapanã, etc.)”
entidades nobres (Dom Luís, Dom Carlos, Rei Sebastião, Rainha Rosa etc) entidades caboclas (João
do Leme, Tapindaré, Joãozinho, Morro de Areia, João de Guará, etc.)1
Na Mina “Jeje” os rituais acontecem em homenagem às famílias de voduns, que de
acordo com Ferretti agrupam-se em número de cinco:
“Davice” (reúne os voduns nobres, zomadonu e Dadarro).
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FERREIRA, Euclides M. (Talabyan) Itan de dois Terreiros Nagô. Casa Fanti – ashanti, São Luís: 2008.
“Dambirá” (família que corresponde ao panteão da terra, vodus que combatem as doenças
e as pestes).
“Quevioçô” (família nagô entre os jeje, composta por Liça, Loco, Abe e averequete).
Na Mina do Maranhão os fios de conta são conhecidos como rosários, fazendo uma
alusão ao sincretismo católico. Na casa das Minas cada família corresponde a um conjunto de
preceitos, onde cada membro dessa família tem um ritual próprio, indumentária e rosários
diferentes.
Os fios de conta são elementos de identificação dos iniciados, dos pais e mães de santo,
dos simpatizantes com determinado terreiro ou entidade, servindo ainda para identificar a nação
(grupo étnico) de origem da religião pertencente. O fio de conta é, na opinião de Lody, um emblema
social e religioso que marca um compromisso ético e cultural entre o homem e o santo. É um objeto
de uso cotidiano, público, situando o indivíduo na sociedade do terreiro.
Os rosários compõem-se de um texto visual que nos permite assimilar uma série de
informações formais, estéticas e éticas existentes na atmosfera dos terreiros. Simbolizam a entidade
que está em terra, sua nação. Indica também os avanços nos processos iniciáticos religioso da filha
ou filho de santo. São objetos de uso exclusivo dos rituais não podendo ser usado nas práticas
sexuais por exemplo. Os voduns são proprietários diretos e intransferíveis dos rosários de seus
“cavalos” restando a eles apenas produzir, zelar e porta-los na hora certa.
O processo de produção dos rosários está inteiramente atrelado ao sistema simbólico
religioso da Mina, a criatividade é toda do santo que mostra o rosário em sonhos para seus filhos ou
filhas prontinho. Ao mediún cabe apenas a compra dos materiais e dispô-los no fio (naylon).
Dessa forma, a criação artística dos rosários de Averequete fica restrita somente aos
materiais que ele solicita. Se a marcação dele é marrom a criação fica por conta do uso dos
materiais em formas diferentes nos tons de marrom.
Na Mina Jeje os rosário de maior destaque são runjeve e a manta das tobossis ou ahungele.
A manta da Tobossis de acordo com Lody (2001, P.110):
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Entrevista concedida por Dona Fátima Filha de Iansã e de Averequete, Entrevista I. no Terreiro Mamãe
Oxum e Pai Oxalá em12/12/2012. Entrevistadora: Rosiane Cardoso. São Luís 2012. Mp3 (30 min).
3
Entrevista concedida por Dona domingas.Entrevista II. No Terreiro Mamãe Oxum e Pai Oxalá
em12/12/2012. Entrevistadora: Rosiane Cardoso. São Luís 2012. Mp3 (30 min).
A manta desempenha diversas funções nos rituais do Tambor de Mina. No ritual
exclusivamente feminino denominado baião de princesas ou descida das Tobossis, funciona como
objeto representativo e complementar da força contida nas tramas do saber feminino africano e afro-
brasileiro. A manta no ritual de despedida4 em caso de morte de uma pessoa que incorpore uma
entidade feminina africana ou seja, uma Tobossi passa por um processo de desconstrução de suas
tramas, quando morre uma das tobossis as miçangas que compõem a manta da “Gonjaí” falecida
serão utilizadas para aumentar as ordens ou fileiras de miçangas das mantas das Gonjaís vivas.
