Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MARIANA RAMOS
Tim Ingold, Marilyn Strathern e Lélia Gonzalez dissertam sobre o corpo a partir de
diferentes contextos, o que os une é o questionamento ou o apontamento de problemas
na dicotomia sujeito-objeto e como ela se dá em determinados contextos.
Desenvolvimento
Trata-se quase de um truísmo dizer que não percebemos com os olhos, os ouvidos ou a
superfície da pele, mas com o corpo todo. (INGOLD, 2015, p.87, grifo meu)
Para Ingold a percepção do meio ambiente e das coisas é feita através de todo o corpo,
colocando, à primeira vista, o corpo humano como sujeito na relação entre seres
humanos, meio ambiente e os objetos. Entretanto, ao dissertar sobre a história da
tecnologia e a influência dos objetos, o autor abandona a dicotomia sujeito-objeto e
considera os materiais, sejam vivos ou não-vivos, como parte da história, como sujeitos
também.
As reivindicações de propriedade por parte das mulheres aparecem como uma função
do sucesso com que os homens se apropriam da riqueza para perpetuar a hegemonia por
meio da agnação. (STRATHERN, 2014, p. 114)
Para Strathern (2014, p.115) as relações de propriedade não são representadas como um
tipo de relação social, mas como uma relação entre pessoas e coisas e a separação entre
pessoas e coisas pode se unir com a separação entre sujeito e objeto.
Como sujeitos, as pessoas manipulam as coisas; podem até mesmo colocar outras
pessoas no papel de coisas na medida em que podem ter direitos em relação a elas.
(STRATHERN, 2014, p. 115-116, grifo meu)
Da mesma forma que Tim Ingold, Marilyn Strathern questiona a visão ocidental, na
qual uma pessoa é definida como um sujeito agente, que possui e pode usufruir de seus
direitos e, consequentemente, pode controlar os frutos de seu trabalho e pode possuir e
transmitir propriedade, limitando, assim, a atuação como pessoa de um indivíduo.
Todavia, a antítese sujeito-objeto não funciona para as terras altas da Nova Guiné, dado
que a condição de pessoa não está relacionado ao controle ou não-controle de
propriedade e força de trabalho.
A mulher negra, em períodos tais como o Carnaval, são sexualizadas, vistas como
objeto, com o objetivo de satisfazer as fantasias fetichistas de homens brancos e sua
ideia de dominação sobre o sexo e a raça oposta. Exaltadas, as “mulatas” são alvo de
suposta valorização, que se traduz, na realidade, em todo o trato agressivo da sociedade
para com a mulher negra.
Desse modo, a mulher negra, uma pessoa, que seguindo a lógica ocidental deveria se
localizar como sujeito, é constantemente colocada como objeto, seja através da sua
sexualização ou da desvalorização de seu trabalho e a limitação de sua atuação à esfera
doméstica, fruto da herança escravagista da sociedade colonial.
(...) e lhes nega o estatuto de sujeito humano. Trata-os sempre como objeto.
(GONZALEZ, 1984, p.232)
Conclusão
A dupla imagem da mulher negra, como Gonzalez mostra, as coloca como objeto de
desejo, desvaloriza seu trabalho e as limita ao âmbito doméstico, nunca
verdadeiramente as colocando como sujeito, gerando uma inversão na relação entre
pessoas e o papel de sujeito e as coisas e o papel de objeto.
Referências