Desta forma cada cor agregada simboliza consequente uma Gonjaí morta, uma ancestral.
A diferença entre a manta e o hongeve está em que o primeiro simboliza um ritual (descida
das tobossis) e o hungeve é a marca ou símbolo da vertente religiosa afro-brasileira no Maranhão
conhecida como Mina. Em termos técnicos o Anngulé é mais elaborado, possui uma trama de
entrelaçamento que divide os planos a partir das cores. O hungeve é uma guia de uma “perna” só,
sem variação de cor. Ambos não possuem em suas composições elementos simbólicos como figas,
búzios, cruzes etc.
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FERRETTI,M.(2000) São formas de agrupar as entidades espirituais da Mina (Jeje, Nagô, Cambinda, Fanti-
Ashanti), podem também ser classificadas por linhas associadas a dominios da natureza(água salgada, mata, água doce,
astral) ou ainda por região (povo da Bahia, de Codó, do Pará, do Ceará, de Caxias etc.)
ovalada com uma saliência arredondada de um lado e uma fenda serrilhada
do outro. Recebe o nome cientifico de (cyproea moneta) e o popular de
Caurim ou cauri. No passado foi usado como moeda na África e em países
orientais. No Brasil assim como na África é usado para as oferendas, jogos,
e enfeites de adereços rituais. As conchas são identificadas como machos ou
fêmeas, pelo tamanho e pela serrilha. Os búzios em um contexto diaspórico
simboliza na composição do acabamento do rosário o continente de origem
da religião Mina. A tradição africana, nesse caso foi conservada no tocante
ao significado que remete a própria África.
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Cura é um ritual público e festivo da pajelança cabocla do norte realizado em muitos terreiros de São Luís,
onde o pajé (ou curador), incorporando entidades espirituais de diversas linhas, canta, dança e toca maracá a noite toda.
[...realizando “passagens” de entidades espirituais da linha de água doce, possibilitando sua permanência na terra. O
trabalho de passagem é também denominado brinquedo. A Cura incorpora muitos elementos do catolicismo popular(
santos, rezas, benzimentos, devoção a Nossa senhora e da cultura indígena(presença de Maracá, transe com animais
encantados, uso de ervas medicinais, fumo e cigarro de tauri. FERRETTI (2000) pp. 226, 227.
euforbiácea) planta usada em oftalmia. Dá florinhas azuis, sendo por isso
dedicada a Yemanjá. (P. 192).
Ainda sobre os turcos, Oliveira, (1941, P.47) Diz que os turcos constituem
uma família de Voduns, turcos mauritanios de influência islâmica. São
encantados comumente chamados de Mouros, chefiados por João Buralaia.
No Brasil conforme narra a autora, esse signo é usado nos acessórios dos
toques de tambor por recomendações dos Pais e Mães de Santo enquanto
um elemento protetor para uma infinidade de dificuldades humanas. A
incorporação desse amuleto na indumentária brasileira se deu por iniciativa
das africanas escravizadas que o portavam em busca de proteção espiritual.
Para os Italianos esse amuleto está relacionado á fertilidade e a abundância
devido ao fruto (figo) representar em sua cultura o órgão sexual feminino.
Entre os Turcos a figa significa ato obsceno referindo-se ao ato sexual.Para
as entidades do Panteon Turco no Tambor de Mina as figas simbolizam
também proteção espiritual de parte da entidade ao filho (a) de santo.
Os rosários do caboclo Zezinho traz a harmonia das cores amarelo, marrom e o branco intercaladas
por firmas marrom e amarelas. A ponta traz um símbolo clássico representativo do cristianismo; a
cruz. A cruz ratifica o sentido histórico do cristianismo quando se apresenta em forma de crucifixo
ou seja, o cristo sobre a cruz.
(CIRLOT,1978, p.154)
Em um contexto diásporico brasileiro a cruz foi incrustada a partir dos Jesuítas nas Santas missões
aos nativos indígenas nos primeiros momentos da colonização Portuguesa e em um segundo
momento aos africanos escravizados. A esses últimos a cruz foi incorporada a ambientação dos
terreiros onde reproduzem um altar carregado de santos católicos e no centro o cristo
crucificado.Em geral a cruz reúne uma conjugação de contrários, antagonismo básicos da existência
humana; positivo e negativo, superior, inferior, a vida e a morte, construção e destruição,
possibilidades e impossibilidades.”Na arte africana, os motivos crucíferos, com as linhas ou as
folhas de mandioca, são numerosos e ricos de significado. A cruz tem um sentido cósmico; indica
os quatros pontos cardeais; significa a totalidade do cosmo. Basta acrescentar um circulo em cada
extremidade e ela passa a simbolizar o sol e seu curso.encruzilhada representa também os caminhos
da vida e da morte”. (CACCIOTORE, 1988, p.191).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os terreiros são lugares de arte, educação e ciência, valorizar o terreiro enquanto espaço de
conhecimentos tradicionais da cultura afro-brasileira nos permite ampliar as possibilidades
artísticas. Na contemporaneidade onde o conceito, o significado e a ideia são requisitos elementares
à criação, que enxergue na atualidade à riqueza e as lacunas da produção do “passado”. O terreiro
enquanto um centro educativo pode nos ensinar a sermos solidários, cooperativos e a viver o real
sentido de família. Ao falar, ao fazer o terreiro de mina também ensina o respeito às diferenças, a
partir da integração de diferentes classes, gêneros e idades. Ainda sim alguns terreiros de Mina do
Maranhão mesmo com tanta ciência, saberes e potencial educativo ainda tem um longo caminho no
que diz respeito a sistematizar seus conhecimentos, no intuito de contribuir com o extermínio de
equívocos, distorções e preconceitos sobre suas práticas.
Os estudos das Tradições Clássicas de maneira geral admite analisar a Arte sem restringir-se à
cronologia dos estilos ou movimentos artísticos. Amplia as perspectivas de observações e relações
possíveis com a política, religião e formas. Em um contexto de Arte afro-brasileira as variadas
tradições clássicas ocidentais apresentam-se nos rosários do Tambor de Mina questionando o
contexto socioeconômico em que esses símbolos foram inseridos. Renovando significados e
finalidades eventualmente distintas, como por exemplo o elemento Figa que em seu lócus de origem
- Itália representa a fertilidade e o erotismo.
Nesse sentido, estudar a composição dos rosários nessa perspectiva de tradições Clássicas significa
repensa-los enquanto objeto artístico hibrido carregado de encruzilhadas culturais, simultaneamente
também demarca as crenças e valores ressignificados em cada sistema simbólico. Possibilita
discutir os aspectos de pureza e essencialidade presente nas obras de arte afro-brasileira.
Considerações em processo
Os estudos das Tradições Clássicas de maneira geral admite analisar a Arte sem restringir-se à
cronologia dos estilos ou movimentos artísticos. Amplia as perspectivas de observações e relações
possíveis com a política, religião e formas. Em um contexto de Arte afro-brasileira as variadas
tradições clássicas ocidental apresenta-se nos rosários do Tambor de Mina questionando o contexto
sócio-econômico em que esses símbolos foram inseridos. Renovando significados e finalidades
eventualmente distintas, como por exemplo o elemento Figa que em seu lócus de origem - Itália
representa a fertilidade e o erotismo.
Nesse sentido, estudar a composição dos rosários nessa perspectiva de tradições Clássicas significa
repensa-los enquanto objeto artístico hibrido carregado de encruzilhadas culturais,
simultaneamente também demarca as crenças e valores ressignificados em cada sistema simbólico.
Possibilita discutir os aspectos de pureza e essencialidade presente nas obras de arte afro-brasileira.
Referências
OXALA,Paulo de. Figa, seu uso no dia a dia. Disponivel em: http://extra.globo.com/noticias/religiao-e-
fe/pai-paulo-de-oxala/figa-seu-uso-no-dia-dia-9753291.html acesso em 04 de abril de 2014.